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CAPÍTULO 1 Sociologia: aSpectoS introdutórioS A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Compreender a origem da nossa sociedade e as características da sociedade moderna que propiciaram o surgimento da Sociologia. 3 Definir Sociologia e distingui-la das demais ciências sociais ou humanas. 10 Temas e Teorias da Sociologia 10 11 Sociologia: aSpectoS introdutórioS 11 Capítulo 1 contextualização Neste momento inicial, você deve estar se perguntando: O que encontrarei pela frente? O que é e qual a utilidade da Sociologia? Estas e outras questões serão respondidas no decorrer deste caderno e, neste sentido, este primeiro capítulo acaba tendo um papel fundamental. Num primeiro momento, com o intuito de se compreender a origem da sociedade nos moldes do que temos hoje, se faz um resgate histórico dos modos de produção que antecederam o capitalismo. Este exercício se revela de grande valia para compreendermos que o nosso modo de convívio atual não é natural, mas sim fruto de um processo histórico e conduzido pela ação do homem através do tempo. Feito isso, será possível verificarmos as mudanças que conduziram e justificaram o nascimento do capitalismo e, como consequência, descobrirmos as razões para o surgimento da Sociologia, ciência que se propõe a estudar a sociedade. A partir daí, buscaremos compreendê-la enquanto ciência, conceituando-a e analisando, sobretudo, seu objeto de estudo. Buscaremos também diferenciá-la de outras ciências humanas, com o intuito de demonstrar aproximações e distanciamentos entre as várias áreas que buscam compreender o ser humano nos seus mais variados aspectos. Imersos nessas questões iniciais, temos caminho aberto para continuar nossa jornada, buscando aprofundar-nos nos temas e teorias da Sociologia. Espero que esta primeira aproximação desperte interesses e curiosidades. E não se esqueça de que esta primeira etapa é de suma importância para que possamos dar continuidade aos nossos trabalhos. Anote suas dúvidas e os aspectos que você considera importantes, para aprofundá-los ou debatê-los com o grupo e/ou com o tutor. Vamos lá. origem da noSSa Sociedade Se pretendemos, neste capítulo, saber como nasceu a Sociologia é imprescindível, antes disso, procurarmos conhecer a origem do capitalismo. Compreendido como forma de organização da sociedade atual, salvo raras exceções, foi o responsável pelas condições sociais que justificaram o nascimento de uma ciência da sociedade. Conhecendo melhor sua origem e características, sem de dúvida teremos melhores condições de analisar e buscar compreender o nosso modo atual de convívio em sociedade. Para dar início a esta nossa caminhada, é essencial esclarecermos uma pergunta importante, que move este estudo: Afinal, o que é o capitalismo? 12 Temas e Teorias da Sociologia 12 Muitas são as pessoas que utilizam o termo, embora poucas tenham propriedade para explicar exatamente o seu significado. A partir dessa nossa reflexão inicial, que tem a intenção de expor os diferentes momentos que antecederam a lógica predominante, hoje você será uma dessas pessoas. Um termo essencial nesta primeira análise é “modo de produção”, compreendido como tal, enquanto organização socioeconômica, associada a uma determinada etapa de desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção. Reúne as características do trabalho preconizado ou, como afirma Guareschi (2000), a maneira como as pessoas puderam ou tiveram de se organizar para sobreviver ao longo do tempo. Muitos poderão se perguntar: Isso é materialismo histórico ou uma análise marxista? Diante desta questão ele responde: “... bem, se por materialismo a pessoa entender que para viver a gente precisa comer, então realmente isso é materialismo” (GUARESCHI, 2000, p. 29). É inegável que, implícito à esta abordagem, está o pressuposto histórico, insinuação de que, para se compreender uma sociedade em sua essência e profundidade, é preciso ter acesso a como ela foi gerada. Isso nos leva a ter presente que as sociedades podem mudar, e, se são assim neste momento, houve um tempo em que não eram e haverá um tempo em que serão diferentes. De forma geral, é comum encontrarmos, antecedendo o modo de produção capitalista, o primitivo, o asiático, o antigo (ou escravista) e o feudal. Nós nos ateremos principalmente ao primitivo, também denominado “comunidade primitiva” ou “comunismo primitivo”, por ser a primeira forma de organização da sociedade; e ao modo de produção feudal, visto que é o que antecede o modo de produção que temos hoje, o capitalista. a) A Comunidade Primitiva Ao nos referirmos, neste momento, ao homem primitivo, imaginem aquele coberto de pele de animais e com um tacape nas mãos. É claramente notável que o convívio e o modo de organização da sociedade, naquele momento histórico, eram muito diferentes do que temos hoje. Vivia-se da caça, da pesca, e da coleta de frutos silvestres e raízes. Em grupos, os seres humanos se deslocavam de uma região para outra, assim que a natureza deixasse de oferecer o suficiente para a sobrevivência de todos. Eram nômades. Vale lembrar que, ainda hoje, em vários lugares do mundo, existem grupos que podem ser considerados nômades. São exemplos: os ciganos, os beduínos dos desertos do Oriente Médio e África, uma parcela da população tibetana, entre outros. Morissawa (2001) e Schmidt (2002) fazem um interessante levantamento das características desse período primitivo. Durante dezenas de milhares de 13 Sociologia: aSpectoS introdutórioS 13 Capítulo 1 anos os homens viviam em comunidades. Não havia propriedade privada, ou seja, as terras e as riquezas não pertenciam apenas a uns poucos indivíduos. A propriedade era coletiva, tudo o que era produzido pela comunidade pertencia aos habitantes da mesma. Ninguém queria ou pensava em ter mais do que o outro. Praticamente não havia o “meu” nem o “seu”, mas sim o “nosso”. Alguns historiadores chamam esse tipo de sociedade de comunidade primitiva, ou mesmo, comunismo primitivo. A palavra “comunidade” lembra que havia cooperação e igualdade entre todos os indivíduos. A palavra “primitiva” não quer dizer “atrasada” ou “pouco aperfeiçoada”. Nesse caso, primitiva quer dizer apenas que era a forma de organização da sociedade dos primeiros seres humanos. Com o passar do tempo as comunidades foram crescendo. Nesse momento, foram obrigados a começar a dividir tarefas: uns plantavam, outros cuidavam dos rebanhos e outros ainda, fabricavam os utensílios e instrumentos de trabalho necessários. Nesse momento tem-se o surgimento da dita divisão do trabalho. No entanto, tudo o que era produzido devia satisfazer as necessidades da própria comunidade, não havia excedentes. Estava presente o que costumamos chamar hoje de economia de subsistência. Fora a divisão do trabalho, fica claro que, até então, não havia nada em comum com o que temos hoje. A divisão do trabalho pode ser considerada um processo extremamente importante, visto que possibilitou o aprimoramento de muitas técnicas e, em consequência, proporcionou um aumento significativo da produção, inclusive mais do que a comunidade precisava. Começaram logo a surgir excedentes, sobras, que levaram ao aparecimento do comércio; no início, era apenas a troca entre comunidades. Em pouco tempo, inevitavelmente, surgiu o dinheiro. Nem sempre as trocas comerciais eram possíveis, nem sempre o que uma comunidade produzia interessava à outra. O dinheiro foi inventado exatamente para facilitar o comércio. Com ele, era possível comprar qualquer mercadoria. É claro que, naquele tempo, não se tinha as notas de papel e as moedas que temos hoje. O dinheiroera algo raro, que todos desejavam ter, como alguns metais preciosos: ouro, prata e outros. As comunidades foram crescendo e mais alimentos eram necessários para garantir a sobrevivência de todos, entre outras coisas. Como o sucesso de uma plantação, por exemplo, depende muito da água, as comunidades foram se concentrando às margens de volumosos rios. Surgiram assim as primeiras grandes civilizações. A realização de grandes obras deu origem a uma divisão mais ampla do trabalho. Havia aqueles que eram responsáveis pelo trabalho Durante dezenas de milhares de anos os homens viviam em comunidades. 14 Temas e Teorias da Sociologia 14 manual (carregando fardos, quebrando pedras, por ex.), enquanto outros elaboravam os projetos e planejavam o trabalho (trabalho intelectual). Surgiu, então, uma primeira significante desigualdade social, verificada a partir da apropriação do conhecimento. Uma minoria decidia e mandava, enquanto uma grande maioria obedecia e colocava as mãos à obra. Também não é preciso dizer que essa minoria tinha enormes privilégios. Tivemos, naquele momento, o surgimento do modo de produção asiático, a forma mais primitiva de sociedade de classe. Você consegue perceber alguma semelhança com os dias de hoje? Com o passar do tempo, uma das maiores mudanças percebidas é o enorme crescimento da população. O tempo da pequena aldeia, em que todos se conheciam, acabou passando. A vida comunitária começou a se dissolver. As pessoas começaram a se dividir em subgrupos, cada família e cada aldeia já não era mais tão conhecida e não se tinha mais a cumplicidade e a cooperação até então presentes. A partir de então, cada grupo acabou tendo um funcionamento bastante próprio e preocupava-se basicamente com as suas questões. Por exemplo, se uma enchente destruísse a plantação de uma família, a família vizinha já não ajudava mais, cedendo comida. Enquanto umas famílias começavam a passar dificuldades, outras prosperavam. As famílias e as aldeias começaram a se diferenciar pela riqueza. As primeiras diferenças eram fruto do acaso, dos incontroláveis fenômenos naturais (enchente, praga de gafanhotos, etc.). As diferenças entre ricos e pobres surgiram, então, por fatores impossíveis de serem controlados. Aos poucos, as famílias que prosperavam não queriam compartilhar suas riquezas com as outras. Famílias erguiam cercas para garantir que outras não viessem compartilhar seus bens. Estava nascendo, naquele momento, a propriedade privada. As terras, as casas e os rebanhos de animais domesticados passaram a pertencer apenas a uma única comunidade ou, então, a uma única família. Foram vários os reflexos associados. A propriedade privada aumentou o egoísmo e o isolamento entre as pessoas, submetidas, então, a um intenso processo de individualização. Estava pronta uma das grandes bases do capitalismo (a existência de propriedade privada). Aquele momento fundamental da história é por muitos considerado essencial para todas as adversidades que presenciamos hoje. Já em Santo Ambrósio constata-se uma leitura crítica em relação a este tema. Para ele, a natureza colocou tudo em comum, para uso de todos: Ela criou o direito comum, a usurpação criou o direito privado. Thomas Morus, autor da célebre obra “A Utopia”, descreve, nesta obra, o funcionamento de uma ilha, um Estado imaginário, onde não existe propriedade privada, nem dinheiro, e onde as pessoas vivem extremamente felizes. Segundo ele, em todo lugar Modo de produção asiático, a forma mais primitiva de sociedade de classe. Famílias erguiam cercas para garantir que outras não viessem compartilhar seus bens. Estava nascendo, naquele momento, a propriedade privada. 15 Sociologia: aSpectoS introdutórioS 15 Capítulo 1 em que vigora a propriedade privada, onde o dinheiro é a medida de todas as coisas, parece ser bem difícil concretizar um regime político baseado na justiça e na prosperidade. Rousseau, um dos precursores da Revolução Francesa, também denunciou as consequências da apropriação privada da terra. Em seu famoso livro “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens”, afirma que o primeiro homem que, depois de cercar um pedaço de terra, atreveu-se a dizer: ‘isto é meu’, e encontrou gente inocente o suficiente para acreditar nele, é o grande responsável por todos os crimes, guerras, assassinatos, miséria e os horrores que a raça humana presencia hoje. O que se vê presente nesses vários discursos é a crítica à propriedade privada. E você, acha que essas críticas têm fundamento? Caso queira ter acesso às obras completas de Thomas Morus e Rousseau, siga as referências dos livros citados. Eles podem ser facilmente encontrados. MORUS, Thomas. A utopia. Porto Alegre: L&PM, 1997. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens. São Paulo: Martins Fontes, 2005. Compreendida essa nova característica da sociedade, temos o surgimento do primeiro elemento fundamental do capitalismo e podemos avançar em direção ao surgimento da lógica que temos hoje e, mais especificamente, para o contexto propiciador do surgimento da Sociologia. Com o surgimento da propriedade privada e mais do que isso, com o aumento das famílias nobres, eram necessárias mais terras e mais gente para cultivar as mesmas. Esses problemas, por algum tempo, foram resolvidos pelas chamadas “guerras de conquista”, onde se guerreava com povos vizinhos e as terras conquistadas eram repartidas entre os nobres e o povo derrotado escravizado. Emerge, nesse período, o chamado modo de produção antigo (ou escravista). Os meios de produção (terras e instrumentos de produção) e os escravos eram propriedade da nobreza. Após a prevalência da sociedade escravista, temos o surgimento da sociedade feudal. Estamos cada vez mais próximos do momento atual. Nesse sentido, por essa lógica processual, podemos afirmar que a sociedade feudal antecedeu a sociedade capitalista, e aí reside a importância de melhor compreendermos as características, desta forma bastante específica, de a sociedade se organizar, em determinado momento histórico. Emerge, nesse período, o chamado modo de produção antigo (ou escravista). Os meios de produção (terras e instrumentos de produção) e os escravos eram propriedade da nobreza. 16 Temas e Teorias da Sociologia 16 b) O Feudalismo Antes de caracterizar o Feudalismo, é importante saber em que época ele se desenvolveu e, inclusive, onde. Segundo Meksenas (2001), podemos dividir o Feudalismo em dois períodos: do século V ao século X d.C. (entre os anos 401 a 1000 aproximadamente), e do século XI ao século XVI d.C. (entre 1001 e 1600). O primeiro período refere-se ao apogeu da sociedade feudal, e o segundo à sua decadência. A Europa é considerada o berço da sociedade feudal, onde, geograficamente, tudo começou. A Europa passou a viver, então, uma nova fase histórica, a Idade Média. A Europa da Idade Média tinha um modo de organizar o trabalho e a produção econômica bem diferente do que existia na antiguidade. A maneira de como a economia funcionava, nesse período, recebeu o nome de Feudalismo. A base da economia feudal era agrária. Quase todo mundo morava no campo, vivendo da agricultura e da criação de animais e a produção dos bens de consumo se dava através do trabalho artesanal. A riqueza mais importante naquele momento era a terra. Surgiram, então, grandes latifúndios, grandes propriedades rurais, chamadas feudos. Cada um desses feudos, que variavam em extensão, possuía um único proprietário: o senhor feudal que, para utilizá-lo de modo produtivo “alugava” suas terras aos camponeses, chamados servos. Além dos senhores feudais (proprietários das terras) e dosservos (arrendatários das terras), existia ainda uma outra classe social: o clero, composta por membros da igreja, instituição mais influente da época. Clero e senhores feudais constituiam a chamada nobreza. Estudando esse período, encontra- se a presença de camadas sociais (castas) bem definidas. O servo não recebia nenhum salário. Era autorizado a utilizar um pedacinho de terra do feudo; no entanto, ficava obrigado a pagar tributos para o nobre. Os tributos se davam de várias formas. O servo podia pagar um imposto em produtos, podendo ceder metade de tudo o que plantasse, por exemplo. Podia pagar, cedendo sua mão de obra (trabalhava de graça durante alguns dias nas plantações do senhor feudal). Mais tarde, por volta dos séculos XIV e XV, as obrigações feudais passaram a ser pagas em dinheiro (SCHMIDT, 2002). Fica evidente, diante do que foi apresentado até agora, de que não existe uma forma social homogênea. A servidão prevalece. Schmidt (2002) afirma que o servo não era um escravo, não pertencia ao nobre, não podia ser comprado nem vendido, mas também não era livre. Não podia escolher o tipo de trabalho que faria, muitas vezes, e só podia sair dos limites do feudo com autorização do nobre. Sem escolha: desde o nascimento, estava destinado a trabalhar para pagar tributos feudais. Os servos levavam uma vida muito difícil. Trabalhavam todos os dias, muitas horas ao dia, e sem descanso. Quando crianças, jamais A Europa da Idade Média tinha um modo de organizar o trabalho e a produção econômica bem diferente do que existia na antiguidade. A maneira de como a economia funcionava, nesse período, recebeu o nome de Feudalismo. 17 Sociologia: aSpectoS introdutórioS 17 Capítulo 1 iam à escola e muitos morriam cedo, de doença ou de fome. Os nobres, por sua vez, tinham uma vida confortável, não precisavam trabalhar para viver. Uma questão surge: Com tantas dificuldades e injustiças, por que os servos não se revoltavam? Uma possível explicação é que os senhores feudais tinham seus próprios exércitos particulares, isto, sem contar a questão religiosa. A maioria dos servos acreditavam que estariam cometendo um grave pecado se tentassem destruir a ordem feudal da sociedade. Para eles, Deus havia determinado que existiria uma divisão entre os homens e as pessoas deviam se conformar com isso. Meksenas (2001) expõe ainda outras características gerais presentes naquele momento. A produção agrícola era deficiente. Baseava-se em técnicas bastante rudimentares, o que explica, inclusive, poucos excedentes; isto é, havia pouco alimento para ser comercializado. O comércio era quase inexistente. Todos os bens necessários para a sobrevivência eram produzidos no interior de cada feudo. A maioria das explicações se dava pela religião, influindo significativamente no progresso da ciência, o qual se dava de forma lenta naquela época. Na medida em que a fé cristã explicava tudo o que se passava na sociedade, não havia necessidade de um método científico de observação, baseado na comparação, análise e classificação dos fenômenos. A população e a produção de alimentos, com o passar do tempo, acabou crescendo a tal ponto, que os feudos começaram a produzir mais do que necessitavam. O que fazer com essa produção excedente? Surgiu, então, algo novo, o comércio. São vários os reflexos associados a este fato, e é o que pretendemos compreender, a partir de agora. Antes, dê uma olhada na página seguinte. Estamos prestes a chegar ao capitalismo propriamente dito. Nela você encontrará uma síntese do que vimos até agora e um pouco do que veremos a seguir. Temos um esquema com uma linha do tempo e os respectivos modos de produção (comunismo primitivo, asiático, antigo, feudal e capitalista). Busque perceber as características bastante peculiares de cada período. 18 Temas e Teorias da Sociologia 18 PR É- H IS TÓ R IA (9 00 0 a. C .) ID A D E M ÉD IA (S éc . V d .C .) ID A D E M O D ER N A E C O N TE M PO R Â N EA (S éc . X V. ..) M O D O D E PR O D U Ç Ã O C om un is m o pr im iti vo M O D O D E PR O D U Ç Ã O A si át ic o (o u or ie nt al ) M O D O D E PR O D U Ç Ã O A nt ig o (o u es cr av is ta ) M O D O D E PR O D U Ç Ã O Fe ud al M O D O D E PR O D U Ç Ã O C ap ita lis ta Fo rç as p ro du tiv as : in st ru m e n to s d e s íle x ch e g a n d o a d e se n vo lv e r a m e ta lu rg ia p o r vo lta d e 5 0 0 0 a .C . Fo rç as p ro du tiv as : e xt e n so s si st e m a s d e c a n a is d e ir ri g a çã o . Fo rç as p ro du tiv as : a f o rç a m u sc u la r d o e sc ra vo e ra a p ri n ci p a l f o rç a p ro d u tiv a . Fo rç as p ro du tiv as : m o in h o d ’á g u a .. . Fo rç as p ro du tiv as : in te n so d in a m is m o t e cn o ló g ic o : 1 ª R e v. I n d u st ri a l: m á q u in a à v a p o r; 2 ª R e v. I n d u st ri a l: e le tr ic id a d e , q u ím ic a . 3 ª R e v. I n d u st ri a l: ro b ó tic a , in fo rm á tic a . R el aç õe s so ci ai s: c o m u n a is (s o ci e d a d e s se m c la ss e s) ; in e xi st e a p ro p ri e d a d e p ri va d a d a t e rr a . R el aç õe s so ci ai s: p ro p ri e d a d e c o m u n a l d a t e rr a c o m b in a d a c o m a e xp lo ra çã o d a s co m u n id a d e s p e lo E st a d o t e o cr á tic o (f a ra ó s) o b je tiv a n d o a c o n st ru çã o d e g ra n d e s o b ra s p ú b lic a s. F o rm a m a is p ri m iti va d e s o ci e d a d e d e c la ss e . R el aç õe s so ci ai s: e sc ra vi d ã o . O s p ri si o n e ir o s d e g u e rr a s e ra m e sc ra vo s d o s ci d a d ã o s (p ro p ri e tá ri o s d e t e rr a s, d e e sc ra vo s e n a sc id o s n a c id a d e ). O b s: m u lh e re s e e st ra n g e ir o s n ã o e ra m c id a d ã o s. R el aç õe s so ci ai s: s e rv id ã o . C a m p o n e se s, c o m s e u s p ró p ri o s in st ru m e n to s d e t ra b a lh o ( d ife re n ça d o s e sc ra vo s) t ra b a lh a va m p a ra n o b re s e c le ro . R el aç õe s so ci ai s: a ss a la ri a m e nto . B u rg u e si a d e té m o s m e io s d e p ro d u çã o (f á b ri ca s, m in a s) c o m p ra n d o a f o rç a d e tr a b a lh o d o s p ro le tá ri o s p a ra a ci o n á -l o s. C ar ac te rís tic as d a ev ol uç ão : - T ra n si çã o d o n om ad is m o pa ra o ho m em s ed en tá rio , c om gr up os q ue p as sa m a d om es tic ar an im ai s e a cu lti va r pl an ta s, la nç an do o s fu nd am en to s d a r e vo lu çã o a g rí co la . C ar ac te rís tic as d a gê ne se : - U n id a d e a u to -s u fic ie n te d a m a n u fa tu ra e a g ri cu ltu ra n a a ld e ia c o m u n a l q u e a ss im c o n té m t o d a s a s co n d iç õ e s d e s u a re p ro d u çã o e m e sm o p a ra a p ro d u çã o d e e xc e d e n te d e n tr o d e la p ró p ri a . - A ss im , o n d e e st a s p e q u e n a s u n id a d e s co m u n itá ri a s e xi st e m c o m o p a rt e d e u n id a d e s m a io re s, p o d e m d e d ic a r u m a p a rc e la d o e xc e d e n te p a ra p a g a r o s cu st o s d a c o m u n id a d e m a io r (g u e rr a , se rv iç o s re lig io so s) e r e a liz a r o p e ra çõ e s e co n ô m ic a s n e ce ss á ri a s (i rr ig a çã o ) q u e a p a re ce rã o c o m o o b ra s d o E st a d o t e o cr á tic o s o b re p o st o à s p e q u e n a s co m u n id a d e s. C ar ac te rís tic as d a gê ne se : ca so d e R o m a a n tig a - C om eç ou c om o um a co m un id ad e de c am po ne se s. - O c id ad ão r om an o er a es se nc ia lm en te u m pr op rie tá rio d e te rr as , m an te nd o- se a c om un a co m a r ep ro du çã o do s se us m em br os c om o ca m po ne se s au to -s uf ic ie nt es , c uj o ex ce de nt e pe rt en ci a à m es m a co m un id ad e pa ra fi ns c om un ai s. - A g u e rr a e ra a o cu p a çã o p ri n ci p a l p o rq u e su a ú n ic a a m e a ça é a e xi st ê n ci a d e o u tr a s co m u n id a d e s q u e c o b iç a m s u a s te rr a s, b e m c o m o , o ú n ic o m e io d e g a ra n tir t e rr a p a ra t o d o s fr e n te o a u m e n to d a p o p u la çã o é o cu p á -l a à f o rç a . - E st a c a ra ct e rí st ic a g u e rr e ir a e e xp a n si o n is ta le va à e sc ra vi d ã o , fa ze n d o d e sa p a re ce r a s ca ra ct e rí st ic a s ca m p o n e sa s. C ar ac te rís tic as d a gê ne se : - P re d o m ín io d a p e q u e n a p ro d u çã o a g rí co la n o c a m p o e n a s ci d a d e s co m o s m e io s d e p ro d u çã o c o n tr o la d o s p e lo s p ró p ri o s p ro p ri e tá ri o s. - O s ca m p o n e se s liv re s fo ra m e m p o b re ci d o s p e la s g u e rr a s co n st a n te s e t iv e ra m q u e c o lo ca r- se so b a p ro te çã o d o s n o b re s e d o c le ro . - N o f u n d o , tr a ta -s e d a in ca p a ci d a d e d a o rg a n iz a çã o s o ci a l b a se a d o n o p a re n te sc o p a ra c o n tr o la r o u a d m in is tr a r a s g ra n d e s e st ru tu ra s p o lít ic a s cr ia d a s p o r su a s co n q u is ta s (t a is c o n q u is ta s im p lic a m , p o rt a n to , a o ri g e m d a s cl a ss e s e d o E st a d o ). C ar ac te rís tic as d a gê ne se : tr ê s fe n ô m e n o s co n ju n to s e xp lic a m a g ê n e se d o c a p ita lis m o : 1 . A cu m u la çã o d a r iq u e za m o n e tá ri a d e ri va d a d o c o m é rc io e d a u su ra . 2 . E xp u ls ã o d o s ca m p o n e se s d e s u a s te rr a s (r o u b o s d e t e rr a s) q u e a ss im te m d e t ra b a lh a r n a s m a n u fa tu ra s u rb a n a s q u e e st ã o s u rg in d o . 3 . M a n u fa tu ra s q u e s u p re m o s m e rc a d o s e st ra n g e ir o s a p a re ce m n o s ce n tr o s d o c o m é rc io à lo n g a d is tâ n ci a (f ia çõ e s e t e ce la g e n s) e n o s ra m o s u rb a n o s d ir e ta m e n te li g a d o s à n a ve g a çã o ( co n st ru çã o d e n a vi o s) . Lo ca liz aç ão g eo gr áfi ca : - O rie nt e pr óx im o (a tu al A rá bi a S au di ta , I rã ): c ul tiv a- se a c ev ad a, o m ilh o, a le nt ilh a, a e rv ilh a. - C h in a : cu lti va -s e o a rr o z, a s o ja . - A m é ri ca C e n tr a l e P e ru : cu lti va -s e a a b ó b o ra , a b a ta ta . Lo ca liz aç ão g eo gr áfi ca : - E g ito a n tig o . - S o ci e d a d e s p ré -c o lom b ia n a s d o M é xi co e P e ru ( so b re vi ve m a té a I d a d e M o d e rn a ). Lo ca liz aç ão g eo gr áfi ca : - E u ro p a . Lo ca liz aç ão g eo gr áfi ca : - E u ro p a , Ja p ã o . Lo ca liz aç ão g eo gr áfi ca : - D in â m ic a c o m e rc ia l ( P o rt u g a l, E sp a n h a , It á lia , H o la n d a ). - V e r. I n d u st ri a l: In g la te rr a . O rg an iz aç ão e sp ac ia l: V ila re jo s o u s ít io s p re d o m in a n te m e n te a g rí co la s (n ã o e ra m c id a d e s) : e xe m p lo d o s p ri m e ir o s vi la re jo s: p la n íc ie c e n tr a l d a T u rq u ia . O rg an iz aç ão e sp ac ia l: A n a tu re za f e ch a d a d a s u n id a d e s co m u n a is im p lic a e m c id a d e s q u e m a l p e rt e n ce m à e co n o m ia , su rg in d o a p e n a s o n d e a lo ca liz a çã o é f a vo rá ve l a o c o m é rc io e xt e ri o r. O rg an iz aç ão e sp ac ia l: F o rm a çã o d e c id a d e s b a se a d a s n a a g ri cu ltu ra e n a p ro p ri e d a d e ( ru ra liz a çã o d a c id a d e ). O rg an iz aç ão e sp ac ia l: Á re a r u ra l n o c e n tr o c o m p o st e ri o r o p o si çã o e n tr e c a m p o e c id a d e . O rg an iz aç ão e sp ac ia l: U rb a n iz a çã o d a á re a r u ra l. ID A D E A N TI G A (3 00 0 a. C .) M A R X , K ; & H O B S B A W N , E . Fo rm aç õe s ec on ôm ic as p ré -c ap ita lis ta s. 4 .e d . S ã o P a u lo : P a z e T e rr a , 1 9 8 5 . 19 Sociologia: aSpectoS introdutórioS 19 Capítulo 1 c) A Decadência da Sociedade Feudal e o Mercantilismo Para Meksenas (2001), é a partir do século XI que começam a surgir alterações sociais, políticas e econômicas tão significativas, que justificam a defesa do término do feudalismo. Tais mudanças prolongam-se até o século XVI, quando nasce a propriamente dita “sociedade capitalista”. A partir da crescente modernização das técnicas agrícolas e a existência de um excedente de alimentos, estes passam a ser comercializados. Essa nova “vida comercial” faz com que as cidades passem a crescer e a se desenvolver e muitos servos passam a deixar o campo, em busca de novas oportunidades nas cidades. Temos então o auge do Mercantilismo (séculos XV ao XVIII), isto é, um novo modo de viver, que nasce a partir do Feudalismo, mas é completamente diferente deste: o início da vida urbana, início das grandes invenções (imprensa, bússola, novos medicamentos, etc.). O comércio torna- se o centro de tudo (MEKSENAS, 2001). Será dentro desse novo modo de vida que surgirá uma nova classe social, composta por comerciantes muito ricos, os chamados burgueses. Com a pretensão de acumular riquezas e desenvolver ainda mais suas atividades comerciais, começaram a surgir as manufaturas. Por manufatura entende-se um primeiro modelo de indústria, tal qual a conhecemos hoje. Instalada em um imenso salão, havia as máquinas manuais, dispostas em filas, conduzidas pelos antigos servos que, aos poucos, foram se transformando em operários. Fato importante de se destacar é o confronto que se estabeleceu entre a nascente classe burguesa e a antiga nobreza feudal. Os senhores feudais opunham-se aos burgueses, visto que esta nova lógica fazia com que os servos deixassem o campo, buscando a vida nas cidades. Diante disto, os senhores feudais ficavam sem mão de obra em suas terras. Lentamente foi se percebendo que a burguesia saiu vitoriosa e os poucos resquícios da nobreza feudal acabaram aderindo a essa nova formação social. Temos agora todos os elementos para o surgimento do capitalismo e da Sociologia. Temos então o auge do Mercantilismo (séculos XV ao XVIII), isto é, um novo modo de viver, que nasce a partir do Feudalismo, mas é completamente diferente deste: o início da vida urbana, início das grandes invenções (imprensa, bússola, novos medicamentos, etc.). 20 Temas e Teorias da Sociologia 20 Atividade de Estudo Diante do que foi apresentado até agora, descreva pelo menos três características presentes em cada um desses momentos, compreendidos como fundamentais para o que temos hoje. Comunidade primitiva Feudalismo Mercantilismo __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ o naScimento do capitaliSmo e o Surgimento da Sociologia Expostas as formas de organização da sociedade que antecederam o que temos hoje, é possível compreender com maior facilidade o momento em que passamos a ingressar no modo de produção capitalista. É o que buscaremos a seguir. a) O Capitalismo e os Novos Problemas Sociais Como afirma Meksenas (2001), entre os séculos XIII e XIX tivemos a Revolução Industrial, momento em que a indústria têxtil inovou com o tear a vapor. Para Sell (2006), o mundo presencia uma das mais intensas, rápidas e profundas transformações sociais que a história já vivenciou. A mecanização das máquinas alterou significativamente as formas de interação humana, aumentando a produtividade e consolidando uma nova classe social: os trabalhadores. Estes não terão outro recurso para sobreviver, senão a venda de sua capacidade de trabalho à burguesia, em troca de um salário. A mecanização das máquinas alterou significativamente as formas de interação humana, aumentando a produtividade e consolidando uma nova classe social: os trabalhadores. 21 Sociologia: aSpectoS introdutórioS 21 Capítulo 1 São inúmeras as mudanças ocorridas a partir de então, segundo (MEKSENAS, 2001, p. 47): Esta aparente sociedade democrática torna-se, ao contrário do Feudalismo, uma organização social extremamente dinâmica e movimentada; a própria noção de tempo é alterada: “tempo é dinheiro”. A visão do mundo torna-se individualizada e competitiva: “cada um por si e Deus por todos”. Nasce a idéia moderna de progresso;aparecem novos inventos: a locomotiva, a energia elétrica, o telégrafo, o microscópio, etc. A Revolução Industrial tem papel fundamental na Sociologia, visto que ela é considerada o marco para o que conhecemos hoje por capitalismo. Para Catani (2003), das teorias que procuram explicar o que é o capitalismo destacam-se duas, representadas por Max Weber (1864-1920) e por Karl Marx (1818-1883). A primeira é chamada culturalista e a segunda, histórica, em razão dos diferentes pontos de vista dos quais elas partem para explicar os mesmos conceitos. A primeira corrente busca explicar o capitalismo através de fatores externos à economia. Para M. Weber, o capitalismo se constitui, sobretudo, num modo bastante particular de pensar as relações sociais, uma “mentalidade”, um “espírito” capitalista. Segundo ele, existe capitalismo onde quer que a provisão industrial das necessidades de uma comunidade seja executada pelo método da empresa, pelo estabelecimento capitalista racional e pela contabilidade do capital (CATANI, 2003). A segunda corrente parte de uma perspectiva histórica. Marx define o capitalismo como sendo um determinado modo de produção de mercadorias, gerado historicamente, desde o início da Idade Moderna, e que encontra sua plenitude no intenso processo de desenvolvimento industrial inglês, chamado Revolução Industrial. Vale ressaltar que, por essa concepção, o capitalismo significa não apenas um sistema de produção de mercadorias, como também um determinado sistema, em que a força de trabalho passa a ser também uma mercadoria. Para que exista capitalismo, faz-se necessária a concentração da propriedade privada dos meios de produção em mãos de uma classe social, e a presença de uma outra classe para a qual a força de trabalho acaba sendo a única fonte de subsistência. Marx ressalta que esses requisitos se estabelecem através de um processo histórico e a partir das antigas relações econômicas presentes no Feudalismo. Foram vários os entraves decorrentes do capitalismo em seu início. Para Martins (1994), a desaparição dos pequenos proprietários rurais, dos artesãos, e a imposição de prolongadas horas de trabalho, salários extremamente baixos, entre inúmeras outras alterações, trouxeram efeitos adversos à maioria Marx define o capitalismo como sendo um determinado modo de produção de mercadorias, gerado historicamente, desde o início da Idade Moderna, e que encontra sua plenitude no intenso processo de desenvolvimento industrial inglês, chamado Revolução Industrial. 22 Temas e Teorias da Sociologia 22 da população. Enquanto os empresários construíam verdadeiros impérios, os trabalhadores passavam por muitas dificuldades. As consequências da rápida industrialização e urbanização, levadas a cabo pelo sistema capitalista, foram tão visíveis, quanto trágicas: aumento assustador da prostituição, do suicídio, do alcoolismo, da criminalidade, da violência, etc. Os salários dos trabalhadores eram tão baixos que eles eram obrigados a colocar os filhos ainda menores para trabalhar também. As jornadas de trabalho variavam entre 14, 16 e até 18 horas diárias. Suas casas eram cortiços. Milhões de pessoas se encontravam doentes pelo excesso de trabalho e a maioria dos trabalhadores não chegava aos 50 anos de idade. Era fato comum as pessoas morrerem de fome. Eram conhecidos como cortiços as habitações coletivas da maioria dos trabalhadores da época, muito semelhantes às favelas encontradas hoje em dia. Segue abaixo um trecho de um jornal operário chamado “Fanfulla” de 11 de outubro de 1904 trazido por Pinheiro e Hall (1981). Este texto retrata as condições de moradia do trabalhador brasileiro no início deste século. UM CORTIÇO (1904) Casario de um andar, composto de duas filas de aposentos baixos, sujos, úmidos, minúsculos, pouco arejados, limitando uma série de pequenos pátios. Eis como geralmente se apresenta um cortiço. Em cada cubículo, verdadeira colméia humana, com freqüência comprime-se toda uma família de trabalhadores, às vezes composta de oito ou nove pessoas. No patiozinho comum a todos os moradores do cortiço é que se tem verdadeiro conhecimento do horror da situação miserável dessa gente. Quando não é um pântano, é um montão de imundícies, todos os despejos do dia aí são recolhidos e, em meio a toda essa sujeira, da qual emana odor nauseabundo, as crianças raquíticas pelo ambiente malsão passam as horas brincando, enquanto as mulheres se espiolham ou lavam trapos, e as comadres avivam as brigas costumeiras. Como é triste pensar que muitas famílias de trabalhadores vivem em tais tugúrios onde, entre a falta de ar puro, a tísica e a tuberculose, alcançam um fácil triunfo que facilmente se explica à vista de tais condições de vida. Diante deste quadro desolador, o fato é que os índices de mortalidade infantil alcançam, em São Paulo, uma porcentagem muito elevada. Não é para satisfazer um supérfluo sentido de estética que escrevemos, mas sim por um profundo sentimento de humanidade, pelo respeito que desejamos em relação à vida e pelo melhoramento do bem-estar da classe trabalhadora. 23 Sociologia: aSpectoS introdutórioS 23 Capítulo 1 Com base no texto anterior, pode-se concluir que não só a Europa vivia os problemas trazidos pelo capitalismo, mas também o Brasil. Ao iniciar o século XX, já encontramos o nosso país organizado nos padrões capitalistas. Nos dias de hoje as condições de vida dos trabalhadores melhoraram? Em suma, em decorrência desse novo modo de produção, o capitalista, surgem inúmeros problemas sociais. Qual a importância desses acontecimentos para a Sociologia? A profundidade das transformações em curso e os inúmeros problemas sociais colocam a sociedade em um plano de análise, visto que ela passa a constituir um “problema”, um “objeto” a ser investigado. Atividade de Estudo A partir das informações trazidas no tópico “O capitalismo e os novos problemas sociais”, responda: 1) Quando nasceu o capitalismo? ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ 2) Afinal, como pode ser definido o capitalismo? ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ 3) Quais os problemas sociais presenciados no início do capitalismo? ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ 24 Temas e Teorias da Sociologia b) O Nascimento da Sociologia Segundo Martins (1994), o surgimento da Sociologia ocorre em um contexto histórico bastante específico, momento este onde se tem a desagregação da sociedade feudal e a consolidação da lógica capitalista. A sua criação representa o resultado da elaboração de umconjunto de pensadores que se empenharam em compreender as novas situações que estavam em curso. As transformações econômicas, políticas e culturais que se aceleraram, a partir dessa época, colocavam situações novas a serem analisadas e problemas inéditos a serem superados. Por conseguinte, o surgimento da Sociologia prendeu-se aos abalos provocados pela revolução industrial, pela efetivação do modo de produção capitalista e, mais do que isto, pelas novas condições de existência por ele criadas. Nisbet, citado por Sell (2006), em seu estudo das origens do pensamento sociológico, afirma que a Sociologia é uma “ciência da crise”. Surgiu com o intuito de contribuir para o estabelecimento de uma nova harmonia social. Com o surgimento do método científico, os intelectuais do século XIX tinham à disposição uma nova concepção para interpretar a sociedade e enfrentar os dilemas que o mundo moderno impunha. A Sociologia, enquanto ciência da sociedade, passou a ter pela frente três questões centrais para responder: 1) Quais as causas das transformações sociais em curso?; 2) Quais as características da sociedade moderna?; 3) O que fazer diante dos problemas sociais? (SELL, 2006). Segundo afirma Sell (2006), como qualquer ciência, ela não é fruto do mero acaso. Seu surgimento foi uma tentativa de responder às necessidades dos homens naquele momento histórico controverso, quando mais preocupante que as grandes mudanças econômicas eram seus efeitos deletérios, como a pobreza e uma série de outros fenômenos sociais novos e preocupantes. É importante salientar que, embora houvesse consenso de que se tinha inúmeros problemas com o advento do Capitalismo , as soluções apresentadas para os mesmos eram bastante diferentes. Por isso, pode-se dizer que, naquele momento, havia várias leituras do que estava acontecendo e, como consequência, as soluções apresentadas pelos vários pensadores eram distintas. Isto justifica, inclusive, o próximo capítulo. Existem várias teorias sociológicas, leituras diferenciadas a respeito do mesmo objeto de estudo; no caso da Sociologia, da sociedade em que vivemos. Como diz Sell (2006), além da Revolução Industrial, trazendo mudanças de ordem econômica, e considerada o marco para o surgimento do modo de produção capitalista, outros acontecimentos podem ser destacados como fundamentais e marcantes para o surgimento da Sociologia: a revolução francesa e a revolução científica. A revolução francesa é considerada como um O surgimento da Sociologia prendeu- se aos abalos provocados pela revolução industrial, pela efetivação do modo de produção capitalista e, mais do que isto, pelas novas condições de existência por ele criadas. 25 Sociologia: aSpectoS introdutórioS 25 Capítulo 1 acontecimento de ordem política de significativa importância, visto ter trazido novos ideais políticos e inaugurado novas formas de organização do poder. Já a revolução científica diz respeito a uma nova forma de explicar o mundo, baseada no iluminismo. Todas estas transformações mexeram profundamente com o que se tinha até aquele momento, desencadeando novas relações econômicas, novas formas de luta política e, ainda, uma nova visão de mundo. O iluminismo pode ser considerado um movimento intelectual, que tinha como objetivo entender e organizar o mundo a partir da razão. A Sociologia não é a única ciência social envolvida com a compreensão da vida social moderna. Aplicando o método científico ao estudo dos diferentes aspectos da vida social, foram fundadas várias disciplinas que tratam do homem em sociedade. Entre as principais estão a História (estuda o homem e suas ações no tempo e no espaço), a Economia (estuda as atividades humanas ligadas à produção, distribuição e consumo de bens e serviços), a Antropologia (pesquisa as diferenças culturais entre os vários agrupamentos humanos) e a Ciência política (estudo da política, dos sistemas políticos, das organizações e dos processos políticos). Você deve estar se perguntando: Em que medida a Sociologia se diferencia das ciências sociais acima citadas? Para Habermas, citado por Sell (2006), o marco distintivo da Sociologia reside no fato de ela não ter se fixado em apenas uma das dimensões da vida social moderna, como fazem as outras ciências, tal qual a Economia (que trata da produção de bens), a Ciência política (que trata do poder) ou a Antropologia (que trata da cultura). Ao contrário de suas vizinhas, a Sociologia tem como objetivo compreender a vida social de forma global, buscando explicar a sociedade como um todo. Neste sentido, podemos dizer que a Sociologia é uma “teoria da sociedade”. A Sociologia pode ser considerada uma ciência social, cujo objeto de estudo é a sociedade moderna. Em outros termos, a Sociologia é uma teoria da modernidade. De forma geral, então, chegamos à conclusão de que a Sociologia estuda a sociedade com o objetivo de compreender como ela funciona e como as pessoas se relacionam, dentro dos incontáveis “recortes” possíveis e estudados por esta ciência, que tem um objeto de estudo amplo e complexo. Para responder ao conjunto de questões que se colocam na modernidade, em 1830, Augusto Comte apresentou, em seu livro “Curso de Filosofia Positiva”, a ideia de fundar uma “Física Social”, um saber encarregado de aplicar o método científico para o estudo da sociedade. Este pensador francês lutava para que, em todos os ramos de estudo, se obedecesse à preocupação da máxima objetividade. Em 1839, Augusto Comte alterou o nome desta ciência para “Sociologia” (do latim socius e do grego logos), significando estudo A Sociologia pode ser considerada uma ciência social, cujo objeto de estudo é a sociedade moderna. Em outros termos, a Sociologia é uma teoria da modernidade. 26 Temas e Teorias da Sociologia 26 do social, nome que perdura até hoje. Augusto Comte ganhou importância e o estudo de seu pensamento acabou sendo obrigatório, por ser considerado o fundador da Sociologia (SELL, 2006). Segundo Martins (1994), o termo “física social” acaba sendo bastante sugestivo diante da intenção de Comte. Ele expressa claramente o desejo de construir uma ciência que estuda o social nos mesmos moldes das ciências físico-naturais. Esta Sociologia, de inspiração positivista, propõe o estudo dos fenômenos sociais a partir de um saber “neutro” e puramente “objetivo”, semelhante ao adotado na Química ou na Física, por exemplo. Augusto Comte é considerado o fundador do positivismo. Termo complexo e com reflexos em várias áreas, designa uma corrente de pensamento que prevê que a ciência é a única explicação legítima da realidade. Na Sociologia, defende a noção de que a mesma deve adotar os mesmos métodos das ciências da natureza. Mesmo que se tenha consenso de que as ideias de Augusto Comte estejam superadas, elas lançaram as bases para a Sociologia, e, mais do que isto, foram de fundamental importância no sentido de defini-la e propor um método para o estudo dos fenômenos sociais, o que até então não havia sido feito. O conhecimento científico se coloca no lugar da Filosofia, conhecimento predominante durante toda a idade antiga e a idade média. O surgimento da ciência moderna tem reflexos em todas as áreas, inclusive na Sociologia. A aplicação da observação e da experimentação, ou seja, do método científico para a explicação dos fenômenos, trouxe grandes progressos. De forma geral, podemos dizer que a ciência procura seguir quatro passos fundamentais: observação dos fenômenos; construção de hipóteses; experimentação; generalização (a partir do estudo de um caso particular o pesquisador supõe que aquela explicação se aplique também a outros casos idênticos). Mesmo existindo grandes diferenças entre os métodos de pesquisa nasciências exatas e nas ciências sociais (ou humanas), tem-se em comum o método experimental, a validação empírica dos resultados da investigação. Entender o que é ciência e o que ela já significou é fundamental ao buscar compreender o surgimento da ciência sociológica. Não foram apenas os “fatos novos” que deram origem à Sociologia, mas também uma nova maneira de analisar estes fatos: a aplicação dos princípios científicos ao estudo da vida social (SELL, 2006). Em relação ao objeto de estudo da Sociologia e o que interessa aos sociólogos, é extremamente válido o texto de Rose, adaptado por Oliveira (1998, p. 15-16): Augusto Comte ganhou importância e o estudo de seu pensamento acabou sendo obrigatório, por ser considerado o fundador da Sociologia. Não foram apenas os “fatos novos” que deram origem à Sociologia, mas também uma nova maneira de analisar estes fatos: a aplicação dos princípios científicos ao estudo da vida social. 27 Sociologia: aSpectoS introdutórioS 27 Capítulo 1 O QUE INTERESSA AOS SOCIÓLOGOS Os indivíduos, em todo o mundo, vivem em grupo. E as conseqüências da vida em grupo são o objeto de estudo da Sociologia. O interesse pelos grupos é o que diferencia os sociólogos dos outros cientistas sociais. Entre outras coisas, os sociólogos querem saber: Por que grupos como a família, a tribo ou a nação sobrevivem através dos tempos até mesmo durante as guerras ou revoluções? Por que um soldado deve lutar e enfrentar a morte quando poderia esconder-se ou fugir? Por que o homem se casa e assume responsabilidades de família quando poderia, com a mesma facilidade, satisfazer seus impulsos sexuais fora do casamento? Que efeitos produz a vida em grupo sobre o comportamento dos membros do grupo? Será que as pessoas que vivem em tribos pré-letradas, isoladas, se comportam diferentemente das que vivem em Nova Iorque ou num subúrbio parisiense? Os sociólogos se interessam igualmente pelas causas das mudanças ou da desintegração nos grupos. Por exemplo, querem saber por que alguns casamentos terminam em divórcio. Querem saber por que há um maior número de divórcios em alguns países do que em outros, porque o número de divórcios aumenta ou diminui com o tempo. Querem saber, ainda, se o comportamento das pessoas se modifica depois de uma mudança do campo para a cidade ou da cidade para os subúrbios. Os sociólogos também estudam o relacionamento entre os membros de um grupo e entre grupos. Qual é o relacionamento entre marido e mulher e entre pai e filhos atualmente? Esse relacionamento assemelha-se ao da família tradicional, é o mesmo em qualquer cultura? Quais as causas do conflito entre brancos e negros? O trabalho, a indústria, e o governo dos Estados Unidos estarão relacionados entre si da mesma forma que os grupos similares na Austrália ou na Rússia? Por que alguns grupos da sociedade possuem mais bens materiais e mais prestígio que outros? Sobre este assunto leia: ROSE, Caroline B. Iniciação ao estudo da Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1967. O que se pode perceber com facilidade, a partir do texto anterior, é a enormidade de temas e objetos com o qual a Sociologia pode e acaba se ocupando atualmente. A Sociologia volta-se o tempo todo para os problemas que o homem enfrenta no dia a dia de sua vida em sociedade. São muitas as situações sociais, situações que só podem ser explicadas pelas relações que indivíduos ou grupos de indivíduos estabelecem entre si, mas que não 28 Temas e Teorias da Sociologia 28 podem ser compreendidas se os tomamos isoladamente. Tais situações não dizem respeito apenas à ação individual e, por isto, são objeto de estudo da Sociologia. No último capítulo serão trazidos alguns temas emergentes em Sociologia nos dias atuais. Quanto às perspectivas para o profissional da área, parece serem otimistas, principalmente no que diz respeito à docência, haja vista que a obrigatoriedade do ensino da disciplina no ensino médio é uma realidade e uma conquista recente. Quanto à relevância e importância da área, parece que esta ainda não está clara para a maioria das pessoas. Esta situação nos coloca um grande desafio. A mudança de crenças e a conquista de espaços poderão ocorrer, dependendo muito do tipo de intervenção que iremos fazer no cotidiano, mostrando a importância deste saber nos vários espaços que ocupamos. Atividade de Estudo Com base na resposta abaixo, é possível afirmarmos que a Sociologia é fruto do nosso tempo. Veja: 1) Como nasceu a Sociologia? ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ 2) Como a Sociologia pode ser definida e quem pode ser considerado o seu fundador? ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ 3) Partindo da constatação de Robert Nisbet de que a Sociologia pode ser considerada uma “ciência da crise”, que fenômenos atuais você considera preocupantes e por isso acredita que justifica um “olhar” da Sociologia? ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ 29 Sociologia: aSpectoS introdutórioS 29 Capítulo 1 algumaS conSideraçõeS Diante do que foi colocado neste capítulo, é possível fazermos algumas inferências. A Sociologia surgiu para dar conta de um momento de intensas transformações e adversidades. Tem o propósito de analisar este momento sob o viés da ciência e, mais do que isso, propor encaminhamentos para a superação das novas problemáticas. Temos o surgimento do modo de produção capitalista a partir das mudanças ocorridas, principalmente a partir da Revolução Industrial. Percebe-se, pois, a concretização de uma lógica, lógica esta que perdura até hoje. Com um foco bastante amplo, o estudo da sociedade, nos dias de hoje, se propõe a analisar as questões que se colocam no nosso cotidiano e que trazem alterações significativas no nosso convívio em sociedade. Uma característica comum às várias áreas que compõem as ciências sociais, é o fato, deveras importante, de não existir uma única Sociologia, ou melhor, um olhar único e consensual sobre os variados fenômenos que são seu objeto de estudo. A partir desta verificação, estamos preparados para conhecer as teorias sociológicas clássicas, as principais e diferentes compreensões de sociedade e a contribuição das mesmas para esta ciência. referênciaS CATANI, Afrânio Mendes. O que é capitalismo. 34. ed. São Paulo: Brasiliense, 2003. GUARESCHI, Pedrinho Alcides. Sociologia crítica: alternativas de mudança. 48. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000. MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia. 38. Ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. MEKSENAS, Paulo. Aprendendo Sociologia: a paixão de conhecer a vida. 8. ed. São Paulo: Loyola, 2001. MORISSAWA, Mitsue. A história da luta pela terra e o MST. São Paulo: Expressão Popular, 2001. OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. 24. ed. São Paulo: Ática, 2003. 30 Temas e Teorias da Sociologia 30 PINHEIRO, Paulo Sérgio; HALL,Michael M. (Orgs.). A classe operária no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1981. SCHMIDT, Mario Furley. Nova história crítica. São Paulo: Nova Geração, 2002. SELL, Carlos Eduardo. Sociologia clássica. 4. ed. Itajaí: Ed. Univali, 2006.
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