Buscar

MATERIA PROVA DE FILOSOFIA JURIDICA 2

Prévia do material em texto

RESUMO: FILOSOFIA JURIDICA 12 de junho de 2018
DIREITO E LEGITIMIDADE: PRÁTICAS JURÍDICAS E SEUS FUNDAMENTOS SOCIAIS E POLÍTICOS:
Política e neutralidade do jurista Os juristas evitam discutir o poder. Falar de política é o mesmo que invocar um poder que desborda à competência jurídica; é o mesmo que falar de algo obscuro, sobre o qual não se tem o controle que se pode exercer sobre as estruturas jurídicas. Se a norma jurídica é clara, as ideologias oferecem um panneaux de diferenças valorativas que não pode ser facilmente compreendido. Ademais, falar de política é falar de diferenças, que, normalmente, são compreendidas como princípios para a intolerância e para a rebeldia institucional. Num olhar distante, Direito e política não se relacionam; a competência do jurista é uma, a do político é outra. No entanto, as primeiras dificuldades surgem para o jurista quando é incitado a manifestar-se a respeito da expressão constitucional “Estado Democrático de Direito”. A princípio, parece simples definir o que seja um “Estado de Direito”, e que esse Estado é o responsável pela cunhagem do que se deve ou não fazer por meio de normas jurídicas; um Estado onde impera o princípio da legalidade é um Estado de Direito. Contudo, um Estado Democrático de Direito pressupõe que essa legalidade esteja mesclada a instrumentos democráticos de exercício do poder, o que importa em certa estrutura político-participativa, em certo aparato de instrumentos jurídicos de defesa de direitos e garantias igualitários, certo rito de escolha de representantes… e, nesse passo, já se está a discutir política.
Onde há Estado, há poder formalizado; onde este reside está a política. Então, a política é o lastro que subjaz às frias estruturas jurídicas. A política não é um mal para as estruturas do Direito; o mal decorre do uso que dela se faz para a manipulação dos interesses sócio-ideológico-econômicos... Quer-se afirmar que a participação em si é que é o importante; isso quer dizer que a possibilidade de possuir um espaço público para discussão, um locus, um veículo de dizer, de opinar, de discutir… isto é essencial… de modo tal que é nisso que reside a possibilidade de construção de um ordenamento jurídico plural, equilibrado, e não tendencioso. Aí está o gérmen do “Estado Democrático de Direito”.
 LEGITIMIDADE E DESOBEDIÊNCIA CIVIL 
Henry David Thoreau, membro do Transcendentalismo norte-americano do século XIX, influenciou decisivamente o pensamento de Mahatma Gandhi, donde ele extraiu a ideia de uma resistência não violenta ao poder. Thoreau vê na desobediência civil um direito, de natureza individual, que consente ao cidadão descontente com a injustiça das leis negar-lhes vigência. Thoreau relata suas experiências pessoais como alguém que se negou a pagar impostos, por considerá-los injustos e excessivos, e foi colocado em prisão. Tratava-se de uma formulação radical de compromisso individual de consciência contra a mera aceitação do poder legal como ipso fato poder legítimo. As leis devem ser questionadas, e os cidadãos preservam no interior do pacto social o direito de questionar sua validade, seu valor, sua significação política. O que se percebe aqui é a necessidade de relacionar o Direito e os fundamentos da obediência, quando se adentra no debate sobre a obediência aos cânones normativos fixados pelo legislador.
Parece claro que se trata de um direito, ainda que não reconhecido entre os direitos fundamentais de uma Constituição, do qual os cidadãos não podem se despojar, sob pena de, advindas condições negativas na condução do poder, não existirem válvulas de escape às reivindicações por justiça. Por isso, para Thoreau, o direito à desobediência civil deve ser reconhecido pelo Estado: “Todos os homens reconhecem o direito de revolução, isto é, o direito de recusar obediência ao governo, e resistir-lhe, quando ele se revele despótico ou sua ineficiência seja grande e intolerável”. Quer-se afirmar que a desobediência civil só pode ser o último recurso para a defesa de direitos e prerrogativas cidadãs. Último recurso exatamente porque o questionamento do poder legítimo implica na reflexão sobre as consequências da desobediência civil. Somente se há de pensar na desobediência civil, portanto, como ultima ratio, ou como último instrumento de negação de atos ou normas antissociais.
O que é que afinal justificaria a desobediência civil? Hannah Arendt afirma: “A desobediência civil aparece quando um número significativo de cidadãos se convence de que, ou os canais normais para mudanças já não funcionam, e que as queixas não serão ouvidas nem terão qualquer efeito, ou então, pelo contrário, o governo está em vias de efetuar mudanças e se envolve e persiste em modos de agir cuja legalidade e constitucionalidade estão expostos a graves dúvidas.” Nas considerações a respeito do tema, deve-se ter presente que a desobediência civil se diferencia do crime, da revolução, da resistência civil. De fato, enquanto na hipótese de mero crime o criminoso age com intuito de causar vantagem a si próprio, e evita “os olhos do público”, o “contestador civil toma as leis em suas próprias mãos em aberto desafio”, e com isso pratica não somente um ato ilícito, mas um ato político de desobediência.
Por sua vez, a revolução significa a tomada do poder, por um grupo de oposição, que visa à substituição definitiva do governo vigente. A sucessão no poder se dá, neste caso, não pelos veículos previstos constitucionalmente para a mudança de governo, mas pela via da violência e da tomada do poder. No sentido jurídico, ela implica mesmo na deposição da ordem constitucional existente. O contestador civil não se opõe à generalidade do governo, mas a determinadas práticas de injustiça, e não visa, em primeiro momento, à deposição do governo, mas a uma correção de rumos na condução do poder. Já a resistência civil é armada, é violenta e se confunde com movimentos terroristas. São geralmente movimentos separatistas ou de identidade negadora dos fundamentos do convívio geral. Neste caso, a desobediência civil se diferencia pelo fato de seu modo de atuação incluir a negação da obediência sem o uso da violência. A desobediência visa a atacar uma injustiça precisa, um tema preciso, um conjunto de questões precisas, mas não solapar as bases de legitimidade de um governo, caso em que se está à beira de uma revolução política. Quando se recorre à desobediência civil, ela se dá de modo não violento, mas questiona Thoreau: “Mas suponhamos, mesmo, que deva correr sangue. Não corre algo como sangue quando a consciência é ferida?”10 Por isso, a tendência da moderna legislação que consagra direitos humanos acaba também por acolher esta ideia como núcleo fundamental garantidor da vida cívico-política, como acontece na Constituição da República Portuguesa, de 1976: “Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de repetir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à autoridade pública” (art. 21). Apesar da Constituição Brasileira de 1988 não acolher expressamente tal direito, pode-se mesmo entrevê-lo como direito implícito de toda formação política democrática.
Por isso, além de tratá-la como inerente, ainda que não reconhecida pelo Estado, deve-se reconhecer na desobediência civil um importante foco de participação política e mobilização da sociedade civil. É exatamente nesta perspectiva que Hannah Arendt ressalta o seu valor para a vida política de uma nação: “O estabelecimento da desobediência civil entre nossas instituições políticas poderia ser o melhor remédio possível para a falha básica da revisão judicial. O primeiro passo seria obter o mesmo reconhecimento que é dado a inúmeros grupos de interesses especiais (grupos minoritários por definição) do país para as minorias contestadoras, e tratar os grupos de contestadores civis do mesmo modo que os grupos de pressão os quais através de seus representantes, os olheiros registrados, podem influenciar e auxiliar o Congresso por meiode persuasão, opinião qualificada e pelo número de seus constituintes.” Quanto maior da distância entre o fazer das leis e a vida cidadã, maior a chance de erronia do legislador, maior a chance de obter maus resultados na aderência da vontade popular às normas jurídicas. A obediência e a desobediência devem ser preventivamente construídas, na base de uma cultura de participação e diálogo, que, preventivamente, assinalam as condições para a formação legítima das normas jurídicas. Para Jürgen Habermas, “o princípio da democracia só pode aparecer como núcleo de um sistema de direitos. A gênese lógica desses direitos forma um processo circular, no qual o código do direito e o mecanismo para a produção de direito legítimo, portanto o princípio da democracia, se constituem de modo cooriginário.
CRITÉRIOS PARA A AFERIÇÃO DA LEGITIMIDADE:
É certo que quando se discutem estas questões, ligadas ao poder, à resistência ao poder, à justiça praticável pelo poder, à legitimidade do contrato social, ao controle do poder pelas forças populares, em verdade se está a falar da necessidade de critérios para o poder, a partir dos quais se poderiam medir as ações do poder como legítimas (conformes) ou ilegítimas (desconformes). Como construir fundamentos mínimos para a ação no poder? Quando a resistência civil não acaba sendo inócua, não acaba servindo para entronizar novas forças políticas, que podem até mesmo usurpar a situação política tumultuada para assegurar-se do poder¿ Envolve aspectos que não podem ser ignorados na tecitura do fechamento da questão, de modo que se torna imprescindível verificar o que a teoria política contemporânea é capaz de demonstrar a este respeito. E isto é possível seguindo-se umas lições de filosofia política prática, ou seja, de uma filosofia voltada para a ação (práxis), elaboradas por Ottfried Höffe, professor titular da Universidade de Friburgo (Suíça), especialmente em sua monumental obra Justiça política: fundamentação de uma filosofia crítica do direito e do Estado, lançada em 1987. Com os critérios e parâmetros de exigência e fundamentação de uma discussão sobre a aferição da legitimidade a partir da justiça política, pode-se chegar à constituição de um minimum para o encaminhamento da temática. Em verdade, todo o encaminhamento da questão da legitimidade do poder na obra deste autor vem dado pela discussão de princípios de justiça, gravitando entre o Positivismo (apego completo à forma e à validade no Direito) e o Anarquismo (abolição irrestrita de toda forma de dominação social). Sua tese, na discussão do problema, será exatamente a de que: (1) o Estado está obrigado à justiça; (2) a justiça política forma a medida normativo-crítica do direito; (3) o direito justo é a forma legítima da convivência humana. Neste sentido, a perspectiva teórica assumidamente crítica de Höffe balisa-se na seguinte interpretação da relação entre Estado, justiça, poder e direito, que ora se utiliza como material teórico referencial para a qualificação do debate sobre os critérios de legitimação do poder:
LER OS CRITERIOS NO LIVRO BITTAR CURSO DE FILOSOFIA:
DIREITO E NÃO VIOLÊNCIA: MINIMUM DOS POVOS:
Bobbio dá mais amplitude a essa definição quando, em vez de utilizar o substantivo dano, fala em modificação prejudicial no estado físico do indivíduo: “A violência pode ser direta ou indireta. É direta quando atinge de maneira imediata o corpo de quem a sofre. É indireta quando opera através de uma alteração do ambiente físico no qual a vítima se encontra (por exemplo, o fechamento de todas as saídas de um determinado espaço) ou através da destruição, da danificação ou da subtração dos recursos materiais. Em ambos os casos, o resultado é o mesmo: uma modificação prejudicial do estado físico do indivíduo ou grupo que é o alvo da ação violenta. Violência é um conceito que possibilita um número infindável de abordagens: antropológica, psicológica, cultural, política, etnológica etc. E cada novo contexto permite uma definição diferente. Dispõe o preâmbulo da Convenção de Belém do Pará.4 “Para os efeitos desta Convenção, entender-se-á por violência contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada.” Desta feita, não violência fica definida como: “ação intencional que não provoca uma modificação prejudicial na pessoa ou grupo de pessoas destinatários da ação”. Para o Direito, essa compreensão é vital, pois toda ação violenta é violadora de um direito (direito à vida, direito à integridade física, direito à integridade psíquica, direito à liberdade sexual); consequentemente, proteger um direito, impedir sua violação requer um ordenamento jurídico voltado para formas de ação que impeçam, preventivamente, a ocorrência dessas ações e que, reparadoramente, minimizem seus efeitos. Violência e não violência são qualificadoras do agir humano.
KANT: À PAZ PERPÉTUA – UMA ORDEM INTERNACIONAL NÃO VIOLENTA:
“Não é de esperar que reis filosofem ou filósofos tornem-se reis, mas também não é de se desejar, porque a posse do poder inevitavelmente corrompe o livre julgamento da razão. Porém, que reis ou povos reais (que governam a si mesmos segundo leis de igualdade) não minguem ou emudeçam a classe dos filósofos, mas deixem falar publicamente, é a ambos indispensável para iluminar sua ocupação, porque essa classe é incapaz, segundo sua natureza, de ajuntamentos e alianças de clubes, insuspeitos de uma propaganda por meio de boato.”7 Essa frase de Kant é o artigo secreto de sua obra filosófica escrita em forma de um instrumento jurídico (um tratado) e dá-nos ideia do propósito para o qual foi escrita. Não foi um trabalho encomendado por algum rei ou príncipe, mas a obra de um filósofo que manifesta suas ideias por meio de um documento jurídico, de caráter ficcional, com objetivo filosófico. Kant tem plena consciência de que faz uma obra de sabedoria para esclarecer um assunto pertinente àqueles que detém o poder e não estão habituados ao exercício da filosofia e ao cultivo da sabedoria. Na obra À paz perpétua, Kant não cria uma tecnologia capaz de solucionar os conflitos internacionais, mas elabora uma obra de reflexão filosófica sobre as relações internacionais de sua época, propondo uma superação desse status quo. À paz perpétua é, na realidade, a meta a ser atingida por meio do respeito e do exercício dos princípios e normas estabelecidos nesse fictício tratado de paz. O adjetivo perpétua diferencia o tratado em questão, dos tratados de paz habitualmente firmados, que não passam de meros armistícios cuidando de regular a melhor forma jurídica para a cessação das hostilidades entre os inimigos. Kant esclarece dois pontos essenciais do estado de paz almejado por ele: primeiro o estado de paz não corresponde ao estado natural, este é um estado de guerra; em segundo plano o estado de paz é algo a ser instituído por meio do Direito. Ou seja, a meta é a paz e o meio a atingi-la é o Direito. Conforme a classificação proposta por Martin Wight, Kant pertence à tendência revolucionária. Kant aponta o direito como mecanismo propiciador da mudança; podemos classificá-lo como um revolucionário jurídico. Na concepção kantiana, a transformação do estado de guerra das relações internacionais em um estado de paz dar-se-á por meio do Direito. De acordo com a classificação de Bobbio, essa proposta kantiana deve ser enquadrada como pacifismo jurídico.
1“Não se deve considerar como válido nenhum tratado de paz que se tenha celebrado com a reserva secreta sobre alguma causa de guerra no futuro”. Nesse artigo, Kant, essencialmente, faz a diferença entre um mero armistício e um verdadeiro tratado de paz. O armistício vem a ser um documento jurídico que tem por finalidade pôr fim a determinada guerra.
2 “Nenhum Estado independente (grande ou pequeno) poderá ser adquirido por outro mediante herança, permuta, compra ou doação.” Os Estados nacionais, não importando seu tamanho, não devem ser vistos como umapropriedade a ser adquirida, já que isso poderia ser motivo de grande descontentamento no futuro, gerando tensões que poderiam culminar num conflito bélico.
3. “Os exércitos permanentes devem desaparecer totalmente com o tempo.” Este artigo é autoevidente, fala por si próprio. O desaparecimento dos exércitos permanentes dificultaria sobremaneira a prática da guerra.
4. “Não se deve emitir dívida pública em relação com os assuntos de política exterior.” Neste artigo, Kant tenta impedir a criação de dívidas entre dois Estados. O não pagamento da dívida poderia implicar uma guerra de invasão ao Estado devedor como forma de ressarcimento da dívida.
5. “Nenhum Estado deve imiscuir-se pela força na Constituição e no Governo de outro.” Este artigo liga-se ao segundo artigo definitivo, que fala da criação de uma Federação de Estados livres. A ideia é a preservação da autonomia de cada membro. A intervenção pela força é, enfaticamente, não recomendada.
6. “Nenhum Estado em guerra com outro deve permitir que tais hostilidades tornem impossível a confiança mútua na paz futura, como o emprego de assassinos, envenenadores, quebramento de capitulação, indução a traição.” A ideia deste artigo é resumir as hostilidades ao campo de batalha. A manutenção da confiança mútua, que se dá pelo comportamento minimamente ético dos Estados em conflito e pelo respeito da função jurídica da guerra de resolução de conflitos, é condição essencial para o estabelecimento futuro da paz.
Como atitude preliminar para obtenção da paz, Kant elenca seis obrigações de não fazer, prestações negativas, normas proibitivas. Antes de esclarecer as ações positivas, Kant tem o cuidado de interditar as ações que poderiam colocar em risco uma situação de paz, ou dificultar o término de uma guerra. Os seis artigos que acabamos de examinar dizem respeito às atitudes interditadas aos Estados; já os artigos definitivos, relacionam-se à forma que o Direito deve assumir em direção à paz perpétua. É o que veremos a seguir. Durante a apresentação dos seis artigos preliminares para a Paz Perpétua, Kant oferece uma explanação das três dimensões do fenômeno do Direito, necessárias para a instituição da paz perpétua: “Toda constituição jurídica é, porém, no que concerne às pessoas que estão sob ela: 1. a constituição segundo o direito civil [de Estado] dos homens em um povo (ius civitatis); 2. segundo o direito das gentes dos Estados em relação uns com os outros (ius gentium), 3. segundo o direito cosmopolita, enquanto homens e Estados que estão em relação exterior de influência mútua têm de ser considerados como cidadãos de um Estado dos homens universal (ius cosmopoliticum). Esta divisão não é arbitrária, mas necessária em relação a ideia de paz perpétua. Pois se somente um destes, na relação da influência física sobre o outro, estivesse, contudo, no estado de natureza, então estaria ligado a ele o estado de guerra, tornar-se liberto, do qual é justamente a intenção aqui.”
Na segunda parte de sua obra, na qual são apresentados os três artigos definitivos para a Paz Perpétua, Kant detalha a forma que cada uma dessas dimensões do direito deve revestir para a instituição da paz.19 Sinteticamente, Kant diz que: 1. o Direito interno de um Estado deve ser da forma republicana, pois isto dificultaria uma declaração da guerra, já que numa República a vontade pública prevalece sobre a vontade do soberano e, neste caso, a declaração da guerra estaria condicionada à aprovação da vontade pública, o que seria um fator complicador para declaração da guerra; 2. o Direito Internacional deve ser baseado numa federação de Estados livres. Esta federação não corresponde ao formato federativo de um Estado nacional, a ideia é um pacto federativo entre os diversos Estados Nacionais que mantêm sua soberania, mas que estão vinculados por um objetivo comum, qual seja, a manutenção da paz. 3. o Direito Cosmopolita deve limitar-se ao Direito à Hospitalidade Universal. O que compreende, de um lado, o direito de todo estrangeiro, que se encontra num Estado do qual não é nacional, não ser tratado hostilmente. E de outro lado, o dever de todo Estado não usurpar da hospitalidade que lhe é oferecida pela população de um determinado Estado ou território e transformar o seu direito de visita num violento ato de conquista.”
Essas três dimensões jurídicas devem ser vistas de forma interdependente e inseparável, uma interpenetrando a outra. O art. 2o (o pacto federativo entre os Estados Livres) é base jurídica constitutiva de um novo status quo nas relações internacionais; o art. 1o e o art. 3o são seus alicerces. Kant, divergindo dos realistas (Hobbes e Maquiavel) e dos racionalistas (Grotius), propõe um modelo de ordem internacional onde a guerra perde sua utilidade como forma jurídica (necessária ou contingente) de resolução dos conflitos e a paz surge como principal objetivo, a ser conquistado por meio do direito.
Kant tem plena noção de que a instituição, por meio do Direito, de um estado de paz não violento entre as nações é uma tarefa de suma importância e, ao mesmo tempo, dificílima de ser atingida. O próprio Kant, na 5a e na 6a proposições de Ideia de uma História Universal de um Ponto de Vista Cosmopolita, afirma: “5a O maior problema para espécie humana, a cuja solução a natureza a obriga, é alcançar uma sociedade civil que administre universalmente o direito. 6a Este problema é, ao mesmo tempo, o mais difícil e o que será resolvido por último pela espécie humana.” À paz perpétua deve ser tomada como uma obra de filosofia do direito cujo propósito é oferecer um arsenal teórico que estruture a comunidade internacional de modo que a ação violenta não seja utilizada como forma de relacionamento entre as nações; a consequência lógica deste estado de coisas é o advento da paz.
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS (DIDH) COMO MINIMUM DOS POVOS:
O primeiro documento do DIDH é a Carta de São Francisco, de 1945, documento que fundou a Organização das Nações Unidas (ONU). A Carta de São Francisco (ou Carta da ONU), juntamente com a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e os Pactos Internacionais de Direitos Civis e Políticos e de Direitos Econômicos Sociais e Culturais, de 1966, formam a Carta de Direitos Humanos da ONU. A Carta de São Francisco concretiza a criação da norma proibitiva da guerra. A guerra, durante muito tempo, foi considerada como forma jurídica e lícita para impor o Direito.
GÊNESE DA NORMA PROIBITIVA DE GUERRA:
De forma sintética, podemos definir a Guerra Justa como aquela guerra que se combate para impor o direito. Durante séculos, a doutrina da Guerra Justa foi aceita pelo Direito Internacional. A doutrina da guerra justa só passa a ser contestada, no campo da dogmática do Direito Internacional Público, após o surgimento da Sociedade das Nações. A Sociedade das Nações (SDN) surge, em 1919, como primeira tentativa de se criar um Organismo Internacional que fosse capaz de solucionar os litígios, entre os diversos Estados, sem que fosse necessário recorrer ao uso da força. Segundo Celso Lafer, o artigo 11 do Pacto da Sociedade das Nações instaura o primeiro tema global na agenda internacional. A guerra, ou sua ameaça, passa a interessar à sociedade internacional em sua totalidade e não mais apenas às partes beligerantes. No artigo transcrito, nota-se uma atitude cuidadosa com o intuito de prevenir a ocorrência de uma guerra. No artigo seguinte (12), a guerra é colocada como último recurso na solução das controvérsias entre as nações.
Assim, a guerra, que era tida como prática regular da resolução de conflitos para o Direito Internacional, começa a ser posta no terreno da anormalidade pelo Direito. Já que o normal é a solução pacífica das controvérsias, a guerra é o último recurso. Em 1928, no Pacto Briand-Kellog,28 as partes contratantes renunciam à guerra como instrumento de política nacional em suas relações mútuas. E, finalmente, em 1945, na Carta de São Francisco há a proibição formal e extensiva do uso da força como forma de resoluçãodos conflitos.
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS DE 1948 COMO DOCUMENTO MATRIZ DO DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS:
A Declaração de 1948 foi a forma jurídica encontrada pela comunidade internacional de eleger os direitos essenciais para a preservação da dignidade do ser humano. Trata-se de um libelo contra o totalitarismo. Seus 30 artigos têm como objetivo principal evitar que o homem e a mulher sejam tratados como objetos descartáveis. De acordo com Celso Lafer, a Declaração de 1948 pode ser considerada um evento matriz que dá origem a uma nova política de Direito, política esta voltada para a proteção do ser humano. O DIDH transformará em Direito Positivo esse escopo inicial. Tanto é, que uma das características principais do DIDH é ser um direito protetivo: “Trata-se essencialmente de um direito de proteção, marcado por uma lógica própria, e voltado à salvaguarda dos direitos dos seres humanos e não dos Estados.”
O que há de comum entre a Declaração de 1789 e a Declaração de 1948? A vontade manifesta de instaurar outra ordem, radicalmente diferente daquela até então vigente. É com a Revolução Francesa, de 1789, que surge o moderno significado da palavra revolução,35 que passa a significar a instauração do novo. A Revolução Francesa derruba o Estado Absoluto e instaura o Estado de Direito ou Constitucional; para fazer essa transformação, muda a significação de uma palavra: soberania. “O Estado Absoluto coloca-se como a encarnação mais perfeita da soberania entendida como poder que não reconhece ninguém superior.” 
O Estado Constitucional, ao limitar o poder soberano, garante os direitos naturais do indivíduo. As duas transformações são simultâneas e são a própria razão de ser do novo Estado Constitucional ou Estado de Direito.38 Estabelece a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789): Com essa ideia em mente, Hitler diferencia as pessoas entre aquelas que valem mais e as que valem menos; de acordo com essa tese, a raça ariana era a depositária do progresso da civilização e qualquer cruzamento entre as diferentes raças só produziria degenerados, física e mentalmente. Assim, era necessário dominar e subjugar as ditas “raças inferiores” (principalmente a judia), pois a raça ariana deveria permanecer pura. Essa ideia, aos poucos, radicaliza-se e da expulsão dos judeus, passa para a concentração deles, até atingir a solução final, segundo a qual só o completo extermínio da raça judia seria capaz de garantir a pureza da raça ariana. De um Estado Racista, a Alemanha Nazista transforma-se em um Estado Genocida. O primeiro passo para garantir o direito a vida é, portanto, estabelecer a igualdade entre os seres humanos, impedindo qualquer espécie de discriminação. É isto que faz a Declaração de 1948 e os instrumentos legais da declaração do DIDH. Observe-se o encaminhamento dos artigos da Declaração. No art. I, fica estabelecido que a liberdade e a igualdade entre os seres humanos é adquirida no nascimento. O art. II proíbe toda e qualquer espécie de discriminação. E, finalmente, o artigo III estabelece o primeiro Direito: o Direito à vida. O Direito à vida foi estabelecido para os cidadãos do mundo, já que o Estado Nazista, além de ser assassino, era genocida. Reprimir o genocídio foi uma das primeiras tarefas do DIDH. O extermínio de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial não foi o primeiro massacre da história humana,47 nem tampouco o primeiro genocídio. Esse termo, de forma coloquial, será usado pelo próprio Hitler em 22 de agosto de 1939, véspera da invasão da Polônia. O primeiro genocídio do século XX é de um milhão e meio de armênios pelos turcos, em 1915. Todavia, o genocídio de Hitler é parte de uma política de governo; aos olhos do Estado Nazista, trata-se de uma atividade legal. Para que a comunidade internacional pudesse punir o crime de genocídio, era preciso tipificá-lo. É o que faz a Convenção de 1948.
HISTÓRICO DA PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS:
A Proteção Internacional dos Direitos Humanos apresenta dois mecanismos de proteção: o global e os regionais. O global é o sistema da Organização das Nações Unidas (ONU); os sistemas regionais são: O Sistema Africano (Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Direitos dos Povos – 1981), O Sistema Árabe (Carta Árabe dos Direitos Humanos – 1994, até o momento só ratificada pelo Iraque), O Sistema Europeu (Convenção Europeia para Proteção dos Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais – 1950) e o Sistema Interamericano (Convenção Americana de Direitos Humanos – 1969).
 SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS:
A Carta de São Francisco, de 1945, foi o documento jurídico que fundou a ONU. Esta foi criada com a perspectiva de instaurar uma nova ordem mundial, diferente daquela que ocasionou a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais. Conforme já analisado no item 2.2.1, é na Carta da ONU que aparece, pela primeira vez na história do Direito, a proibição da guerra como forma legítima de resolução de conflitos. Daí se conclui que um dos principais objetivos da ONU é a criação de uma nova ordem internacional, fundada nas relações pacíficas entre as nações. O grau de respeito aos direitos humanos transformou-se num dos principais elementos para aferir-se a inserção de determinado país na Comunidade Internacional. Com isso, os direitos humanos deixaram de ser uma questão de domínio reservado dos Estados e ganharam o status de tema global, o que significa a necessidade de os Estados soberanos, em tempos de paz, garantirem a efetiva proteção dos direitos humanos da população, a fim de conquistarem legitimidade no plano internacional. Depois da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, foram elaborados o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, ambos de 1966. O objetivo principal dos dois Pactos é dotar os direitos humanos, elencados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de um caráter vinculante. Em síntese, o Tratado é o instrumento de que dispõe o Direito Internacional Público, a fim de criar obrigações e responsabilidades para os Estados, na ordem jurídica internacional. A criação dos Tratados de Diretos Humanos representa uma conquista jurídica fundamental, pois, a partir do momento em que entram em vigor, as Organizações Internacionais e as ONGs podem verificar se os direitos, elencados no texto convencional, estão sendo respeitados pelos Estados-partes e, caso contrário, dispõem de meios para exigir sua observância. A história do DIDH pode ser dividida em duas grandes fases: a fase legislativa e a fase de implementação. Durante a fase legislativa, que tem como data inicial o ano de 1945, são elaborados os principais tratados e instrumentos jurídicos do DIDH – lembre-se de que, já na Carta de São Francisco, são feitas referências à questão dos direitos humanos. A fase de implementação inicia-se em 1966, quando termina a elaboração do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e do Pacto Internacional de Direitos Sociais, Econômicos e Culturais55 e tem como característica principal a implementação daquelas normas já existentes, em vez da criação de novas normas de direitos humanos. Esse objetivo é realizado por meio dos órgãos de supervisão, que se utilizam dos mecanismos de implementação do DIDH, a saber: sistemas de petições, relatórios e investigações. O principal órgão supervisor, no âmbito da ONU, é a Comissão de Direitos Humanos (CDH), estabelecida em 1946. Desde que começou a funcionar, a CDH recebeu inúmeras queixas. Todavia, ficara decidido que a CDH não poderia tomar nenhuma medida prática com relação a tais reclamações. Foi o Grupo de Trabalho Especial sobre a situação dos Direitos Humanos, no Chile, criado em 1975, por resolução da CDH da ONU que ultrapassou, definitivamente, a noção de soberania absoluta dos Estados quanto à temática dos direitos humanos. Esse grupo realizou uma ostensiva investigação sobre a situação dos Direitos Humanos no Chile.61 O Comitê de DireitosHumanos, previsto no Pacto Internacional de Direitos, Civis e Políticos, é um dos mais importantes órgãos de monitoramento previstos nos tratados do DIDH; ele inicia seu trabalho em 1976 e, nos últimos anos, vem incrementando sua atuação.
CONCLUSÕES:
 Ao eleger a pessoa humana como novo sujeito de direito no âmbito do Direito Internacional, o DIDH garante a proteção da dignidade a todos inerente. Protegendo a dignidade, o Direito delimita uma aura de não violência ao redor do homem, da mulher e da criança. É da experiência das violações concretas à dignidade humana que se tornou historicamente significativa a categoria normativa e exigível que protege o sujeito de direito. A história moderna está repleta de exemplos marcantes. Ao se adentrar o século XXI, deve-se saber que a vida humana é “sagrada” para o Direito. Em outras palavras, qualquer violação daqueles direitos existentes pelo mero fato de o ser humano nascer com vida, representa um atentado contra o próprio Direito da sociedade universal. Um projeto cosmopolita que se queira legítimo, sustentável e razoável como solução para diversos dos dilemas da vida contemporânea deve, portanto, passar pela discussão e compreensão do que seja o estatuto da pessoa humana a partir do DIDH.
*Este resumo é definido em caráter de conhecimento através de sua eleboração, podendo ser insignificante para terceiros, pois esta explicito conteúdos da matéria, porem se subentende este conteúdo através de sua confecção.

Continue navegando