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Universidade Católica de Brasília Curso de Letras Estudos Crítico-Teóricos de Literatura I Professora Lívila Pereira Maciel (livila@ucb.br) O Conceito de Construção� l- O estudo da arte literária relaciona-se com duas dificuldades: a) relativas a seu material (palavras) e b) referentes ao princípio de construção desta arte. 1.1- A noção de "material" não extravasa os limites da forma; o material é igualmente formal, e é um erro confundi-lo com elementos exteriores à construção. Assim se resolve a primeira dificuldade, que consiste em conceber o material em contraposição à forma. 1.2- A segunda dificuldade vem do fato de que habitualmente tratamos o princípio de construção ou de deformação como um princípio estático. Abandonamos este tipo de crítica que consistia em pôr em causa e em julgar os personagens do romance como personalidades da vida empiricamente real. Tudo isto repousa no postulado do herói estático. Lady Macbeth disse uma vez: "Eu amamentei várias crianças", e mais tarde disseram-nos que ela nunca teve filhos. Goethe explica isto, partindo do princípio construtivo do drama shakespeariano: "quando ele escrevia, era apenas a cena o que tinha frente a seus olhos; via em seus dramas alguma coisa de móvel e vivo que, da cena, deveria passar rapidamente frente aos olhos e pêlos ouvidos, qualquer coisa que não se poderia pensar em captar nem em criticar detalhadamente, pois que se tratava apenas de agir e produzir uma depressão". Portanto, a unidade estática do personagem (como toda unidade estática na obra literária) é extremamente instável; essa unidade depende inteiramente do princípio de construção e pode oscilar no decorrer da obra, na maneira que lhe é prescrita por cada caso particular, pela dinâmica geral da obra. É suficiente que haja um signo designando a unidade: sua categoria torna legítimos os caos mais marcantes de violação efe-tiva e obriga-nos a considerá-los como equivalência dessa unidade. Mas essa unidade não é evidentemente a unidade estática do herói, assim como podemos imaginar ingenuamente; o signo de entidade estática é substituído pelo símbolo de integração dinâmica, de integridade. Não há herói estático, apenas heróis dinâmicos. A unidade da obra não é uma entidade simétrica e fechada, mas uma integridade dinâmica que tem seu próprio desenvolvimento; seus elementos não ligados por um sinal de igualdade e de adição, mas por um sinal dinâmico de correlação e de integração. A forma da obra literária deve ser sentida como uma forma dinâmica. 2- Construção e Evolução. O dinamismo manifesta-se na noção de princípio de construção. A forma dinâmica não se manifesta nem por sua reunião nem por sua fusão, mas sua interação e, con-seqüentemente, pela promoção de um grupo de fatores em detrimento de um outro. O fator promovido deforma os que lhe são subordinados. Podemos dizer que percebemos sempre a forma através da evolução do vínculo entre o fator subordinante construtivo e os fatores subordinados. Se a sensação de interação dos fatores desaparece, o fato artístico apaga-se; a arte torna-se automatismo. Introduz-se assim uma dimensão histórica na noção de "princípio de construção" e na noção de "material". O sistema métrico e tónico do verso de Lomonossov foi um fator construtivo; mais tarde, no tempo de Kostrov, associa-se a um certo sistema de sintaxe e léxico. Sua função subordinante, deformante, se enfraquece, o verbo torna-se automático e somente a revolução de Derjavine destruirá essa associação e a transformará novamente em interação, em conflito, em forma. O que importa aqui é que se trata de uma nova interação, e não da simples introdução de um fator qualquer. � TYNIANOV, Juri. “A noção de construção”. In: TOLEDO, Dionisio de Oliveira (Org.). Teoria da literatura. Formalistas russos. Porto Alegre: Globo, 1973, 99-103.
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