Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
______________________________ Laboratório de Fitopatologia (aula 3) 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO DEPARTAMENTO DE PRODUÇÃO VEGETAL FITOPATOLOGIA BÁSICA (DPV 05382) LABORATÓRIO DE FITOPATOLOGIA (aula 3) Prof. Celson Rodrigues PREPARAÇÕES MICROSCÓPICAS DE FUNGOS FITOPATOGÊNICOS 1. INTRODUÇÃO A diagnose de uma doença, assim com a identificação do seu agente etiológico, nem sempre pode ser feita com base no quadro sintomatológico visual exibido pelo suscetível enfermo. Na maioria das vezes somente um exame microscópico de cortes histológicos, estruturas reprodutivas do patógeno ou raspagem de superfície de lesões nos permitem uma diagnose segura. Para o preparo de lâminas empregam-se líquidos de montagem. Estes, geralmente, contêm em sua composição, elementos ou substâncias que conferem as propriedades de colorir esporos e outras estruturas do patógeno e/ou células e estruturas do tecido do hospedeiro, permitindo melhor clareza na visualização ao microscópio, fixar a peça ou estrutura a ser observada, impedir o dessecamento da preparação e preservar sua integridade estrutural, por tempo mais ou menos longo. É importante lembrar que toda preparação de lâmina microscópica de fungos fitopatogênicos deve ser antecedida de um exame cuidadoso do material sob a lupa (microscópio estereoscópico). As lesões provocadas pelo patógeno no tecido vegetal têm que ser observadas em busca das estruturas do patógeno (sinais), que serão posteriormente transferidas para a lâmina. 1.1. Lactofenol de Amann O lactofenol de Amann é o líquido de montagem de estruturas fúngicas (vegetativas e reprodutivas), para observação microscópica, mais utilizado em laboratórios de fitopatologia. Para a observação de estruturas hialinas, usualmente adiciona-se ao lactofenol de Amann, os corantes azul de algodão ou azul de metileno ou fucsina ácida na proporção de 0,1 a 0,5%. Para observação de estruturas naturalmente coloridas, não é necessário o acréscimo de corante ao lactofenol. A composição do lactofenol de Amann é: Ácido lático p.a. ------------------------- 10 mL Fenol cristalizado ----------------------- 10 mL Glicerina ou glicerol -------------------- 10 mL Água destilada --------------------------- 10ml 1.2. Preparações microscópicas de fungos fitopatogênicos mais utilizadas em fitopatologia: a) Lâmina com fita adesiva transparente; b) Raspagem da superfície das lesões na planta ou da superfície de culturas fúngicas; c) Fragmentação ou esmigalhamento das lesões com estruturas fúngicas; ______________________________ Laboratório de Fitopatologia (aula 3) 2 d) Corte histopatológico à mão livre; e) Lâmina a partir de tecido vegetal doente mantido em câmara úmida; f) Método de microcultura. 2. LÂMINA COM FITA ADESIVA TRANSPARENTE Esta técnica é muito simples e rápida, sendo apropriada para exames rápidos de fungos que produzam estruturas superficiais como condióforos e conídios, esporangióforos e esporângios e pústulas de ferrugem. A técnica não se presta a preparações microscópicas de fungos que não esporulam na superfície de lesões e, aqueles cujos esporos são produzidos no interior de frutificações. Tais lâminas são preparadas rapidamente, mas não são passíveis de preservação. A marcha para o seu preparo é a seguinte: 1- Material necessário: fita adesiva transparente, lâminas e lamínulas; 2- Observe o material sob lupa para se verificar se há esporulação nas áreas lesionadas. Se não há esporulação torna-se necessário colocar o material vegetal em câmara úmida para que o fungo esporule; 3- Havendo esporulação corte um pedaço de uma fita adesiva e cole-a sobre a lesão onde supostamente o fungo esteja esporulando e pressione por alguns segundos; 4- Retire a fita adesiva da superfície da lesão e pressione-a sobre uma lâmina de microscopia limpa; 5- Examine a lâmina montada sob microscópio ótico para verificar se há estruturas de fungo, visando identificá-lo. 3. RASPAGEM DA SUPERFÍCIE DAS LESÕES NA PLANTA OU DA SUPERFÍCIE DE CULTURAS FÚNGICAS 1) Material necessário: estilete, lâmina e lamínula, bico de Bunsen ou lamparina com álcool. 2) Examine o material sob a lupa e localize as estruturas do fungo associadas às lesões ou crescidas no meio de cultivo artificial. Certifique-se de que as estruturas do fungo estão realmente posicionadas externamente às lesões ou sobre a superfície do meio de cultura. 3) Flambe a extremidade do estilete ferramenta que irá utilizar visando eliminar resíduos de outros materiais de preparações anteriores. 4) Sob o aumento máximo da lupa aproxime a ferramenta das estruturas e retire o material fúngico, transferindo-o para uma lâmina previamente preparada (limpa, seca e com uma pequena gota do líquido de montagem (lactofenol de Amann) posicionada no seu centro. Repita as transferências de material para a gota diversas vezes. É preferível repetir o procedimento com pequenas quantidades de material fúngico do que tentar transferir uma grande quantidade de uma vez só. 5) Verifique sob a lupa se o material que você tentou transferir realmente ficou na gota (há uma certa tendência do mesmo ficar aderido à ponta do estilete. 6) Cubra o material com a lamínula, posicionando, inicialmente, um dos seus lados sobre a lâmina e deixando a sua superfície inclinada sobre a gota do líquido de montagem (sem tocá-la). Segure a lamínula com dois dedos e sustentando-a em seguida com a ponta do estilete. Afaste gradualmente o estilete deixando a face inferior da lamínula entrar em contacto com a gota do líquido de montagem contendo as estruturas fúngicas. Caso ocorra formação de bolha de ar, aguarde sua movimentação em direção a um dos bordos ______________________________ Laboratório de Fitopatologia (aula 3) 3 da lamínula, desfazendo-se. Ligeira pressão sobre a lamínula pode ser necessária para precipitar o movimento da bolha. 7) Caso o líquido de montagem não tenha sido suficiente para ocupar toda a área abaixo da lamínula, deve ser acrescentado, por capilaridade, através de pequena gota depositada junto ao bordo da lamínula, em local mais próximo daquele em que faltou o preenchimento satisfatório. No caso de excesso de líquido de montagem, evidenciado pelo transbordo do mesmo junto aos bordos da lamínula, proceder a remoção utilizando papel absorvente (o melhor é o papel de filtro, cortado em pequenos pedaços). 8) Observar a preparação ao microscópio ótico, seguindo todas as recomendações técnicas de sua utilização. Observar com calma e detalhadamente as estruturas fúngicas presentes no campo focal, procedendo de acordo com a orientação do instrutor. 9) Retirar a lâmina do microscópio e proceder sua “lutagem”, ou seja, a vedação dos bordos da lamínula com base ou esmalte incolor para unhas. Para isto, qualquer excesso de líquido de montagem deve ser removido com papel de filtro, ficando bem secos os bordos da lamínula. Aplicar então o esmalte recobrindo todo os bordos. Após seco o esmalte ou base, aplicar uma segunda vez e, esperar novamente secar para depois identificar a lâmina com etiqueta (de acordo com as recomendações do instrutor) entregando-a, em seguida, ao instrutor. 10. Observação: lâminas e lamínulas limpas são mantidas em frascos, imersas em álcool 70%. Para utilização devem ser removidas sem a utilização de pinças ou qualquer outro instrumento, sob o risco de provocar arranhões ou até mesmo quebra das mesmas. Portanto, antes de manipulá-las, as mãos devem ser desinfetadas com álcool 70%. Após a remoção, lâminas e lamínulas devem ser secadas utilizando papel absorvente macio, tendo cuidado especial em relação às lamínulas, pela sua fragilidade. 4. FRAGMENTAÇÃO OU ESMIGALHAMENTO DAS LESÕES COM ESTRUTURAS FÚNGICASTécnica especialmente útil para o exame de estruturas de corpos frutíferos de fungos, tais como apotécios, peritécios, picnídios, etc., quando de difícil remoção por raspagem superficial. Procede-se da forma seguinte: 1. Colocar uma gota do líquido de montagem sobre uma lâmina microscópica seca. 2. Cortar com bisturi ou lâmina de barbear, previamente flambado ou resfriado, a lesão ou parte dela, contendo as frutificações fúngicas que se quer observar, e depositá-la sobre o líquido de montagem. 3. Dilacerar o tecido vegetal com auxílio de dois estiletes ou de uma pinça, previamente flambados e resfriados. Eliminar, em seguida, o excesso de material vegetal dilacerado, utilizando pinça. 4. Cobrir com lamínula, observando os cuidados descritos na técnica anterior. 5. Proceder, em seguida, conforme descrito na técnica anterior. 5. CORTE HISTOPATOLÓGICO À MÃO LIVRE Embora muito utilizada tanto para fungos que produzem estruturas externas ao substrato como para os que produzem apenas estruturas imersas (picnídios, acérvulos, ______________________________ Laboratório de Fitopatologia (aula 3) 4 peritécios e outras) e fundamental para a observação dos últimos, é um tipo de lâmina mais difícil de ser feito pelos iniciantes. Cuidados especiais a serem tomados são os seguintes: a) Depois de escolher uma lesão com estruturas do fungo visíveis sob a lupa, recortar uma pequena tira do material, usando um bisturi ou lâmina de barbear, ou mesmo tesoura, previamente flambados e resfriados (mas sempre com o cuidado proteger a platina da lupa, cortando o material apoiado sobre uma lâmina). A tira deve conter as lesões com as estruturas fúngicas que se pretende cortar. b) Posiciona-se o material sob a lupa em seu aumento máximo. Toma-se uma metade de uma lâmina de barbear nova e faz-se um primeiro corte que visa apenas alcançar a área a ser aproveitada para a confecção da lâmina. Elimina-se o produto do primeiro corte e daí por diante tenta-se obter as seções mais finas que destreza manual e a visão permitirem. Um número de seis a dez seções é em geral o suficiente. c) Ainda sob a lupa selecionam-se as seções mais finas. Seja rigoroso na seleção das seções. O aproveitamento de uma que tenha ficado mais grossa pode estragar o que seria uma boa lâmina. Com o estilete devidamente flambado retiram-se as seções (3 ou 4) selecionadas, que são então transferidas para uma lâmina previamente preparada como descrito nas técnicas anteriores, dispostos paralelamente um ao outro. d) A sequência do procedimento é de acordo com o descrito nas técnicas anteriores. e) Observação: Se o espécime a ser examinado está seco, cubra a área a ser cortada com algumas gotas de KCl (10%), por alguns minutos, antes de se proceder aos cortes histopatológicos à mão livre. 6. LÁMINA OBTIDA DE TECIDOS VEGETAIS DOENTES MANTIDOS EM CÂMARA ÚMIDA Muitas vezes, amostras de plantas representativas de uma doença fúngica chegam do campo apresentando pouca ou nenhuma estrutura externa do fungo (conidióforos, esporos, micélio externo, etc...). Isto pode acontecer se as condições ambientais no período que antecedeu a coleta foram desfavoráveis para o fungo. Para fungos produtores de estruturas imersas no tecido do hospedeiro (peritécios, picnídios e outras) os esporos podem estar limitados à porção interna da frutificação. Fica assim difícil a realização do isolamento direto do fungo e também a preparação de lâminas. Uma alternativa para se superar o problema é submeter partes selecionadas da amostra a uma câmara úmida. Ou seja, o material é deixado por determinado período de tempo dentro de um recipiente fechado em uma atmosfera saturada de umidade. A produção de estruturas fúngicas pode ser estimulada desta forma. Um problema, no entanto, é que o mesmo tratamento estimula o rápido crescimento de organismos saprofíticos presentes na amostra. Uma assepsia rápida da amostra, mergulhando-a por 1 a 2 minutos em hipoclorito de sódio a 2%, seguida de uma rápida lavagem em água esterilizada, pode contribuir para minimizar o problema. É, por sua vez, necessário saber que se existirem estruturas do fungo fitopatogênico externas ao tecido vegetal, elas podem ser eliminadas nesta assepsia. O material em câmara úmida não deve ser incubado em temperaturas elevadas. Se possível que seja mantido em local onde receba luz (como sobre a bancada de um laboratório). O exame do material incubado (sob a lupa) deve ser feito em intervalos regulares para permitir a constatação do fungo assim que sua presença se torne evidente. Assim que surgirem as estruturas fúngicas, deve-se proceder a preparação microscópica através de raspagem ou utilização de fita adesiva transparente, conforme as técnicas descritas anteriormente. ______________________________ Laboratório de Fitopatologia (aula 3) 5 7. MÉTODO DE MICROCULTURA A técnica de preparação de lâminas microscópicas de estruturas fúngicas, a partir de “microcultura”, será objeto de uma aula prática exclusiva, portanto, não é abordada no presente material. 8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA AGRIOS, G.N. Introduction. In: AGRIOS, G.N. Plant pathology. 5 ed. San Diego: Elsevier Academic Press, 2005. ALFENAS, A.C.; MAFIA, R.G. (edt). Métodos em fitopatologia. Viçosa: Ed. UFV, 2007. MENEZES, M.; ASSIS, S.M.P. Guia prático para fungos fitopatogênicos. Recife: UFRPE, Imprensa Universitária, 2004.
Compartilhar