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Conflito aparente de normas penais

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ 
DIREITO PENAL II - 4°semestre 
Profª Paola Santos 
1 
 
AULA III 
DIREITO PENAL II 
TEMA: CONFLITO APARENTE DE NORMAS 
PROFª: PAOLA JULIEN O. SANTOS 
 
EMENTA: Conflito aparente de normas. Conceito. Critério da sucessividade. Critério da 
especialidade. Critério da subsidiariedade (tipo de reserva). Critério da absorção (ou 
consunção). Critério da alternatividade. 
 
1. Conceito: 
 
É a situação que ocorre quando ao mesmo fato parecem ser aplicáveis duas ou mais 
normas, formando um conflito apenas aparente entre elas. O concurso aparente de 
normas, como também é denominado, surge no universo da aplicação da lei penal, 
quando esta entre em confronto com outros dispositivos penais,ilusoriamente aplicáveis 
ao mesmo caso. 
Há quem inclua o estudo do conflito aparente de normas no contexto do concurso de 
delitos. O concurso de crimes configura, efetivamente, uma concorrência de várias leis, 
aplicáveis a diversos fatos tipicamente relevantes, como ocorre na prática de inúmeros 
roubos, passiveis de gerar concurso material ou o crime continuado. Portanto, como se 
vê, não há conflito algum de leis penai, mas a aplicação conjunta e uniforme de todas as 
cabíveis ao fato. 
Nesse particular, para que o conflito aparente de normas seja reconhecido, deve-se partir 
de alguns elementos essenciais, sem os quais tal embate normativo inexiste: 
1) a unidade do fato 
2) pluralidade de normas 
3) aparente aplicação de todas as normas 
4) efetiva aplicação de apenas uma delas 
A unidade de fato significa que a conduta do agente tenha implicado em apenas uma 
infração penal. No tocante à pluralidade de normas, como se depreende da própria 
expressão, é imprescindível que exista mais de um dispositivo legal tipificando a mesma 
conduta. Por derradeiro, a incidência de todas as normas a uma conduta deve ser apenas 
aparente, porquanto só uma delas é que será efetivamente aplicada. 
Na verdade no Conflito Aparente de Normas existe uma ilusória idéia de que duas ou 
mais leis podem ser aplicadas ao mesmo fato, o que não é verdade, necessitando-se 
conhecer os critérios para a correta aplicação da lei penal. Não são normas que 
concorrem, mas que têm destino certo, excluindo umas as outras. Basta saber aplicá-las 
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ 
DIREITO PENAL II - 4°semestre 
Profª Paola Santos 
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devidamente. Vários são os critérios que permitem solucionar o conflito. São, 
fundamentalmente, cinco: 
a) Critério da sucessividade; 
b) Critério da especialidade; 
c) Critério da subsidiariedade; 
d) Critério da absorção (consunção); 
e) Critério da alternatividade. 
Critério da sucessividade 
Se houver um período de tempo separando duas ou mais normas aplicáveis ao mesmo 
fato, é sempre preferível a lei posterior (Lex posterior derrogat priori). 
Exemplo: o art. 3°, V, da lei 1.521/51 (crime contr a a economia popular) prevê ser delito 
(vender mercadoria abaixo do preço de custo com o fim de impedir a concorrência”. 
Entretanto,, o art. 4°, VI, da lei 8.137/90, precei tua, identicamente, ser crime “vender 
mercadorias de abaixo do preço de custo a fim de impedir a concorrência”. Desta forma, 
havendo duas normas penais incriminadoras, passiveis de aplicação ao mesmo fato, 
resolve-se o pretenso conflito, através do critério da sucessividade, isto é, vale o 
dispositivo na lei 8.137/90, que é mais recente. 
Critério da especialidade 
De acordo com o brocardo jurídico lex specialis derrogat generali – a lei especial afasta a 
aplicação da lei geral ,logo a lei de natureza geral, por abranger ou compreender um todo, 
é aplicada tão-somente quando uma norma de caráter mais específico sobre determinada 
matéria não se verificar no ordenamento jurídico. Em outras palavras, a lei de índole 
específica sempre será aplicada em prejuízo daquela que foi editada para reger condutas 
de ordem geral. Aliás, encontra-se previsto no art. 12 do Código Penal. 
Para se identificar a lei especial, leva-se em consideração a existência de uma particular 
condição (objetiva ou subjetiva), que lhe imprima severidade menor ou maior em relação 
a outra. Deve haver entre os delitos geral e especial relação de absoluta 
contemporaneidade. Ex: furto qualificado exclui o simples; crime militar exclui o comum; 
infanticídio exclui o homicídio. 
Lembremos que, como regra, a lei especial não é afetada pela edição de lei nova de 
caráter geral. Entretanto, há exceções quando uma lei geral é benéfica ao réu, contendo 
nova sistemática para determinado instituto é natural que possa afetar a legislação 
especial, pois não teria sentido dois mecanismos paralelos voltados ao mesmo cenário, 
cada qual imprimindo uma feição diferenciada a lei penal. Desse modo, quando a lei 
geral, ao ser modificada afeta essencialmente determinado instituto, igualmente constante 
em lei especial, esta deve ser afastada para aplicação de outra, que é nitidamente 
benéfica. 
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ 
DIREITO PENAL II - 4°semestre 
Profª Paola Santos 
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Exemplo: confronto entre o art. 85 da lei 9.099/95 e o art. 51 do CP, após a edição da lei 
9.268/96. A atual redação do art. 51, considerando a multa como dívida de valor, afasta a 
possibilidade de sua conversão em prisão, caso não seja paga pelo condenado. Ocorre 
que o art. 85 da lei dos juizados especiais estipula “não efetuando o pagamento de multa, 
será feita a conversão em pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos, nos termos 
previstos em lei”. É verdade que o referido art. 85 fez menção ao que preceituava o CP à 
época (a conversão se dava na proporção de um dia-multa por um dia de prisão até o 
máximo de 360). 
Enfim, tudo está a depender do caráter e da extensão da modificação havida nesta última: 
se for alteração na essência do instituto é benéfica ao réu, torna-se evidente a 
necessidade de sua aplicação, em detrimento da especial. 
Critério da subsidiariedade (tipo de reserva) 
Uma norma é considerada subsidiaria em relação à outra, quando a conduta nela prevista 
integra o tipo da principal (Lex primaria derrogat subsidiariae), significando que a lei 
principal afasta a aplicação da lei secundária. A justificativa é que a figura subsidiaria está 
inclusa na principal. Há duas formas de ocorrência: 
a) Subsidiariedade explícita – quando a própria lei indica ser a norma subsidiaria da 
outra. (“se o fato não constitui crime mais grave”, “se o fato não constitui elemento 
de crime mais grave”). Ex. exposição de perigo (art. 132), subtração de incapazes 
(art. 249), falsa identidade (art. 307), simulação de autoridade para celebrar 
casamentos (art. 238), simulação de casamento (art. 239). 
b) Subsidiariedade implícita (tácita) – quando um fato incriminado em uma norma 
entra como elemento componente ou agravante especial de outra norma. Ex. 
estupro contendo constrangimento ilegal; dano no furto qualificado pelo 
arrombamento. 
Critério da absorção (ou consunção) 
Quando o fato previsto em uma lei está, igualmente, contido em outra de maior amplitude, 
aplica-se somente esta última. Em outras palavras, quando a infração prevista na primeira 
constituir simples fase de realização da segunda infração, prevista em dispositivo diverso, 
deve-se aplicar apenas a última. 
Trata-se de hipótese de crime-meio e do crime-fim. É o que se dá, por exemplo, no 
tocante a violação de domicilio com a finalidade de praticar furto a uma residência. A 
violação é mera fase de execução do delito patrimonial. O crime de homicídio, por sua 
vez, absorve o porte ilegal de arma, pois esta infração penal constitui-se simples meio 
para a eliminação da vítima. O estelionato absorve o falso, fase de execução do primeiro 
(súmula 17 do STJ “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade 
lesiva, é por este absorvido”). 
A diferençafundamental entre o critério da consunção e o da subsidiariedade é que, neste 
último caso, um tipo está contido dentro do outro (a lesão corporal está incluída 
necessariamente no crime de homicídio, pois ninguém consegue tirar a vida de outrem 
sem lesioná-lo), enquanto que na outra hipótese (consunção) é o fato que está contido em 
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outro de maior amplitude, permitindo uma única tipificação (o homicídio absorve o porte 
ilegal de arma porque a vitima perdeu a vida em razão dos disparos pelo revólver do 
agente, o que demonstra estar o fato - portar ilegalmente uma arma – ínsito em outro de 
maior alcance – tirar a vida ferindo a integridade física de alguém). 
Critério da alternatividade 
Pelo princípio da alternatividade também são resolvidos alguns dos conflitos aparentes 
entre as normas penais. Muitos doutrinadores, a exemplo de Damásio Evangelista de 
Jesus (1998, p. 117), ainda relutam em aceitar o princípio da alternatividade como uma 
opção para a resolução dos conflitos normativos, pois, ao ver do citado jurista e professor, 
"não se pode falar em concurso ou conflito aparente de normas, uma vez que as condutas 
descritas pelos vários núcleos se encontram num só preceito primário". 
Em que pese o posicionamento acima mencionado, sabe-se que o princípio da 
alternatividade hodiernamente se encontra elencado nos manuais de direito penal como 
um dos preceitos hábeis a solver os problemas atinentes ao concurso aparente entre as 
normas penais. 
Nesse pórtico, entende-se pelo princípio da alternatividade aquele que se volta à solução 
de conflitos surgidos em face de crimes de ação múltipla, que são aqueles em que o tipo 
penal expõe vários núcleos, correspondendo cada um desses núcleos a uma conduta. 
É exemplo de crime de ação múltipla (ou plurinucleares) o de receptação, relacionado no 
art. 180, caput, do Código Penal da seguinte maneira, verbis: 
"Art. 180. Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, 
coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, 
receba ou oculte." 
A despeito das várias modalidades de condutas praticadas no crime acima transcrito, é 
imprescindível que exista nexo de causalidade entre elas e que sejam praticadas no 
mesmo contexto fático. Nesse caso, o agente será punido apenas por uma das 
modalidades descritas no tipo. Caso contrário, haverá tantos crimes quantas forem às 
condutas praticadas.

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