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QUESTÃO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE Professora Me. Maria Cristina Araújo de Brito Cunha Professora Esp. Daniela Sikorski GRADUAÇÃO Unicesumar C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; SIKORSKI, Daniela; CUNHA, Maria Cristina Araújo de Brito. Questão Social na Contemporaneidade. Daniela Sikorski; Maria Cristina Araújo de Brito Cunha. Reimpressão - 2018. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2016. 169 p. “Graduação - EaD”. 1. Questão. 2. Social. 3. Contemporaneidade. 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-0320-8 CDD - 22 ed. 300 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Direção Operacional de Ensino Kátia Coelho Direção de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Direção de Operações Chrystiano Mincoff Direção de Mercado Hilton Pereira Direção de Polos Próprios James Prestes Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida Direção de Relacionamento Alessandra Baron Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli Gerência de Produção de Conteúdo Gabriel Araújo Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Supervisão de Projetos Especiais Daniel F. Hey Coordenador de Conteúdo Maria Cristina de Brito Cunha Design Educacional Ana Claudia Salvadego Iconografia Amanda Peçanha dos Santos Ana Carolina Martins Prado Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa Arthur Cantareli Silva Editoração Melina Belusse Ramos Qualidade Textual Hellyery Agda, Daniela Ferreira dos Santos, Yara Martins Dias, Hellyery Agda g. Silva Ilustração Melina Belusse Ramos Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não so- mente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in- tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educa- dores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a quali- dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu- nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con- tribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competên- cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessá- rios para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis- cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui- lidade e segurança sua trajetória acadêmica. A U TO R A S Professora Esp. Daniela Sikorski Especialista em Política Social e Gestão de Serviços Sociais pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e graduação em Serviço Social pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Discente dos cursos de Gestão Educacional (pós-graduação) e Processos Gerenciais (graduação) na Unicesumar. Tem experiência profissional na área de Serviço Social na Educação, Terceiro Setor, Responsabilidade Social e Gestão na Área da Saúde. http://lattes.cnpq.br/7555727127923107 Professora Me. Maria Cristina Araújo de Brito Cunha Mestre em Gerontologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Especialista em Administração de Recursos Humanos pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Graduada em Serviço Social pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Coordenadora do Curso de Serviço Social no Núcleo de Educação a Distância (NEAD) Unicesumar. http://lattes.cnpq.br/5055081415728722 SEJA BEM-VINDO(A)! Seja bem-vindo(a), caro(a) aluno(a)! Esta etapa que iniciamos agora é muito importante, pois trataremos da Questão Social e o Serviço Social. O objetivo é refletirmos acerca do surgimento da questão social e as suas manifestações no meio urbano e rural, bem como a sua relação com o serviço social. Nos países capitalistas, e isto não exclui o Brasil, podemos perceber a questão social como elemento fundante do serviço social, enquanto especialização ao trabalho hu- mano. Para a superação das problemáticas postas a partir das questões sociais é necessário muita criatividade, competência, leitura crítica e, sobretudo, a soma de esforços na mes- ma direção por parte de todos os envolvidos: governo, organizações e diversos profis- sionais que atuam no mercado de trabalho. Todos necessitam da nítida compreensão de que a sociedade é dinâmica, a clareza de que o processo histórico nos diz muito sobre a sociedade que temos hoje, tanto nos fala dos avanços como nos sinalizam muito bem quanto às origens das problemáticas que enfrentamos, seja econômica como social. Os profissionais envolvidos diretamente com o trabalho com as demandas sociais que são geradas pelas expressões da questão social em nossa sociedade precisam ter claro que mesmo a questão social sendo a mesma ao longo dos tempos, ela assume caracte- rísticas diferentes em cada realidade, manifesta-se de formas diferentes de acordo com as relaçõessócio-econômicas estabelecidas e a cada dia novos conflitos surgem acres- centando novos elementos as questões sociais. Estaremos juntos nas próximas páginas e buscaremos refletir acerca das questões so- ciais e suas expressões. Esses foram apenas questionamentos iniciais. Sendo assim, bom trabalho, boa leitura, e aproveite este momento, pois as discussões propostas neste ma- terial darão o norte do agir profissional, bem como uma melhor compreensão de como surgiu a profissional e como hoje ela é gestada no contexto social. Bons estudos! Profª Daniela Sikorski. Profª Maria Cristina A. B. Cunha. APRESENTAÇÃO QUESTÃO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE SUMÁRIO 09 UNIDADE I QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO 15 Introdução 16 Adquirindo Novos Conhecimentos e Recapitulando Alguns Acontecimentos Acerca da Questão Social no Mundo 17 Questão Social e a História 22 Revolução Industrial 25 Lei dos Pobres 31 Nova Lei dos Pobres (Inglaterra - 1834) 32 As Workhouses 38 Considerações Finais 44 Referências 45 Gabarito SUMÁRIO 10 UNIDADE II PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA 48 Introdução 49 A Questão Social na Sociedade Capitalista 54 A Questão Social no Processo de Industrialização do Brasil 60 A Questão Social no Brasil nas Décadas de 20 e 30 (Século XX) 72 Considerações Finais 79 Referências 81 Gabarito UNIDADE III CONCEITUANDO A QUESTÃO SOCIAL 85 Introdução 86 Reflexões Recentes 93 Questão Social e Nova Questão Social - Reflexões e Conceitos 102 Refletindo Sobre o Objeto de Serviço Social 105 Considerações Finais 113 Referências 115 Gabarito SUMÁRIO 11 UNIDADE IV MANIFESTAÇÕES DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA SOB O OLHAR DO SERVIÇO SOCIAL 119 Introdução 120 Questão Social – Serviço Social e Sua Intervenção 130 O Cenário Atual e suas Incidências na Questão Social 132 Considerações Finais 139 Referências 140 Gabarito UNIDADE V BUSCANDO RESPOSTAS ÀS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL 143 Introdução 144 Questão Social e Serviço Social 153 A Família Atingida pelas Questões Sociais – Breve Explanação 160 Considerações Finais 167 Referências 168 Gabarito 169 Conclusão U N ID A D E I Professora Esp. Daniela Sikorski QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO Objetivos de Aprendizagem ■ Atualizar os conhecimentos acerca de alguns acontecimentos históricos mundiais que contribuirão para o entendimento da questão social hoje e o serviço social. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Adquirindo novos conhecimentos e recapitulando alguns acontecimentos acerca da questão social no mundo. ■ Questão Social e a história ■ Revolução Industrial ■ Lei dos Pobres ■ Nova Lei dos Pobres (Inglaterra – 1834) ■ Workhouses INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), atualmente, falamos muito em globalização e sistema capita- lista, neoliberalismo, porém se observarmos o constante crescimento da economia veremos que este avanço não contribuiu para amenizar ou eliminar as desigual- dades e disparidades sociais presente na sociedade. Vemos a crescente pobreza, ocasionada por falta de emprego, o que acaba desencadeando problemas habi- tacionais, de saúde, assistência social, violência, entre outros. O avanço econômico não gerou avanço e desenvolvimento social, e em alguns momentos até o agravou, deixando muitos indivíduos à mercê da própria sorte. Desta maneira, iniciamos nossa disciplina com reflexões acerca dos acontecimen- tos mundiais relacionados ao trabalho, principalmente, a transição do sistema feudal para o capitalista, no qual veremos um pouco mais sobre a Revolução Industrial, a criação das Workhouses e a Lei dos Pobres de 1601 e 1834. Alguns pontos devem ser bem observados nesta unidade: a máxima do capi- tal: aumentar o lucro, reduzindo as despesas, isso provocou no homem a ideia de que para conseguir o que se queria (lucro) podia-se tudo, inclusive, passar por cima dos valores humanos. A distribuição de renda se torna concentrada nas mãos de poucos, proporcionando um desequilíbrio econômico e, por consequ- ência, social, pois o indivíduo trabalhador mesmo cumprindo com suas funções, não possuía condições de no final do mês prover o necessário. E ainda com a ilu- são de que vida próspera para todos estava na cidade, muitas famílias começam a abandonar o campo, depositando suas esperanças nos centros urbanos, aconte- cendo assim um aumento significativo na demanda de mão de obra, o aumento da população urbana, e o retrato do despreparo das cidades no recebimento des- tas famílias. Assim, agrava-se a questão social tanto na cidade quanto no campo. Vamos aproveitar para somarmos conhecimento, muitos deles já se encon- tram na sua memória, basta fazer um pouco de esforço e retomar estes fatos. Sendo assim, vamos ativar a memória e mãos à obra! Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 15 QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E16 ADQUIRINDO NOVOS CONHECIMENTOS E RECAPITULANDO ALGUNS ACONTECIMENTOS ACERCA DA QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO Neste início de leitura, creio que seja pertinente um primeiro exercício de refle- xão, que consiste em refletir acerca da seguinte citação: “Aqueles que esquecem o passado estão condenados e repeti-lo” (SANTAYANA, 1905 apud SCHIMDT, 1986, p.98). O questionamento é: o que realmente quer dizer e o que significa para esta nossa discussão e, especificamente, para este capítulo a colocação deste autor? Aproveite este momento, pois nenhuma citação aparece em um texto por acaso ou mero enfeite, cada citação possui um significado e merece atenção, pois nos auxilia no entendimento do assunto, ela nos abre as portas da reflexão e do conhecimento. © Ily a Bo yk o Questão Social e a História Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 17 Após este exercício, partiremos em um passeio histórico, retomando con- teúdos já vistos em outras oportunidades, no próprio curso de Serviço Social e até mesmo em nossa vida escolar do ensino médio ou cursinho pré-vestibular, o que muda agora é como nós estaremos analisando os acontecimentos históri- cos e o processo de surgimento das questões sociais no mundo (primeiramente). Estaremos mais que envolvidos com a questão histórica, aliás, ela (a histó- ria) é mais que necessária para que possamos compreender como e por que temos e vivenciamos o mundo como ele é hoje. Não podemos apenas passar uma “borracha” em tudo o que já foi constru- ído ou simplesmente achar que os acontecimentos passados não influenciam nas nossas vidas. Não podemos desconsiderar as tentativas de melhorar as con- dições de vida realizadas por nossos antepassados, os erros e acertos e a busca constante por um mundo melhor e que atendesse as suas necessidades. Desta maneira, aproximaremo-nos um pouco mais da história, no que se refere ao surgimento da questão social, as instituições de apoio ao necessitado na Inglaterra (as Workhouses); estaremos ampliando nosso conhecimento acerca da chamada Lei dos Pobres (Poor Law) e ainda retomar alguns pontos no que se refere a Revolução Industrial. Vamos, então, ampliar nosso conhecimento? Aproveitem a leitura! QUESTÃO SOCIAL E A HISTÓRIA Quando falamos em questão social não estamos abordando nenhum tema recente ou algo novo.O surgimento da questão social está inserido em um contexto histórico, ligado a uma gama de relações – mais especificamente trabalhistas. Relações contraditórias, desiguais e que geraram mudanças na realidade social da época onde estava inserida. Assim, você pode compreender que a questão social deve ser apreendida a partir de como as relações se configuram e se apresentam na sociedade e QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E18 como acontece, o enfren- tamento da questão social (quais mediações são buscadas) tanto no âmbito social quanto no âmbito político. Tenha claro que neste momento, estare- mos falando sobre uma realidade que não é a brasileira e sim inglesa, contudo, esta realidade nos serve de ponto de partida, pois muito dos seus feitos refletiram em todo mundo e são percebidos até os dias atuais. Em seguida, vamos ler um pouco mais sobre a Lei dos Pobres (Poor Law) (1601 e 1834), uma vez que ela simbolizou um marco no enfrentamento das questões sociais da Inglaterra e contribuiu para reflexão histórica da profissão. É importante termos sempre em mente que a leitura não só amplia nosso conhecimento como também contribui para nossa visão de homem e de mundo, sem contar que quem lê, escreve e reflete muito melhor, sem contar no aperfei- çoamento do vocabulário e melhora nos níveis de discussão. Gosto sempre de começar o estudo sobre a questão social a partir da cita- ção, a seguir, ela apresenta brevemente como a sociedade entendia o mundo e suas realações, leia atentamente e, em seguida, prosseguiremos: Desde o final do século XIX, o mundo imaginava que o ano 2000 seria o coroamento do processo civilizatório. Daí a grande questão social do século XXI: impedir que a desigualdade, já transformada em diferen- ça nos dias atuais, chegue a se transformar em uma dessemelhança. O século XVIII descobriu a igualdade dos direitos dos homens. O século XIX iniciou a marcha para a sua construção. O século XX descobriu e iniciou a marcha para a construção do direito à igualdade, até mesmo no consumo supérfluo. A revolução iluminista do século XVIII trouxe o sonho. A revolução industrial do século XIX trouxe a possibilidade da igualdade nos direitos. Com a revolução consumista, o século XX trouxe a possibilidade de redefinição do propósito igualitário rumo ao Questão Social e a História Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 19 direito à igualdade, no lugar de apenas a igualdade ao direito. A huma- nidade, que buscava a igualdade dos direitos, passou a buscar a igual- dade do consumo, no mundo capitalista ou socialista. Antes, o mundo se dividia em países, agora o mundo se divide em grupos sociais, os incluídos e os excluídos (BUARQUE, 2004, p. 01-08). Neste momento, vamos observar o contexto histórico do surgimento da ques- tão social no mundo, observando que este não é um fenômeno exclusivamente brasileiro, ele se apresenta em todo o mundo, e em cada lugar assume carac- terísticas diferenciadas conforme a realidade de cada lugar, de cada cultura. Destarte algumas colocações se fazem relevantes em relação aos direitos sociais no mundo do trabalho, uma vez que toda questão social surge de uma necessidade que foi ferida, ou melhor, que não está sendo sanada, isto necessa- riamente, implica na “violação de algum direito social”, contudo, fique atento: pois os direitos sociais nem sempre foram assim entendidos, aliás, de todos os direitos, os sociais foram os últimos a serem reconhecidos. Direitos Civis: Este elemento é composto dos direitos necessários à liberda- de individual, como liberdade de ir e vir, liberdade de imprensa, de pensa- mento e religiosa, o direito à propriedade, o de estabelecer contratos e o direito à justiça. As instituições mais intimamente ligadas aos direitos civis são os Tribunais de Justiça. Direitos Políticos: Este elemento diz respeito à participação no exercício do poder – o direito de votar e de ser votado. São instituições correspondentes aos direitos políticos do Parlamento e as instituições de governo. Direitos Sociais: O elemento social da cidadania se refere a tudo o que vai desde um mínimo de bem-estar econômico e segurança até o direito de levar a vida de acordo com os padrões que prevalecem na sociedade. As instituições mais ligadas a este elemento social são o sistema educacional e os serviços sociais. Fonte: Adaptado de Dias (2005, p.124). QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 Logo, começare- mos pela IDADE MÉDIA. No final da Idade Média, o trabalho consistia em uma estrutura familiar, esta estru- tura que prevalecia na sociedade, em que o espaço tempo- ral de trabalho era o dia, ou seja, o traba- lhador iniciava suas atividades laborativas com o nascer do sol e parava seus trabalhos somente ao anoitecer. Consideravam-se muito as forças místicas da natureza, eram muito comum os trabalhadores se orientarem e regularem suas vidas a partir da natu- reza. O espaço físico do trabalho era o lar, a residência e os arredores da casa familiar (os agricultores, os sapateiros e os alfaiates). É importante ressaltar como o trabalho feminino e o trabalho infan- til estão presentes nessa sociedade. As necessidades de sobrevivência e as obrigações servis contribuem para isso. As crianças, desde que já possam exercer alguma atividade laborativa, ingressam no mundo do trabalho para auxiliar na economia familiar. Nessa lógica, quanto mais filhos, maior poderia ser o aproveitamento produtivo. Pelo menos era assim que se apresenta aquela sociedade e, de maneira não muito dis- tante, podemos observar a mesma lógica sendo empregada nas comu- nidades rurais mais atrasadas atualmente (SAUCEDO; NICOLAZZI Jr. In: GEDIEL, 2001, p. 84). Com o passar dos tempos, o comércio e o constante crescimento urbano vão ganhando destaque no final da Idade Média, no qual gradativamente as cidades vão se tornando espaço de trabalho, pois é neste espaço que ocorrem as trocas (produtos agrícolas, artesanato etc.) e todo tipo de negócio. Estas transações ocor- riam tanto durante o dia como a noite, em casa ou nas fábricas, rompendo neste final da Idade Média toda estrutura feudal vigente, pois surge o sistema capitalista. © sh ut te rs to ck Questão Social e a História Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 21 A evidência mais marcante, com o advento do sistema capi- talista é a transformação das relações sociais, antes se tinha a relação senhor X servo, e com o novo sistema temos, o burguês X proletário. Outra característica é o início da produção em larga escala, lembrando que antes as produções eram baseadas na estrutura familiar sem muitos recursos. Priorizava-se o uso e, agora, a troca, aparecendo o que Marx chamava de mais valia. Relações estabelecidas ao longo dos tempos. Perceba que sempre se apre- sentou uma constante oposição que podemos resumir entre “opressores e oprimidos”. Homem livre X Escravo Patrício X Plebeu Barão/Senhor X Servo Burguesia (patrão) X Proletariado (empregado) Fonte: Marx e Engels (1848, on-line)1. ©User QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 Outro aspecto que permanece com o sistema capitalista é que assim como na estrutura feudal, todosos membros da família eram trabalhadores, sujeitos aos mesmos trabalhos, sem distinção. O que diferenciava era que a grande busca por mulheres e crianças se dava por conta do baixo custo da mão de obra (mulheres recebiam salários bem menores que os homens), representando uma maneira de baratear os custos de produção e outro motivo era que estes dois grupos (mulhe- res e crianças) eram “facilmente” disciplinados e fáceis de dominar. REVOLUÇÃO INDUSTRIAL A Revolução Industrial começou na Inglaterra (XVIII), alterando as relações e condições de trabalho, “inchando” as cidades com a vinda das famílias do campo em busca de condições melhores de vida. Aumentar lucros e diminuir despesas, este era (é) o princípio do sistema capitalista, portanto, os proprietários buscam novas tecnologias para suas fábri- cas, exploram seus operários com carga horária de trabalho exorbitante, salários irrisórios e locais insalubres, tudo isto para justificar o aumento da produção de mercadorias e o aumento do lucro para os proprietários. A questão social, originalmente expressa no empobrecimento do trabalha- dor, tem suas bases reais na economia capitalista. Politicamente, passa a ser reconhecida como problema na medida em que os trabalhadores empo- brecidos, de forma organizada, oferecem resistência às más condições de existência decorrentes de sua condição de trabalhadores para o capital. Fonte: Santos e Costa (2006, p. 12, on-line)2. Revolução Industrial Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 23 A partir deste cenário, originário da Revolução Industrial, vemos o aumento descontrolado da população das cidades. Os camponeses deslumbrados com a ideia de uma vida mais fácil e melhores salá- rios na cidade, sem pensar muito abandonavam suas vidas no campo, contudo, ao chegarem à cidade o que encontravam era um cenário caótico e desesperador. Contribuindo para o crescimento dos problemas sócio-econômicos, pois não havia emprego para toda a demanda que chegava na cidade, começa a aparecer em larga escala o problema do desemprego, fome, moradia (cortiços), prosti- tuição, alcoolismo, sem contar na ausência de leis trabalhistas que em muito facilitavam a exploração daqueles que ainda possuíam emprego. Neste contexto histórico, temos ainda a chamada Segunda Fase da Revolução Industrial (1871-1914) que é compreendida pela: ■ Introdução de outras inovações tecnológicas. ■ Fonte de energia: não só o vapor, mas também a eletricidade e o petróleo. ■ Criação de novas máquinas e ferramentas, com outra estrutura de traba- lho que agora é colocada em prática: Avançada fragmentação de tarefas. ■ Ações eram repetidas infinitamente até alcançar maior produtividade. ■ Para obter a colaboração dos funcionários foram estabelecidos remune- ração e prêmios extras. Assim, o trabalhador tornou-se uma extensão da máquina, e ainda hoje, vemos nitidamente os reflexos deste modelo de trabalho, um exemplo clássico deste for- mato é o apresentado no filme “Tempos Modernos” de Charlie Chaplin. ©shutterstock QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 Na leitura complementar desta unidade, vamos relembrar alguns pontos acerca da Revolução Industrial, procure olhar além do fato apresentado, procure vivenciar a época, sentir o momento e tentar compreender a situação sentida por milhões de pessoas nesta fase da história, e assim entender um pouco mais sobre a concepção da questão social. Seu surgimento, organização e fatores que contri- buíram para seu agravamento na realidade apresentada. Faça uma boa leitura! Entre os anos de 1855 e 1866, houve um aumento bem significativo de “indigentes” na Inglaterra, esses não tinham alternativa que não fosse recorrer a caridade pública e acabavam se submetendo aos serviços das workhouses, as quais veremos mais adiante. Cabe ressaltar que no campo a realidade não era muito diferente que a reali- dade da cidade. No campo se agravou a questão da fome, as mulheres e crianças foram os mais atingidos, já que a prioridade na alimentação era o homem, pois esse deveria estar bem ali- mentado para que pudesse trabalhar, e o restante da família vinha em “segundo lugar”. Quando analisamos este contexto de crescimento do empobrecimento das famí- lias tanto do campo quanto da cidade, percebemos a ori- gem do que hoje chamamos de questão social. Não esqueça que o sistema capitalista com seus crescentes conflitos de classes gerou o agravamento das desigualdades sociais. O que trouxe à tona a discussão acerca da questão social, isso se deu a partir dos problemas dos trabalhadores, a crescente miséria, a insatisfação com as condições sociais, as lutas por melho- rias urbanas, estes pontos quando problematizados ganham na sociedade da época um caráter político. © sh ut te rs to ck Lei dos Pobres Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 [...] a questão social, originalmente expressa no empobrecimento do trabalhador, tem suas bases reais na economia capitalista. Politicamen- te passa a ser reconhecida como problema na medida em que os indiví- duos empobrecidos, de forma organizada, oferecem resistência as más condições de existência decorrentes de sua condição de trabalhadores para o capital. No percurso do desenvolvimento do capitalismo atraves- sado por lutas sociais entre capital e trabalho constituem-se respostas sociais mediadas ora por determinadas organizações sociais, ora pelo Estado, em um processo impulsionado pelo movimento de reprodução do capital (SANTOS; COSTA, 2006, p. 3, on-line)2. Tudo isto gera uma grande insatisfação e, descontentamento, originando assim a organização dos operários, processo este que não ocorreu do dia para noite. Sendo assim, quem interveio neste contexto foi a Igreja Católica. Com vistas a “recuperar” e melhorar os efeitos trágicos que caiam sobre a classe trabalha- dora. Ela atuaria no espaço entre: A recusa do Estado em assumi-la e a incapacidade das chamadas ‘clas- ses inferiores’ de decidir sobre seu destino. Nesse sentido, ela lançará mão de um conjunto de procedimentos e estratégias de forte conteúdo moralizador, atuando basicamente em três níveis: [...] assistência aos indigentes por meio de técnicas que antecipam o trabalho social no sentido profissional do termo; o desenvolvimento de instituições de poupança e de previdência voluntária que apresentam as premissas de uma sociedade segurancial; a instituição da proteção patronal, garantia da organização racional do trabalho e, ao mesmo tempo, da paz social (CASTEL, 1998 p. 319). LEI DOS POBRES Na Inglaterra por volta do final do reinado de Elizabeth, os seus parlamentares da época perceberam a necessidade de melhorar a política que estava relacio- nada ao auxílio aos mais pobres do país. Logo, no ano de 1597, é implantada uma nova lei que ordenava que as paró- quias nomeassem o que chamaram de “inspetores” dos pobres, esses tinham como função encontrar trabalho para aqueles que estivessem sem ocupação. Os QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 inspetores dos pobres tinham ainda como tarefa a construção de “paróquias- -abrigo”, essas deveriam contar com hospitais e asilos. As “paróquias-abrigo” eram utilizadas para aco- lher aqueles que não possuíam condições de garantir a sua própria sub- sistência. Esse projeto erafinanciado com fundos públicos, dando origem ao que chamamos na história deste país (Inglaterra) de “bem-estar social” inglês. No ano de 1601, todas as medidas, gradativamente sancionadas nesse sentido, foram organizadas em um estatuto que se chamou de Primeira Lei dos Pobres (Poor Law) mantida, basicamente, inalterada até 1834. A Lei dos Pobres de 1601 foi estimulada pelas circunstâncias econô- micas e pelo aumento populacional da Inglaterra em relação a épocas anteriores, que levou à expansão da pobreza. O homem pobre, destitu- ído de seus direitos, não tinha trabalho, alimentação e moradia, nem condições para alimentar seus filhos, constituindo-se desta forma em um problema de ordem social (DORIGON, 2006, p. 119, on-line)4. Conforme explanação de Dorigon (2006, on-line)4, a Lei dos Pobres era financiada pelo imposto fundiário, estabelecendo para quem não tinha meios de subsis- tência, o direito à assistência social. Acontecia a partir dos seguintes princípios: a. Obrigação de socorro aos necessitados. b. Assistência pelo trabalho. c. Taxa cobrada para o socorro dos pobres (poor tax). d. Responsabilidade das paróquias pela assistência de socorros e de trabalho. Lei dos Pobres Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 A Lei dos Pobres foi pensada a partir do aumento da população carente no país, oriunda da expansão do sistema capitalista, o que afetou a estabilidade da ordem econômica. Claro que a lei não foi pensada somente por pura preocupa- ção da classe dominante com os mais necessitados e afetados pelo sistema, por trás dessa ideia encontra-se a intenção desta classe burguesa em controlar este segmento da população. Dorigon (2006, p. 64, on-line)4 diz que: Essa lei definiu algumas estratégias: trabalho como punição para o de- socupado e para o pobre que tinha capacidade; pagamento em dinhei- ro, considerado uma pensão, para aqueles que não podiam trabalhar; proibição do auxílio ao mendigo e ao frequentador casual dos asilos, que buscavam auxílio apenas naquele momento. É essencialmente na Lei dos Pobres que a medicina inglesa começa a tornar- -se social, na medida em que o conjunto dessa legislação comportava um controle médico do pobre. A partir do momento em que o pobre se bene- ficia do sistema de assistência, deve, por isso mesmo, submeter-se a vários controles médicos. Com a Lei dos Pobres aparece, de maneira ambígua, algo importante na história da medicina social: a ideia de uma assistência con- trolada, de uma intervenção médica que é tanto uma maneira de ajudar os mais pobres a satisfazer suas necessidades de saúde, sua pobreza não per- mitindo que o façam por si mesmos, quanto um controle pelo qual as clas- ses ricas ou seus representantes no governo asseguram a saúde das classes pobres e, por conseguinte, a proteção das classes ricas. Um cordão sanitário autoritário é estendido no interior das idades entre ricos e pobres: os pobres encontrando a possibilidade de se tratarem gratuitamente ou sem grande despesa e os ricos garantindo não serem vítimas de fenômenos epidêmicos originários da classe pobre. Fonte: Foucault (1982, on-line)3. QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 Depreende-se que a Lei visava evitar futuros problemas sociais. Tendo em vista o número significativo de pobres desocupados em condições degradantes, buscava a repressão à mendicância e à vagabundagem e a minimização da miséria. Perceba que já nesta época, as iniciativas de sanar as problemáticas sociais eram permeadas de interesses pessoais da classe dominante, podemos imaginar que muitos poucos políticos da época, possuíam a real preocupação com o agrava- mento de tais problemáticas que assolavam a vida daqueles que foram atingidos da pior forma pela instauração crescente do sistema capitalista, a estes não res- tou o acompanhamento do progresso nacional, muito menos a socialização dos ganhos financeiros gerados por tal sistema. Perceba que estamos discutindo neste momento o que aconteceu no século XVII. Hoje no século XXI, como percebemos as ações de tentativas de resolver as ques- tões sociais em nosso país? Logo, podemos ver a seguinte questão acerca da Lei dos Pobres (Poor Law): Ela era, ao mesmo tempo, marcada por um sentimento de caridade cristã e por um violento preconceito social. A ideia de que a esmola é uma ação piedosa e redime os pecados levava à distribuição ampla e indiscriminada de ajuda: mas não excluía, absolutamente, a descon- fiança e o temor em relação aos que recebiam. Daí as alternâncias de fraqueza e rigor na aplicação dessa lei: em geral, o rigor venceu. Pre- tendiam fazer desaparecer a perigosa classe de mendigos profissionais, que tivera, em meados do século XVI, um desenvolvimento temível. A obrigatoriedade do trabalho, imposta a todos assistidos, exceto quando suas doenças os tornavam absolutamente incapazes, era reforçada por severas penalidades: chicote, no primeiro delito de vadiagem ou envio a casa de correção; em caso de reincidência, chicote e marca de ferro (MANTOUX, 1989, p. 443, on-line, grifos do autor)5. Conforme vimos até agora, você percebeu alguma semelhança com os dias atuais? Alguma semelhança com o nosso país? Lei dos Pobres Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 Era objetivo da Lei dos Pobres eliminar os “vagabundos” e mendigos que peram- bulavam pelas ruas. Deixava claro que a Igreja deveria administrar os auxílios aos necessitados, bem como realizaria o recolhimento das taxas dos locatários e as utilizava conforme exposta na figura a seguir: Figura 1 - Lei dos Pobres (1601) - Utilização das taxas e sua aplicabilicadade 1. Trabalho com os órfãos. 2. Com crianças cujos pais trabalhavam e não tinham com quem deixá-los, muito menos cuidá-los no trabalho. 3. Aquisição de materiais para que o pobre pudesse trabalhar, por exemplo: lã, linho e �ador para produção. 4. Oferta de auxílio àqueles impossibilitados de trabalhar (cegos, idosos, pessoas com de�ciência, entre outros casos). 5. Poderia ainda ser provido casas que serviriam de asilos ou poorhouses, que depois passariam a ser as Workhouses, conheci- das como casas de correção e instrução, que tinham como propósito fornecer acomodação e ao mesmo tempo trabalho. Fonte: a autora (2016). Segundo Dorigon (2006, p. 65, on-line)4: A Lei dos Pobres de 1601 delegava autoridade legislativa para o estabe- lecimento nas paróquias destas instituições, que poderiam unir duas ou mais igrejas que iriam organizar as casas de trabalho para abrigar os pobres, dar-lhes assistência, mas também ter lucros com eles, conforme o parágrafo primeiro da Lei dos Pobres de 1601. Todavia, embora mui- tas igrejas buscassem ganhar mais dinheiro com o trabalho dos pobres, grande parte dos que se abrigavam nessas instituições eram doentes, idosos e crianças, cujo trabalho dava pouco lucro, o que os levava a fugir das suas responsabilidades. QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 Com todas estas medidas tomadas para a redução do número de pobres no país, logo, questionamentos sobre a sua efetividade começaram a surgir, uma vez que a quantidade de ociosos aumentou significativamente. Isto de deu por volta do século XVIII. Bem como a atuação da Igreja também começou a ser indagada, mediante certos tipos de medidas tomadas, como você pode verificar a seguir: Cadaparóquia achava que só tinha que socorrer seus pobres, excluindo os recém-chegados, que consideravam intrusos: alias, é provável que algumas paróquias tenham tentado desembaraçar-se dos encargos de sua competência às custas de outras paróquias, mais ricas ou menos avaras (MANTOUX, 1989, p. 443-444, on-line)5. Todas estas discussões e análises fizeram com que acontecesse a revi- são e reformulação da Lei dos Pobres de 1601. Repensou-se o auxílio ao pobre, a sua adminis- tração, devendo-se agora “ajudar” realmente e apenas aquele que necessi- tasse e puniria aqueles que se recusassem a trabalhar. Intensificou-se a criação de instituições que visavam retirar o pobre da rua, dar-lhe educação e proporcio- nar-lhe trabalho, para que recuperasse sua condição. © sh ut te rs to ck Nova Lei dos Pobres (Inglaterra - 1834) Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 31 NOVA LEI DOS POBRES (INGLATERRA - 1834) Após os motivos explicitados acima, a Lei dos Pobres de 1601 foi reformulada e em 14 de agosto de 1834 foi criada a Nova Lei dos Pobres (Reinado de George III), e com ela, podemos perceber a situação, segundo Trindade (1998, p. 29): A Nova Lei dos Pobres [...], um estatuto de insensibilidade incomum, deu aos trabalhadores (da Inglaterra) o auxílio-pobreza somente den- tro das novas workhouses (onde tinham que se separar da mulher e dos filhos para desestimular o hábito sentimental e não malthusiano de procriação impensada) e retirou a garantia paroquial de uma manuten- ção mínima. Nessas ocasiões em que a miséria batesse à porta, sequer vestígios de cidadania se preservariam: ‘[...] os indigentes abriam mão, na prática, do direito civil da liberdade pessoal devido ao internamento na casa de trabalho, e eram obrigados por lei a abrir mão de direitos políticos que possuíssem. Essa incapacidade permaneceu em existência até 1918’ (grifos do autor). Podemos dizer que a Primeira Lei dos Pobres sucumbiu pelo fato de muitas pessoas que podiam trabalhar e que se negavam devido ao auxílio da Igreja, o que gera uma nova questão social. Uma das funções da Nova Lei dos Pobres era selecionar e nomear os cha- mados comissários, que deveriam atuar na administração do auxílio aos pobres e necessitados, conforme o que pregava a lei. Os intitulados comissários tinham poder para executar regras, ordens e regulamentação da administração do auxílio aos pobres e, além disso, coordenar casas que serviriam como abrigo, a educação das crianças e a administração das paróquias. Desta forma, entende-se que o objetivo maior dessa lei era administrar o auxílio aos pobres da Inglaterra, bem como impedir o homem produtivo de reivindicar ajuda, prover refúgio para o doente e desamparado, formando um grupo para gerenciar as instituições que estavam sendo organizadas e executar a lei, como esta- belece o parágrafo 15 da lei de 1834 (DORIGON, 2006, p. 67, on-line)4. QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 A Lei dos Pobres de 1834 ampliava a lei dos pobres de 1601, contava com pro- pósitos mais definidos para a administração do auxílio aos pobres e o controle dos gastos em todos os aspectos. Para tanto, as Workhouses foram organizadas para que se cumprisse os objetivos previstos na Lei e atendesse as necessidades da população pauperizada daquele país. No próximo tópico, veremos um pouco mais sobre Workhouse e suas funções. AS WORKHOUSES Agora, aprenderemos um pouco mais sobre as Workhouse. As Workhouses eram grandes casas fundadas para fornecer moradia, trabalho e educação ao homem destituído, mas apto a desenvolver um ofício e ingressar na sociedade de trabalho requisitada pela indústria. Esta nova organização exigia uma nova concepção de trabalho, pois a forma como o homem se organizava na manutenção de sua vida já não respondia aos interesses produtivos. Tal conceito de trabalho era diferente do até então vigente, tendo por objetivo adaptar o trabalha- dor às novas necessidades produtivas. Algumas das Workhouses foram organizadas pela união de várias igrejas para dividir melhor os custos, isto porque muitas cidades pequenas não tinham condições de manter Os comissários eram selecionados pela comissão real formada por um gru- po de pessoas ligadas diretamente ao rei. Era função dos comissários admi- nistrar fazendo cumprir a Lei dos Pobres de 1834, elegendo os guardiões para cada Workhouse, os quais cumpriram as ordens estabelecidas pela Lei. Os comissários deveriam de tempos em tempos vistoriar cada Workhouse e emitir relatórios sobre a administração geral relacionada a todos os procedi- mentos desenvolvidos dentro de cada instituição. Fonte: Adaptado de Dorigon (2006, p. 123, on-line)4. © sh ut te rs to ck As Workhouses Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 33 uma instituição desse porte. Outras eram construídas em terras com- pradas pela comissão real 10 ou em prédios que correspondessem às exigências da lei para abrigar os que necessitavam, conforme previa o parágrafo 23 da Segunda Lei dos Pobres, de 1834 (DORIGON, 2006, p. 125, on-line)4. Pudemos perceber a partir do exposto ao longo do texto que com a Revolução Industrial ocorreram mudanças nas relações de trabalho; mudanças significativas na vida do trabalhador em virtude do processo crescente do capitalismo; houve avanços, mas, também se instaurou muitas dificuldades e problemas, sobretudo, a exploração de mão de obra do homem, da mulher e da criança. Na medida em que os problemas sociais e econômicos se agravavam, medi- das eram tomadas com vistas a seu enfrentamento, foram encontradas diversas saídas para sanar ou minimizar algumas problemáticas, dentre elas, a criação das Workhouses. As Casas de Trabalho (Workhouses) foram estabelecidas em Inglaterra no século XVII. Segundo a Lei dos Pobres adaptada, em 1834, só era admitida uma forma de ajuda aos pobres: o seu alojamento em casas de trabalho com um regime prisional; os operários realizavam aí trabalhos improdutivos, monótonos e extenuantes; estas casas de trabalho foram designadas pelo povo de “bastilhas para os pobres” (DICIONÁRIO..., on-line, grifos do autor)6. Dentro das suas atribuições era ainda mis- são da Workhouse atuar junto aos indivíduos empobrecidos e desajustados socialmente educando-os para o trabalho, desenvolvendo uma ação que auxiliasse a introduzir e/ou reintroduzir também a sociedade. Estes indi- víduos (homens, mulheres crianças e idosos) eram tidos muitas vezes como pessoas sem moral, assim o trabalho da workhouse con- templava a tarefa de torná-los novas pessoas, homem perante a si mesmo e a sociedade. De acordo com Bresciani (1986, p. 10), as workhouses objetivavam “transformar vaga- bundos em trabalhadores”. © sh ut te rs to ck QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E34 Os espaços que onde se instalavam estas casas, muitas vezes eram alugados, e quando se tratava de alimentação não havia nada de excesso ou exagero, servia- -se apenas o necessário para subsistência daquele que lá se encontrava. Devido a sua eficiência, por volta de 1830 havia na Inglaterra centenas de workhouses atuando junto à assistência ao pobre e desocupado. Contudo, [...] as Casas de Trabalho (Workhouses) deviam ser lugares, pouco atra- entes para que seus ocupantes procurassem sair de lá o mais rápidopossível. Não deviam se sentir confortados em suas instalações, a vida em família e a boa refeição representavam privilégios, a merecida re- compensa aos que ocupam seus dias com o trabalho produtivo. Mesmo a disciplina e a intensidade do trabalho lá dentro, deveriam ser sensi- velmente mais rigorosas do que nas fábricas, de forma a atuarem como estímulo a busca de emprego (BRESCIANI, 1986, p. 44). As Workhouses possuíam rotinas bem definidas, bem como procedimentos esta- belecidos e que deveriam ser seguidos por todos os que lá se encontravam, por exemplo, pro- cesso de higienização; saúde; padronização dos dormitórios; seguimento de uma reli- gião; trabalhos distintos para mulheres, homens e idosos; educação para crianças. Conhecer e compreender como o trabalho acontecia nas Workhouses é muito interessante, a seguir, você terá uma breve noção de como era operacionalizada uma destas instituições, acredito que você conseguirá fazer as devidas reflexões tanto quanto a Lei dos Pobres, quanto do trabalho desenvolvido pelas Workhouses. O exemplo que utilizaremos é o da Workhouse de St. Marylebone, de Londres, fundada em 1730 e que em seu início se destinava ao abrigamento apenas para que os pobres pernoitassem. “Com o tempo, sua abrangência foi ampliada e ela foi requisitada com mais intensidade, passando a abrigar em tempo integral homens, mulheres e crianças” (DORIGON, 2006, p. 132, on-line)4. As Workhouses Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 35 Na tabela, a seguir, você poderá verificar melhor como as pessoas eram aco- lhidas, o que faziam, qual a sua rotina etc. Embora, todas as Workhouse fossem parecidas, a de St. Marylebone destacava-se, pela sua gestão, rigor e organização. Tabela 1 - Como funcionava a Workhouse St. Marylebone AO CHEGAR À INSTITUIÇÃO Os “internos” passavam por um processo de higienização, pois devido à sua permanência nas ruas ficavam expostos a todos os tipos de enfermidade. Eram lavados com água quente e sabão, as roupas eram levadas para serem esteri- lizadas. UNIFORME Enquanto estivessem na instituição, no período noturno usavam um “camisolão” de lã, e para o período diurno recebiam um uniforme, que todos deveriam usar, até mesmo para serem identificados e distinguidos quando estivessem fora da Workhouse. O uso do uniforme pelos internos nas Workhouses relaciona-se com a concepção do homem que se pretendia formar - um homem discipli- nado, organizado, ordeiro e obediente às regras. DORMITÓRIOS Homens e mulheres ficavam separados. As crianças eram divididas em grupos de vinte e acompanhadas por quatro mulheres. As camas eram formadas de colchão e traves- seiro. Nas paredes dos dormitórios havia textos bíblicos e os dez mandamentos, e as orações noturnas eram obrigatórias. Os quartos eram organizados de forma que as camas ficassem todas visíveis aos olhos dos guardiões, o que denuncia o controle da ordem a partir de uma disciplina severa. As inscrições bíblicas nas paredes, por exemplo: “Deus é bom”; “Deus é justo” e “Deus é amor” - apontam que esse controle também passava pela religião, que, em consonância com a ordem posta, exigia um homem moralizado. ROTINA O despertar ocorria às 7h, em seguida, se dirigiam ao refeitório e se alimentavam, sendo essa refeição conside- rada o café da manhã. Logo, após, os internos eram en- carregados de desenvolver diversos tipos de trabalho, na maioria, relacionados à manutenção da Workhouse, além de obterem uma aprendizagem destinada à execução de um ofício. QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E36 MULHERES Designadas para os trabalhos domésticos, na cozinha ou na lavanderia, ou seja, a elas era destinada a manutenção relacionada à higienização da Workhouse, bem como os cuidados com a alimentação e indumentária de todos que ali se instalavam. Também poderiam executar outras atividades, por exemplo, escolher pequenos pedaços de corda velha, usados para preencher buracos nas laterais dos navios de madeira. HOMENS Destinados aos trabalhos árduos, como quebrar pedras, moer grãos com pesados moinhos, triturar ossos para servirem de fertilizantes e rachar madeira. No entanto, o ponto axial nessas atividades era a ordem e a disciplina, em uma reprodução do que seria a sua vida no mundo das fábricas. IDOSOS O trabalho era mais ameno. Na maioria das vezes cabia- -lhes a colheita de carvalho, o que não dispensava a mes- ma prática disciplinadora adotada pela instituição, tendo em vista a docilização do homem, independentemente da sua idade. DOENTES Não tinham obrigação de desenvolver nenhum trabalho; eram encaminhados às enfermarias, onde o médico pro- moveria todos os procedimentos, até mesmo o interna- mento, se fosse o caso, mas sempre tendo em conta o seu restabelecimento para ser reintegrado ao trabalho. Fonte: Adaptado de Dorigon (2006, p.132-140, on-line) 4. Por fim, ainda tem nos registros que: De 1897 a 1901, a Workhouse de St. Marylebone passou por novas orien- tações. Foi organizado um espaço para berçário e jardim de infância. Homens velhos e doentes foram separados dos demais em um bloco exclusivo, buscando-se dessa forma uma organização mais adequada, para livrar crianças e homens saudáveis de possíveis contaminações. De 1914 a 1915 essa casa recebeu outras funções: acolher os refugiados da Guerra Belga. De 1918 a 1921 foi utilizada como quartel de detenção militar, e na Primeira Guerra Mundial serviu a propósitos do exército. Na Segunda Guerra Mundial foi destinada a ser um centro de recreação para trabalhadores civis, e após a guerra serviu de abrigo para pessoas deslocadas e excluídas do seu continente. Em 1965, a Workhouse de St. Marylebone foi fechada, seus ocupantes foram enviados para outros lugares e, posteriormente, edificou-se no local a Escola Politécnica de Londres, [...]. (DORIGON, 2006, p.140, on-line)4. As Workhouses Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 37 E, então, o que você achou? Conseguiu ter uma ideia de como funcionava uma Workhouse? Espero que tenha lhe auxiliado. Sendo assim, vamos dar continui- dade e ver outro exemplo da tratativa das questões sociais. Agora, podemos ana- lisar muito brevemente a questão da assistência na França, percebemos a par- tir das decisões do Barão de Gérando, esse apresenta uma proposta para a assistência ao “indigente”. Esta assistência consistia em aplicar como estratégia de ação, a doação de dona- tivos, porém, tão ação não acontecia de maneira imediata, estabeleceu que o profissional responsável, por tal função deveria estar atento às condições de cada indivíduo e sua família, não de maneira aleatória, e sim, estando atento às necessidades (permanente ou provisória, ou por má-formação da moral) de tais pessoas necessitadas de auxílio. Desse modo, exercia um controle efetivo sobre o processo de seleção e distribuição, na medida em que utilizava a prestação da ajuda como instrumento de recuperação moral, submetendo o serviço de socorros a boa conduta do assistido. Assim, o ‘visitador do pobre’ realizava uma intervenção fundada em uma relação pessoal, com acompanhamento, onde procurava fazer um diagnóstico e solucionar os problemas indivi- duais. Essa forma de atuação, segundo Castel, dará origem ao trabalho social profissionalizado. Convém ressaltar que essa maneira de abordar a assistência, ou seja, a corrente da scientific charity se expandirápelos países anglo-saxônicos durante a segunda metade do século XIX. Nes- sa mesma direção, segue o case work, que surge nos Estados Unidos em sua instituição formal no início do século XX, a partir de uma neces- sidade de centralizar novamente a intervenção social entre o agente e os beneficiários. Essas constatações indicam, mesmo para pensadores externos ao circuito profissional do Serviço Social, evidências histó- ricas na relação entre a questão social e as origens do Serviço Social (SANTOS; COSTA, 2006, p. 6, on-line, grifos do autor)2. QUESTÃO SOCIAL NO MUNDO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E38 CONSIDERAÇÕES FINAIS Para encerrarmos esta unidade, deixo o seguinte questionamento: como o homem sendo um animal racional, que procura inúmeras saídas para que suas necessi- dades sejam supridas, permitiu que a disparidade social chegasse a tal ponto? Quem sancionou a supremacia de uns poucos indivíduos sobre muitos, dando- -lhes permissão para explorá-los, em nome do ganho capital? Pense nisto. Tenha sempre presente que o mundo que temos hoje, é parte de um pro- cesso histórico, aquilo que temos é reflexo de um passado, assim como o futuro será reflexo da história que construirmos hoje. Por isso é que precisamos estar atentos aos fatos históricos. O que seria do mundo sem a organização dos proletários e a Revolução Industrial? Todas as mobilizações, rebeliões e revoluções? Não falo, aqui, das mortes e opressões, das dores geradas pela violência que muitos acontecimen- tos geraram, falo do ideal, do sonho e da luta pelos direitos. Estes despertam no ser humano a força intrínseca que habita em todo ser humano ameaçado. Pudemos ainda refletir acerca da relação capital trabalho e o surgimento do sistema capitalista em substituição ao sistema feudal. Os avanços e dificuldades gerados pelo mesmo. Tivemos a oportunidade de aprofundamos nossa ideia sobre a Revolução Industrial e conhecermos um pouco mais sobre as políticas de assistência na Inglaterra e na França. Como lidavam com os seus pobres, indigentes e desocu- pados, as estratégias de enfrentamento dos diversos problemas sociais da época. Ao tratarmos da Lei dos Pobres de 1601 e 1834, pudemos ter noção de como a classe dominante enxergava a sociedade e suas diferenças, isto fica claro quando passamos a conhecer um pouco mais as Workhouses (casas de trabalho), isto revela que as contradições, diferença e o sentimento de “superioridade social” de alguns segmentos. O poder do capital sobrepunha ao valor da vida humana, sua dignidade e integridade. 39 1. Antes mesmo da Revolução Industrial, a pobreza e a miséria eram cultivadas e utilizadas como forma de manter as desigualdades existentes e o “status quo” das camadas dominantes. A pobreza e os demais problemas sociais eram tra- tados como um problema de ordem: a. Natural, individual e moral, suas causas eram associadas à preguiça e à inca- pacidade como características inatas aos não integrados. b. Natural, coletiva e amoral, suas causas eram associadas à superinteligência e à capacidade como características natas aos não integrados. c. Adquirida, individual e contagiosa, suas causas eram associadas à preguiça e à incapacidade como características natas aos integrados. d. Natural, individual e moral, suas causas eram associadas sobra de talento pes- soal e profissional. e. Sobrenatural, individual e legal, suas causas eram associadas à vontade plena de Deus. 2. Lei que se tornou referência no enfretamento das questões sociais na Inglaterra e acabou sendo incorporada por outros países europeus: a. Lei Áurea. b. Lei de Diretrizes e Bases. c. Lei dos Pobres. d. Leis de Bem-Estar Social. e. Lei dos Miseráveis. 3. Aponte, a seguir, a alternativa que não condiz com as estratégias adotadas na Lei dos Pobres: a. Trabalho como punição para o desocupado e para o pobre que tinha capaci- dade. b. Pagamento em dinheiro, considerado uma pensão, para aqueles que não po- diam trabalhar. c. Proibição do auxílio ao mendigo e ao frequentador casual dos asilos, que bus- cavam auxílio apenas naquele momento. 40 d. Proibição de gerar mais filhos, sendo adotado como punição para aqueles que não obedecessem a Lei, a entrega do filho ao Estado. e. As formas de “proteção” assistencial na Lei dos Pobres variavam da mera dis- tribuição de alimentos, passando pelo complemento de salários até o recolhi- mento em asilos e reclusão nas workhouses. 4. A definição a seguir diz respeito a que instituições do século XVII: “casas correcio- nais”, com o objetivo de atender e formar a camada aleijada da sociedade: a. Hospitalhouse. b. Workhouses. c. Carhouse. d. Horsehouse. e. Churchouse. 5. A proposta de uma “nova tecnologia de assistência” na França, que consistia em distribuir donativos aos indigentes, não de forma aleatória, mas examinan- do cuidadosamente quais as suas necessidades (permanentes ou ocasionais), criou um novo tipo de profissional chamado de: a. Fiscalizador do pobre. b. Condutor do pobre. c. Visitador do pobre. d. Criador do pobre. e. Gerenciador do pobre. 41 Revolução Industrial A substituição das ferramentas pelas máquinas, da energia humana pela energia motriz e do modo de produção doméstica pelo sistema fabril constituiu a Revolução Industrial; revolução, em função do enorme impacto sobre a estrutura da sociedade, em um pro- cesso de transformação acompanhado por notável evolução tecnológica. A Revolução Industrial aconteceu na Inglaterra na segunda metade do século XVIII e encerrou a transição entre feudalismo e capitalismo, a fase de acumulação primitiva de capitais e de preponderância do capital mercantil sobre a produção. Completou ainda o movimento da revolução burguesa iniciada na Inglaterra no século XVII. Etapas da industrialização Podem-se distinguir três períodos no processo de industrialização em escala mundial: 1760 a 1850 – A Revolução se restringe à Inglaterra, a “oficina do mundo”. Preponderam a produção de bens de consumo, especialmente têxteis, e a energia a vapor. 1850 a 1900 – A Revolução espalha-se por Europa, América e Ásia: Bélgica, França, Ale- manha, Estados Unidos, Itália, Japão e Rússia. Cresce a concorrência, a indústria de bens de produção se desenvolve, as ferrovias se expandem; surgem novas formas de energia, como a hidrelétrica e a derivada do petróleo. O transporte também se revoluciona, com a invenção da locomotiva e do barco a vapor. 1900 até hoje – Surgem conglomerados industriais e multinacionais. A produção se au- tomatiza; surge a produção em série; e explode a sociedade de consumo de massas, com a expansão dos meios de comunicação. Avançam a indústria química e eletrônica, a engenharia genética, a robótica. Artesanato, manufatura e maquinofatura O artesanato, primeira forma de produção industrial, surgiu no fim da Idade Média com o renascimento comercial e urbano e se definia pela produção independente; o produ- tor possuía os meios de produção: instalações, ferramentas e matéria-prima. Em casa, sozinho ou com a família, o artesão realizava todas as etapas da produção. A manufatura resultou da ampliação do consumo, que levou o artesão a aumentar a pro- dução e o comerciante a dedicar-se à produção industrial. O manufatureiro distribuía a matéria-prima e o artesão trabalhava em casa, recebendo pagamento combinado. Esse comerciante passou a produzir. Primeiro, contratou artesãos para dar acabamento aos tecidos; depois, tingir; e tecer; e finalmente fiar. Surgiram fábricas, com assalariados, sem controle sobre o produto de seu trabalho. A produtividade aumentou por causa da divi- são social, isto é, cada trabalhador realizava uma etapa da produção. Na maquinofatura, o trabalhador estava submetidoao regime de funcionamento da máquina e à gerência direta do empresário. Foi nesta etapa que se consolidou a Revo- 42 lução Industrial. [...] Revolução Social A Revolução Industrial concentrou os trabalhadores em fábricas. O aspecto mais impor- tante, que trouxe radical transformação no caráter do trabalho, foi esta separação: de um lado, capital e meios de produção (instalações, máquinas e matéria-prima); de outro, o trabalho. Os operários passaram a assalariados dos capitalistas (donos do capital). Uma das primeiras manifestações da Revolução foi o desenvolvimento urbano. Londres chegou ao milhão de habitantes em 1800. O progresso deslocou-se para o norte; cen- tros como Manchester abrigavam massas de trabalhadores, em condições miseráveis. Os artesãos, acostumados a controlar o ritmo de seu trabalho, agora tinham de subme- ter-se à disciplina da fábrica. Passaram a sofrer a concorrência de mulheres e crianças. Na indústria têxtil do algodão, as mulheres formavam mais de metade da massa traba- lhadora. Crianças começavam a trabalhar aos 6 anos de idade. Não havia garantia contra acidente nem indenização ou pagamento de dias parados neste caso. A mecanização desqualificava o trabalho, o que tendia a reduzir o salário. Havia frequen- tes paradas da produção, provocando desemprego. Nas novas condições, caíam os ren- dimentos, contribuindo para reduzir a média de vida. Uns se entregavam ao alcoolismo. Outros se rebelavam contra as máquinas e as fábricas, destruídas em Lancaster (1769) e em Lancashire (1779). Proprietários e governo organizaram uma defesa militar para proteger as empresas. A situação difícil dos camponeses e artesãos, ainda por cima estimulados por ideias vin- das da Revolução Francesa, levou as classes dominantes a criarem a Lei Speenhamland, que garantia subsistência mínima ao homem incapaz de se sustentar por não ter traba- lho. Um imposto pago por toda a comunidade custeava tais despesas. Havia mais organização entre os trabalhadores especializados, como os penteadores de lã. Inicialmente, eles se cotizavam para pagar o enterro de associados; a associação passou a ter caráter reivindicatório. Assim, surgiram as tradeunions, os sindicatos. Gradativamente, conquistaram a proibição do traba- lho infantil, a limitação do trabalho feminino, o direito de greve. Fonte: Chaves (2014, on-line)7. Material Complementar MATERIAL COMPLEMENTAR Pelle: O Conquistador O fi lme “Pelle – O Conquistador” se passa no século XIX, onde pai e fi lho saem da Suécia e vão para Dinamarca, pois estão em busca de melhores condições de vida. Começam a trabalhar em uma fazenda, na condição de escravos, sob condições precárias. O pequeno Pelle aprende a língua do país e sonha em busca de uma vida melhor para ele e seu pai. Comentário: O filme retrata muito bem as mudanças sociais do século XIX, podendo ser percebido claramente as transformações advindas com a Revolução Industrial. O pai de Pelle tem uma atuação emocionante, como incentivador, contudo, se utiliza da violência física como método de educar o pequeno Pelle. Para ampliarmos nosso conhecimento, podemos utilizar vários recursos, um deles são os fi lmes cinematográfi cos. Logo, para refl etir mais sobre a Revolução Industrial, você poderá assistir ao fi lme “Pelle: O Conquistador”. Apresentação: Para saber mais sobre a realidade inglesa, relatos e acontecimentos abordados no ponto Lei dos Pobres, leia o texto: “A grande diáspora irlandesa” de Pierre Joannon, acessando ao link: Disponível em: <http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/a_grande_diaspora_ irlandesa_imprimir.html>. REFERÊNCIAS BRESCIANI, M. S. M. Londres e Paris no século XIX: o espetáculo da pobreza. São Paulo: Brasiliense, 1982. _____. Lógica e dissonância: Sociedade e Trabalho: lei, ciência disciplina e resistên- cia operária. Revista Brasileira de História. São Paulo, v.6, n.11, p.7-44, 1986. BUARQUE, C. A questão social do século XXI. In: Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais, 8, 2004, Coimbra: Portugal. Anais... Coimbra: CES – FEUC, 2004. CASTEL, R. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Petrópolis: Vozes, 1998. DIAS, R. Introdução à Sociologia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. GEDIEL, J. A. (Org.). Os caminhos do cooperativismo. Curitiba: UFPR, 2001. SCHIMDT, B. V.; FARRET, R. L. A questão urbana. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986. SANTOS. E. P; COSTA, G. M. Questão social e desigualdade: novas formas, velhas raízes. Revista Ágora, n. 4, (on-line), jul 2006. Disponível em: <http://www.estudos- dotrabalho.org/5RevistaRET6.pdf>. Acesso em 12 mar. 2016. TRINDADE, J. D. de L. Anotações sobre a história social dos direitos humanos. In: São Paulo (Estado). Direitos Humanos: Construção da liberdade e da Igualdade. São Paulo: Centro de Estudos da Procuradoria Geral do Estado, 1998, p. 23-163. REFERÊNCIA ON-LINE 1 - <http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/manifestocomunista.pdf>. Acesso em: 05 mai. 2016. 2 - <http://www.estudosdotrabalho.org/5RevistaRET6.pdf>. Acesso em: 05 mai. 2016. 3 - <http://www.nodo50.org/insurgentes/biblioteca/A_Microfisica_do_Poder_-_ Michel_Foulcault.pdf>. Acesso em: 05 mai. 2016. 4 - <http://www.ppe.uem.br/dissertacoes/2006-Nelci_Dorigon.pdf>. Acesso em: 05 mai. 2016. 5 - <http://www.nossaescola.com/acervop.php?idpesq=151>. Acesso em: 05 mai. 2016. 6 - <https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/w/workhouses. htm>. Acesso em: 05 mai. 2016. 7 - <http://www.culturabrasil.pro.br/revolucaoindustrial.htm>. Acesso em: 05 mai. 2016. GABARITO 45 1. C 2. C 3. D 4. B 5. C U N ID A D E II Professora Esp. Daniela Sikorski PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA Objetivos de Aprendizagem ■ Retomar alguns acontecimentos históricos brasileiros que possibilitarão ao aluno a melhor compreensão da questão social e o serviço social. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ A questão social na sociedade capitalista ■ A questão social no processo de industrialização do Brasil ■ A questão social nas décadas de 20 e 30 (século XX) INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), nesta unidade, trabalharemos alguns pontos relacionados à questão social na sociedade capitalista, trazendo elementos que auxiliarão no entendimento da questão social no processo de industrialização do Brasil, dando enfoque a questão social nas décadas de 20 e 30 (século XX). Como eram as relações estabelecidas no Brasil nestes períodos e como se deu o agravamento das questões sociais, sabendo que o processo de industriali- zação gera uma demanda excedente de mão de obra, ocasionando a competição e a exploração dos trabalhadores. Nesta época, consta a inexistência das leis tra- balhistas, que vem a surgir mais tarde com objetivos principalmente de acalmar os ânimos exaltados dos trabalhadores, procurando evitar possíveis rebeliões e ameaça à classe dominante. No campo a situação foi agravada, tanto pela exploração, quanto pelo êxodo. Veremos que a questão social no Brasil primeiramente era tratada como caso de polícia, no qual aqueles pobres, desocupados eram tidos como os principais res- ponsáveis pela sua condição inexistiam a ideia de que os problemas sociais eram oriundos das contradições do sistema que se instaurava no país. Na era Vargas inicia-se a reflexão de outro sentido para as questões sociais, este passa a ser tratado como caso de política, começa-se a gerar formas de enfren- tamento as problemáticas existentes, mas ainda não com seu sentido totalmente ligado a noção de direito, esta noção ainda contemplava os ideais burgueses, pois se sentiam ameaçados pela população vulnerabilizada. Criam-se estratégia de enfrentamentos, mais para sossegar os medos burgueses doque para atender a demanda necessitada de assistência, contudo é um começo, e, hoje, podemos ver o aperfeiçoamento de algumas leis e medidas trabalhistas tomadas naquela época, que de certa forma contribuíram para a regulação das relações trabalhis- tas e sociais brasileiras. Bons estudos! PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E48 A Questão Social na Sociedade Capitalista Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 49 A QUESTÃO SOCIAL NA SOCIEDADE CAPITALISTA A história revela que mesmo o homem sendo um ser de relações e em constante evolução, foi capaz de gerar entre a sua própria espécie a segregação e divisão, instaurando a “verdade” de que uns “abençoados” são melhores e ”superiores” que outros coitados. O progresso econômico e social da humanidade foi capaz de produzir tam- bém a alienação, a exploração de uns poucos sobre muitos, bem como a divisão desigual de bens e lucros, gerando assim as desigualdades de problemáticas sociais, estas questões foram sendo cada vez mais agravadas com o passar do tempo, crescia na mesma proporção que a industrialização e aumento do lucro. O avanço veio à custa daqueles que eram obrigados a vender a sua força de trabalho, já que esta era a única coisa que tinha a oferecer em troca do mínimo para garantir a sua subsistência. Alegre aquele que ainda possuía este recurso, e não dependia apenas da caridade alheia. PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E50 O operário se torna mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais aumenta a produção em poderio e em extensão. O operário con- verte-se em mercadoria cada vez mais barata à medida que cria mais mercadorias. O valor crescente do mundo das coisas determina a pro- porção direta da desvalorização do mundo dos homens. O trabalho produz não só mercadorias; se produz a si mesmo e ao operário como mercadorias; e o faz na proporção em produz às mercadorias em geral (MARX, 2004, p. 68). Marx, em sua obra “O Capital” (1985), já aponta esta exploração do patrão sobre o empregado, aponta a reti- rada da mais valia, com vistas à acumulação do capital; no qual, gradativamente, poucos vão acumulando muito enquanto muitos cada dia mais experenciam a dor da exploração, miséria e desigualdade. A relação de exploração do trabalho vivo pelo capital é uma relação social de pro- dução historicamente determinada, na qual os trabalhadores são despossuídos dos meios de produção e obrigados a vender sua força de trabalho. É no mer- cado que são encontrados os capitalistas dispostos a comprar tal mercadoria para valorizá-la no processo de produção e re- alizá-las continuamente como capital. Quando o capitalista gasta a soma inicial de dinheiro com o objetivo de autovalorizar o dinheiro acumulado primitivamente, ele acaba por transformar os meios de produção e a capacidade de trabalho em capi- tal. As mercadorias compradas pelo capitalista não são capital por na- tureza ou por suas características físicas próprias; elas se tornam capital em relações históricas e sociais determinadas (CASTELO BRANCO, 2006, p. 144). Logo, podemos dizer que as relações que se estabelecem assim, desta forma desi- gual e tão conflituosa entre o capital e o trabalho é que acabam por configurar as questões sociais, onde o sistema econômico se encontra. A partir do exposto, vamos entender uma das fontes das desigualdades pre- sentes há tempos na sociedade, aonde o valor de troca vai dando lugar ao valor de uso. Entendamos um pouco mais o que significa o termo mais valia, de acordo com Karl Marx (2003): ©shutterstock A Questão Social na Sociedade Capitalista Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 51 A teoria marxiana da mais-valia consiste não só em perceber o trabalho como fonte geradora do valor, mas, principalmente, em perceber que existe uma dupla natureza do trabalho – concreto e abstrato – e uma diferença de magnitude do valor de troca e do valor de uso da força de trabalho, o que significa dizer que o trabalhador não recebe o valor in- tegral da jornada de trabalho, mas tão somente uma fração da mesma. “O possuidor do dinheiro pagou o valor diário da força de trabalho; pertence-lhe, portanto, o uso dela durante o dia, o trabalho de uma jornada inteira. A manutenção quotidiana da força de trabalho custa apenas meia jornada, e o valor que sua utilização cria em um dia é o dobro do próprio valor-de-troca” (MARY, 2003, P.227, grifos do autor). Além da exploração do homem pelo homem, por conta do sistema, gerando assim os problemas sociais, vemos também nesta relação à alienação do homem. Procure neste momento estabelecer uma busca científica, pois esta discus- são já foi estabelecida em outras oportunidades, em outras disciplinas, tais como sociologia, psicologia social, filosofia, entre outros momentos em que pudemos analisar a alienação advinda a partir do sistema capitalista. Lembre-se que existem vários tipos de alienação. Ela pode ser religiosa, filosófica, política e sócio-econômica. Percebemos que a partir das obras mar- xianas, inúmeras críticas à alienação, e Marx (2003) aponta que esta é revestida de várias formas, ou seja, a alienação social e econômica acontece por meio da: Figura 1 - Tipos de Alienação 1. Separação entre o homem e o trabalho que desempenha na sociedade, quando este o priva do processo de decisão de como e o quê fazer. 2. Quando o homem é apartado do produto de seu trabalho, quando isso acontece ele se torna impossi- bilitado de exercer controle sobre o que é feito, sobre o que é resultado de seu trabalho, caracterizando assim a exploração. 3. Quando o homem por meio do processo competiti- vo se afasta de seus iguais. Fonte: Adaptado de Marx (2003). PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E52 O sistema prega que o homem deve sempre fazer o seu máximo, alcançar o topo, de forma que este doe toda a sua energia e concentre todo seu potencial para que o lucro (que não será partilhado com ele) seja aumentado, vendo assim a lógica do capitalismo aumentar os lucros e reduzir as despesas. O homem acredita que se fizer o seu melhor, não se importando com os demais poderá ingressar na parte da pirâmide onde só poucos têm acesso. É importante ter em mente que não se pode intervir junto aos problemas que não se conhece, para tanto é preciso conhecer a história, dialogar com os pensa- dores e teóricos e, assim, formularmos nossos conceitos e ideias acerca da questão social, este momento sinaliza o início do processo de desalienação. Já parou para pensar nisto? Então, vamos continuar nossa empreitada. Retomar nosso estudo. Os trabalhadores percebendo todo este movimento exploratório ligado à exploração e acumulação desigual de capital resolve se organi- zar em movimentos reivindicatórios, movimentos de luta, buscando melhores condições de vida e trabalho, sem con- tar na solução dos problemas sociais que se alastrava nas diversas realidades, tanto do campo quanto da cidade. Desta maneira, partindo desta nova organização que surgia na sociedade começa a se perceber a implantação de políticas sociais pelo mundo, por volta Nós teríamos alguma saída para os problemas sociais existentesem nosso país e no mundo? Qual seria a estratégia de ação? © sh ut te rs to ck A Questão Social na Sociedade Capitalista Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 53 do final de século XIX (Europa e Estados Unidos), e no Brasil a partir de 1930. Porém, devemos estar atentos para que não reduzamos as políticas sociais apenas ao ângulo da reprodução da exploração capitalista, temos ainda que considerar a realidade da correlação de forças sociais existentes, e até mesmo da contradição visí- vel do próprio sistema. A classe trabalhadora deve ser vista como sujeito, como ator e protagonista, uma vez que buscam seus direitos, que se criem e se efetive as políticas sociais criadas para respon- der a demanda surgida a partir do agravamento das questões sociais. Quando falamos na ação do Estado na elabo- ração de políticas sociais não podemos concebê-la unicamente como uma ação autônoma e beneficente deste, tais ações revelam muitas vezes “[...] o resultado de concretas, prolongadas e muitas vezes violentas demandas das classes popu- lares” (VILAS, 1978, p. 7). Vamos dar início a nossa reflexão acerca da questão social no Brasil, é neces- sário que isto dê de forma tranquila, logo se algo ficar meio confuso em seu entendimento recorra a outras fontes de pesquisa, socialize suas dúvidas, enfim, não deixe isto incomodando você. Nosso país mesmo possuindo muitos pontos semelhantes com a história de outros países, nós temos que reconhecer que no Brasil não havia entre a popu- lação a tradição de luta pelos direitos de cidadania, o Estado não tinha como missão administrar os bens e riquezas acumulados de maneira a distribuir entre seus cidadãos, como acontecia em outros países. No Brasil, nossas políticas sociais e assim também o serviço social foram implantados no século XX, por volta de 1930, e as condições que isto ocorreu diz respeito a características muito diversas, este processo de entendimento nos possibilitará conhecer o passado para compreender melhor o presente, pensando e propondo um outro futuro, concordam? Sendo assim, vamos avançar mais um pouco. PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E54 A QUESTÃO SOCIAL NO PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DO BRASIL De início, ao pesquisar a realidade socioeconômica do Brasil, percebemos que havia muitas aproximações com a realidade inglesa, explicitadas no capítulo anterior, tais como: Figura 2 - Aproximações entre a realidade Inglesa e o Brasil Aproximações entre a realidade Inglesa e a do Brasil Longas jornadas sob situações insalubres. Disciplina rígida, ameaça, multas e dispensas. Utilização de crianças e mulheres com salários mais baixos. Viviam nos bairros fabris, em precárias habitações coletivas (cortiços) ou em vilas controladas pelos patrões. Fonte: a autora (2016). Podemos constatar que o povo brasileiro sempre devotou muita esperança nos processos de mudança no país, assim aconteceu com a Proclamação da República em 15/11/1889, onde os setores populares esperavam mudanças profundas na sociedade brasileira - maior participação política, melhorias sociais e econômi- cas para os mais desfavorecidos. O que não se concretizou como bem pudemos perceber na história da pós-proclamação. Começamos nosso estudo analisando o Brasil na década de 30 (século XX), neste período, também surge no a profissão de Serviço Social (estudo este que vocês estão fazendo na disciplina de Fundamentos Históricos e Teórico- Metodológicos do Serviço Social). A Questão Social no Processo de Industrialização do Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 55 Neste período, o país passava por uma intensificação do seu processo de industrialização rumo ao desenvolvimento econômico, social, político e cultu- ral. Período este marcante na história do país. Muitos autores citam a Revolução de 1930 como um marco divisório na história do Brasil, sendo a passagem da vigência do sistema agrário-comercial, amplamente vinculado ao capitalismo internacional, e a do sistema urbano-indus- trial, voltado para o mercado interno, que emergia paulatinamente, encontrando bases cada vez mais sólidas de expansão. Saiba que antes de 1930, a industrialização ainda estava em seu início, logo, a gama de proletariado ainda era muito menor, contudo, a questão social, já era bem visível, mas de forma mais local. Os trabalhadores da época exerciam seus ofícios em condições precárias, e sob um nível de tensão muito grande. Nesta época, o Brasil não contava com uma legislação trabalhista, o que dificultava muito as condições para a classe. Com o desenvolvimento em pleno andamento, acabou por refletir (de certa forma) em um aumento da renda per capita; dos salários e por consequência: aumento no consumo. Essa realidade acabou por gerar um crescimento da população urbana. Com esta demanda das expressões da questão social em pleno crescimento, por conta da deficiência do planejamento, da forte saída das famílias do campo para irem atrás de melhores condições de vida na cidade, os problemas se agravavam na área da saúde, habitação, educação, infraestrutura, assistência, saneamento, entre outras problemáticas. Por que dizemos que este processo de desenvolvimento industrial no Brasil, gerou expansão econômica e ao mesmo tempo provocou o agravamento de algumas questões sociais? PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E56 Vamos entendendo um pouco mais do que acontecia no país? Aumentando a concentração de renda desigual, aumenta também as insatisfações nas relações trabalhistas, gerando tensão e agravamento da questão social. A Constituição Brasileira de 1891 revela uma concepção liberal na qual se percebia a negação do Estado em intervir diretamente nos conflitos entre patrões e empregados e se opunha a realizações sociais distributivas de caráter obrigatório. A sua atuação se dava apenas na regulação das forças econômicas: admi- nistração, cobrança de impostos, fornecendo meios de comunicação, meios de transportes mais em conta para que as mercadorias pudessem circular. Assim, a questão social está inserida no contexto que podemos compreender como o empobrecer constante da classe trabalhadora, a partir do surgimento, expansão e solidificação do sistema capitalista a partir do século XIX. Até este século (XIX), o homem estava diretamente ligado a terra (trabalhava nela), e assim não podia ser expulso, mesmo com a pobreza instalada ali, estava “seguro”. Constata-se, entretanto que a partir de então se tem início a luta pela instaura- ção dos direitos sociais, bem como políticas públicas que correspondessem a toda esta demanda da população, vê-se um movimento rumo a efetivação de uma cidadania social. O capitalismo chega e gradativamente vai sufocando essa mínima “proteção social”, criando na sociedade (à base de seus ideiais) uma leva de excluídos que até hoje só aumenta. Com o “Estado de Bem-Estar Social” consegue a partir das reivindicações dos trabalhadores e aliados, certa estabilidade social, a partir da legalização dos direitos econômicos e dos direitos, porém com o advento do neo- liberalismo provocou-se outra tragédia social: aqueles trabalhadores que foram expulsos das terras onde trabalhavam, onde conseguiam um mínimo de proteção social por parte do Estado,perdem tudo, ficam sem propriedade e desamparados pelos direitos sociais e econômicos, surgindo assim os proletários do século XX. A Questão Social no Processo de Industrialização do Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 57 A atuação da Igreja Católica nesse processo histórico: É importante conside- rar a estreita relação existente entre a hierarquia católica com Roma (Papa) e a influência dos E.U.A. com essa hierarquia central. Alguns aspectos podem ser apontados como condicionadores do movimento de reação da igreja católica: ■ A reforma protestante nos países da Europa. ■ A perda de sua hegemonia no que se refere à visão de mundo. ■ Preocupação com a ideologia anarquista/comunista que se propagava no meio operário. Será a partir destes aspectos que dará o movimento de “recatolização da nação”: a igreja começa a ter uma preocupação em assumir uma intervenção face à questão social; vale a pena ressaltar o estreito colaboracionaismo entre Igreja Católica brasileira e as autoridades constituídas. As formas de enfrentamento da questão social pela igreja em nenhum momento colidirão com os interesses do Estado brasileiro. No decorrer da década de 20, perante a movimentação da classe operária, a igreja reforça o apelo à manutenção da ordem e o respeito à hierarquia. No transcorrer da década de 30, o proletariado já se apresenta com um maior peso numérico e organizativo, desenvolvimento esse que ocorre concomitante ao crescimento da indústria na economia brasileira. No início dessa década e a partir da crise mundial de 1929, começa a ocorrer uma nova configuração polí- tica onde a burguesia agrária – apesar de continuar a ter o peso na economia, começa a perder poder político-econômico para a burguesia industrial. Estado de Bem-Estar Social: é um tipo de organização política e econômica que coloca o Estado (país) como agente da promoção (protetor e defensor) social e organizador da economia. Nesta orientação, o Estado é o agente regulamentador de toda vida e saúde social, política e econômica do país em parceria com sindicatos e empresas privadas, em níveis diferentes, de acordo com a nação em questão. Cabe ao Estado do Bem-Estar Social garan- tir serviços públicos e proteção à população. Fonte: Sucaiar (2011, on-line)1. PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E58 Existe neste momento a conjuntura política e social presente nesse momento – a crise de hegemonia entre as frações burguesas e a movimentação das classes subalternas. Esta situação abriu à igreja um enorme campo de intervenção na vida social (movimento político-militar que pôs fim a República Velha). O novo bloco no poder buscou o apoio da hierarquia da igreja (visto seu compromisso com as forças anteriores) oferecendo em troca o ensino religioso nas escolas. Esse período correspondeu a uma situação de ambiguidade, onde ambos – Igreja e Estado – unidos pela preocupação comum de resguardar e con- solidar a ordem e a disciplina social se mobilizará para estabelecer mecanismos de influência e controle. A igreja se lançou à mobilização da opinião pública cató- lica e à reorganização em escala ampliada do movimento católico leigo. A partir de 1932 dá-se a ampliação da intervenção do movimento católico laico, via: ■ Ação universitária católica. ■ Instituto de estudos superiores. ■ Associação das bibliotecas católicas. ■ Liga eleitoral católica. A visão de sociedade (Deus é fonte de toda justiça, e apenas uma socie- dade baseada nos princípios da cristandade pode realizar a justiça social) que a Igreja assume, sofre influência direta da perspectiva positivista, ou seja, é visualizada enquanto um todo unificado por meio das cone- xões, tradições, dogmas e princípios morais de que ela é depositária. Indivíduos e fenômenos sociais coexistem. Em coesão orgânica com a sociedade em sua totalidade. O que podemos então dizer das re- lações entre Igreja e Estado: à Igreja cabia a tarefa de reunificação e Considerando este contexto, como se dá a resposta da Igreja aos problemas sociais no período em questão? E nos dias atuais? A Questão Social no Processo de Industrialização do Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 59 recristianização da sociedade burguesa. Concluindo pelo alinhamento doutrinário do Estado laico ao direito natural, orientado por suas nor- mas transcendentes (IAMAMOTO; CARVALHO, 2007, p. 156). A Igreja visava apasiguar os conflitos entre as classes (proletariado e burguesia), ordenando e harmonizando as relações de produção. Para tanto na Assembleia Constituinte de 1933, a Igreja Católica assume uma expressiva bancada, obtida por meio de seus eixos políticos e mobilizações junto aos eleitores católicos. Assim, a bancada católica estaria a defender os interesses católicos, já que encon- trava no espaço onde as leis são construídas. A estratégia da Igreja é o de investir no desenvolvimento do movimento laico, visando fortalecer sua linha de Ação Católica (Apostulado Social). Para tanto, aposta na organização da juventude católica para atuar junto à classe operária: Juventude Operária Católica (JOC). Juventude Universitária Católica (JUC). Juventude Estudantil Católica (JEC). Juventude Industrial Católica (JIC). Juventude Feminina Católica (JFC). O Centro de Estudos e Ação Social (Ceas) de São Paulo foi a manifestação original do Serviço Social no Brasil, no ano de 1932. Seu objetivo foi o de ca- pacitar tecnicamente a prestação de assistência, seu público seria de jovens católicos que compunham as diferentes frações das classes emergentes. Vale observar que a Igreja recomenda a tutela estatal para a classe operária, ao mesmo tempo em que reclama liberdade de ação para o desenvolvimen- to de sua ação e o subsídio do estado para ela. Fonte: Iamamoto e Carvalho (2007). PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E60 A QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL NAS DÉCADAS DE 20 E 30 (SÉCULO XX) O trabalho assalariado é uma das características presente no sistema capita- lista de produção, como já dissemos várias vezes ao longo deste texto, a mão de obra é uma mercadoria, o homem vende sua força de trabalho em troca de uma remuneração, que visa garantir a sua subsistência e sanar suas necessidades. Creio que isto já tenha sido assimilado por você, a questão agora é que você consiga além de compreender esta situação, seja capaz de estabelecer relações entre as diversas expressões da questão social e as discrepâncias existentes na relação capital X trabalho. A relação burguês X proletário é dotada de interesses contraditórios, o que obriga que sejam tomadas medidas no sentido de controle social, principalmente no que diz respeito à exploração da força de trabalho. Retomando alguns conceitos e ideias, pois esse processo de retomada sempre nos possibilita a fixação da informação, bem como um olhar mais aprofundando sobre aquilo que está em pauta, não é mesmo? Sendo assim, veja bem: no início do século XX inexistia uma legislação trabalhista, ou seja, normas e regras que mediassem esta relação entre patrão e empregado, esta inexistência torna ainda mais claro as desigualdades oriundas da exploração que visava atender a máxima capitalista de se “obter mais lucro e se reduzir as despesas”. Torna visível ainda o agravamentodas problemáticas sociais, o que podemos chamar de sequelas sociais, por exemplo, a exploração da mão de obra infantil, longas jornadas de trabalhos sem remuneração extra, condições insalubres de trabalhos. Entre os anos de 1917-1920, o anarquismo (tendência política trazida pelo operariado europeu do Brasil) enquanto, força política-ideológica, é presente no cenário brasileiro. A densidade das manifestações tornou visível para a bur- guesia, a organização dos trabalhadores na luta pela melhoria das condições de vida e trabalho. Faz-se necessário reforçar a incapacidade do Estado em encontrar saídas para as problemáticas instauradas no país, muito menos a proposição de políticas sociais que visassem minimizar ou sanar esta superexploração, presente no país. A Questão Social no Brasil nas Décadas de 20 e 30 (Século XX) Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 61 No período entre 1910-1920, o proletariado (predominantemente de origem europeia - italianos, alemãs, portugueses etc.) encontrava-se ainda numerica- mente fragilizado, em sua grande maioria, é o trabalhador oriundo do campo que vem “engrossar” essa nascente classe; o perfil ideológico desses ex-campesinos – agora trabalhador urbano – em nada lembra a identidade dos trabalhadores imigrantes no que se refere a sua história de lutas na Europa. Você consegue compreender que mesmo as problemáticas sendo similares, o perfil dos trabalhadores são diferentes em diversos países? O que gera perfis diferentes de expressões das problemáticas existentes? A burguesia (sua fração industrial) utilizava a estratégia de negar as reivindi- cações do proletariado, desrespeitando os acordos e utilizando o aparato policial (questão social como caso de polícia, que veremos mais adiante) no enfrenta- mento das manifestações dos trabalhadores. A tática de alguns empresários resultou na construção de uma “política assistencialista”: as vilas operárias, as creches, as escolas, no entanto, havia rebai- xamento salarial, controle de tempo “livre” do trabalhador e um condicionamento do bom comportamento para acesso a esses salários indiretos. O objetivo dessas estratégias era o de aliar o controle sócio-político ao incremento da produtivi- dade, por meio do aumento da taxa de exploração. Não há nenhum sentido de redistribuição nessa política e sim, o intuito de melhorar as condições gerais de acumulação capitalista. Mesmo que muitos indivíduos julgassem tais práticas de extremo valor, pre- ocupação com a qualidade de vida do trabalhador, solidariedade, altruísmo e compaixão por parte dos patrões, percebe-se, claramente, o caráter ideológico e repressivo de tais ações. O ato de manter os trabalhadores e suas famílias nas vilas operárias sob o olhar constante dos patrões ou “funcionários de confiança”, Hoje como se encontra a atuação do Estado frente às questões sociais exis- tentes em nosso país? Quais alternativas estão sendo buscadas para que amenize/resolva as diversas problemáticas sociais existentes? PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E62 revela o autoritarismo e, também, a insegurança quanto aos processos reivindi- catórios dos trabalhadores, tudo chegava aos ouvidos da chefia. Sendo assim, a partir do momento em tentamos sintetizar os principais fatos que ocorreram no Brasil no período que compreende entre 1930 e 1960 tem-se em linhas gerais os seguintes acontecimentos (claro que existiram muitos outros, mas apontamos os mais significativos): 1. O país se consolida como Estado/Nação. 2. Caem por terra as oligarquias rurais, principalmente em São Paulo e Minas Gerais. 3. Neste período também tem se a instalação do governo, nacionalistas, inte- gralistas, ditatoriais, provisórios e democráticos. 4. A consolidação do Parque Industrial Nacional. 5. O estabelecimento de Leis Trabalhistas (urbanas e rurais). 6. A elaboração e promulgação das Constituições Brasileiras. 7. A organização sindical. 8. O crescimento da população urbana. 9. Os incentivos governamentais à ocupação dos vazios demográficos do centro-oeste e norte do país, com a constituição de colônias agrícolas. 10. Eleições. Ainda hoje, século XXI, temos informações da existência de vilas operárias no Brasil, talvez o sentido de sua existência tenha mudado, bem como a maneira de condução da comunidade que ali se forma, mas o interessante é que se você tiver acesso a uma destas vilas, procure conhecer sua história e como foi o seu desenvolvimento. A Questão Social no Brasil nas Décadas de 20 e 30 (Século XX) Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 63 11. Golpes de estado. 12. Ditaduras. 13. Mudanças de regime governamental. 14. Crises econômicas. 15. Investimentos do capital internacional no país. 16. Crises sociais, entre outros. Apesar de multiplicidade de acontecimentos, as desigualdades sociais do país não se alteraram de forma significativa. No meio rural ocorreram tentativas gover- namentais de alteração da estrutura fundiária do país, essas tentativas constam nas Constituições Nacionais de 1934 (estabelecidas às normas fundamentais de Direito Rural, código Rural) e 1946 (estabelecido o direito rural e a desapropria- ção por interesse social). Foi contra a ascensão do capitalismo, como modo de vida – isto é, como um novo tipo de civilização na qual tudo se compra e tudo se vende – que se afirma- ram os direitos econômicos e sociais, assim como os direitos individuais foram reconhecidos e garantidos contra o feudalismo. Desapropriação por interesse Social: A terra deve atender à necessidade dos agricultores, buscando uma maior justiça social e o entrosamento mais per- feito entre as normas jurídicas e a realidade agrária do Brasil. Fonte: Kraemer (2006, on-line)2. PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E64 Para Coutinho (1992, p. 13): Superar a alienção econômica é condição necessária, mas não suficien- te, para a realização integral das potencialidades abertas pela crescente socialização do homem; essa realização implica também o fim da alie- nação política, o que, no limite; torna-se realidade mediante a reabsor- ção dos aparelhos estatais pela sociedade que os produziu e da qual eles se alienaram. Observando o raciocínio de Coutinho (1992), podemos perceber que o sistema de poder quando centralizado por muito tempo impede o processo de experi- ências democráticas efetivas. Os burgueses queriam a liberdade de associação para eles, mas não para os trabalhadores - e sabiam que estavam exteriorizando uma contradição injusta, do ponto de vista ético e jurídico. No Brasil nunca tivemos uma revolução burguesa, mas é fato que em nosso país os direitos sociais nunca estiveram acima dos políticos. Conseguimos a conquista do sufrágio universal, porém uma ilusão de que haveria o respeito pela opinião do cidadão; houve sim um desrespeito a digni- dade do homem das suas diversas esferas, frente ao falso direito de opinião acerca das escolhas nas eleições que ocorriam. Uma questão é possível: enquanto o capitalismo continuar como está, com todos os seus abusos, incoerências e falso moralismo, é muito provável que nossa humanidade demorará a alcançar a tão sonhada igualdade de direitos sociais, direitos econômicos, direito humanos etc. A Questão Social no Brasil nasDécadas de 20 e 30 (Século XX) Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 65 Desde a década de 1910, entretanto, enquanto o processo de industria- lização se acelerava, o movimento operário procurava obter dos empre- sários e dos políticos algum tipo de proteção ao trabalho que levasse à criação de uma legislação social no país. Foi só a partir de 1930, no en- tanto, que essa legislação passou a ser realmente implementada, tanto na área trabalhista quanto na previdenciária (FGV..., on-line)4. No Brasil foi registrado um forte índice de expansão industriário, enquanto mundialmente ocorria a Primeira Guerra Mundial, pois, nesse cenário o comér- cio mundial enfrentava crise. Vemos o aumento das atividades industriais, bem como a organização dos trabalhadores, fortalecendo o movimento operário. Entre 1917 e 1920 inúmeras greves foram decretadas nos principais centros urbanos do país. Em decorrência, o debate sobre a questão so- cial e sobre as medidas necessárias para enfrentá-la ganhou considerá- vel espaço no cenário político nacional (FGV..., on-line)4. Sufrágio universal [...] o melhor e mais didático meio de entender o que é o sufrágio está des- crito como “o direito de votar e ser votado”. O sufrágio para a democracia deve revelar-se como a vontade do povo, a verdadeira participação da so- ciedade na vida política e nas decisões tomadas pelo governo, não existindo limitações fundadas em descriminações sociais, raciais, intelectuais, de sexo, cor e/ou idade. Porém, esta participação política apesar da ideia de amplitu- de contida na nomenclatura da palavra “povo”, é restrita aos denominados cidadãos. E quem são os cidadãos? Seriam aqueles detentores de direitos políticos. [...] a cidadania é garantida aos que exercem os seus direitos políticos na for- ma da capacidade eleitoral ativa, podendo votar e escolher seus governan- tes, ou por meio da capacidade eleitoral passiva que é a capacidade de ser eleito, de concorrer a um cargo eletivo e político. Enfim, o sufrágio universal é o direito de votar e ser votado inerente a todos os indivíduos da sociedade, desde que respeitadas às restrições trazidas pela Constituição Federal com o intuito apenas de garantir a mínima capacidade possível para aqueles que participarão do processo eleitoral, os chamados cidadãos. Fonte: Nascimento (2013, on-line)3. PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E66 O objetivo dos trabalhadores era melhorar as condições de vida, de trabalho e salário. Enquanto os patrões até consideravam a possibilidade de certas conces- sões ao trabalhador, com a intenção de manter garantido o processo de produção e aumento de capital, e também como forma de acalmar os ânimos exaltados dos trabalhadores. De acordo com Cerqueira Filho (1982), a partir de estudos acaba por afirmar que foi o surgimento da classe operária que impôs ao mundo moderno, no curso da constituição da sociedade capitalista, um conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos. Em que o conflito capital X trabalho acaba representando além de um problema econômico, um problema político, expressando-se por meio da relação dominante X dominado. A questão social que aparece no Brasil de forma mais evidenciada no final do século XX, em meio a um processo de industrialização, como, já falamos, anteriormente. A questão social permanece por várias décadas na ilegalidade, por isso, foi formulada como desordem, criminalizando o sujeito e enfrentada via apare- lhos repressivos do Estado (polícia civil, militar etc.) em resposta a demanda por segurança. Assim, entendia-se que a questão social era caso de polícia. [...] a ‘questão social’ não aparecia no discurso dominante senão como fato excepcional e episódico, não porque não existisse já, mas porque não tinha condições de se impor como questão inscrita no pensamento dominante. [...] a ‘questão social’ ganhava ruas e avenidas; o número cada vez maior de operários se encarregava de conferir ao problema a dimensão e o eco que as classes dominantes não se cansavam de tentar diminuir (CERQUEIRA FILHO, 1982, p. 59, grifos do autor). “Questão social é caso de polícia”. Assim, o ex-presidente brasileiro Washin- gton Luís resumiu a postura que adotava contra os incipientes movimentos sociais que incomodavam seu governo, de 1926 a 1930. Fonte: Santos (2014, on-line)5. A Questão Social no Brasil nas Décadas de 20 e 30 (Século XX) Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 67 Quando falamos na questão social como “caso de polícia”, podemos visualizar os seguintes pontos: Quadro 1 - Questão Social - Caso de Polícia 1. Os pobres no início da República eram presos porque eram pobres. 2. Havia uma “interven- ção repressiva” pelo aparelho do Estado (polícia civil, militar, etc.) Garantia de segurança para a burguesia em que fosse “à tiro”. 3. Ser pobre era uma con- travenção, uma disfunção social; ameaça à classe dominante. 4- O comportamento do pobre era considerado fora dos padrões da nor- malidade. Os programas destinados à população mais necessitada, tinha como objetivo torná-los dóceis, adestrados para que assim pudessem viver em sociedade. 5. A questão social era chamada de “caso de polícia”porque a classe dominante não se via como responsável pelos problemas e se achando superior dariam conta de tudo por meio da inter- venção policial. 6. A pobreza não foi problematizada até 1930 (não buscava se saber quais as causas, as origens, de tantos pro- blemas sociais, mesmo que isto ficasse claro e evidente que isto se dava por conta das relações exploratórias do capitalis- mo que se implantava). Fonte: a autora (2016). A classe dominante detendo também o poder político não se importava com as questões sociais, logo, estas não eram tratadas, nem encaradas como “caso de política” (1890-1930). Logo, na expressão: “Questão Social é Caso de Polícia” é um claro reve- lador do poder, de forma absoluta e caricata (repressiva ao máximo), da classe burguesa na sociedade brasileira da época. Em seguida, após 1930, o governo de Getúlio Vargas “[...] aprofundará o tra- tamento da ‘questão social’ como uma problemática nova, isto é, que recebe um tratamento novo na ótica dos grupos dominantes. O problema será tratado por novos aparelhos de Estado e a ‘questão social’ será reconhecida como legítima”. (CERQUEIRA FILHO, 1982, p. 75, grifos do autor). PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E68 O governo populista, que assumiu o poder logo após a Revolução de 1930, reconhece a existência da questão social e suas expressões, que passa a ser con- cebida como uma “questão política” (1930-1937), a ser enfrentada e resolvida pelo Estado. A questão social no Brasil, a partir dos anos 30, passou a ser vista e tratada como um “caso de política”, contrariamente ao período da República Velha, quando a mesma foi tratada e percebida como um “caso de polícia”, pois nos anos 30 o que se observou foi a intervenção estatal no mundo do trabalho, que se materializou por meio da política social trabalhista. A questão social deixa de ser vista como ILEGAL, a partir do momento em que o Estado perturbado pelas ações das classes pró-conservação, pró-mudança ou emancipação deixou a ilegalidade após os anos 30 passandoa ser reconhe- cida no pensamento político sob postulados liberais-democratas como questão de política. Como nova problemática surgida nas relações entre capital e trabalho no processo de industrialização e, sob o padrão de substituição de importações, a questão social desponta como expressão das contradições que não mais pode- riam ser subtraídas ou combatidas pela polícia (ARCOVERDE, 1999). Caso de política: a radicalização política da década de 30/37: Quadro 2 - Questão Social - Caso de Política 1. Após 1930, Vargas aprofunda o tratamento da questão social como problemática nova, rece- be tratamento novo na ótica dos grupos domi- nantes. 2. O problema será trata- do por novos aparelhos de Estado e a questão social será reconhecida como legítima. 3. A carência de leis, direi- tos e a frágil organização operária permitiram que o Estado passasse à condição de árbitro, me- diando as relações entre capital e trabalho. 4. Aumento da pobreza exige maior atenção por parte do Estado. 5. Assistência social deixa de ser simplesmente filantrópica(não comple- tamente) fazendo parte cada vez mais da relação social da produção Fonte: a autora (2016). A Questão Social no Brasil nas Décadas de 20 e 30 (Século XX) Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 69 Neste período, alguns enfrentamentos da questão social foram feitos no Brasil, alguns podemos perceber seus reflexos até hoje, outros foram modificados e outros nem existem mais, contudo, vale ressaltar, que foram “soluções” possíveis naquela época, aquilo que foi pensado e que poderia ser executado. É possível que você esteja pensando: mas se podia fazer muito mais, por que não fizeram? Então eu pergunto à você: as medidas de enfrentamento às expressões da questão social são suficiente, eficazes? Contamos com estudiosos capacitados, analistas que são referências mundiais, por que, então, avançamos tão pouco em termos de melhorias da condição de vida da população? Não falo apenas de saúde, falo de habitação, educação, moradia, acesso a direitos, garantia de direito, por que, então, temos tanta violência, corrupção, tráfico? Mas voltando as medidas de enfrentamento da questão social da época em questão temos: 1. Programas na perspectiva de adestrar os pobres tornando-os mais dóceis, mais resignados com aquilo que a sociedade lhes oferecia. 2. “Cidadania regulada” – era compreendido como cidadão aquele que tra- balhasse em uma profissão reconhecida pelo estado, algo que também se estendeu ao sindicato. 3. Criação de serviços, projetos e programas para cada necessidade, problema ou faixa etária, o que acabou compondo uma prática setorizada, fragmen- tada e descontínua, o que Mestriner (2001) chama de retalhamento social. 4. Assim, o governo atraiu o apoio dos trabalhadores, controlou o movi- mento operário para evitar a expansão das ideias de esquerda e criou condições para o desenvolvimento industrial sob a égide do nacionalismo. PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E70 No período que compreende 1937 a 1947, a questão social volta a ser enten- dida como Caso de Polícia (outra vez). [...] ao dizermos que após 1937 a ‘questão social’ volta a ser tratada como caso de policia (em uma alusão ao período anterior a 1930) de- vemos ter em mente os efeitos repressivos dos aparelhos de Estado na legalização/legitimação da ‘questão social’. Esses efeitos repressivos de- vem ser buscados naquilo que é específico do discurso político que ori- ginalmente produz a legalização da ‘questão social’: o corporativismo (CERQUEIRA FILHO, 1982, p. 131). Neste contexto da história do país, Getúlio Vargas tratou a questão social como questão política, estabeleceu uma política governamental específica e uma relação paternalista com as massas operárias urbanas. Usando os meios de comunica- ção, difundindo uma imagem de pai dos pobres (que revela e fortalece junto a população o seu poder pessoal). A partir das medidas adotadas procura ocultar a problemática dos conflitos sociais (amortecer = ocultar), podemos contatar que as soluções trabalhistas estavam sob a ótica dos grupos dominantes. Contudo, seu governo agia de forma a conduzir a uma centralização política e administrativa, denotando a intervenção de um Estado autoritário (investir na “Cidadania Regulada”: eram cidadãos todos aqueles com ocupações ou pro- fissões reconhecidas e definidas por lei, ou seja, quem estava inserido no mercado formal de trabalho. O Estado “definia quem era e quem não era cidadão, via profissão.” Mais tarde, essa distinção passou a ser feita via salário (SANTOS, 1987, p. 70). [...] Nos anos 80, a crise econômica e a democratização impulsionaram a crítica e o rompimento com o caráter excludente do modelo anterior. O modelo universalista, de cidadania plena, “nasce a partir do momento em que se identifica trabalhador como cidadão, onde o estatuto do trabalho passa a abranger toda a sociedade, os laços de regulação formal estendem-se a toda a sociedade [...]” (MÉDICI, 1994, p. 220). Fonte: Santos (1987, p. 70) e Médici (1994, p. 220). A Questão Social no Brasil nas Décadas de 20 e 30 (Século XX) Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 71 industrialização e fortalecer a burguesia). Como a questão social já havia sido legitimada, anteriormente, agora, a maneira de repressão se manifesta na cuidadosa elaboração da legislação traba- lhista (CLT 1943), por exemplo: 1. Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (26/11/1930) para regular por meio de legislação específica e sob a hegemonia do Estado as rela- ções entre operários e trabalhadores urbanos e patrões. 2. Questão Social equacionada por meio do Ministério do Trabalho. 3. Salário mínimo – 1940/Jornada de 8 horas; férias remuneradas; institu- tos de aposentadorias e pensões; estabilidade no emprego; indenização por dispensa sem justa causa; regulamentação do trabalho de mulheres e menores; convenção coletiva do trabalho; Justiça do trabalho - 1939; Tri- bunal Superior do Trabalho (TST); Juntas de Conciliação e Julgamento. 4. Justiça do Trabalho - arbitrar conflitos entre patrões e empregados (1934 – vigora em 1943). 5. Instituiu uma extensa legislação de caráter assistencialista para o prole- tariado urbano, apresentando-se como doador. 6. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) – 1943 - Sindicatos subor- dinados ao governo. 7. As greves foram proibidas e foi criado o salário mínimo (1940). 8. Se por um lado estas medidas revelam uma efetiva na melhora no tra- tamento da “questão social”, por outro elas apontavam na direção da intervenção do Estado no movimento sindical. A partir do momento em que a questão social passa a ser encarada como ques- tão de política, o seu enfrentamento obriga os poderes públicos a intervirem nas questões, bem como na criação de órgãos públicos ligados a mesma. Muitas vezes tido como instrumento de controle. O pensamento contrário à impossibilidade de abandono do mercado de trabalho à autorregulação, em determinados momentos de crise e debilidade política, encontra na teoria intervencionista do Estado, via legislação, a solução. Tudo não se dá ou se passa sem a participação das classes em movimento. PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E72 CONSIDERAÇÕES FINAISTemos marcado em nossa história a luta de um povo pela conquista de seus direitos, porém muito se tem a fazer, não desmerecendo o muito já conquistado. Marcados por políticos que atendem as exigências da burguesia, temos polí- ticas voltadas a atender aos anseios desta parcela da população, que em menor número concentra a riqueza e o poder de toda uma nação. O Brasil é marcado por desigualdades gritantes, saltada aos olhos desde a chegada de Portugal às nossas terras. Desigualdades que foram assumindo novas formas, novas roupagens, mas que nunca deixaram de existir. Porém, não descartamos a característica que move a força popular, a luta pela mudança e pelo enfrentamento das questões sociais, é possível visualizar inúmeras categorias profissionais que se empenham na discussão e proposição de alternativas que colocam o ser humano em primeiro lugar e atender a neces- sidade humana básica. Não dizemos aqui que o capital não é importante, ele é, mas este está para servir ao homem, e hoje o que presenciamos e sentimos na pele é exatamente o inverso: o homem serve ao capital. Nesta unidade, passeamos brevemente pela historia do país a partir da década de 30, lemos mais sobre a Revolução de 30, que marca a história das relações no Brasil. Entendemos como a questão social foi sendo tratada ao longo da história nacional e as ações de enfretamento adotadas. A presença de Getúlio Vargas que imprime um novo significado a questão social e as relações trabalhistas. Tratamos das relações capitalistas e de como medidas empregadas por Getúlio Vargas ainda repercutem e marcam presença na atualidade. Esta unidade serve de base para o entendimento das questões sociais hoje, e para a compreensão das políticas de enfrentamento que possuímos na atua- lidade. Este estudo serviu além de tudo para que olhando o passado possamos estabelecer metas futuras e da mesma maneira, fazermos história. 73 1. Para proteger a sociedade frente aos problemas relacionados à pobreza (in- digência, doenças, degradação moral e “classes perigosas”), o Estado encara a questão social como Caso de Polícia, neste período da história brasileira, quais ações o Estado poderia realizar quando, por exemplo, encontrasse um “desocu- pado” na rua? Assinale a alternativa correta: a. Adotar e até premiar com uma renda fixa. b. Prender e até matar. c. Prender e até amar. d. Prender, educar e matar. e. Torturar, roubar e beneficiar. 2. Ao se estudar a questão social enquanto caso de política, percebemos um novo momento da realidade brasileira e suas problemáticas, este período ocorreu en- tre os anos de 1930 e 1937, durante o Governo de Getúlio Vargas, Considerando este assunto, analise as alternativas. classificando como Verdadeira ou Falsa e, em seguida, assinale a alternativa correta: ( ) O período de 1930 e 1937 foi no Brasil um período de radicalização política. ( ) O problema social será tratado por novos aparelhos de Estado e a questão social será reconhecida como legítima. ( ) O governo cria, neste período, condições para o desenvolvimento industrial sob a égide do nacionalismo. ( ) Assim o governo atraiu o apoio dos trabalhadores, controlou o movimento operário para evitar a expansão das ideias de esquerda. ( ) A partir desta compreensão (questão social como caso de política) ela passa a receber tratamento novo por parte dos grupos dominantes. a. V – V – V – V. b. F – V – V – V. c. V – F – F – V. d. V – V – F – V. e. V – V – V – F. 74 3. Por muito tempo a questão social foi tratada como caso de polícia, podiam-se ver os pobres no início da República sendo presos porque eram pobres. Assinale as alternativas que correspondem a esta afirmação, analisando as sentenças e marcando Verdadeiro ou Falso: ( ) O Estado não tinha nenhuma responsabilidade com eles, limitava-se a trans- ferir para a iniciativa privada o atendimento dessa demanda. ( ) Os programas que atendiam a população pobre trabalhavam nas perspecti- vas de adestrá-los, torná-los mais dóceis, mais resignados com aquilo que a so- ciedade lhes oferecia. ( ) Todo comportamento reivindicatório do pobre era considerado uma contra- venção e ele era preso. ( ) Ser pobre era uma contravenção, seu comportamento era considerado um comportamento fora dos padrões da normalidade. a. V – V – V – V. b. F – V – V –V. c. V – F – F –V. d. V – V – F – V. e. F – F – F – V. 4. Quando falamos que os pobres, no início da República, eram presos porque eram pobres e que ser pobre era uma contravenção, uma disfunção social ou que representava uma ameaça à classe dominante devendo ter a intervenção repressiva pelo aparelho do Estado (polícia civil, militar etc.), garantia de segu- rança a burguesia, estamos falando de uma época no Brasil em que a Questão Social era considerada: a. Caso de polícia. b. Caso de política. c. Caso de igreja. d. Caso de poligamia. e. Caso de governo federal. 75 5. Ao estudarmos a questão social no Brasil e como o mesmo foi sendo compreen- dido e enfrentado pelo governo, assinale, qual foi o primeiro presidente brasilei- ro a tratar a questão social como caso de política foi. a. Fernando Collor de Mello. b. Fernando Henrique Cardoso. c. Dilma Rousseff. d. Castello Branco. e. Getúlio Vargas. 76 NOVO CONTRATUALISMO E DIREITOS SOCIAIS – RELAÇÃO COM A EXCLUSÃO SO- CIAL Hoje, quando se discute no plano filosófico e acadêmico ou no plano operacional, con- creto, a igualdade tem cada vez mais sido vinculada aos direitos, alçando um plano político que vem se erigindo desde a Grécia antiga. Os gregos, dentro de sua tradição democrática, instituíram três direitos fundamentais que definem o cidadão: liberdade, igualdade e participação no poder. A compreensão e o conteúdo destes três direitos não têm a mesma significação em diferentes tempos, sendo seu conteúdo determinado pela forma de organização da produção e reprodução da vida social e da qual decorre a própria instituição do Estado moderno e suas transformações. Se para Aristóteles a noção de igualdade significava igualar os desiguais tanto pela re- distribuição da riqueza social quanto pela participação no governo, para Locke (1993) a igualdade seria um direito natural, entre homens livre e o trabalho, origem e funda- mento da propriedade privada. Marx apud Losurdo (1998) afirmará que a igualdade só se torna direito concreto quando forem eliminadas as diferenças de exploração e dado a cada um segundo suas necessidades e seu trabalho. A trajetória dos direitos, desde sua gênese, em sociedades distintas, inclui o aspecto das relações de poder e da divisão de classe. Tais pressupostos, já consolidados pelo libe- ralismo no final do século XVII, definem as próprias funções do Estado e sua separação da sociedade civil. Caberia ao Estado alertar e regular os conflitos por meio das leis e da força, não tendo interferência na sociedade civil, a qual regula o conjunto de relações econômicas e sociais. Assim: “[...] o centro da sociedade civil é apropriedade privada, que diferencia indivíduos, grupos e classes sociais, e o centro do Estado é a garantia desta propriedade, sem, contudo, mesclar política e sociedade” (CHAUÍ, 1999, p. 405). No pensamento liberal, portanto, são fortalecidas a diferença e a distância entre Estado e sociedade. A noção de democracia apresenta-se, assim, apenas do ponto de vista formal e relati- vo, mas não igualitário. Nesta matriz, somente o proprietário pode aspirar à cidadania, residindo nisto seu caráter excludente em que a cidadania não transcende o universo das classes detentoras dos meios de produção (ainda que os princípios do pensamento liberal burguês dos séculos XVIII e XIX não tivessem perdido seu valor, a inserção das massas na arena política ampliou a noção de democracia e, com isso, a possibilidadede instituição de novos direitos e a efetiva realização de alguns direitos até então formais). Tais princípios, ainda que ampliados, marcam a Declaração Universal dos Direitos do Ho- mem e do Cidadão (Simionatto; Nogueira, 1999). A Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão é, segundo Hobsbawm (1982, p. 77-80) “[...] um manifesto contra a sociedade hierárquica, de privilégios nobres, mas não um manifesto a favor de uma sociedade democrática e igualitária”. Para o autor, ainda que o primeiro artigo da Declaração indique que “[...] os homens nascem e vivem iguais perante as leis [...]” observa-se a existência de distinções no “[...] terreno da utili- 77 dade comum [...]” uma vez que esta se relaciona à própria proposta instituída como “[...] direito natural, sagrado, inalienável e inviolável”. Hoje se reconhece que há o esgotamento de padrões de sociabilidade tradicionais, emergindo uma pluralidade intensa de interesses e demandas, em grande parte an- tagônicas e diferenciadas. Na mesma tendência o papel do Estado-nação vem-se re- modelando, ficando cada vez mais difícil manter os seus mecanismos reguladores das relações e ordenamento social, o que causa profundos desgastes no tecido social, com o esgarçamento contínuo dos direitos sociais. No que se refere ao Estado, as mudanças que vêm sendo processadas em nível mundial se traduzem em alterações jurídico-formais nas mais diferentes áreas, reduzindo o papel estatal nos mecanismos de proteção social e alargando as fronteiras do espaço privado. Como consequência direta e objetiva da redução do espaço público há a redução de políticas sociais públicas. Outro grande desafio, na área dos direitos, é a manutenção da garantia do direito ao trabalho. Castel et al. (1997) quando analisam a significação do trabalho nas sociedades modernas, não em uma relação apenas de produção, mas como uma ponte privilegia- da de inserção na estrutura social, indicam o problema que é a desestabilização dos estáveis, aumentando os processos que alimentam a vulneralibidade social e no fim a desfiliação total. Parte da população mundial já não se enquadra nos direitos civis, fi- cando à margem dos ideais do homem com direito à vida, à propriedade, à liberdade e à igualdade. [...] As grandes diferenças sociais impedem que aqueles que estão na base da pirâmide te- nham uma vida digna e exerçam seu direito de cidadania. Então, o documento de cidadão não é o título de eleitor, mas a carteira de trabalho (COS- TA, 1996). O direito ao trabalho e ao autossustento são inerentes à condição humana. De fato, um Estado pode ter leis que garantam os direitos civis, políticos e sociais, mas, se não houver pleno emprego, o direito à cidadania de uma parcela da população está sendo violado. Mas, a cidadania das pessoas não se esgota com o emprego. Como tudo que é humano, e a cidadania o é, evolui e exige cada vez mais. Com o enfraquecimento da ação reguladora do Estado, os novos compromissos éticos e políticos assumidos pelas nações e o surgimento de novos atores sociais estão levando as sociedades a debaterem as origens das desigualdades e as formas de combatê-las. Tal preocupação se inscreve, ainda, se bem que em tempos recentes, nos formuladores da ordem política ocidental, isto é, as agências de fomento ao desenvolvimento social e financeiro. [...] Fonte: Schwartz e Nogueira (2000, on-line, p.108-111)6. MATERIAL COMPLEMENTAR Expressões da Pobreza no Brasil Safi ra Bezerra Amman Editora: Cortez Sinopse: Em razão do acentuado destaque obtido pelo gênero feminino na pesquisa de campo, maioria dentre provedores dos lares e respondentes dos questionários, a autora antes de escrever este livro, tomou a decisão de realizar uma série de entrevistas com mulheres provenientes dos bairros pesquisados. A eleição destas seguiu aproximadamente os critérios de amostragem da pesquisa global. Dentre as aludidas entrevistas, a autora selecionou duas para constar deste texto, por retratarem de maneira mais viva e, contundente, a problemática das classes trabalhadoras e por representarem lições de autenticidade, de coragem e de clamor por justiça social. Apresentação: Ao estudarmos a questão social no Brasil e os enfrentamentos acerca das problemáticas sociais, devemos também compreender do contexto político em que o país passava, isto também diz respeito as leis, para isto sugerimos a leitura deste breve texto que fala das Cartas Magnas que já existiram e como se con� guravam desde 1924 até 1988. Disponível em: <www.vestibular1.com.br/revisao/constituicoes_1824_1988.doc>. REFERÊNCIAS 79 ARCOVERDE, A. C. B. Questão social no Brasil e serviço social. In: Capacitação em Serviço Social e Política Social, Reprodução social, trabalho e Serviço Social. UnB, Centro de Educação Aberta, Continuada a Distância, módulo 2, 1999, p. 75-85. CASTELO BRANCO, R. A “questão social” na origem do capitalismo: pauperismo e luta operária na teoria social de Marx e Engels. 2006. 164f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social). Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Escola de Serviço Social, Rio de Janeiro, 2006. CERQUEIRA FILHO, G. A. 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O assistente social a todo instante trabalha com informações que chegam de diferentes formas e fontes, o que fazer com elas e de que forma fazer é que vai imprimir ao profissional um grau de habilidade e competência que lhe garantirá respaldo e reconhecimento. Ao acrescentarmos alguns conceitos e definições do que venha a ser a questão social e a nova questão social, estaremos participando de um processo de busca e, também, de análise, pois quando nos propomos a fazer esta leitura, devemos ter claro que a intenção não é apenas assimilar conceitos para posteriormente reproduzi-lo tal a qual lemos, como papagaios. A ideia é somar elementos que contribuam para a construção de um sólido referencial teórico profissional. Proporcionar a você subsídios para possa discutir com propriedade sobre o tema proposto, contudo não pense que esgotaremos o assunto aqui, muito pelo contrário, o conteúdo é tão amplo e tão complexo que necessitamos de muito mais pesquisas, nosso papel será o de mediador do conhecimento e fomenta- dor pela busca do saber mais. O assistente social que não lê, não sabe argumentar, pode até ter boa fala, dicção e ter bom papo, mas quando questionado, inquirido, perceberá um profis- sional vazio de conteúdo e entendimento do que o serviço social venha a tratar. Esta disciplina trata do cerne da profissão, não digo a você que ela é a prin- cipal ou mais importante, mas ela servirá de eixo para o entendimento de todas as outras disciplinas, como você pode perceber ela trata de elementos presentes na sociologia, na ciência política, antropologia, psicologia, filosofia, entre outros, basta observar os autores e reflexões presentes. Boa leitura! Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 85 CONCEITUANDO A QUESTÃO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E86 REFLEXÕES RECENTES Sendo assim, vamos continuar os estudos, ok? Depois deste breve passeio pela história, vamos aprofundando nosso conhe- cimento e exercitando nossa mente para as problemáticas mais recentes. Na década 90, século XX, o país vivenciou: [...] uma “nova” conjuntura nacional: o processo de retirada do Esta- do como agente empresarial frente à questão social e à descentraliza- ção na operacionalização das políticas sociais. Neste cenário, mudam, também, as relações de trabalho, onde a precarização e a flexibilização aparecem como elementos norteadores dessas relações. O serviço so- cial é permeado por tais determinações; efeitos da Reforma do Estado são materializados na redução dos concursos públicos, demissão de funcionários não estáveis, contenção salarial, corrida a aposentadoria, perda dos direitos (PROAC/COSEAC, on-line)1. Ora, esse processo não acon- tece sem deixar consequências nefastas para os trabalhado- res assalariados (emprego) e não assalariados. Em nome da flexibilidade, expulsa os incapazes de adaptação às regras do jogo e impõe a subcontratação de parte das tarefas por fora da empresa, sob condições mais precárias, menos protegidas e com proteção social e dos direitos que já tinham sido con- quistados e legislados. A desestabilização do trabalho assalariado reproduz-se em profundidade noutras formas de trabalho e ocupação, generalizando a sua precarização e vulnerabilidade. © sh ut te rs to ck Reflexões Recentes Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 87 A instabilidade do emprego por contrato de tempo determinado, temporário, interino ou parcial, alimenta o desemprego, deixando as pessoas mais frágeis e em uma condição ainda mais vulnerável. Na sociedade brasileira, todas as categorias sociais são atingidas, sendo os trabalhadores menos qualificados os que mais sofrem. Mas os trabalhadores qualificados não escapam das perturbações produzidas pelas transformações no mundo do trabalho. Trabalhadores qualificados sendo demitidos por vários motivos, por exemplo: crise na empresa, término do contrato de trabalho tempo- rário, baixos salários e desadaptação à função. A desregulamentação do trabalho e a inexistência de proteção social predominam nas relações de trabalho; o traba- lhador qualificado só consegue permanecer no emprego no máximo três anos. Os desempregados temporários ou estruturais enfrentam outras exclusões: fragilização ou extinção dos laços e vínculos de amizade e solidariedade com os colegas de trabalho. Na família, emergem os conflitos e isolamento provocando a perda da autoestima e da afetividade. O Brasil possui uma das mais elevadas taxas de concentração de renda, ri- queza e propriedade do mundo. A acumulação e a ostentação de riqueza por uma minoria que convivem com cenários extremamente pobres que revelam as péssimas condições de vida e de trabalho de imensa parcela da população, e deixam nua nossa gritante desigualdade: os 10% mais pobres ficam com apenas 1,1% da renda do trabalho, enquanto os 10% mais ricos fi- cam com 44,7%. É inaceitável que o país que se situa entre as 10 nações mais “ricas” do mundo mantenha uma estrutura econômica e social em que 13% da renda do trabalho se concentram nas mãos de apenas 1% da população. O enfrentamento e a ruptura com essa desigualdade estrutural, reiterada e banalizada, só é possível com a superação da condição que produz essa desigualdade: a apropriação privada da riqueza socialmente produzida. Por isso, defendemos a universalização dos direitos como mediação na luta pela socialização da riqueza e superação da desigualdade. Fonte: CFESS (2009, on-line)2. CONCEITUANDO A QUESTÃO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E88 Segundo Castel (1998), o processo de cristalização da questão social é expressa por meio da: 1. Desestabilização dos estáveis. 2. Instalação da precariedade dos mais jovens que alternam períodos de ati- vidades, de desemprego, trabalho temporário e ajuda social. 3. Deformação dos sobrantes, nova categoria social constituídas pelos que não têm vê, nem lugar na sociedade. São chamados inúteis, a produção mais degradada que a conjuntura econômica e social já fabricou. A questão social se manifesta tanto no mundo rural como no urbano, envol- vendo homens, mulheres e crianças. No campo, aparecem envolta na questão agrária intocável e na dominação oligárquica patrimonialista integrada à moder- nização conservadora da atualidade, cujas externalidades são os sem terra, os sem emprego fixo, a priorização de mercados externos, a sazonalidade das ati- vidades e a migração. A luta pela terra expressa bem a problemática que vem sendo explicitada pelas reivindicações de melhoria das condições de trabalho, financiamento etc., por parte dos setores sociais atingidos. As pressões por políticas agrárias e agrícolas não têm sido o suficientemente fortes para atacar a raiz do problema que, ao contrário do sendo comum, vem sendo alimentado pelas políticas de caráter paliativo e assistencialista e pela ine- xistência da vontade política. Sobrantes - inúteis: categoria social nova, constituída na sociedade salarialpelas pessoas e/ou grupos humanos que foram tornados supranuméricos em relação às competências econômica e social. Trata-se de pessoas nor- mais, mas que foram tornadas inúteis, desestabilizadas, instaladas em uma situação de precariedade geral caracterizada por déficit de lugar no mundo do trabalho e da sociabilidade. Fonte: Arcoverde (1999, p. 81). ©shutterstock Reflexões Recentes Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 89 Na cidade, além da desmercantilização da força de trabalho e seus efeitos ainda colaboram as formas autoritárias de sua gestão que aceleram e adiantam com base em receituários, uma realidade assustadora: a dos sem teto e sem identidade. Constituem, ainda, manifestações da questão social embutida ou não nas pressões já indicadas, as problemáticas indígena, racial e da mulher. Embora explicitamente reconhecidas, a exploração, violência e injus- tiças cometidas contra índios, negros e, sobretudo, mulheres de todas as classes sociais, permanecem insuficientemente problematizadas e enfrentadas pelos setores concernentes, uma vez que as formas de resistências e lutas limitam-se ao plano da reivindicação de direitos, mantendo os sujeitos atingidos excluídos das tomadas de decisões e da elaboração das leis (ARCOVERDE, 1999, p. 82). Merece, ainda, salientar a explo- ração do trabalho infantil e da violência por e contra crianças e adolescentes, que não somente expressam realidades do coti- diano da sociedade brasileira, com as quais os profissionais se defrontam, mas indicam toda a gravidade que assume uma das facetas da questão social produ- zida e reproduzida socialmente. Isso não parece ser muito diferente em outros contextos sociais de miséria e conflitos. Assistencialista: ação assistencial que não se funda no reconhecimento do direito social de seus usuários, mas no paternalismo e no clientelismo. CONCEITUANDO A QUESTÃO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E90 A questão social hoje constitui em um desafio para as sociedades atuais, uma vez que esta é reproduzida pela mundialização da economia e pelo retorno for- çado do mercado autorregulado. A questão social brasileira se ainda se apresenta de maneira bem preocu- pante devido a sua gravidade, visto que sua intensidade no atingimento não se dá de maneira setorial, mas de maneira geral (todos os setores e classes sociais são atingidos de alguma maneira). Tomando como matriz de análise da questão social a relação salarial, Castel (1997) aponta para a dificuldade que as sociedades em geral, e a brasileira em particular, enfrentam para realizar a coesão social. Esse desafio põe em xeque a capacidade de a sociedade existir como um todo, sem fraturas, comum con- junto articulado por relações de interdependência. A ameaça à coesão social, portanto, aparece e reaparece historicamente no pauperismo do século XIX, no operariado e pobreza do século XX, nos excluí- dos do século XXI. A expressão ‘questão social’ surgiu na Europa Ocidental, na terceira metade do século XIX, para designar o fenômeno do pauperismo. Paulo Netto (2001) afirma que, pela primeira vez, a pobreza crescia na proporção em que aumentava a capacidade produtiva do capitalismo. ©shutterstock Reflexões Recentes Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 91 Para Alves (2005, p. 33, on-line)4: O desemprego, expressão concreta da crise do projeto societário bur- guês de produção de mercadorias, tem relação direta nas esferas primá- ria, secundária e terciária, ganhando ênfase, dentro do setor terciário nas últimas décadas, o desenvolvimento dos capitalistas voltados para a lucratividade via financeirização. Estes determinantes demarcam, ao mesmo tempo, o grau de sociabilidade em construção na esfera da re- produção social. É sob este patamar estruturado que o capital responde à crise estrutural em processo. A questão social tem em seu núcleo orgânico e principais manifestações da questão social brasileira: o empobrecimento, a exclusão, desigualdade e injustiça social, estas são frutos das contradições inerentes ao sistema capitalista. Porém não podem em si mesmas ser tomadas como questão social, pois elas se tornam Os pobres passavam a protestar e a se constituir como uma real ameaça às instituições sociais existentes. Nesse período, a pobreza passou a se cons- tituir como um problema. Pela primeira vez, a naturalização da miséria foi politicamente contestada (PEREIRA, 2004) e o processo de urbanização, so- mado com a industrialização, culminou na combinação dos seguintes deter- minantes indissociáveis: a) O empobrecimento agudo da classe trabalhadora. b) A consciência desta classe de sua condição de exploração. c) A luta desencadeada por esta classe contra os seus opressores a partir dessa consciência. Podemos, assim, vincular o surgimento da questão social com o surgimento da classe trabalhadora e identificá-la no momento em que a contradição fundamental do capitalismo, como modo de produção social, desenvol- ve-se e se revela, ou seja, quando se evidencia que, no capitalismo, quem produz a riqueza não a possui e ainda, que não há espaço para todos no mercado. Nesses termos, ‘sociedade capitalista é nada mais, nada menos que o terreno da reprodução contínua e ampliada da questão social’ (MOTA, 2000, p. 1). Fonte: Heidrich (2006, on-line)3. CONCEITUANDO A QUESTÃO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E92 questão social a partir do momento em que são reconhecidas, percebidas, tor- nadas conscientes e assumidas por um dos setores da sociedade, com o objetivo de enfrentá-las, torná-las públicas de transformá-las em demanda política. As principais manifestações da questão social – a pauperização, a ex- clusão, as desigualdades sociais – são decorrências das contradições inerentes ao sistema capitalista, cujos traços particulares vão depender das características históricas da formação econômica e política de cada país e/ou região. Diferentes estágios capitalistas produzem distintas expressões da questão social (PASTORINI, 2004, p. 97, grifo nosso). Contudo, é importante que tenhamos em mente o que afirma Telles (1996, p. 85) [...] não basta reconhecê-la enquanto realidade bruta da pobreza e da miséria é preciso ser problematizada em seus dilemas, mas no cenário da crise do nosso Estado de bem-estar, da justiça social, do papel do estado e do sentido da responsabilidade pública. Mesmo porque a reestruturação flexível da produção que se experimenta vem produzindo novas fraturas e diferenciações que esvaziam a perspectiva da uni- versalidade dos direitos, defendida e declarada constitucionalmente em 1988. De certa forma está se tornando explícito que hoje a questão social está cen- trada nas extremas desigualdades sociais e injustiças de todo tipo, nos con- teúdos e formas assimétricas das relações sociais em suas múltiplas dimen- sões (das relações internas em uma dada sociedade e das relações entre as sociedades). Como determinantes fundamentais dessa nova questão social podemos apontar os modos de produção e reprodução social, os modelos dominantes de regulação das relações econômicas, a formação social-histó- rica da sociedade. Por força das profundas mudanças que estão acontecendo no mundo do trabalho, nos processos produtivos, na gestão do Estado, nas políticas so- ciais e pelo acirramento de conflitos oriundos de problemasétnicos, regio- nais e de relações internacionais, a questão social adquire dimensões glo- bais. Essas novas dimensões, entretanto, não diminuem a importância dos problemas internos de cada sociedade. Fonte: Nascimento (on-line)5. Questão Social e Nova Questão Social - Reflexões e Conceitos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 93 QUESTÃO SOCIAL E NOVA QUESTÃO SOCIAL - REFLEXÕES E CONCEITOS Estamos ao longo do texto citando constantemente o termo: questão social, mas, teórica e, cientificamente, o que este conceito significa? Pois, sabemos que ao conceituarmos algo, estamos sistematizando-o de forma que adotemos um critério para o seu entendimento, porém um conceito pode sofrer alterações ou sofrer interpretações diferenciadas, uma vez que os estudiosos, pesquisadores, cientistas à medida que realizam suas análises vão formando opiniões que não são comuns a todos, mas tudo isto parte de um ponto inicial. A expressão ‘questão social’ começou a ser utilizada na terceira déca- da do século XIX, mais especificamente em 1830, constituindo-se em torno das grandes transformações econômicas, sociais e políticas ocor- ridas na Europa ocidental e desencadeadas pelo processo de industri- lização. Historicamente, essa expressão foi produzida sob o ponto de vista do poder, compreendida como ameaça que a luta de classes sociais – em particular, a classe proletária – representava à ordem política e moral instituída (CASTEL,1998) essa tomada de consciência foi des- pertada pela constatação da separação existente entre o crescimento econômico e o surgimento do pauperismo, de um lado, e entre uma ‘ordem jurídico-política, fundada sobre o reconhecimento dos direi- tos dos cidadão e uma ordem econômica’ (p.30) negadora de desses direitos, por outro lado. Esse hiato permitiu que o social assumisse pela primeira vez um lugar entre o sistema econômico e a ordem política, indicando a necessidade de se instituir um sistema de regulações não mercantis. Nesse contexto histórico, o social que qualifica a questão social torna-se o ‘lugar que as franjas mais dessocilizadas dos trabalha- dores podem ocupar na sociedade industrial’ (p.31) e em resposta a ela, busca-se a sua integração social (DIAS, 2006 p. 30). Estas diversas contribuições possibilitam a você que está em seu processo de formação profissional, a oportunidade de ter um olhar mais ampliado de todo o conteúdo necessário para a formação de um profissional, e isto, continuará acontecendo ao longo do curso, bem como após da sua graduação, terá conti- nuidade na pós-graduação, mestrado, doutorado etc. Sendo assim, é importante que ao se tornar íntimo dos conceitos apresen- tados, você entenda todos os elementos que estão embutidos no mesmo, o que cada palavra significa e inseri-lo em um contexto maior, que transcende a simples CONCEITUANDO A QUESTÃO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E94 definição. E ainda, é a partir destes que vamos entendendo o mundo que nos cerca, e que cerca os usuários da profissão, além de contribuir para a constru- ção de nosso referencial teórico e visão de homem e de mundo. Após as unidades estudadas, partimos de um pressuposto claro e evidente para a compreensão da existência da questão social: esta parte do princípio das expressões do cotidiano da vida social (esse cotidiano não diz respeito somente a realidade do usuário, ou daquele mais pauperizado, fala da vida de todo e qualquer ser humano, inserido em uma determinada sociedade), oriunda da contradição entre proletariado e burguesia, que passa a exigir outra moda- lidade de intervenção, além da caridade e repressão, vista como saída para as mazelas sociais há tempos atrás. Hoje, temos diversos autores que apresentam seus conceitos e sínteses do que sejam a questão social, muitos deles ligados ao serviço social, já que a ques- tão e suas expressões/manifestações são objeto de trabalho do assistente social. Para Iamamoto (2003, p. 27), a questão social é o: [...] conjunto de expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apro- priação dos seus frutos mantem-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade (p. 27). Logo, você pode perceber que a questão social tem suas origens no fenômeno da pauperização, que resulta de todo processo desencadeado a partir da Revolução Industrial, o seu enfrentamento não é nada fácil. Desta maneira, entende-se que a questão social é tomada como um conjunto de expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e, principalmente, do seu ingresso no cenário político. Ocorrendo a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre proletariado e burguesia, o que passa a exigir outra modalidade de intervenção, além da caridade e repressão. Os trabalhadores (proletários) produzem a riqueza, os capitalistas se apropriam dela. É assim que o trabalhador não usufrui das riquezas por ele produzidas, gerando assim as desigualdades, insatisfações e diversos problemas ligados a esta situação. Questão Social e Nova Questão Social - Reflexões e Conceitos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 95 A questão social é o produto e expressão de sujeitos históricos e estru- turas que se articulam ao mesmo tempo, ou seja, a contradição entre capital e trabalho historicamente problematizado. [...] alguns autores designam questão social a naturalização e outros a problematização (PEREIRA, 2004, p. 110). É unânime entre os autores brasileiros que a transformação de situações em questão social só se efetiva quando ela é percebida, assumida e tornada cons- ciente por determinado segmento da sociedade, que busca equacioná-las por meio de políticas sociais, supondo sempre correlação de forças políticas e con- frontos de interesses opostos. Quando nos propomos a analisar a questão social, a partir da ótica neoliberal, na qual temos as políticas, vemos evidente que as desigualdades sociais (prin- cipalmente quando olhamos as políticas de assistência) e esta compreensão nos exigem o conhecimento da abrangência do campo das políticas sociais, enten- dê-las como uma ação que está inserida em um determinado modelo político, Cabe destacar que a questão social só toma características de “problema” e passa a ser enfrentada pela sociedade burguesa (principalmente através de políticas sociais) porque é publicizada, denunciada pela classe trabalhadora, ou seja, porque retrata uma resistência por parte desta classe. “Ao mesmo tempo em que a questão social é desigualdade, é também rebeldia, pois envolve sujeitos que vivenciam estas desigualdades e a ela resistem e se opõem” (IAMAMOTO, 1999, p. 28). Devido a estas características de resistên- cia e rebeldia, Iamamoto afirma ser necessário, também, para apreender a questão social, captar as múltiplas formas de pressão social, de invenção e de reinvenção da vida, construídas no cotidiano. [...] é necessário pensar a questão social sem perder de vista a processuali- dade, ou seja, “analisar a emergência política de uma questão, adentrar nos processos e mecanismos que permitem que essa problemática tome força pública, que se insira na cena política” (PASTORINI, 2004, p. 98). Fonte: Heidrich (2006, on-line)3. CONCEITUANDO A QUESTÃO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIUN I D A D E96 elaborado e proposto por um governo específico que por sua vez defende e repre- senta uma determinada ideologia e teoria social. A ‘questão social’ é uma aporia fundamental sobre a qual uma socie- dade experimenta o enigma de sua coesão e tenta conjurar o risco de sua fratura. É um desfio que interroga, põe em questão a capacidade de uma sociedade (o que, em termos políticos, chama-se uma nação) para existir como um conjunto ligado por relações de interdependên- cia. Essa questão foi explicitamente nomeada como tal, pela primeira vez, nos anos 1830. Foi então suscitada pela tomada de consciência das condições de existência das populações que, são ao mesmo tempo, os agentes e as vítimas da Revolução Industrial. É a questão do pauperis- mo (CASTEL, 1998, p. 30). Como falamos, anteriormente, a questão social está intimamente ligada às con- tradições oriundas da relação capital X trabalho, as desigualdades surgidas e intensificadas a partir da intensificação do sistema capitalista, não somente no Brasil, mas em todo mundo. Castel caracteriza a questão social por “[…] uma inquietação quanto à capa- cidade de manter a coesão de uma sociedade. A ameaça de ruptura é apre- sentada por grupos cuja existência abala a coesão do conjunto” (CASTEL, 1998, p. 41). Explicitando a composição de tais grupos, o autor esclarece que as populações que dependessem de intervenções sociais seria basicamente pelo fato de serem ou não capazes de trabalhar, sendo tratados de forma distinta em função deste critério. A análise parte da identificação a longo prazo de uma correlação profunda entre o lugar ocupado pelo indivíduo na divisão social do trabalho e a participação nas redes de sociabilidade e nos sistemas de proteção. São construídas três zonas: a) “zona de integração”, correspondente coesão social com trabalho estável e a inserção relacional sólida; b) “zona de exclusão” (desfiliação), correspondente a uma ausência de participação em qualquer atividade produtiva e isolamento relacional; c) “zona intermediária”, correspondente a uma vulnerabilidade social, que conjuga trabalho precário e fragilidade dos suportes de proximidade. Fonte: Pinheiro e Dias (2009, on-line)6. Questão Social e Nova Questão Social - Reflexões e Conceitos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 97 O serviço social se gesta e se desenvolve como profissão reconhecida na divisão social do trabalho tendo por pano de fundo o desenvolvimento capitalista industrial e a expansão urbana, processos esses aqui apreen- didos sob o ângulo das novas classes sociais emergentes – a constitui- ção e expansão do proletariado e a burguesia industrial – e das modi- ficações verificadas na composição dos grupos e frações de classes que compartilham o poder de Estado em conjunturas históricas específicas (IAMAMOTO, 1997, p. 77). Já falamos sobre o período histórico em que se afirma a hegemonia do capital industrial e financeiro, onde se justifica a questão social como base para o sur- gimento do serviço social como profissão. A seguir, podemos ver o que outros autores entendem como questão social: A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário polí- tico da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão (p.77) (CARVALHO; IAMAMOTO, 2006, p. 77). E para Telles (1996, p. 85), [...] a questão social é a aporia das sociedades modernas que põe em foco a disjunção, sempre renovada, entre a lógica do mercado e a di- nâmica societária, entre a exigência ética dos direitos e os imperativos de eficácia da economia, entre a ordem legal que promete igualdade e a realidade das desigualdades e exclusões tramada na dinâmica das relações de poder e dominação. Em que a questão social é entendida como expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e seu ingresso no cenário político. Ocorrendo a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre proletariado e burguesia, o que passa a exigir outra modalidade de intervenção, além da cari- dade e repressão (CARVALHO; IAMAMOTO, 2006). E as consequências da apropriação desigual do produto social são as mais diversas: analfabetismo, violência, desemprego, favelização, fome, analfabetismo político etc.; criando “profissões” que são frutos da mi- séria produzida pelo capital: catadores de papel; limpadores de vidro em semáforos; “avião” – vendedores de drogas; minhoqueiros – ven- dedores de minhocas para pescadores; jovens faroleiros – entregam propagandas nos semáforos; crianças provedoras da casa – cuidando CONCEITUANDO A QUESTÃO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E98 de carros ou pedindo esmolas, as crianças mantém uma irrisória renda familiar; pessoas que “alugam” bebês para pedir esmolas; sacoleiros – vivem da venda de mercadorias contrabandeadas; vendedores ambu- lantes de frutas etc. Além de criar uma imensa massa populacional que frequenta igrejas, as mais diversas, na tentativa de sair da miserabilida- de em que se encontram (MACHADO, 1999, p. 43, on-line,)7. Entrando em cena o Estado como interventor direto na relação proletariado X burguesia, estabelecendo regulamentação jurídica (legislação social e trabalhista) e gerindo a organização e prestação dos serviços sociais, como uma forma de enfrentamento da questão social. Para Machado (1999, p. 42, on-line)7: “a con- cepção de questão social está enraizada na contradição capital x trabalho, em outros termos, é uma categoria que tem sua especificidade definida no âmbito do modo capitalista de produção”. Portanto, a questão social é uma categoria que expressa a contradição funda- mental do modo capitalista de produção. Contradição, esta, fundada na produção e apropriação da riqueza gerada socialmente: os trabalhadores produzem a riqueza, os capitalistas se apropriam dela. É assim que o trabalhador não usu- frui das riquezas por ele produzidas. A questão social representa uma perspectiva de análise da sociedade. Isto porque não há consenso de pensamento no fundamento básico que constitui a questão social. Em outros termos, nem todos analisam que existe uma contradição entre capital e trabalho. Ao utilizarmos, na análise da sociedade, a categoria questão social, estamos realizando uma análise na perspectiva da situação em que se encontra a maioria da população– aquela que só tem na venda de sua força de trabalho os meios para garantir sua sobrevivência. É ressaltar as diferenças entre trabalhadores e capitalistas, no acesso a direitos, nas condições de vida; é analisar as desigualdades e buscar forma de superá-las. É entender as causas das desigualdades, e o que essas desigualdades produzem, na sociedade e na subjetividade dos homens (MACHADO, 1999, p. 42-43, on-line,)7. Nascida na confluência ou divergência do trabalho e do capital, a questão social, enquanto expressão das desigualdades da sociedade capitalista brasileira mani- festa-se, é reconhecida e problematizada, mas nem sempre enfrentada. Nascido igualmente no cenário das bases da produção capitalista que produz e reproduz a questão social, o serviço social, mediante os seus profissionais trabalham-na, ©sh utt ers toc k Questão Social e Nova Questão Social - Refl exões e Conceitos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P enal e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 99 seja junto aos indivíduos que a experimentam no trabalho, na família, na saúde, no acesso aos ser- viços públicos ou nas formas de sociabilidade. Os sujeitos que a vivenciam, a ela se opõe e resistem. Essa tensão da produção e de sua resistência é o terreno fértil sobre o qual se move o assis- tente social. Percebemos com a explicitação de alguns autores que a questão social em sua essência é a mesma, porém as for- mas como elas se apresentam variam de acordo com a realidade de cada sociedade, por exemplo, a questão da habitação assume particularidades em cada país, variam em número, gravidade e intensidade, bem como variam as formas de enfrentamento. Assim, acontece com a fome, as problemáticas da criança e adolescente. As suas origens são as mesmas, mas a sua expressão podem ser diferentes, aqui no Brasil, podemos ter problemas relacionados à evasão escolar e nos Estados Unidos problemas maiores com a pedofi lia, não podemos descartar a possibilidade destes e de outros problemas estarem relacionados, ou acontecerem simultaneamente, exigindo de cada sociedade medidas específi cas para sua solução. Assim como na essência, as problemáticas são as mesmas, elas vão assumindo novas formas com o passar dos tempos, a isto chamamos de nova questão social. Esta renovação, que a todo o momento questiona as consequências das relações do capital e trabalho. Assim, também, temos alguns autores que buscam sinte- tizar e expor seus pontos de vista acerca da nova questão social, a seguir, você poderá visualizar alguns conceitos. Para Santos e Costa (2006, p. 10, on-line)8 a nova questão social: Nada mais é que novas formas de expressão para um fenômeno cuja es- sência permanece a mesma, dado que se mantêm os mecanismos fun- damentais às leis da acumulação capitalista, gerando simultaneamente a riqueza de poucos e a miséria de muitos. CONCEITUANDO A QUESTÃO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E100 As metamorfoses pelas quais a questão social passa são fruto das transfor- mações históricas. Entretanto, apesar das transformações, Castel chama atenção para o fato de que os membros das “zonas” ocupam posições ho- mólogas na estrutura social ao longo do tempo. Os processos que produ- zem essas situações são comparáveis, ou seja homólogos na dinâmica dife- rindo nas manifestações, sendo que a história não é linear. Fonte: Pinheiro e Dias (2009, on-line)6. Desta maneira, pense comigo, e se as formas dos problemas se apresentarem na atualidade, devemos, da mesma maneira, buscar novas formas de enfrenta- mento, olhar a realidade de um novo ponto de vista. Uma vez que a realidade segue em um processo histórico que se altera naturalmente de acordo com as ações humanas, o que seria uma boa saída há 30 anos, hoje pode não ser mais. Isto implica em uma analise estrutural. Paulo Netto (2001) diz em seus escritos que os diferentes estágios do desenvolvimento capitalistas produzem diferentes manifestações da questão social. Veja o que diz a autora acerca da nova questão social: “Renovação da velha questão social sob outras roupagens e novas condições sócio-históricas de sua produção/reprodução” (IAMAMOTO, 2001, p. 28). Cabe enfatizar que: [...] “distintas expressões da questão social” não se configuram como “outra” ou como “nova” questão social. A nosso ver não existe uma nova questão social, nem mesmo uma nova desigualdade social, gerada pela exclusão. O que existe são “novas formas para velhos conteúdos” (MOTA, 2000, p. 02), ou seja, a questão social, hoje, diante das trans- formações pelas quais o capitalismo e a sociedade vêm passando, se apresenta multifacetada, reconfigurada, mas trazendo, em seu bojo, a mesma problemática da exploração de uma classe social sobre a outra (HEIDRICH, 2006, p. 8, on-line)3. Questão Social e Nova Questão Social - Reflexões e Conceitos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 101 Após a leitura e reflexão acerca dos conceitos explicitados se faz necessário citar que nós não vemos a questão social, vemos suas expressões: o desemprego, o analfabetismo, a fome, a favela, a falta de leitos em hospitais, a violência, a ina- dimplência, as problemáticas indígenas, raciais e da mulher, a exploração, a violência, a exploração do trabalho infantil e da violência por e contra crianças e adolescentes, meio ambiente. Assim é que, a questão social só se nos apresenta nas suas ob- jetivações, em concretos que sintetizam as determinações prio- ritárias do capital sobre o trabalho, onde o objetivo é acumular capital e não garantir condições de vida para toda a população (MACHADO, 1999, on-line, p. 43, on-line)7. E assim saiba você que Serviço Social hoje se insere em um cenário de novas bases de produção da questão social, cujas múltiplas expressões são objeto do trabalho cotidiano do assistente social. Ponto que veremos a seguir. Nova Questão Social: categoria renovada pelos disfuncionamentos da so- ciedade industrial de massa indicando uma inadequação dos antigos méto- dos de gestão social. A crise financeira, ideológica e filosófica do Estado-Pro- vidência mudou de natureza depois dos anos 90. O disfuncionamento social aliado ao problema do financiamento questionam os princípios organiza- cionais da solidariedade e da concepção dos direitos sociais produzindo um quadro insatisfatório para pensar a situação dos excluídos e/ou desfiliados. Fonte: Arcoverde (1999, p. 81). CONCEITUANDO A QUESTÃO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E102 REFLETINDO SOBRE O OBJETO DE SERVIÇO SOCIAL O objetivo deste ponto é levantar alguns elementos que possibilitem clarificar a questão do objeto do serviço social e aquela pergunta básica: Com o quê traba- lha o assistente social mesmo? E falar da especificidade da nossa profissão não é assim tão fácil, é sempre um desafio. De modo geral, o objeto é elemento que existe independentemente do sujeito e que é dado a conhecer em um determinado momento. Ainda pode ser aquilo que uma disciplina estuda e transforma por meio de sua ação. O sujeito só age, constrói ou transforma em função de um determinado interesse. Há uma rela- ção entre sujeito e objeto e a partir dela se define os processos de conhecimento e intervenção na realidade. Na realidade social, enfrentamos determinados problemas, deparamo-nos com certos fenômenos que exigem do profissional de Serviço Social reflexão e ação concreta. Quando tais problemas ou fenômenos passam do nível da per- cepção sensorial, para um nível de conceituação, problematização e busca de soluções se transforma em objeto da ação profissional. Portanto, é necessário esclarecer que o objeto da profissão está dado na rea- lidade, porém se torna foco de sua atenção na medida em que um conjunto complexo de elementos teóricos, metodológicos, valorativos e intencionais pos- sibilitam a sua reconstrução. Refletindo Sobre o Objeto de Serviço Social Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 103 Identificar o objeto de intervenção profissional em um determinado con- texto exige um esforço de tradução conceitual do real e, sendo assim, é fruto de procedimentos metódicos que permitem definir a complexidade e essenciali- dade do fenômeno. Buscando esclarecimentos sobre esta questão é importante resgatar da obra “Objetoe Especificidade do Serviço Social” de Josefa Batista Lopes, alguns fun- damentos. Para a autora, “[...] um fenômeno social só se torna objeto quando é problematizado pelos sujeitos que propõem uma relação com ele, sempre suge- rindo uma perspectiva determinada” (LOPES, 1980, p. 55). O serviço social estabelece relações com o “objeto” na medida em que “pre- tende” produzir conhecimento e/ou intervenção sobre eles, mas o que caracteriza essencialmente essas relações é o “interesse” de intervenção que, no entanto, para ser responsável e comprometida exige um “conhecimento” adequado desses fenô- menos, o que só é possível mediante um “processo de construção”. Portanto, é preciso que se tenha consciência de que todo objeto propriamente científico é metodicamente construído. Portanto, a construção do objeto é comandada pelo conhecimento e condi- cionado pela realidade, ou seja, a construção do objeto dá-se por meio do método e a partir de uma intenção. O objeto do Serviço Social, [...] está, intimamente, vinculado a uma visão de homem e mundo; fundamentado em uma perspectiva teórica que, no modo capitalista de produção, implica em uma opção política – a teoria norteadora da ação, a ação que reconstrói a teoria, demonstra de que lado está o Serviço Social. E, desde o Movimento de Reconceitu- ação, o Serviço Social tem construído uma ação voltada para a maioria da população. Mas esta não foi sempre sua história (MACHADO, 1999, p. 39-40, on-line)7. Neste processo, encontram-se interagindo conhecimentos teóricos, intenção, método e realidade concreta. Sendo que: 1. Referencial Teórico: são os fundamentos teóricos que participam da construção do objeto, formados por conceitos que inter-relacionados expressam formulações. Teóricas a partir das quais o sujeito propõe a compreensão do objeto. (referencial – a fim de entender o objeto) CONCEITUANDO A QUESTÃO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E104 2. A intenção: é a razão pela qual o objeto é apreendido pelo sujeito. Mais especificamente, em serviço social, define-se pelos objetivos que o assis- tente social pretende alcançar na relação que estabelece com os fenômenos, objetos de sua ação e de seu conhecimento. Para que o assistente social tenha clareza da sua intenção é necessário conhecer o contexto institu- cional aonde desenvolve o seu trabalho. 3. Método: é a parte do corpo teórico que permite estabelecer o estudo rigoroso sobre o objeto do serviço social (como se desenvolve o estudo). 4. Participação na realidade social: a teoria comanda a compreensão do objeto, porém é a realidade social que determina a existência do objeto. Por isso, é necessário que o serviço social se volte para a realidade social, no sentido de adequar o conhecimento teórico e a partir da prática con- creta reformulá-lo constantemente. De acordo com Iamamoto (2007, p. 28), Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais variadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos as experi- mentam no trabalho, na família, na área habitacional, na saúde, na as- sistência social pública etc. Questão social que, sendo desigualdade é também rebeldia, por envolver sujeitos que vivenciam e a ela se opõe. Conforme a citação, aos pouco vamos entendendo melhor o serviço social e com o que ele trabalha. Para enriquecer ainda mais nosso estudo acrescento no Saiba Mais, a contribuição da mesma autora e que com certeza trará mais luz ao seu estudo. ©shutterstock Considerações Finais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 105 CONSIDERAÇÕES FINAIS Quando nos propomos a trabalhar os conceitos de questão social, creio que você tenha achado que lá viria mais uma sucessão de ajuntamento de palavras difí- ceis, que demoram a entrar em nossa cabeça, não é mesmo? Mas você pode perceber que ao lidarmos com os conceitos da questão social, não encontramos nada mais do que elementos já existentes e em evidentes do nosso cotidiano. Apenas uma ressalva, para que não achemos tudo muito simplista, e achemos que a questão social e todas as suas expressões/manifestações nada mais é do que um problema social, eu sugiro que você aprofunde suas leituras com teóricos que tratam da questão da formação das classes sociais, capitalismo, sistemas econômicos etc., o que lidamos, nesta unidade, foram os conceitos, mas lembre de que os conceitos são sínteses de algo, e este “algo” é a essência da formação e sempre envolve elementos muito complexo, não disse difícil, mas sim com- plexo, pois o ser humano é complexo, por ser síntese de múltiplas determinações. Você pode ver nesta unidade um pouco das relações capitalistas atuais e a par- tir daí analisar a nossa realidade. Desta forma, apresentar como alguns escritores conceituam a questão social e o que os mesmo entendem por nova questão social. Visualizando que na sua essência as questões sociais permanecem as mes- mas, contudo, em se tratando de um processo histórico em constante evolução “É nesta tensão entre produção da desigualdade e produção de rebeldia e da resistência, que trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movido por interesses sociais distintos, aos quais não é possível abstrair ou fugir deles porque tecem a vida em sociedade. [...]. Apreender a questão social é também captar as múltiplas formas de pressão social, de invenção e de reinvenção da vida construídas no cotidiano, pois é no presente que estão sendo recriadas formas novas de viver, que apontam para um futuro que está sendo germinado”. FONTE: Iamamoto (2007, p. 28). CONCEITUANDO A QUESTÃO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E106 as suas expressões vão assumindo novas características. Não podemos conceber medidas de enfrentamento iguais para todos os países, da mesma maneira que as questões sociais assumem contornos diferentes no âmbito municipal e estadual, por isso, hoje, temos os processos de municipalização, que permite que sejam elaboradas medidas de enfretamento adequadas a cada realidade. Por isso, trabalhamos a partir do ponto que a construção do objeto profissio- nal deve ser comandada pelo conhecimento e condicionado pela realidade, ou seja, a construção do objeto dá-se por meio do método e a partir de uma intenção. 107 1. Quando se discute a questão social brasileira e suas variadas formas de expres- são, podemos dizer que esta tem como núcleo orgânico: a. Os partidos políticos de oposição nacional. b. O excesso de sindicatos e movimentos sociais reivindicatórios dos direitos so- ciais e civis. c. Ao trabalho infantil e prostituição somente. d. A desigualdade e a injustiça sociais ligadas à organização do trabalho e à ci- dadania. e. A vida desregrada do cidadão que mal administra seus recursos. 2. Não vemos a questão social propriamente dita, vemos sim as suas manifesta- ções ou expressões que se traduzem nos exemplos do enunciado. A questão social gera inúmeros problemas, desdobrando-se em várias problemáticas (ex- pressões ou manifestações). Sendo assim, coloque verdadeiro ou falso para as alternativas que apresentam algumas destas expressões: ( ) Desemprego e analfabetismo. ( ) Exploração e violência. ( ) Meio ambiente, inadimplência, as problemáticas indígenas, raciais e da mu- lher. ( ) Fome e favela. ( ) Falta de leitos em hospitais, a violência. ( ) Exploração do trabalho infantil e da violência por e contra crianças e ado- lescentes. a. F – V – V – V – V – F. b. V – V – V – V – V – V. c. V – V – V – V – F – V. d. V – F – V– F – V – V. e. V – V – F – V – V – V. 108 3. A partir das leituras e reflexões realizadas sobre a questão social, e como a mes- ma vem sendo entendida ao longo dos tempos, foi possível vermos as suas transformações, nos dias atuais, temos autores que já classificam-na como nova questão social. Analisando as alternativas a seguir, como podemos compre- ender esta “nova questão social”? Assinale a alternativa correta: a. As “[...] novas formas de expressão para um fenômeno cuja essência perma- nece a mesma, dado que se mantêm os mecanismos fundamentais às leis da acumulação capitalista, gerando simultaneamente a riqueza de poucos e a miséria de muitos” (SANTOS; COSTA, 2006). b. Os problemas de hoje muito embora sejam antigos requerem novas soluções, pois a realidade e a sua dinâmica é outra. c. A nova questão social seria a questão social sob outras roupagens e novas condições sócio-históricas de sua produção/reprodução. d. Os diferentes estágios do desenvolvimento capitalista produzem diferentes manifestações da questão social, assim ela se renova constantemente. e. Todas as alternativas estão corretas. 4. “Pela primeira vez, a pobreza não era resultado da escassez, mas, ao contrário, era fruto de uma sociedade que aumentava a sua capacidade de produzir rique- za.” Após a leitura da unidade e dos materiais sugeridos, do que trata essa citação? Assinale a alternativa correta: a. A citação fala sobre as contradições das relações entre capital X trabalho. b. Trata da compreensão de que uma vez que se gerava mais riqueza, esta ficava concentrada apenas nas mãos de alguns, quem atuava diretamente na pro- dução não participava da distribuição dos lucros. c. Trata do entendimento de que a partir do momento em que se gera a cres- cente desigualdade de renda, gera-se junto à pobreza. d. Trata do entendimento de que a desigualdade não se dá exclusivamente por falta de recursos econômicos no país e sim pela sua má distribuição. e. Todas as alternativas acima estão corretas. 109 5. Considere o poema “O bicho” de Manoel Bandeira, faça a leitura e analise-o. Em seguida, identifique nas questões a alternativa correta com relação ao poema, no que diz respeito ao estudo da questão social e suas diversas expressões: Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem. (Manuel Bandeira) Representa o texto descrito anteriormente: a. Nas franjas da sociedade capitalista, apesar de serem inseridas em programas sociais, as pessoas apresentam situações crônicas, e continuarão sempre de- sajustadas. b. É a expressão da questão social na atualidade, onde há igualdade de oportu- nidades que não são utilizadas por todos os indivíduos. c. Na base da estrutura social em vigor, em que prevalece a competição, é natu- ral que existam as elites e a massa de miseráveis. d. Cabe ao mercado a regulamentação e a intervenção para que a situação a seguir descrita possa ser enfrentada e resolvida. e. O cerne da questão social está no conflito entre capital e trabalho. 110 Questão Social: Objeto do Serviço Social? Iamamoto, (1997, p. 14), define o objeto do Serviço Social nos seguintes termos: Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais va- riadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos as experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na saúde, na assistência social pública etc. Questão social que sendo desigualdade é também rebeldia, por envolver sujeitos que vivenciam as desigualdades e a ela resistem, opõem-se. É nesta tensão entre produção da desigualdade e produção da rebeldia e da resistência, que trabalham os assistentes so- ciais, situados nesse terreno movido por interesses sociais distintos, aos quais não é possível abstrair ou deles fugir porque tecem a vida em so- ciedade. [...] a questão social, cujas múltiplas expressões são o objeto do trabalho cotidiano do assistente social. É indiscutível a inserção da intervenção do Serviço Social no âmbito das desigualdades sociais, ou, mais amplamente, da questão social. Entretanto, considerando a concepção de questão social, é de se perguntar se a mesma, ou suas expressões, podem se consti- tuir em objeto de uma única profissão. Estamos partindo da concepção de que o objeto é o que demonstra e coloca a especificidade profissional. Ora, entender a questão social como objeto específico do Serviço Social, das duas uma: ou se destitui a questão social de toda a abrangência conceitual, ou se retoma a uma visão do Serviço Social como o único capaz de atuar nas mudanças/transformações da sociedade. Se pensarmos na abrangência da concepção de questão social, concluiremos que as mais diversas profissões têm suas atuações determinadas por ela: o médico que aten- de problemas de saúde causados por fome, insegurança, acidentes de trabalho etc.; o engenheiro que projeta habitações a baixo custo; o advogado que atende as pessoas sem recursos para defender seus direitos; enfim, os mais diferentes profissionais que, também, atuam nas expressões da questão social. Há, ainda, outra reflexão possível: em sendo a questão social uma categoria que ex- plicita, expressa, as desigualdades geradas pelo modo de produção capitalista, ela se colocaria, também, como objeto de todos aqueles que apostam no capitalismo como a forma perfeita de produção da vida social. Assim, ela, também se expressaria nas políti- cas econômicas, sociais, culturais, traçadas em âmbito governamental, para manter as classes que vivem do trabalho subordinadas e dominadas. Ou seja, se a manifestação da desigualdade, a luta pelos direitos sociais e de cidadania, são uma expressão da questão social, não interessa as classes detentoras dos poderes políticos e econômicos que haja um acirramento da contradição, viabilizando, desta forma, espaços de organização da população. Neste sentido, a contradição capital – trabalho também é um objeto dos que buscam, na manutenção do capitalismo, a garantia de privilégios econômicos e políti- cos. 111 Segundo Faleiros (1997, p. 37): [...] a expressão questão social é tomada de forma muito genérica, em- bora seja usada para definir uma particularidade profissional. Se for en- tendida como sendo as contradições do processo de acumulação capi- talista, seria, por sua vez, contraditório colocá-la como objeto particular de uma profissão determinada, já que se refere a relações impossíveis de serem tratadas profissionalmente, por meio de estratégias institucio- nais/relacionais próprias do próprio desenvolvimento das práticas do Serviço Social. Se forem as manifestações dessas contradições o objeto profissional, é preciso também qualificá-las para não colocar em pauta toda a heterogeneidade de situações que, segundo Netto, caracteriza, justamente, o Serviço Social. Portanto, definir como objeto profissional a questão social, não estabelece a especifici- dade profissional. Podemos entender, na sugestão de Faleiros, que qualificar a questão social significa apreender o que compete ao Serviço Social no âmbito da questão social. Se falarmos, por exemplo, nas expressões sociais da questão social, estaremos, minima- mente, definindo um espaço de atuação profissional. Há que se ressaltar que, para Faleiros, 1997 entretanto, o objeto do Serviço Social se define pelo empowerment: A questão do objeto profissional deve ser inserida num quadro teórico- -prático, não pode ser entendida de forma isolada. Penso que no contex- to do paradigma da correlação de forças o objeto profissional do serviço social se define como empoderamento, fortalecimento, empowerment do sujeito , individual ou coletivo,na sua relação de cidadania (civil, política, social ,incluindo políticas sociais), de identificação (contra as opressões e discriminações), e de autonomia (sobrevivência, vida so- cial, condições de trabalho e vida [...] ) (Fonte: correspondência pessoal, 15/10/1999). Não estamos defendendo, aqui, a opção por um ou outro objeto. O fundamental é re- pensarmos como o objeto de Serviço Social tem sido colocado, e como poderemos re- vê-lo para darmos objetividade à atuação profissional. Entendemos que, a cada situação, temos que reconstruir o objeto profissional. Entretan- to, ele tem determinações mais amplas, e essa reconstrução tem por finalidade, apenas, garantir, no processo de intervenção, as particularidades de cada situação, inserida no contexto específico de onde atuamos. Fonte: Machado (1999, p. 44-47, on-line)7. MATERIAL COMPLEMENTAR Serviço Social: Direitos Sociais e Competência Profi ssionais Marilda Vilela Iamamoto Editora: CFESS/ABEPSS Sinopse: Editado pelo CFESS e ABEPSS com apoio do CEAD/UnB, este livro reúne textos que abordam uma temática essencial ao trabalho dos(as) assistentes sociais e para a formação de estudantes de Serviço Social e, certamente, será uma referência obrigatória nos debates sobre as competências e atribuições pro� ssionais no âmbito das políticas sociais e na realização de direitos. REFERÊNCIAS 113 ARCOVERDE, A. C. B. Questão social no Brasil e serviço social. Capacitação em Ser- viço Social e Política Social, Reprodução social, trabalho e Serviço Social. Brasí- lia: UnB, Centro de Educação Aberta, Continuada a Distância, mód. 2, 1999, p. 75-85. CASTEL, R. As transformações da questão social. In: WANDERLEY, Mariângela B.; BO- GUS, Lucia; YASBECK, Maria Carmelita (Org.). Desigualdade e a questão social. São Paulo: EDUC, 1997, p.161-190. CASTEL, R. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Petrópolis: Vozes, 1998. DIAS, A. T. A “Nova” Questão Social e os Programas de Transferência de Renda no Brasil. 2006, 221 f. Dissertação (Mestrado em Política Social) - Programa de Pós- -Graduação de Política Social do departamento de Serviço Social. Universidade de Brasília (UnB), 2006. HERMANN, M. G. Political Psychology. San Francisco: Jossey-Bass, 1990. IAMAMOTO, M. V. O serviço social na contemporaneidade: dimensões históricas, te- óricas e ético-políticas. Debate CRESS–CE, Fortaleza, n. 6, 1997. _____. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 2 ed. São Paulo: Cortez. 1999. _____. A questão social no capitalismo. Revista Temporalis – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social –, Brasília: ABEPSS, ano 2, n. 3, jan./jul. 2001. _____. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. São Paulo: Cortez, 2007. IAMAMOTO O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profis- sional. São Paulo: Cortez, 2003. IAMAMOTO, M. V.; CARVALHO, R. Relações sociais e serviço social no Brasil: esbo- ço de uma interpretação histórico-metodológica. 19. ed. São Paulo: Cortez, 2006. LOPES. J. B. Objeto e Especificdade do Serviço Social. São Paulo: Cortez e Moraes, 1980. PAULO NETTO, P. Cinco notas a propósito da “questão social”. Revista Temporalis – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social, Brasília: ABEPSS, ano 2, n. 3, jan./jul. 2001 PASTORINI, A. A categoria questão social em debate. São Paulo: Cortez, 2004. PEREIRA, P. A. Perspectivas teóricas sobre a questão social no Serviço Social. Revista Temporalis – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social –, Brasí- lia: ABEPSS, ano 4, n. 7, p. 112-122, 2004. REFERÊNCIAS SANTOS, S. M. C. Humanização da Pena de Prisão: Uma possibilidade real? 2007, 112f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) - Unidade Federal de Alagoas (UFAL). Faculdade de Serviço social, Maceió, 2007. TELLES, V. da S. Questão social: afinal do que se trata? São Paulo em Perspectiva, v. 10, n. 4, p. 85-95. out./dez. 1996. REFERÊNCIA ON-LINE 1 - <http://www.coseac.uff.br/trm2000/provas/tssocial.pdf>. Acesso em: 09 mai. 2016. 2 - <http://www.cfess.org.br/arquivos/cfess_manifesta_campanha.pdf>. Acesso em: 09 mai. 2016. 3 - <http://www.redalyc.org/html/3215/321527158008/>. Acesso em: 09 mai. 2016. 4 - <http://livros01.livrosgratis.com.br/cp001995.pdf>. Acesso em: 09 mai. 2016. 5 - <http://docplayer.com.br/11672066-A-nova-questao-social.html>. Acesso em: 31 mai. 2016. 6 - <http://www.eumed.net/rev/cccss/03/fpod.htm>. Acesso em: 11 mai. 2016. 7 - <http://www.uel.br/revistas/ssrevista/n1v2.pdf>. Acesso em: 11 mai. 2016. 8 - <https://www.trabalhosgratuitos.com/Sociais-Aplicadas/Ci%C3%AAncias-So- ciais/Servi%C3%A7o-Social-290449.html>. Acesso em: 11 mai. 2016. GABARITO 115 1. D 2. B 3. E 4. E 5. E U N ID A D E IV Professora Esp. Daniela Sikorski MANIFESTAÇÕES DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA SOB O OLHAR DO SERVIÇO SOCIAL Objetivos de Aprendizagem ■ Estabelecer um processo de análise sobre as especifidades da questão social, enquanto objeto de interveção profissional. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Questão Social – Serviço Social e sua intervenção ■ O cenário atual e suas incidências na questão social INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), ao iniciarmos esta unidade de aprendizagem, retomaremos algumas questões estudadas anteriormente. Também é importante retomar seus conhecimentos acerca da História do Serviço Social, caso você precise recorra às sugestões de leitura apresentado ao final de cada unidade. Você pode me perguntar por que, e eu lhe responderei que não podemos compreender as ações e objetivos da profissão hoje sem que tenhamos claro o caminho trilhado pela profissão ao longo se sua trajetória. Sendo assim, nada de preguiça, quando sentir dúvidas, recorra a outros materiais, pesquise, inves- tigue, aprofunde-se, conto com você. Atualmente fala-se muito em globalização e sistema capitalista, neolibera- lismo, porém, se observarmos o constante crescimento da economia, veremos que esse avanço não contribuiu para amenizar ou eliminar as desigualdades e disparidades sociais presentes presente na sociedade. Vemos a crescente pobreza, ocasionada por falta de emprego, o que acaba por desencadear problemas habita- cionais, de saúde, assistência social, violência, entre outros. O avanço econômico não gerou avanço e desenvolvimento social e em alguns momentos até o agra- vou, deixando muitos indivíduos à mercê da própria sorte. Bem, nossa proposta agora é analisar o trabalho do assistente social frente às manifestações das questões sociais, esse assunto dá margem para muitas reflexões, pois, como a profissão possui um amplo leque de atuação, podemos estabelecer discussões riquíssimas. Cabe também a reflexão acerca do contexto político e a sua relação com o enfrentamento das questões sociais neste meio da atuação profissional. Não se pode mediar aquilo e aquele a quem não se conhece, dessa maneira, é de suma importância estar antenado à realidade na qual se está inserido. PENSAR É SABER RELACIONAR AS IDEIAS. Então, pense, pense muito durante estas atividades. Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 119 MANIFESTAÇÕES DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA SOB O OLHAR DO SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E120 QUESTÃO SOCIAL – SERVIÇO SOCIAL E SUA INTERVENÇÃO Neste início, faz-se necessário refrescar a memória dizendo que, no Brasil, no início do Século XX, a questão social resumia-se a “questãoda moral” (ligada à religião; a higiene) ao comportamento dos indivíduos e a ordem. As ações do profissional de serviço social eram focalizadas no indivíduo, e esse era o principal responsável pelos seus problemas, a ele eram atribuídas as suas necessidades e problemas, era considerado um fracassado social, como inca- paz de gerir sua própria vida. A análise da conjuntura realizada pelo profissional de serviço social se limitava ao mundo de cada pessoa que estava sendo aten- dida, com o objetivo de melhorar seus comportamentos e suas condições, para que voltasse a se ajustar à sociedade, pois até então ele era um desajustado social. A extração de classes dos profissionais somada à ideologia religiosa confor- mava um perfil de assistente social que desconsiderava as condições concretas de vida do proletariado. A neutralidade sempre inexistiu no meio profissional, pois era bastante claro o conteúdo político que atravessava a prática desenvol- vida. Ocorria um processo de “culpabilização” do proletário por sua situação: ele era considerado portador de uma “ignorância natural”, baixo nível cultural, fraca formação moral, insuficiente em recursos econômicos, enfim, era presa fácil da “fanfarra subversiva”. ©shutterstock Questão Social – Serviço Social e Sua Intervenção Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 121 O discurso caracterizava-se por ser doutrinário e moralista, ou seja, os pro- fissionais assumiam outra postura de conhecimento e decisão sobre o que era melhor para o outro; o julgamento moral tem por base o esquecimento das bases materiais das relações sociais. Na década de 70, na sociedade brasileira, tornou-se comum encontrar refe- rência a uma questão social caracterizada por uma série de novos problemas, novas formas de pobreza, nova exclusão social ou antigos problemas superdi- mensionados, por exemplo, aumento do desemprego e vulnerabilidade social. Assim a visão do serviço social em relação à questão social começa a deslocar- -se da “moral”, para a observação/estudo/pesquisa do coletivo. Começa-se lenta- mente a atuar no contexto do modo de produção do trabalho articulando a harmonia social e relação entre Estado/sociedade. Atuando na melhoria das condições de vida no que tangea comunidade, em que se valoriza a partici- pação dos grupos e líderes ativos em busca de um bem comum. A partir de então se visualiza o serviço social vinculado mais claramente aos problemas sociais oriundos do processo de industrialização, vendo o indivíduo como parte do todo e não isolado das situações da época. Não é preciso mudar o homem, mas a realidade na qual ele está inserido. Quando olhamos para o Serviço Social enquanto profissão de relevância social, notamos que ele se gesta e se desenvolve como profissão: [...] tendo por pano de fundo o desenvolvimento capitalista industrial e a expansão urbana [...] - a constituição e expansão do proletariado e a burguesia industrial – as modificações verificadas na composição dos grupos e frações de classes que compartilham o poder de Estado em conjuntura históricas especificas. (IAMAMOTO, 1997 , p. 77). ©shutterstock MANIFESTAÇÕES DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA SOB O OLHAR DO SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E122 Ao mesmo tempo, procuram projetar e dar mais visibilidade às formas de resis- tência e luta por vezes oculta, mas presentes na realidade. O serviço social atua junto às questões sociais e aos indivíduos que a expe- rimentam no trabalho, na família, na saúde, no acesso aos serviços públicos ou nas formas de sociabilidade. Os sujeitos que a vivenciam, a ela se opõe e resistem. O Assistente Social trabalha nas mais variadas expressões cotidianas da Questão social e em se tratando de desigualdades, também envolve sujeitos que resistem e se opõem a elas. Portanto, [...] o assistente social trabalha nesta tensão entre produção da desi- gualdade e produção da rebeldia e da resistência, terreno movido por interesses sociais distintos que tecem a vida em sociedade (IAMAMO- TO, 2007, p. 27). Os assistentes sociais [estão] situados em um terreno movido por interes- ses distintos e contraditórios, não escapam aos fios que tecem a vida da so- ciedade, mas procuram, como profissionais, decifrar as mediações que na atualidade permeiam a questão social desfazendo os seus nós. Ao mesmo tempo, procuram projetar e dar mais visibilidade as formas de resistências e luta, por vezes, ocultas, mas presentes na realidade. Fonte: Arcoverde (1999, p. 79). “[...] o assistente social trabalha nesta tensão entre produção da desiqualda- de e produção da rebeldia e da resistência, terreno movido por interesses sociais distindo que tecem a vida em sociedade”, nesse sentido como você imagina a atuação do assistente social hoje? (adaptado de Iamamoto). Questão Social – Serviço Social e Sua Intervenção Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 123 Já é sabido que o Serviço Social surgiu da emergência da Questão Social conjunto das expressões da desigualdade social, econômica e cultural, ou seja, problemas da sociedade capitalista, do antagonismo entre o Capital e o Trabalho. Possuindo três grandes momentos: ■ Entre os anos de 1930 a 1945, coincidindo com dois grandes fatos polí- tico-sociais: a Segunda Guerra Mundial (Europa) e o período do Estado Novo (Brasil). Os modelos importados não se enquadravam na realidade brasileira e fizeram com que o Serviço Social fosse assistencial, caritativo, missionário e beneficente. ■ Entre os anos de 1945 a 1958, acompanhando o desenvolvimento da tec- nologia moderna, científica e cultural houve maior intercâmbio entre o Brasil e os Estados Unidos. Os profissionais conscientizaram-se da neces- sidade de criar novos métodos e técnicas adaptados à realidade brasileira. ■ A partir da década de 1960 até hoje, caracterizando-se pelo movimento de reconceituação e tendo como marco referencial a procura de um modelo teórico-prático para nossa realidade. De acordo com Iamamoto (2003, p. 27), “[...] o serviço social tem na questão social a base de sua fundação como especialização do Trabalho”. A questão social sempre permeou o serviço social, desde seu surgimento enquanto categoria profissional junto ao sistema capitalista, recebendo várias nomenclatu- ras dentro do processo histórico da profissão, evoluindo de acordo com a época e realidade social. No serviço social, a questão social é tema recorrente e objeto de sua intervenção desde o início da profissão. Como seu fundamento recebe interpretações diferentes, nem sempre essas interpretações superam o “feitiço da ajuda” e da caridade, que, por sinal, somente nos anos 90, do século XX, começa a ser desmitificado. Tudo tem um porquê, uma explicação. ©shutterstock MANIFESTAÇÕES DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA SOB O OLHAR DO SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E124 De acordo com Iamamoto (2003, p. 27), “[...] a tarefa do assistente social é não só decifrar as formas e expressões da questão social na contemporaneidade, mas atribuir transparência às iniciativas voltadas à sua reversão e/ou enfrenta- mento imediato.”. A questão social se manifesta no dia a dia da vida do homem, expressando as várias contradições e desigualdades, esse entendimento nos faz compreender qual é base da atuação profissional. Segundo Iamamoto (2006), a pauperizaçãoabsoluta ou relativa gera o fenô- meno do lumpen-proletariado, que não será mais absorvido pelo mercado de trabalho. A socialização dos custos de reprodução dessa força de trabalho exige a presença do Estado no que se refere à constituição de políticas sociais. O Serviço Social não tem um caráter de autonomia: não se pode pensar à profissão no processo de reprodução das relações sociais independente das organizações institucionais a que se vincula, como se a atividade profissional se encerra em si mesma e seus efeitos sociais derivassem, exclusivamente, da atu- ação profissional. É, portanto, no contexto do desenvolvimento do capitalismo industrial e da expansão urbana, que se coloca a necessidade do Serviço Social, enquanto mediador das classes fundamentais da então, burguesia industrial e prole- tariado fabril. Fonte: Iamamoto (2006). Questão Social – Serviço Social e Sua Intervenção Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 125 No processo de constituição de sua hegemonia, o Estado não pode desconsiderar por com- pleto as necessidades/interesses das classes dominadas, como condição mesma de sua legiti- mação; a incorporação dessas necessidades se dá de forma subordinada, não afetando os interesses da classe capitalista como um todo. No ingresso do Serviço Social como profissão, uma das pré-condições é a transformação de sua força de trabalho em mercadoria e de seu trabalho em ati- vidade subordinada à classe capitalista. A mesma lógica que preside o trabalho da classe trabalhadora, também preside a intervenção do Serviço Social. O Serviço Social não se afirma no mercado como profissional liberal por não dispor de condições objetivas para essa realização, ele necessita das políticas sociais de cunho público ou privado para o exercício profissional se concretizar. O Serviço Social não é função diretamente produtiva, ele participa, ao lado de outras profissões, da tarefa de implementação de condições necessárias ao processo de reprodução no seu conjunto, integrada como está a divisão sócio- -técnica do trabalho. É no campo das instituições/organizações que se dá o enfrentamento das questões sociais. (a autora). ©shutterstock MANIFESTAÇÕES DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA SOB O OLHAR DO SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E126 A produção e reprodução capitalista inclui, também, uma gama de ati- vidades, que não sendo diretamente produtivas, são indispensáveis ou facilitadoras do movimento do capital. Embora não sejam geradoras de valor, tornam mais eficiente o trabalho produtivo, reduzem o limite negativo colocado à valorização do capital, não deixando de ser para ele uma fonte de lucro. (CARVALHO; IAMAMOTO, 2006, on-line)1. O Assistente Social se situa na sua condição de intelectual; para tanto, utiliza-se de Gramsci para subsidiar sua análise. Cada classe possui seus próprios intelectu- ais, que tem o papel de contribuir na luta pela direção sóciocultural dessas classes na sociedade. O intelectual é o organizador, dirigente e técnico que coloca sua capacidade a serviço da criação de condições favoráveis à organização da pró- pria classe a que se encontra vinculado. O Assistente Social na sua qualidade de intelectual tem como instru- mento de trabalho a linguagem; historicamente, não constitui atividade proeminente para essa categoria profissional a produção de conheci- mento científico. (CARVALHO; IAMAMOTO, 2006, on-line)1. Quando falamos das relações sociais e do serviço social, temos que considerar a contraditoriedade presente nas relações sociais, ressalta-se assim a necessidade de uma reflexão sobre o caráter político da prática profissional; essa reflexão é condição para o estabelecimento de uma estratégia teórico-prática que pos- sibilite, dentro de uma perspectiva histórica, a alteração do caráter de classe da legitimidade desse exercício profissional. De acordo com Carvalho e Iamamoto (2006, on-line)1, os múltiplos e comple- xos problemas com as quais se deparam a classe trabalhadora – fome, desemprego, O Serviço Social emerge e se afirma em sua evolução como uma categoria voltada para a intervenção na sociedade. A cisão entre trabalho intelectual e manual desenvolve-se à medida que se aprofunda o capitalismo. Fonte: Carvalho e Iamamoto (2006, on-line)1. Questão Social – Serviço Social e Sua Intervenção Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 127 miséria, doença – são expressão de questão social que por seu turno, corres- ponde às desigualdades oriundas de lógica capitalista de produção/reprodução das mercadorias. No entanto, as políticas sociais são constituídas a partir de dimensões parti- culares e particularizadas da situação de vida dos trabalhadores: saúde, educação, habitação, alimentação etc. Dessa forma, a fragmentação não permite ao traba- lhador a aquisição de uma consciência mais coletiva sobre seus problemas. Na linguagem do poder, os “bene- fícios” sociais são algumas vezes denominados de “salário indireto”, já que são encarados como uma “com- plementação salarial” preferível (para os patrões, é claro) à elevação real dos salários, à proporção que podem ser descontados total ou parcialmente dos “beneficiários” ou de impostos governamentais. Os Serviços Sociais tornam- -se, portanto, um meio de reduzir os custos de reprodução da força de trabalho. A rede de Serviços Sociais viabiliza ao capital uma ampliação de seu campo de investimentos, subordinando a satisfação das necessidades humanas às neces- sidades de reprodução ampliada do capital. A pauperização acentuada determina um ambiente fértil à emergência de uto- pias, de inconformismos que são potencialmente ameaçadores à ordem vigente. Controlar e prever as ameaças têm sido uma estratégia política do poder, (como o empobrecimento generalizado não tem solução nos marcos do capitalismo, o que o Estado faz é administrar e controlar a situação de descontentamento). Os Serviços Sociais têm significados diferentes a partir da lógica de consti- tuição das classes, para os capitalistas representam um caráter complementar à reprodução da força de trabalho de menor custo. Do ponto de vista dos repre- sentantes do trabalho, os Serviços Sociais respondem às necessidades legítimas, à medida que são, muitas vezes, temas de lutas político-reinvindicatórias da classe ©trueffelpix.com MANIFESTAÇÕES DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA SOB O OLHAR DO SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E128 trabalhadora, no empenho de terem seus direitos sociais reconhecidos, como estratégia de defesa de sua própria sobrevivência. Logo, perceba você que não podemos subestimar a importância e a força dessa profissão de serviço social, pois ela é um instrumento auxiliar e subsidi- ário, ao lado de outros de maior eficácia política e mais ampla abrangência, na concretização do objeto sinalizado acima. O modo capitalista de produzir supõe um modo capitalista de pensar, ou seja, não é a forma como pensa o capitalista, mas antes de tudo, a forma neces- sária de toda a sociedade de pensar e agir, fundamental à reelaboração das bases de sustentação – ideológicas e sociais – do capitalismo. Portanto, [...] o controle social não se reduz ao controle governamental e institu- cional; é exercido, também, por meio de relações diretas, expressando o poder de influência de determinados agentes sociais sobre o cotidianode vida dos indivíduos, reforçando a internalização de normas e com- portamentos legitimados socialmente. Entre esses agentes institucio- nais encontra-se o profissional do Serviço Social. Importante ressaltar que a ideologia dominante é um meio de obtenção do consentimento dos dominados e oprimidos socialmente, adaptando os à ordem vigen- te. Em outros termos: a difusão e reprodução da ideologia dominante é uma das formas de exercício do controle social. (CARVALHO; IAMA- MOTO, 2006, on-line)1. Há possibilidades de, no espaço da prática profissional, construir-se outras formas de pensar e agir? (Suguihiro)2. Questão Social – Serviço Social e Sua Intervenção Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 129 O cotidiano apresenta aquilo que existe, que está posto e que é possível e real, o assistente social que consegue compreender o cotidiano, suas relações, seu con- texto, consegue descobrir estratégias para agir sobre ele, o cotidiano é o real, e o real traz consigo as possibilidades de transformação. De acordo com Carvalho e Iamamoto é o cotidiano o solo da produção e reprodução das relações sociais. A compreensão do cotidiano não se reduz aos aspectos mais aparen- tes, triviais e rotineiros; se eles são parte da vida em sociedade, não a esgotam. O cotidiano é expressão de um modo de vida, historicamente circunscrito, onde se verifica não só a reprodução de suas bases, mas onde são, também gestados, os fundamentos de uma prática inovadora. (CARVALHO; IAMAMOTO, 2006, on-line, grifo nosso)1. QUESTÕES PARA REFLEXÃO No texto proposto na sugestão de leitura do material complementar: “O clien- telismo político no Brasil contemporâneo”, que se encontra no final da unidade, você poderá estabelecer uma relação bastante pertinente, entre a questão social e o clientelismo político, após a leitura procure responder as seguintes questões: 1. Por que ainda temos o clientelismo político? O que permite que ele ainda seja percebido em nosso país? 2. Se o político atua na sociedade com vistas também a atuar no enfrenta- mento das questões sociais, por meio das políticas públicas, porque ao julgá-lo apto a assumir o cargo público a população destina a esse o seu voto, formando assim um grupo de candidatos eleitos, por que será que ,depois de tanto tempo, ainda temos tantos problemas sociais, e alguns chegam até se agravar durante o mandato de alguns? Qual o grande pro- blema para o mau desempenho dos nossos políticos? 3. Como você entende a ação do assistente social nesse contexto de clien- telismo político? Como é possível desenvolver um trabalho de qualidade que atinja os objetivos da profissão? MANIFESTAÇÕES DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA SOB O OLHAR DO SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E130 O CENÁRIO ATUAL E SUAS INCIDÊNCIAS NA QUESTÃO SOCIAL As alterações no padrão de acumulação capitalista, sob a égide da hegemonia do capital financeiro em que se amplia a competitividade intercapitalista nos merca- dos mundiais e nacionais, modificando as relações entre o Estado e a sociedade civil, conforme parâmetros estabelecidos por organismos internacionais, a partir do “Consenso de Washington”, em 1989, que recomendam uma ampla reforma do Estado, segundo diretrizes políticas de raiz neoliberal. Uma questão central, que se coloca para os Assistentes Sociais hoje, pode ser assim formulada: como reforçar e consolidar esse projeto político pro- fissional em um terreno profundamente adverso? Como atualizá-lo ante o novo contexto social, sem abrir mão dos princípios ético-políticos que o norteiam? (Iamamoto). © sh ut te rs to ck O Cenário Atual e suas Incidências na Questão Social Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 131 Dar conta da questão social, hoje, é: [...] decifrar as desigualdades sociais – de classes – em seus recortes de gênero, raça, etnia, religião, nacionalidade, meio ambiente etc. Mas, decifrar, também, as formas de resistência e rebeldia com que são vi- venciadas pelos sujeitos sociais. (IAMAMOTO, 1999, p. 114). O problema da insegurança do trabalho ou da redução de postos de trabalho não é peculiar às Assistentes Sociais: o seu enfrentamento exige, ao contrário, ações comuns que fortaleçam a capacidade de articulação e organização mais ampla de coletivos de trabalhadores. A recuperação de alguns dos pontos básicos da proposta governamental permite perceber que a execução da Reforma do Estado choca-se, radicalmente, com as conquistas sociais obtidas na Carta Constitucional de 88. Os princípios de privatização, descentralização e focalização direcionam as ações no campo das políticas sociais públicas. Esse processo amplia o espaço das grandes corpo- rações empresariais e das Organizações não governamentais (ONG) na gestão e execução de políticas sociais, com amplas repercussões nas condições de tra- balho e no mercado de trabalho especializado. MANIFESTAÇÕES DA QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA SOB O OLHAR DO SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E132 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta unidade apresenta um conteúdo riquíssimo uma vez que vem estabelecer relação entre o serviço social e a questão social, de forma que o serviço social está atrelado à questão social e suas expressões. Nesta unidade, além de resgatarmos alguns pontos históricos da profissão tivemos a oportunidade de refletir sobre elementos relevantes para o exercício profissional junto à demanda usuária atingida diretamente pelas questões sociais. Assim, apontamos a real necessidade de compreendermos o cotidiano na sua profundidade, de sairmos do mundo das aparências, pois é no cotidiano que se revelam todas as problemáticas sociais, é a partir do cotidiano, daquilo que é vivido e sentido pelo usuário que o assistente social estabelece sua inter- venção profissional. Apontamos para a discussão do assistente social também estar inserido no contexto do sistema capitalista, apresentando-se como um assalariado, vivendo as mesmas tensões que os demais indivíduos da sociedade, como ser um pro- fissional que atua no enfrentamento das questões sociais, se ao mesmo tempo também é atingido por elas? Cabe dizer que nossa profissão está aí, posta na sociedade, inserida na divi- são social e técnica do trabalho, também vendemos nossa força de trabalho em troca de salário e vivemos no mesmo mundo que a demanda da profissão, não sendo melhor ou maior que ela. A questão que se coloca é que, em meio ao sis- tema, também sendo vítima dele, como podemos fazer a diferença e cumprir com os objetivos da profissão sem se deixar corromper? Cada unidade contribui para muitos esclarecimentos, contudo, deixa insta- lado em nós uma séries de indagações e inquietações, concorda? Este é o mundo dinâmico, pois é a partir das inquietações que as investigações acontecem e a profissão vai ganhando corpo teórico e avançando para a análise e de codifica- ção de muitos outros problemas. 133 1. Quanto a Questão Social enquanto objeto de intervenção profissional do Servi- ço Social, analise as sentenças assinalando V para verdadeiro e F para falso: ( ) [...] apreender a questão social é também captar as múltiplas formas de pressão social, de invenção e de reinvenção da vida construída no cotidiano. ( ) “Decifrar múltiplas expressões da questão social, cuja gênese e as novas ca- racterísticas que assume na contemporaneidade, atribuindotransparência às iniciativas voltadas à sua reversão e/ou enfrentamento imediato” (IAMA- MOTO, 2007, p. 28). Por essa razão, o assistente social tem sua principal ca- racterística o voluntariado, ou seja, deve prestar serviços na sociedade sem receber nenhum salário, somente por amor à causa. ( ) Os “[...] assistentes sociais estão [...] situados nesse terreno movido por inte- resses sociais distintos, aos quais não é possível abstrair ou deles fugir por- que tecem a vida em sociedade” (IAMAMOTO, 2007, p. 28). ( ) A questão social passou a existir no mundo após a criação do profissional de serviço social, visto que esse é o principal responsável por sua resolução. O assistente social deve ser o principal gerenciador dos problemas humanitá- rios criado pelo sistema capitalista no qual estamos inseridos. a. F – F – F - F. b. V – F – V - F. c. F – F – V - V. d. V – V – F - F. 2. Considerando as discussões acerca do serviço social e a sua especificidade pro- fissional, assinale a alternativa correta: I. A especificidade do serviço social é dada pelo objeto profissional, o que nos caracteriza e difere enquanto profissão. II. A especificidade do serviço social está vinculada a uma visão de homem e mundo. III. A especificidade do serviço social está fundamentada em uma perspectiva teórica que, no modo capitalista de produção, implica em uma opção política – a teoria norteadora da ação e a ação que reconstrói a teoria demonstram de que lado está o Serviço Social. 134 a. Está correta somente a I. b. Estão corretas a I e III. c. Estão corretas a II e III. d. Somente a III está correta. e. Todas estão corretas. 3. Quanto ao Serviço Social e a sua relação com as questões sociais, analise as se- tenças abaixo assinalando V para verdadeiro e F para falso: ( ) A questão social sempre permeou o serviço social, desde seu surgimento enquanto categoria profissional junto ao sistema capitalista, recebendo vá- rias nomenclaturas dentro do processo histórico da profissão, evoluindo de acordo com a época e realidade social. ( ) O Estado desde o início do capitalismo foi o primeiro a buscar soluções de- sinteressadas e eficazes para sanar os conflitos ocorridos entre a burguesia e o proletariado, visando sempre o bem comum, para isso o serviço social sempre foi seu “braço direito”. ( ) A concepção de questão social é de grande abrangência, sendo assim, diver- sas profissões podem/têm sua atuação determinada por ela. Por exemplo: o médico que atende problemas causados pela fome, acidentes de trabalho, etc.; o engenheiro que projeta habitações a baixo custo; o advogado que atende as pessoas sem recursos para defender seus direitos; entre outros profissionais. (cf. Machado) ( ) As ações do profissional de serviço social no início do Século XX eram foca- lizadas no indivíduo, o qual era responsável pelos seus problemas e a aná- lise da conjuntura limitava-se ao mundo de cada pessoa que estava sendo sujeito de atendimento, para que esse melhorasse seus comportamentos e suas condições. Enfim, resumia-se a questão da “moral”, ao comportamento e a ordem. ( ) De acordo com Iamamoto (2007, p. 28) : “[...] a tarefa do assistente social é não só decifrar as formas e expressões da questão social na contemporanei- dade mas atribuir transparência às iniciativas voltadas à sua reversão e/ou enfrentamento imediato.” a. F – V – F - F. b. V – F – V - V. c. F – F – V - V. d. V – V – F - F. 135 4. Trazendo os assuntos abordado ao longo da unidade, já foi possível compreender que, historicamente, a «questão social» vincula-se estreitamente à questão da exploração do trabalho, à organização e à mobilização da classe trabalhadora na luta pela apropriação da riqueza social. Ela se expressa: a. Pelo conjunto de desigualdades sociais engendradas pelas relações sociais constitutivas do capitalismo. b. Pelos mecanismos complementares ao mercado que configuram as políticas sociais. c. Pelo conjunto de programas de proteção contra a doença, o desemprego, a morte e a velhice, entre outros. d. Pela substituição de um perfil histórico de proteção social, que tinha como pilar o pleno emprego, pelo pilardo desemprego. e. Pela acomodação por parte dos que vivem do seu trabalho. 5. A questão social é a base de fundamentação do Serviço Social como espe- cialização do trabalho. Em relação a esse tema, assinale a opção correta; a. A questão social está relacionada à emergência da classe operária e ao seu ingresso no cenário político. b. A questão social expressa exclusivamente às disparidades econômicas das classes sociais. c. A questão social é um fenômeno recente que resultou das mudanças no mun- do do trabalho e da reestruturação produtiva que emergiu na última década. d. O assistente social trabalha com as múltiplas expressões da questão social com o objetivo de amenizar a pressão social do cotidiano e a sua ameaça à ordem social. e. A possibilidade do Serviço Social colocar-se a serviço de um projeto societário alternativo dá ao serviço social o papel de mediador dos interesses do capital, considerando-se os princípios éticos da profissão. 136 A QUESTÃO SOCIAL E O SERVIÇO SOCIAL Já se sabe que, em resposta às lutas operárias contra o desemprego e a exploração so- cial (acentuadas pelo capitalismo monopolista), a classe dominante criou mecanismos de controle social; dentre outras estratégias, buscou se utilizar do Serviço Social para este fim. Donde a necessidade de a profissão reafirmar, cada vez mais, seu projeto ético- -político afinado com a garantia de direitos universais, com base na proteção social da população vulnerabilizada. Na sociedade monopolista “[...] se gestam as condições histórico-sociais para que, na divisão social (e técnica) do trabalho, constitua-se um espaço em que se possam mover práticas profissionais como as do assistente social” (NETTO, 2005, p. 73). Vale dizer que José Paulo Netto fez um estudo sobre o capitalismo monopolista e o Serviço Social. O autor conclui, reafirmando que, “[...] enquanto profissão, o Serviço Social é indissociável da ordem monopólica – ela cria e funda a profissionalidade do Serviço Social” (NETTO, 2005, p. 74). A questão social é derivada “[...] do caráter coletivo da produção contraposto à apro- priação privada da própria atividade humana – o trabalho – das condições necessárias à sua realização, assim como de seus frutos” (IAMAMOTO, 2007, p. 156). A autora ainda tece algumas considerações a respeito da questão social “[...] condensa o conjunto das desigualdades e lutas sociais, produzidas e reproduzidas no movimento contraditório das relações sociais [...]” (p. 156). Como diz Paulo Netto (2005) nas palavras de um profissional do Serviço Social: A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia [...] (IAMAMOTO; CAR- VALHO, 1983, p. 77). A questão social que Iamamoto (2006, p. 62) define como “a matéria-prima ou o objeto do trabalho” manifesta-se no conflito entre capital e trabalho. Para a autora, a questão social “[...] provoca a necessidade da ação profissional junto à criança e ao adolescente, ao idoso, a situações de violência contra a mulher, à luta pela terra etc” (p. 62). Assim, Iamamoto situa o trabalho do assistente social nas “múltiplas expressões” da questão social. Pelos motivos apontados, não dá para discutir a questão social1 e o Serviço Social fora 1 ‘Por questão social’, no sentido universal do termo, queremos significar o conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos queo surgimento da classe operária impôs no curso da constituição da sociedade capitalista. Assim, a ‘questão social’ está fundamentalmente vinculada ao conflito entre o capital e o trabalho’ (CERQUEIRA FILHO, 1982: 21 apud PAULO NETTO, 2006, p. 17, nota de rodapé no 1). 137 do capitalismo monopolista, visto que ela é fruto da relação entre o capital e o trabalho. “Portanto, a questão social é uma categoria que expressa a contradição fundamental do modo capitalista de produção” (MACHADO, on-line)3. Machado (on-line)3 chama a atenção para os diferentes profissionais que incorporaram a questão social ao seu campo de trabalho: [...] o médico que atende problemas de saúde causados por fome, in- segurança, acidentes de trabalho etc.; o engenheiro que projeta habi- tações a baixo custo; o advogado que atende as pessoas sem recursos para defender seus direitos, enfim os mais diferentes profissionais que, também, atuam nas expressões da questão social (MACHADO, on-line)3. É possível concluir que a questão social não pode ser vista em si mesma e, muito menos, como uma exclusividade do Serviço Social. Mesmo sendo o objeto do Serviço Social, o fato de ter surgido da relação capital e trabalho, a questão social abriu um campo de trabalho para outros profissionais. Como a questão social e o Serviço Social nasceram e se moldam ao capitalismo monopolista, serão feitas algumas considerações acerca das mudanças da sociedade de hoje. Fonte: LEMOS (2009, p. 25-26). MATERIAL COMPLEMENTAR O link, a seguir, mostra a tese de Elsio Lenardão, que tem como título: “O clientelismo político no Brasil contemporâneo: Algumas razões de sua sobrevivência”. Disponível em: <http://www. dominiopublico.gov.br/download/texto/cp021472.pdf>. Questão Social: particularidades no Brasil Josiane Soares Santos Editora: Cortez Sinopse: A � m de desvendar as diversas formas de expressão da desigualdade social, este livro mergulha nos fundamentos da crítica da economia política, procurando tratar a “questão social” como parte da dinâmica capitalista e das lutas sociais contra a exploração do trabalho. Mídia, Questão Social e Serviço Social Mione Apolinario Sales e Jeff erson Lee de Souza Ruiz Editora: Cortez Sinopse: Este livro inaugura um debate que amplia e enriquece o campo de possibilidades do Serviço Social e de outras pro� ssões interessadas em quali� car sua intervenção social de forma criatividade e crítica. Considera a comunicação como um dos direitos humanos fundamentais, estabelecendo uma mediação com o exercício pro� ssional dos assistentes sociais, por meio de diferentes experiências práticas signi� cativas e de re� exões acerca das condições sócio-históricas adversas que desconstroem direitos e conquistas. A obra resgata, assim, como êxito, a construção dessa dimensão do projeto ético-político pro� ssional a comunicação como política estratégica capaz de estender os horizontes de uma práxis social e pro� ssional compromissada com a liberdade e a emancipação humana. REFERÊNCIAS 139 ARCOVERDE, A. C. B. Questão social no Brasil e serviço social. In: Capacitação em Serviço Social e Política Social, Reprodução social, trabalho e Serviço Social. UnB, Centro de Educação Aberta, Continuada a Distância, módulo 2, 1999, p. 75-85. IAMAMOTO, M. V.; CARVALHO, R. Relações sociais e serviço social no Brasil: esbo- ço de uma interpretação histórico-metodológica. 21. ed. São Paulo: Cortez, 2006. IAMAMOTO, M. V. O serviço social na contemporaneidade: dimensões históricas, te- óricas e ético-políticas. Debate CRESS–CE, Fortaleza, n. 6, 1997. ______. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profissio- nal. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1999. ______. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profissio- nal. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2003. LEMOS. E. M. Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço So- cial. Unidade Didática, aula 04, São Paulo, 2009. REFERÊNCIA ON-LINE 1 Em: <www.elder.byethost4.com/iamamoto.html>. Acesso em: 12 mai. 2016. 2 Em: <http://www.uel.br/revistas/ssrevista/c_v2n1_invest.htm>. Acesso em: 12 mai. 2016. 3 Em: <http://www.uel.br/revistas/ssrevista/c_v2n1_quest.htm>. Acesso em: 12 mai. 2016. GABARITO 1. B 2. E 3. B 4. A 5. A U N ID A D E V Professora Esp. Daniela Sikorski BUSCANDO RESPOSTAS ÀS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL Objetivos de Aprendizagem ■ Contextualizar as expressões da questão social e o exercício profissional enfocando a família como a mais atingida por todas as expressões da questão social. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Questão Social e Serviço Social ■ A família atingida pelas questões sociais – breve explanação. INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), nesta unidade, a seguir, veremos como cada indivíduo é atin- gido em seu cotidiano pelas questões sociais e algumas ações pertinentes ao assistente social. Veremos também as diretrizes curriculares do curso de serviço social da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) e como é previsto a formação profissional do assistente social, a partir dos pressupos- tos norteadores e sua relação com a disciplina que estamos estudamos, isso é relevante, pois muitas vezes se questiona a razão de determinados estudos no processo de formação. Logo, esta será uma oportunidade para compreensão dos elementos necessários para a graduação do assistente social, de maneira que possa atuar junto a sua demanda. Sabendo que o processo de formação não se encerra com a graduação, ele apenas se inicia aqui. A atuação do assistente social pode se dar em diversas áreas e instituições, sabendo que todas visam o enfrentamento de alguma expressão da questão social, orientada por alguma política pública, sabendo que nem todas de maneira eficiente, mas atuam no sentido de equacioná-las. Os assistentes sociais atuam em hospitais, escolas, unidades de apoio sócio-e- ducativos, prefeituras Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) que são unidades de saúde, secretarias de assistência social de idoso, mulher, criança e ado- lescente, trabalho educação); ONG; fóruns; empresas; entre tantos outros locais. Nesta unidade, ainda daremos um enfoque para a questão da família, não será propósito desta unidade aprofundar o estudo, este será feito em outra opor- tunidade, mas é necessário ressaltar que hoje as famílias, independente da sua configuração e composição, são atingidas pelas questões sociais, seja com um filho drogadito, um esposo ou esposa desempregado, uma criança ou adolescente que é submetido ao trabalho ou, então, vítima de violência e/ou abuso sexual, enfim, de uma maneira ou outra tudo afeta o núcleo da família. É necessário esta compreensão, para que não vejamos as problemáticas de forma isolada, para que as políticas não sejam elaboradas de forma fragmenta- das ou setorizadas, reforça-se a ideia do trabalho em rede, compreendendo o cidadão como ser relacional. Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 143 BUSCANDO RESPOSTAS ÀS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E144 QUESTÃO SOCIAL E SERVIÇO SOCIAL Ao aprofundarmos nossa reflexão sobre a questão social suas expressões/mani- festações (fome, o desemprego, a doença etc.), vemos que essa é o eixo que deu origem ao nascimento da profissão. Toda profissão surge de uma necessidade social, algo que necessita ser sanado na vida do ser humano. A profissão de serviço socialestá ligada às desigualdades oriundas do sis- tema capitalista de produção, no qual o lucro se mantém nas mãos de poucos, estes se apropriam dos frutos da produção e esses frutos são monopolizados por um pequeno grupo, quando o ideal a ser feito é a partilha, uma vez que tudo o que produzido é resultado da ação de vários atores, mas sabemos que não é assim que acontece. Não podemos achar que essa exploração é característica apenas de países em desenvolvimento, isso se mostra também como acontecimento nas socie- dades tidas como “primeiro mundo”, nos países desenvolvidos também existe miséria, pauperização, situações de vulnerabilidade e desigualdade que afetam parte da população. Logo, temos o trabalho do assistente social, atuando em um território tenso e desigual, em um contexto que apresenta interesses distintos e contraditórios da classe dominante e dominada. Recebendo uma demanda muitas vezes desesperada por algum tipo de auxílio para que supere assim as suas vulnerabilidades, essas situ- ações que se apresentam ao profissional, devem ser entendidas e encaradas dentro de um contexto maior. É necessário que o assistente social seja capaz de entender que a realidade vista é fruto de acontecimentos históri- cos, reproduzidos ao longo do tempo, situações que se arrastam neste processo atingindo principalmente aqueles mais fragilizados. Questão Social e Serviço Social Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 145 Cada indivíduo atingido é vítima dessa desigualdade que reage aos acontecimentos de formas e maneiras diferentes, nem todos ficam na passividade, na aceitação da exploração e, consequente, na carência. Temos indivíduos que, no auge do desespero da fome, vem a se tornar um assaltante, outros se tornam mata- dores de aluguel; por falta de moradia, invadem juntamente com suas famílias espaços públicos/privados abandonados. Temos ainda o ingresso no mundo das drogas, álcool, aumento significativo da violência doméstica e até mesmo suicídio. Você pode estar pensando que a profissão está a pos- tos na sociedade somente para lidar com a tragédia humana e sucessivos problemas, na verdade esta- mos atuando no seu enfrentamento, na superação dessas situações. Não estou querendo dizer aqui que é intenção do Serviço Social acabar com o sis- tema capitalista, mas contribuir para uma sociedade capaz de ser muito mais justa e igualitária, por meio da formação de sujeitos conscientes, autônomos, críticos, capazes de exercer seu papel de cidadão. Atualmente, temos uma diminuição do emprego formal/estável, como pude- mos estudar, anteriormente, vivenciamos o crescimento do trabalho informal, por tempo determinado, temporário, sem contar que em nosso país ainda temos regis- tro de trabalho escravo e exploratório. A necessidade do trabalho é inerente ao ser humano, é por meio dele que o homem pretende garantir a sua subsistência e de sua família, cabe a cada um prover o mínimo/básico para si e seus dependentes, quando esse não consegue, acaba ingressando nos programas de assistência e políticas sociais. Muitos indivíduos na situação de não emprego aceitam esse fato como situ- ação passageira, outros acabam por se acomodar com a providência de auxílio por parte de instituições públicas e organizações governamentais, outros ainda não aceitam essa situação e a tem como degradante e vergonhosa. Seja qual for o caso, todos de uma forma ou outra se tornam demanda em potencial para o serviço social. Assim a situação de não emprego, quando prolongada por muito tempo, acaba por desencadear muitos outros problemas. BUSCANDO RESPOSTAS ÀS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E146 Com o neoliberalismo, uma das formas para redução do custo da força de trabalho ainda é o contrato da mão de obra infantil. Quando boa parte da popu- lação mundia, economicamente ativa, do mundo está desempregada de acordo com Organização Internacional do Trabalho (OIT), a estimativa de desemprego no mundo é de quse 200 milhões (ONUBr, 2016, on-line)1 cresce o desemprego de adultos e aumenta, contraditoriamente, o emprego infantil. Para possibilitar a sobrevivência da família, quando o pai se encontra desempregado e a mãe já está no mercado de trabalho, uma terceira possibilidade que se apresenta é que as crianças trabalhem. Com muita tristeza, vemos ainda crianças trabalhando em minas de carvão, ou nas colheitas massacrantes, deixando a escola de lado, em vista de garantir alguns trocados para a família. Claro que temos em nosso país ações de enfrenta- mento a pobreza que visam a contribuir com a reversão dessa situação, contudo quem vivencia esta realidade degradante, opta pela ação ilegal a morrer de fome. Os usuários do serviço social (mulheres, crianças, idosos, adolescentes, família, idosos, desempregados, pessoas com deficiência, doentes, drogaditos, alcoolistas etc.) são diretamente atingidos pelos resultados da questão social exis- tente que exigem dos sujeitos responsáveis (o Estado, o mercado e a sociedade civil organizada) um devido enfrentamento, pautado na análise e estratégia efi- caz e eficiente. Os usuários do serviço social, dia a dia, recorrerem às devidas políticas, para que consigam superar as necessidades não sanadas. Contudo, ainda percebe-se um ranço muito grande de assistencialismo, paternalismo, conservadorismo e clientelismo. É objetivo das políticas hoje é a busca e o incentivo por meio das ações profissionais que se promovam a construção/resgate de um cidadão autô- nomo, assumindo o papel de protagonista de sua história. Para isso, é necessário o desmonte de ações/medidas parciais, focalizadas e fragmentadas. Logo, chegamos à conclusão de que o Estado, mercado e sociedade civil organizada devem se tornar mais ativos e definirem políticas de inserção pelo trabalho e contra exclusões sociais. Constituem respostas do Estado, o apoio e o incentivo às microempresas, geração de ocupação e renda, qualificação para o mercado de trabalho, econo- mias solidárias. Questão Social e Serviço Social Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 147 A reforma previdenciária, como resposta às problemáticas do mundo do trabalho, sob o argumento de eliminar privilégios, direitos conquis- tados, tem de fato fragilizado a situação social do trabalhador emprega- do, levando voluntariamente à aposentadoria expressivo contingente de trabalhadores, sacramentando a exclusão ou a nunca inclusão de uma minoria que esteve sempre fora de qualquer sistema de proteção social (TELLES, 1996, p. 86). Vale ressaltar que as respostas às expressões da questão social variam no âmbito estadual e municipal, no qual algumas experiências de poder local, administração participativa, renda mínima, orçamento participativo, atividades comunitárias e autogestionárias (cooperativas, hortas, padarias) sinalizam para uma demo- cratização do Estado e socialização do poder, de traços mais universalizantes. Do lado do mercado, as políticas sociais privadas e empresariais vêm se vol- tando mais para responder às demandas emergentes. Os projetos sociais vêm fazendo avançar a filantropia empresarial. Em vez das empresas realizarem donativos de caridade, mesmo que fossem para se libertarem dos impostos, as doações são estruturadas ou realizadas como investimento social, na contem- poraneidade (KAMEYAMA, 1998). Algumas empresam passam a desenvolver programas sociais nas áreas de educação, promoçãosocial, cultura, saúde, meio ambiente, agricultura, políticas públicas, ciência e tecnologia, crianças e adolescentes, e esportes. E, para isso, vem crescendo consideravelmente a presença do profissional de serviço social nesses espaços. Para tanto é mais que necessário imprimir às políticas sociais públicas e/ ou privadas, no trabalho ao enfrentamento às manifestações da questão social, o caráter de universalidade de direitos de cidadania exige, portanto, reordena- mento e articulação entre os diferentes sujeitos sociais. A empresa do final do século passado e do início deste não responde mais ao capital e ao trabalho levando em conta apenas a qualidade, o serviço, o preço de padrão mundial e o marketing inteligente como diferenciais de competição. A vantagem competitiva agora são as políticas empresariais dirigidas às corpora- ções e seus executivos, pois atraem o mercado, gratificam funcionários e reforçam a boa imagem da empresa. O setor de Recursos Humanos passa a ser estraté- gico, nesse sentido, sendo ele, inclusive, espaço novo de intervenção do Serviço BUSCANDO RESPOSTAS ÀS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E148 Social, a partir de ações estratégicas de educação, treinamento e desenvolvimento, envolvimento de funcionários, bem-estar e satisfação de suas necessidades, arti- culando gestão e planejamento, desempenho e recompensa. A sociedade civil organizada também se organiza de forma a contribuir com as demandas sociais que emergiram na sociedade, atualmente, é possível perce- ber sua atuação por meio de – movimentos sociais, organizações sociais (OS), entidades profissionais, setores da igreja, partidos, sindicatos e o terceiro setor com as ONGs que podem atuar isoladamente ou em forma de parcerias. A socie- dade civil ainda se manifesta trabalhando na defesa de direitos ao emprego, à terra, à formação profissional e técnica, à educação, a um meio ambiente saudá- vel, além da orientação de reformas constitucionais, elaboração. Como a construção de uma sociedade alternativa a capitalista – utopia reali- zável - não se consolida, as organizações da sociedade civil avançam por meio de denúncias ao Ministério Público, como forma de resistência (sindicato), organi- zam cooperativas de produção, montam empresas associativas civis e econômicas, prestam assessoria, serviços públicos, capacitam lideranças, realizam campanhas (ONG’s), desempenhando papel importante nas parcerias com o governo. A parceria, no entanto, como forma nova de gestão das respostas públicas/privadas às expressões da questão social deve ser constantemente ava- liada de forma a evitar o reforço nas políticas sociais das marcas do clientelismo, da privatização e da focalização. Questão Social e Serviço Social Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 149 Quando paramos para pensar quais os problemas existentes em nossa socie- dade, logo, uma lista imensa nos vem à cabeça. E pode ser maior ou menor conforme o local em que vivemos. Dessa maneira, devemos estar atentos à rea- lidade onde estamos inseridos, pois saiba você que, como assistentes sociais, não possuímos uma bola de cristal que nos possibilite descobrir quais os problemas mais agravados e sua repercussão na vida do indivíduo. Isso se dá a partir de uma boa analise da realidade, embasado em um referencial teórico consistente e utilização correta dos instrumentos e técnicas da profissão. Para tanto, no processo de formação profissional, segue-se as diretrizes previs- tas, pois toda profissão possui seu objeto de intervenção e objetivos de acordo com sua especificidade e necessidade social. Com o serviço social não acontece dife- rente, para atuarmos no enfrentamento das questões sociais, é necessário alguns conhecimentos mínimos, nada é estudado por acaso, priorizando esta ou aquela parcela da população, pois, sabe-se bem que as expressões sociais se manifestam tanto no meio urbano quanto no meio rural, desta maneira, faz-se necessária a compreensão de todos os mecanis- mos operantes na sociedade. É importante que você saiba quais as diretrizes da profissão que escolheu, essa está lotada na RESOLUÇÃO Nº 15, DE 13 DE MARÇO DE 2002, que prevê o per- fil dos formandos, ou seja, ao findar a graduação o aluno deve estar apto a ser reconhecido como: BUSCANDO RESPOSTAS ÀS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E150 Profissional que atua nas expressões da questão social, formulando e implementando propostas de intervenção para seu enfrentamento, com capacidade de promover o exercício pleno da cidadania e a inser- ção criativa e propositiva dos usuários do Serviço Social no conjunto das relações sociais e no mercado de trabalho. (BRASIL, 2002, on-li- ne)2. Saiba que as diretrizes e pressupostos da proposição curricular do curso de ser- viço social foram estabelecidos a partir de duas considerações básicas - a dimensão interventora da profissão, nas suas interrelações nos processos de exclusão cul- tural, social, política e econômico e no âmbito da questão social, remodelada pela dinâmica da sociedade a partir do reordenamento do capital e do trabalho, consequência do processo de reestruturação produtiva no Brasil. Dessa maneira, alguns pressupostos foram estabelecidos e estão citados na resolução citada anteriornente, a saber, os pressupostos norteadores da forma- ção e futura intervenção profissional são: 1. O Serviço Social se particulariza nas relações sociais de produção e reprodução da vida social como uma profissão interventiva. Reco- nhecer esta dimensão implica em reconhecer que o Serviço Social se altera e se transforma quando se alteram e se transformam o que é o fundamento de sua existência, ou seja, a questão social e os processos de exclusão. Outra decorrência desse reconhecimento é a necessidade de compreensão dos processos sociais e de um instrumental heurístico para tal tarefa. Desta forma, teoria, método e história não se constituem em eixos curriculares ou em disciplinas, mas perpassam a formação profissional como pressupostos para a compreensão do movimento histórico e concreto da realidade e aspectos focais da mesma, os quais se constituem em objetos de intervenção profissional. 2. A relação do Serviço Social com a questão social e com processos de exclusão social é mediatizada por um conjunto de processos sócio- -históricos e teórico metodológicos que se constituem no seu processo de trabalho e que objetivam um produto concreto. Este processo de trabalho é integrado por elementos tido como constitutivos da profissão: objeto, objetivos, papéis e funções, instrumentos e técnicas de atuação - dimensões técnico - políticas e teórico metodológicas do fazer profissional. Assim a questão social para o assistente social é visu- alizada com um olhar que é próprio e determinado pela profissão em sua constituição histórica e pelo significado a ela atribuído pela socie- dade. Questão Social e Serviço Social Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 151 3. As alterações no modo de organização do capital e do trabalho intro- duzem modificações nas demandas profissionais e alteram o mercado profissional, pois provocam mudanças na esfera da produção que ope- ram refrações nos mecanismos de reprodução social - âmbito privile- giado da intervenção do Serviço Social. 4. O processo detrabalho no Serviço Social é determinado por configu- rações estruturais e conjunturais da questão social, processos de exclu- são e as formas que a sociedade dispõe e implementa para atenuá-los. As demandas que hoje se apresentam à profissão tem configurações que dão novas dimensões aos velhos fenômenos, como os novos papéis da sociedade civil, a segmentação social dos usuários, as novas formas de organização do trabalho, reeditando situações do século passado nos dias atuais (DIRETRIZES..., 2002, on-line)3. Com a fixação do perfil profissional e a elaboração dos pressupostos, pretende-se obter um assistente social capacitado para ações específicas da profissão, ações qualificadas no plano teórico-metodológico, prático-operativo e ético-político. Apontamos, agora, para as diretrizes curriculares que dão sustentação a uma formação profissional que possibilite ao assistente social a: 1. Apreensão crítica do processo histórico; 2. Investigação sobre a formação histórica e os processos sociais con- temporâneos que conformam a sociedade brasileira, no sentido de apreender a constituição e desenvolvimento do capitalismo e do Ser- viço Social no país; 3. Apreensão do significado social da profissão desvelando as possibili- dades de ação contidas na realidade; 4. Apreensão das demandas - consolidadas e emergentes - postas ao Serviço Social via mercado de trabalho, visando formular respostas Você já tinha conhecimento desses pressupostos? Nessa citação, são ex- postas informações sobre a formação do profissional. A partir da leitura dos pressupostos, anote os pontos que você considerou importante. (a autora). BUSCANDO RESPOSTAS ÀS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E152 profissionais que potenciem o enfrentamento da questão social, consi- derando as novas articulações entre o público e o privado; 5. Exercício profissional cumprindo as competências e atribuições pre- vistas na Legislação Profissional em vigor e que atenda as exigências do Código de Ética Profissional (DIRETRIZES..., 2002, on-line)3. De nada adiantaria falar sobre as origens da questão social, no mundo, no Brasil, a atuação do serviço social e sua relação com a questão social se não falássemos um pouco sobre o processo de formação profissional, não é mesmo? Você conseguiu compreender a relação do serviço social com as questões sociais, o porquê da estrutura de formação profissional? Caso você tenha curio- sidade, sugiro a leitura na integra das diretrizes, acessando o link disponibilizado ao final da unidade. Ao entender mais sobre o serviço social e a questão social, trago presente a seguinte reflexão: ■ As “múltiplas expressões” da questão social são fragmentadas como se fos- sem independentes. Se a questão social é percebida como “questões sociais”, ela deixa de ser compreendida como fruto do conflito capital e trabalho. ■ A questão social tratada na perspectiva dos processos de exclusão e inte- gração social camufla os conflitos sociais. O assistente social vende sua força de trabalho para entidades patronais, estatais ou empresariais. Na empresa, os assistentes sociais são assalariados e participam do processo de produção e/ou de redistribuição da riqueza social. A questão social não pode ser vista em si mesma e, muito menos, como uma exclusividade do Serviço Social. Mesmo sendo o objeto do Serviço Social, o fato de ter surgido da relação capital e trabalho, a questão social abriu um campo de trabalho para outros profissionais. Fonte: Lemos (2009, p. 26). A Família Atingida pelas Questões Sociais – Breve Explanação Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 153 ■ No Estado, o Serviço Social “produz serviços que atendem às necessida- des sociais, isto é, têm um valor de uso, uma utilidade social”, porque não segue a organização de empresas capitalistas privadas. Esses trabalhadores não criam riqueza, uma vez que não produzem mercadorias para serem disponibilizadas no mercado. ■ Pode-se dizer então que, em resposta aos interesses contraditórios das classes sociais que estão em luta permanente, o assistente social desen- volve políticas sociais públicas ou privadas nos espaços institucionais (LEMOS, 2009, p. 27). A FAMÍLIA ATINGIDA PELAS QUESTÕES SOCIAIS – BREVE EXPLANAÇÃO Este momento não poderia deixar de acontecer, uma vez que, ao conhecermos nossa demanda, todas as ações, relatos e dificuldades acabam recaindo de alguma maneira sobre a família. A família acaba de uma forma ou de outra pelas questões sociais, pelas contradições e desigualdades do sistema vigente. Considerando o exposto no item anterior, é importante entender que: A família é apenas uma das instâncias de resolução dos problemas indi- viduais e sociais. Os serviços públicos devem ser flexíveis para respon- der de forma diferenciada às diversas formas de apresentação dos pro- blemas locais. Apenas aqueles a quem interessa esconder os conflitos de classe social, de raça e sexo, negar a relação fundamental dos problemas pessoais com a forma de organização do Estado e da economia, bem como diminuir a importância das lutas dos movimentos sociais e dos partidos políticos, é que busca colocar a família como centro absoluto da abordagem dos problemas sociais. (VASCONCELOS, 1999, p. 13). É possível visualizar, a seguir, algumas expressões da questão social, lendo-as, pense se todas não convergem à questão familiar: BUSCANDO RESPOSTAS ÀS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E154 ■ Criança e adolescente. ■ Alcoolismo/drogadição. ■ Educação. ■ Família. ■ Gênero. ■ Habitação. ■ Idoso. ■ Desigualdade racial. ■ Mulher. ■ Pessoa com deficiência. ■ Saúde. ■ Sóciojurídico. ■ Violência. ■ Desemprego. ■ Questão agrária/rural. Implícitos nesse temos a fome, o desemprego e outros que, independente da questão social, acumulam preocupação e exigem solução urgente. A família é concebida pela Política Nacional de Assistência Social como um conjunto de pes- soas que se acham unidas por laços consanguíneos, afetivos e ou de solidariedade. Para o trabalho com as famílias, precisamos rever a concepção tradicional da família, que é aquela idealizada nos padrões tradicionais da sociedade, aquele modelo redondo, a sociedade ainda pressiona por um modelo ideal. Quando na realidade, hoje, temos uma outra configuração familiar, relacionado aos modos de agir, aos hábitos dos membros de uma família. Entender a família no agir concreto e necessário do cotidiano familiar e no exercício profissional, pode- mos nos deparar com estruturas familiares que não se aproximam da concepção de família que carregamos na nossa concepção pessoal, mas isso não pode gerar no profissional frustrações, uma vez que não cabe ao assistente social impor o A Família Atingida pelas Questões Sociais – Breve Explanação Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 155 seu modo de pensar, a compreensão da particularidade alheia é imprescindível ao agir profissional. Cabe a nós entendermos a família como um espaço aberto no qual ocorrem tro- cas de informações, sentimentos e energia. Saber que a estrutura familiar está em constante evolução e mudança. Se tornarmos o usuário fragilizado como expressão de um contexto fa- miliar comprometido, o eixo da atenção profissional estará sendoalte- rado. Esta alteração se dará tanto no nível da compreensão do problema como no nível da ação profissional. Assim desenvolve-se o sentido de ajudar a família a identificar as duas dificuldades e realizar mudanças para que possam alterar esta situação. (MACHADO, 2009, on-line)4. Segundo Mioto (1997, p. 125) “Assim torna-se prioritário que a família perceba que a mudança de sua vida depende muito da sua participação em movimentos reivindicatórios organizados, em busca de melhores condições de vida”. Vamos fazer uma experiência? Você irá fazer uma breve pesquisa de campo a fim de perceber as mudanças ocorridas na família ao longo dos tempos, veja algumas informações que você pode colher e posteriormente analisar: [...] o Assistente Social atuará por meio de uma ação competente que auxi- lie a família a enfrentar esses conflitos, mas antes de abordarmos sobre sua atuação, cabe primeiramente salientar como o assistente social vê a família, ou seja, qual é o seu olhar sobre a mesma e sobre a situação em que se encontra. Assim o profissional traz a concepção de que a família é um núcleo de pes- soas unidas por laços de consanguinidade ou por afinidade, sendo um espa- ço extremamente importante para o desenvolvimento de cada um dos seus membros, além de ser um espaço que apresenta relações de amor, gratidão, agressividade, ódio, entre outros sentimentos. Para isso é necessário que o profissional tenha uma visão crítica sobre essa situação compreendendo quais são os determinantes desses problemas. Fonte: Santello et al. (2009, p. 73). BUSCANDO RESPOSTAS ÀS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E156 ■ Pergunte a seus pais e avós como era a estrutura familiar quando eles eram crianças, quais os valores eram pregados, como era a rotina e dinâ- mica familiar. ■ Que papéis cada membro da família assumia, qual a responsabilidade de cada um? A esposa, o pai, os filhos, os avós. ■ Como era encarada a separação entre os casais? Como era vista a mulher que se tornava mãe, quando era solteira? Enfim, como era entendida a família? A partir das informações coletadas trace um paralelo a partir das estruturas fami- liares atual e, se possível, elabore um quadro comparativo (antes e hoje) com as informações obtidas. Esse exercício permite a análise histórica e conjuntural, muito importante para compreensão de algumas situações atuais. Após o exercício, a seguir, é possível identificar os tipos de família, para esta leitura, usaremos como base a produção intitulada: “Famílias de crianças e adolescentes: diversidade e movimento” (BELO HORIZONTE, 1995, p. 27-28): 1. Nuclear simples: família em que o pai e a mãe estão presentes no domi- cílio; todas as crianças e adolescentes são filhos desse mesmo pai e dessa mesma mãe. Não há mais qualquer adulto ou criança (que não sejam filhos) morando no domicílio. 2. Monoparental feminina simples: família em que apenas a mãe está pre- sente no domicílio, vivendo com seus filhos, mas também, eventualmente, com outros filhos menores de idade sob sua responsabilidade. Não há mais nenhuma pessoa maior de 18 anos, que não seja filho, morando no domicílio. 3. Monoparental masculina (simples ou extensa): família em que apenas o pai está presente no domicílio vivendo com seus filhos e, possivelmente, com outros filhos menores de idade sob sua responsabilidade e/ou outros adultos sem filhos menores de 18 anos. 4. Nuclear extensa: família em que o pai e a mãe estão presentes no domi- cílio vivendo com seus filhos e outros menores sob sua responsabilidade e também com outros adultos, parentes ou não do pai e/ou da mãe. A Família Atingida pelas Questões Sociais – Breve Explanação Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 157 5. Monoparental feminina extensa: família em que apenas a mãe está pre- sente no domicílio, vivendo com seus filhos e outros menores de 18 anos sob sua responsabilidade e, também, com outros adultos, parentes ou não. 6. Família convivente: famílias que moram juntas no mesmo domicílio sendo ou não parentes. Cada família pode ser constituída por “pai-mãe- -filhos”, por “pai-filhos” ou por “mãe-filhos”. Outros adultos sem filhos, parentes ou não, podem também viver no domicílio. Nessa categoria foram também agrupadas as famílias compostas por duas ou mais gera- ções, desde que em cada geração houvesse pelo menos uma mãe ou um pai com filhos até 18 anos de idade. 7. Família nuclear reconstituída: família em que o pai e/ou a mãe estão vivendo em nova união, legal ou consensualmente, podendo também a companheira ou companheiro ter filhos com idade até 18 anos, vivendo ou não no domicílio. Outros adultos podem viver no domicílio. 8. Família de genitores ausentes: família em que nem o pai nem a mãe estão presentes, mas que existem outros adultos (tais como avós, tios) que são responsáveis pelos menores de 18 anos. 9. Família nuclear com crianças/adolescentes agregados: família em que o pai e a mãe estão presentes no domicílio com seus filhos e, também, com outros menores de 18 anos sob sua responsabilidade. Não há outro adulto morando no domicílio. As famílias apresentam hoje, sobretudo, pro- blemas de subsistência (ou seja de ordem econômicas) englobando aspectos relacio- nados à alimentação; à proteção/segurança; econômico-financeiros (renda, moradia, ves- tuário e saúde). Perceba o quanto as questões sociais atingem sempre o universo familiar. Logo, é necessário uma atenção especial no tratamento com as famílias, não a compreendendo como única responsável por seus problemas, ou como único ponto problemático na sociedade. BUSCANDO RESPOSTAS ÀS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E158 Sendo assim, para trabalharmos com famílias atingidas de diversas formas pelas questões sociais, precisamos estar atentos a alguns elementos, tais como: a. Enxergar as diferenças étnico-culturais presentes na sociedade brasileira e respeitá-las politicamente. b. Evitar os paradigmas de “família regular/estruturada X família irregular/ desestruturada”. c. Lançar mão de novos instrumentos de análise social para que se possa primeiro conhecer e depois traçar políticas públicas adequadas à realidade histórica concreta. d. Uma prática social e política que aponte caminhos mais eficientes (na formulação e na condução de políticas públicas que visem à condução de estratégias e de controle social numa ordem democrática), levando em consideração as diferenças étnico-culturais. A Prática Profissional e os Processos Familiares: Segundo Silva (1987, p. 145) “[...] a prática profissional, volta-se para orientações e prestação de serviço ou implantação de programas que beneficiam o grupo familiar”. A organização institucional trabalha com o modelo assistencial cuja preo- cupação central na resolução de problemas do indivíduo fragilizado (Ex.: criança violentada ou com necessidades especiais etc.) e não na perspectiva da intervenção familiar. Sabemos que este modelo, embora tenha cada vez mais recursos disponíveis têm uma leitura limitada das demandas que lhe são colocadas. Assim, os profissionais trabalham com as famílias no sentido de atender o objetivo da instituição tentando resolver o caso do usuário. Sem contar que muitas vezes são as mesmas famílias que circulam por diferentes institui- ções, levando para elas o mesmo usuário. E a trajetória se repete, a insti- tuição se preocupa em dar um atendimento específico não conseguindo perceber que é a famíliacomo um todo e não apenas um membro dela que necessita de atenção. Fonte: Machado (2004). Considerações Finais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 159 Diante disso, o assistente social trabalhará com a família e não só com seus membros em particular como menciona (WILLIAM, 1974, p. 103) “[...] o enfo- que principal deverá ser as necessidades de todo o grupo e as dificuldades de qualquer indivíduo em satisfazer e atender a essas necessidades”. De- vendo atuar na busca da resolução dos problemas enfrentados pelo grupo, levando em consideração os aspectos emocionais, culturais, financeiros e todo o contexto que envolve a família, além ter uma ação voltada na pers- pectiva de mudar essa realidade. Para isso, o profissional utilizará todo conhecimento e ações necessárias, como, orientações, elaboração e efetivação de programas e projetos, escla- recimentos, encaminhamentos, entre inúmeras outras ações que beneficie de fato o núcleo familiar, através de uma pratica competente e eficaz. É nesta perspectiva, então, que o Assistente Social deverá atuar na busca da resolução dos problemas, compreendendo que isso ocorre devido à situa- ção de vulnerabilidade que a família está, além das questões de valores que faz com que a mesma reproduza esse tipo de comportamento sobre os seus filhos e conseqüentemente eles também reproduzam. [...] Fonte: Santello (2009, p. 73-74). BUSCANDO RESPOSTAS ÀS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E160 CONSIDERAÇÕES FINAIS Estamos chegando ao fim de mais uma etapa, é hora de juntar as peças e mon- tar o quebra-cabeça, você é capaz de fazê-lo? Pense em tudo o que foi visto e comece este exercício de que lembre-se que não existem caixinhas no processo de formação, tudo está muito bem articulado. E é falando em articulação que fechamos esta unidade, lembre-se sempre, precisamos olhar o todo, sem per- der de foco o específico. A sociedade é complexa porque os homens são complexos, ao lidarmos com o usuário mais vulnerabilizado, não podemos deixar de analisar aquele indivíduo que está na outra ponta da linha, existe um ser dominado (excluído) porque há alguém que domina (exclui), e não precisamos prever ações de combate e enfre- amento para este processo. Discutimos, ao longo do livro, a relação estabelecida entre o Serviço Social no Brasil e a questão social, refletimos acerca do processo de intensificação da industrialização no país após a Revolução de 1930 e o consequente acirramento das relações sociais próprias do sistema capitalista que culminaram com o agra- vamento da questão social. Viu-se que foi nesse contexto que emergiu o Serviço Social e se desenvol- veram os primeiros campos de trabalho da profissão. Contemplaram-se ainda alguns pontos das origens da profissão, bem como o contexto histórico/social/ político/econômico da sociedade em que o Serviço Social sempre esteve inserido. Enfatizaram-se as configurações da questão social no Brasil, desde a década de 30, do século XX, (quando o Serviço Social foi aqui implantado) bem como as tentativas de enfrentamento dos problemas a ela relacionado, por meio da implantação de políticas sociais. Em um processo de avanços e recuos, que acom- panhou o movimento dinâmico da história e enfrentando muitos desafios, essa profissão institucionalizou-se em solo brasileiro, ocupando seu espaço na divi- são social do trabalho, próprio de uma sociedade capitalista. 161 1. Ao analisarmos as questões sociais e suas diversas expressões, podemos afir- mar que é na __________________ que a grande maioria delas causa grandes consequências. a. Justiça b. Igreja c. Família d. Infância e. Saúde 2. Ao falarmos em FAMÍLIA, analise as sentenças, a seguir, marcando V para verda- deiro e F para falso: I. Família pode ser considerada como um conjunto de pessoas que se acham unidas por laços consanguíneos, afetivos e ou de solidariedade, conforme ex- plicita a PNAS (2004, p. 41). II. O assistente social deve sempre pautar suas ações de acompanhamento à fa- mília, tendo por base a Família Padrão e Ideal: pai, mãe e filhos, pois somente assim é possível a plena felicidade e crescimento de todos. III. A família se (re)organizando de acordo com determinados momentos históri- cos, culturais, políticos, econômicos e sociais. IV. Pensar famílias de forma plural significa uma construção democrática basea- da na tolerância com a diferença. V. O homem se fixando na terra constrói casa, cria animais, começa ter proprie- dade. A mulher e os filhos passam a ser sua propriedade. a. V-V-V-V-V. b. V-F-V-V-V. c. V-F-V-F-V. d. F-V-F-V-F. e. V-V-V-F-F. 3. O assistente social é o profissional que deve primar pela busca da preservação, defesa e ampliação dos direitos humanos e a justiça social, para tanto deve pri- viligiar: 162 a. Uma intervenção investigativa, por meio da pesquisa e análise da realidade social. b. Atuar na formulação, execução e avaliação de serviços, programas e políticas sociais. c. Atuar em todas as formas que reforcem fielmente e, incisivamente, o aumen- to do grupo em situação de vulnerabilidade social. d. Uma ação interventiva, no sentido de policiar toda forma de mau uso dos re- cursos por parte da clientela vulnerabilizada, evitando, dessa maneira, o uso inadequado com superfluos. e. Estão corretas apenas as alternativas A e B. 4. As Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social – ABEPSS, (2002) dão sus- tentação a uma formação profissional e visam possibilitar ao assistente social a assinale V para verdadeiro e F para falso: ( ) Apreensão crítica do processo histórico. ( ) Investigação sobre a formação histórica e os processos sociais contempo- râneos que conformam a sociedade brasileira, no sentido de apreender a constituição e desenvolvimento do capitalismo e do Serviço Social no país. ( ) Apreensão do significado social da profissão desvelando as possibilidades de ação contidas na realidade. ( ) Apreensão das demandas - consolidadas e emergentes - postas ao Serviço Social via mercado de trabalho, visando formular respostas profissionais que potenciem o enfrentamento da questão social, considerando as novas arti- culações entre o público e o privado. ( ) Exercício profissional cumprindo as competências e atribuições previstas na Legislação Profissional em vigor e que atenda ao exigências do Código de Ética Profissional. a. V-V-V-V-V. b. V-V-V-V-F. c. V-V-V-F-V. d. V-V-F-V-V. e. V-F-F-V-V. 163 5. A unidade nos apresentou os impactos que os problemas sociais têm sobre as famílias, provocou-nos para a reflexão acerca da contradição entre capital X tra- balho. Sendo assim, para trabalharmos com as famílias atingidas de diversas for- mas pelas questões sociais, precisamos estar atentos a alguns elementos. Ana- lise as sentenças a seguir marque V para verdadeira e F para falsa e assinale a alternativa correta: ( ) Enxergar as diferenças étnico-culturais presentes na sociedade brasileira e respeitá-las politicamente. ( ) Evitar os paradigmas de “família regular/estruturada X família irregular/ de- sestruturada”. ( ) Lançar mão de novos instrumentos de análise social para que se possa pri- meiro conhecer e depois traçar políticas públicas adequadas à realidade his- tórica concreta. ( ) Uma prática social e política que aponte caminhos mais eficientes (na for- mulação e na condução de políticas públicas que visem a condução de es- tratégias e de controle social numa ordem democrática), levando em consi- deração as diferençasétnico-culturais. a. V-V-V-V. b. V-F-V-V. c. V-V-V-F. d. V-V-F-V. e. F-F–F-V. 164 FAMÍLIAS VULNERAVÉIS E A PROTEÇÃO SOCIAL A pobreza e as situações de grave miséria econômica trazem, em seu bojo, situações de extrema vulnerabilidade social caracterizada pela vida em condições adversas, esface- lando ou ainda impedindo laços de convivência social e familiar, levando ao abandono, ausência de cuidados e dos vínculos relacionais, devido ao cotidiano de luta pela sobre- vivência. Compreendemos que as desigualdades de renda impõem sacrifícios e renúncias para toda a família. Petrini (2003) afirma que, à medida que a família encontra dificuldades para cumprir satisfatoriamente suas tarefas básicas de socialização e de amparo/servi- ços aos seus membros, criam-se situações de vulnerabilidade. A vida familiar, para ser efetiva e eficaz, depende de condições para sua sustentação e manutenção de seus vín- culos. A situação socioeconômica é o fator que mais tem contribuído para o esfacela- mento da família, repercutindo diretamente e de forma vil nos mais vulneráveis desse grupo; os filhos (crianças sem creche, escola; adolescentes, jovens sem expectativas), os idosos, as pessoas com deficiência, os sem trabalho, vítimas da injustiça social veem-se ameaçados e violados em seus direitos fundamentais. A exclusão social, a pobreza, a miséria, a falta de perspectiva de um projeto existencial que vislumbre a melhoria da qualidade de vida impõem a toda a família uma luta desi- gual e desumana pela sobrevivência. A questão da família pobre aparece como a face mais cruel da disparidade econômica e da desigualdade social. Esse estado de privação de direitos atinge todos os membros da família de forma profunda: incita e precipita a ida das crianças para a rua e, na maioria das vezes, o abandono da escola, a fim de ajudar no orçamento familiar, comprometen- do, de forma significativa, o desenvolvimento das crianças; provoca o abandono dos idosos, dentre outras mazelas, o que favorece o enfraquecimento das relações, sejam afetivas, sociais, econômicas ou culturais. [...]. A ausência do cumprimento da legislação de proteção social (a qual muitas vezes se atém apenas ao plano legal), não efetivamente aplicada ao cotidiano dos cidadãos, aliada à ausência de políticas públicas de apoio, remete muitas famílias à condição de vulnerabilidade, às quais nem sempre conseguem cumprir sua função provedora e pro- tetora, acarretando muitas vezes na perda da convivência familiar. “O Estado reduz suas intervenções na área social e deposita na família uma sobrecarga que ela não consegue suportar tendo em vista sua situação de vulnerabilidade socioeconômica” (GOMES; PE- REIRA, 2005, p. 361). A convivência constitui condição relevante para a proteção, crescimento e desenvol- vimento dos membros da família, assim como são importantes, também, as transfor- mações impostas à família, em decorrência do sistema socioeconômico e político do capitalismo, do crescimento demográfico da sociedade contemporânea e de mudanças em sua própria composição, seja com crescimento de famílias monoparentais, casais sem filhos, casais do mesmo sexo com ou sem filhos, diminuição das famílias formadas 165 por casais com filhos, embora este último tipo ainda seja hegemônico na contempora- neidade [...]. Kaloustian e Ferrari (1994, p.11) elegem a família como espaço imprescindível para a ga- rantia da sobrevivência e da proteção integral de seus membros, independentemente da configuração familiar ou da forma como esta vem se estruturando. A família propicia aportes afetivos e, sobretudo, materiais necessários ao desenvolvimento e bem-estar dos seus componentes. Ela desempenha um papel primordial na educação formal e in- formal; é no seu espaço que valores éticos e morais são introduzidos e incorporados, onde se fortalecem os laços de solidariedade. Sob a análise da questão social, é importante observar que a sua passagem do domínio privado, caracterizado pela relação capital/trabalho, para a esfera pública, foi promovi- da pelas lutas sociais, as quais a transformaram em uma questão política, e isso exigiu a intervenção do Estado no reconhecimento de novos atores sociais, como sujeitos de direitos e deveres, e na viabilização do acesso a bens e serviços públicos pelas políticas sociais. Conforme Pastorini (2004, p.103), A questão social na sociedade capitalista tem sua gênese nos problemas sociais a serem resolvidos nas diferentes formações sociais pré-capitalis- tas, mas sua origem data da segunda metade do século XIX, quando a classe operária faz sua aparição no cenário político na Europa Ocidental; em definitivo quando a questão social torna-se uma questão eminente- mente política. Nos termos assim colocados, destaca-se que a análise da questão social não é compre- endida, simplesmente, como sinônimo de “problema social” ou de pobreza que remete ao indivíduo isoladamente ou a certos grupos sociais a responsabilidade ou culpa pelo conjunto de carências e privações por eles vividas. Assim, considerando que a pobreza é apenas uma das diversas expressões da questão social, pondera-se pertinente a reflexão sobre a gravidade do quadro de pobreza e mi- séria, no Brasil, e sua influência no campo social e, principalmente, na área de atuação junto às famílias, na qual as políticas públicas ainda se ressentem de uma ação mais expressiva. Sobre esta questão Yazbek (2003, p. 62) definiu que “[...] são pobres aqueles que, de modo temporário ou permanente, não têm acesso a um mínimo de bens e recursos sendo, portanto, excluídos em graus diferenciados da riqueza social”. O entendimento da autora corrobora a assertiva de que a pobreza não é uma expressão da incapacidade dos indivíduos (e suas famílias) em prover sua existência, mas está dire- tamente vinculada ao não acesso a bens e serviços indispensáveis ao desenvolvimento do ser humano, apontando para o aguçamento dos conflitos sociais, decorrentes da re- lação dialética entre capital e trabalho. Fonte: Cronemberger e Teixeira (2012, p. 102-106). MATERIAL COMPLEMENTAR A Família como Espelho: um estudo sobre a moral dos pobres Cynthia Anderser Sarti Editora: Cortez Sinopse: Este livro focaliza a sociedade brasileira a partir de um de seus segmentos, os pobres. Procura entender sua moralidade, cujas raízes foram buscadas nas condições particulares em que vivem e na história da qual são herdeiros. Visa demonstrar que “ser pobre” e “ser trabalhador” podem comportar valores positivos. Crianças Invisíveis O fi lme apresenta a realidade vivida por crianças em vários países do mundo (África, Sérvia- Montenegro, Estados Unidos, Brasil, Inglaterra, Itália e Japão), de forma bastante clara, é possível perceber diversas expressões da questão social e como elas se inter-relacionam e impactam na vida das crianças. Cada história retrata a realidade do país onde foi fi lmado. Crianças Invisíveis O fi lme apresenta a realidade vivida por crianças em vários países do mundo (África, Sérvia- Montenegro, Estados Unidos, Brasil, Inglaterra, Itália e Japão), de forma bastante clara, é possível perceber diversas expressões da questão social e como elas se inter-relacionam e impactam na vida das crianças. Cada história retrata a realidade do país onde foi fi lmado. REFERÊNCIAS 167 ALENCAR, M. M. T. (orgs.). Família & Famílias: práticas sociais e conversações con- temporâneas. Lumen Juris editora; 2010. BELO HORIZONTE. Associação Municipal de Assistência Social. Famílias de crianças e adolescentes: diversidade e movimento. AMAS: Belo Horizonte, 1995. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Lei Orgânica da Assistência Social (PNAS). Brasília: MDS\SNAS, 1993. CRONEMBERGER, I. H. H. M.; TEIXEIRA, S. M. Famílias Vulneráveis como Expressão da QuestãoSocial e à Luz da Política de Assistência Social. 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Contudo, sabemos que essa ideia está muito distante de acontecer, pois, diariamente, vemos que o agravamento e a intensificação da questão social vêm assumindo novas roupa- gens, uma vez que a matriz fundante continua a mesma, apenas incorpora a si novos conflitos. Você que está no processo de formação profissional, buscando se tornar um ótimo assistente social, não pode deixar que o mundo caminhe e que você ape- nas seja mais um “vivente”, você precisa estar “antenado”, “ligado” em tudo o que está acontecendo e, principalmente, saber processar e refletir sobre tudo aquilo que é apresentado pelo diversos meios de comunicação atual. Tudo o que acontece ao seu redor ajuda a formar a sua visão de homem e de mundo, elemento de supraimportância para o exercício profissional do assis- tente social. Como futuro(a) assistente social não pode achar que apenas o conhecimento advindo das aulas bastam, eles apenas norteiam o nosso agir, porém, a socie- dade e toda sua dinâmica diária nos mostram como tudo acontece, é o dia a dia (cotidiano) que exige de nós a busca por soluções, saídas, que visem a raiz do problema, que nos pede enfrentamento eficaz e não apenas paliativo. Pare e pense: como estou me preparando para ser um bom profissional? Como percebo a minha preparação profissional? Consigo visualizar os campos de atuação? Consigo estabelecer relações entre as teorias sociais que norteiam a profissão e a prática profissional? O objetivo de se resgatar questões históricas e seus elementos é para que con- tribuam para discussões atuais, não se discute sobre aquilo que não conhece. A partir dos estudos somos capazes de buscar respostas aos seus questionamen- tos em relação às mudanças projetadas para o futuro.