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ELEMENTOS DO DIREITO PENAL E PROCESSUAL APRESENTAÇÃO Prof. Ma. Raiza Eloa Brambilla Catanio ● Mestre em Ciências Jurídicas pela UniCesumar (Universidade Cesumar); ● Bacharel em Direito (UniCesumar); ● Especialista em Docência no Ensino Superior (Uniasselvi); ● Pós-graduanda em Ciências Penais (UEM); ● Assessora de Magistrado no Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJPR). #CURRÍCULO LATTES# Link: http://lattes.cnpq.br/6265742338541943. Olá, aluno (a)! Tudo bem? Seja muito bem- vindo (a)! Nesta Unidade do Curso, estudaremos juntos, os Elementos do Direito Penal e Processual e, antes de qualquer conteúdo, quero me apresentar a vocês, explicando um pouquinho da minha trajetória profissional. Sou a profa. Raiza, graduada em Direito, Mestra em Ciências Jurídicas, Especialista em Docência no Ensino Superior e pós-graduanda em Ciências Penais. No ano de 2016, ainda durante a graduação, fui contratada como estagiária voluntária junto àa Secretaria da 7ª Vara Cível de Maringá, local onde atuei com analistas e técnicos por quase um ano, aprendendo sobre as funções, andamentos de processos e atendimento ao público. No ano seguinte, em 2017, fui aprovada em processo seletivo para vaga de estágio remunerado junto ao Gabinete da 4ª Vara Criminal de Maringá, onde permaneci até concluir minha graduação, em 2018, aprendendo sobre as atividades do magistrado, bem como as atividades de assessoramento. Em 2019, após a terminar a graduação, já estava aprovada como Bolsista CAPES no programa de Mestrado da UniCesumar, em Ciências Jurídicas, mesmo ano em que fui convidada pelo Magistrado Titular do Gabinete da 4ª Vara Criminal, para desempenhar a função de sua assessora de gabinete. Desde então, ocupo esse cargo e atuo como servidora comissionada no Tribunal de Justiça do Paraná, razão pela qual, tenho muito conteúdo e conhecimento a oferecer. Espero que nossa jornada aqui seja de muito sucesso. E, prezado(a) aluno(a), se você se interessou pelo assunto desta disciplina, esse já é o início de uma grande jornada que vamos trilhar juntos a partir de agora. Proponho, junto com você, construir nosso conhecimento sobre a disciplina do Elementos do Direito Penal e Processual, abordando conceitos fundamentais sobre as temáticas. Além de conhecer seus principais conceitos e definições, vamos explorar os vários assuntos que compõem esta área do Direito, bem como seus requisitos, deveres, garantias e legislações pertinentes. Na unidade I, começaremos a nossa jornada a partir de uma breve conceituação geral sobre o que é o Direito e Processo Penal, seus conteúdos, evolução e formas, conceituando-a e contextualizando. Ao estudarmos a norma penal, discutiremos seus conceitos, princípios e fontes. Já na unidade II, vamos ampliar nossos conhecimentos e passaremos a compreender as Teorias da Pena e do Delito, conceituando-as e contextualizando-as. Na sequência, estudaremos sobre o concurso de pessoas e de crimes e suas particularidades. A III unidade, é destinada ao estudo do Direito Processual Penal, que é a parte que instrumentaliza o direito penal material dentro do processo jurídico. É uma matéria ampla, extensa e com muitas nuances e relevância, na medida que a área penal infere diretamente na liberdade do indivíduo e, por assim ser, deve estar permeada de cuidados e garantias que não permitam qualquer ilegalidade ou excesso no exercício da jurisdição. E, por fim, na última unidade, trataremos especificamente sobre o Inquérito Policial, que nada mais é que um procedimento preparatório da ação penal, que possui administrativo, é conduzido pela polícia judiciária e se volta para a colheita preliminar de provas para apurar a prática de uma infração penal (materialidade e autoria). Finalizaremos ndo esta unidade com o estudo da ação penal, diferenciando a ação penal pública incondicionada, da ação pública condicionada e da ação privada. Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer esta jornada de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e profissional. Muito obrigada e bom estudo! Muito obrigado e bom estudo! UNIDADE I DAS ILAÇÕES INICIAIS SOBRE DIREITO PENAL Prof. Ma. Raiza Eloa Brambilla Catanio1 Plano de Estudo: ● Dos Conceitos Iniciais Fundamentais; ● Dos Princípios Constitucionais do Direito Penal; ● Das Fontes do Direito Penal; ● Da Interpretação e Integração das Leis Penais. Objetivos de Aprendizagem: Prezado (a) aluno (a), esta primeira Unidade acerca do estudo do Direito Penal e Processual Penal será dividida nos 04 tópicos, sendo eles: ● Dos conceitos iniciais fundamentais; ● Dos princípios constitucionais do direito penal; ● Das fontes do direito penal; ● Da interpretação e integração das leis penais. Neste material, abordaremos o conteúdo introdutório desta disciplina, iniciando com o estudo dos conceitos e princípios que norteiam as Garantias Penais; já na sequência, serão desenvolvidas explicações sobre as fontes penais e a Interpretação e Integração das Leis Penais, assuntos estes que são de extrema relevância e imprescindibilidade. 1 Mestra em Ciências Jurídicas pela Universidade Cesumar – UniCesumar, Especialista em Docência no Ensino Superior – Uniasselvi, Pós-graduanda em Ciências Penais – UEM. Assessora Jurídica no Tribunal de Justiça do Estado do Paraná – TJPR. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6265742338541943. E-mail: raizaeloa@hotmail.com. Desta forma, por meio da compreensão desta disciplina, serão expostos relevantes conceitos sobre o tema e, por consequência, a importância do Direito Penal e Processual Penal para o ordenamento jurídico brasileiro, na medida em confere maior segurança aos cidadãos, sempre respeitando a dignidade da pessoa humana e os direitos fundamentais constitucionais. INTRODUÇÃO Caro (a) aluno (a), nesta Primeira Unidade, sobre o Direito e Processo Penal interpretaremos est a disciplina, seu conteúdo, evolução e formas, conceituando-a e contextualizando-a. Ao estudarmos a norma penal, discutiremos seus conceitos, princípios e fontes e, desta forma, por meio do ensino, estabelecer a importância dessa área para o sistema judiciário, legislativo e executivo brasileiro, assim como contribuir para seu crescimento pessoal e profissional. Então, vamos lá! 1 DOS CONCEITOS INICIAIS FUNDAMENTAIS Fonte: 1703880322 Conceito de Direito Penal Por Direito Penal, entende-se como o ramo do ordenamento jurídico que define crimes, comina penas e prevê medidas de segurança aplicáveis aos autores das condutas incriminadas. Também pode ser visualizado sob a ótica protetiva, ou seja, como instrumento de garantia dos indivíduos contra a arbitrariedade do Estado. Podemos dizer que o Direito Penal, busca ordenar a boa convivência em sociedade e delimita em seu corpo normativo condutas que são consideradas criminosas e proibidas, que são penalizadas. Asúa, citado por Mirabete (2012) conceitua o Direito Penal como: Direito Penal é o conjunto de normas e disposições jurídicas que regulam o exercício do poder sancionador e preventivo do Estado, estabelecendo o conceito de crime como pressuposto da ação estatal, assim como a responsabilidade do sujeito ativo, e associado à infração da norma uma pena finalista ou uma medida de segurança. (ASÚA apud MIRABETE, 2012, p.23). O Direito Penal é um ramo do Direito público e é chamado do “direito das condutas ilícitas” e se divide em Direito Penal Objetivo e Direito Penal Subjetivo, sendo que este é a aplicação da punição penal pelo Estado, enquanto que aquele se refere à letrada lei, a legislação (JESUS, 1999). O Código Penal é nossa principal fonte, ou seja, é dele que emanam os comandos necessários para que ocorra a repressão aos crimes. O Código Penal é dividido em duas partes: a) Parte Geral: Não trata de crimes. Aqui estão previstas as regras de como os crimes irão se portar de acordo com a conduta de quem os praticou. Essa parte vai do Art. 1º ao Art. 120º. b) Parte Especial: Aqui estão previstos os crimes em espécie e as normas explicativas, bem como outros institutos que iremos trabalhar. A parte especial está prevista no Art. 121 ao Art. 359. A infração penal é o gênero que comporta duas espécies, ou seja, crime e contravenção penal. Em um primeiro plano, devemos ter em mente que a infração penal é uma divisão “dicotômica”, ou seja, o gênero só comporta duas espécies. No ordenamento jurídico brasileiro, crime é sinônimo de delito. Os crimes estão previstos na parte especial do Código Penal (Art. 121 ao Art. 359) e também na legislação especial (extravagante). As contravenções penais, por sua vez, estão previstas no Código das Contravenções Penais. É interessante notar que não podemos confundir as contravenções penais com os crimes de pequeno potencial ofensivo, pois estes últimos são crimes tratados na Lei especial 9.099/95. Alguns autores classificam a contravenção penal como sendo um “crime anão”. Lembrando que esta última nada tem a ver com crime, que é uma espécie diferenciada. Os crimes e as contravenções penais se diferem em sua essência pela gravidade das condutas descritas na lei. Os crimes (delitos) são mais graves devido às suas penas, ou seja, as penas aqui determinadas são de reclusão e detenção e, nas contravenções penais, as penas são de prisão simples e multa. Um ponto fundamental é termos em mente que todo crime gera um resultado, que pode se comportar de duas formas: a) Resultado jurídico: Todos os crimes geram resultados jurídicos, por esse motivo os crimes podem ser punidos em sua forma tentada. b) Resultado naturalístico: Somente os crimes materiais possuem esse tipo de resultado, mas isso veremos em outro tópico. Para que um indivíduo tenha a real capacidade de cometer uma infração penal, é importante entender alguns conceitos básicos: a) Deve existir uma conduta humana, ou seja, somente seres humanos possuem a capacidade de agredir; seres irracionais (animais) somente atacam. Contudo, caso um animal seja utilizado para o fim de atacar por uma pessoa, esta estará cometendo um crime. Exemplo: Homem que atiça seu cão contra um inimigo. b) O ser humano deve ter consciência do que está fazendo, por esse motivo quem comete o fato, estando em sonambulismo ou hipnose, não poderá responder pelo fato. c) A ação ou omissão deve ser voluntária, por esse motivo, os casos de coação física (exclui o crime) e coação moral irresistível (isenta de pena) não são punidos pelo ordenamento jurídico penal. d) A conduta deve ser propositada ou descuidada. Esses conceitos veremos no artigo 18 do Código Penal (CP), que trata especificamente do dolo e da culpa. É possível afirmar que o Direito Penal possui, ao menos, duas finalidades bem definidas, sendo elas: prevenção e retribuição. a) Finalidade Preventiva: teoria relativa - impedir a prática de novos delitos. E se subdivide em geral (ao ser aplicado o Direito Penal, a comunidade observa que a prática do ilícito gera a persecução penal com o consequente desincentivo à conduta semelhante) e especial (ao ser aplicado o Direito Penal, o agente infrator sofre a pena prevista no Direito Penal, servindo, portanto, como desincentivo à repetição da conduta reprimida penalmente). b) Finalidade Retributiva: teoria absoluta - a pena do Direito Penal seria apenas um castigo ao agente infrator, ou seja, não há outra finalidade que não seja impor sofrimento àquele que praticou uma conduta ilícita. Ainda, sendo a doutrina majoritária, o Direito Penal Positivo, é: a) Finalista: tem como objetivo a proteção de bens jurídicos, eficazmente protegidos pela lei penal. b) Valorativo: os bens jurídicos devem ser relevantes, sendo que existe uma ordem de valores que valora os fatos conforme sua gravidade, ou seja, quanto maior a gravidade do fato, maior a pena. Ex: a pena do delito de homicídio é maior que a pena do delito de roubo, pois a tutela da vida humana é mais relevante que a tutela do patrimônio. c) Sancionador: há um reforço quanto à tutela jurídica dos bens regidos pela legislação extrapenal. Veja os ensinamentos de Magalhães Noronha (1991, p. 5) sobre o assunto: O Direito Penal é ciência cultural normativa, valorativa e finalista. Na divisão de ciência natural e cultural, pertence ele a esta classe, ou seja, à das ciências do dever ser e não o à do ser [...]. É ciência normativa, pois se tem por objeto o estudo da norma [...], é também Direito Penal valorativo [no sentido que] o direito valoriza suas normas, que se dispõe em escalas hierárquicas [...]. Outro caráter seu é ser finalista, [...] tem o direito um escopo que se resume na proteção do bem ou interesse jurídico. (grifo do autor) Função do Direito Penal Para a maioria da doutrina, o Brasil adotou como função do Direito Penal a proteção de bens jurídicos, corrente criada e defendida por Claus Roxin (2006, p. 51): Na Alemanha, a finalidade do direito penal aqui exposta, da qual já derivam na maior parte dos casos os seus limites, é caracterizada como "proteção subsidiária de bens jurídicos". São chamados bens jurídicos todos os dados que são pressupostos de um convívio pacífico entre os homens, fundado na liberdade e na igualdade; e subsidiariedade significa a preferência a medidas sócio-políticas menos gravosas. De maneira substancialmente análoga diz-se também que o direito penal tem a finalidade de impedir danos sociais, que não podem ser evitados com outros meios, menos gravosos. Proteção de bens jurídicos significa, assim, impedir danos sociais. Bens jurídicos se referem aos valores/interesses do indivíduo que determinada sociedade entende como fundamentais e que, por tal razão, devem ser objeto de especial proteção do Estado. Ex.: vida, liberdade, honra, imagem etc. 2 DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PENAL Fonte: 243122509 Como dito anteriormente, o Direito Penal é um importante instrumento de preservação dos direitos e garantias do indivíduo em face do Estado Punidor. É neste contexto que se verifica a relevância dos princípios do Direito Penal, que servem como limitadores do poder punitivo estatal. Diante da importância do tema, os princípios mais relevantes para o Direito Penal e, consequentemente, para os concursos públicos serão comentados a partir de agora. Princípio da Legalidade: é a exigência de lei, em sentido estrito, para a criação de crimes ou contravenções e cominação de penas. Tal princípio é previsto no Art. 1º do Código Penal, que dispõe que não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”. E o que é lei em sentido estrito? Lei em sentido estrito é a espécie normativa que atenda, cumulativamente, ao critério material (conteúdo) e critério formal (processo legislativo) de lei. Princípio da Presunção de Inocência: está previsto no art. 5º, LVIII, da CF (Constituição Federal) e determina que: “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. Princípio do Devido Processo Legal: “Ninguém será privado de sua liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal” (art. 5º, LIV e LV da CF). Princípio da Intransmissibilidade da Pena: elencado no art. 5º, XLV, da CF, dispõe que: “Nenhuma pena passará da pessoa do condenado”. A pena não passará da pessoa do condenado, ou seja, uma vez que o agente infratormorra, as penas à ele aplicadas não podem ser estendidas aos seus sucessores. Há muita confusão entre os efeitos penais e cíveis da condenação penal. Por exemplo, um efeito penal seria o condenado deixar de ser considerado primário (reincidência), por outro lado, um efeito cível seria o dever do criminoso de reparar os danos causados à vítima. Segundo o princípio da intranscendência da pena, apenas o efeito penal se restringe à pessoa do condenado (morre com ele), ao passo que o efeito cível pode ser estendido aos sucessores, desde que no limite do valor da herança. Princípio da Individualidade da Pena: “As penas devem ser individualizadas, ou seja, devem ser aplicadas caso a caso” (art. 5º, XLVI, da CF). A sanção penal deve levar em consideração as circunstâncias pessoais do agente. Princípio da Intervenção Mínima: a aplicação do Direito Penal só será legítima quando a criminalização de um fato se constitui meio indispensável à proteção de determinado bem jurídico. Subprincípios: Princípio da Subsidiariedade - A atuação do Direito Penal é cabível unicamente quando os outros ramos do Direito e os demais meios estatais de controle social tiverem se revelado impotentes para o controle da ordem pública. Princípio da Fragmentariedade - Nem todos os ilícitos configuram infrações penais, mas apenas os que atentam contra valores fundamentais da sociedade. Princípio da Ofensividade: não há infração penal quando a conduta não tiver oferecido ao menos perigo de lesão ao bem jurídico (MASSON, 2017, p. 53). Trata-se de uma classificação que leva em conta a existência de efetiva lesão ao bem jurídico ou a exposição deste a uma situação de perigo (concreto ou abstrato). Crime de Lesão - É aquele cuja consumação somente se produz com a efetiva lesão ao bem jurídico. Ex: homicídio (CP, Art. 121). Crime de Perigo Abstrato - É aquele cuja consumação ocorre pela prática da conduta descrita no tipo penal, independentemente de lesão ao bem jurídico. Ex.: porte ilegal de arma de fogo (Lei nº 10.826/03, Art. 14). Crime de Perigo Concreto - É aquele cuja consumação exige a efetiva comprovação, no caso concreto, da ocorrência da situação de perigo. Ex.: direção perigosa (CTB, Art. 311). Princípio do Contraditório: “Todas as partes serão consideradas da mesma forma no processo, tendo as mesmas possibilidades e oportunidades durante o mesmo” (art. 5º, LV, da CF). Princípio da Ampla Defesa: “As partes podem utilizar, no processo, todos os meios de defesa não proibidos pela lei” (art. 5º, LV, da CF). 3 DAS FONTES DO DIREITO PENAL Fonte: 633750290 O Direito Penal possui os seguintes tipos de fontes: Fonte Material: fatos sociais (Moral, Economia, Sociologia). Ex: violência doméstica. Fontes Formais: trata-se da fonte pela qual o direito se manifesta, é a norma jurídica propriamente dita. As fontes formais do Direito Penal se subdividem em mediatas e imediatas. A Fonte Formal Imediata do Direito Penal é a lei, pois somente a lei pode dizer o que é crime e definir sua punição. As Fontes Formais Mediatas são os costumes, os princípios gerais do direito, a analogia e a equidade. O Direito Penal incriminador admite apenas a lei como fonte (princípio da legalidade), o não-incriminador admite todas as outras fontes. SAIBA MAIS Medidas Provisórias podem tratar sobre Direito Penal? A ideia é simples: não se podem criar crimes ou cominar penas (agravar a situação do réu) por meio de medida provisória. Contudo, caso a medida provisória, que disciplina matéria de Direito Penal, seja benéfica do ponto de vista do réu, nada impede sua utilização. Ex.: prorrogação da abolitio criminis temporária para a posse ilegal de arma de fogo de uso permitido. Em suma, medida provisória in bonam partem, ou seja, benéfica, é permitida. Fonte: Emenda Constitucional de n. 32. # SAIBA MAIS # Analogia Espécie de integração legislativa, cuja sua finalidade é preencher as lacunas legislativas. A lógica a ser aplicada é a mesma em relação à medida provisória, portanto, é possível a utilização da analogia em benefício do réu (in bonam partem). Quadro 1: In Malam Partem É aplicada analogia em desfavor do réu, sua aplicação é proibida no Direito Penal brasileiro. Ex.: furto de sinal de TV a cabo (Art. 155, §3º, do CP) In Bonan Partem É aplicada em benefício do réu, sua aplicação é admitida no Direito Penal brasileiro. Ex.: aborto sentimental (CP, Art. 128, II) no estupro de vulnerável (CP, Art. 217-A). Fonte: Recentemente, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu pela criminalização da homofobia (Info 944) com base no Art. 20 da Lei nº 7.716/89 “Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pena: reclusão de um a três anos e multa”. Da leitura do dispositivo legal, verifica-se que não consta a discriminação em relação à orientação sexual. Dessa forma, ao criminalizar a homofobia ao arrepio do princípio da taxatividade, o STF decidiu com aplicação da analogia in malam partem. Não há dúvidas de que o tema vai ser abordado nos concursos públicos, contudo, em uma questão do tipo certo/errado, sugiro que assinalem o entendimento clássico, ou seja, a analogia é aplicada apenas em benefício do acusado. Entretanto, caso o enunciado seja específico e trate do julgamento acima, a resposta deverá ser aquela de acordo com a decisão do STF. Costumes Os costumes são fontes informais do Direito Penal, trata-se de condutas reiteradas cuja obrigatoriedade é acrescida aos indivíduos. É possível a atipicidade com fundamento nos costumes? A resposta é NÃO. Se a criação do tipo penal (crime) exige uma lei em sentido estrito, da mesma forma, a revogação deverá obedecer ao mesmo meio, tudo isso, em respeito ao princípio da simetria. Por exemplo, apesar de ser muito comum, até tolerada pelo Poder Público, o comércio de DVDs piratas, tal conduta continua a ser típica (criminosa) e, portanto, deve sofrer a repressão do Direito Penal. Por tal princípio, não é possível a revogação de um tipo penal por meio de costume jurídico, ou seja, não é possível alegar a adequação social como circunstância apta a não tipificar o crime/contravenção. Jurisprudência Refere-se ao conjunto de decisões sobre interpretações de leis, feita pelos tribunais de determinada jurisdição e poderá ser observada na falta ou omissão de lei, e ser contrária à lei. Equidade Trata-se da adaptação de regra existente sobre situação concreta que prioriza critérios de justiça e igualdade. É a adaptação da lei e da própria justiça a cada caso. Tércio Ferraz Sampaio Júnior (2008, p. 185) exemplifica a questão quando aborda a questão do furto de energia: O furto de energia elétrica que, quando passou a representar um problema para a ordem jurídica, não era configurado por nenhum tipo penal (que falava em furtar coisa móvel, não se enquadrando energia elétrica como tal, devendo, então, por força do princípio nullun crimin nulla poena sine lege, ser admitido como comportamento penalmente admissível). Todavia, deve-se ter cuidado, uma vez que o Direito Penal possui como máxima o princípio do in dubio pro reo, que traduzido, dispõe que em casos de dúvida, deve-se beneficiar o réu (MAXIMILIANO, 2011, p. 265). Assim, a equidade, bem como a analogia não podem ser utilizadas de forma desmedida e descabida. Doutrina Produção feita por pensadores, juristas e filósofos do direito, que estudam a temática e tecem considerações e interpretações sobre o assunto, podem clarear a aplicabilidade do direito e sua compreensão no caso concreto. Das normas penais A lei penal é a única fonte formal direta do Direito Penal. No Brasil, ela é constituída pelo Código Penal, pela Lei de ContravençõesPenais, Código Penal Militar, Lei de Segurança Nacional e pelos dispositivos referentes à matéria na Lei de Imprensa, economia popular, tóxicos, falência, alimentos etc. Quadro 2: Estrutura Lógica da Norma Penal: Hipótese legal, previsão fática ou antecedente (PRÓTASE) CONDUTA HUMANA Consequência jurídica, efeito ou estatuição (APÓDOSE) SANÇÃO PENAL Fonte: Normas Penais em Branco Trata-se de uma norma incompleta que, para ter sentido, exige uma complementação por meio de lei ou outro ato normativo. É uma técnica bastante interessante para evitar a ineficácia prática de dispositivos legais que regulam matérias sujeitas à rápida evolução/alteração. É o que ocorre, por exemplo, com o Art. 33, caput, da Lei de Drogas: Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. Percebe-se que o dispositivo legal tipifica o tráfico de drogas, mas sem informar quais substâncias poderiam ser classificadas como tais. Diante disso, coube a uma portaria editada pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) trazer o rol dessas substâncias. A razão é simples: é muito mais célere a alteração de uma portaria para fazer incluir uma nova substância entorpecente do que ser obrigado a deflagrar o processo legislativo, caso o conceito de droga constasse em lei. Classificação da Norma Penal em Branco O tema é bastante recorrente em provas de concurso público, razão pela qual é importante o aluno se atentar às diversas classificações da norma penal em branco. Norma Penal em Branco Homogênea (Imprópria) A norma penal em branco homogênea é aquela cujo complemento se dá por meio da mesma espécie normativa, no caso, a lei. Tal espécie se subdivide em: HOMOVITELÍNEA ou HETEROVITELÍNEA. A Norma Penal em Branco Homogênea Homovitelínea é aquela cujo complemento se dá por meio da mesma lei da norma incompleta. Por exemplo, é o Art. 312, caput, do Código Penal (peculato): Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. O conceito de funcionário público consta no Art. 327 do Código Penal, ou seja, mesmo diploma legal do tipo penal incompleto. Por outro lado, a Norma Penal em Branco Homogênea Heterovitelínea é aquela cujo complemento se dá por meio de uma lei diferente. É o que ocorre com o Art. 237 do Código Penal, que é mostrado que: “Art. 237 - Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta: Pena - detenção, de três meses a um ano”. As causas de impedimento para o casamento encontram-se elencadas no Art. 1.521 do Código Civil, ou seja, em diploma legal diverso do Código Penal. Norma Penal em Branco Heterogênea (Própria) A Norma Penal em Branco Heterogênea é aquela que o complemento se dá por meio de espécie normativa diversa da norma penal incompleta, por exemplo, por meio de um decreto ou portaria. É o que ocorre com o Art. 33 da Lei de Drogas, já mencionada anteriormente. Norma Penal em Branco ao Avesso (Invertida) Em regra, a complementação da norma penal em branco ocorre no preceito primário (descrição do tipo penal). Contudo, quando a necessidade de complemento se dá no preceito secundário (pena), tem-se a norma penal em branco ao avesso. Por exemplo, é o que ocorre no crime de genocídio (Lei nº 2.889/56): Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal: (Vide Lei nº 7.960, de 1989) a) matar membros do grupo; b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo; c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial; d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo; Será punido: Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra a; Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b; Com as penas do art. 270, no caso da letra c; Com as penas do art. 125, no caso da letra d; Com as penas do art. 148, no caso da letra e. Norma Penal em Branco ao Quadrado A Norma Penal em Branco ao Quadrado é aquela que ocorre quando a lei penal exige um complemento normativo para sua compreensão e este complemento faz referência a outro ato normativo. Por exemplo, o Art. 38 da Lei 9.605/98 tipifica a conduta de destruir ou danificar florestas de preservação permanente. Ao seu turno, o conceito de área de preservação permanente é dado pelo Código Florestal. Por fim, dentre as hipóteses constantes no Código Florestal, há aquela que pode ser declarada por ato normativo do Chefe do Poder Executivo. REFLITA O fato do complemento da norma penal não se dar por meio de lei em sentido estrito violaria o princípio da legalidade? A resposta é NÃO. Segundo a jurisprudência dos Tribunais Superiores, ainda que o complemento da norma penal em branco não seja lei em sentido estrito (por exemplo, portaria), tal circunstância não viola o princípio da legalidade. Dito de outra forma, é admissível a técnica da norma penal em branco, desde que a norma incompleta tenha densidade suficiente para satisfazer o princípio da taxatividade, deixando para o complemento apenas a função de complementar os elementos essenciais do tipo penal. Fonte: Supremo Tribunal Federal e Resolução nº. 104/00. # REFLITA # 4 DA INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DAS LEIS PENAIS Fonte: 1029430792 A palavra interpretação não pertence exclusivamente aos estudiosos do direito. Ao contrário, é empregada com frequência nos múltiplos ramos do conhecimento e na própria vida comum. Há sempre alguém que traduz o pensamento de seus pares, de seus companheiros. E os homens parecem gostar da interpretação, porque mexe com o raciocínio, quebra a monotonia, empolga. É fácil, pois, compreender que o significado trivial do termo não sofreria radicais transformações no campo do direito. Interpretar é explicar, é precisar, é revelar o sentido. E outra coisa não se faz ao se interpretar um preceito legal como medida indiscutivelmente útil e necessária. Em suma, é a atividade que consiste em extrair da norma penal seu exato alcance e real significado, buscando assim a “vontade da lei”, associada a todo o contexto jurídico. Interpretar um texto normativo significa captar sua essência, compreendê-lo, esclarecendo e fixando seu sentido e alcance. Deve ser a lei, primeiramente, objeto de interpretação, para, em seguida, ser devidamente aplicada ao caso que se busca solucionar (interpretação aplicação). A atividade interpretativa não pode ser desvinculada do ordenamento jurídico e do contexto histórico-cultural e social em que se encontra imersa (ex. Estado de Direito). Hermenêutica, interpretação e aplicação do Direito são termos estreitamente relacionados. A Hermenêutica, denominada ciência da interpretação, tem por objeto a investigação sistemática dos princípios e leis que disciplinam a apuração do conteúdo, do sentido e dos fins das normas jurídicas, com vistas à sua aplicação. A interpretação, de seu turno, procura realizar, praticamente, os princípios e regras hermenêuticos. A aplicação das normas jurídicas consiste na técnicada adaptação dos preceitos nelas contidos às situações de fato concretas. Métodos de Interpretação O Método Filológico ou Literal consiste na reconstrução do pensamento legislativo através das palavras da lei, em suas conexões linguísticas e estilísticas. A Interpretação Filológica ou Literal, porém, é apenas a primeira etapa do processo interpretativo, pois as palavras podem ser equívocas ou deficientes. Ex: art. 141, IV, CP (aumento de pena nos crimes contra a honra - várias pessoas são quantas pessoas? 3 ou mais), art. 157, §2º, II (duas ou mais pessoas). Método Teleológico: Junto ao momento lógico, deve-se levar em conta a finalidade da norma penal – a ratio legis, que determina o seu valor normativo (proteção de bens jurídicos). Ex: art. 159, CP. A interpretação teleológica busca a vontade da lei (voluntas legis) e não a vontade do legislador (voluntas legislatoris). Investiga-se a vontade atual da lei, e não a vontade do momento de seu surgimento. Ex: razões da condição do sexo feminino no feminicídio (art. 121, §2º-A, CP). A Interpretação Sistemática considera o sistema formado pelas leis, além da norma interpretada. Ex: art. 218-B, §2º, I combinado com art. 217-A, CP. A Interpretação Histórica justifica-se pela ligação entre o Direito vigente e a sua origem (projetos de lei, discussões das comissões, Exposição de Motivos do Código Penal). Ex: art. 121, §1º (Eutanásia – motivo de relevante valor moral). Ratio legis (razão da lei) + Occasio legis (ocasião do surgimento da lei). Interpretação quanto ao seu Autor A Interpretação Autêntica consiste na explicitação do conteúdo de um preceito legal por parte do próprio órgão do qual emana. O legislador edita uma nova lei com o objetivo de aclarar o sentido e o alcance de uma disposição já existente. Exemplos: art. 150, §§3º e 4º (conceito de “casa”); art. 121, §2º-A (Feminicídio), art. 327 (conceito penal de funcionário público). A Interpretação Judicial é aquela levada a cabo pelos órgãos jurisdicionais com o intuito de aplicar a lei de acordo com a vontade nela insculpida. Embora os magistrados e tribunais não criem a lei, podem dar lugar a novas possibilidades ao adaptarem o sentido da lei à realidade, exercendo, desse modo, uma função “criadora”, mas não válida para normas incriminadoras, apenas para descriminalizar. Exemplo: Súmulas vinculantes (EC 45/04), Súmula 11 – uso de algemas. A Interpretação Doutrinária consiste na exposição do conteúdo do Direito (normas e institutos jurídicos) pelos jurisconsultos (doutrinadores, professores de Direito, pareceristas etc.). Não é cogente (=obrigatória), mas tem grande valor científico, podendo se tornar lei quando aceita pelo legislador ou acatada pela jurisprudência. Interpretação quanto ao Resultado A Interpretação Declarativa declara o sentido linguístico (concordância entre o resultado da interpretação gramatical e o da sistemática). Ex: criminalização da homofobia como “racismo” – STF; cena de nudez (art. 216-B) – não abarca áudios nem roupas íntimas. Na Interpretação Restritiva, a conclusão é de que o legislador se exprimiu de forma ampliativa, foi além de seu pensamento. Ex: art. 217-A, §1º (estupro de vulnerável) A Interpretação Extensiva se destina a corrigir uma fórmula legal muito estreita. Ex: bigamia abarca poligamia (art. 235), serviço ferroviário e também de metrô (art. 260, CP). Ambas as formas de interpretação, extensiva e restritiva, podem ser reunidas sob a denominação comum de interpretação corretiva, pois se trata de ajustar os resultados da interpretação sistemática e gramatical. Integração das Leis Penais O processo de integração do ordenamento, com vistas a suprir as lacunas jurídicas, pode-se dar, segundo Carnelutti (1986, p.116), através do processo de autointegração ou de heterointegração. A Autointegração opera-se através do recurso à analogia e aos princípios gerais do Direito. Ex: Feminicídio. Através de tais recursos, o legislador presume que a solução para as lacunas deve ser encontrada no próprio âmbito das leis vigentes, sem recorrer a outros ordenamentos ou a fontes diversas da lei. Heterointegração significa o recurso a outras fontes normativas para a solução da lacuna e assume três formas: o recurso ao costume como fonte subsidiária da lei; o recurso à jurisprudência ou Direito judiciário, que apela ao poder criativo do juiz e à sua capacidade de emitir juízos de equidade; e, finalmente, a opinião dos juristas, ou o Direito científico (doutrina). CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta Unidade, pudemos adentrar no estudo do Direito Penal e compreender um pouco mais sobre essa matéria que integra o Direito Público brasileiro e se constitui como um elemento indispensável para a vida em sociedade. Como bem salientado no início de nossos estudos, o Direito Penal possui duas finalidades, uma preventiva, que objetiva impedir a prática de novos delitos e uma retributiva, que entende o direito penal como um castigo ao agente infrator. É importante entendermos a temática e tudo mais que a compõem, visto que por ser um direito codificado que impõe deveres e penalidades em casos de descumprimentos, é de fundamental relevância entender os pormenores desta área e garantir a aplicabilidade do direito nos termos da justiça, não se permitindo que qualquer ilegalidade ou afronta a direitos fundamentais do homem se constituam e integrem a sociedade brasileira, que é pautada em princípios democráticos e justos. Em nossos tópicos, desta unidade, pudemos adentrar no estudo deste ramo e iniciar nossa compreensão sobre o assunto, abordando conceitos, princípios e aplicabilidades desta área. LEITURA COMPLEMENTAR Título: Introdução crítica ao direito penal brasileiro Autor: Nilo Batista Editora: Revam Sinopse: Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro entrega ao leitor as chaves necessárias para desarticular criticamente um direito penal com ênfase no enfoque lesa- majestade, fornecendo a possibilidade de reconstrução de um verdadeiro direito penal das garantias. LIVRO Título: Direito Penal Autor: Cleber Massom Editora: Metodo Sinopse: Este primeiro volume da coleção Direito Penal apresenta a análise completa dos Títulos I a VIII da Parte Geral do Código Penal (arts. 1º a 120), e está estruturado em três unidades principais: Teoria Geral do Direito Penal, Teoria Geral do Crime e Teoria Geral da Pena.O livro engloba temas como escolas penais e evolução doutrinária da disciplina; conceito e classificação do crime; erro de tipo; tentativa, desistência e arrependimento; concurso de pessoas; concurso de crimes; espécies de penas; ação penal; extinção da punibilidade, entre tantos outros. A Coleção Direito Penal abrange as mais diversas questões inerentes a essa disciplina, razão pela qual é indicada ao público universitário, a quem se prepara para provas e concursos públicos em geral e aos operadores do Direito Penal.Com a utilização de recursos didáticos, Cleber Masson alia a abordagem da doutrina clássica com as mais recentes ideias penais, surgidas tanto no Brasil como no Direito Comparado, e examina minuciosamente a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça. FILME/DOCUMENTÁRIO Documentário: JUSTIÇA Direção e Roteiro: Maria A. Ramos Data de Lançamento: 2004 Sinopse: Este documentário (disponível no YouTube) expõe o dia a dia do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e todos seus personagens (servidores públicos, réus, familiares, etc.) e oferece ao público uma reflexão sobre o sistema judicial brasileiro e as estruturas de poder vigentes no país. REFERÊNCIAS ANVISA. Resolução 104, de 06 de dezembro de 2000. BRASIL.Constituição (1988). Emenda constitucional nº 32, de 11 de setembro de 2001. BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 31 dez. BRASIL. Lei 2.889, de 01 de outubro de 1956. Define e pune o crime de genocídio. Brasília, 1956. BRASIL. Lei 7.716, de 05 de janeiro de 1989, Brasília, 1989. BRASIL. Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Brasília, 1998. BRASIL. Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas – Sisnad e dá outras providências. Brasília, 2006. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. CARNELUTTI, Francesco. Sistema di diritto processuale civile, v. I, 1986, p. 116. FERRAZ JUNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, dominação. São Paulo: Atlas. 2008, p. 185. JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. 23 ed. v. 01. São Paulo: Saraiva, 1999. MASSON, Cleber. Direito Penal. V. 1, 2017. MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 20. ed. Rio de Janeiro: Forense. 2011, p. 265. MIRABETE, Júlio Fabbrini Mirabete - Manual de Direito Penal - Parte Geral - (pág. 01 a 157). São Paulo Ed Atlas- 2012. NORONHA, E. Magalhães (1906-1982). Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 1991. ROXIN, Claus. Estudos de Direito Penal. Rio de Janeiro: RE Novar, 2006. Tradução de Luís Greco. Disponível em: http://arquimedes.adv.br/livros100/Estudos%20de%20Direito%20Penal%20- %20Claus%20Roxin.pdf. Acesso em: 09 set. 2021. UNIDADE II DA TEORIA DA PENA E DO DELITO Prof. Ma. Raiza Eloa Brambilla Catanio1 Plano de Estudo: ● Da Aplicabilidade da Lei Penal no tempo e no espaço; ● Das penas: teorias, princípios e execução provisória da pena; ● Da teoria dos crimes: crime e contravenção penal, classificação e tipos de crimes; ● Do concurso de pessoas e de crimes. Objetivos de Aprendizagem: Prezado (a) aluno (a), esta Segunda Unidade acerca do estudo do Direito Penal e Processual Penal será dividida nos 04 tópicos, sendo eles: ● Da aplicabilidade da lei penal no tempo e no espaço; ● Das penas: teorias, princípios e execução provisória da pena; ● Da teoria dos crimes: crime e contravenção penal, classificação e tipos de crimes; ● Do concurso de pessoas e de crimes. Neste material, após o conteúdo introdutório da unidade anterior, passaremos ao estudo da Teoria da Pena e do Delito, conceituando os tópicos acima elencados e seus respectivos desdobramentos. Desta forma, por meio da compreensão desta disciplina, serão expostos relevantes conceitos sobre o tema e, por consequência, a importância do Direito Penal e Processual Penal para o ordenamento jurídico brasileiro, na medida em confere maior 1 Mestra em Ciências Jurídicas pela Universidade Cesumar – UniCesumar, Especialista em Docência no Ensino Superior – Uniasselvi, Pós-graduanda em Ciências Penais – UEM. Assessora Jurídica no Tribunal de Justiça do Estado do Paraná – TJPR. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6265742338541943. E-mail: raizaeloa@hotmail.com. segurança aos cidadãos, sempre respeitando a dignidade da pessoa humana e os direitos fundamentais constitucionais. INTRODUÇÃO Caro (a) aluno (a), nesta Segunda Unidade, sobre o Direito e Processo Penal estudaremos o conteúdo com um pouco de especificidade, uma vez que passaremos a compreender as Teorias da Pena e do Delito, conceituando-a e contextualizando-a. Ao estudarmos a norma penal, discutiremos seus conceitos, princípios e fontes e, desta forma, por meio do ensino, estabelecer a importância desta área para o sistema judiciário, legislativo e executivo brasileiro, assim como contribuir para seu crescimento pessoal e profissional. Então vamos lá! 1 DA APLICABILIDADE DA LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO Fonte: 258602471 Tempo do Crime De acordo com o art. 4º do CP (Código Penal) é mostrado que “Considera-se praticado o crime no MOMENTO DA AÇÃO OU OMISSÃO, ainda que outro seja o momento do resultado”. Para determinar o tempo do crime, a doutrina criminal tem apresentado três teorias, quais sejam, a teoria da atividade, do resultado e da ubiquidade (mista). Teoria da Atividade: O crime ocorre no momento em que foi praticada a ação ou omissão, ou seja, a conduta criminosa. Ex.: o crime de homicídio é praticado no momento em que o agente dispara a arma de fogo com a intenção de matar a vítima; Teoria do Resultado: O crime ocorre no momento em que ocorreu o resultado. Ex.: o crime de homicídio é praticado no momento em que a vítima morreu, ainda que outro tenha sido o momento da ação; Teoria da Ubiquidade: Também conhecida por teoria mista, já que para esta teoria o crime ocorre tanto no momento em que foi praticada a ação ou omissão (atividade) como quando se produziu, ou deveria se produzir o resultado (resultado). O Código Penal adota claramente, em seu artigo 4º, a Teoria da Atividade para determinar o tempo do crime. A adoção da teoria da atividade para a determinação do tempo do crime apresenta algumas consequências: a) Aplica-se a lei em vigor ao tempo da conduta, exceto se a do tempo do resultado for mais benéfica. b) Apura-se a imputabilidade NO MOMENTO DA CONDUTA. c) Nos crimes permanentes, enquanto perdura a ofensa ao bem jurídico (Exemplo: extorsão mediante sequestro), o tempo do crime se dilatará pelo período de permanência. Assim, se o autor, menor, durante a fase de execução do crime vier a atingir a maioridade, responderá segundo o Código Penal e não segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente — ECA (Lei n. 8.069/90). d) Nos crimes continuados em que os fatos anteriores eram punidos por uma lei, operando-se o aumento da pena por lei nova, aplica-se esta última a toda unidade delitiva, desde que sob a sua vigência continue a ser praticado, “Súmula 711, STF - a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.” e) No Crime Habitual em que haja sucessão de leis, deve ser aplicada a nova, ainda que mais severa, se o agente insistir em reiterar a conduta criminosa. Lugar do Crime Foi visto que, em relação à lei penal no tempo, é aplicada a Teoria da Atividade, ou seja, considera-se praticado o crime no momento da ação ou da omissão, independente do momento do resultado. O mesmo não acontece com o lugar do crime. A teoria adotada aqui é a da Ubiquidade Ou Mista, a qual afirma que é considerado local de crime tanto o local em que ocorrer a ação ou a omissão quanto o local que produziu ou que deveria se produzir o resultado, como é dito: “Art. 6º – Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado”. Vale dizer que o Art. 6º do CP só se aplica aos crimes à distância, crimes em que parte do crime acontece no Brasil, outra parte ocorre no estrangeiro. Diferente nos crimes plurilocais, em que a ação/omissão e resultado acontecem sempre no Brasil, aqui, portanto a regra não será mais a de definir o lugar do crime, uma vez que este já foi definido como o Brasil. No entanto, há um conflito de competência a ser resolvido pelo art. 70 do Código de Processo Penal (CPP) e que, por sinal, adota outra teoria: a do resultado: "Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticadoo último ato de execução”. Lei Penal no Tempo (artigos 2º e 3º do CP) A Lei Penal, assim como qualquer outro dispositivo legal, passa por um processo legislativo, ingressa no nosso ordenamento jurídico e vigora até a sua revogação, que nada mais é do que a retirada da vigência de uma lei. A regra geral no Direito Penal é a da prevalência da lei que se encontrava em vigor quando da prática do fato, ou seja, aplica-se a LEI VIGENTE quando da prática da conduta – Princípio do “tempus regit actum” – TEORIA DA ATIVIDADE (não confunda com a Teoria da Atividade para definição do momento do crime, já que, além de mesmo nome, uma define a atividade do AGENTE (momento da conduta ou atividade), a outra define a atividade da LEI (tempo de sua atividade ou validade / eficácia / vigência). Sendo assim, devemos sempre lembrar que: - REGRA GERAL: a lei penal incide sobre fatos ocorridos durante a sua vigência (tempus regit actum). Conflito de Lei Penal no Tempo Importante salientar que pode haver conflito no tempo sobre a aplicação da correta lei ao caso concreto, já que as leis se sucedem no tempo e podem (aparentemente) incidir de forma concomitante. Vejamos estas hipóteses: a) Novatio Legis Incriminadora: ocorre quando um indiferente penal (conduta considerada lícita frente à legislação penal) passa a ser considerado crime pela lei posterior. Neste caso, a lei que incrimina novos fatos é IRRETROATIVA, uma vez que prejudica o sujeito, aja visto no Art. 5° que “Art. 5º [...] XL – a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”; b) Lei Penal mais Grave – Lex Gravior: Aqui não temos a tipificação de uma conduta antes descriminalizada, mas a aplicação de tratamento mais rigoroso a um fato já constante como delito. Para esta situação também não há que se falar em retroatividade. c) Abolitio Criminis: O instituto da abolitio criminis ocorre quando uma lei nova trata como lícito fato anteriormente tido como criminoso, ou melhor, quando a lei nova descriminaliza fato que era considerado infração penal. Encontra embasamento no artigo 2º do Código Penal, que dispõe da seguinte forma: "Art. 2º – Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória”. Não se confunde a descriminalização com a despenalização, haja vista a primeira delas (descriminalização) retirar o caráter ilícito do fato, enquanto que a outra é o conjunto de medidas que visam eliminar ou suavizar a pena de prisão. Assim, na despenalização a conduta ainda é considerada um crime. Segundo os princípios que regem a Lei Penal no Tempo, a Lei Abolicionista É NORMA PENAL RETROATIVA, atingindo fatos pretéritos, ainda que acobertados pelo manto da coisa julgada. Isto porque o respeito à coisa julgada é uma garantia do cidadão em face do Estado. Logo, a lei posterior só não pode retroagir se for prejudicial ao réu. Entende a maioria da doutrina, inclusive o Supremo Tribunal Federal, que é perfeitamente possível abolitio criminis por meio de medida provisória. Cite-se como exemplo o seguinte julgado do STF: Medida provisória: sua inadmissibilidade em matéria penal – extraída pela doutrina consensual – da interpretação sistemática da Constituição – , não compreende a de normas penais benéficas, assim, as que abolem crimes ou lhes restringem o alcance, extingam ou abrandem penas ou ampliam os casos de isenção de pena ou de extinção de punibilidade. STF – AI 680.361/SC – DJ 9.03.2010: d) Lei Penal mais Benéfica: O artigo 2º do Código Penal dispõe que “Art. 2º[...] Parágrafo único – A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado”. A retroatividade é automática, dispensa cláusula expressa e alcança inclusive os fatos definitivamente julgados! Somente podemos falar em RETROATIVIDADE quando lei posterior for mais benéfica ao agente, em comparação àquela que estava em vigor quando o crime foi praticado. Um delito que é praticado durante a vigência de uma lei que posteriormente é revogada por outra prejudicial ao agente, ocorrerá a ULTRATIVIDADE da lei. Quando se diz que uma Lei Penal é dotada de ultratividade, quer-se afirmar que ela, apesar de não mais vigente, continua a vincular os fatos anteriores à sua saída do sistema. Do exposto, podemos resumir: RETROATIVIDADE: Fenômeno jurídico em que se aplica uma norma a fato ocorrido antes do início da vigência da nova lei. ULTRATIVIDADE: Fenômeno jurídico pelo qual há a aplicação da norma após a sua revogação. Lei Penal Excepcional e Temporária (art. 3º do CP) Como é mencionado no art. 3º do CP (Código Penal), é dito que “A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência”. Leis Temporárias: são aquelas que trazem em seu texto o tempo determinado de sua validade. Leis Excepcionais: são as que têm sua eficácia vinculada a um acontecimento do mundo fático, como, por exemplo, uma guerra. As leis excepcionais e temporárias são auto-revogáveis, ou seja, não há necessidade da edição de outra lei para retirá-las do ordenamento jurídico. É suficiente para tal o decurso do prazo ou mesmo o término de determinada situação. Para que sua aplicabilidade seja plena, o legislador percebeu ser necessária a manutenção de seus efeitos punitivos após sua vigência aos que afrontaram a norma quando vigorava. Desta forma, podemos afirmar que as Leis Excepcionais e Temporárias possuem Ultratividade, pois, conforme exposto, aplicam-se sempre ao fato praticado durante sua vigência. O fundamento da ultra-atividade é claro e a explicação está prevista na Exposição de Motivos do Código Penal, nos seguintes termos: É especialmente decidida a hipótese da lei excepcional ou temporária, reconhecendo-se a sua ultra-atividade. Esta ressalva visa impedir que, tratando- se de leis previamente limitadas no tempo, possam ser frustradas as suas sanções por expedientes astuciosos no sentido do retardamento dos processos penais. Lei Penal no Espaço (artigos. 5º e 7º do CP) O Código Penal trata de maneira detalhada da aplicação da Lei Penal no espaço e, assim, torna claro para a sociedade onde as normas definidas pelo Legislador Brasileiro serão aplicadas. A regra para dirimir conflitos e dúvidas é a utilização do princípio da territorialidade, ou seja, aplica-se a Lei Penal aos crimes cometidos em território nacional. Tal preceito encontra-se no Código Penal, cujo é dito no Art. 5° que: “Art. 5º – Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. Há exceções que ocorrem quando o brasileiro pratica crime no exterior ou um estrangeiro comete delito no Brasil. Fala-se, assim, que o Código Penal adotou o princípio da Territorialidade Temperada ou Mitigada. Princípio De Territorialidade: em termos jurídicos, território é o espaço em que o Estado exerce sua soberania política. Art. 5º [...] § 1º – Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto mar. § 2º – É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados abordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. Considera-seterritório brasileiro a porção geográfica, mais aquilo que se entende por território por extensão a) Porção Geográfica: compreende o espaço terrestre, aéreo, subsolo e até 12 milhas marítimas mar adentro; b) Porção por Extensão: compreende as embarcações e aeronaves públicas fora do território. Ainda se considera território por extensão as embarcações privadas a serviço do Brasil em território estrangeiro ou embarcações privadas em “mar de ninguém”. A embaixada estrangeira no Brasil NÃO é considerada território estrangeiro! Assim, se ocorrer um homicídio dentro dessa repartição, quem investigará ou julgará o caso será o Brasil, salvo em se tratando de autoridade com imunidade. Excepcionalmente, poderá ser aplicada a lei estrangeira em território brasileiro, como no caso de Tratado Internacional previsto entre países. É o que acontece quando o presidente norte americano vem ao Brasil e aqui bate em um brasileiro. Nesse caso, aplica-se a lei norte-americana ao presidente estadunidense. Isso é chamado de intraterritorialidade. O princípio da passagem inocente versa que se um fato é cometido a bordo de um navio ou avião estrangeiro de propriedade privada, que esteja apenas de passagem pelo território brasileiro, não será aplicado a lei brasileira, se o crime não afetar em nada interesses brasileiros. Princípio da Extraterritorialidade: O artigo 7ª do CP (Código Penal) inaugura o que se chama de extraterritorialidade da Lei Penal (aplicada apenas a crimes, contravenções nunca), a qual consiste na aplicação da Lei Penal fora do Brasil obedecidas algumas hipóteses. Assim, o Inciso I apresenta algumas situações em que sempre haverá aplicação da Lei Brasileira, independente se o agente foi absolvido ou cumpriu pena no estrangeiro. Por isso, o Inciso I do art. 7ª é chamado de extraterritorialidade incondicionada. Art. 7º – Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: i – os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do presidente da república; b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a Administração Pública, por quem está a seu serviço; d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; O Inciso II, parágrafos 1º e 2º do CP apresenta a chamada Extraterritorialidade condicionada. Para aplicar esse inciso, é preciso o agente do crime obedecer algumas situações. São elas: II – os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. § 1º – Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. § 2º – Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. ATENÇÃO - Aplicam-se as cinco condições cumulativamente! Por fim, ainda é preciso estudar outra hipótese de extraterritorialidade da Lei Penal Brasileira, tal qual chamada pela doutrina de hipercondicionada. Essa última hipótese se utiliza do princípio da nacionalidade passiva e deve ser aplicada ao estrangeiro que comete crime contra o brasileiro fora do Brasil, logo, há possibilidade de punir o estrangeiro caso sejam obedecidas as condições da Extraterritorialidade condicionada associada ao parágrafo 3º: § 3º – A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça. 2 DAS PENAS: TEORIAS, PRINCÍPIOS E EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA Fonte: 258602471 O que é pena? Basicamente, podemos conceituar a pena como a resposta do Estado a determinado indivíduo, tal qual consequência de uma infração penal praticada. Trata-se do exercício do ius puniendi. Outrora, as penas são restritas ao tipo penal e não são de aplicação automática e desmedida. O julgador deve fazer a análise do fato ao tipo e se manter atento às disposições legais. Como já dito anteriormente, o Direito Penal é um importante instrumento de preservação dos direitos e garantias do indivíduo em face do Estado Punidor. É nesse contexto que se verifica a relevância dos princípios do Direito Penal, que servem como limitadores do poder punitivo estatal. Diante da importância do tema, os princípios mais relevantes para o Direito Penal e para a Teoria da Pena serão comentados a partir de agora. Princípio da Legalidade: é a exigência de lei, em sentido estrito, para a criação de crimes ou contravenções e cominação de penas. Tal princípio é previsto no Art. 1º do Código Penal, que dispõe que não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”. E o que é Lei em sentido estrito? Lei em Sentido Estrito é a espécie normativa que atenda, cumulativamente, ao critério material (conteúdo) e critério formal (processo legislativo) de lei. Princípio da Intransmissibilidade da Pena: elencado no art. 5º, XLV, da CF (Constituição Federal), dispõe que: “Nenhuma pena passará da pessoa do condenado”. A pena não passará da pessoa do condenado, ou seja, uma vez que o agente infrator morra, as penas aplicadas não podem ser estendidas aos seus sucessores. Há muita confusão entre os efeitos penais e cíveis da condenação penal. Por exemplo, um efeito penal seria o condenado deixar de ser considerado primário (reincidência), por outro lado, um efeito cível seria o dever do criminoso de reparar os danos causados à vítima. Segundo o princípio da intranscendência da pena, apenas o efeito penal se restringe à pessoa do condenado (morre com ele), ao passo que o efeito cível pode ser estendido aos sucessores, desde que no limite do valor da herança. Princípio da Individualidade da Pena: “As penas devem ser individualizadas, ou seja, devem ser aplicadas caso a caso” (art. 5º, XLVI, da CF). A sanção penal deve levar em consideração as circunstâncias pessoais do agente. Princípio da Proporcionalidade: o agir do Estado deve ser proporcional, ou seja, devem ser observados os meios empregados e os fins que se deseja alcançar. Não devem existir excessos injustificados na pena. Princípio da Inderrogabilidade ou Inevitabilidade da Pena: a pena deve ser aplicada e cumprida de modo fiel ao que está previsto na legislação de cada tipo penal. Princípio da Dignidade da Pessoa Humana: trata-se de valor supremo garantido pela CF/88 em seu art. 1º, III. E no que diz respeito à pena, leva à interpretação de que nenhuma pena imposta deve se constituir como uma ofensa à integridade e dignidade da pessoa, sendo vedado reprimendas cruéis, degradantes e desumanas. Teorias da Pena Existem várias teorias que buscam estudar e compreender a finalidade da pena, seguindo óticas distintas, mas todas relevantes ao conteúdo. Vejamos. Teoria Agnóstica da Pena: segundo esta teoria desenvolvida pelo jurista argentino Eugenio Raúl Zaffaroni (2015), a pena cumpre apenas a função de degenerar as pessoas que vierem a cometer alguma infração penal, pois, conforme os argumentosdo autor, existem estudos que comprovariam a impossibilidade de ressocialização do apenado. Para Zaffaroni, a pena não teria as funções preventivas e retributivas, que foram estudadas na unidade anterior, e se constitui como mero ato de poder político. Teoria Absoluta ou Retributiva da Pena: para esta teoria, o agente que cometer o delito deverá ser punido exclusivamente por ter delinquido. Essa teoria entende que a pena tem como objetivo retribuir o agente pela prática do crime. Seria uma resposta ao mal causado. É uma consequência do descumprimento da lei e não leva em consideração políticas criminais de ressocialização e recuperação do apenado (GRECO, 2016, p. 585). Teoria Relativa da Pena: ao contrário da teoria anterior, que possui caráter retributivo, essa teoria é preventiva e compreende que a imposição de uma pena busca prevenir que novos fatos criminosos venham a ser praticados (reincidência). Essa teoria da pena possui uma função além da punição pelo delito, ela tem um viés de ressocialização (BITENCOURT, 2013, p. 143). Teoria Mista ou Unificadora da Pena: esta teoria apresenta um conjunto dos interesses da Teoria Absoluta e da Teoria Relativa da Pena. É um misto dess as duas teorias cujo objetivo e finalidade são retribuir o indivíduo pelo mal causado com o cometimento do delito e, também, prevenir a prática de delitos futuros, não deixando de se atentar às políticas criminais e ressocialização do indivíduo. É a teoria que mais se amolda ao sistema adotado no Brasil. Execução Provisória da Pena A Execução Provisória da Pena nada mais é que o réu cumprir a pena imposta em uma decisão, mesmo que não haja o trânsito em julgado daquela decisão. Todavia, tal Execução Provisória da Pena viola o princípio da presunção de inocência, previsto no art. 5º, LVII, da CF/88, que diz que “LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. No decorrer dos anos, vários foram os entendimentos do STF (Supremo Tribunal Federal) a respeito do assunto, contudo, em 07 de novembro de 2017, o STF, ao julgar as ADCs (Ações Declaratórias de Constitucionalidade) 43, 44 e 54 (Rel. Min. Marco Aurélio), firmou o entendimento de que, o cumprimento da pena somente pode ter início com o esgotamento de todos os recursos previstos no ordenamento jurídico e aplicáveis à situação, sendo proibida a Execução Provisória da Pena. Ademais, o artigo 283 do Código de Processo Penal, prevê o trânsito em julgado — quando todos os recursos jurídicos são esgotados — como necessário para estabelecer as condições da prisão. Partindo desse entendimento, a prisão antecipada fere a presunção de inocência do indivíduo, sobretudo diante do contido no inciso LVII, do art. 5º, da CF/88. Não é demais esclarecer que, se o CPP (Código de Processo Penal) nos oferece uma gama de recursos e instâncias, como antecipar a execução sem esgotar as possibilidades? Para legitimar uma prisão em 2º instância, seria necessário alterar o artigo 283 CPP. 3 DA TEORIA DOS CRIMES Fonte: shutterstock Conceitos de Crime O crime pode ser conceituado levando em conta quatro aspectos. Vamos conhecê-los. a) Critério Material (Substancial): Crime segundo o Critério Material é toda ação ou omissão humana que lesa ou expõe a perigo bens jurídicos tutelados pelo direito. Segundo esse conceito, não basta a lei dispor sobre uma conduta ilícita, mas também, há que ser verificada a relevância do mal produzido pelo ato. É preciso, simplesmente, que o ato criminalizado apresente relevância jurídico-penal, mediante a provocação de dano ou, ao menos, exposição à situação de perigo em relação a bens jurídicos penalmente relevantes. Seus defeitos são definidos desta maneira por Machado: É evidente que, pela sua amplitude conceitual, a definição material de crime tem sabor pré – legislativo, de orientação e parâmetro à liberdade legislativa de criação de delitos... Não presta à formulação dogmática pela sua volatilidade e insegurança conceituais. (MACHADO, 1987, p. 78) b) Critério Legal: Segue exatamente a definição apresentada pelo legislador no art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal. O art. 1º considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas. alternativa ou cumulativamente. O legislador achou por bem criar dois dispositivos diferenciados para tratar dos crimes e das contravenções. Os crimes estão definidos no Código Penal, enquanto as contravenções, na Lei de Contravenções Penais. Em termos práticos, a diferença entre crimes e contravenções é a gravidade que o legislador atribui à conduta e, consequentemente, à penalização. c) Critério Formal: Infração Penal é um comportamento previsto em uma norma penal incriminadora, sob ameaça de sanção penal. d) Critério Análitico: Esse critério de conceituação do crime tem o foco principal nos elementos (caracteres) que vão compor a estrutura do delito e aqui surge uma grande divergência doutrinária, talvez a maior da teoria geral do crime. De forma bem objetiva, o que acontece é o seguinte: Os autores definiram alguns elementos que podem compor o conceito de crime segundo o Critério Analítico e, a partir da combinação de dois ou mais desSes caracteres, criaram suas teorias. Os seguintes elementos compõem as teorias que em seguida veremos: ● TIPICIDADE; ● ILICITUDE (ANTIJURIDICIDADE); ● CULPABILIDADE; ● PUNIBILIDADE. Teoria Quadripartida Esta teoria considera que o crime é composto pelo FATO TÍPICO + ILICITUDE + CULPABILIDADE + PUNIBILIDADE. É adotada pela doutrina minoritária e, hoje, não encontra aplicabilidade prática. ATO TÍPICO + ILÍCITO + CULPÁVEL + PUNÍVEL Teoria Tripartida ou Clássica da Ação Para esta teoria o crime é um FATO TÍPICO + ILÍCITO E CULPÁVEL, não sendo necessário que seja punível. É majoritariamente adotada. FATO TÍPICO + ILÍCITO + CULPÁVEL Observação: Teoria Causalista: o crime é fato típico + ilicitude + culpabilidade, sendo que o dolo e a culpa se encontram dentro da culpabilidade; Teoria Finalista: o crime é fato típico + ilicitude + culpabilidade, sendo que o dolo e a culpa integram a tipicidade do fato. Essa é a teoria adotada pelo Brasil. A prática de Infração Penal acarreta uma Sanção Penal, a qual é gênero, comportando duas espécies: pena e medida de segurança. A pena (privativa de liberdade, restritiva de direito ou multa) sempre é aplicada sobre imputável ou semi- imputável (desenvolvimento mental incompleto ou retardado), enquanto a medida de segurança (internação ou tratamento ambulatorial) é aplicada aos inimputáveis. O art. 98 do CP afirma que também é possível aplicar aos semi-imputáveis medida de segurança em substituição à pena. Esse é o Sistema Vicariante de sanção penal, tal qual não se admite a aplicação de pena e medida de segurança cumulativamente. Teoria Bipartida ou Finalista da Ação Considera-se crime o FATO TÍPICO E ILÍCITO. Nessa teoria, para a configuração do delito bastam o fato típico e a ilicitude, ao passo que a presença ou não da culpabilidade/punibilidade importará somente na possibilidade ou não da pena ser imposta. FATO TÍPICO + ILÍCITO Elementos do Crime É Importante, neste momento, você se deparar com alguns elementos ou institutos que te acompanharão durante toda a estrada do estudo do Direito Penal, tais como os que chamamos de Sujeitos do Crime, os quais serão descritos abaixo. Sujeito Ativo: É quem pratica a figura típica descrita na norma penal incriminadora. Somente o ser humano, isoladamente ou associado a outros, possui capacidadepara delinquir (autoria ou coautoria). Aqui temos que definir importantes conceitos: a) AUTOR: toda a pessoa que pratica o núcleo do tipo penal. Pessoa Física imputável (maior de 18 anos) e Pessoa Jurídica (crimes ambientais) b) COAUTOR: pode ser entendido como aquele agente que mais se aproxima do núcleo do tipo penal, juntamente com o autor principal, podendo sua participação ser parcial ou direta. c) PARTÍCIPE: é aquele indivíduo que não participa dos atos de execução, mas auxilia o autor (ou coautor) na realização do fato típico esta participação pode ser moral ou material. Sujeito Passivo: É o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado. Nada impede que, em um determinado delito, dois ou mais sujeitos passivos existam, desde que estes tenham sido lesados ou ameaçados em seus bens jurídicos definidos no tipo penal. Pode ser denominado de vítima ou de ofendido e divide-se em duas espécies: a) SUJEITO PASSIVO FORMAL OU MEDIATO: O Estado é o Sujeito Passivo Mediato, pois, por ser o titular do mandamento proibitivo não observado pelo sujeito ativo, é sempre lesado pela conduta do sujeito ativo; b) SUJEITO PASSIVO MATERIAL OU IMEDIATO: É o titular do interesse penalmente protegido. É aquele que sofre a lesão do bem jurídico de que é titular (vida, integridade física, honra etc.). Podem ser sujeito passivo material: 1) As pessoas físicas. Ex.: Homicídio: Art. 121. Matar alguém: Pena – reclusão, de seis a vinte anos. 2) O Estado. Ex.: Crimes contra a Administração Pública: Art. 312 – Apropriar- se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio; 3) A Pessoa Jurídica. Ex.: A companhia de seguro, como pessoa jurídica (art. 171, § 2º, V, CP – fraude para o recebimento de indenização ou valor de seguro – Estelionato). 4) A coletividade. (art. 286, CP – incitação ao crime). Art. 286 – Incitar, publicamente, a prática de crime: Pena – detenção, de três a seis meses, ou multa. O incapaz pode ser sujeito passivo de delitos, pois é também titular de direitos, como a vida e a liberdade (entre outros). Há delitos em que somente podem figurar como sujeitos passivos os incapazes. Ex.: recém-nascido ser vítima de infanticídio (art. 123, CP); menor de idade ser sujeito passivo de abandono intelectual (art. 246, CP). O ser humano morto não pode ser Sujeito Passivo de nenhum delito, pois não é titular de direitos, podendo ser simplesmente o objeto material do delito. Caso seja praticada alguma conduta atentatória contra eles, restará configurado um crime contra o respeito aos mortos (arts. 209 a 212, CP) e a vítima, neste caso, será sua família ou a coletividade, e não o morto em si. O nascituro pode ser sujeito passivo, pois o feto tem direito à vida, sendo esta protegida pela punição do aborto. SAIBA MAIS Os animais e as coisas não são vítimas de crime, figurando apenas como objeto material. Daí resulta que em caso de lesão a coisas ou animais, os Sujeitos Passivos são os seus proprietários ou a coletividade. Mas e nos crimes contra a fauna? Como já disse, é a coletividade que figura como vítima. De fato, ela é a titular do interesse de ver preservado todo o patrimônio ambiental. Fonte: CONSTANTINO, Carlos Ernani. Delitos ecológicos: a lei ambiental comentada. São Paulo, Atlas, 2001, p.119. # SAIBA MAIS # Objetos do Crime É o bem ou objeto contra o qual se dirige a conduta criminosa. Pode ser: a) JURÍDICO: O objeto jurídico do crime é o interesse protegido pela lei penal. b) MATERIAL: já o objeto material do crime é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta criminosa, ou seja, aquilo que a ação delituosa atinge. Esteja ele direta ou indiretamente indicado na figura penal. Assim, “alguém” (o ser humano) é objeto material do crime de homicídio (art. 121), a “coisa alheia móvel" é dos delitos de furto (art. 155) e roubo (art. 157) etc. Não há crime sem objeto jurídico, pois qualquer crime viola uma lei. Entretanto, é possível um delito sem objeto material. Exemplo: ato obsceno (artigo 233 do código penal). Ademais, não confunda objeto do crime com instrumento ou meio para o crime. Ex.: Matar alguém com uma arma de fogo – Alguém (ser humano) seria o objeto material do crime (e a vida seria o objeto ou bem jurídico). Já a arma de fogo seria o instrumento do crime ou o meio usado para consecução do intento. Classificação dos Crimes A classificação dos crimes se subdivide em: Legal e Doutrinária. Legal é a qualificação, ou seja, o nome atribuído ao delito pela Lei Penal. Na Parte Especial do Código Penal, todo crime é acompanhado por sua denominação legal (nomen iuris). Ex: Homicídio simples – Nomen Iuris Art. 121. Matar alguém: – Preceito primário Pena – reclusão, de seis a vinte anos. – Preceito secundário Já a classificação Doutrinária é o nome dado por estudiosos do direito a determinadas espécies de crime. Quanto ao Sujeito Ativo: a) CRIMES COMUNS são os delitos que podem ser praticados por qualquer pessoa, sem exigência de qualquer condição ou qualidade. Exemplo: Homicídio (art. 121 do CP), Furto (art. 155 do CP);. b) CRIMES PRÓPRIOS são aqueles que exigem ser o agente portador de capacidade especial. Obs.: Admite COAUTORIA e PARTICIPAÇÃO Exemplo: Peculato (art. 312 do CP – só pode ser praticado por funcionário público); c) CRIMES DE MÃO PRÓPRIA são passíveis de serem cometidos por qualquer pessoa, mas se exige uma qualidade ou condição específica também. Não podem ser praticados por intermédio de outrem, ou seja, tais crimes não admitem coautoria (e para alguns nem autoria MEDIATA), mas apenas a participação. Exemplo: Falso testemunho (art. 342 do CP). Quanto ao momento consumativo: a) CRIME INSTANTÂNEO é aquele que, quando consumado, encerra-se. A consumação ocorre em determinado momento e não mais se prossegue. Exemplo: Furto (art. 155 do CP) b) CRIME PERMANENTE existe quando a consumação se prolonga no tempo, dependente da ação ou omissão do sujeito ativo. Não se admite a tentativa. Exemplo: Cárcere Privado (art. 148 do CP) c) DELITO INSTANTÂNEO DE EFEITOS PERMANENTES é aquele em que a permanência do efeito não depende do prolongamento da ação do sujeito ativo, ou seja, ocorre quando, consumada a infração em dado momento, os efeitos permanecem, independentemente da vontade do sujeito. Exemplo: Crime de bigamia previsto no artigo 235 do CP. Quanto à conduta: a) CRIMES COMISSIVOS são os que exigem, segundo o tipo penal objetivo (descrição abstrata de um comportamento), em princípio, uma atividade positiva do agente, ou seja, uma ação. Exemplo: Roubo (art. 157 do CP) b) CRIMES OMISSIVOS PRÓPRIOS OU PUROS são os que objetivamente são descritos com uma conduta negativa, ou seja, de não fazer o que a lei determina, consistindo a omissão na transgressão da norma jurídica. É a omissão do autor quando deve (e pode) agir – MAS FALAMOS DE UM DEVER GENÉRICO que cabe a todos num “dever” de solidariedade a todos imposto. Obs.: Para sua consumação, a lei dispensa qualquer ocorrência de resultado naturalístico. Exemplo: Omissão de socorro (art. 135 do CP) Art. 135 – Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública. c) CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS OU COMISSIVOS POR OMISSÃO existem quando a omissão consiste na transgressão do dever jurídico (ESPECÍFICO) de impedir o resultado, praticando-se o crime que, abstratamente, é comissivo. Nesses casos, a lei descreve uma conduta de fazer, mas o agente se nega a cumprir o dever de agir. A obrigação jurídica de agir deve existir,
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