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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE NUTRIÇÃO RENATA NAREL BÚRIGO PEREIRA ATENDIMENTO NUTRICIONAL A PARTICIPANTES DE EXERCÍCIOS FÍSICOS E ATLETAS: Avaliação de uma Equipe de Futebol de Criciúma (SC) CRICIÚMA, NOVEMBRO DE 2009. 2 RENATA NAREL BÚRIGO PEREIRA ATENDIMENTO NUTRICIONAL A PARTICIPANTES DE EXERCÍCIOS FÍSICOS E ATLETAS: Avaliação de uma Equipe de Futebol de Criciúma (SC) Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do grau de Bacharel no Curso de Nutrição da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Orientadora: Prof.ª MSc. Adriana Soares Lobo CRICIÚMA, NOVEMBRO DE 2009. 3 4 Dedico este trabalho as pessoas responsáveis por me proporcionar condições para a realização desta faculdade: Minha Família. 5 AGRADECIMENTOS A Deus... Pai de amor e misericórdia por me apresentar pessoas maravilhosas ao longo desta jornada. Aos Espíritos de Luz... Pela inspiração em todos os momentos da minha vida, principalmente nos momentos mais difíceis. A minha Família... Minha mãe Beth, meu pai Djalma e meu irmão Duca, por suas vidas dedicadas a família aos exemplos de amor e prática do bem, SEMPRE. Amo-os!! Ao meu Namorado... Kuki, por me compreender, apoiar e incentivar em minhas decisões. Aos meus Amigos... Aos que começaram e não terminaram e aos que permaneceram até o final desta etapa. Em especial aquelas que tornaram a faculdade mais divertida e proveitosa, a turma do fundão: Dani, Sá, Brunis, Mêri, Miroca, Dai. Ao pessoal do projeto de extensão, pelas manhãs de aprendizado e de descontração e pelas parcerias realizadas neste período. Valeu Rose, Brunoviski, Déia, Angel, Camila, Luciana. A minha professora orientadora... Adriana pela paciência, compreensão e aprendizados dispensados no transcorrer deste processo, tornando-se antes de tudo, uma grande parceira. Aos professores da banca... Marilia e Sílvio, por terem aceitado ao convite da banca, assim como pelo tempo despendido para me avaliar. Aos professores do curso... A todos os professores que através de seus ensinamentos e profissionalismo, contribuíram para minha formação profissional, o meu agradecimento e respeito. Ao Criciúma Esporte Clube... Em especial ao Beirão, Evandro e Gil, por permitirem a realização deste trabalho no clube. Enfim, agradeço a todos que, indiretamente, colaboraram para a conclusão de mais esta etapa no meu processo de crescimento profissional. Muito obrigada! 6 “Foi o tempo que perdeste com a tua rosa, que fez a tua rosa tão importante.” Antoine Saint Exupèry 7 RESUMO Os atletas necessitam de uma alimentação diferenciada. As recomendações de energia para indivíduos sedentários ou que praticam atividades físicas de forma moderada são insuficientes para os atletas, em função do gasto energético relevantemente elevado e da necessidade de nutrientes que varia de acordo com o tipo de atividade, da fase de treinamento e do momento da ingestão. Esse estudo teve por objetivo avaliar a composição corporal e o consumo alimentar de jogadores de futebol das categorias de base de uma equipe de futebol de Criciúma (SC), atendidos em um programa de extensão de atendimento nutricional específico para atletas. Participaram do estudo 52 jogadores de 12 a 20 anos, de diferentes categorias (infantil, juvenil e júnior). Os dados da pesquisa foram obtidos dos prontuários dos participantes disponíveis no ambulatório de nutrição da UNESC, que incluía anamnese onde constavam informações acerca de dados pessoais, uso de suplementos, características do treinamento, dados antropométricos e da avaliação da composição corporal, dentre outras. Os atletas também preencheram um registro alimentar de um dia (final de semana) e um questionário acerca do consumo de suplementos. O percentual de gordura foi determinado por bioimpedância. O estado nutricional foi avaliado de acordo com o IMC/idade, utilizando os pontos de corte propostos pela Organização Mundial de Saúde. O consumo alimentar foi comparado às recomendações da SBME. Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva. Observou-se que a maioria dos jogadores (86,5%) encontra-se com estado nutricional adequado. O percentual de gordura corporal ficou abaixo da recomendação para adolescentes. A média da adequação calórica variou de 59,6% a 67,1%, mostrando assim um baixo consumo calórico pelos jogadores. As médias de consumo de macronutrientes apresentaram- se todas dentro do valor preconizado, porém quando avaliado o consumo individual alguns valores encontrados foram insatisfatórios. Quase metade (42,3%) da amostra apresentou baixo consumo de carboidratos e 15,3% apresentaram consumo excessivo de proteínas. O consumo médio de ferro apresentou-se adequado, enquanto o valor médio de cálcio não foi atingido em nenhuma faixa etária. Os suplementos mais consumidos pelos jogadores de futebol foram os repositores energéticos (69,2%), seguido por BCAAs (38,5%) e isotônicos (30,8%). Sabendo da importância da alimentação adequada na contribuição para saúde e desempenho esportivo, faz-se necessária a atuação do profissional nutricionista nesta equipe. Palavras chave: Adolescentes. Estado Nutricional. Futebol. 8 LISTA DE ILUSTRAÇÕES TABELA 01 - Valores de RDA para Ferro: ingestão recomendada para população geral............................................................................................................................25 TABELA 02 - Valores de AI para Cálcio: ingestão recomendada para população geral............................................................................................................................26 TABELA 03 - Variáveis Antropométricas dos Atletas da Equipe Futebol de Criciúma (SC)............................................................................................................................35 TABELA 04 - Classificação do IMC/Idade dos Atletas da Equipe Futebol de Criciúma (SC) ...........................................................................................................................36 TABELA 05 - Composição Corporal dos Atletas da Equipe de Futebol de Criciúma (SC) ...........................................................................................................................37 TABELA 06 - Consumo Energético dos Atletas da Equipe de Futebol de Criciúma (SC) ...........................................................................................................................39 TABELA 07 - Consumo de Macronutrientes pelos Atletas da Equipe de Futebol de Criciúma (SC) ............................................................................................................40 TABELA 08 - Consumo de Micronutrientes pelos Atletas da Equipe de Futebol de Criciúma (SC) ............................................................................................................43 FIGURA 01 - Avaliação do consumo de Macronutrientes dos Atletas da Equipe de Futebol de Criciúma (SC) ..........................................................................................42FIGURA 02 - Avaliação do consumo de Suplementos dos Atletas da Equipe de Futebol de Criciúma (SC) ..........................................................................................45 9 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AI - Adequate Intakes; ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária; ATP - Adenosina Tri-Fosfato; BCAA - Aminoácidos de Cadeia Ramificada; DCSE - Dobra Cutânea Subescapular; DCTR - Dobras Cutâneas Tricipital; DRI - Dietary Reference Intake; DP - Desvio Padrão; G - Gramas; GC - Gordura Corporal; IMC - Índice de Massa Corporal; IMC/I - Índice de Massa Corporal por Idade; KG – Quilogramas; MM - Massa Magra; OMS - Organização Mundial da Saúde; RDA - Recommended Dietary Allowances; SBME - Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva; SC - Santa Catarina; UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense; UL - Tolerable Upper Level Intake; VCT - Valor Calórico Total. 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................12 1.1 PROBLEMA........................................................................................................12 1.2 OBJETIVOS........................................................................................................14 1.2.1 Objetivo geral .................................................................................................14 1.2.2 Objetivos específicos.....................................................................................14 1.3 JUSTIFICATIVA..................................................................................................14 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.............................................................................16 2.1 FUTEBOL ...........................................................................................................16 2.2 MACRONUTRIENTES E FUTEBOL...................................................................18 2.2.1 Carboidratos ...................................................................................................18 2.2.2 Proteínas .........................................................................................................20 2.2.3 Lipídeos...........................................................................................................21 2.3 Hidratação..........................................................................................................22 2.4 Micronutrientes e Exercício..............................................................................24 2.4.1 Ferro ................................................................................................................24 2.4.2 Cálcio...............................................................................................................25 2.5 SUPLEMENTAÇÃO............................................................................................26 2.6 NUTRIÇÃO NO ATLETA ADOLESCENTE........................................................27 3 METODOLOGIA ....................................................................................................30 3.1 ÂMBITO DO ESTUDO........................................................................................30 3.2 DESENHO DO ESTUDO ....................................................................................30 3.3 SUJEITOS...........................................................................................................30 3.4 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS.........................................................31 3.5 AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR .......................................................32 3.6 AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL..................................................32 3.7 COLETA DE DADOS..........................................................................................33 3.8 ANÁLISE ESTATÍSTICA ....................................................................................34 3.9 ASPECTOS ÉTICOS ..........................................................................................34 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................35 4.1 CARACTERIZAÇÃO ANTROPOMÉTRICA .......................................................35 4.2 CLASSIFICAÇÃO DO ÍNDICE DE MASSA CORPORAL (IMC) ........................36 4.3 COMPOSIÇÃO CORPORAL ..............................................................................37 4.4 CONSUMO ALIMENTAR....................................................................................38 4.4.1 Energia ............................................................................................................38 11 4.4.2 Macronutrientes .............................................................................................40 4.4.3 Micronutrientes ..............................................................................................43 4.4.4 Suplementos...................................................................................................44 5 CONCLUSÃO ........................................................................................................46 REFERÊNCIAS.........................................................................................................48 APÊNDICES .............................................................................................................55 ANEXOS ...................................................................................................................57 12 1 INTRODUÇÃO 1.1 PROBLEMA A relação entre a alimentação e o bem estar físico, mental e emocional dos indivíduos já era conhecida desde a antiguidade. Sabe-se que hábitos alimentares adequados, mantidos por uma dieta equilibrada, podem trazer benefícios nos indivíduos fisicamente ativos, seja pela promoção da qualidade de vida e saúde ou na melhora do desempenho esportivo e competitivo (NACIF; VIEBIG, 2006). Os atletas necessitam de uma alimentação diferenciada. As recomendações de energia para indivíduos sedentários ou que praticam atividades físicas de forma moderada são insuficientes para os atletas, em função do gasto energético relevantemente elevado e da necessidade de nutrientes que varia de acordo com o tipo de atividade, da fase de treinamento e do momento da ingestão (TIRAPEGUI, 2005). Está bem estabelecido que as alterações fisiológicas e os desgastes nutricionais gerados pelo esforço físico podem levar o atleta ao limiar de saúde e da doença, caso não haja uma compensação adequada desses eventos (LUKASKI, 2004; NIEMAN et al, 2001 apud PANZA et al, 2007). Por outro lado, sabe-se que uma alimentação adequada desempenha um papel fundamental em maximizar a habilidade para a realização de todos os tipos de exercícios, independente da idade do indivíduo e do tipo de atividade física por ele realizada (BIESEK; ALVES; GUERRA et al, 2005). Ademais, o interesse crescente na relação entre nutrição e desempenho físico tem gerado diversos estudos na área, demonstrando a importância da composição da dieta como fator que altera a magnitude das mudanças na massa e na composição corporal do indivíduo (TIRAPEGUI, 2005). O futebol é caracterizado como um esporte intermitente com mudanças de atividades a cada quatro a seis segundos. Jogadores profissionais realizam cerca de 1.350 atividades incluindo 220 corridas em alta velocidade. Além das corridas em diferentes intensidades, outras atividades tais como drible, saltos e cabeçadas 13 contribuem para oaumento da demanda energética dos jogadores (MOHR et al, 2005; REILLY et al, 2000 apud TIRAPEGUI, 2005). Tanto a quantidade quanto a qualidade do treino irão influenciar no gasto energético do jogador. Além disso, outros fatores como a posição que é desempenhada pelo jogador, a distância percorrida por ele durante o jogo e o estilo por ele adotado, irão contribuir para o aumento do gasto calórico (BARROS; GUERRA, 2004). Sendo assim, os jogadores de futebol devem seguir uma alimentação adequada e balanceada e seguir estratégias nutricionais as quais contribuem para otimização do desempenho de jogadores durante os jogos e treinos (HIRSCHBRUCH; CARVALHO, 2008). Sabendo da importância de uma boa nutrição para o desempenho físico, o curso de Nutrição da UNESC, que faz parte da Unidade Acadêmica da Saúde (UNASAU), vem desenvolvendo desde novembro de 2008, um projeto de extensão denominado “Atendimento nutricional a praticantes de exercícios físicos e atletas”. O projeto tem por objetivo prestar atendimento nutricional individual e em grupos a praticantes de exercícios físicos e atletas de diferentes modalidades e faixas etárias de Criciúma e de regiões vizinhas. As atividades do programa são desenvolvidas no ambulatório de nutrição da UNESC, contando com a participação de três bolsistas, dois voluntários e um professor do curso de Nutrição da instituição. A consulta ambulatorial incluía a aplicação de anamnese, avaliação do consumo alimentar e de suplementos alimentares, avaliação da composição corporal, orientação nutricional e prescrição nutricional com base nos objetivos dos atletas. As modalidades esportivas praticadas incluíam musculação, ciclismo, atletismo, futebol de campo e de salão, natação, jiu-jitsu e triatlo. Ademais, foram realizados trabalhos de avaliação nutricional em equipes de ciclismo, futebol de campo, futsal e natação. 14 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Objetivo geral Avaliar a composição corporal e o consumo alimentar de jogadores das categorias de base de uma equipe de futebol de Criciúma (SC), atendidos em um programa de atendimento nutricional específico para atletas. 1.2.2 Objetivos específicos - Descrever características antropométricas dos jogadores de futebol das categorias de base; - Avaliar a composição corporal dos atletas; - Avaliar o consumo energético e de nutrientes (macronutrientes, cálcio e ferro) dos atletas; - Descrever o uso de suplementos alimentares pelos atletas. 1.3 JUSTIFICATIVA A nutrição voltada para atletas de alto rendimento tem sido muito valorizada entre os profissionais do esporte, pois atletas submetidos a constantes treinos e grandes volumes de atividades físicas intensas requerem aporte nutricional diferenciado quando comparados com indivíduos não atletas (SCHANDLER; NAVARRO, 2007). De acordo com Hirschbruch e Carvalho (2008), excluídos os componentes hereditários e o condicionamento atlético, nenhum outro fator isolado ocupa papel mais significante que a nutrição no desempenho físico de um atleta. 15 Assim, uma alimentação adequada é essencial para que o atleta consiga atingir a performance esportiva ótima. Tendo em vista, de que se a alimentação for deficiente em um determinado nutriente fundamental para a produção de energia durante o exercício, vai influenciar negativamente na performance deste atleta (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2005). Além da prática de exercícios físicos, o comportamento dietético promove também, alterações nas proporções dos diferentes componentes corporais, sendo que a associação de dieta e exercício constitui a melhor forma de potencializar esses resultados (HIRSCHBRUCH; CARVALHO, 2008). A avaliação precisa da composição corporal tem como objetivo quantificar os principais componentes da estrutura corporal: músculos, ossos e gordura; assim tornando-se um artifício relevante para um programa completo de nutrição total e aptidão física (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2001). Perante isso e devido à inexistência de estudos sobre o tema nos atletas de categoria de base desta equipe futebol de Criciúma, faz-se necessário a realização desta pesquisa para avaliar a composição corporal e consumo alimentar dos jogadores. Os resultados deste estudo poderão servir de base para elaboração de programas de educação nutricional voltados a esta população. 16 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 FUTEBOL Atualmente o futebol tem obtido grande importância no cenário mundial. Por ser sempre alvo da mídia, atrai muitos adeptos de todas as partes do mundo. Milhares de pessoas, das mais variadas idades e de diferentes camadas sociais praticam o futebol diariamente, seja como forma de lazer ou como profissão (BRANDÃO, 2004). O futebol é um esporte disputado entre duas equipes de 11 jogadores cada, sendo 10 atletas de linha e 1 goleiro. Basicamente, os jogadores ocupam as posições de defensores, meio campistas e atacantes, sendo que o sistema tático do time é definido pelo número de jogadores em cada setor do campo (defesa, meio- campo e ataque). A dimensão do campo pode variar de 45-90 metros de largura por 90-120 metros de comprimento, no entanto, em competições internacionais o campo de jogo deve medir 105 metros de comprimento por 68 de largura. Uma partida de futebol tem duração de 90 minutos, sendo dividida em dois tempos de 45 minutos com 15 minutos de intervalo entre eles (KIRKENDALL, 2003). De acordo com Martin (2002, pg.3): “O futebol é caracterizado como exercício de alta intensidade intermitente e a relação entre o repouso e períodos de baixa e grande intensidades variam de acordo com o estilo individual de jogar, mas o mais importante é a posição de jogador em campo, já que o jogador corre aproximadamente 10 km por partida, sendo que entre 8 - 18% é na maior velocidade individual”. O futebol é o esporte mais popular do mundo e vem crescendo a cada dia. É uma modalidade esportiva de exercícios intermitentes de intensidade variável (EKBLOM, 1993 apud BIESEK; ALVES; GUERRA, 2005). Uma partida de futebol envolve 88% de atividades aeróbias e 12% de atividades anaeróbias de alta intensidade (ELIAS et al, 1991 apud BIESEK; ALVES; GUERRA et al, 2005). 17 A literatura evidencia que o futebol é uma atividade depletora de glicogênio e que a taxa de volume de trabalho é influenciada pelo nível de glicogênio muscular (KIRKENDALL, 1993). Segundo Martin (2002), o futebol é um esporte no qual as demandas fisiológicas são multifatoriais que oscilam durante a partida onde se encontra alta concentração de lactato sangüíneo e elevada concentração de amônia durante o período de jogo, o que indica que ocorre maior metabolismo muscular e alterações iônicas as quais levam à fadiga. Devido às grandes dimensões do campo e da duração de uma partida, cada atleta desempenha uma função específica dentro da equipe, a saber: zagueiros, meio-campistas, goleiros, atacantes e laterais. Diante disso, cada jogador percorre uma distância diferente, bem como o tipo e a intensidade das ações realizadas, assim colaborando com uma sobrecarga adicional ao metabolismo (PRADO et al, 2006). Normalmente, a distância percorrida pelos jogadores de meio-campo (10,2 a 11km) é maior que as dos zagueiros (9,1 a 9,6km) e atacantes (10,5km). Os jogadores de meio-campo ficam parados 14% do tempo total, significantemente menos que os zagueiros (21,7%) e os atacantes (17,9%). Esta distância diferenciada percorrida pelos jogadores durante a partida pode ser influenciada pela qualidade do oponente, pelas considerações táticas e pela importância do jogo (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2005). Em relação às características físicas dos jogadores, os maiores valores de percentualde gordura do time são encontrados nos goleiros, possivelmente devido ao fato de as outras posições possuírem um treinamento diferente e maiores demandas energéticas durante os jogos. Já os menores valores de percentagem gordura corporal são atribuídos aos jogadores de meio-campo, pelo fato desses jogadores estarem envolvidos em eventos de maior demanda aeróbia e os goleiros, em atividades anaeróbias (TIRAPEGUI, 2005). O percentual de gordura médio entre jogadores durante uma temporada é de 10%, podendo chegar a 20% entre as temporadas. Geralmente, este percentual oscila entre 6,2 e 15,7%, valores estes menores que em indivíduos não-atletas (TIRAPEGUI, 2005). A prioridade nutricional em relação a atletas é suprir as necessidades energéticas. A manutenção do balanço energético é essencial para a preservação 18 da massa magra, das funções imunes e reprodutivas, e da otimização do desempenho atlético (HIRSCHBRUCH; CARVALHO, 2008). Uma inadequada ingestão de energia bem como de macronutrientes podem promover alterações na composição corporal do atleta, além de levar a um baixo rendimento em treinos e competições e aumentar a predisposição a lesões musculares (KIRKENDALL, 1993). Sendo assim, os jogadores de futebol devem seguir uma dieta que contenha uma quantidade de calorias adequada e permita tanto a manutenção do peso corporal, quanto o fornecimento de calorias suficientes, para atender a demanda de treinos e jogos (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2005). 2.2 MACRONUTRIENTES E FUTEBOL 2.2.1 Carboidratos O carboidrato, estocado no organismo como glicogênio muscular, é o nutriente chave na produção de energia durante o exercício. A depleção desses estoques, normalmente está associada à fadiga, sendo que concentrações adequadas de glicogênio muscular evitam a exaustão do mesmo (HIRSCHBRUCH; CARVALHO, 2008). Tanto para manutenção quanto para o aumento dos estoques de glicogênio durante o treinamento é necessário uma dieta hiperglicídica. A depleção de glicogênio pode ser causada gradualmente depois de repetidos dias de treinamento intenso, quando a degradação de glicogênio muscular ultrapasse sua reposição (HARGREAVES, 1994 apud GUERRA et al, 2004). As demandas energéticas em treinamentos e em competições de nível profissional exigem que seus participantes ingiram uma dieta rica em carboidratos, e adequada em energia e nutrientes reguladores, já que a depleção de glicogênio é observada após partidas de futebol. O uso de glicogênio muscular como substrato energético é diretamente proporcional à duração e a intensidade do exercício. A ingestão adequada de carboidratos é importante visto que os estoques de glicogênio 19 podem ser depletados na segunda metade do jogo, e esta depleção pode estar associada a uma diminuição na velocidade e na distância percorrida (SANZ-RICO et al, 1998 apud GUERRA et al, 2004). Portanto, o carboidrato deve ser consumido antes que ocorra a fadiga muscular, para assegurar que esteja disponível quando os níveis de glicogênio muscular estiverem baixos (GUERRA; SOARES; BURINI, 2001). É fundamental uma dieta com predominância de ingestão de carboidratos, pois a depleção deste macronutriente pode aumentar a percepção de fadiga, o que pode acarretar uma diminuição na concentração e redução na capacidade de treinamento (JUZWIAK; PASCHOAL; LOPEZ, 2000). A Diretriz da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (SBME), editada por Carvalho et al (2003), e revisada por Nahas e Hernandez (2009), afirma que em provas longas, como o futebol, os atletas devem ter o consumo de carboidrato entre 7 e 8g/kg de peso ou 60 a 70% do valor energético diário total, evitando assim a hipoglicemia, a depleção de glicogênio e a fadiga. Alguns estudos demonstram que a ingestão de uma solução de carboidrato durante testes que simulam uma partida de futebol melhora o desempenho de jogadores durante o mesmo (OSTIJIC; MAZIC, 2002). O consumo de carboidrato é também de fundamental importância para a recuperação após o exercício. O termo recuperação envolve a restauração de estoques de glicogênio hepático e muscular (GUERRA, 2004). Esta ingestão de carboidrato simples recomendada após o exercício exaustivo é de 0,7 a 1,5g/kg peso no período de quatro horas, o qual é suficiente para a realização da ressíntese de glicogênio muscular (NAHAS; HERNANDEZ, 2009). A recuperação de carboidratos após o exercício é um desafio principalmente para o jogador de futebol, tendo em vista que geralmente os treinos e jogos são exaustivos e o período de recuperação varia de seis a vinte e quatro horas entre as sessões de treinamento (HIRSCHBRUCH; CARVALHO, 2008). A ressíntese de glicogênio muscular em sua primeira fase é sensível ao fornecimento de carboidrato, portanto é de extrema relevância que, para uma adequada reposição destes estoques, haja o imediato consumo de alimentos fonte de carboidratos, principalmente os de índice glicêmico alto, como pães, banana, 20 laranja e mel (ECONOMOS et al, 1993; CLARK, 1994; BURKE, 1996; BURKE et al, 2004 apud GUERRA et al, 2004). 2.2.2 Proteínas O papel das proteínas no metabolismo do exercício difere dos demais macronutrientes, uma vez que a principal contribuição não ocorre durante o exercício, mas no período de recuperação (NABHOLZ, 2007). Apesar dos carboidratos e as gorduras serem quantitativamente os combustíveis principais para o exercício, atualmente algumas pesquisas demonstram que sob certas condições a proteína pode ser uma fonte significativa de energia durante o exercício (WILLIAMS, 2002). As necessidades protéicas dos atletas em geral estão em discussão, não somente pelo fato de que durante o exercício estas necessidades aumentam, mas também os possíveis efeitos benéficos da suplementação de aminoácidos (BARROS; GUERRA, 2004). O atleta requer uma ingestão maior de proteína do que um indivíduo sedentário, devido ao reparo de lesões induzidas pelo exercício nas fibras musculares, além do uso de pequenas quantidades de proteína como fonte de energia durante a atividade e o ganho de massa magra (ACSM; ADA; DC, 2000). Além da necessidade protéica ser mais elevada na adolescência, quando comparada a um adulto, devido a importante função de promover um crescimento adequado, o exercício físico vem contribuir ainda mais com o aumento desta necessidade (MEYER; PERRONE, 2008). Sendo assim, a ingestão adequada de proteínas deve manter o balanço nitrogenado positivo, ou seja, o consumo deve ser maior que a utilização para manter normal o crescimento e o desenvolvimento dos órgãos e tecidos (BAR-OR, 2000). Todavia, o consumo excessivo deste macronutriente não leva ao aumento de massa magra, podendo ainda comprometer a ingestão de carboidrato e causar desidratação. O excesso de proteínas pode ser estocado como tecido adiposo, tendo em vista que há limite para o acúmulo de proteínas nos diversos tecidos (HIRSCHBRUCH; CARVALHO, 2008; NAHAS; HERNANDEZ, 2009). 21 O uso de aminoácidos como fonte energética está associada à depleção dos estoques de glicogênio muscular. Aparentemente, esta redução de glicogênio aumenta a oxidação de aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA), assim, nos momentos finais do exercício de longa duração, os BCAAs colaboram com cerca de 5 a 15% da energia total da atividade (MÜLLER, 2007). Esta perda de aminoácidos poderá comprometer o processo normal de síntese protéica. Isso por conseqüência pode ocasionar a perda de força muscular, assim diminuindo o desempenho durante a partida de futebol, isso se os mesmos não forem repostos por meio da alimentação (LEMON, 1994 apud GUERRA et al, 2001). De acordo com a SBME (CARVALHO et al, 2003; NAHAS; HERNANDEZ; 2009), o consumo de proteína mais indicado para atletasé de 1,2 a 1,8g/Kg/dia, devido a este esporte ser de alta intensidade necessitando tanto de força quanto de resistência. Os jogadores brasileiros, normalmente, consomem uma quantidade diária de proteínas em suas dietas maior que a recomendada. Esta ingestão a mais pode estar relacionada ao consumo diário de carnes e da combinação arroz e feijão na alimentação dos atletas (GUERRA, 2000). 2.2.3 Lipídeos As duas principais fontes de energia para produzir o ATP durante o exercício são os carboidratos, na forma de glicogênio muscular, e a gordura em forma de ácido graxo (WILLIAMS, 2002). O objetivo da utilização de gordura no exercício é poupar o uso do glicogênio muscular, e conseqüentemente influenciará na duração da disponibilidade de carboidratos necessários durante o exercício (BROUNS, 2005). A maior parte do substrato lipídico é proveniente dos ácidos graxos livres mobilizados do tecido adiposo. Sua mobilização é mais significativa durante os exercícios prolongados de intensidade moderada (HARGREAVES, 1994 apud GUERRA; SOARES; BURINI, 2001). A recomendação sugerida pela Diretriz da SBME (CARVALHO et al, 2003; NAHAS; HERNANDEZ; 2009) coloca que o consumo de lipídeos não deve ser 22 maior que 30% do valor energético total diário, sendo que as proporções de ácidos graxos essenciais sejam a mesma: 10% de saturados, 10% de poliinsaturados e 10% de monoinsaturados. Embora haja indicação de que as crianças utilizam mais gordura como fonte de energia durante o exercício, não há nenhuma evidência de que jovens atletas que praticam atividades de resistência se beneficiem com uma quantidade alta de gordura na dieta. O consumo elevado de gordura, antes do exercício, pode causar uma redução de 40% da secreção do hormônio do crescimento durante o exercício físico (MEYER; PERRONE, 2008). Por outro lado, este consumo protéico não deve ser excessivamente baixo, pois estudos sugerem que níveis abaixo de 15% do valor calórico total já produzem efeitos negativos no metabolismo de produção de energia, no transporte de vitaminas lipossolúveis, e na composição das membranas celulares (ACSM, 2000; NAHAS; HERNANDEZ, 2009). Segundo a ACSM; ADA; DC (2000), a alta ingestão de proteínas tem sido considerado um problema freqüente nas dietas dos atletas, tornando mais difícil a ingestão das quantidades preconizadas de carboidratos. 2.3 Hidratação A produção de energia pelo organismo é elevada durante a prática de exercícios físicos devido à maior produção de calor metabólico (CARVALHO et al, 2003). Em relação aos adultos, jovens atletas merecem uma atenção especial quanto à hidratação, pelo fato desses apresentarem, fisiologicamente, desvantagens em relação aos adultos, no quesito regulação térmica. Quanto mais jovem o atleta for, maior é a absorção do calor pela superfície corpórea, e menor será a taxa de sudorese, também por superfície corpórea (SILVA, 2006). A ingestão de fluídos e hidratação de forma adequada durante o exercício é fundamental e muito importante para sessões de treinamentos prolongados ou eventos competitivos. O consumo de fluídos interfere na manutenção da hidratação e da temperatura corporal (termorregulação), permitindo adequado volume no plasma (NABHOLZ, 2007). 23 Tendo em vista que o futebol é um esporte com duração de 90 minutos, geralmente ocorrem problemas associados à termorregulação e ao balanço hídrico. Sabe-se que o esforço físico quando associado com o estresse térmico, aumenta a produção de suor e do fluxo sanguíneo cutâneo (TIRAPEGUI, 2005). Dependendo das condições climáticas e da intensidade da partida, as perdas líquidas pelo suor de cada jogador de futebol podem variar de um a quatro litros. Vários estudos relataram que em média, os jogadores repõem em torno de 0 a 87% de sua perda de líquido durante o jogo (MAUGHAN; BURKE, 2004). Segundo Aragón-Vargas (2000), além das diferenças individuais, tais como: estado de climatização, condicionamento físico e taxas de transpiração dos atletas, no futebol existem diferenças no número de interrupções em um jogo. Isto, somado as variações quanto ao trabalho realizado durante a partida pelos jogadores, indicam possíveis níveis de desidratação e fadiga diferenciados, cabendo aos profissionais da saúde ficar atentos a essas variações. A reposição de líquidos, antes e durante o exercício, tem como objetivo fornecer substrato como fonte de energia e anular os efeitos negativos causados pela desidratação, já que o exercício praticado em estado de baixa hidratação ocasiona o aumento rápido da temperatura corporal e ao início das agressões térmicas. Deste modo, o consumo hídrico correto antes, durante e após os jogos e treinos ajudaria na prevenção destes sintomas (GUERRA; SOARES; BURINI, 2001). O futebol por ser um esporte com poucos intervalos regulares não permite que a hidratação seja feita de forma correta, sua ingestão durante o exercício é também limitada pelo tempo de esvaziamento gástrico já diminuído devido à alta intensidade (TIRAPEGUI, 2005). Portanto, de acordo com Nahas e Hernandez (2009), é importante iniciar o exercício físico bem hidratado, ingerindo 250 a 500ml de água aproximadamente duas horas antes do início do mesmo. O consumo de líquidos pode ser feito logo nos primeiros 15 minutos e permanecer bebendo a cada 15 a 20 minutos de jogo. A taxa de sudorese tem influência direta no volume a ser ingerido pelo jogador, mas geralmente este volume é de 500 a 2.000ml/hora. Em esportes intermitentes e intensos como o futebol é fundamental a utilização de bebidas hidroeletrolíticas, contendo carboidrato (4 a 8%) e sódio (0,5 a 0,7g/l), tendo em vista que o carboidrato é essencial como repositor energético e no retardo da fadiga, além de ter como vantagem o sabor agradável, o qual estimula 24 uma maior ingestão de líquidos pelos jovens (ACSM; ADA; DC, 2001; JUZWIAK; PASCHOAL; LOPEZ, 2000). Após o exercício é recomendado dar continuidade à ingestão hídrica, água, carboidratos e sódio nas primeiras horas, para promover a ressíntese de glicogênio, fazer uma correta reposição hídrica e de sódio (NAHAS; HERNANDEZ, 2009). 2.4 Micronutrientes e Exercício A ACSM; ADA; DC (2000) afirma que durante a adolescência, as necessidades de micronutrientes estão aumentadas devido às demandas metabólicas do crescimento e do desenvolvimento. Os micronutrientes são importantes na produção de energia, na síntese de hemoglobina, manutenção da saúde óssea, funcionamento do sistema imunológico e são essenciais para a construção e reparo de tecidos musculares após o exercício. Todas as necessidades de micronutrientes devem ser atingidas baseadas em uma dieta adequada qualitativa e quantitativamente, que supra a demanda energética do treinamento. Tendo um cuidado especial com a ingestão do ferro e do cálcio na adolescência (JUZWIAK; PASCHOAL; LOPEZ, 2000). Apesar de não existir recomendações específicas de micronutrientes para atletas e nem para jovens esportistas, as Recommended Dietary Allowances (RDAs) e a Dietary Reference Intake (DRI) são utilizadas como padrão para verificar a adequação, apesar da pouca especificidade (JUZWIAK; PASCHOAL; LOPEZ, 2000). 2.4.1 Ferro O ferro é indispensável na prática de atividade física, pois é responsável por transportar oxigênio no sangue e no músculo, além de fazer parte de diversas 25 enzimas relacionadas aos processos oxidativos e à proliferação celular (JUZWIAK; PASCHOAL; LOPEZ, 2000). Deve-se considerar que, as mudanças da adolescência, como o estirão de crescimento físico e o desenvolvimento sexual e ósseo, promovem o aumento das necessidades de ferro neste estágio da vida (EISENSTEIN, 2000). O acelerado aumento da massamagra, do volume sanguíneo e das células vermelhas resulta em uma necessidade maior de ferro para a mioglobulina e a hemoglobina, elevando a possibilidade de ocorrer anemia no estirão (JUZWIAK; PASCHOAL; LOPEZ, 2000). Na tabela abaixo está descrita a recomendação da ingestão adequada de ferro: Tabela 1- Valores de RDA para Ferro: ingestão recomendada para população geral Sexo Faixa etária Masculino Feminino 9 a 13 anos 8 mg/dia 8 mg/dia 14 a 18 anos 11 mg/dia 15 mg/dia 19 a 50 anos 8 mg/dia 18 mg/dia › 50 anos 8 mg/dia 8 mg/dia Fonte: IOM (Institute of Medicine), 2000. O consumo inadequado e a ausência de ferro é comumente relatada em atletas (MEYER; PERRONE, 2008). A ingestão insuficiente deste micronutriente pode levar à anemia ferropriva e ocasionar diminuição no rendimento esportivo devido a sintomas como fadiga, sonolência e falta de concentração (NACIF; VIEBIG, 2006). 2.4.2 Cálcio O cálcio, o principal mineral que atua na formação da massa óssea, é também essencial para a coagulação sanguínea, agregação plaquetária e ainda tem um papel especial na contração muscular (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2005). 26 Sendo assim, exercendo importante função na liberação do sítio ativo de pontes cruzadas actina-miosina durante a contração muscular, e por isso representa um nutriente fundamental na prática esportiva. Ainda a perda de massa magra está associada à osteoporose, que por sua vez, pode ser desencadeada pela baixa ingestão de cálcio. Na atividade esportiva, a diminuição da massa muscular quase nunca é desejável, e neste sentido, o cálcio teria a função de preservação e manutenção da magra (BUCCI et al, 2005). O pico de massa óssea é o resultado da interação de fatores endógenos (genéticos e endócrinos) e fatores exógenos (nutrição e atividade física). Especula- se que a genética contribui com 80% da massa óssea e o ambiente com os 20% restantes (VITOLO, 2008). O consumo adequado de cálcio é de extrema importância para os atletas em crescimento, para reduzir as fraturas de estresse e, posteriormente, o risco de desenvolver osteoporose (JUZWIAK; PASCHOAL; LOPEZ, 2000). Na tabela abaixo está descrita a recomendação da ingestão adequada de cálcio: Tabela 2- Valores de AI para Cálcio: ingestão recomendada para população geral Faixa etária Recomendação 9 a 18 anos 1300 mg/dia 19 a 50 anos 1000 mg/dia › 50 anos 1200 mg/dia Fonte: IOM (Institute of Medicine), 2000. 2.5 SUPLEMENTAÇÃO O uso de suplementos por parte de muitos atletas ou praticantes de atividades físicas é bastante visível. O seu aparecimento no mercado tem sido mais rápido do que a elaboração de regulamentações e a realização de pesquisas científicas que comprovem os efeitos na saúde e a segurança de seu uso em longo prazo nos usuários. Porém, sabe-se que a ingestão excessiva de alguns suplementos, como ocorre freqüentemente em atletas, pode representar um risco significativo à saúde, mesmo que sejam vitaminas e minerais (WILLIAMS, 2002). 27 Com finalidade ergogênica e estética, no Brasil, tem sido observado a utilização abusiva de suplementos alimentares e drogas. Trata-se de atitudes que têm crescido em ambientes de prática de exercícios físicos, tendendo à generalização em algumas academias de ginástica e associações esportivas (CARVALHO et al, 2003; NAHAS; HERNANDEZ 2009). No meio atlético, existem dois fatores importantes para o sucesso, sendo estes: a carga genética e o estado de treinamento. Em vários níveis de competição os participantes possuem habilidades atléticas genéticas bem similares, tornando-se bastante nivelados quando expostos aos mesmos métodos de treinamento. Pode-se afirmar então que, pela busca de melhora no desempenho físico diante de seus adversários, duas estratégias são adotadas: dieta adequada e utilização de recursos ergogênicos (BIESEK; ALVES; GUERRA, 2005). O propósito da maioria dos ergogênicos é aumentar a performance pela intensificação da potência física, da força mental ou do limite mecânico e, dessa forma, prevenir ou retardar o início da fadiga (ALVES; DANTAS, 2002). A Portaria 222/1998 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que aprova o regulamento técnico referente a alimentos para praticantes de atividade física, classifica os suplementos alimentares em: repositores hidroeletrolíticos, repositores energéticos, alimentos protéicos, alimentos compensadores, aminoácidos de cadeia ramificada e outros alimentos com fins específicos para praticantes de atividade física. No entanto, em novembro de 2008, a ANVISA propôs novas regras para os alimentos destinados aos atletas encontradas na Consulta Pública nº60; nela apresenta-se um novo conceito para este grupo específico de alimentos, além de regulamentar o uso de suplementos de creatina e de cafeína. Estima-se que até o fim deste ano vai ser definida a nova regulamentação. 2.6 NUTRIÇÃO NO ATLETA ADOLESCENTE Adolescentes necessitam de uma oferta energética substancial para o acelerado crescimento ósseo, tecidual, cerebral e para a maturação sexual (HIRSCHBRUCH; CARVALHO, 2008). 28 A adolescência é uma etapa evolutiva peculiar ao ser humano, que culmina todo o processo maturativo biopsicossocial do indivíduo. Caracterizada por profundas transformações somáticas, psicológicas e sociais, compreende as idades de 10 a 19 anos, de acordo com a Organização Mundial de saúde (WHO, 1986; COLLI, 1992; OSÓRIO, 1992; COSTA; SOUZA, 2002 apud VITOLO, 2003) Esta etapa da vida é considerada de risco nutricional, pois é quando jovens incorporam seus hábitos para o futuro, estabelecendo padrões alimentares (SILVA; TEIXEIRA; GOLDBERG, 2003). Há vários fatores que influem na qualidade de uma dieta, principalmente por se tratar de adolescentes, deve-se levar em consideração que nessa faixa etária há uma busca por maior independência, e a escolha da alimentação é uma das áreas que esses jovens mais podem mostrar sua determinação e expressar suas preferências (JUZWIAK; PASCHOAL; LOPEZ, 2000). Os adolescentes passam, gradativamente, maior tempo longe de casa, na escola e com os amigos, o que também influência na escolha dos alimentos e estabelece o que é socialmente aceito (GAMBARDELLA; FRUTUOSO; FRANCHI, 1999). A manutenção do balanço energético é considerada uma preocupação constante. Jovens atletas são particularmente afetados pelo desequilíbrio energético que pode ter como conseqüência, caso se prolongue, graves implicações para a saúde, tais como baixa estatura, atraso puberal, deficiência de nutrientes, desidratação, irregularidade menstrual, alterações ósseas, maior incidência de lesões e maior risco de manifestação de distúrbios alimentares (THOMPSON, 1998). Diante dessas considerações, é difícil estabelecer uma recomendação alimentar de referência para a energia de adolescentes que praticam atividades físicas regularmente e até mesmo atletas. A avaliação da adequada ingestão energética pode ser analisada através monitoração do crescimento, do peso corporal e outras variáveis antropométricas (MEYER; PERRONE, 2008). Com o objetivo de promover um crescimento adequado, a nutrição para adolescentes deve ser ajustada: saudável e balanceada em quantidade e qualidade de nutrientes, ainda sendo agradável ao paladar, principalmente na fase do estirão de crescimento (OLIVEIRA; VITALLE, AMÂNCIO, 2000). A Diretriz da SBME, revisada por Nahas e Hernandez (2009), recomenda que a ingestão de carboidratos por atletas seja de 60-70% do aporte calórico diário, 29 enquanto as proteínas devem contribuir com 10-15% da dieta e os lipídeos com 30% do valor calórico total. Já de acordo com Juzwiak e Paschoal (2001), as fontes energéticas devem estar balanceadasentre os macronutrientes, sendo a recomendação da dieta para crianças e adolescentes fisicamente ativos seja rica em carboidratos (60-70% do VCT), adequada em lipídeos (20-25% do VCT), equilibrada em proteínas (10- 15% do VCT) e com variações qualitativas a fim de alcançar as recomendações de micronutrientes. Portanto, ao se tratar de jovens atletas, a adequação nutricional tem que estar relacionada com a otimização do crescimento e desenvolvimento corporal, assim a alimentação dos atletas nesta faixa etária deve garantir as necessidades nutricionais para a prática de exercícios físicos como também para o desenvolvimento corporal (SILVA, 2006). 30 3 METODOLOGIA 3.1 ÂMBITO DO ESTUDO O presente estudo faz parte das atividades do Projeto de Extensão intitulado “Atendimento nutricional a praticantes de exercícios físicos e atletas”. O projeto tem por objetivo prestar atendimento nutricional individual e em grupos a praticantes de exercícios físicos e atletas de diferentes modalidades e faixas etárias de Criciúma e de regiões vizinhas. Ele é desenvolvido pelo curso de Nutrição da UNESC. Neste estudo são apresentados os dados referentes às atividades desenvolvidas com os atletas das categorias de base de um time de futebol de Criciúma (SC). 3.2 DESENHO DO ESTUDO O estudo caracterizou-se como do tipo descritivo de campo, transversal, com abordagem quantitativa. 3.3 SUJEITOS A população do estudo foi formada por 82 jogadores das categorias de base de uma equipe de futebol Criciúma, SC, participantes do projeto de extensão “Programa de Atendimento a Praticantes de Exercícios Físicos e Atletas”, atendidos no ambulatório de Nutrição da UNESC nos meses de abril a maio de 2009. Participaram da amostra todos os jogadores que se predispuseram como voluntários ao estudo. Os critérios de inclusão adotados foram: 31 - Ter idade entre 12 e 20 anos. - Fazer parte das categorias de base da equipe; - Atuar na equipe há dois meses; - Participar de toda a coleta de dados e entregar os instrumentos devidamente preenchidos; Preencheram os critérios de inclusão 52 atletas, representando 63,4% da população estudada. 3.4 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS Os dados da pesquisa foram obtidos por meio dos prontuários dos participantes disponíveis no ambulatório de nutrição da UNESC. O prontuário dos participantes do programa era composto de: - Ficha de anamnese (Anexo 1): onde constavam informações acerca de dados pessoais, história familiar e pessoal de doenças, uso de medicamentos e de suplementos, atividades físicas realizadas, dados antropométricos e da avaliação da composição corporal, exames bioquímicos, etc. Na ficha de anamnese também havia espaço para registrar informações sobre o consumo alimentar (Recordatório de 24 horas). O Recordatório de 24h consiste em definir e quantificar todos os alimentos e bebidas ingeridos no período anterior à entrevista, que pode ser às 24h precedentes ou do dia anterior (GIBSON, 1990 apud FISBERG et al, 2005). - Registro alimentar (Anexo 2): Consiste em um método de avaliação do consumo alimentar, onde o avaliado registra, em formulário próprio, todos os alimentos e bebidas consumidas ao longo do dia (TIRAPEGUI; RIBEIRO,2009). O indivíduo anotou neste registro o tamanho da porção consumida em medidas caseiras de um dia, sendo este, final de semana. - Questionário sobre consumo de suplementos (Apêndice 1): elaborado pela pesquisadora, continha questões abertas e fechadas sobre o consumo de suplementos, tipo, quantidade, quanto tempo consome e quem faz a indicação de 32 uso. O consumo de suplementos descrito pelos jogadores é realizado somente no período de competições. 3.5 AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR Os dados do consumo alimentar de um dia coletado com o recordatório de 24 horas e um dia de registro alimentar foram quantificados com o auxílio do programa Diet Win® , versão 3.0.13-2008. Foram determinados as quantidades de calorias, carboidratos, lipídeos, proteínas, ferro e cálcio consumidos. Os valores de macronutrientes obtidos foram comparados às recomendações de ingestão para atletas propostas pela Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (NAHAS; HERNANDEZ, 2009). Este órgão estabelece que o consumo diário de carboidrato deva situar-se entre 60 a 70%, proteínas contribuam com 1,2 a 1,8g/Kg/de peso e os lipídeos situem-se entre 20 a 30% do valor calórico total. Os valores de ferro e cálcio foram comparados aos valores de Dietary Reference Intake (DRI) (IOM, 2000). 3.6 AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL A análise foi feita por bioimpedância. Foi determinado o percentual de gordura corporal (%GC), percentual de massa magra (%MM) e percentual de água (%ÁGUA). Para tal, utilizou-se o aparelho da marca tal MALTRON®, modelo BF - 900. Os atletas foram informados acerca do protocolo de bioimpedância no qual consiste em: efetuar jejum pelo menos quatro horas que antecedem o teste; não praticar atividade física muito intensa 24h antes do teste e/ou exercícios leves/moderados 12h antes; não ingerir bebidas alcoólicas nas 48h anteriores ao teste; não ingerir estimulantes (café, chá e chocolate) no dia anterior ao teste; não 33 utilizar medicamentos diuréticos sete dias antes do teste; não ingerir refeições pesadas no dia anterior ao teste (para que o peso não seja momentaneamente alterado) (ROSSI; TIRAPEGUI, 2001). Os dados de massa corporal e estatura foram obtidos utilizando-se balança antropométrica mecânica da marca “Techline” com capacidade para 180Kg, precisão de 100g, com estadiômetro da marca “Sanny”, respectivamente. Para aferição da massa corporal o avaliado subiu na plataforma, cuidadosamente, colocou um pé de cada vez e posicionou-se no centro da mesma. Estava com o mínimo de roupa possível e sem nenhum acessório nos bolsos. Esta medida foi realizada apenas uma vez (PETROSKI, 2007). A aferição da estatura foi realizada em posição ortostática, com os pés descalços e unidos, procurando por em contato com o instrumento de medida as superfícies posteriores do calcanhar, cintura pélvica, cintura escapular e região occipital, a cabeça orientada segundo o plano Frankfurt (PETROSKI, 2007). De posse dos valores de massa corporal e estatura, calculou-se o Índice de Massa Corporal (IMC). Os valores de IMC foram avaliados de acordo com os percentis para a idade (IMC/Idade), utilizando-se os pontos de corte propostos pela Organização Mundial de Saúde (WHO, 2007). 3.7 COLETA DE DADOS Todos os dados foram coletados e aferidos pelos participantes do Projeto de extensão de atendimento a praticantes de exercícios físicos e atletas da UNESC do semestre de 2009-1, supervisionadas pelo professor orientador do Projeto de Extensão. A coleta dos dados dos jogadores foi realizada em duas etapas, na primeira etapa a anamnese foi devidamente preenchida incluindo o recordatório de 24h e o questionário de consumo de suplemento. Neste mesmo dia os atletas levaram o registro alimentar (final de semana) para ser preenchido. Na segunda etapa coletaram-se os dados antropométricos e os dados da composição corporal através das dobras e bioimpedância, respectivamente. As entrevistas foram 34 realizadas no próprio clube e os equipamentos para a coleta de dados antropométricos utilizados foram os do ambulatório de Nutrição da universidade. 3.8 ANÁLISE ESTATÍSTICA Os dados foram tabulados em planilha Excel. Foram calculados as freqüências absolutas e relativas, médias e desvio-padrão. Os resultados foram apresentadospor meio de tabelas e gráficos. 3.9 ASPECTOS ÉTICOS O projeto de extensão foi devidamente submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNESC, conforme a resolução vigente (Resolução 196/96) do Conselho Nacional de Saúde (ANEXO 3). No referido projeto consta a utilização dos dados levantados para elaboração de Trabalhos de Conclusão de Curso e demais publicações científicas. 35 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 CARACTERIZAÇÃO ANTROPOMÉTRICA A coleta de dados foi realizada com 82 atletas sendo que, destes, 30 foram excluídos por não se enquadrarem nos critérios de inclusão, totalizando 52 indivíduos, todos adolescentes do sexo masculino, com idade mínima de 13,7 anos e máxima de 19,8 anos. Os atletas pertenciam a diferentes categorias, de acordo com a idade: infantil (até 15 anos), juvenil (até 17 anos) e júnior até (20 anos). A Tabela 3 apresenta os valores de idade, massa corporal e estatura referida e o Índice de Massa Corporal dos avaliados, de acordo com as categorias. Tabela 3: Variáveis Antropométricas dos Atletas da Equipe Futebol de Criciúma (SC). Categorias Variáveis Infantil (n=15) x s Juvenil (n=19) x s Júnior (n=18) x s Geral (n=52) x s Idade (anos) 14,9 0,6 16,6 0,6 18,6 0,6 16,8 1,6 Massa Corporal (Kg) 66,1 7,5 71,1 7,0 76,1 8,0 71,4 8,5 Estatura (m) 1,80 0,06 1,80 0,06 1,80 0,06 1,79 0,07 x= média; s= desvio padrão; n= tamanho da amostra Neste estudo a idade média dos atletas foi de 16,8±1,6 anos, enquanto massa corporal média foi de 71,4±8,5 Kg e a estatura média foi de 1,79±0,07 m. Observou-se que o peso corporal aumentou com o avançar da idade e que a estatura permaneceu estável em todas as categorias. No estudo de Tanaka (2007), foram avaliados 21 jogadores de futebol com média de 16,2+0,4 anos da categoria juvenil (sub-17) de um time do interior de São Paulo. A massa corporal média correspondeu a 67,7±5,0 Kg, enquanto a média de estatura foi de 1,78±7,1m, valores estes semelhantes ao presente estudo. Ao analisar por categorias, tanto na variável peso como na variável estatura este estudo apresentou valores maiores quando comparados ao estudo realizado por Daros et al (2008), onde foram analisados dados antropométricos em 753 atletas de futebol de cinco diferentes categorias (mirim, infantil, juvenil, júnior e profissional). 36 4.2 CLASSIFICAÇÃO DO ÍNDICE DE MASSA CORPORAL (IMC) O estado nutricional dos adolescentes foi avaliado por meio do indicador IMC/Idade proposto pela OMS (2007), cujos resultados podem ser observados na Tabela 4. Tabela 4: Classificação do IMC/Idade dos Atletas da Equipe Futebol de Criciúma (SC) Categorias Estado Nutricional Infantil (n=15) f f% Juvenil (n=19) f f% Júnior (n=18) f f% Geral (n=52) f f% Eutrofia 12 80,0% 15 78,9% 18 100,0% 45 86,5% Sobrepeso 3 20,0% 4 21,1% 0 0,0% 7 13,4% f = freqüência absoluta; f% = freqüência relativa; n= tamanho da amostra Analisando os dados da Tabela 4, percebe-se que a maioria dos jogadores (86,5%) está com o estado nutricional classificado como eutrófico. Uma pequena parcela (13,4%) apresentou-se com sobrepeso. Não foram observados casos de baixo peso. A maior prevalência de sobrepeso foi observada na categoria juvenil (21,1%). Prevalências menores de sobrepeso foram constatadas em alguns estudos. No estudo conduzido por Falk e Pereira (2009) com 96 alunos de uma escola de futebol do oeste catarinense, observou-se uma prevalência de 5,2% de sobrepeso. Da mesma forma, no estudo de Araújo et al (2007) com 54 jogadores de futebol da categoria infantil de um time do Rio de Janeiro, observou-se que uma pequena parcela (5,8%) foi classificada com sobrepeso, também não sendo observado nenhum caso de baixo peso. É sabido que um peso corporal ótimo é essencial para a saúde como também para as competições (TIRAPEGUI, 2005). Vale ressaltar que o IMC como forma de avaliar o estado nutricional e a composição corporal de atletas deve ser usado de forma criteriosa, pois este índice não discrimina os componentes corporais (NACIF; VIEBIG, 2007). 37 4.3 COMPOSIÇÃO CORPORAL Os atletas foram submetidos à avaliação da composição corporal por bioimpedância. A Tabela 5 apresenta os valores em quilogramas de massa magra, massa gorda e também o valor em percentagem de massa gorda obtidos com os atletas. Tabela 5: Composição Corporal dos Atletas da Equipe de Futebol de Criciúma (SC). Categorias Variáveis Infantil (n=15) x s Juvenil (n=19) x s Júnior (n=18) x s Geral (n=52) x s %GC 10,1 1,8 9,9 1,1 8,1 1,5 9,3 1,7 MCG (Kg) 6,7 1,5 7,1 1,3 6,2 1,6 6,7 1,5 MCM (Kg) 59,4 6,6 64,0 5,9 69,9 6,8 64,8 7,7 x= média; s= desvio padrão; n= número da amostra No presente estudo, a média do percentual de gordura corporal ficou em 9,3±1,7%. Segundo Lohman (1989), valores considerados adequados de percentual de gordura corporal para crianças e adolescentes do sexo masculino variam entre 10,1 a 20%. Desta forma, os atletas se classificariam com um baixo percentual de gordura corporal. O mesmo foi observado com os valores médios obtidos nas categorias juvenil e júnior. No entanto, em atletas, o percentual de gordura corporal tende a ser menor que em indivíduos sedentários, devido aos benefícios propiciados pela melhora no desempenho físico no exercício, independente da modalidade esportiva (NACIF; VIEBIG, 2007). Por outro lado, não existem valores de referência específicos para atletas adolescentes desta modalidade. Garret (2003) defende valores de 8 a 12% para o sucesso no futebol, concordando com McArdle (2003), que afirma que atletas em geral possuem características de composição corporal ímpares para seu desporto específico. Sendo assim, as médias de percentual de gordura corporal aqui apresentadas estariam de acordo com estes valores. Neste estudo pode-se observar que com o avançar das idades a variável gordura corporal foi diminuindo (Infantil 10,1±1,8%; Juvenil 9,9±1,1%; Júnior 38 8,1±1,5%); enquanto a variável massa corporal magra foi aumentando (Infantil 59,4±6,6 Kg; Juvenil 64,0±5,9 Kg; Júnior 69,9±6,8 Kg). Isso pode ser observado também no estudo de Campeiz, Oliveira e Maia (2004), onde 54 jogadores divididos em categorias obtiveram valores crescentes de massa corporal magra (Juvenil 56,92±4,66 Kg; Júnior 62,98±4,25 Kg e Profissional 69,09±5,42 Kg). No entanto os valores de gordura corporal destes jogadores não acompanharam a mesma lógica do presente estudo (decréscimo com o avançar da idade), sofrendo uma pequena variação entre as categorias (Juvenil 10,2%; Júnior 10,15% e no Profissional 10,7%). 4.4 CONSUMO ALIMENTAR 4.4.1 Energia Os atletas apresentam necessidades energéticas aumentadas quando comparados a indivíduos sedentários ou menos ativos. A prática de exercício físico requer um maior aporte calórico dependendo do esporte realizado, sua intensidade e tempo de duração. Somado a estes fatores, adolescentes necessitam de uma oferta energética adequada para sustentar o crescimento acelerado e as modificações na composição corporal que ocorrem neste período (HIRSCHBRUCH; CARVALHO, 2008). A Tabela 6 apresenta as necessidades calóricas estimadas e a ingestão calórica estimada dos avaliados conforme os valores encontrados na análise do recordatório 24h e do registro alimentar (média dos dois dias). 39 Tabela 6: Consumo Energético dos Atletas da Equipe de Futebol de Criciúma (SC). Categorias VariáveisInfantil (n=15) x s Juvenil (n=19) x s Júnior (n=18) x s Geral (n=52) x s Necessidade Calórica (Kcal) 3796 276 3980 259 4164 294 3993 313 Ingestão Calórica (Kcal) 2397 613 2672 645 2469 487 2497 584 Adequação Calórica (%) 63,9 18,7 67,1 16,2 59,6 12,9 63,0 16,0 x= média; s= desvio padrão; n= tamanho da amostra Pode-se observar, conforme a Tabela 6, que a ingestão calórica média observada apresentou-se inferior às necessidades energéticas estimadas em todas as categorias. As médias de adequação variaram 59,6% (Júnior) a 67,1% (Juvenil). Uma ingestão calórica deficiente ou excessiva pode levar a uma perda ou ganho de peso corporal, respectivamente. Portanto, a fim de promover o equilíbrio orgânico, evitando modificações no peso corporal e influências negativas no desempenho esportivo, é essencial uma adequação entre a ingestão alimentar de acordo com o gasto energético. É importante destacar que foi avaliado o consumo alimentar de dois dias, e que, portanto o consumo analisado não reflete o consumo habitual dos atletas. Além disso, os mesmos, ao relatarem seu consumo alimentar, podem ter subestimado as porções dos alimentos ingeridos e/ou omitidos, fatores estes que influenciam na quantificação do consumo energético. Este fenômeno é denominado como sub-relato ou subnotificação. O sub-relato é um fenômeno complexo, envolvendo fatores morais, emocionais, sociais, cognitivos e físicos, sendo que interpretação destes, deve ser realizada com cautela, devido ao fato de vários aspectos inexplorados, comprometendo significativamente as inferências feitas a partir de estudos sobre avaliação do consumo alimentar (SCAGLIUSI; LANCHA JUNIOR, 2003). Todavia, consumos calóricos inadequados são apresentados por outros autores. LeBlanc et al (2002), ao avaliarem o hábito alimentar de jogadores franceses de futebol adolescentes constatou que o consumo médio calórico de todos os jogadores estavam abaixo da recomendação. Este resultado pode ser observado também no estudo de Ruiz et al (2005), o qual comparou hábitos alimentares de jogadores jovens e jogadores adultos de futebol. 40 4.4.2 Macronutrientes A Tabela 7 apresenta o consumo de macronutrientes dos avaliados. Tabela 7: Consumo de Macronutrientes pelos Atletas da Equipe de Futebol de Criciúma (SC). Categorias Macronutrientes Infantil (n=15) x s Juvenil (n=19) x s Júnior (n=18) x s Geral (n=52) x s Carboidratos (% do VCT) 60,7 6,1 60,7 6,6 60,8 8,1 60,7 6,8 Lipídeos (% do VCT) 24,0 6,3 24,5 6,6 22,8 7,4 23,7 6,6 Proteínas (%do VCT) 15,3 2,4 14,8 2,3 16,4 3,0 15,6 2,6 Proteínas (g/Kg de peso) 1,44 0,53 1,40 0,41 1,33 0,33 1,39 0,42 x= média; s= desvio padrão; n= tamanho da amostra O consumo médio de carboidratos (60,7±6,8%) apresentou-se dentro da recomendação (60-70% do VCT) da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. Porém, vale destacar que está no mínimo preconizado para estes jogadores em todas as categorias analisadas. É sabido que a ingestão inadequada deste macronutriente pode ocasionar prejuízos da performance e instalação precoce da fadiga muscular (exaustão), uma vez que a principal função deste é suprir o organismo de substrato para a produção de energia, utilizada nos processos metabólicos e nas atividades realizadas pelo corpo (TIRAPEGUI, 2005). A ingestão média de lipídeos (23,7±6,6%) foi considerada dentro da recomendação da SBME (até 30% do VCT). O consumo de lipídeos encontra-se em menor valor na categoria júnior. Contudo, tanto no registro como no recordatório pôde-se perceber que a distribuição de gordura está sendo realizada de forma inadequada, indicando um consumo elevado de gorduras trans e saturada ao invés das gorduras insaturadas (mono e poliinsaturadas). É sabido que dietas restritas em lipídeos podem ocasionar hipovitaminoses e suas conseqüências, uma vez que os lipídeos são o meio de transporte para as vitaminas lipossolúveis A, D, E e K, envolvidas nos processos metabólicos. Por outro lado, o elevado consumo de lipídeos pode significar um déficit na ingestão de carboidratos, o que pode representar menores quantidades de glicogênio e perda de performance (NACIF; VIEBIG, 2006). 41 A principal função das proteínas no organismo é atuar na síntese de tecidos, como o músculo. Pode-se observar na Tabela 7 que a percentagem média de proteínas (15,6±2,6%) ultrapassou a recomendação da SBME (10-15% do VCT), porém quando analisada em g/Kg de peso a média (1,39±0,42 g/Kg de peso) dos atletas avaliados encontra-se dentro do valor preconizado (1,2-1,8 g/Kg de peso). Entre as categorias o valor oscilou entre 1,33±0,33 a 1,44±0,53 g/Kg de peso nas categorias júnior e infantil, respectivamente. Apesar de saber que os atletas necessitam de um consumo protéico maior que indivíduos sedentários, pelo fato de sua composição corporal ser constituída em maior proporção por massa muscular e o exercício lesionar os tecidos orgânicos, muitos estudos demonstram que o consumo elevado de proteínas (superior a 2g proteína/kg de peso corporal ao dia) não apresenta efeitos adicionais na performance atlética, e ainda, esse excesso na ingestão alimentar pode causar uma sobrecarga ao fígado e rim, interferindo no funcionamento adequado desses órgãos (HIRSCHBRUCH; CARVALHO, 2008). O consumo inadequado de macronutrientes tem sido observado em alguns estudos com jogadores de futebol e atletas de outras modalidades esportivas. Ribeiro (2005) em seu estudo de avaliação dos hábitos alimentares de adolescentes jogadores de futebol constatou que a ingestão de macronutrientes também não se adequou a necessidade; sendo a ingestão de carboidrato (50,1%) menor que o presente estudo, enquanto a média de percentagem de lipídeos (32,4%) e proteínas (17,7%) relatadas ficou acima do consumo relatado neste estudo. Em estudo realizado por Almeida e Soares (2003) onde avaliava o perfil dietético e antropométrico de atletas adolescentes de voleibol encontraram também valores menores do que os preconizados para atletas. A porcentagem de carboidratos representou 48% do valor calórico total, ficando abaixo da recomendação, enquanto os lipídeos e as proteínas representaram respectivamente 32% e 20% do valor calórico total, assim excedendo o limite de adequação. Outro estudo que apresenta resultados semelhantes aos citados acima é o estudo de Soares, Ishii e Burini (1994), o qual foi realizado uma avaliação de dados antropométricos e dietéticos de nadadores competitivos onde se pode 42 verificar que, em ambos os sexos, a contribuição dos carboidratos foi abaixo de 50%, a das proteínas acima de 15% e a dos lipídios acima de 30%. Cabe destacar que apesar das médias de consumo dos macronutrientes em relação ao percentual do valor calórico parecer estar adequado, a ingestão calórica foi deficiente para grande parte dos avaliados, sendo este um fator muito preocupante. Ademais, quando se avalia o consumo individual, observam-se inadequações, tanto pelo consumo insuficiente quanto pelo consumo excessivo. Tal fato é observado na Figura 1: Figura 1: Avaliação do consumo de Macronutrientes dos Atletas da Equipe de Futebol de Criciúma (SC). A Figura 1 revela que quase 42,3% da amostra se mostraram com consumo insuficiente de carboidratos, enquanto apenas 7,7% ultrapassaram a recomendação. O consumo de lipídeos foi alcançado pela maioria (53,8%) dos atletas. O consumo de proteínas pelos jogadores em percentual revela que nenhum jogador apresentou baixo consumo de proteínas, pelo contrário 53,8% dos atletas apresentaram consumo excessivo deste macronutrientes. Ao analisar o valordas 43 proteínas por g/Kg observa-se que 38,5% da amostra está consumindo pouca proteína e 15,3% dos atletas consomem de forma excessiva. A distribuição dos macronutrientes na maior parte dos estudos revela que há um consumo excessivo de proteínas e lipídeos e baixo consumo de carboidratos. Este estudo vem a confirmar o trabalho realizado por Rebello et al (1999) onde foi analisada a dificuldade dos jogadores de futebol em se alimentar com qualidade, ressaltando assim o papel do profissional Nutricionista em realizar uma educação nutricional no meio esportivo, com o intuito de conscientizar os atletas e mesmo técnicos da importância de uma alimentação adequada. 4.4.3 Micronutrientes A Tabela 8 apresenta os valores de cálcio e ferro consumidos pelos atletas. Os atletas foram agora agrupados de acordo com a faixa etária, e não mais por categorias, haja vista que as recomendações são diferentes de acordo com a idade. Tabela 8: Consumo de Micronutrientes pelos Atletas da Equipe de Futebol de Criciúma (SC). Faixa etária Micronutrientes 9 a 13 anos (n=1) x s 14 a 18 anos (n=46) x s 19 a 50 anos (n=5) x s Geral (n=52) x s Ferro (mg) 13,0 0,0 13,8 6,8 13,3 2,4 13,7 6,5 Cálcio (mg) 804,7 0,0 807,2 765,2 685,45 357,1 786,6 729,3 x= média; s= desvio padrão; n= tamanho da amostra O consumo médio de ferro apresentou-se acima da recomendação (8mg para as faixas etárias 9 a 13 anos e > 19 anos; e 11mg para a faixa etária de 14 a 18 anos) da DRI, em todas as faixas etárias, porém não passaram dos valores máximos (40mg para a faixa etária de 9 a 13 anos e 45mg para as demais faixas etárias) permitidos pela Tolerable Upper Level Intake (UL). 44 A quantidade adequada de ferro corporal é vital para a performance atlética. As atividades físicas de longa duração são dependentes de adequado suprimento de oxigênio para os músculos solicitados no metabolismo aeróbio para liberação de energia. Caso esta quantidade de ferro não seja adequada, propiciando o surgimento da anemia, várias manifestações sistêmicas poderão ocorrer, dentre as quais se encontra a redução da capacidade física (HEYDE, 1999). O valor médio de cálcio ingerido por todas as faixas etárias não foi suficiente para alcançar o valor preconizado (1000-1300mg). É sabido que a deficiência de cálcio pode levar à desmineralização óssea e conseqüente osteoporose, que predispõe o sistema ósseo à fraturas e é mais comum em mulheres após a menopausa e atletas mirins ou jovens em treinamento extenuante (McARDLE et al., 2003). Além disso, uma baixa ingestão de cálcio pode prejudicar o desempenho de atletas, uma vez que este micronutriente é essencial para o processo de contração muscular (GOMES; TIRAPEGUI, 2002). Garcia, Gambardella, Frutuoso (2003), em estudo sobre o estado nutricional e o consumo alimentar de adolescentes de São Paulo, obteve valores menores destes micronutrientes; resultando em uma ingestão média de 580 mg de cálcio enquanto o consumo médio de ferro foi de 10,1 mg. Outros estudos de diferentes modalidades apresentam resultados semelhantes aos encontrados no presente estudo como o de Sartori, Prates e Tramonte (2002) onde avaliaram hábitos alimentares dos jogadores de futsal e o de Rossi, Silva e Tirapegui (2001), cujo objetivo foi de avaliar o consumo nutricional de atletas de karatê, ambos verificaram valores de ingestão reduzida de cálcio e consumo excessivo de ferro. 4.4.4 Suplementos O consumo de suplementos pelos atletas foi avaliado através do Questionário sobre consumo de suplementos. Os tipos de suplementos mais utilizados pelos atletas são apresentados na Figura 2. 45 Figura 2: Distribuição dos diferentes Suplementos consumidos pelos Atletas da Equipe de Futebol de Criciúma (SC). Na Figura 2 pode-se observar que os suplementos mais consumidos pelos atletas foram os repositores energéticos (69,2%), seguido por BCAAs (38,5%) e o terceiro de maior consumo foram os isotônicos (30,8%). Logo após aparecem os hiperprotéicos e o suplementos vitamínicos, ambos com 5,8% de consumo. O consumo de suplementos por indivíduos ativos, que visam melhorar o desempenho ou ganho estético é justificável por incompatibilidade de consumo alimentar de qualquer natureza como: falta de tempo, desinteresse por alimento e outros. De toda forma cabe salientar que o alimento possui nutrientes de maneira mais diversificada que qualquer suplemento alimentar (LANCHA JÚNIOR, 2007). Resultados diferentes a este estudo podem ser observados no estudo de Canuto e Salum (2004), onde foi avaliado o consumo de suplementos por atletas amadores de futebol de um time da capital catarinense. O suplemento mais consumido foi a creatina, seguida hipercalóricos, hiperproteícos e aminoácidos, os suplementos a base de carboidratos apareceram em último lugar. 46 5 CONCLUSÃO Por meio dos resultados obtidos com este estudo, que teve como objetivo avaliar a composição corporal e o consumo alimentar de jogadores das categorias de base de uma equipe de futebol de Criciúma (SC), atendidos em um programa de atendimento nutricional específico para atletas, foi possível chegar às seguintes conclusões: � O estado nutricional dos jogadores avaliados apresentou-se em maior parte (86,5%) com eutrofia, enquanto apenas 13,4% da amostra apresentaram sobrepeso. Não houve nenhum caso de baixo peso; � A média do percentual de gordura dos atletas apresentou-se abaixo da recomendação para indivíduos adolescentes do sexo masculino; � A média da adequação calórica variou de 59,6% a 67,1%, mostrando assim um baixo consumo calórico pelos jogadores; � As médias de consumo de macronutrientes apresentaram-se todas dentro do valor preconizado, porém quando avaliado o consumo individual alguns valores encontrados foram insatisfatórios. Quase a metade (42,3%) dos atletas tem baixo consumo de carboidratos, a maior parte da amostra consome o valor preconizado de lipídeos e o valor protéico dos avaliados apontam 15,3% de consumo exagerado; � O consumo médio de ferro apresentou-se adequado, enquanto o valor médio de cálcio não foi atingido em nenhuma das faixas etárias; � Os suplementos mais consumidos pelos jogadores de futebol foram os repositores energéticos (69,2%), seguido por BCAAs (38,5%), isotônicos (30,8%) e por último os hiperprotéicos e os suplementos vitamínicos, ambos com 5,8% de consumo. Tendo em vista que a principal função do nutricionista é modificar o hábito alimentar dos indivíduos a fim de prevenir doenças, manter a saúde e melhorar o desempenho e o rendimento, isto é, contribuir positivamente na saúde e na qualidade de vida, faz-se necessária a atuação do profissional nutricionista nesta 47 equipe com o objetivo de contribuir com a equipe multidisciplinar na melhora do desempenho físico dos atletas. 48 REFERÊNCIAS ALMEIDA, T.A., SOARES, E.A. Perfil dietético e antropométrico de atletas adolescentes de voleibol. Rev Bras Med Esporte, 2003. ALVES, L.A.; DANTAS, E.H.M. Efeitos da dose de manutenção após o período de carga da Suplementação de Creatina. Revista Fitness & Performance, v.1, n.5, 2002. ACSM.; ADA.; DC. Joint Position Stand: Nutrition & Athletic Performance. Med Sci Sports Exerc, 2000. ______. Position of american dietitic association, dietitians of canada, and american college of sports medicine: nutritrion and athletic performance. J Am Diet Assoc, 2001. ANVISA (Agência
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