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Influência da Espessura Máxima de Pasta e da Adição de Superplastificante no Escoamento de Concreto sob Vibração

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ANAIS DO 58º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2016 – 58CBC2016 1 
Influência da Espessura Máxima de Pasta e da Adição de 
Superplastificante no Escoamento de Concreto sob Vibração 
Influence of Maximum Paste Thickness and Superplasticizer Concentration in the 
Concrete Flow under Vibration 
 
Ana Flávia Baú Carneiro (1); Carlos Eduardo Costa Correia (1); Valéria Ramos Baltazar Quevedo 
(2); José Alberto Cerri (3); Márcia Silva de Araújo (4) 
 
(1) Alunos, Departamento Acadêmico de Construção Civil - UTFPR 
(2) Professora M.Sc., Departamento de Engenharia Civil - UFMS 
(3) Professor Doutor, Departamento Acadêmico de Construção Civil - UTFPR 
(4) Professor Doutor, Departamento Acadêmico de Mecânica - UTFPR 
 anaflavia95@hotmail.com, valeria_ufms@yahoo.com.br; cerri@utfpr.edu.br; araujo@utfpr.edu.br 
 
 
Resumo 
 
A fabricação de telhas autoportantes de grandes dimensões é realizada por máquina que contém uma caixa 
de alimentação móvel, que verte o concreto sobre um molde (pista) aberto e longo em forma de W. Como o 
concreto usado não escoa sob o próprio peso, são usados vibradores de mangote para dar escoabilidade. 
Visando simular algumas condições do processo de produção, foi feita uma adaptação do ensaio da caixa-L, 
na qual foi inserida um vibrador de mangote no reservatório da caixa. As composições utilizaram areia fina 
natural, areia artificial e brita, nas proporções de 25%: 25%: 50% e 0%: 50%: 50%, em massa. Foram 
estudados os efeitos da relação agregado/cimento “m” e da adição de um aditivo superplastificante de 3ª 
geração à base de policarboxilato. Para cada uma destas proporções, foram definidos valores de “m” iguais 
a 4,0; 4,5 e 5,0, o que reduz a quantidade de cimento em até 16%. Para definir os teores de aditivo, foi 
realizado o ensaio de abatimento em tronco de cone, que é o ensaio de referência na indústria para escolha 
de composição quanto a escoabilidade. A quantidade de superplastificante necessária foi mais coerente com 
os valores de fração de sólidos encontrados, do que com a concentração de cimento. Os resultados 
mostraram que mesmo as composições com abatimento nulo, apresentaram trabalhabilidade e fluíram sob 
vibração. O uso do superplastificante levou a uma diminuição sensível do tempo de escoamento e a um 
aumento da resistência mecânica principalmente para a menor concentração de cimento. 
 
Palavra-Chave: concreto, MPT, superplastificante, caixa-L. 
 
Abstract 
 
The large self supporting tiles manufacturing process is made by machine containing a mobile power box, pouring 
concrete over an open mold and long shaped W. As the concrete used does not flowing under its own weight, they are 
used vibrators horns to give flowability to the concrete produced at the plant. Aiming to simulate some conditions of the 
production process, an adaptation of the L-box test was made, which was inserted hose vibrator in the housing reservoir. 
The compositions used natural sand, artificial sand and gravel in proportions of 25%: 25%: 50% to 0%: 50%: 50% by 
mass. The effects of aggregate / cement ratio (m) and the addition of a 3rd generation superplasticizer based on 
polycarboxylate were studied. For each of these ratios, values were defined "m" equal to 4.0, 4.5 and 5.0, which reduces 
the amount of cement up to 16%. The slump test was used to define additive levels, which is the reference test in the 
industry to choose composition. The amount of superplasticizer need was more in agreement with the solid fraction value 
than with the quantity of cement. The results showed that even compositions with zero slump, had gained workability 
under vibration. The use of superplasticizer leaded to a significant reduction of the flow time and an increase in the 
mechanical strength especially in the smallest cement concentration. 
 
Key words: Concrete, MPT, Superplasticizer, L Box 
 
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1. Introdução 
1.1 Extrusão de Telhas Autoportantes 
As telhas autoportantes em concreto protendido podem cobrir vãos de até 25 metros, 
tendo grande aplicação em cobertura de galpões e espaços que possuem grandes vãos 
livres. Além disso, sua utilização permite maior agilidade na execução da obra e 
organização no canteiro, aumentando a qualidade, reduzindo custos e o desperdício de 
materiais (SILVA, 2011). 
Um dos métodos utilizados para a pré-fabricação de peças é por meio de uma máquina 
extrusora, sendo o processo relativamente simples: o concreto é lançado do bocal da 
máquina, o qual escoa sob vibração sobre um molde aberto, com formato previamente 
determinado de acordo com o produto a ser fabricado, no caso da telha autoportante é na 
forma de um W. A máquina desliza sobre trilhos depositando o material no molde e assim, 
conformando a telha (RICHARDSON, 2003). 
Para que o processo de extrusão seja realizado adequadamente, o concreto deve 
apresentar viscosidade suficientemente baixa, sob vibração, para facilitar o escoamento, 
mas suficientemente alta para que mantenha o formato da telha após conformação. A 
trabalhabilidade também se apresenta como uma característica essencial no processo de 
extrusão, englobando dois outros fatores do concreto fresco: a fluidez e a coesão, descritas 
como a facilidade de mobilidade do concreto e a resistência à exsudação ou segregação, 
respectivamente (GEYER, 2006). 
Dentre os principais problemas no processo de extrusão, a segregação é o que mais 
pode reduzir a qualidade da peça. Este fenômeno ocorre principalmente devido à diferença 
de tamanho e massa específica entre as partículas do concreto (NEVILLE, 1997) que, 
quando vibrado em excesso ou dosado inadequadamente, resulta na separação entre a 
pasta de cimento e os agregados graúdos, possibilitando fissuração e desgaste. 
 Entre as soluções para o problema estão: otimizar a dosagem dos componentes, 
melhorar a distribuição granulométrica e diminuir o volume de vazios, tomando precaução 
para manter a coesão da mistura e possibilitar o envolvimento dos agregados graúdos pela 
pasta de cimento. A quantidade de água também deve ser controlada, o que pode ser 
realizado por meio da substituição de parte dela por aditivos superplastificantes na mistura, 
garantindo a fluidez da mistura e evitando o excesso de água. Na indústria, o abatimento 
de tronco de cone é utilizado para definir a quantidade de superplastificante, entretanto, 
este ensaio avalia a trabalhabilidade do concreto que será usado de forma manual. Neste 
artigo, estes resultados serão comparados ao da caixa L modificada, que utiliza um vibrador 
de mangote tal como no processo de extrusão realizado na indústria. 
 
1.2 Superplastificantes à Base de Policarboxilatos 
Os superplastificantes à base de policarboxilatos, também conhecidos como 
plastificantes de 3a geração, são macromoléculas que atuam como dispersantes, 
dificultando a aproximação de partículas mais finas dos concretos. Desta forma é possível 
reduzir a quantidade de água utilizada e diminuir a viscosidade das suspensões, 
melhorando a trabalhabilidade e o desempenho, sem afetar a consistência nem a 
resistência mecânica à compressão (LYRA, 2010). 
 
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Os polímeros que compõem este tipo de aditivo adsorvem sobre a superfície das 
partículas de cimento e, devido a fenômenos físico-químicos, promovem a dispersão e o 
afastamento das partículas. Como consequência a velocidade de hidratação e os tempos 
de pega da mistura são alterados, ou seja, em excesso modificam a cinética de reação do 
cimento (LYRA, 2010 e LYRA et al., 2012). Segundo KISMI et al (2011), para uma certa 
relação água/cimento, a dosagem máxima de superplastificante (SP) é definida a partir do 
ponto de saturação do gráfico abatimento versus teor de SP, não havendomelhora 
significativa da escoabilidade da mistura após este ponto. 
Quando incorporados aos concretos em pequenas quantidades, ainda durante a 
mistura, os superplastificantes modificam as propriedades, tanto no estado fresco como no 
endurecido. Segundo LYRA (2010), teores de aditivo entre 0,05 e 1,5% resultam em uma 
diminuição da tensão de escoamento e da viscosidade da misturam além de aumentar o 
tempo de pega dos cimentos. 
Segundo PAPAYIANNI et al (2004), a granulometria da mistura também influencia 
no desempenho dos superplastificantes, principalmente a porção de finos. Agregados com 
pequenas dimensões, como os provenientes de rios, diminuem a performance dos 
dispersantes, aumentando o número de vazios no concreto. 
A Teoria do Excesso de Pasta estabelece que um concreto trabalhável apresenta 
volume de pasta maior do que o volume de espaços na mistura de agregados compactada. 
Este excesso de pasta, necessário para preencher os espaços entre as partículas sólidas, 
depende da consistência da pasta e da área superficial dos agregados (KISMI, 2011). 
 
1.3 Modelo de Andreasen de Empacotamento de Partículas 
O modelo proposto por Andreasen considera apenas a dimensão da maior partícula 
e trata a distribuição como sendo contínua, incluindo nos cálculos, infinitas partículas 
pequenas (DINGER, 2001). Assim, a expressão proposta por Andreasen para a 
distribuição de partículas é a seguinte: 
 
CPFT %
100
= (
D
DL
)
n
 (Equação 1), 
 
sendo, CPFT a porcentagem acumulada de partículas mais finas que o diâmetro D, o qual 
é o diâmetro da partícula em questão; DL é o diâmetro da maior partícula e “n” é o módulo 
ou coeficiente de distribuição. 
 O valor do coeficiente “n” que propicia o maior empacotamento e reduz a quantidade 
de água necessária para maximizar a fluidez, segundo estudos de Andreasen está entre 
0,33 e 0,5 enquanto que, para Funk e Dinger é igual a 0,37 (OLIVEIRA et al., 2000). Este 
coeficiente pode ser obtido por meio da inclinação da reta que melhor descreve a 
distribuição granulométrica de uma mistura, em um gráfico log-log de diâmetro em (m) 
versus CPFT (%). Segundo OLIVEIRA et al. (2000), a distribuição pode ser dividida a fim 
de obter dois coeficientes distintos: um para a região dos finos e outro para a região dos 
grossos. A série de peneiras a ser utilizada deve ter uma razão entre peneiras igual a raiz 
quadrada de 2 ou raiz quarta de 2, tendo sido a escolhida a primeira razão para este 
trabalho. 
 
 
 
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1.4 Cálculo da Espessura Máxima de Pasta 
 A espessura máxima de pasta (MPT) é um parâmetro que expressa a distância de 
separação entre agregados. Esta distância interpartículas tem grande influência no 
comportamento reológico da composição, principalmente na viscosidade e fluidez. Em 
concretos, a redução da porosidade com o maior empacotamento reduz o volume de matriz, 
diminuindo o escoamento devido à grande interferência entre os agregados (OLIVEIRA et 
al., 2000). 
 Devido à presença de partículas macroscópicas nos concretos, os módulos de 
distribuição “n” devem propiciar elevado teor de matriz de concreto a fim de aumentar a 
distância entre os agregados e elevar os valores de fluidez. Portanto, os valores de MPT 
devem ser maximizados a fim de elevar a fluidez de um concreto, minimizando o contato 
entre as partículas (OLIVEIRA et al., 2000). 
 A equação para cálculo do MPT foi desenvolvida a partir da equação de IPS 
(distância de separação interpartículas), utilizada para suspensões, com algumas 
adaptações a fim de englobar as macropartículas presentes no concreto. Segundo 
OLIVEIRA et al. (2000), a fluidez de um concreto pode ser controlada a partir do MPT das 
partículas grossas, o qual pode ser calculado de acordo com a Equação 2: 
 
𝑀𝑃𝑇 [µ𝑚] =
2
𝑉𝑆𝐴
. [
1
𝑉𝑠
− (
1
1−𝑃𝐹𝑟
)] . 104 (Equação 2), 
 
sendo, VSA a superfície específica volumétrica; Vs a fração volumétrica de sólidos somente 
das partículas grossas e PFr é a fração esperada de poros na mistura. 
 O cálculo da superfície específica volumétrica (VSA, Equação 3) foi realizado a partir 
do somatório proporcional das contribuições das frações volumétricas (xi) e dos valores do 
somatório das superfícies específicas (SSA, Equação 4) de cada matéria-prima (i) 
multiplicada pela respectiva massa específica (i em g/cm3). Entretanto, para a 
determinação da SSA é preciso o somatório da contribuição de cada classe (i). O SSA, por 
sua vez, foi obtido a partir da distribuição granulométrica das partículas, assumindo que 
estas possuem geometria esférica e a densidade constante entre classes (HUNGER, 
2008). A partir do diâmetro médio geométrico (GMS, Equação 5), calculou-se a superfície 
específica (SA, Equação 6) e o volume da partícula na classe i (Vp, Equação 7), sendo Vp 
necessário para o cálculo do número de partículas (NP, Equação 8) de cada classe. No 
presente trabalho também foi medido o volume aparente de cada classe de peneira. 
 
𝑉𝑆𝐴 [
𝑚2
𝑐𝑚3
] = ∑ 𝑥𝑖. 𝜌𝑖 . 𝑆𝑆𝐴𝑖
𝑛
𝑖 (Equação 3), 
 
𝑆𝑆𝐴 [
𝑚2
𝑔
] = 1
𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑑𝑒 1 𝑚3
∑ 𝑆𝐴𝑐𝑙𝑎𝑠𝑠𝑒 𝑖 . 𝑁𝑃𝑐𝑙𝑎𝑠𝑠𝑒 𝑖 
𝑛
𝑖 (Equação 4), 
 
𝐺𝑀𝑆𝑐𝑙𝑎𝑠𝑠𝑒 𝑖 [𝜇𝑚] = √(𝐷𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟 . 𝐷𝑖𝑛𝑓𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟) (Equação 5), 
 
𝑆𝐴𝑐𝑙𝑎𝑠𝑠𝑒 𝑖 [𝜇𝑚
2] = 𝜋. 𝐺𝑀𝑆2 (Equação 6), 
 
𝑉𝑝 [𝜇𝑚
3] =
𝜋.𝐺𝑀𝑆3
6
 (Equação 7), 
 
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NPclasse i [partículas em 1m
3] = (
fração volumétrica retida na classe i . 1m3 
Vp classe i
) . 1012 (Equação 8), 
 
 O cálculo da fração volumétrica de sólido (Vs) consiste na razão entre o volume da 
fração com diâmetro superior a 0,150 mm, considerada a fração de grossos, e o volume 
total do concreto, calculado com base no somatório dos volumes dos materiais. A fração 
esperada de poros (PFr) foi obtida por meio de relações utilizadas por DINGER (2001). O 
autor estabelece pelas Equações 9 e 10 as relações entre o volume aparente máximo (Va), 
a fração esperada de poros (PFr) e o fator de empacotamento (PF). 
 
 𝑉𝑎 =
1
𝑃𝐹
 (Equação 9), 
 
 𝑃𝐹𝑟 = 1 − 𝑃𝐹 (Equação 10), 
 
 𝑉𝑎 𝑛 = ∑ 𝑥𝑗 + 𝑎𝑛𝑥𝑛
𝑛−1
𝑗=1 (Equação 11), 
 
O volume aparente máximo é o maior valor calculado entre as classes de peneiras 
por meio da Equação 11, “n” corresponde à peneira a ser calculada, Va n é o volume 
aparente calculado para a enésima classe (peneira), xj e xn são as frações volumétricas das 
classes “j” e “n”, respectivamente e, an é o volume aparente de uma monodispersão da 
enésima classe, definido pela Equação 12. 
 
𝑎𝑛 =
1
1−(
1
𝐶𝑆𝑅
)
0,37 (Equação 12), 
 
sendo, CSR a classe de peneiras utilizada. Segundo DINGER (2001), para um CSR de 2, 
o an é igual a 8,3090. 
 
2 Materiais e Métodos 
 Para a realização dos ensaios, foi utilizado cimento Portland de alta resistência inicial 
CP V ARI, areia fina natural (quartzítica), areia artificial (granítica) e brita 0 (granítica). A 
partir de ensaios de caracterização das matérias-primas e testes de compactação, foram 
determinadas duas relações, em massa, para estudo de areia natural, areia artificial e brita 
0 (4,8 a 9,5) mm: 25%: 25%: 50% (C1) e 0%: 50%: 50% (C2). Para cada relação foram 
atribuídos 3 valores de “m”: 4,0; 4,5 e 5,0, sendo “m” a relação, em massa, entre os 
agregados secos e o cimento e, o fator água/cimento (a/c) igual a 0,45, que de acordo com 
a NBR 6118/2014 é o máximo valor para o concreto ser classificado como classe de 
agressividade IV. O aditivo superplastificanteutilizado foi o MC-PowerFlow 1102, um aditivo 
sintético de 3a geração à base de policarboxilatos. As quantidades de defloculante para 
cada traço foram definidas pelo resultado de 80 mm obtidos nos ensaios de abatimento de 
tronco de cone, normatizado pela NBR NM 67 - Concreto (ABNT,1998). A Tabela 1 indica 
as composições estudadas. 
 
Tabela 1 – Composições Estudadas – a/c = 0,45 
 
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Amostra C1 m 4 C1 m 4,5 C1 m 5 C2 m 4 
“m” 4 4,5 5 4 
Consumo de Cimento (kg/m3) 436 398 370 433 
Defloculante (%) 0 0,15 0 0,2 0 0,3 0 0,2 
 
 
2.1 Massa Específica 
 As massas específicas de cada composição foram obtidas a partir da relação 
mássica entre as massas específicas de cada material, obtidas conforme especificado na 
NBR NM 52 (ABNT, 2009). 
 
2.2 Volume Aparente 
 O volume de 500 g das matérias-primas e da composição C1 e C2 dos agregados 
foram compactados e medidos em proveta. Tanto a totalidade das massas foram medidas 
assim como somente os retidos na peneira com abertura de 0,150 mm. 
 
2.3 Ensaio de Caixa-L Adaptado 
Normatizado pela NBR 15823-4, o ensaio de caixa-L tem como objetivo a determinação 
e avaliação da passagem de concreto autoadensável, no estado fresco, entre as aberturas 
das armaduras (ABNT, 2010). O ensaio também permite observar a fluidez e tendência de 
segregação da mistura, propriedades essenciais para aplicação de concretos não só fluídos 
como o CAA, mas também viscosos e coesos que apresentam fluidez no momento da 
aplicação, como o extrudado, por vibração. 
A caixa-L adaptada possui as mesmas dimensões que a convencional, tendo como 
única diferença a inserção de um vibrador de mangote no reservatório, visto que as 
composições estudadas resultam em concretos não autoadensáveis, sendo imprescindível 
a vibração para que ocorra escoamento. Assim, o ensaio da caixa-L adaptada permite testar 
composições coesas e com baixa trabalhabilidade, visto que o vibrador inserido no 
momento do ensaio favorece a fluidez da mistura. 
Durante a realização do ensaio, deve-se ter precaução para manter o vibrador 
centralizado e acompanhar o nível de concreto no reservatório. 
O ensaio seguiu os seguintes procedimentos: 
1) Após mistura prévia dos materiais em betoneira de eixo inclinado, foram adicionados 
13 kg de concreto, com a comporta fechada, no reservatório vertical da caixa L; 
2) A altura inicial (H0) do concreto dentro do reservatório foi medida; 
3) Uma pré-vibração no concreto foi aplicada, ainda com a comporta fechada, para 
eliminar espaços vazios. Então, foi medida a altura H0 novamente após a vibração; 
4) Com o vibrador desligado, foi aberta a comporta e verificado o comportamento do 
concreto, o qual não se movimenta; 
5) O vibrador foi ligado por 5 segundos e observado o escoamento. A distância 
percorrida foi medida, assim como as alturas H0, H1 e H2, quando possível (Figura 
1); 
6) O vibrador foi ligado por aproximadamente mais 1 minuto e, logo após o término do 
tempo, medida a distância total percorrida e as alturas H0, H1 e H2. 
 
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Figura 1 - Localização das medidas na caixa L. 
Fonte: Nepomuceno, 2005 (adaptado). 
 
Ao longo do ensaio foi observado itens como a facilidade de moldagem, aparência, 
coesão, presença de exsudação ou segregação, fluidez (com a comporta aberta e 
posteriormente com vibração) e também se o concreto voltava ao repouso após cessar a 
vibração. 
 
3 Resultados e Discussões 
 Os valores de massa específica e volume aparente das composições estão 
indicados na Tabela 2. As composições C1 e C2 apresentam aproximadamente a mesma 
densidade de empacotamento. O valor negativo encontrado no cálculo do MPT em todas 
as composições indica que falta pasta entre as partículas, o que 
 
Tabela 2 - Massa Específica e Volume Aparente para 1kg de material das composições 
Características das Composições C1 C2 
Massa Específica (kg/m3) 2615 2590 
Volume Aparente Total (ml) 600 600 
Vol. Aparente Acima 0,150 mm (ml) 500 500 
Densidade de Empacotamento Total 0,637 0,644 
Densidade de Empacotamento Acima de 0,150 mm 0,692 0,717 
 
 Para obtenção dos coefientes de distribuição para a fração de finos e grossos de 
cada composição, os gráficos de % CPFT x Abertura de Peneira (m) foram plotados em 
escala log-log (Figura 2). A curva teórica de Andreasen, com n = 0,37, também foi plotada, 
juntamente com as linhas de tendência correspondentes à cada fração. 
 Os coeficientes obtidos para as frações de linear grossos, linear finos 1 e linear finos 
2 no gráfico da Figura 2 foram 0,3693, 0,4290 e 0,37, respectivamente, indicando que a 
composição 2 está melhor empacotada, se sobrepondo a curva de empacotatamento 
máximo de Andreasen. Os valores de R2 das linhas de tendência obtidas foram de 0,982 
para os grossos, 0,979 para os finos de C1 e igual a 1 para os finos de C2. 
 
 
 
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Figura 2 - Gráfico log-log de %CPFT versus Abertura de Peneira (m) 
 
 
3.3 Espessura Máxima de Pasta 
 
 Os resultados dos cálculos realizados para obtenção do valor da Espessura Máxima 
de Pasta (MPT) para as composições estudadas são apresentados nas Tabelas 3 e 4. A 
compoisção C1 tem mais finos do que a C2 o que reflete nos maiores valores de SSA e 
VSA, assim como o menor valor de PFr, visto ser C2 mais compactada. Os valores 
negativos de MPT encontrados indicam uma falta de material entre as partículas grossas 
maiores que 0,150 mm, típico de material com abatimento igual a zero. Quanto maior o 
valor de m, ou seja, menor a quantidade de cimento, menor o valor de MPT, o que é 
coerente com a necessidade maior de defloculante para atingir o mesmo abatimento. A 
concentração volumétrica de sólidos (VS) de C1m4,5 é próximo ao de C2m4, o que 
explicaria o fato de ter necessidade de um volume maior de superplastificante em relação 
a composição C1m4. Como a composição C2m4 possui menos finos, estes não ocupam 
os espassos entre as partículas grossas diminuindo o valor de MPT em relação a C1. 
 
Tabela 3 - Resultados dos cálculos com base na composição dos agregados com tamanho de partículas 
acima de 150 mm 
Composição SSA (m2/g) VSA (m2/cm3) PFr 
C1 3030,7 7931,6 0,457 
C2 2090,7 5346,7 0,498 
 
 
 
 
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50
lo
g 
C
P
FT
 (
%
)
log Diâmetro (μm)
Composições 1, 2 e Andreasen
Andreasen Composição 1 Composição 2
Linear Grossos Linear Finos 2 Linear Finos 1
 
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Tabela 4 - Resultados do cálculo do VS e MPT 
Amostra C1 m 4 C1 m 4,5 C1 m 5 C2 m 4 
Defloculante (%) 0 0,15 0 0,2 0 0,3 0 0,2 
VS 0,5979 0,6213 0,6418 0,6158 
MPT (µm) -4,298 x 10-1 -5,888 x 10-1 -7,181 x 10-1 -9,311 x 10-1 
 
3.4 Caixa L Adaptada 
 Os ensaios foram realizados para as 8 composições escolhidas, sendo avaliados 
aspectos da aparência, comportamento e perfil do escoamento. A vibração prévia com a 
comporta ainda fechada foi empregada a fim de eliminar a influência de vazios criados ao 
colocar o material no reservatório, além de facilitar a colocação do vibrador. O perfil de 
escoamento das composições é apresentado na Figura 3. 
 Nota-se que as composições com aditivo tornam a curva mais suave, indicando que 
o escoamento é mais uniforme e a mistura fica distribuída mais linearmente na caixa do 
que as que não contêm aditivo. A única composição que apresentou escoamento uniforme 
sem aditivo foi a composição C2 m4,0%. 
 
 
Figura 3 - Perfil de Escoamento das Composições 
 
 Além disso, estas mesmas misturas alcançaram distâncias superiorespara um 
mesmo intervalo de tempo, como mostram as Figuras 4 à 7. 
 
 
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Figura 4 - Escoamento da Composição C1 m4 0% e 0,15% 
 
 
Figura 5 - Escoamento da Composição C1 m4,5 0% e 0,2% 
 
 
Figura 6 - Escoamento da Composição C2 m4 0% e 0,2% 
 
Figura 7 - Escoamento da Composição C1 m5 0% e 0,3% 
 
 As maiores distâncias para um mesmo intervalo de tempo (60 segundos) foram 
obtidas pelas composições C1 m4,5 - 0,2% (52 cm), C2 m4 - 0,2% (57 cm) e C1 m5 – 0,3% 
(57 cm), indicando que a presença de aditivos na mistura influencia diretamente na 
escoabilidade do concreto sob vibração. 
 Durante os ensaios, observou-se que nenhuma mistura entrou em movimento com 
o peso próprio, apenas sob vibração. De maneira geral, as composições com aditivos 
possuíam aparência mais úmida e eram mais facilmente moldáveis e fluídas quando 
vibradas. 
 Calculou-se, também, a vazão de escoamento (em kg/s) de cada uma das 
composições. Os resultados são apresentados na Figura 8. 
 As composições com aditivo tiveram valores superiores de vazão do que as sem 
aditivo, mantendo valores próximos, entre 5,14 kg/s e 6,23 kg/s. Nota-se que a composição 
C1 m5 - 0% apresentou a menor vazão, e a composição C1 m 4,5 0,2%, a maior. 
 
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Figura 8 - Gráfico da Vazão 
 
3.6 Resistência Mecânica à Compressão Axial 
 
 A Figura 9 ilustra os resultados de resistência à compressão para as 8 composições 
analisadas. Verificou-se que as menores resistências foram obtidas para as composições 
C2 m4 - 0% e C1 m5 - 0% e 0,3%, indicando que as quantidades de cimento e de aditivo 
influenciam na resistência média aos 7 dias. 
 
 
Figura 9 - Gráfico da Resistência Média aos 7 dias 
 
4 Conclusões 
 Por meio dos ensaios de caixa L adaptada, observou-se que, mesmo os concretos 
sem aditivo e com menor trabalhabilidade, ao sofrerem vibração, têm a superfície 
homogeneizada e escoam, modificando seu aspecto inicial de seco para mais fluido. 
 
ANAIS DO 58º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2016 – 58CBC2016 12 
 Os cálculos da Máxima Espessura de Pasta (MPT) resultaram em valores negativos, 
indicando que as misturas estariam com falta de pasta entre os grãos maiores que 
0,150 mm. A quantidade de superplastificante, necessária para alcançar um abatimento de 
80 mm, foi mais coerente com o valor de VS do que com a quantidade de cimento para 
diferentes composições de agregados, entretanto não houve diferença significativa na 
vazão entre as composições C1m4 e C2m4 sem superplastificante. 
Praticamente todas as composições apresentaram resistência média aos 7 dias 
muito acima do valor de referência utilizado na indústria, com exceção da composição C1 
m5,0 - 0% e 0,3%. Os valores baixos obtidos para essas composições se devem, 
principalmente, à dificuldade de moldagem dos corpos de prova, visto que as composições 
resultaram em misturas secas. No caso da composição C1m5 a adição de 
superplastificante melhorou significativamente a resistência devido a melhora na 
moldabilidade. 
 
 
 
 
5 Agradecimentos 
 À Cimento Itambé e à Cassol Pré-fabricados. 
 
 
6 Referências 
 
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