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� FICHA DESTAQUES/ REFERENTE DE OBRA CIENTÍFICA NOME DO AUTOR EM FICHAMENTO: Angela Casa OBRA EM FICHAMENTO: Han, Byun-Chul. Sociedade do Cansaço. Tradução de Enio Paulo Giachini. Petrópolis, (RJ): Vozes, 2015. ESPECIFICAÇÃO DO REFERENTE UTILIZADO: Identificar as causas que definem a sociedade do cansaço. DESTAQUES CONFORME O REFERENTE: 4.1 “Cada época possui suas enfermidades fundamentais. (...). Visto a partir da perspectiva patológica, o começo do século XXI não é definido como bacteriológico nem viral, mas neuronal”. (p. 07); 4.2 “Doenças neuronais, ..., determinam a paisagem patológica do começo do século XXI”. (p. 07-08); 4.3 “O século passado foi uma época imunológica. Trata-se de uma época na qual se estabeleceu uma divisão nítida entre dentro e fora, amigo e inimigo ou entre próprio e estranho”. (p. 08); 4.4 “Hoje a sociedade está entrando cada vez mais numa constelação que se afasta totalmente do esquema de organização e de defesa imunológicas. Caracteriza-se pelo desaparecimento da alteridade e da estranheza”. (p. 09); 4.5 “A promiscuidade geral de hoje em dia toma conta de todos os âmbitos da vida, e a falta da alteridade imunologicamente ativa, condicionam-se mutuamente. (p. 13); 4.6 “O desaparecimento da alteridade significa que vivemos numa época pobre de negatividades. É bem verdade que os adoecimentos neuronais do século XXI seguem, por seu turno, sua dialética, não a dialética da negatividade, mas a da positividade”. (p. 14); 4.7 “A rejeição frente ao excesso de positividade não apresenta nenhuma defesa imunológica, mas uma ab-reação neuronal-digestiva, uma rejeição. (...). Todas essas são manifestações de uma violência neuronal que não é viral, uma vez que não podem ser reduzidas à negatividade imunológica”. (p. 17); 4.8 “A violência da positividade não pressupõe nenhuma inimizade. Desenvolve-se precisamente numa sociedade permissiva e pacificada. Por isso ela é mais invisível que uma violência viral. Habita o espaço livre de negatividade do igual, onde não se dá nenhuma polarização entre inimigo e amigo, interior e exterior ou entre próprio e estranho”. (p. 19); 4.9 “A sociedade do século XXI não é mais a sociedade disciplinar, mas uma sociedade de desempenho. Também seus habitantes não se chamam mais de ‘sujeitos da obediência’, mas sujeitos de desempenho e produção”. (p. 23); 4.10 “A sociedade disciplinar é uma sociedade da negatividade. É determinada pela negatividade da proibição. (...). A sociedade de desempenho vai se desvinculando cada vez mais da negatividade. (...). No lugar da proibição, mandamento e lei, entram projeto, iniciativa e motivação”. (p. 24); 4.11 “Alain Ehrenberg localiza a depressão na passagem da sociedade disciplinar para a sociedade do desempenho”. (p. 26); 4.12 “Para ele, a depressão é a expressão patológica do fracasso do homem pós-moderno em ser ele mesmo. (...). O que causa a depressão do esgotamento não é o imperativo de obedecer apenas a si mesmo, mas a pressão do desempenho”. (p. 27); 4.13 “A depressão é o adoecimento de uma sociedade que sofre com o excesso de positividade”. (p.29); 4.14 “O excesso de positividade se manifesta também como excesso de estímulos, informações e impulsos. Modifica radicalmente a estrutura e economia da atenção. Com isso se fragmenta e destrói a atenção”. (p. 31); 4.15 “Essa atenção dispersa se caracteriza por uma rápida mudança de foco entre as diversas atividades, fontes informativas e processos. (...). Também não admite aquele tédio profundo que não deixa de ser importante para o processo criativo”. (p. 33); 4.16 “Segundo Arendt, a sociedade moderna, enquanto sociedade do trabalho, aniquila toda possibilidade de agir, degradando o homem a um animal laborans – um animal trabalhador. (...). Assim, Arendt vê a Modernidade, que começou inicialmente com uma ativação heroica inaudita de todas as capacidades humanas, findar numa passividade mortal”. (p. 41); 4.17 “A sociedade laboral individualizou-se numa sociedade de desempenho e numa sociedade ativa. (...). Ele pode ser tudo, menos ser passivo”. (p. 43); 4.18 “A perda moderna da fé, que não diz respeito apenas a Deus e ao além, mas à própria realidade, torna a vida humana radicalmente transitória. (...). Nada promete duração e subsistência. Frente a essa falta do Ser surge nervosismos e inquietações”. (p. 44); 4.19 “Precisamente frente à vida desnuda, que acabou se tornando radicalmente transitória reagimos com hiperatividade, com a histeria do trabalho e da produção”. (p. 46); 4.20 “A crescente positivação do mundo torna-o pobre em estados de exceções. (...). A positivação geral da sociedade hoje absorve todo e qualquer estado de exceção. Assim o estado de normalidade torna-se totalitário”. (p.55);. 4.21 “A hiperatividade é paradoxalmente uma forma extremamente passiva de fazer, que não admite mais nenhuma ação livre. Radica-se numa absolutização unilateral da potência positiva”. (p.58); 4.22 “A sociedade do desempenho e a sociedade ativa geram um cansaço e esgotamentos excessivos. Esses estados psíquicos são característicos de um mundo que se tornou pobre em negatividade e que é dominado por um excesso de positividade. Não são reações imunológicas que pressuporiam uma negatividade do outro imunológico. Ao contrário, são causadas por um excesso de positividade. O excesso da elevação do desempenho leva a um infarto da alma”. (p. 70-71); 5 REGISTROS PESSOAIS DO FICHADOR SOBRE OS DESTAQUES: Usando termos da patologia, Han, faz uma diferenciação das sociedades passadas e a atual. Definindo a sociedade do século XXI como uma sociedade neuronal em que as doenças e os transtornos psíquicos se caracterizam como a violência efetiva dessa sociedade. Essa violência neuronal se apresenta devido ao excesso de positividade que quebrou com a divisão necessária entre o próprio e o estranho que caracteriza uma organização imunológica, de forma a desencadear o desaparecimento da alteridade e da estranheza. Tal desaparecimento resulta no desenvolvimento de uma sociedade de desempenho, em que o indivíduo deixa de se apresentar como um ser obediente para se transformar em um ser que visa o desempenho e produção como meta de vida. A violência que essa positividade traz à tona não é caracterizada como privativa, e sim como saturante e exaustiva, sendo assim, inacessível a uma percepção direta. Isso porque, é uma violência sistêmica, que emana do próprio sistema; forjada no excesso de igualdade, positividade; na massificação do positivo. A passagem da sociedade disciplinar para a sociedade do desempenho desencadeou um processo de depressão, associado a pressão frente ao medo do fracasso, que se impõe constantemente nessa sociedade. Isso deve ser associado ao excesso de positividade, sendo esta, expressa através dos inúmeros estímulos ao indivíduo, através de informações e desejos. De certa forma, o demasiado desses estímulos resulta na suspensão da atenção, permitindo uma rápida mudança de foco entre atividades. Arendt ao afirmar que a sociedade moderna degradou o homem a um animal trabalhador, extremamente passivo; não condiz com as observações do homem da sociedade atual. Isso porque, individualizado em uma sociedade ativa que busca o desempenho, através do trabalho, como excito social, não pode ser considerado um ser unicamente passivo. Agindo com hiperatividade, em vista da histeria do trabalho e da produção, o indivíduo deixou a fé de lado, transformando a vida numa transitoriedade, sem duração e subsistência. Ademais, dentro dessa sociedade coercitiva, o indivíduo liberto acaba por se tornar escravo de si mesmo, ou seja, vivendo constantemente num cansaço auto imposto, resultante da sua autoexploração, deixa de viver seu tempo livre, de lazer, para trabalhar. A obsessão com o seu desempenho, faz com a vida deste se torne transitiva entre o cansaço e o trabalho, sem válvula de escape, resultando no aparecimento das violências neuronais, ou seja, da depressão e transtornospsíquicos. O esforço exagerado a fim de maximizar o desempenho, acaba por afastar cada vez mais a negatividade, sendo que esta, sendo Hegel, é precisamente o que mantém viva a existência. Portanto, o que Han chama de infarto da alma, nada mais é do que o excesso de positividade, calçado na sociedade do desempenho, do trabalho, em que o homem se transforma numa máquina, tornando-se individualizada e isolada. Fazendo com que as formas de existência e de convivência desapareçam totalmente, de forma a tornar possível uma comunidade que não precise de pertença nem de parentesco, isolando o homem cada vez mais numa patologia com tratamento dificultoso. Isso porque uma forma de “cura” para essas doenças neuronais seria a capacidade dos indivíduos chegaram ao meio termo, ou seja, a capacidade de se desempenharem em prol do trabalho e de se revitalizar atrás da contemplação. Assim, pertence à humanidade a necessidade de corrigir seus hábitos, de forma a fortalecer o elemento contemplativo, considerando, segundo Nietzche, que “por falta de repouso, nossa civilização caminha para uma nova barbárie”. Essa barbárie se apresentará em uma sociedade em que indivíduos cheguem ao seu extremo para alcançar o seu, cada vez maior, desejo de vencer; e que acabem por aumentar as mazelas da sociedade atual, caracterizando cada vez mais a era das violências neuronais.