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AtuacaoServicoSocial_Costa_2019 (1)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS 
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
PRISCILA CARLOS COSTA 
 
 
 
 
 
 
 
 
ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO GRUPO DE APOIO À CRIANÇA COM 
CÂNCER- GACC RN: notas sobre o terceiro setor 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL/RN 
2019 
2 
 
PRISCILA CARLOS COSTA 
 
 
 
 
 
 
ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO GRUPO DE APOIO À CRIANÇA COM 
CÂNCER- GACC RN: notas sobre o terceiro setor 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao curso de Serviço Social 
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 
como requisito para obtenção do título de bacharel em 
Serviço Social. 
Orientadora: Prof.ª Drª. Ilena Felipe Barros 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL/RN 
2019 
Costa, Priscila Carlos.
 Atuação do serviço social no grupo de apoio à criança com
câncer - GACC RN: notas sobre o terceiro setor / Priscila Carlos
Costa. - 2019.
 65f.: il.
 Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais
Aplicadas, Departamento de Serviço Social. Natal, RN, 2019.
 Orientador: Prof.ª. Drª. Ilena Felipe Barros.
 1. Serviço social - Monografia. 2. Questão Social -
Monografia. 3. Neoliberalismo - Monografia. 4. Criança com
câncer - Monografia. I. Barros, Ilena Felipe. II. Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
RN/UF/Biblioteca do CCSA CDU 364:61
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA
Elaborado por Eliane Leal Duarte - CRB-15/355
3 
 
TERMO DE APROVAÇÃO 
 
ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO GRUPO DE APOIO À CRIANÇA COM 
CÂNCER- GACC RN: notas sobre o terceiro setor 
 
Monografia apresentada ao curso de Serviço Social da 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito 
para obtenção do título de bacharel em Serviço Social. 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
Aprovada em _____/_____/_____ 
 
____________________________________________________________ 
Profa. Dra. Ilena Felipe Barros 
Orientadora – UFRN 
 
 
____________________________________________________________ 
Profa. Drª. Miram de Oliveira Inácio 
Examinador Interno – UFRN 
 
 
____________________________________________________________ 
Assistente Social Ana Carolina Galvão 
Examinador Externo – CEDECA CASA RENASCER 
 
 
 
 
 
 
 
 
Natal, 25 de junho de 2019 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a todas as crianças e 
adolescentes que fazem parte do Grupo de Apoio 
à Criança com Câncer, bem como aos seus 
familiares e acompanhantes que, em meio às 
adversidades, nos inspiram e nos fazem sonhar 
com a esperança de dias mais felizes. Obrigada!!! 
 
 
5 
 
AGRADECIMENTOS 
 
É em meio a um misto de sentimentos que escrevo essas linhas em agradecimento 
a todos aqueles que estiveram ao meu lado durante a Graduação, sobretudo neste último 
semestre. Aqueles que me são mais próximos sabem o quanto foi difícil concluir esta 
etapa, considerando que meu desejo era que tivesse sido bem mais tranquilo, no entanto, 
foram meses repletos de dúvidas acerca da produção deste trabalho e se poderia dar 
continuidade ou não a ele neste semestre. 
Embora, o mesmo tenha sido digitado à base de emoções como angústia, medo, 
ansiedade, etc. e etc., produzir sobre um tema tão relevante me preenche de ânimo para 
encarar os desafios vindouros que a profissão irá me proporcionar. Bem, aqui é um espaço 
para agradecimento, então vamos lá! 
Falar sobre o GACC causa em mim uma alegria que realmente não consigo 
descrever com poucas palavras. Lá eu tive a minha primeira experiência profissional 
formal. A instituição sempre representou para mim não um local de tristeza, de dor ou 
sofrimento. Embora estivéssemos todos preocupados com a situação das famílias 
abrigadas e de seus filhos no acompanhamento em combate ao câncer, o grupo sempre 
foi referência de esperança, fé e coragem. 
Ali existe uma corrente construída por mãos que tornam a instituição mais que um 
espaço para hospedagem ou abrigo. A instituição tem cheiro e jeito de casa e é desde sua 
fundação chamada pelos mais antigos de “Lar Esperança”. Lá eu pude conhecer e admirar 
voluntários, funcionários, mães e principalmente as crianças. 
 Com o passar do tempo, retorno ao GACC, agora na condição de estagiária, sendo 
acompanhada pela Assistente Social e orientadora de campo Marici Souza, à qual eu terei 
sempre gratidão pelo apoio, dedicação e generosidade imensas. 
Enfim, a inspiração desta monografia vem do desejo de compartilhar a experiência 
gerada a partir de aspectos não apenas teóricos, mas da vivencia prática que me foi 
permitida através de motivos objetivos e subjetivos. 
Meus agradecimentos mais profundos também são dedicados aos professores que 
dedicaram paciência e incentivo. Acredito que não pode haver motivo maior para a 
dedicação que os mesmos demonstram, se não for amor ao que fazem. Vi em meio ao 
período acadêmico diversas demonstrações de luta e coragem e não poderia deixar de 
6 
 
citar, principalmente no último ano, em que o Brasil se encontrava sobre um processo de 
polarização política tão extremos e ameaças aos direitos, sobretudo à educação. 
Gostaria de agradecer à professora Cristina Dias, que estava conosco durante as 
marchas pré-eleições 2018. Obrigada à professora Rosangela Alves e ao professor 
Roberto Marinho, que tiveram bastante paciência comigo quando eu precisei contar com 
eles, em meio às minhas dificuldades. Obrigada à professora Miriam de Oliveira, sempre 
disposta a ouvir e orientar de forma flexível e paciente. Obrigada a minha orientadora 
professora Ilena Barros que, mesmo em meio a diversas outras atividades manteve a 
esperança em mim, mantendo o bom humor e a atenção. Quero agradecer também à 
equipe do Núcleo de Apoio ao Discente (NADIS). O evento proporcionado pelo núcleo 
para orientações do TCC foi um divisor de aguas para mim. 
Hoje me encontro aqui muito cansada, com algumas olheiras, à base constante de 
café, porém, me sinto feliz, sabendo que estou dando o meu melhor. Sim, gostaria de ter 
me dedicado mais e poderia ter feito com maior tranquilidade se tivesse me antecipado. 
É uma experiência que irei usar como aprendizado para a vida. 
Esse sonho está tomando proporções reais graças à dedicação de pessoas 
completamente especiais. Dentre eles, preciso citar meu companheiro e namorado 
Máurison Silva. Obrigada por cuidar de mim (sim, estou escrevendo isso em meio às 
lagrimas). Você é o meu presente! 
Aos meus pais, Ivandi e Joana Darc, minhas maiores lembranças da infância é do 
incentivo aos estudos que vocês sempre me deram e que continuou na fase adulta. Esta 
conquista pertence a vocês. Obrigada por cuidarem do meu filho. Por dedicarem o tempo 
e o amor de vocês a ele. Enquanto eu estava em uma rotina de trabalho e estudos, 
permanecia tranquila, pois não havia lugar melhor no mundo para ele estar, senão com 
vocês. Amo vocês! 
A Davi, meu filho. Eu agradeço ao Universo pela bondade infinita de me 
presentear com a missão de ser sua mãe. Como eu admiro você, meu pequeno gigante. 
Obrigada por me compreender, me apoiar, me ensinar tanto. Eu sou seu ninho e ficarei 
sempre observando você voar, vibrando com suas voltas e agradecendo em cada pouso 
seu. Amo você! 
Obrigada principalmente a bondade de todo o amor que rege o Universo. Pela 
dádiva da saúde e pela dádiva da fé. 
7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Eu apenas queria que você soubesse 
Que aquela alegria ainda está comigo 
E que a minha ternura não ficou na estrada 
Não ficou no tempo, presa na poeira. 
 
Eu apenas queria que você soubesse 
Que esta menina hoje é uma mulherE que esta mulher é uma menina 
Que colheu seu fruto, flor do seu caminho. 
 
Eu apenas queria dizer 
A todo mundo que me gosta 
Que, hoje, eu me gosto muito mais 
Porque me entendo muito mais também. 
 
E que a atitude de recomeçar 
é todo dia, toda hora 
é se respeitar na sua força e fé 
é se olhar bem fundo até o dedão do pé. 
 
Eu apenas queria que você soubesse 
Que essa criança brinca nesta roda 
E não teme o corte das novas feridas 
Pois tem a saúde que aprendeu com a vida. 
 
(Gonzaguinha) 
8 
 
RESUMO 
 
Este trabalho tem por finalidade analisar a atuação do Serviço Social em uma Instituição 
de acolhimento a crianças com câncer e suas famílias, a partir do contexto do terceiro 
setor. O pano de fundo utilizado para o desenvolvimento desta pesquisa é o “Terceiro 
Setor” diante de um contexto neoliberal que gera a fragmentação das políticas sociais 
enquanto justifica e legitima a redução do Estado em intervir na área social. As 
transformações societárias no mundo, advindas da expansão do capitalismo e as 
implicações pós-revolução industrial, resultou na gênese e desenvolvimento da questão 
social e suas múltiplas expressões. Os lócus da pesquisa foi a Organização Não 
Governamental Grupo de Apoio à Criança com Câncer, no qual realizei meu estágio 
curricular. A pesquisa é do tipo qualitativo, abordando a revisão de literatura e pesquisa 
documental na Instituição. Nas conclusões, a pesquisa revelou a influência das 
políticas neoliberais no âmbito da efetivação das políticas sociais, o que implica na perda 
dos direitos, sobretudo os usuários em situação de maior vulnerabilidade social. As 
consequências desse processo também recaem sobre o trabalho profissional do Serviço 
Social. 
 
Palavras chaves: Questão Social; Neoliberalismo; Criança com câncer; Serviço Social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
ABSTRACT 
 
This study aims to analyze the performance of the Social Service in an institution to host 
children with cancer and their families, from the context of the third sector. The 
background to the development of this research is the "Third Sector" in the face of a 
neoliberal context that generates the fragmentation of social policies while justifying and 
legitimizing the reduction of the State in intervening in the social area. The societal 
transformations in the world, arising from the expansion of capitalism and the post-
industrial revolution implications, resulted in the genesis and development of the social 
question and its multiple expressions. The locus of the research was the Non-
Governmental Organization Child Support Group with Cancer, in which I completed my 
curricular internship. The research is of the qualitative type, approaching the review of 
literature and documentary research in the Institution. In the conclusions, the research 
revealed the influence of neoliberal policies in the scope of social policies, which implies 
the loss of rights, especially users in situation of greater social vulnerability. The 
consequences of this process also fall on the professional work of Social Work. 
 
Keywords: Social Issues; Neoliberalism; Child with cancer; Social service. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
NADIS- Núcleo de Apoio ao Discente 
ONG - Organização Não Governamental 
GACC - Grupo de Apoio à Criança com Câncer 
IDH - Índice de Desenvolvimento Humano 
ONU - Organização das Nações Unidas 
PNAD - Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios 
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
IPA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada 
IAPS - Instituto de Aposentadoria e Pensões 
SUS - Sistema Único de Saúde 
LOS - Leis Orgânicas 
UNACON - Unidades de Assistência de Alta Complexidade 
PRAE - Programa de Acessibilidade Especial Porta a Porta 
SEMOB - Secretaria de Mobilidade Urbana 
HIVS - Hospital Infantil Varela Santiago 
CNAS - Conselho Nacional de Assistência Social 
INCA - Segundo o Instituto Nacional do Câncer 
OMS - Organização Mundial da Saúde 
LOAS - Lei de Organização da Assistência Social 
INCA - Instituto Nacional do Câncer 
OMS - Organização Mundial da Saúde 
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente 
PNAS - Política Nacional de Assistência Social 
 
 
 
 
 
11 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................... 
 
2 CONSIDERAÇÕES SOBRE CAPITALISMO E QUESTÃO SOCIAL.................... 
2.1 A gênese da Questão Social........................................................................................... 
2.1.1 O ideário do liberalismo: do surgimento ao neoliberalismo atual.............................. 
2.2 Índices da Questão Social no Brasil................................................................................ 
2.3 O Terceiro Setor em debate............................................................................................ 
2.4 A Política Nacional de Oncologia.................................................................................. 
 
3 A ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO GRUPO DE APOIO À CRIANÇA 
COM CÂNCER (GACC-RN) .......................................................................................... 
3.1 Caracterizações do GACC-RN....................................................................................... 
3.2 Breves considerações sobre a atenção da família no tratamento da criança com 
câncer................................................................................................................................... 
3.3 A Atuação do Serviço Social no GACC-RN................................................................. 
 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................... 
REFERÊNCIAS................................................................................................................. 
 
12 
 
15 
15 
22 
27 
31 
39 
 
 
45 
45 
 
48 
52 
 
61 
63 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 1.INTRODUÇÃO 
 
 
 A presente monografia tem por objetivo geral analisar a atuação do Serviço Social 
em uma instituição de acolhimento a crianças com câncer e suas famílias, a partir do 
contexto do terceiro setor. 
A motivação por esse tema originou-se na experiência de Estágio Obrigatório em 
Serviço Social na Organização Não Governamental (ONG) Grupo de Apoio à Criança 
com Câncer (GACC), situado na Rua Floriano Peixoto, no número 383, no bairro de 
Petrópolis, na cidade do Natal, Rio Grande do Norte. No período de agosto/2017 a 
julho/2018, foi possível vivenciar o cotidiano de uma equipe multiprofissional no 
atendimento a crianças e adolescentes em tratamento oncológico, assim como 
acompanhar a rotina das famílias desde o período de diagnóstico e tratamento da doença. 
No GACC, foi possível conhecer o trabalho da assistente social, no âmbito da 
assistência social, buscando a compreensão do papel da profissão em uma ONG 
filantrópica inserida no Terceiro Setor e discutir as políticas sociais destinadas aos 
usuários diante da conjuntura neoliberal em que a sociedade brasileira se encontra. As 
demandas de serviços que as famílias acolhidas pelo GACC enfrentam são inúmeras 
expressões da questão social e a busca pelo apoio da instituição se dá na perspectiva de 
que suas necessidades sejam sanadas ou ao menos minimizadas. 
Com base nesses conhecimentos, buscaremos evidenciar os objetivos específicos desse 
trabalho, que visa discutir o papel do terceiro setor na efetivação de políticas sociais e 
no contexto neoliberal, apresentar a Política Nacional de Oncologia numa perspectiva do 
direito humano à saúde e caracterizar o trabalho do GACC e a atuação do Serviço Social 
no atendimento à criança com câncer. 
A partir desta pesquisa, procurei me debruçar sobre os desafios e possibilidadesno atendimento às famílias assistidas pelo GACC, considerando o aspecto do direito à 
assistência a partir da ótica do Terceiro Setor. 
Na busca de alcançar o objetivo apresentado, foi utilizado nesta monografia o 
método de pesquisa qualitativa, abordando a revisão de literatura e pesquisa documental 
da Instituição lócus do Estágio em Serviço Social. O levantamento bibliográfico 
possibilitou um amplo leque para a pesquisa, proporcionando uma maior compreensão 
13 
 
acerca do assunto. O modo de pesquisa qualitativa refere-se a um conjunto de técnicas 
interpretativas, objetivando a decodificação e descrição dos componentes de um sistema 
complexo. Segundo Minayo (2002), a pesquisa qualitativa responde a questões muito 
particulares e tem um grau de realidade que não pode ser calculado, enquanto Gil (2008) 
descreve a pesquisa qualitativa como uma relação dinâmica entre o real e o sujeito, um 
vínculo que não pode ser dissociado entre o mundo objetivo e subjetivo dos sujeitos que 
não podem ser limitados a números. Para ambos os autores, a pesquisa qualitativa é a 
análise do fenômeno social como um todo, onde é necessária a visualização do contexto 
a partir de estudos no local de origem dos dados descritivos, no qual o pesquisador 
procura interpretar a situação estudada. 
A diferença entre qualitativo-quantitativo é de natureza. Enquanto 
cientistas sociais que trabalham com estatística apreendem dos 
fenômenos apenas a região “visível, ecológica, morfológica e 
concreta”, a abordagem qualitativa aprofunda-se no mundo dos 
significados das ações e relações humanas, um lado não perceptível e 
não captável em equações, médias e estatísticas (MINAYO, 2002, p. 
22). 
Diante do que foi apresentado, faremos no segundo capítulo desta dissertação uma 
breve contextualização acerca da gênese da Questão Social, ao passo que discorreremos 
brevemente sobre a inserção do capitalismo na sociedade, através do processo de 
expropriação da classe camponesa, acarretando o êxodo rural, o que deu início ao 
processo de pauperização da classe trabalhadora e ao surgimento do que Karl Marx 
denomina de proletariado. 
Compreendendo as transformações ocasionadas na sociedade europeia, assim 
como nos Estados Unidos, buscaremos contribuir acerca do entendimento da conjuntura 
que se instalava na sociedade brasileira desde sua colonização, buscando observar as 
dicotomias associadas aos aspectos societários tão distintos entre países em processo de 
industrialização. Nesse contexto, o Brasil, ainda em sua formação histórico escravista e 
de desenvolvimento tardio, estava longe de acompanhar as transformações econômicas, 
políticas, culturais e societárias ocorridas em grande parte do mundo. Adentraremos 
brevemente sobre os impactos pós Segunda Guerra Mundial, a partir dos quais, o 
capitalismo experimentou a intervenção do Estado na economia apresentada a fim de 
superar as transformações ocorridas com a destruição pós-guerra. 
14 
 
Ainda neste capítulo, trataremos de problematizar a inserção do liberalismo no 
Brasil desde sua primeira etapa, o projeto neoliberal e os impactos que afetam a sociedade 
contemporânea. Ainda neste mesmo cenário, buscaremos realizar uma leitura da trajetória 
do Terceiro Setor, inserido sob a ótica da sociedade brasileira. 
Diante desta problemática, as demandas de ações e políticas sociais são vistas 
como de fundamental importância para a classe trabalhadora, sobretudo para a parte da 
sociedade que se encontra em situação de vulnerabilidade, devido à desigualdade e 
exclusão social. 
Traremos uma concisa exposição de dados obtidos através da Organização das 
Nações Unidas, com a finalidade de apresentar aspectos e índices da desigualdade no 
país, o que comprova a ausência e ou ineficiência das políticas destinadas à assistência da 
população mais pobre. 
No terceiro capítulo, apresentaremos o cenário da Organização Não 
Governamental Grupo de Apoio à Criança com Câncer (GACC), sua história, 
características físicas, serviços e benefícios prestados aos usuários. Faremos também uma 
breve abordagem sobre as famílias acolhidas pelo GACC, qual o papel e importância do 
vínculo familiar durante o período de tratamento das crianças e adolescentes e quais as 
compreensões que as famílias possuem sobre os direitos do paciente com câncer e as 
políticas que podem minimizar as dificuldades e contribuir com a qualidade de vida da 
família. Para finalizar, exibiremos a atuação do Serviço Social no GACC e seu 
compromisso com a instituição e com os sujeitos de direito que buscam o apoio da 
mesma. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
2 – CONSIDERAÇÕES SOBRE CAPITALISMO E QUESTÃO SOCIAL 
2.1 - A Gênese da Questão Social 
 
De acordo com Santos (2012), para compreender a gênese da questão social, é 
necessário um esforço de uma delicada análise, visto que não é razoável afirmar com 
precisão uma data ou um momento exato em que o termo surgiu. Podemos afirmar que o 
período histórico a partir de 1830 contribuiu para essa nova forma de olhar a sociedade. 
Assim como a afirmação Hobsbawm (2005, p. 162, apud SANTOS, 2012, p.30), 
“[...] qualquer que seja o aspecto da vida social que avaliarmos, 1830 determina um ponto 
crítico[...]. Ele aparece com igual proeminência na história da industrialização e da 
urbanização, na história das migrações humanas, tanto sociais como geográficas, e ainda 
na história das artes e da ideologia. [...]1830 determina uma inovação ainda mais radical 
na política: o aparecimento da classe operária como uma força política autoconsciente 
e independente na Grã-Bretanha e na França. [...]na Grã-Bretanha e na Europa ocidental 
em geral, esse ano determina o início daquelas décadas de crise no desenvolvimento da 
nova sociedade que se concluem com a derrota das revoluções de 1848 e com o gigantesco 
salto econômico depois de 1851. ” 
Santos (2012) afirma que para compreendermos a concepção do capitalismo e as 
consequências da crescente pauperização que a sociedade do século XIX vivenciou, é 
necessário que tenhamos uma ideia mínima do que Karl Marx categorizou como 
“acumulação primitiva do capital”, a “pré-história do capitalismo”, o processo que se 
deu entre os séculos XV e o XVI. Essas transformações iniciaram-se com o processo de 
expropriação. 
Segundo a autora, além da sua privilegiada localização, a Inglaterra também 
possuía uma vasta quantidade de matéria prima, como minérios, o que contribuiu para a 
produção de ferro, considerado de fundamental importância para o avanço da tecnologia 
e para a produção de maquinário que seria utilizado em grandes proporções nos anos 
vindouros. 
A propriedade territorial era comumente pertencente aos senhores nobres, que 
permitiam aos servos arar a terra e, assim, a maior parte do cultivo era devolvida ao senhor 
feudal e a pequena parte do servo era utilizada em troca de serviços e para pagamento de 
tributos. 
16 
 
Apesar dos servos serem explorados (diferentemente do modelo de escravidão 
posteriormente adotado no Brasil) os camponeses, nas sociedades europeias, possuíam 
uma dívida com os donos da terra, a qual era “emprestada” para que pudessem cultivar 
meios para sua subsistência e ali morarem. Nesta troca, o servo teria uma dívida que seria 
paga através de impostos e lhe seria entregue parte da produção cultivada nessa mesma 
terra. 
 Como afirma Netto e Braz (2010), 
A condição servil dos camponeses era muito distinta da condição dos 
escravos – embora duramente explorados (não só pelo dever do trabalho 
nas terras do senhor, mas ainda por inúmeros tributos, inclusive o 
dízimo recolhido pela Igreja), dispunham nas glebas e nas terras 
comunais. A economia do feudalismo era essencialmente rural e 
autárquica: cada feudo compunha-se de uma área de terra de extensão 
variável, envolvendo uma ou mais aldeias, e sua produção era destinada 
especialmente ao autoconsumo. À diferença da relaçãoque o escravo 
mantinha com o seu proprietário, a relação entre o servo e o senhor 
feudal implicava formalmente uma série de compromissos mútuos – 
a prestação de serviços pelos servos, proteção da vida do servo pelo 
senhor. (NETTO; BRAZ, 2010, p.69). 
Conforme Santos (2012), a política de cercamentos foi um método encontrado 
pelo trono, já que a terra passou a ser compreendida como um bem de produção. A 
nobreza rural estabeleceu as terras como suas, cercando as propriedades e introduzindo 
ali uma nova forma de conduzir a reprodução, uma estratégia formulada também com o 
objetivo de excluir os trabalhadores de seu meio de sustento. 
 Por meio da autorização do Governo inglês, os camponeses foram retirados de 
suas terras para que os grandes proprietários estabelecessem sua criação e reprodução de 
animais, assim como o cultivo do algodão, a fim de serem comercializados para as 
indústrias de tecido que se encontravam em ascensão. 
Assim, como se refere Huberman, (1976, p. 114, apud SANTOS, 2012, p. 31). 
“[...] como o preço da lã subira (a lã era a principal exportação da Inglaterra), muitos 
senhores viram uma oportunidade de ganhar mais dinheiro da terra, transformando-a de 
terra cultivada em pasto de ovelhas [...] enquanto isso significava mais dinheiro, 
significava também a perda do emprego e do meio de vida dos lavradores que haviam 
ocupado a terra que passava a ser cercada. Para cuidar de ovelhas, é necessário um número 
de pessoas menor do que para cuidar de uma fazenda e os que sobravam ficavam 
desempregados. ” 
17 
 
A política dos cercamentos foi um método bastante conveniente para a categoria 
de investidores da época que objetivavam “adequar” a economia inglesa, adotando a 
estratégia da utilização das propriedades camponesas e submetendo essa população à 
exploração de sua força de trabalho, de modo que ela já não possuía mais nenhum meio 
de sustento, pois havia sido lhes tirada a terra. 
Através da análise marxiana, Fontes (2010) afirma, 
[...] a expansão da expropriação dos recursos sociais de produção não 
diz respeito apenas à expropriação da terra, de forma absoluta, mas à 
supressão das condições dadas de existência dos trabalhadores, e sua 
consequente inserção, direta e mediada pela tradição, nas relações 
mercantis (e no mercado de força de trabalho) (FONTES, 2010, p. 89). 
A partir dessas transformações societárias, houve um deslocamento da classe 
camponesa para as áreas urbanas em busca de trabalho, fenômeno esse denominado de 
“Êxodo Rural”, o que ocasionou um contingente que tornaria sua mão de sua obra em 
mercadoria, onde eram submetidos a salários irrisórios e condições precárias de trabalho, 
o que se transformaria em breve em uma nova categoria social, o proletariado. 
Sobre isso, Lessa (1999), traz uma afirmação sobre o capital, 
[...] o capital é uma forma de propriedade privada que não pode deixar 
de se expandir. Diferente da propriedade feudal, ou da propriedade de 
escravos, que poderia permanecer por séculos sem alterações 
significativas, o capital é uma forma de riqueza que apenas pode existir 
se servir para fazer negócios cada vez mais lucrativos (LESSA, 1999, 
p.30). 
Com a Revolução Industrial, o trabalho que até então era exercido de forma 
artesanal passou a ser substituído pelo modo fabril de produção através da implementação 
de máquinas a vapor, o que resultou na manifestação de duas novas categorias sociais 
antagônicas: o operariado, que vendia sua força de trabalho, e a burguesia, possuidora dos 
meios de produção capitalista. Em consequência disso, se fundamentaram os conflitos 
entre o capital e o trabalho.  
[...] é no século XIX, no contexto da Revolução Industrial, do 
desdobramento da grande indústria e da organização da classe 
trabalhadora (em sindicatos e partidos políticos) que lutava por 
melhores condições de vida e trabalho, que é colocada a questão social 
propriamente dita, vinculada à emergência do pauperismo e do perigo 
que ele significava para a ordem burguesa (PASTORINI, 2010, p.114).  
18 
 
Através desse desenvolvimento do capitalismo e de seu modelo econômico 
voltado para a acumulação do capital e, consequentemente, para a exploração da força de 
trabalho, as expressões da “Questão Social” passaram a se manifestar. 
Esse período foi caracterizado pela ampla e acelerada urbanização dos espaços 
através da industrialização, bem como pela valorização da riqueza destinada a um público 
restrito, a classe burguesa, que intensificava seu capital expressivamente, em detrimento 
do proletariado que, para garantir sua subsistência, se submetia a condições desumanas 
de trabalho. 
[...] O poder aquisitivo dos salários é de tal forma ínfimo que para uma 
família média, mesmo com o trabalho extenuante da maioria de seus 
membros, a renda obtida fica em nível insuficiente para a subsistência. 
[...] A pressão salarial força a entrada no mercado de trabalho das 
mulheres e das crianças de ambos os sexos em idade extremamente 
prematura, o que funciona também como mecanismo de reforço ao 
rebaixamento salarial. [...] A jornada de trabalho – apesar de diferir por 
ramos industriais – é, no início do século, de 14 horas. Em 1911 será 
em média de 11 horas e por volta de 1920, de 10 horas. [...] não terá 
direito a férias, descanso semanal remunerado, licença para tratamento 
de saúde ou qualquer espécie de seguro regulado por lei. Dentro da 
fábrica, estará sujeito à autoridade absoluta – muitas vezes paternalista 
– de patrões e mestres. Não possuirá também garantia empregatícia ou 
contrato coletivo (CARVALHO, 2005, p. 128-129). 
O desenvolvimento capitalista, além de contribuir para a pauperização da classe 
subalterna, também favoreceu na disseminação de numerosas doenças, a vista de que as 
condições de moradia eram extremamente precárias. Não havia interesse por parte do 
Estado no saneamento dos bairros populosos e o acesso à saúde era mínimo. Os problemas 
sociais, políticos e econômicos tiveram um expressivo aumento. Os trabalhadores 
mantinham uma rotina de trabalho em ambientes fabris com condições inóspitas e 
insalubres, devido à exposição excessiva ao calor, à ausência de ventilação e à umidade 
em excesso, o que acarretava diversas enfermidades nos bairros pobres. 
Assim, como afirma Carvalho (2005), 
[...] amontoam-se em bairros insalubres junto às aglomerações 
industriais, em casa infectas, sendo muito frequente a carência – ou 
mesmo falta absoluta – de água, esgoto e luz. Grande parte das 
empresas funciona em prédios adaptados, onde são mínimas as 
condições de higiene e segurança, e muito frequentes os acidentes [...] 
(CARVALHO, 2005. p. 129). 
19 
 
Santos (2012), afirma que diante dos abusos sofridos pela burguesia, a classe 
trabalhadora passou a se firmar de forma mais sistemática, a fim de manter uma 
organização em defesa da luta da categoria operária, o que foi possível com o 
fortalecimento dos sindicatos, com as manifestações públicas, com a imprensa operária e 
com as greves em massa. 
De acordo com Huberman, (1976, p. 2002, apud SANTOS, 2012, p. 40) “a 
revolução industrial e o sindicalismo deu passos tremendos. Isso tinha que ocorrer porque 
a Revolução Industrial trouxe consigo a concentração dos trabalhadores nas cidades, a 
melhoria dos transportes e comunicações, essencial a uma organização nacional, e as 
condições que fizeram tão necessário o movimento trabalhista. A organização da classe 
trabalhadora cresceu com o capitalismo, que produziu a classe, o sentimento de classe e 
o meio físico de cooperação e comunicação. ” 
Diante da conjuntura social com interesses adversos, o Estado, inicialmente, 
limitou-se na sua mediação na forma de repressão policial e violência contra a população 
operária, que passou a manifestar suas insatisfações diante do agravamento da questão 
social e das expressões geradas pelo empobrecimento da população. O desemprego, a 
violência,a fome e diversos tipos de mazelas ocasionadas pela extrema pauperização da 
classe operária em detrimento do acúmulo de riqueza de um número reduzido de 
possuidores propiciou o desenvolvimento de revolta na população. 
De acordo com Siqueira (2011), 
[...] desta forma, o próprio desenvolvimento capitalista, o aumento da 
riqueza socialmente produzida, não só não reduz a pobreza, como pelo 
contrário a produz e amplia: quanto maior o desenvolvimento 
capitalista, maior a pauperização[...]. (SIQUEIRA, 2011, p. 164). 
De acordo com a autora, o Estado, nesse momento, compreendeu a exteriorização 
da questão social como uma disfunção do indivíduo, responsabilizando e atribuindo a este 
o compromisso de “mudar de vida”. Posteriormente, o Estado passou a ingerir nas 
determinações jurídicas, contribuindo com estatutos e regulamentações de Leis Sociais, 
objetivando conter a classe trabalhadora. 
Diante do agravamento da “Questão Social”, os interesses da elite burguesa 
estavam ameaçados devido às inquietações e paralisações da população pauperizada, que 
iniciava um processo de organização. Para que a manutenção do lucro das indústrias 
capitalistas não fosse comprometida, a burguesia tratou de buscar alternativas para a 
20 
 
contenção da população, a fim de atenuar as necessidades desta, amenizando as 
insatisfações dos trabalhadores, objetivando a ordem e a aquietação deles. 
Assim como afirma Iamamoto (2005), 
A questão social não é senão as expressões do processo de formação e 
desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário 
político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por 
parte do empresariado e do Estado. [...] (IAMAMOTO, 2005. p. 77). 
Segundo Santos (2012), as primeiras regulamentações a fim de proteger a classe 
operária se deram no início no século XIX, na Inglaterra, através da “Carta do povo”, 
mobilização fundamentada na luta pela democratização na política, tendo como principal 
manifestação a greve geral ocorrida em 1842, sendo marcada pela coleta de cerca de três 
milhões de assinaturas em prol desse documento. 
De acordo com Santos (2012), 
[...] considera-se indiscutível que as formas de protesto dos 
trabalhadores vão ampliando sua percepção como classe, na medida em 
que as reivindicações políticas se somam às econômicas, delineando um 
horizonte de superação da sociedade burguesa. Nesse momento, fica 
claro que o confronto principal não era entre “pobres” e “ricos”, e sim, 
entre trabalhadores, operários e patrões, capitalistas; era contra a 
exploração do trabalho pelo capital. (SANTOS, 2012 p. 40-41). 
Através dessa organização da classe trabalhadora, foi possível assegurar ao povo 
a defesa de importantes condições de trabalho, uma delas – de maior relevância – foi a 
fixação da jornada de trabalho em 10 horas máximas. 
Segundo Santos (2012), A carta do povo, de cunho visivelmente político, também 
solicitava o sufrágio universal para todos os homens adultos que não tivessem cometido 
crimes; renovação anual do Parlamento (esse feito não foi possível); um salário fixo para 
os parlamentares, para que os candidatos pobres pudessem também desempenhar um 
mandato; eleições com apuração de voto secreto, com o intuito de prevenir a corrupção 
reputada pela classe burguesa; demarcações eleitorais por zona iguais, como objetivo de 
uma representação justa; e extinção da exclusividade dos donos de terras, já que 
anteriormente apenas aqueles que pagassem o equivalente a 300 libras esterlinas teriam 
o direito de candidatarem-se. A partir de então, os eleitores também poderiam tornar-se 
elegíveis. 
21 
 
Devido à amplificação da Revolução industrial em outros países europeus, a 
Alemanha e a França, sequencialmente em 1839 e 1841, adotaram medidas equivalentes 
às da Inglaterra, assim como a Espanha, logo em 1873. 
Não obstante, a industrialização nos Estados Unidos experimentasse de forma 
intensa esse desenvolvimento industrial e urbano durante o século XIX, apenas no 
seguinte século manifestou-se uma regulamentação, com o propósito de oferecer apoio 
aos operários em caso de acidentes no campo de trabalho. 
De acordo com a autora, no Brasil, a evolução mais significativa na indústria se 
deu por volta da década 1930, porém, apenas na década de 1970, quando os acidentes de 
trabalho se encontravam em números extremamente elevados, houve certa 
responsabilidade para com a segurança e a saúde do trabalhador. Sendo assim, a 
legislação no âmbito do trabalho passou a atuar no intuito de mediar as tensões entre 
empregador e empregados, com o propósito de amenizar os acidentes e as doenças 
relacionados às atividades laborais, o que de fato foi um avanço de grande relevância para 
os direitos sociais. 
O surgimento do que é conhecido como “Questão social” está intrinsecamente 
atrelado ao desenvolvimento histórico de um sistema econômico e político que tem sido 
atualmente revisitado com novas características: o liberalismo. 
De acordo com Huberman (2010), Sem o amparo do braço social do Estado, cada 
vez mais pautado pelos conceitos gerenciais de eficiência, custo mínimo e não 
intervenção, esses cidadãos passaram a se valer cada vez mais da atuação de entidades 
criadas para mitigar os efeitos dessa ausência Estatal. 
Para uma maior compreensão sobre o liberalismo e a sua relação com a “Questão 
social”, faz-se necessária uma abordagem histórica sobre o seu surgimento, evolução e 
consolidação. 
 
2.1.1 O ideário do liberalismo: do surgimento ao neoliberalismo atual 
 
Já foi observado neste trabalho que a Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra, 
no século XVIII, e ampliada para as grandes potências europeias ao longo de todo o 
século XIX, criou o contexto econômico que propiciou o posterior surgimento do 
liberalismo. 
22 
 
Segundo Huberman (2010), em um primeiro momento, a indústria estava voltada 
para o atendimento de uma demanda de consumo ainda insipiente e localizada no 
continente europeu. A indústria têxtil, metalúrgica e outros segmentos mantinham a 
produção em um nível que, embora frequente e regular, estava ainda longe de permitir 
um acúmulo significativo de capital nas mãos da classe que a comandava. O lucro 
alcançado com a atividade industrial era reinvestido na produção, mas devido ao volume 
limitado, não proporcionava um aumento significativo dessa, nem uma ampliação dos 
mercados consumidores. 
O impacto social da lenta e gradual consolidação da atividade industrial já se fazia 
sentir ainda mesmo na gênese do processo. Uma massa de trabalhadores que estavam 
disponíveis nos grandes centros urbanos, atraídos pelas possibilidades de ocupação, era 
extremamente explorada. 
A inexistência de uma legislação reguladora das relações trabalhistas, a qual só se 
formaria mais tarde, ao longo de um processo tortuoso de contestações e lutas dos 
trabalhadores, dava margem à existência de uma gama de realidades de exploração 
extrema da força de trabalho. Jornadas extenuantes, salários irrisórios, péssimas 
condições de higiene e segurança e ausência de garantias em casos de acidentes de 
trabalho são apenas alguns exemplos de situações às quais os trabalhadores eram 
submetidos. 
Segundo o autor, nos séculos XVIII e XIX, o Estado estava longe de assumir o 
papel de provedor que ele passaria a desempenhar ao longo de boa parte do século XX, o 
que deixava quase sempre os trabalhadores relegados à sua própria sorte, pelo menos até 
o momento em que começaram a surgir as entidades classistas que ampliariam 
gradativamente o seu poder contestatório e reivindicatório, a exemplo dos sindicatos. 
Ideologicamente, as bases do liberalismo foram iniciadas na Inglaterra ainda no 
século XVII, mas sua consolidação se deu ao longo de todo o século XVIII, culminando 
com a Independência dos Estados Unidos (1776) e com a Revolução Francesa (1789). De 
uma maneira geral, os teóricos liberais afirmavam que o Estadonão deveria interferir na 
vida dos cidadãos, permitindo a estes organizarem-se e empreenderem livremente. Assim, 
a economia de uma nação dependeria mais das leis da livre concorrência (oferta e procura) 
do que da intervenção estatal. 
Consoante Siqueira (2011), 
23 
 
[...]Adam Smith tornou-se um dos principais teóricos do liberalismo 
econômico. Sua principal teoria baseava-se no pressuposto de que 
deveria haver total liberdade econômica para que a iniciativa privada 
pudesse se desenvolver, sem a intervenção do Estado. A livre 
concorrência entre os empresários regularia o mercado, provocando a 
queda de preços e as inovações tecnológicas necessárias para melhorar 
a qualidade dos produtos e aumentar o ritmo de produção[...] 
(SIQUEIRA, 2011, p. 33). 
De acordo com a autora, A consolidação política dos ideais econômicos liberais 
se traduziu no desenvolvimento de leis que permitiram à elite industrial europeia, em 
desenvolvimento, uma ampliação gradativa de sua ação. Abriu-se caminho para o 
surgimento de corporações industriais que, à medida que cresciam, passavam a moldar o 
Estado aos seus interesses de acumulação de capital e de ampliação de seus mercados. 
Segundo Huberman (2010), no fim do século XIX, essas corporações, cada vez 
mais organizadas na forma de trustes e oligopólios nacionais, se viram diante de uma 
rivalidade que tinha como motor a busca por matéria prima, mão de obra barata, mercado 
consumidor e empreendimentos para investir o seu capital. 
 Ainda no fim do século XIX, contudo, capitalismo industrial sofreu uma guinada 
que o fez alcançar um outro patamar de produtividade, de demanda, de mercados e, 
consequentemente, de acumulação de capital. Foi o momento em que, para ampliar 
justamente a produção e para fazer com que sua atuação fosse além das fronteiras 
nacionais, a elite industrial buscou a fusão da indústria com os bancos. Quando isso 
aconteceu, o potencial de investimentos das fábricas aumentou drasticamente e o raio de 
atuação das indústrias nacionais transbordou para as outras nações, buscando abrir frentes 
de ação em todas as partes do mundo. 
Huberman (2010), afirma, que essa situação ampliou a concorrência entre as 
nações industriais, que se lançaram em uma corrida para controlar áreas do mundo que 
pudessem fornecer matéria prima abundante, mercados consumidores ávidos pelos 
produtos de suas fábricas, uma massa ainda mais barata de mão de obra e uma 
possibilidade de investimento do capital acumulado que pudesse se reverter em ainda 
mais lucratividade. O alvo dessa corrida foram principalmente os continentes africano e 
asiático, que foram literalmente loteados em mesas de negociação e divididos de forma 
não consensual entre as potências industriais. Estava criado o pano de fundo para os 
conflitos de proporção generalizada que se seguiram no século XX: a Primeira e a 
Segunda Guerras Mundiais. 
24 
 
Em um primeiro momento, influenciado pelas ideias liberais, o Estado seguia a 
sua função de intervenção mínima, inexistindo qualquer tipo de assistência social àqueles 
que compunham os extratos mais pobres da sociedade. Mas o sistema liberal sofreu um 
duro golpe em 1929, a partir da crise de superprodução da indústria norte-americana, e 
passou a ser fortemente questionado em sua habilidade de manter a pujança econômica e 
a coesão social. 
O autor ainda afirma, que a livre iniciativa, preconizada pelo liberalismo, levou a 
uma escalada da especulação que derrubou, em poucas horas, a Bolsa de Valores de Nova 
Iorque, ícone da economia liberal mundial. Para os críticos do liberalismo, houve a 
percepção deque a total livre iniciativa trazia um risco de desequilíbrio econômico e social 
e que esta precisaria de um contrapeso, ou até mesmo um controle. 
 Foi a partir desse momento que o Estado passou a desempenhar um papel novo: 
inicialmente a partir do plano de recuperação econômica chamado de New Deal 
empreendido pelo presidente americano Franklin Delano Roosevelt, passou a prover os 
cidadãos, sobretudo os trabalhadores, de certas garantias que permitissem a estes a 
possibilidade de uma vida com um mínimo de dignidade. O Estado foi equipado para 
promover o acesso ao trabalho, à saúde, à educação e a toda uma série de benefícios e 
direitos sociais. 
Iniciada nos Estados Unidos na década de 1930, essa nova maneira de conceber o 
papel do Estado ganhou força nas nações europeias depois da Segunda Guerra Mundial, 
quando se espraiava pelo continente a “sombra” da ameaça do socialismo, que flertava 
com os trabalhadores os quais enfrentavam naquele momento uma realidade econômica 
precária decorrente sobretudo da destruição provocada pelo conflito. 
De acordo com Coutinho (1999), 
Esse sistema de mediações [as instituições da sociedade civil] [...] torna 
as crises revolucionárias nas sociedades ‘ocidentais’ um fenômeno bem 
mais complexo. Tais crises já não se manifestam imediatamente como 
resultado de crises econômicas, mesmo aparentemente catastróficas, e 
não impõem, portanto, uma solução rápida e um choque frontal; elas se 
articulam em vários níveis, englobando um período histórico mais ou 
menos longo. (COUTINHO,1999, p. 153). 
Segundo Huberman (2010), além disso, crescia na Europa nesse período a 
influência política das associações de trabalhadores, a exemplo dos sindicatos, que davam 
força às demandas do operariado e buscavam uma resposta do Estado. Esse movimento 
25 
 
resultou no surgimento de um aparelhamento estatal voltado para a assistência social da 
população. Se antes o Estado estava voltado para atender aos interesses das elites 
industrial e financeira, a partir de agora esse Estado passava a atentar para o bem-estar da 
classe trabalhadora. 
Ao longo de todo esse período, que se estendeu pelo menos até a década de 1970, 
o pensamento liberal foi silenciado. Seus defensores não encontravam espaço diante da 
força desse novo modelo de Estado provedor em uma realidade em que a economia se 
recuperava amplamente, gerando riquezas capazes de sustentar serviços, direitos e 
benefícios direcionados para a classe trabalhadora. 
 A partir da década de 1970, porém, a economia mundial foi abalada por uma crise 
severa que acabou por promover uma reflexão sobre a ação e, principalmente, sobre o 
tamanho do Estado. O que antes era facilmente sustentado por um fluxo constante de 
recursos, passou a ser questionado em função de uma nova situação de inviabilidade. 
Voltou a ganhar força a ideia de não intervenção estatal, que levaria a um gradual 
abandono da prestação de serviços e da manutenção de garantias que, segundo os 
neoliberais, oneravam o Estado e impediam a sua gerência eficiente. 
Os dois países mais representativos dessa nova realidade de questionamento do 
Estado provedor foram os Estados Unidos, sob o governo de Ronald Reagan (1981-1989), 
e a Inglaterra, comandada pela Primeira Ministra Margareth Thatcher (1975-1979). 
Empresas estatais anteriormente criadas em função das demandas dos trabalhadores 
foram sendo assumidas pela iniciativa privada ou simplesmente deixaram de existir. 
Serviços antes prestados exclusivamente pelo Estado, como a educação e a saúde, foram 
abertos para a livre iniciativa. 
Segundo Harvey (2008), no Brasil, esse renascimento do liberalismo na forma 
neoliberal ganhou força nos anos 1990, a partir do governo do Presidente Fernando Collor 
de Melo (1990-1992). Houve um intenso programa de privatizações de empresas estatais, 
não sem antes passar por um processo de precarização a qual era usada como justificativa 
da venda dessas empresas para a iniciativa privada. Devido a isso, cidadãos que já não 
contavam com a prestação de serviços eficientes pelo Estado se viram ainda mais 
relegados a uma situação de dificuldade de acesso a esses serviços. 
De acordo com Harvey (2008), 
26 
 
O mundo capitalista mergulhou na neoliberalização como a resposta pormeio de uma série de idas e vindas e de experimentos caóticos que na 
verdade só convergiram como uma nova ortodoxia com a articulação, 
nos anos 1990, do que veio a ser conhecido como “Consenso de 
Washington”. [...] O desenvolvimento geográfico desigual do 
neoliberalismo, sua aplicação frequentemente parcial e assimétrica de 
Estado para Estado e de formação social atestam o caráter não 
elaborado das soluções neoliberais e as complexas maneiras pelas quais 
forças políticas, tradições históricas e arranjos institucionais existentes 
moldaram em conjunto por que e como o processo de neoliberalização 
de fato ocorreu. (HARVEY, 2008, p. 23). 
Além disso, a pauperização da classe trabalhadora e a diminuição do tamanho do 
papel do Estado faziam aumentar a dependência dessa classe em relação às elites 
detentoras dos meios de produção, resultando numa ampliação e num barateamento ainda 
maior da mão de obra disponível. 
Toda essa situação fez ampliar uma série de dificuldades econômicas e sociais da 
classe trabalhadora. A dificuldade de acesso aos serviços básicos e a diminuição das 
garantias e direitos associados à vivência da cidadania plena resultaram no que chamamos 
hoje de “Questão Social” no Brasil. Isso não significa que os problemas econômicos e 
sociais da classe trabalhadora no país tivessem surgido nesse momento, mas é fato que 
houve um aumento significativo das desigualdades e uma drástica diminuição de vários 
índices associados ao bem-estar dos trabalhadores. 
Além de elevados índices de analfabetismo e um baixo índice de desenvolvimento 
humano (IDH), os brasileiros tinham que lidar com uma acentuada desigualdade regional, 
que colocava os estados do sul do país em uma condição econômica e, consequentemente, 
social muito melhor que aquela verificada nos estados do norte e nordeste. 
 
2.2 Índices da Questão Social no Brasil 
 
As reflexões mencionadas de forma breve no tópico anterior serão agora 
analisadas com maior detalhamento. São dados que traduzem de forma específica a 
existência da questão social no Brasil, justificativa para o surgimento do Terceiro Setor. 
Esses indicadores que ao mesmo tempo em que comparam o país às demais nações 
do mundo, permitem uma igual comparação entre as diversas regiões brasileiras, 
evidenciando as disparidades existentes entre elas. O Índice de Desenvolvimento 
Humano (IDH) é uma importante ferramenta para identificar a evolução e 
27 
 
desenvolvimento dos países. Os aspectos observados são desde a educação, mortalidade 
infantil, o nível de bem-estar da sociedade, de renda, de acesso aos serviços de saúde pela 
população, entre outros. Nesta pesquisa, iremos nos deter em apenas alguns aspectos. Os 
dados aqui enumerados foram levantados pela ONU (2016). 
Segundo o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o 
Brasil, no conjunto de 189 nações mundiais, encontra-se em 79º lugar. O número que 
representava este índice no país em 2018 era de 0,759, numa escala que vai de 0 a 1. Uma 
primeira análise pode levar à falsa interpretação de que o resultado é positivo, mas as 
evidentes disparidades entre as regiões brasileiras, assim como as diferenças econômicas 
entre os diversos segmentos sociais, criam um cenário deficitário para uma significativa 
parcela da população. Para se ter uma ideia, no Distrito Federal, (0,839), São Paulo 
(0,819) e Santa Catarina (0,813) foram as únicas classificadas na faixa de muito alto 
desenvolvimento humano, quando o indicador está acima de 0,8, enquanto no estado 
nordestino de Alagoas (AL), esse número não passa de 0,667, assim como Pará (0,675), 
Maranhão (0,678) e Piauí (0,678), que seguem com o mesmo baixo índice. 
Portanto, muito embora existam no Brasil pessoas que desfrutam de uma situação 
econômica e social privilegiada, comparável a condições verificáveis em países de alto 
IDH, há uma significativa parcela da população, distribuída em regiões, estados e mesmo 
em áreas específicas de grandes centros urbanos que vivenciam uma condição de extrema 
precariedade, com dificuldades de acesso a recursos e a serviços elementares para uma 
sobrevivência digna. 
Abaixo apresentamos a tabela referente as devidas proporções de cada estado 
brasileiro entre os anos 2011 a 20141. 
Os índices no país que apresentaram melhoras entre 2011 e 2014 são das regiões 
de Distrito Federal, São Paulo e Santa Catarina, segundo o PNUD (Programa das Nações 
Unidas para o Desenvolvimento), Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e 
Fundação João Pinheiro. 
 
 
1 O ranking do IDHM revela a manutenção das desigualdades regionais no país. Os 13 Estados 
das regiões Norte e Nordeste ocupam a parte de baixo do ranking. Acesso em 20 de mai. de 
2019. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2016/11/22/df-sao-
paulo-e-santa-catarina-lideram-desenvolvimento-humano-entre-estados.htm. 
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2016/11/22/df-sao-paulo-e-santa-catarina-lideram-desenvolvimento-humano-entre-estados.htm
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2016/11/22/df-sao-paulo-e-santa-catarina-lideram-desenvolvimento-humano-entre-estados.htm
28 
 
 
Outro importante índice é o de GINI ou (coeficiente de GINI), consiste em uma 
medida de desigualdade social distribuída também em uma escala de 0 a 1. Porém, quanto 
mais próximo de 1, maior a desigualdade verificada no país. Segundo a Pesquisa Nacional 
de Amostra por Domicílios (PNAD), realizadora do levantamento dos dados, o Brasil 
detinha em 2013 o índice de 0,515, sendo considerado um dos 10 países mais desiguais 
do mundo. Um dos principais fatores para a formulação desse número é a análise da 
distribuição de renda. No Brasil, ainda segundo a mesma pesquisa, os 10% mais ricos da 
população detinham, em 2013, 41,55% de toda a renda nacional. Já os 50% mais pobres, 
tinham acesso a 16,41% dessa renda. 
29 
 
A inserção precoce de crianças no mundo do trabalho é outro fator que evidencia 
a disparidade social do país. Segundo pesquisa realizada pela ONU também em 2013, 
39,6% das crianças e adolescentes até 17 anos precisavam trabalhar para complementar a 
renda familiar. Em algumas situações, a renda obtida com esse trabalho era mesmo a 
única da família. Tal situação, afasta os jovens da possibilidade de acesso à educação e, 
consequentemente, dificulta a sua formação intelectual e profissional, a qual representaria 
uma porta de acesso à inserção qualificada no mercado de trabalho. As crianças e 
adolescentes constituem, assim, mais um segmento a necessitar da intervenção das 
instituições de assistência do terceiro setor. 
Um número que, por sua vez, reflete a dificuldade de acesso aos serviços básicos 
de saúde é o alto índice de mortalidade infantil no Brasil. Em pesquisa realizada pelo 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano de 2017, o país apresentou 
o triste número de 12,8 mortes para cada mil nascimentos. Apesar de haver um avanço 
em relação à pesquisa anterior, do ano de 2016 (em que a taxa era de 13,3 mortes para 
cada mil nascidos vivos), esse número ainda é considerado alto para os padrões mundiais. 
No Chile, para citar um exemplo sul-americano, esse número é de “apenas” 6,7. 
Notadamente, há que se comemorar avanços recentes representados pela ampliação da 
assistência pré-natal, pela maior cobertura da vacinação de recém-nascidos, o que 
resultou na erradicação de doenças como paralisia infantil, sarampo e poliomielite (apesar 
do retorno da ameaça de algumas delas). Porém, os números continuam alarmantes. 
Um índice bastante dramático que também mostra a situação de vulnerabilidade 
social de amplos segmentos da sociedade brasileira é o de homicídios entre jovens de 15 
a 29 anos de idade. Entre 2006 e 2016, houve 324.967 homicídios registrados no país, 
número maior àquele verificado empaíses em conflitos. No ano final dessa série, o 
número foi de 33.590, atingindo o pico histórico. No estado do Rio Grande do Norte, no 
período total da pesquisa, houve um aumento de 382% na quantidade de jovens 
assassinados. Esses números constam no Atlas da Violência de 2018, desenvolvido pelo 
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). 
Dentre todos os índices apresentados, talvez aquele que represente maior impacto 
na dependência de pessoas em situação de vulnerabilidade social diz respeito ao 
desemprego. Tristemente, desde o ano de 2016, quando se acirraram no Brasil uma crise 
econômica e política que passaram a “alimentarem-se” mutuamente, o número de 
30 
 
desempregados no país teve um aumento vertiginoso. Segundo dados levantados pelo 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no primeiro trimestre deste ano de 
2019 12,7% da população economicamente ativa estava desempregada no Brasil, o que 
resulta em aproximadamente 13,4 milhões de pessoas desocupadas. 
De acordo com Pinto, Costa e Marques (2013), para que uma sociedade alcance 
um padrão de IDH, algumas medidas importantes devem ser tomadas. Uma delas é o 
combate à morte prematura, de forma que os recém-nascidos tenham oportunidade de 
usufruir uma saúde de qualidade igualmente com um ambiente saudável. Da mesma 
forma é importante que o Estado garanta a população conhecimento, autonomia e 
liberdade, ou seja, cumprindo com seu papel mantenedor. O fator renda é essencial para 
que se alcance a elevação do desenvolvimento, e sua ausência pode ser responsável por 
causar o distanciamento de uma qualidade de vida, importante para alcançar o 
desenvolvimento ideal desses cidadãos. 
A gravidade dessa ausência de qualidade e expectativa de vida, se deve ao fato de 
que, muitas famílias ficam dependentes de uma fonte segura de sustento em circunstância 
do desemprego e subemprego. Além disto, o Estado vem abandonando gradativamente o 
seu papel provedor e o apelo aos serviços e políticas públicas é latente. Sendo assim, os 
números apresentados mostram um retrato significativo da questão social no Brasil, 
evidenciando a necessidade de atuação das instituições que compõem a esfera do Terceiro 
Setor. 
 
2.3 O Terceiro Setor em debate 
 
Em face do desmonte do Estado no que se refere às políticas públicas, é importante 
compreender o que fundamenta o Terceiro Setor e quais suas implicações diante da 
expansão e consolidação do neoliberalismo, que tem como característica o afastamento 
do Estado de sua responsabilidade social. Iremos aqui abordar a definição e o surgimento 
do termo e seu papel na sociedade brasileira. 
De acordo com Smith, (1991), a expressão “Terceiro Setor” passou a ser usada 
nos anos 70 nos EUA para identificar um setor da sociedade no qual atuam organizações 
sem fins lucrativos, voltadas para a produção ou a distribuição de bens e serviços 
públicos. 
31 
 
Em detrimento das sociedades Europeias e dos EUA, o Brasil apresenta 
características distintas no processo de industrialização, devido a toda a construção de sua 
formação social. Esta foi influenciada pela forma como se deu a sua colonização e, 
especialmente, pelo período escravocrata, quando durante séculos, o território brasileiro 
foi explorado com a finalidade de ser local de expropriação de recursos naturais e 
exploração da mão de obra, considerado também como ponto estratégico para as rotas 
comerciais marítimas e local para a expansão do comercio português. 
Assim como se refere Santos (2012), 
A origem da formação social brasileira tem sua gênese na condição de 
colônia de Portugal por ocasião do período conhecido como ‘expansão 
marítima’. Cabe lembrar que vários fatores levaram os países do “velho 
mundo” a essa empreitada. Dentre eles, Fausto (1997) destaca a 
necessidade de enfrentamento de uma crise econômica na Europa 
Ocidental, que em meio a guerras, escassez de alimentos e epidemias 
colocava como uma única alternativa a “expansão da base geográfica e 
da população a ser explorada”. (P. 21). Portugal possuía uma 
localização geográfica estratégica, além de uma “experiência 
acumulada ao longo dos séculos XIII e século XIV, no comércio de 
longa distância” (idem, p.21) e esses fatores, somados aos interesses 
econômicos de diversas classes e grupos sociais, fizeram com que os 
lusos se lançassem às “Grandes Navegações”. (SANTOS, 2012, p. 54-
55). 
Ainda de acordo com a autora, para os portugueses, o cenário inicial do Brasil 
Colônia não fazia parte dos interesses para o desenvolvimento econômico. Somente após 
1530, Portugal passou a analisar do fato de que seria necessário tomar medidas para a 
criação de bases de abastecimento e fiscalização, visando impedir o contrabando 
estruturado, principalmente pela França e posteriormente pela Inglaterra, que invadiam o 
território brasileiro, afim de expropriar também a matéria prima local, sem aceitar a 
colônia como território pertencente à corte portuguesa. 
De acordo com Santos (1983), quando os colonos portugueses passaram a 
deslocar-se para o Brasil, objetivaram a possibilidade de explorar as fontes de riquezas 
aqui presentes. Como as alternativas eram vastas, os lusitanos passaram a observar o 
território brasileiro como uma possibilidade de expandir o comércio e o alcance de suas 
corporações, tudo isso com o apoio da coroa portuguesa, já que durante esse período, 
Portugal experimentava um déficit populacional devido à peste que assolou a Europa e 
que levou muitos à morte. 
32 
 
 Assim como Reis e Silva (1991) afirmam, o Estado português estava organizado 
em uma monarquia absolutista. Nesse contexto, a relação entre governantes e governados 
era de soberano e de súditos, não existindo para estes últimos nenhuma garantia ou 
direitos objetivos e intocáveis perante o poder do Estado. Como súdito, o indivíduo estava 
sujeito às normas definidas pelos interesses dos reis e de seus aliados, a saber a nobreza 
e o clero. 
 Logo, se o súdito não tinha direitos e garantias previstas em uma lei que estaria 
inclusive acima do rei (tal realidade somente começaria a se concretizar na Europa 
Ocidental a partir do fim do século XVIII, mais precisamente com a Revolução Francesa 
e com a repercussão da independência dos Estados Unidos), o Estado também não tinha 
para com esse indivíduo nenhuma obrigação de provimento de benefícios ou serviços. 
Quaisquer benesses concedidas aos portugueses derivavam naturalmente da 
“benevolência” do monarca, não de uma obrigação como provedor. 
 Segundo os autores, foi esse o modelo de relação entre governante e governado 
que foi introduzido no Brasil desde o princípio da colonização. Quanto àqueles que 
viviam na colônia como homens livres e pobres, o provimento de suas necessidades 
cotidianas era precário e dependia fundamentalmente dos senhores que recebiam as terras 
e, com elas, poder e influência política. Na verdade, essa foi a realidade que se verificou 
no Brasil ao longo de todo o período colonial, adentrando nos períodos monárquico e até 
mesmo republicano. 
 Não havia, nem em Portugal, nem aqui na América Portuguesa, nada que 
parecesse com serviços públicos destinados aos súditos. A educação, por exemplo, por 
muito tempo foi ministrada pelos padres jesuítas, e ainda assim não era direcionada para 
os membros da sociedade que não tinham posses. 
Reis e Silva (1991), afirma que o acesso à saúde dos mais pobres, era confiada a 
curandeiros que praticavam rituais repletos de um sincretismo o qual aglutinava crenças 
cristãs, indígenas e africanas. Nada disso tinha um caráter sistemático e abrangente, 
tampouco era provido pelo Estado. 
 Na maioria das vezes, esse papel provedor foi desempenhado por instituições 
criadas pela própria sociedade. Durante todo o período colonial, surgiram e 
popularizaram-se no Brasil as chamadas irmandades religiosas. Consistiam em 
agremiações leigas que tinham a finalidadede socorrer os seus membros em seus 
33 
 
principais ofícios e sacramentos da liturgia cristã católica. Entre os “serviços” prestados 
pela comunidade de membros, não constavam saúde, educação ou assistência. A maior 
parte desses auxílios se tratava de ofícios ligados às obrigações religiosas dos católicos. 
À Irmandade da Misericórdia, por exemplo, cabia prover os respectivos membros do 
acesso ao batismo, o auxílio nos casamentos e, principalmente, nos rituais fúnebres e na 
extrema unção dos enfermos. 
 Segundo os autores, conclui nesse ínterim, os homens e mulheres pobres no Brasil 
colonial estavam bem mais preocupados com o auxílio pós-morte, o qual garantiria aquilo 
que se definia como “uma boa morte” (velório, extrema unção, cortejo fúnebre, sepultura 
apropriada). Posteriormente surgiu a primeira instituição de atendimento à pobreza do 
país, a Irmandade de Misericórdia, que buscava desenvolver práticas de esmola, ofertava 
dotes para órfãos, numa tentativa de auxílio aos mais pobres. 
Diante disto, Mestriner (2001), afirma, 
[...] com uma pequena enfermaria que era ao mesmo tempo albergue e 
hospital, atendendo com alimentação, abrigo e enfermagem a escravos 
e homens livres, visto que não havia ainda médicos no país. 
(MESTRINER, 2001, p. 40). 
 Ainda de acordo com Reis e Silva (1991), era um fato que em todas as regiões da 
colônia e em todas as atividades econômicas desenvolvidas, a distribuição dos recursos 
acontecia de maneira desigual e gerava um grande contingente de pessoas pobres e 
dependentes dos favores dos homens mais ricos e influentes politicamente. 
 Os homens livres e pobres dependiam desses chamados “homens bons” para 
viabilizar praticamente tudo o que era necessário para a sua subsistência. A inexistência 
de uma articulação entre os homens mais pobres, assim como o controle exercido pela 
elite aristocrática, tornava inexistente também qualquer movimento reivindicatório mais 
significativo por determinados serviços ou acesso a bens materiais. 
Além disso, a aceitação da própria condição de pobreza era considerada uma 
virtude pregada pelas instituições religiosas, seculares ou leigas. A pobreza, mesmo 
quando extrema, não era um motivo para contestações de caráter político ou para o 
surgimento de bandeiras de igualdade social. 
Rebelar-se contra a condição material em que se encontrava era considerada uma 
rebeldia contra o destino que Deus reservara para si e isso resultava em homens e 
34 
 
mulheres serenamente resignados. Esse quadro só caminharia para uma mudança gradual 
a partir do século XVIII e, ainda assim, em regiões específicas do Brasil. 
De acordo com Reis (1991), havia ainda um outro fator que dificultava a formação 
de uma classe de homens pobres que pudesse fazer frente à desigualdade e à escassez de 
recursos e de oportunidades na sociedade açucareira: a escravidão. 
A escravidão era a forma de trabalho por excelência da economia açucareira. Nos 
primeiros momentos da colonização, o índio foi usado como escravo, mas logo as 
dificuldades logísticas da prática de escravizar os índios e a oposição da igreja fizeram 
com que os colonizadores preferissem “importar” escravos do continente africano. Além 
de mais habituados ao trabalho agrícola, os africanos, por meio do comércio pelo Oceano 
Atlântico, rendiam aos vendedores de escravos uma riqueza significativa. 
Portanto, se em relação a homens pobres e livres poderia se discutir a respeito de 
uma pretensa reivindicação por melhores condições de existência material, no que diz 
respeito aos escravos tal característica era impensável. Em primeiro lugar, porque o 
escravo era tido inicialmente como uma mercadoria e, uma vez adquirido pelo 
proprietário de terras, era considerado uma ferramenta de trabalho. O provimento do 
escravo era obrigação do senhor e este fazia isso com uma quantidade mínima de recursos. 
Como a escravidão era uma condição reconhecida em lei e praticada até mesmo 
pelo Estado português, não havia margem para a formação de movimentos de escravos, 
pelo menos nos primeiros séculos da colonização. 
A forma como os cativos se rebelava contra a sua condição era fugindo ou se 
vingando dos seus senhores, matando-os quando havia oportunidade. Conforme os 
autores, até mesmo nos quilombos, que eram comunidades de escravos fugidos criadas 
improvisadamente no meio da mata, praticava-se a escravidão, prova de que era 
improvável o surgimento entre os cativos de um movimento de caráter social em defesa 
dos escravos. 
Nesse sentido, Reis e Silva (1991), afirmam, 
A acomodação em si mesma, transpirava espírito crítico, disfarçava 
ações subversivas e frequentemente confundia-se com seu aparente 
oposto, a resistência[...] Em geral as atitudes extremas como fugas, 
crimes, suicídios só entravam em cena quando a negociação falhava ou 
não acontecia por intransigência senhorial ou impaciência escrava. 
(REIS e SILVA, 1991, p. 217). 
35 
 
Quando o Brasil se tornou um país independente e sob o comando de membros da 
família real portuguesa, a organização social permaneceu praticamente inalterada. Isso 
porque a intenção primeira da família real brasileira foi atender aos interesses políticos e 
econômicos da elite que a colocara no poder. 
Segundo os autores, um dos grandes sinais de que essa situação não mudaria foi a 
promulgação da chamada “Lei de Terras”, em 1950. Essa lei consolidou a divisão 
desigual de terras nas mãos das elites agropecuaristas ao definir a compra como a única 
maneira de se adquirir propriedades fundiárias no Brasil. 
Dessa maneira, de uma única vez, homens livres pobres ficaram impossibilitados 
de ocuparem e de terem como suas porções de terra localizadas até mesmo em regiões 
mais afastadas e pouco habitadas. Os homens mais ricos passaram a poder ampliar seus 
domínios territoriais, em um processo de concentração o qual resultou no modelo 
absolutamente desigual que existe hoje no país, qual seja, a existência de enormes 
latifúndios. 
Nas cidades, por sua vez, no fim do século XIX, teve início um lento, mas gradual, 
processo de industrialização. Aos poucos, o meio urbano teve que se adequar à crescente 
demanda de infraestrutura que a indústria exigia: ampliação de portos e de terminais 
ferroviários, alargamento de avenidas, incremento da rede elétrica. 
Ao mesmo tempo, criou-se a necessidade de se contratar trabalhadores livres, uma 
vez que a escravidão não era compatível com um modelo de trabalho que buscava a 
produtividade e a criação de um mercado consumidor formado por trabalhadores 
assalariados. Porém, ao contrário do que se poderia pretender como forma de inserção 
social de milhões de libertos os quais foram jogados na sociedade sem um amparo estatal 
que lhes garantisse um mínimo de condições dignas de existência, as autoridades e as 
elites brasileiras foram buscar a mão de obra para a indústria e para o campo nas massas 
de camponeses e operários pobres que constituíam o excesso populacional em países 
europeus, a exemplo da Itália. 
O Imperador D. Pedro I não só estimulou a transferência de milhares de famílias 
europeias, como até mesmo financiou a viagem que os trouxe para o Brasil. Enquanto 
isso, a massa de brasileiros, em sua maioria outrora escravos (embora agora como 
“homens livres”) não havia oportunidade para o trabalho na indústria e tampouco uma 
política de assistência que suprisse as suas necessidades mínimas, para que superassem 
36 
 
as dificuldades dessa nova realidade. Isso resultou na marginalização da população mais 
pobre. 
Segundo Behring e Boschetti (2007), John Maynard Keynes (1883-1946) 
defendia a intervenção do Estado na produção econômica e diferentemente do Brasil, os 
países aos quais tiveram influência do Keynesianismo, tiveram suas políticas sociais 
como propósito a geração de emprego, o aumento na distribuição de renda e a promoção 
da igualdade social. A teoria atribuiu ao Estadoo direito e o dever de conceder benefícios 
sociais que garantam à população um padrão mínimo de vida como a criação do salário 
mínimo, do seguro-desemprego, da redução da jornada de trabalho (que então superava 
12 horas diárias) e a assistência médica gratuita. O Keynesianismo ficou conhecido 
também como "Estado de bem-estar social" (LANZANA, 2001, p. 109). 
Logo depois, o Keynesianismo agregou-se ao fordismo, que tem como base a 
produção em série e o consumo em massa e buscava aumentar a produção a partir da 
divisão do trabalho, incorporando movimentos severamente estudados. Nesse momento, 
começaram a haver mudanças para a classe trabalhadora, que pôde acessar os bens de 
consumo, devido aos altos lucros da indústria, à ampliação de demandas e à ascensão do 
nível de vida da população. 
O Estado de Bem-Estar Social buscou assegurar um acordo de 
neutralidade nas relações das classes sociais e amortecer a crise do 
capitalismo com a sustentação pública de um conjunto de medidas 
anticrise. Entretanto, foram beneficiados os interesses monopólicos. 
(BEHRING & BOSCHETTI, 2007, p.71), 
Segundo as autoras, no Brasil, a política social surgiu com o período do governo 
de Getúlio Vargas, no início da década de 1930, com algumas conquistas para a classe 
trabalhadora, como o surgimento dos IAPS (Instituto de Aposentadoria e Pensões). Isso 
foi considerado um avanço, embora esse direito fosse destinado apenas ao trabalhador de 
carteira assinada. 
Em seguida, o país experimentou um longo período de ditadura militar pós-1964, 
proporcionando aos trabalhadores alguns benefícios, como menciona Faleiros, os quais 
foram: a ampliação da previdência para os trabalhadores rurais (1971); a criação do 
Ministério da Previdência e assistência social (1974); entre outras. É importante ressaltar 
que a ditadura militar e o período do Fordismo influenciaram fortemente a 
internacionalização econômica do país. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sal%C3%A1rio_m%C3%ADnimo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sal%C3%A1rio_m%C3%ADnimo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Seguro-desemprego
https://pt.wikipedia.org/wiki/Estado_de_bem-estar_social
37 
 
Behring e Boschetti (2007) afirmam que, na década de 1980, a classe trabalhadora 
obteve grande conquista com a Constituição Federal, que foi um momento no qual os 
movimentos sociais foram às ruas lutar por melhores condições de trabalho, moradia e 
outros benefícios sociais. Porém, essa época ficou economicamente conhecida como a 
década perdida, devido ao endividamento do país com altas taxas de inflação, aumento 
do desemprego e baixos índices de crescimento. 
De acordo com as autoras, no início dos anos 1990, espalhou-se uma campanha 
entre os políticos brasileiros e seus estudos reformistas, sob o governo de Fernando 
Henrique Cardoso. Essas reformas tinham como propósito aumentar o lucro do mercado, 
devido à grande crise econômica que o Estado Brasileiro enfrentara na década anterior, 
tendo como foco principal as privatizações na área da previdência social, o que 
menosprezava as conquistas obtidas no campo da seguridade social desde a Carta Magna. 
Assim, a proteção social perdia seu princípio universal e redistributivo, passando 
a privatizar os serviços públicos no campo educacional, previdenciário, e na saúde, 
reforçando o ideário de classe dominante. 
Segundo Montaño (2007), na sociedade vigente, vivencia-se um direcionamento 
para a expansão do “terceiro setor”, em particular das ONGs (organizações não 
governamentais), que justificam sua ação através da ausência do Estado em responder à 
questão social e utilizam como justificativa a crise financeira do Estado e sua 
incompetência em responder aos problemas sociais. 
Em princípio, a crise financeira está relacionada com a utilização econômica e 
política que a elite burguesa e as autoridades têm decidido a favor do mercado financeiro, 
como também em favor pessoal, dentre eles: favores políticos, altas taxas de juros ao 
mercado, elevado faturamento das obras, quitação de empresas arruinadas, corrupção, 
entre outros. Também empregam como argumento que a estagnação do Estado tem 
relação com seu traço burocrático, a inoperância em executar suas decisões e a sua cultura 
paternalista e clientelista. 
De acordo com o autor, essas alegações omitem algo importante de quem se valeu 
do clientelismo e do patrimônio do Estado, a elite burguesa que estimula o Estado 
mínimo. 
O autor defende que no Brasil nunca houve Estado protecionista, mas o que houve 
foi um aparato estatal que não soube desenvolver um sistema que assegurasse a proteção 
38 
 
social. Para isso, é necessário aumentar e intensificar o papel do Estado como garantidor 
de direitos. Assim, decorre um processo de transferência do Estado para a comunidade 
para intervir na esfera social. 
 O pensamento neoliberal associa-se com a reestruturação produtiva, na qual o 
Estado restringe sua atuação em responder aos problemas sociais, e o terceiro setor passa 
a ser visto como uma maneira de superar a estagnação fiscal, em que a população perde 
seus direitos e, com isso, uma maior expansão da atividade civil. 
Na América Latina, nas décadas de 1970 e 1980, o avanço das ONGs esteve 
correlacionado com o aumento de recursos estrangeiros e logo aumentou, em 1990, 
devido à ausência do Estado, e à suspensão destes recursos, ao incentivo e à contribuição 
do Estado para essas instituições, por meio de parcerias, fornecendo isenção de impostos, 
empréstimos simples, comodidades em adquirir capital, equipamentos e funcionários. 
Conforme Montaño (2007), 
Na verdade, a função das “parcerias” entre o Estado e as ONGs não é a 
de “compensar”, mas a de encobrir e a de gerar a aceitação da população 
a um processo que, como vimos, tem clara participação na estratégia 
atual da reestruturação do capital. É uma função ideológica. 
(MONTAÑO, 2007, p.224). 
Essa parceria tem como finalidade ocultar a intenção da reorganização do capital, 
fazendo com que o indivíduo aceite este pensamento que opera somente em favor do 
capital e não do trabalhador. Para isso, o capital trabalha na reinstrumentalização de 
algumas áreas. 
De acordo com Montaño, (2007), primeiramente, o Estado, que restringe seu 
papel, modificando o sistema de seguridade social, dentre eles a previdência social. Em 
segundo lugar, as relações do modo de produção, mediante a destituição dos direitos 
trabalhistas, na terceirização e nas condições precárias das relações de trabalho. Em 
terceiro lugar, a sociedade civil, que tem como ideologia amparar a classe socialmente 
vulnerável, por meio da pacificidade dos sujeitos, na separação dos movimentos sociais, 
bem como na remoção do Estado, motivador de transformações, modificando a maneira 
de lutar pelos interesses, em busca do bem comum. Deste modo, a função do “terceiro 
setor” no neoliberalismo baseia-se em: 
39 
 
Justificação e legitimação da redução do Estado em intervir no social e na 
fragmentação da seguridade social, quando o terceiro setor lucra com as atividades que 
eram desenvolvidas pelo Estado, transformando direitos universais em privados. 
Desoneração do capital em financiar políticas do Estado e sociais, nas quais a 
população passa a se responsabilizar por suas próprias necessidades através da sua 
contribuição e do trabalho voluntário. 
Montaño (2007), também afirma que diante do cenário de políticas públicas 
paliativas e fragmentadas é de fundamental importância para a população brasileira 
apropriar-se das políticas sociais numa compreensão da perspectiva do direito. Na busca 
de minimizar os agravos em consequência do tratamento em combate ao câncer, as 
políticas sociais atuam de forma a garantir aos sujeitos em vulnerabilidade social a 
universalidade à saúde. Através do que foi posto, pode-se verificar certo avanço, como 
exemplo na criação da Política Nacional de Oncologia. 
A implementação dessa política

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