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Curso de 
Diagnóstico de Vírus 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO IV 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para 
este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do 
mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores 
descritos na Bibliografia Consultada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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MÓDULO IV 
 
Virologia Especial 
Gastroenterite Virais 
Rotavírus 
 
Os rotavírus são membros da família Reoviridae, gênero Rotavírus. Estes vírus 
foram associados com doença diarreica em humanos quando a partícula viral foi 
visualizada por microscopia eletrônica, em 1973, em biópsia duodenal e fezes de 
crianças. São vírus de RNA dupla fita e os principais causadores de gastroenterite severa 
em crianças e animais. A partícula viral tem morfologia esférica, icosaédrica, com cerca 
de 75 mm de diâmetro e ausência de envelope lipoproteico. O capsídeo é duplo, de 
simetria icosaédrica, possuindo todas as proteínas necessárias para a síntese do RNA 
mensageiro. Visualizados em microscopia eletrônica, podem ser observadas partículas 
completas, partículas sem a cápside externa (partículas incompletas) e partículas vazias 
sem o ácido nucleico (Figura 1). As partículas completas são infecciosas, enquanto as 
incompletas não o são. 
 
Figura 1: Microscopia eletrônica de partículas de rotavírus. Fonte: http://www.epa.gov/nerlcwww/rota.htm 
 
Partículas 
vazias de 
rotavírus 
Partículas 
completas de 
rotavírus 
 
 
 
 
 
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O genoma do Rotavírus consiste em onze segmentos de RNA de dupla fita, não-
infeccioso, e cada segmento codifica, em geral, uma proteína. Seis segmentos codificam 
proteínas estruturais (VP): VP1-VP4, VP6 e VP7. A proteína VP1 é a polimerase viral; e 
mais externamente, a proteína VP2 contida no core ou cápside. Circundando o core 
localiza-se a proteína do cápside interno, a VP6; as espículas da partícula são 
representadas pela proteína VP4, além da glicoproteína VP7 presentes no cápside 
externo (figura 2). Os demais segmentos codificam proteínas não estruturais (NSP) 
chamadas de NSP1 a NSP6. 
 
 
 
Figura 2: Esquema da partícula de rotavírus e suas proteínas estruturais. 
Fonte: http://www.nature.com/nrmicro/journal/v5/n7/fig_tab/nrmicro1692_F1.html 
 
 
 
 
 
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O vírion completo apresenta três camadas proteicas distintas. A camada mais 
interna que envolve o genoma é chamada de core. Formada pela proteína VP2, que 
interage com VP1 e VP3. Estas proteínas, VP1 e VP3, se ligam ao RNA e apresentam as 
atividades de RNA polimerase dependente, guanilil transferase e provavelmente está 
envolvida na adição do cap, presente na extremidade 5´ de todos os MRNAs virais, 
respectivamente. 
A proteína VP4, que forma as espículas virais, é a proteína de ligação viral à 
célula, tendo papel fundamental na internalização da partícula viral. Está associada a 
diversas funções biológicas, tais como atividade hemaglutinante de algumas amostras de 
rotavírus, restrição de crescimento em culturas de células e virulência. Quando sofre 
proteólise, dá origem a dois fragmentos: VP5* e Vp8*. Estas proteínas do capsídeo 
externo induzem de forma independente à formação de anticorpos neutralizantes. 
Um aspecto importante do rotavírus está relacionado às propriedades da proteína 
NSP4. Esta proteína é codificada pelo décimo segmento genômico; é glicosilada e uma 
das SEIS proteínas não-estruturais presentes durante a biossíntese do rotavírus e a única 
que não se complexa com o RNA viral. Durante a replicação viral a proteína encontra-se 
inserida na membrana do retículo endoplasmático, onde representa a função de receptor 
para partículas incompletas. Já foi demonstrado que os anticorpos contra NSP4 
adquiridos passivamente reduzem a incidência e a gravidade da diarreia em 
camundongos recém-nascidos submetidos ao desafio com amostras virulentas de 
rotavírus, sugerindo que a resposta imunológica contra NSP4 modula a diarreia causada 
pelo vírus. 
 
Classificação Sorológica dos Rotavírus 
 
 De acordo com as características sorológicas, os rotavírus são classificados em 
grupo e subgrupo. A classificação em grupo é determinada pela proteína VP6 e pode ser 
realizada através de testes sorológicos (ensaio imunoenzimático – EIA) ou presumida a 
partir do perfil de migração em eletroforese de gel de poliacrilamida. Sete grupos são 
conhecidos e encontrados em animais (A-G), enquanto somente os grupos A, B e C são 
encontrados em humanos. Os rotavírus mais comumente encontrados em todas as 
 
 
 
 
 
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espécies animais pertencem ao grupo A. os demais grupos, anteriormente chamados de 
Rotavírus atípicos ou pararrotavírus, são mais raramente encontrados. 
 Os rotavírus do grupo A são os mais comuns na natureza e são ainda 
classificados em subgrupos pela especificidade da proteína VP6. O antígeno do subgrupo 
está localizado no polipeptídeo VP6 do cápside interno. Atualmente são reconhecidos 
quatro subgrupos, todos do grupo A: I, II, I e II e não I-não II , detectados por EIA ou por 
hemaglutinação. 
 
Classificação Fenotípica (eletroforéticos) dos Rotavírus 
 
 O perfil dos segmentos genômicos dos rotavírus pode ser observado após uma 
eletroforese. Os segmentos são distribuídos em quatro classes de tamanho e numerados 
pela ordem de migração no gel: Classe I (genes 1, 2, 3 e 4), classe II (genes 5 e 6), classe 
III (genes 7, 8 e 9) e classe IV (genes 10 e 11). A análise do perfil eletroforético tem sido 
muito utilizada para caracterizar as amostras de rotavírus obtidas em culturas de células e 
amostras de fezes, revelando a cocirculação de amostras com perfis diferentes durante 
uma epidemia. Esta análise permite a classificação em perfis eletroforéticos, associados 
na diferença de migração do 11º segmento, perfil longo (L), perfil curto (S) e supercurto 
(SS), o que representa um critério útil para a classificação dos rotavírus do grupo A 
(figura 3). 
 
 
 
 
 
 
 
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 AL As Ass B C 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 3: Perfil de migração do genoma de rotavirus em eletroforese. 
Fonte: Baseado do livro Introdução à Virologia Humana 2ª ed. Santos, NSO. 
 
 
Classificação Genômica e Sorológica dos Rotavírus do Grupo A 
 
Com base na especificidade antigênica das proteínas do capsídeo externo VP4 e 
VP7, os rotavírus são classificados em sorotipos e/ou genótipos. Os sorotipos são 
determinados pela reatividade do vírus, em ensaios por reação de neutralização, usando-
se soros hiperimunes, ou EIA, usando anticorpos monoclonais. Os genótipos são 
classificados pelo sequenciamento dos genes que codificam para essas proteínas. Os 
sorotipos/genótipos que têm sua classificação baseada na VP7 são designados g, pelo 
fato desta proteína ser glicosilada. São conhecidosatualmente 15 sorotipos G (G1 a G15) 
e 16 genótipos (G1 a G16). Já os sorotipos/genótipos caracterizados pela especificidade 
de VP4 são chamados de P, por sofrerem proteólise. Até o momento, 14 sorotipos 
distintos de VP4 e 27 genótipos foram caracterizados. Porém, não há concordância entre 
a classificação em sorotipos e genótipos P, dificultando a unificação do sistema de 
classificação. 
 
I 
 
 
 
II 
 
 
 
III 
 
 
 
IV 
 
 
 
 
 
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Patogênese e Manifestações Clínicas 
 
A transmissão do Rotavírus é feita pela via fecal-oral. Devido à alta taxa de 
infecção no mundo todo, a despeito dos padrões de higiene, especula-se que a 
transmissão possa ocorrer também por via respiratória. O período de incubação do vírus 
varia de dois a quatro dias. Entre as células do intestino delgado, temos os enterócitos e 
as células da cripta. O rotavírus tem tropismo por células apicais (enterócitos) das 
vilosidades do intestino delgado (Figura 4), onde é propagado, provocando descamação 
destas células. Estes vírus não se replicam nas células da cripta. 
 
 
 
 
Figura 4: Intestino delgado e células intestinais as quais o rotavírus tem tropismo. 
Fonte: http://nutrinutri.wordpress.com/2007/07/29/doenca-celiaca/ e 
http://www.micron.uerj.br/atlas/digest/digestluz3.htm 
 
 
 
 
 
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A infecção induz destruição e descamação dos enterócitos, acelerando a 
migração de células secretórias das criptas para as vilosidades, provocando uma perda 
temporária da capacidade absortiva do intestino, levando ao quadro diarreico. A 
reconstrução dos enterócitos faz-se lentamente, o que pode ser considerado uma das 
causas da longa duração dos quadros de diarreia por Rotavírus; a outra causa seria o 
aumento acentuado do peristaltismo no íleo inflamado. 
 Clinicamente, a infecção por Rotavírus se manifesta na forma de diarreia aguda. 
Os sintomas clínicos mais comuns são vômitos, febre, dor abdominal e desidratação. A 
rotavirose pode ser resolvida no período de uma semana a dez dias, sendo eliminado nas 
vezes por até 57 dias após a infecção. O grande problema é quando ocorre desidratação 
grave e falta de tratamento adequado, o que pode levar à morte. Em adultos, a infecção é 
geralmente subclínica, porém alguns surtos de rotaviroses em adultos jovens já foram 
descritos. Idosos também podem apresentar quadros de gastroenterite e também é 
comum a reincidência de infecções, uma vez que a alta prevalência de anticorpos 
antirrotavírus em adultos sugere que ocorram reinfecções subclínicas. 
 
Epidemiologia 
 
Os principais infectados são as crianças entre seis meses e seis anos de idade, 
com cerca de 25% de crianças menores de 1 ano com quadro de gastroenterite, positivas 
para rotavírus; 90% entre um e três anos são positivas para rotavírus; e decresce com o 
avanço da idade chegando a taxas de 30% em crianças positivas entre quatro a seis 
anos. Virtualmente, todas as crianças sofrerão pelo menos um episódio de gastroenterite 
por rotavírus durante o primeiro ano de vida. 
 Cerca de 39% das hospitalizações infantis é devido à diarreia causada por 
Rotavírus, com a mortalidade global estimadas de 454.000-705.000 mortes anuais. Os 
rotavírus são de fácil transmissão nos ambientes familiar e hospitalar. No Brasil, as 
partículas de Rotavírus foram detectadas pela primeira vez nas fezes diarreicas de 
crianças em Belém do Pará. Vários estudos epidemiológicos têm demonstrado a ampla 
disseminação desse vírus em nossa população (Figura 5). 
 
 
 
 
 
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Figura 5: Distribuição Global de Óbitos por Rotavírus. 
Fonte: http://www.laboclinica.com.br/laboratorio/index.php?pag=detalhe&codconteudo=52&codmenu=34 
 
 
Diagnóstico Laboratorial 
 
Inicialmente, foi encontrada grande dificuldade no cultivo de Rotavírus em culturas 
celulares, levando ao desenvolvimento de técnicas de diagnóstico através da identificação 
direta dos vírus nas fezes, onde apresentam-se cerca de 1011 partículas/grama de fezes. 
Para o exame direto do material fecal, existe uma série de técnicas não imunológicas, das 
quais as mais utilizadas são a microscopia eletrônica, imunoeletromicroscopia e a 
eletroforese do genoma dsRNA em gel de poliacrilamida. Por detecção dos antígenos 
virais nas fezes por ensaio imunoenzimático, imunofluorescência ou aglutinação do látex. 
As técnicas imunológicas mais utilizadas são o ensaio imunoenzimático e a aglutinação 
de partículas de látex que identificam apenas os rotavírus do grupo A. 
 
 
 
 
 
 
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 A eletroforese em gel de poliacrilamida separa o RNA segmentado dos rotavírus 
em 11 bandas, permitindo o estudo dos rotavírus em termos de tipos eletroforéticos. A 
imunoeletromicroscopia foi a primeira técnica sorológica a ser utilizada no diagnóstico das 
infecções humanas por Rotavírus. Porém, esta técnica era muito complexa e de longo 
tempo para sua execução, obrigando sua substituição por outras técnicas. Para a 
sorotipagem de Rotavírus, importante em estudos epidemiológicos, tem sido utilizadas as 
reações imunoenzimáticas com anticorpos monoclonais específicos. A genotipagem é 
realizada através da reação de transcrição reversa-reação em cadeia pela polimerase 
(PCR). 
 
Herpesvírus 
 
A denominação “herpesvírus” vem do latim herpein, cujo significado é rastejar, 
arrastar, pelo fato destes vírus ocasionarem infecções crônicas, latentes e recorrentes. 
Em 1950, foi demonstrado pela primeira vez que o vírus do herpes simples se torna 
latente após uma infecção primária. A distribuição destes vírus é bem ampla com cerca de 
200 tipos de vírus isolados dos mais diferentes hospedeiros, como mamíferos, aves, 
répteis e peixes, porém somente oito são patogênicos ao homem. Estes vírus são 
classificados em famílias e subfamílias (tabela 1). 
 
Tabela 1: Classificação dos Herpesvírus patogênicos para humanos. Fonte: Baseado em Trabulsi., LR. 
Microbiologia 4ª Ed. 
 Classificação dos Herpesvírus 
patogênicos para humanos 
 
Subfamília Gênero Vírus Quadro clínico 
Alphaherpesvirinae 
Simplexvirus 
 
Varicellovirus 
Herpes simples tipo 1 
Herpes simples tipo 2 
Vírus da Varicela-zóster 
Herpes labial 
Herpes genital 
Catapora, 
herpes zoster 
Betaherpesviranae 
Cytomegalovirus 
Lynphocryptovirus 
Vírus da Citomegalia 
Vírus de Epstein-Barr 
Citomegalia 
Linfomas, 
leucoplasia pilosa 
 
 
 
 
 
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Gammaherpesvirinae 
Roseolovirus 
 
Rhadinovirus 
Herpesvirus tipo 6 
Herpesvirus tipo 7 
Herpesvirus tipo 8 
Exantema súbito 
Nenhum 
Sarcoma de Kaposi 
 
 
 O tamanho das partículas virais varia de 120 a 300nm, dependendo da espessura 
do tegumento. Não é possível distinguir os vírus herpes entre si sob o aspecto 
morfológico, porém os diversos tipos podem ser identificados antigenicamente por meio 
de métodos sorológicos e moleculares. Um herpesvírus típico possui um core contendo 
DNA de dupla fita, capsídeoicosaédrico com 162 capsômeros; uma estrutura proteica 
amorfa chamada tegumento e um envelope glicolipoproteico (Figura 6). Recentemente, o 
Grupo de Estudo em Herpesvírus do ICTV propôs que fosse criada a ordem 
Herpesvirales, de modo que pudesse abranger um número maior de vírus. Nesta ordem 
estariam três famílias: Herpesviridae, compreendendo herpesvírus de mamíferos, 
pássaros e répteis; Alloherpesviradae, incluindo vírus de peixes e anfíbios, e 
Malacoherpesviridae, com vírus que infectam moluscos. 
 
 
Figura 6: Esquema do Herpesvírus. Fonte: http://web.njit.edu/~pkb3/ 
 
 
 
 
 
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Todos os membros da família Herpesviridae compartilham quatro significantes 
propriedades biológicas: i) codificam várias enzimas envolvidas no metabolismo do ácido 
nucleico viral, síntese do ácido nucleico viral e processamento de proteínas, embora estas 
proteínas possam variar entre os diferentes vírus; ii) a síntese do DNA viral ocorre no 
núcleo; iii) a produção de partículas infecciosas leva à destruição das células; iv) 
apresentam a capacidade de causar infecção persistente, com alguns vírus 
permanecendo em estado de latência, em que somente alguns genes são expressos. 
Na infecção latente, um vírus pode estar latente em algumas células e 
proliferando ativamente em outras. Existem circunstâncias em que um vírus está latente 
em praticamente todas as células, como é o caso do vírus da varicela-zoster e, em menor 
extensão, dos vírus herpes simplex; em outras, o vírus causa o ciclo lítico em algumas 
células em particular, mas não existem sintomas associados, como no caso da reativação 
sem sintomas do herpes simplex, talvez, do vírus da varicela-zoster e ainda outras 
circunstâncias em que a infecção lítica leva a manifestações clínicas, mas com algumas 
células permanecendo em estado latente (Figura 7). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 7: Tipos de infecção provocados por HSVs nas células e no organismo. As setas grossas indicam 
eventos frequentes. Fonte: Baseado em “Introdução à Virologia Humana 2ª ed.” Santos, NSO. 
 
Célula
Infecção 
Latência Replicação 
Lítica 
Morte 
celular 
Transmissão 
célula-célula 
Organismo 
Infecção 
Latência Replicação 
Lítica 
Transmissão 
 
 
 
 
 
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Herpesvírus Humano tipo 8 (HHV-8) 
 
O Sarcoma de Kaposi (SK) foi descrito pela primeira vez por Mortiz Kaposi, em 
1872, no Leste europeu. O sarcoma se caracteriza por uma lesão angioproliferativa e 
inflamatória nos membros inferiores complexa, extremamente comuns em populações do 
mediterrâneo e ainda mais comum em algumas regiões africanas. Embora seja raro nos 
Estados Unidos (EUA) e oeste da Europa, com a pandemia do Vírus da Imunodeficiência 
Humana (HIV), em 1980, emergiu como a neoplasia mais comum em pacientes 
acometidos por este vírus. 
Sempre houve a suspeita que este tumor seria de origem infecciosa devido à 
distribuição geográfica incomum e aos padrões clínicos da doença. Durante a década de 
1970 foram feitas várias tentativas para identificar o agente infeccioso responsável pelo 
SK. Alguns vírus foram apontados como possíveis agentes etiológicos do tumor, como o 
citomegalovírus (CMV), o vírus BK e o papilomavírus humano (HPV), além de agentes 
não-virais como o micoplasma. 
A partir de estudos epidemiológicos desenvolvidos por Beral e colaboradores, no 
final da década de 1980, a via sexual foi estabelecida como a rota preferencial de 
transmissão do vírus, com alta prevalência das regiões do Mediterrâneo e países da 
África. Devido à dificuldade de se propagar o vírus em culturas celulares, a análise de 
DNA foi usada para identificar possíveis agentes envolvidos na gênese da lesão. 
Em 1996, o genoma do vírus foi sequenciado a partir de lesões do SK. Este novo 
vírus foi denominado herpesvírus, associado ao sarcoma de Kaposi (KSHV) ou 
herpesvírus humano tipo 8 (HHV-8). Posteriormente, o HHV-8 foi associado a outros 
quadros clínicos, como o linfoma de cavidade do corpo ou linfoma de efusão primário e a 
doença multicêntrica de Castleman (MCD). 
O genoma viral codifica diversos produtos que compartilham homologia estrutural 
e funcional com proteínas humanas que possuem papel fundamental na proliferação 
celular, o que pode explicar a contribuição do vírus para a transformação maligna. A 
frequência mundial do HHV-8 detectado em SK varia entre 80 a 100%. Os principais 
métodos utilizados para diagnosticar a infecção viral são hibridização in situ, imuno-
histoquímica, análise sorológica e PCR, esta última mais sensível. 
 
 
 
 
 
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Classificação e Morfologia 
 
O HHV-8 é classificado na família Herpesviridae, subfamília Gamaherpesvirinae, 
gênero Rhadinovirus, tipo 8: herpesvírus tipo 8 (HHV-8) ou herpesvírus humano 
associado ao sarcoma de Kaposi (KSHV). Este vírus compartilha um grande número de 
características morfológicas comuns aos outros herpesvírus, tais como: DNA dupla fita 
linear composto de 165 a 170 kpb, com uma região de 145 kpb que contém todas as 
sequências de leituras abertas (ORFs – open reading frames), capsídeo icosaédrico, 
tegumento entre o nucleocapsídeo e o envelope bilipídico, apresentando 120–150nm de 
diâmetro. Além disso, a replicação ocorre no núcleo da célula hospedeira, com ciclos de 
infecção persistente não-produtiva (latente) e produtiva (lítica) possuindo enzimas 
homólogas às enzimas celulares, além de outras envolvidas na replicação e no 
metabolismo do seu ácido nucleico. 
 
Patogênese 
 
Nos países da América do Norte, a transmissão do HHV-8 ocorre, principalmente, 
através do contato homossexual masculino, em que o vírus é mais prevalente do que 
entre usuários de drogas endovenosas, hemofílicos e mulheres. A transmissão por 
contato heterossexual não parece ser estatisticamente relevante. Nos países do 
mediterrâneo, que têm a doença de forma endêmica, a transmissão ocorre na infância 
após a diminuição dos anticorpos maternos. Filhos de mães infectadas com o HHV-8 
apresentam soroconversão mais cedo que filhos de mães não-portadoras. É rara a 
infecção por HHV-8 em crianças que não vivem em região endêmica. 
 Ao contrário dos outros herpesvírus, pouco se conhece a respeito das 
manifestações clínicas na infecção primária pelo HHV-8. Tem sido observada uma 
síndrome semelhante à mononucleose, com sintomas de febre, artralgia, esplenomegalia, 
e linfadenopatia cervical, com aumento de IgM específica para HHV-8. Histologicamente, 
a lesão do SK difere das formas tradicionais de câncer. Por exemplo, diferentemente dos 
cânceres clássicos, que surgem como expansão clonal de um único tipo celular, as lesões 
do SK são muito complexas histologicamente. O elemento proliferativo predominante são 
 
 
 
 
 
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as chamadas células espinhosas (Figura 8). Acredita-se que estas células tenham origem 
endotelial, pois apresentam inúmeros marcadores característicos dessa linhagem celular. 
Além das células espinhosas, também são encontrados nas lesões infiltrados celulares 
leucocitários (característico de resposta inflamatória) e marcada angiogênese (Figura 9),em que a formação de novos vasos é anormal e facilita o extravasamento de líquido 
(edema) e de hemácias. A formação desses novos vasos precede o aparecimento de 
células espinhosas típicas que formam o tumor de SK, tornando-se posteriormente a 
população celular predominante, quando a lesão começa a ter um aspecto monomórfico, 
semelhante a um fibrossarcoma, com marcada angiogênese. 
 
 
Figura 8: Células espinhosas em corte histológico de Sarcoma de Kaposi. 
Fonte: http://www.pathguy.com/lectures/imm-iv.htm 
 
 
 
 
 
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(a) 
(b) 
Figura 9: (a) Corte histológico de lesão Sarcoma de Kaposi com formação de vasos (angiogênese) e 
vacúolos; (b) Esquema de angiogênese. Fonte: http://www.pathguy.com/lectures/imm-iv.htm e 
http://www.uni-leipzig.de/~organik/giannis/e/angiogenesis_e.html 
 
 
 
 
 
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O SK pode ocorrer em diversos tecidos, mas é comumente encontrado na pele, 
principalmente nas extremidades inferiores. O HHV-8 está presente tanto em células 
endoteliais microvasculares quanto nas células espinhosas de lesões iniciais de sarcoma, 
significando que os eventos iniciais do sarcoma são desencadeados pela infecção viral. O 
HHV-8 também pode ser encontrado em linfócitos B, monócitos e leucócitos dos 
pacientes com risco de desenvolverem Sarcoma de Kaposi. 
O comportamento clínico clássico do SK em adultos imunocompetentes é muito 
indolente, e indivíduos acometidos por esta doença geralmente apresentam sobrevida 
elevada, falecendo de outras doenças. Já em pacientes portadores do HIV, o SK é bem 
mais agressivo, podendo se espalhar pelo organismo e envolver estruturas 
linforreticulares, trato gastrointestinal e pulmões, além da pele. O envolvimento pulmonar 
é um péssimo prognóstico e a morte por falência pulmonar é muito comum. Além disso, 
pacientes com HIV tem 300 vezes mais chances de adquirir SK do que outros indivíduos 
com outras imunodeficiências. 
Todas as formas de SK compartilham de várias características comuns: (a) 
distúrbios do sistema imunológico, caracterizados, inicialmente, por uma imunoativação, 
principalmente de células CD8+ e citocinas do tipo Th1 aliadas a imunodepressão; (b) 
aumento de células progenitoras espinhosas na circulação; (c) lesões histopatológicas; (d) 
altos níveis de citocinas inflamatórias; fatores angiogênicos e de crescimento e (e) 
infecção pelo HHV-8. 
 
Manifestações Clínicas 
Sarcoma de Kaposi 
 
É a doença mais importante associada ao HHV-8, sendo uma desordem 
multifocal proliferativa de origem vascular, encontrada em quatro formas epidemiológicas 
mais frequentes: 1) associada à AIDS (AIDS-SK), mais observada em homens 
homo/bissexuais HIV-1 positivos; 2) o SK Africano (SKA), mais prevalente em certos 
locais da África e que corresponde a 10% dos tumores encontrados nestes locais, 
podendo adquirir uma forma muito agressiva após infecção por HIV-1; 3) o SK clássico 
(SKC) que ocorre em pacientes idosos de certas áreas do oeste do Mediterrâneo, com 
 
 
 
 
 
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característica mais branda; e 4) SK associado à terapia imunossupressora pós-
transplantes, denominada SK pós-transplante (PKS). A lesão é caracterizada por 
múltiplas manchas, de aparência nodular ou planar, principalmente nas extremidades do 
corpo, envolvendo mucosa e vísceras, principalmente na AIDS-SK. O estágio final é 
representado por uma fase tumoral nodular (Figura 10). 
 
 
Figura 10: Lesão característica de Sarcoma de Kaposi. 
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Kaposi%27s_Sarcoma.jpg 
 
 
Linfoma de Efusão Primário ou de Cavidade de Corpo (PEL ou BCBL) 
 
Este tipo de linfoma é um linfoma de células B, não-Hodgkin, muito raro, 
geralmente encontrado em pacientes com AIDS terminais e raramente em pacientes HIV-
negativos. Caracteriza-se por acúmulo de infiltrado de células B nas cavidades serosas 
(pleura, pericárdio e peritônio); entretanto, infiltração em alguns órgãos também já foi 
observada. A maioria do PEL é duplamente infectada por Epstein-Barr (EBV) e HHV-8. 
 
 
 
 
 
 
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Doença Multicêntrica de Castleman 
 
É uma lesão rara, policlonal e linfoproliferativa, que ocorre tanto em pacientes 
HIV-positivos quanto em HIV-negativos. Duas formas clínicas foram descritas, a primeira 
sendo uma lesão localizada, que envolve apenas um nódulo, e geralmente é restrita a 
pacientes HIV-negativos. Pode ser tratada com a retirada das células envolvidas na lesão. 
A segunda forma, a doença multicêntrica de Castleman, é uma doença sistêmica 
agressiva caracterizada por febre repentina, suor, perda de peso, linfadenopatia e 
esplenomegalia. É uma doença frequentemente encontrada em pacientes com AIDS. 
Nestes casos, o tratamento é a quimioterapia. 
 
Epidemiologia 
 
O SK é encontrado em todo o mundo, porém com diferentes taxas de prevalência. 
A detecção do genoma do HHV-8 por PCR e a sorologia têm sido usadas nos estudos 
epidemiológicos e de transmissão do vírus. Estes estudos mostram que o virus é raro nos 
EUA, Reino Unido e Europa Central, setentrional e meridional, sendo disseminado na 
África (Figura 11). Nos EUA, Reino Unido, Dinamarca e Noruega, o desenvolvimento de 
AIDS-SK é de aproximadamente 20-40% em homossexuais masculinos com 
comportamento de risco, ao passo que em outros grupos de risco como doadores de 
sangue, hemofílicos ou usuários de drogas endovenosas (UDE), essa taxa é inferior a 
5%. 
 Cerca de 50% dos pacientes portadores de HHV-8 e HIV desenvolvem AIDS-SK, 
entre 5 e 10 anos após a aquisição da infecção dupla, o que representa um alto nível da 
expressão da doença nesses indivíduos, embora esse quadro esteja sendo modificado 
com a introdução da HAART, que não atua no vírus, mas melhora a imunodeficiência. 
Deste modo, a coinfecção pode ser considerada um importante cofator no 
desenvolvimento de SK. 
 
 
 
 
 
 
132 
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
 
Figura 11: Prevalência de Sarcoma de Kaposi. 
Fonte: http://info.cancerresearchuk.org/cancerstats/causes/infectiousagents/kaposisarcoma/ 
 
 
Diagnóstico Laboratorial 
 
O DNA do HHV-8 pode ser detectado por PCR em células mononucleares do 
sangue periférico (PBMCs) em 10-20% dos indivíduos saudáveis infectados pelo HHV-8; 
esta proporção aumenta quando a doença se manifesta. A nested PCR tem sido utilizada 
para detectar HHV-8 em tecidos parafinados de SK, doença multicêntrica de Castleman, 
tecidos linfoides do linfoma de efusão primário, sêmen, plasma, sangue e saliva. Por este 
método, o HHV-8 tem sido detectado em 30-60% das células mononucleares de 
pacientes com SK. 
 A hibridização in situ pode ser útil para a localização de células específicas 
infectadas com o HHV-8 em lesões de SK. A imuno-histoquímica tem sido empregada 
para detectar o vírus em tecidos fixados com formalina e embebidos em parafina, 
utilizando anticorpos monoclonais para diferentes antígenos virais, além de detectar o 
HHV-8 em células espinhosas e algumas células epiteliais de lesões de SK.133 
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
 A sensibilidade dos testes sorológicos com antígenos recombinantes está em 
torno de 80-95%. Testes de imunofluorescência e imunoenzimáticos empregando 
antígenos virais purificados apresentam 100% de sensibilidade, mas ocorre diminuição da 
especificidade. Com estes dados, a combinação de testes sorológicos é a mais indicada 
para a obtenção de um resultado reprodutível, com alta sensibilidade e especificidade. 
 
Citomegalovírus - CMV 
 
As inclusões citomegálicas foram descritas em 1904, quando Ribbert observou a 
presença de células contendo inclusões intranucleares em rins de uma criança com sífilis 
congênita. Em 1906, Tyzzer notou as mesmas inclusões em biópsias de lesões cutâneas 
causadas por varicela. A etiologia viral da citomegalia foi proposta em 1921, entretanto 
somente em 1956/57, o isolamento viral foi realizado por três diferentes grupos de 
pesquisadores, nos EUA. O vírus recém-descoberto foi denominado vírus das glândulas 
salivares. Em 1970 foi proposta por Weller a denominação citomegalovirose e 
citomegalovírus, respectivamente em substituição aos termos doença de inclusão 
citomegálica e vírus das glândulas salivares, em função da alteração celular (citomegalia) 
induzida pela infecção viral. Atualmente, este vírus é denominado citomegalovírus 
humano ou herpesvírus humano tipo 5. 
 O citomegalovírus (CMV) é um membro dos herpesvírus considerado linfotrópico, 
infecta o homem e outros animais, e tem afinidade especial pelas glândulas salivares e 
endócrinas, mas também podendo infectar outros tipos celulares (pulmões, fígado, 
pâncreas, rins e cérebro). É espécie-específico e o homem é o único hospedeiro natural 
para o HCMV. Somente em culturas celulares de origem humana o mecanismo de 
replicação viral leva a produção de partículas virais completas, infecciosas, surgindo em 
efeito citopático característico, com aumento de células infectadas, desenvolvimento de 
corpúsculos de inclusão intranucleares em formato de “olho de coruja” e 
intracitoplasmáticos e formação de aglomerados celulares gigantes (Figura 12). 
 
 
 
 
 
 
134 
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
 
Figura 12: Secção de pulmão infectado por CMV mostrando ECP característico: inclusões em “olho de 
coruja”. Fonte: http://www.asm.org/Division/c/viruses.htm 
 
 
Classificação e Morfologia 
 
Os CMVs humanos e de animais pertencem à família Herpesviridae, subfamília 
Betaherpesvirinae, gênero Citomegalovirus. Existe apenas um tipo antigênico de HCMV, 
embora ocorram variações genômicas, que não são suficientes para se caracterizar um 
novo sorotipo. A partícula de HCMV apresenta morfologia típica dos herpesvírus com 
estrutura complexa com quatro componentes básicos formando a partícula viral: core, 
capsídeo, tegumento e envelope. A partícula completa possui um diâmetro que varia de 
120 a 250nm. O core do vírion maduro contém o DNA associado a proteínas. O capsídeo 
é icosaédrico e formado por 162 capsômeros. O tegumento é formado por pelo menos 27 
proteínas virais, presentes em grandes quantidades, assim como outras, presentes em 
pequenas quantidades. O envelope viral, de origem da célula hospedeira, contém várias 
espículas glicoproteicas. O material genético é um DNA de dupla fita linear, não-
segmentado (Figura 13). 
 
 
 
 
 
135 
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
 
 
Figura 13: Esquema de uma partícula viral de CMV. 
Fonte: HTTP://www.wmin.ac.uk/biosciences/page-867 
 
 
Patogênese 
 
O HCMV compartilha com outros herpesvírus a capacidade de se manter latente 
no hospedeiro, disseminar-se célula a célula em presença de anticorpos circulantes, 
reativar-se em condições de imunossupressão e induzir imunossupressão transitória. O 
HCMV é o único herpesvírus que exibe transmissão natural transplacentária que ocorre 
menos frequentemente durante a infecção recorrente do que na infecção primária, devido 
ao controle da imunidade adaptativa. A maior fonte de vírus que causa infecção primária 
em mulheres grávidas é o contato com crianças no período em que elas estão excretando 
vírus. 
 A Infecção por HCMV também pode ser adquirida por contaminação com diversos 
líquidos biológicos como saliva, sangue, sêmen, secreção vaginal, urina, leite materno e 
também por órgãos transplantados. A infecção por HCMV é uma infecção oportunista 
clássica em que a doença se desenvolve quando a resposta imunológica está 
 
 
 
 
 
136 
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
comprometida (AIDS) ou ausente (infecção congênita). A capacidade desse vírus de 
evitar a eliminação pelo SI do hospedeiro pode ser devida, em parte, aos muitos produtos 
gênicos com potencial para interferir na resposta à infecção. Diversos genes do HCMV 
provavelmente contribuem para a patogênese ou latência do vírus no hospedeiro. 
 
Manifestações Clínicas 
Infecção Congênita 
 
Atualmente, o HCMV constitui a causa viral mais prevalente de doença congênita. 
A taxa de infecção congênita devido à infecção materna primária ocorre em 1/3 dos 
casos. Embora o dano no sistema nervoso central (SNC) seja comumente associado à 
infecção primária na gestante, também tem sido relatado após a infecção materna 
recorrente. A presença de anticorpos maternos não evita a transmissão do HCMV para o 
feto, mas reduz a transmissão e a possibilidade de sequelas. Cerca de 10% dos recém-
nascidos infectados exibem evidências clínicas da doença, com cerca de 30% de 
mortalidade entre os gravemente afetados. Os sinais clínicos são petéquias (76%), 
icterícia (67%) e hepatoesplenomegalia (60%). Alguns sinais neurológicos são 
observados, porem não são específicos como: microcefalia, dificuldade na sucção, 
espasticidade, hemiparesia ou convulsões. Ocorre também surdez neurossensorial, 
sendo esta a sequela mais frequente. Contudo, a grande maioria (90%) dos infectados 
permanece assintomática no período neonatal, persistindo um riso de 10-15% de 
manifestações tardias da doença. 
 
Infecção Perinatal 
 
As gestantes que abrigam o HCMV na cérvice uterina podem apresentar 
reativação ao vírus durante a gravidez. Cerca de 50% dos neonatos que nascem de parto 
normal em que a cérvice da mãe está infectada adquire a infecção por HCMV. Os recém-
nascidos também podem se infectar através do leite ou colostro materno. Nos lactentes, a 
infecção perinatal, em geral, não causa nenhuma doença clínica evidente. 
 
 
 
 
 
 
137 
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
 
Infecção em Imunocompetentes 
 
A citomegalovirose é uma doença sexualmente transmissível. A quantidade de 
vírus no sêmen é maior do que a observada em qualquer outra secreção orgânica. O 
HCMV é mais prevalente em pessoas de baixo nível socioeconômico que vivem em 
condições de aglomeração. Raramente a infecção por HCMV em indivíduos 
imunocompetentes tem sido associada a complicações como as observadas em 
pacientes imunodeficientes. 
 
Infecção em Imunodeficientes 
 
É difícil de diagnosticar a infecção pelo HCMV em pacientes imunodeficientes 
porque, além da detecção do vírus, é necessário determinar se ele está causando a 
doença. A maioriadois órgãos pode ser afetada, sendo as manifestações mais 
importantes a pneumonia intersticial, hepatite, coriorretinite, artrite, cardite, infecção 
gastrointestinal crônica e várias doenças do SNC, como encefalite, síndrome de Guillain-
Barré e mielite transversa. Em pacientes com AIDS é bem comum ocorrer doença 
disseminada. Nestes pacientes, a retinite é a principal manifestação clínica observada, 
seguida de enterite. 
 
Epidemiologia 
 
Estudos epidemiológicos demonstram que a infecção por HCMV ocorre em todas 
as regiões do mundo, devido à sua transmissão por contato íntimo com secreções. A 
infecção por HCMV tem caráter endêmico, não apresenta perfil sazonal definido, e até o 
momento, nenhum genótipo foi associado à determinada localização geográfica. O índice 
endêmico varia conforme a região geográfica, sendo em torno de 50% na América do 
Norte e Europa (variando de 40 a 80%), enquanto no Japão e em alguns países da 
América do Sul ou África, esses índices estão próximos de 100%. No Brasil, a 
soroprevalência atinge mais de 90% da população adulta (Figura 14). 
 
 
 
 
 
138 
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
 
Figura 14: mapa de prevalência do HCMV no mundo. 
Fonte: http://www.abbottdiagnostics.com/Your_Health/Infectious_Diseases/CMV/ 
 
 
Diagnóstico Laboratorial 
Histologia 
 
A característica histológica da infecção por HCMV é a célula citomegálica, que é 
uma célula aumentada, contendo um denso corpúsculo de inclusão intranuclear basofílico 
e central em “olho de coruja”. Estas células podem ser encontradas em qualquer tecido do 
corpo e também no sedimento urinário. 
 
Sorologia 
 
Os testes sorológicos são úteis para determinar se o paciente já apresentou 
infecção por HCMV, uma informação de grande importância clínica para doadores de 
sangue e órgãos. Além disso, testes de soroconversão e detecção de IgM para HCMV 
são usualmente utilizados para estabelecer se a infecção ocorreu recentemente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
139 
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
Detecção Viral 
 O vírus pode ser isolado a partir de saliva, urina, fígado, adenoides, rins e 
leucócitos de sangue periférico. No caso do recém-nascido usa-se o sangue do cordão 
umbilical. O método padrão para detecção de HCMV é a inoculação de material clínico 
em culturas de fibroblastos de pulmão humano seguida da observação do efeito citopático 
característico. Essa técnica é bastante lenta, podendo levar até duas semanas para o 
aparecimento do ECP. Além disso, o isolamento viral é menos sensível que os métodos 
modernos. O rápido isolamento em cultura de células baseado no estímulo da infecção da 
monocamada por centrifugação a baixa velocidade e detecção dos antígenos iniciais 
imediatos através de anticorpos monoclonais (Shell vial) permite a detecção do vírus entre 
24 e 48 horas, porém perde em sensibilidade em relação ao isolamento tradicional. 
 Uma variedade de métodos moleculares para detecção de HCMV tem sido 
desenvolvida para a análise qualitativa e quantitativa, tais como PCR, reação de 
amplificação baseada no ácido nucleico específico (NASBA) e captura híbrida. 
Recentemente, a técnica de PCR em tempo real tem sido adaptada para a detecção de 
HCMV, sendo uma técnica rápida, com alta sensibilidade e reprodutibilidade. 
 
Vírus Epstein-Barr - EBV 
 
A descrição do vírus Epstein-Barr (EBV) ocorreu a partir de um estudo para a 
possível verificação da etiologia do linfoma de Burkitt (LB) em várias tribos de diferentes 
regiões da África subsaariana, quando Denis Burkitt, um cirurgião inglês, observou em 
duas crianças a presença de tumores de aspecto multifocal nos maxilares. Burkitt coletou 
células do linfoma e enviou a Anthony Epstein, que estabeleceu em laboratório linhagens 
derivadas das células do LB, que analisadas ao microscópio eletrônico revelavam 
partículas virais semelhantes às dos herpesvírus. O vírus Epstein-Barr é um vírus 
biológica e antigenicamente diferente dos outros tipos de vírus da família Herpesviridae. A 
infecção pelo EBV é restrita a humanos e alguns primatas não-humanos. O EBV foi o 
classificado como o primeiro vírus candidato a induzir a formação neoplásica, devido ao 
seu potencial oncogênico. 
 
 
 
 
 
 
140 
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
Classificação e Morfologia 
 O EBV foi descrito como pertencente ao grupo do herpesvírus e está classificado 
na família Herpesviridae, subfamília Gamaherpesvirinae, gênero Lymphocryptovirus; 
também é denominado herpesvírus humano tipo 4 (HHV-4). A partícula viral consiste em 
um core contendo o genoma de DNA de fita dupla linear, composto de aproximadamente 
100 genes. Durante a replicação viral, as proteínas codificadas pelo vírus participam da 
regulação da expressão dos genes virais, na replicação do DNA, na formação dos 
componentes estruturais do vírion e na modulação da resposta imunológica. O core é 
circundado por um capsídeo icosaédrico com 162 capsômeros, um tegumento composto 
de proteínas circundando o capsídeo e um envelope contendo espículas glicoproteicas 
(figura 15). 
 
 
Figura 15: Vírus Epstein-Barr. 
Fonte: http://news.bbc.co.uk/2/hi/health/medical_notes/2903897.stm 
 
 
Patogênese 
 
 A infecção humana por EBV geralmente ocorre pelo contato direto com secreções 
orais. Contudo, a transmissão entre crianças também pode ocorrer em idades precoces 
devido ao contato oral com utensílios contaminados. Os indivíduos infectados por EBV 
 
 
 
 
 
141 
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
podem eliminar o vírus na saliva durante a reativação mesmo não apresentando 
sintomas. 
 
Infecção Latente 
 
A infecção primária resulta em posterior infecção latente, que é caracterizada pela 
abundante produção de pequenos filamentos de RNA transcritos pelo EBV, por antígenos 
nucleares e proteínas latentes da membrana. A infecção latente pode tornar-se ativa e é 
marcada pela expressão da proteína transativadora do EBV. O estado de latência é 
aquele no qual o vírus estabelece uma infecção persistente não-produtiva no organismo 
do hospedeiro. Durante essa fase, o genoma viral intacto reside no interior da célula 
infectada, porém a maioria dos genes não é expressa. No estado latente, o genoma viral 
encontra-se no formato epissomal, sem a produção de novas progênies virais. 
 
Manifestações Clínicas 
Cânceres associados ao EBV 
 
O carcinoma de nasofaringe (CN) constitui-se num câncer relativamente raro, 
representando um total de 0.25% das neoplasias malignas na América do Norte. No 
entanto, possui alta incidência entre os asiáticos, representando cerca de 18% de todos 
os cânceres na China. Também é prevalente no nordeste africano e entre os esquimós do 
Alasca. Foi observado que o genoma do EBV está presente nas células epiteliais 
transformadas e em lesões displásicas pré-invasivas ou em carcinomas in situ, porém não 
em linfócitos presentes no tumor, o que demonstra que a infecção pelo EBV precede o 
desenvolvimento de tumores invasivos. Em relação à faixa etária, o CN acomete com 
mais frequência indivíduos entre 35 e 50 anos de idade, com presença mais comum em 
homens do que em mulheres. 
 As manifestações clínicas do CN dependem da localização, do tamanho e do 
percurso de disseminaçãogerado por esses tumores, e as lesões de menor tamanho são 
assintomáticas. Porém, os pacientes podem apresentar otite, cefaleia, obstrução nasal, 
epistaxe, dor de garganta, sensação de ouvido tampado e trismo, o que estará 
 
 
 
 
 
142 
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
relacionado com o grau de acometimento das estruturas adjacentes e da extensão da 
lesão. O CN caracteriza-se como uma neoplasia sem ligação entre o tamanho do tumor e 
a presença de metástases linfonodais. 
 Ainda nos pacientes com CN avançado que receberam tratamento quimioterápico 
foi realizada uma investigação nas concentrações plasmáticas do DNA do EBV quando 
comparado com a do tumor primário por meio de PCR em tempo real e observou-se que a 
quantificação do DNA do EBV plasmática foi útil para monitorar pacientes com CN e 
predizer o resultado do tratamento. 
 
Linfoma de Burkitt (LB) 
 
O LB representa um subgrupo de linfoma não-Hodgkin de alto grau, com 
características epidemiológicas, moleculares e clínicas distintas, que foi classificado pela 
Organização Mundial de Saúde (OMS) dentro dos tumores de tecido linfoide, como uma 
neoplasia de células linfoides B maduras. É um tumor de células B, tendendo a 
disseminar para áreas além do sistema linfático, como a medula óssea, o sangue, o 
sistema nervoso central e para o liquor, apresentando três variações clínicas: 
 
1. LB endêmico: Ocorre na África equatorial, onde está associado com a malária, 
em Papua Nova-Guiné e o nordeste brasileiro, sendo a principal neoplasia maligna 
em pacientes pediátricos nessas localizações, uma vez que foi observada a 
existência de uma possível associação entre sua distribuição geográfica e os 
fatores climáticos de cada região. 
2. LB esporádico: mais frequente em crianças e pacientes jovens, com baixa 
incidência (cerca de 2% de todos os linfomas dos Estados Unidos da América e da 
Europa). 
3. LB associado à imunodeficiência: verificado com frequência em pacientes 
infectados pelo HIV, em que nos casos de progressão para a imunodeficiência, 
pode apresentar uma de suas manifestações iniciais. 
 
 
 
 
 
 
143 
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
O tumor localiza-se geralmente na mandíbula, e mais de 90% dos casos estão 
associados à infecção por EBV. A infecção pelo Plasmodium falciparum (malária) 
possivelmente reduz a capacidade das células T de controlar as células B infectadas e 
intensifica a proliferação. 
 
Doença de Hodgkin (Linfoma de Hodgkin) 
 
O linfoma de Hodgkin (LH) caracteriza-se por ser uma neoplasia do sistema 
linforreticular, em que o EBV está presente nos tumores. O LH tem características clínicas 
e histológicas distintas, pois se origina de uma única célula B transformada com expansão 
monoclonal. As células de Reed-Sternberg são as células malignas do LH (Figura 16), 
sendo derivadas dos centros germinativos dos linfonodos, com a perda de sua identidade 
de células B e mostrando ativação de múltiplas vias de sinalização. 
 
Figura 16: células de Reed-Sternberg características de do Linfoma de Hodgkin. 
Fonte: http://www.meb.uni-bonn.de/cancer.gov/CDR0000257999.html 
 
 
Quanto aos sintomas, os indivíduos podem apresentar um linfonodo aumentado 
no pescoço, na axila ou na virilha e pele com prurido intenso (figura 17). 
 
 
 
 
 
 
144 
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
 
Figura 17: Locais onde o indivíduo pode apresentar linfonodo aumentado no Linfoma de Hodgkin. 
Fonte: http://www.esmas.com/salud/enfermedades/cronicas/564094.html 
 
 
O LH pode acometer uma faixa etária variada, com uma forma infantil ocorrendo 
antes da adolescência, outra considerada adulta precoce com pico de idade aos 20 anos 
e uma forma adulta tardia após os 50 anos de idade. Nos EUA e na Europa Ocidental, 
aproximadamente 30-40% dos tumores LH contêm o EBV, enquanto no Brasil a presença 
do vírus está próxima dos 50% em adultos e 80% em crianças. 
 
Mononucleose Infecciosa (MI) 
 
Enquanto a maioria das infecções em bebês e crianças jovens é assintomática ou 
apresenta um quadro clínico inespecífico, a infecção em adolescentes e adultos resulta na 
manifestação clínica da MI. A transmissão dessa infecção ocorre primariamente por 
contágio por meio do beijo, no compartilhamento de saliva, principalmente entre 
adolescentes e os adultos jovens, o que levou à denominação “doença do beijo”. Não há 
predileção por raça na MI, com taxas idênticas para ambos os sexos. Mais de 50% dos 
pacientes manifestam a tríade: febre, linfadenopatia e faringite. 
 
 
 
 
 
145 
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
 
Epidemiologia 
 
O EBV se dissemina por contato íntimo entre pessoas susceptíveis e portadores 
assintomáticos. Muitos adultos são positivos para o EBV em torno dos 25 anos de idade e 
não obstante estão sujeitos à reinfecção. Cerca de 90-95% da população mundial está 
infectada e o vírus tem a capacidade de se manter latente em toda a vida do indivíduo, 
tanto nas células epiteliais quanto nos linfócitos B (figura 18). 
 
 
Figura 18: Incidência de Linfoma de Burkitt e Câncer nasofaríngeo associado ao vírus Epstein-Barr no 
mundo. Fonte: http://info.cancerresearchuk.org/cancerstats/causes/infectiousagents/epsteinbarrvirus/ 
 
 
Diagnóstico Laboratorial 
 
O diagnóstico clínico diferencial da infecção por EBV é difícil, principalmente 
antes dos sintomas clássicos da síndrome serem evidentes. A mononucleose deve ser 
distinguida de outras doenças infecciosas e é geralmente diagnosticada pela presença de 
linfócitos atípicos, linfocitose, anticorpos heterófilos e anticorpos específicos para 
 
 
 
 
 
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Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
antígenos virais. Os linfócitos atípicos, também conhecidos como células de Downey 
(Figura 19), aumentam no sangue periférico durante a segunda semana de infecção. 
Estas células desaparecem após a cura da doença. 
 
 
Figura 19: Linfócitos atípicos ou células de Downey característico de Linfócitos B infectados por EBV. 
Fonte: http://www.microbelibrary.org/Virus/details.asp?id=384&Lang= 
 
 
 Os testes sorológicos para a detecção de anticorpos contra o EBV são a principal 
ferramenta para a confirmação do diagnóstico. Durante a primeira década de pesquisa, a 
soroepidemiologia do EBV era feita por meio da imunofluorescência. Posteriormente, 
foram desenvolvidos diversos ensaios imunoenzimáticos e outros testes sorológicos para 
a detecção de anticorpos, baseados em peptídeos virais específicos. O diagnóstico das 
desordens linfoproliferativas necessita de exame histológico do tecido da biópsia e 
hibridização in situ. Já para a detecção do vírus podem ser feitas a imuno-histoquímica, 
imunocitoquímica e microscopia eletrônica. Teste de PCR quantitativos e 
semiquantitativos foram desenvolvidos para a detecção do DNA viral no sangue. Estes 
testes têm demonstrado que a medição do DNA viral pode ser um marcador no 
diagnóstico dessas patologias. 
 
 
 
 
 
147 
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
Hepatites Virais 
 
A designação de viroseshepáticas é utilizada para caracterizar processos 
inflamatórios agudos do fígado, provocado por diferentes vírus, tais como os vírus da 
família herpesviridae, alguns tipos de vírus Coxsackie, citomegalovírus, vírus do Epstein-
Barr; vírus da caxumba e os causadores de hepatites propriamente ditos. Os agentes 
etiológicos das hepatites virais são responsáveis por uma grande incidência de casos de 
morbidade e mortalidade e representam um grave problema de saúde pública em todo o 
mundo. 
 Os vírus denominados de vírus da hepatite A (HAV) e vírus da hepatite E (HEV) 
são de transmissão entérica e causam hepatite aguda. Os vírus da hepatite B (HBV) e da 
hepatite C (HCV) são transmitidos pela via parenteral e representam os principais agentes 
etiológicos da hepatite crônica, cirrose e carcinoma hepatocelular, em todos os 
continentes. A OMS estima que metade da população mundial já foi infectada pelo HBV. 
Cerca de 350 milhões de pessoas, atualmente, estão infectadas por este agente, que 
representa 3 vezes mais do que os infectados pelo HCV e 10 vezes mais do que os 
infectados pelo HIV. Outro vírus hepatotrópico humano conhecido é o vírus da hepatite D 
(HDV), que é defectivo e associado ao HBV. O HDV está associado à maior parte de 
formas graves de hepatites agudas e crônicas em pacientes positivos para o antígeno de 
superfície do HBV (HBsAg). 
 
Vírus de Hepatite de Transmissão Entérica 
Vírus da Hepatite A - HAV 
 
A hepatite A é uma doença infecciosa aguda, de transmissão oro-fecal, causada 
pelo HAV, resultando em inflamação e necrose hepática. Relatos de icterícia epidêmica 
são encontrados desde o período anterior à era cristã, descritos inicialmente por 
Hipócrates. Porém, somente na década de 1940 os vírus começaram a ser caracterizados 
como causadores de hepatites. Nessa década foi identificada a presença de mais de um 
agente viral para as epidemias de icterícia. Esta forma de hepatite foi considerada, por 
muito tempo, uma manifestação secundária de uma infecção entérica. Atualmente, sabe-
 
 
 
 
 
148 
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
se que o vírus se instala primeiramente no fígado, tendo o aparelho digestivo como porta 
de entrada, sem causar lesão neste local. 
 
Classificação e Morfologia 
 
O HAV está classificado na família Picornaviridae, sendo o único representante do 
gênero Hepatovirus. É um vírus não-envelopado, de simetria icosaédrica e com diâmetro 
de 27 a 28nm. O genoma é formado por um RNA linear de polaridade positiva (Figura 
20). 
 
Figura 20: Partícula do vírus da hepatite A. 
Fonte: http://www.wellcome.ac.uk/Professional-resources/Education-resources/Big-
Picture/Epidemics/WTD028128.htm 
 
 
 As sequências nucleotídicas de cepas humanas de HAV são muito conservadas, 
mesmo em regiões geográficas afastadas. E, apesar disso, sete genótipos foram 
descritos até hoje. Entre os genótipos não existe mais do que 15% de divergência, que é 
 
 
 
 
 
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o mesmo critério de classificação utilizado para os poliovírus. Trata-se de um vírus muito 
estável, com elevada resistência ao calor, suportando temperaturas de 60ºC por dez 
minutos. Também é resistente a condições de pH baixo. 
 
Patogênese e Manifestações Clínicas 
 
O período de incubação médio é de cerca de 30 dias. O vírus é excretado nas 
fezes por uma a duas semanas antes do início da doença e por pelo menos uma semana 
depois (figura 21). A eliminação viral é maior no início dos sintomas e declina 
rapidamente. Demonstrou-se que as fezes são infecciosas até oito dias após o início da 
icterícia. Os sintomas são febre, náuseas e vômitos, dor abdominal e cansaço, 
acompanhado por icterícia, fezes claras e urina escura. O curso clínico pode variar de 
infecção assintomática até hepatite grave, às vezes fulminante. Felizmente, estas duas 
últimas situações são raras, ocorrendo deterioração das funções hepáticas. 
 
Figura 21: Curso clínico da Hepatite A. Fonte: http://pathport.vbi.vt.edu/pathinfo/pathogens/HAV.html 
 
 
 
 
 
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Epidemiologia 
 
O HAV apresenta distribuição mundial (Figura 22), com três padrões 
epidemiológicos classificados de acordo com as condições sócio-econômicas e sanitárias 
das diferentes regiões mundiais. Nos países com condições sanitárias precárias, a 
maioria das crianças se infecta antes de um ano de idade, desenvolvendo a forma 
assintomática da doença. Assim, a população acima de dez anos de idade está imune à 
doença. Nos países desenvolvidos, onde as barreiras ambientais impedem o contato com 
o vírus na infância, os indivíduos adultos são susceptíveis, e no caso de haver 
contaminação, irão desenvolver a infecção sintomática. Nos países chamados em 
desenvolvimento (caso do Brasil) a infecção vem se deslocando para grupos etários mais 
elevados, como adolescentes e adultos, aumentando a morbidade e mortalidade da 
doença. 
 
 
 
Figura 22: Prevalência Mundial do virus da hepatite A. Em vermelho: Áreas de alto risco. Em listrado: Áreas 
de risco moderado. Fonte: http://www.medwork84.com/travel.htm 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Diagnóstico Laboratorial 
 
O diagnóstico de hepatite A é feito pela detecção de anticorpos contra o vírus. Os 
anticorpos IgM anti-HAV aparecem na infecção aguda e anticorpos IgG aparecem após a 
cura, permanecendo por toda a vida. Elevações de enzimas hepáticas ocorrem no quadro 
agudo e podem demorar até seis meses para se normalizar. Antes do início dos sintomas, 
o HAV é detectado nas fezes e no sangue. A concentração nas fezes é bem mais elevada 
do que a encontrada no sangue. Caso as amostras de sangue ou de fezes sejam 
disponíveis antes dos sintomas clínicos, o HAV pode ser detectado. Quando utilizadas 
culturas celulares, o HAV pode ser detectado por imunoensaios, imunomicroscopia 
eletrônica, testes de hibridização ou reação em cadeia da polimerase associada à 
transcrição reversa (RT-PCR). 
 A IgM anti-HAV, marcador de infecção aguda, rapidamente aumenta em título e 
declina a níveis não-detectáveis entre três e seis meses na maioria dos pacientes. A IgG 
anti-HAV pode ser detectada simultaneamente ou entre uma duas semanas a partir dos 
sintomas agudos, substituindo os ACs IgM. O ensaio do anticorpo anti-HAV total é 
utilizado para determinar o estado imunológico do paciente depois da vacinação ou 
infecção natural, ou avaliar o risco de um indivíduo que viaja para uma região de alta 
prevalência de HAV. A presença destes anticorpos na ausência de outros marcadores de 
HAV indica uma infecção passada ou imunidade vacinal e proteção contra uma infecção 
futura. 
 
Vírus de hepatite de Transmissão sanguínea e sexual 
Vírus da Hepatite B–HBV 
 
 Desde o período da era cristã já existiam evidências de icterícia epidêmica. 
Entretanto, foi somente no final do século XIX, após a vacinação contra a varíola (vacina 
preparada com linfa humana) de trabalhadores na Alemanha, na qual 15% deles se 
tornaram ictéricos, tornou-se evidente a associação da enfermidade a um agente de 
transmissão parenteral. Em 1965, Blumberg e colaboradores publicaram o que viria ser 
uma das mais importantes revelações sobre a hepatiteviral. Durante o curso da 
 
 
 
 
 
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investigação, a equipe de Blumberg descobriu que uma amostra de soro de um aborígene 
da Austrália continha um antígeno que reagia especificamente com um anticorpo presente 
no soro de um paciente hemofílico dos Estados Unidos. 
 Estudos posteriores revelaram que esse “antígeno Austrália” era raro na 
população da América do Norte e Oeste Europeu, porém prevalente em alguns países 
africanos e asiáticos e entre pacientes com leucemia, síndrome de Down e hepatite 
aguda. Em 1968, a correlação do Antígeno Austrália (hoje chamado de antígeno de 
superfície do vírus da hepatite B ou HBsAg) com a infecção pelo HBV pôde ser 
estabelecida. Posteriormente, a purificação do HBV foi realizada a partir do soro de 
portadores do antígeno Austrália, e a partícula completa ou vírion foi detectada por 
microscopia eletrônica. 
 
Classificação e Morfologia 
 
 O HBV pertence à família Hepadnaviridae, a qual compreende um pequeno 
número de vírus que compartilham muitas características, tais como: tamanho, 
ultraestrutura do vírion, organização genômica e um mecanismo único de replicação do 
DNA viral. O HBV não é replicado em linhagens celulares diploides e contínuas, sendo 
necessária a utilização de células primárias humanas. O HBV possui um mecanismo 
único entre os vírus que infectam o homem, permitindo a produção de diferentes tipos de 
partículas virais. Três tipos de partículas podem ser observados, quando são preparadas 
lâminas com soro de paciente: as completas infecciosas, as incompletas esféricas e as 
incompletas filamentosas (Figura 23). 
 
 
 
 
 
 
153 
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
(a) 
 
 
(b) 
 
 
Figura 23: Partículas virais de HBV. (a) Esquema das diferentes partículas de HBV e (b) Microscopia 
eletrônica (1) Partícula completa; (2) partícula incompleta filamentosa e (3) partícula incompleta esférica. 
Fonte: http://pathmicro.med.sc.edu/virol/hepatitis-virus.htm e http://www.klinikum.uni-heidelberg.de/1-
Morphology-Genome-Organization.104932.0.html 
 
 
 
 
 
 
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O genoma do HBV é um dos menores quando comparado a genoma de outros 
vírus humanos. Possui aproximadamente 3.200 pb e é composto por uma molécula de 
DNA circular parcialmente dupla (Figura 24). 
 
Figura 24: Esquema da partícula viral. 
Fonte: http://medical-dictionary.thefreedictionary.com/hepatitis+B 
 
 
Patogênese e Manifestações Clínicas 
 
A infecção pelo HBV pode levar a uma série de quadro clínicos, desde a infecção 
assintomática até o desenvolvimento de carcinoma hepático. Aproximadamente 90% das 
pessoas infectadas não desenvolvem sintomas; o restante pode desenvolver hepatite 
crônica com evolução para cirrose e hepatocarcinoma. Uma pequena proporção 
desenvolve hepatite fulminante seguida de óbito. Nas crianças, devido ao sistema 
imunológico imaturo, 90% serão portadores crônicos. Em adultos, cerca de 90% das 
pessoas infectadas evoluem para a cura. 
 O período de incubação varia de quatro a doze semanas. A fase aguda é 
caracterizada pela presença do antígeno HBs (HBsAg), seguida pela presença de IgM 
anti-HBc e anti-HBc total. O antígeno HBe (HBeAg) é indicativo de infecciosidade e 
replicação viral, surge no período final da incubação e desaparece antes do HBsAg, já na 
fase assintomática. O HBe geralmente é um marcador associado à presença do genoma 
 
 
 
 
 
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viral. O período de convalescença ocorre de duas a 16 semanas a partir da infecção, com 
baixa da IgM anti-HBc, permanência de IgG anti-HBc e desaparecimento de HBsAg. A 
cura ocorre pela soroconversão do HBsAg para anti-HBs conferindo imunidade ao 
indivíduo e pela normalização das enzimas hepáticas (Figura 25). 
 
Figura 25: Curso Clínico da Infecção Aguda pelo Vírus da hepatite B. 
Fonte: http://www.labhpardini.com.br/lab/imunologia/hepatite.htm 
 
 
 Cerca de 10% dos adultos portadores do HBV tornam-se portadores crônicos da 
doença, podendo desenvolver quadros de cirrose e hepatocarcinoma. No caso de ocorrer 
a infecção durante a infecção, a chance da doença se tornar crônica é de 85%. Os 
portadores de infecção crônica apresentam os marcadores de HBsAg persistentes, por no 
mínimo seis meses, sem haver soroconversão para anti-HBs. 
 A infecção crônica pelo HBV desenvolve-se em três fases sucessivas: i) 
replicação viral ativa, com lesões hepáticas discretas ou ausentes, pela baixa resposta 
imunológica e à alta infecciosidade; ii) diminuição da replicação viral, com o 
desaparecimento do HBeAg e surgimento do anticorpo anti-HBe, devido a intensificação 
da resposta imunológica, acarretando em lesões hepáticas graves, elevado risco e 
estabelecimento de cirrose; iii) inativação da replicação viral com síntese contínua de 
HBsAg, elevado risco de hepatocarcinoma e possível reativação da infecção e 
restabelecimento da infecciosidade (Figura 26). 
 
 
 
 
 
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Figura 26: Curso clínico da infecção crônica pelo vírus da hepatite B. 
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Chronic_HBV_v2.png 
 
 
 Existem três fases distintas de infecção crônica do HBV estabelecidas, conforme 
a expressão clínica e histológica da doença. A hepatite crônica persistente, que 
geralmente é assintomática, com exame clínico normal ou com hepatomegalia discreta. 
Possui testes hepáticos normais, com exceção para transaminases. O exame histológico 
mostra infiltração inflamatória moderada composta de células mononucleadas e com 
hepatócitos normais ou pouco alterados. A hepatite crônica ativa caracteriza-se por 
enfraquecimento e icterícia, hepatomegalia moderada, esplenomegalia, fosfatase alcalina 
e gamaglutamiltranspeptidase (GGT) normais ou moderadamente elevadas, biópsia 
hepático com infiltrado inflamatório formado basicamente de linfócitos. A cirrose, doença 
progressiva que consiste na formação excessiva de tecido conjuntivo seguida de 
endurecimento e contração do fígado e com risco elevado de evolução para 
hepatocarcinoma. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Epidemiologia 
 Estima-se que existam cerca de 350 milhões de portadores crônicos de HBV no 
mundo. O vírus provoca hepatite aguda em um terço dos portadores e 1/1000 infectados 
pode ser vítima de hepatite fulminante. Altas taxas de prevalência (8 a 15%) são 
observadas para o HBsAg na Ásia, África Subsaariana, Alasca e Oriente Médio. 
Prevalências entre 2 a 7% são encontradas na Ásia Central, Israel, Japão, Leste Europeu, 
parte da América do Sul e na ex-União Soviética. Já as regiões de baixa prevalência 
(<2%) estão nos países da América do Norte (exceto Alasca), Europa Ocidental, Nova 
Zelândia, Austrália (exceto os aborígenes) e a região sul da América Latina. O Brasil 
apresenta prevalência intermediária, apesar de certas localidades apresentarem altas 
taxas de prevalência (Figura 27). 
 
 
Figura 27: Distribuiçãoda prevalência da infecção crônica por HBV. 
Fonte: http://liver.stanford.edu/Education/faq.html 
 
 
 
 
 
 
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Diagnóstico Laboratorial 
 
 O diagnóstico da infecção por HBV deve ser feito pela análise em conjunto de 
exames clínicos e laboratoriais. A hepatite B aguda pode ser identificada por exames 
bioquímicos que avaliam as taxas de transaminases. Os testes imunoenzimáticos são as 
principais ferramentas para o diagnóstico das hepatites virais, uma vez que detectam os 
antígenos e anticorpos presentes no soro do paciente podendo também indicar a fase da 
infecção. Após a descoberta do antígeno Austrália e a sua associação com hepatite, 
vários marcadores sorológicos importantes foram estabelecidos para o diagnóstico da 
hepatite B: antígeno de superfície (HBsAg), anticorpo para o HBsAg (anti-HBs), anticorpo 
para o HBc (anti-HBc), antígeno “e” (HBeAg) e anticorpo anti HBeAg (Anti-HBe). 
 Além destes marcadores, a pesquisa do ácido nucleico viral pode ser realizada 
por técnicas de biologia molecular quantitativas e qualitativas, como a PCR. O teste 
qualitativo para a detecção do DNA do HBV por PCR não possui importância clínica na 
avaliação pré, per e pós-tratamento, já que pode ser positivo mesmo na ausência de 
replicação viral. Logo, esta técnica pode ser substituída por ensaios imunoenzimáticos, 
com um custo menor. Já os testes quantitativos do HBV, que determinam a carga viral, 
são utilizados para monitorar a presença de replicação viral e controle da cura em casos 
de mutação pré-core, em que não se detecta o HBeAg. 
 
Vírus da Hepatite D - HDV 
 
O vírus da hepatite D foi descoberto em 1977 e observado como um antígeno 
nuclear detectado em hepatócitos de paciente cronicamente infectado por HBV. O 
antígeno era semelhante na sua localização subcelular ao core do HBV (HBcAg). Foi 
denominado antígeno delta. Em 1980, o antígeno delta foi reconhecido como componente 
de um novo vírus que necessitava da coinfecção pelo HBV para a sua replicação. Hoje, 
sabe-se que o HDV usa o HBsAg em sua estrutura viral, logo este novo vírus foi 
associado com as formas mais graves de hepatite crônica e aguda em muitos pacientes 
positivos para o HBsAg. 
 
 
 
 
 
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Classificação e Morfologia 
 
O HDV está associado ao viroides. Várias características do HDV como a 
estrutura do genoma, transcrição do RNA utilizando a RNA polimerase II são similares a 
propriedades dos viroides. Porém, este vírus possui um genoma grande codificando uma 
proteína. Possui também características semelhantes aos vírus satélites de plantas e 
virusoides, porém com base do tamanho de seu genoma e seu modo de replicação não 
podem ser classificados com nenhum desses agentes. É o menor agente patogênico 
humano e o único representante do gênero deltavirus, não incluso em nenhuma família. 
 O HDV é o único vírus animal que possui um RNA circular de fita simples de 
polaridade negativa. Este genoma está associado à única proteína codificada por ele, o 
antígeno delta (HDAg) [Figura 28]. O RNA do HDV possui algumas funções estruturais 
essenciais à sua replicação, como sítios para ribozimas e sítios de edição de RNA. As 
cepas de HDV estão classificadas em três genótipos, com diferenças superiores a 10% de 
bases nucleotídicas. O genótipo I é encontrado na Europa, América do Norte e alguns 
países da Ásia. O genótipo II é encontrado no Japão, Taiwan e Rússia. O genótipo III é 
exclusivo da América do Sul, especificamente na bacia amazônica. Os tipos I e III são 
considerados os mais patogênicos. 
 
 
Figura 28: A) Microscopia eletrônica do HDV. B) Esquema da partícla de HDV com envoltório HBsAg. 
Fonte: Fonseca., JCF. Hepatitis D. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. vol. 35 no. 2 Uberaba Mar./Apr. 2002. 
 
 
 
 
 
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Patogênese e Manifestações Clínicas 
 
Dois padrões de infecção são conhecidos. A coinfecção é definida pela introdução 
simultânea do HDV e HBV e a superinfecção, como a introdução do HDV em portadores 
crônicos do HBV, positivos para o HBsAg. A coinfecção gera uma infecção aguda por 
ambos os vírus e na maioria dos casos evolui para uma forma benigna. Em 5% dos casos 
leva a uma infecção fulminante (Figura 29). 
 
 
Figura 29: Curso clínico e sorológico da coinfecção por HBV e HDV. 
Fonte: http://www.stanford.edu/group/virus/delta/2005/ 
 
 
A superinfecção geralmente causa uma hepatite grave, tornando-se crônica em 
70% dos casos. Esses casos podem evoluir para hepatite crônica grave e cirrose, isso 
quando o portador não sucumbe a uma hepatite fulminante (figura 30). 
 
 
 
 
 
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Figura 30: Eventos clínicos e sorológicos da superinfecção por HBV e HDV. 
Fonte: www.stanford.edu/group/virus/delta/2005/ 
 
 
Epidemiologia 
 
Os estudos de prevalência de anticorpos anti-HDV em pacientes portadores do 
HBsAg mostram uma distribuição mundial não-uniforme (Figura 31). A bacia do 
mediterrâneo, a Ásia Central, o Oriente Médio, o Leste da África, a bacia Amazônica e 
algumas ilhas do pacífico sul são áreas de alta prevalência do vírus. No leste Asiático, a 
hepatite D não é tão comum, apesar de estar presente em até 20% dos casos de hepatite 
aguda em indivíduos positivos para o HBsAg na China e na Índia. Nos países 
desenvolvidos, os grupos de risco por transmissão parenteral são os mesmos para HBV e 
HDV. Porem é menos frequente do que a infecção pelo HBV ou HIV entre homossexuais 
ou heterossexuais promíscuos, mostrando que a via sexual não é a via de transmissão 
predominante. A taxa de cronicidade é de 1-3% na coinfecção e de 70-80% na 
superinfecção, sendo esta infecção com uma taxa de mortalidade cerca de 10 vezes 
maior do que a infecção por HBV. 
 
 
 
 
 
 
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Figura 31: Distribuição Geográfica da infecção por HDV. Em vermelho: Alta; amarelo: Intermediária; verde: 
baixa; laranja: muito baixa, bege: sem dados. Fonte: www.stanford.edu/group/virus/delta/2005/ 
 
 
Diagnóstico Laboratorial 
 
A realização de diagnóstico para o HDV se torna importante em portadores do 
vírus HBV que tenham se contaminado recentemente pelo HBV e que seja portador do 
HBsAg, principalmente se forem habitantes das áreas de risco. Os anticorpos contra o 
HDV aparecem tardiamente na fase aguda, podendo estar presentes transitoriamente ou 
em níveis baixíssimos. Uma positividade para a IgM anti-HDV, o RNA de HDV ou o 
HDVAg, pode caracterizar infecção aguda. Na coinfecção, todos os marcadores de 
replicação viral desaparecem no início da convalescença e os outros (IgM e IgG anti-
HDV) desaparecem meses ou anos depois da convalescença. Já na superinfecção, 
geralmente resulta em uma infecção persistente. 
 
 
 
 
 
 
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Vírus da Hepatite C-HCV 
 
Após a identificação do HBV e sua associação com a hepatite B, alguns testes 
sorológicos foram desenvolvidos

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