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Curso: Letras Disciplina: Bases da Cultura Ocidental
Conteudista: André Alonso
AULA 17 – Ano Zero: o nascimento de Cristo e a expansão do cristianismo
META
Apresentar o cristianismo, um dos elementos essenciais da cultura ocidental, mostrando o 
contato inicial que teve com a cultura greco-romana e o desenvolvimento de uma literatura 
nova, desenvolvida primeiramente pelos Padres da Igreja.
OBJETIVOS
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
1. estabelecer a importância do cristianismo como elemento de constituição da cultura ocidental;
2. descrever os primeiros contatos entre o cristianismo e a cultura greco-romana;
3. descrever a literatura dos Padres da Igreja.
INTRODUÇÃO
Em nossa aula anterior, estudamos a figura de Sócrates, filósofo ateniense do séc. V a. C. que 
pode ser visto como a encarnação de um saber então recente na Grécia, a filosofia. O impacto da 
educação nova, capitaneada pelos sofistas e filósofos, na cultura tradicional grega é profundo. 
Hábitos, valores e instituições serão afetados e modificados. E mais: a cosmovisão e as 
categorias de pensamento e de conhecimento da realidade mudarão, indo por caminho nunca 
antes percorridos pelo engenho humano e moldando, de modo permanente, a cultura e a 
civilização ocidental. O impacto da filosofia e da sofística na Grécia clássica foi tamanho a ponto 
de ficar registrado em cores vivas na comédia aristofânica Nuvens. Tivemos, ainda, 
oportunidade de aprender um pouco sobre o processo de Sócrates e ver como ele representa o 
início da problemática relação entre fé e razão. Por fim, vimos a impassibilidade de Sócrates 
1
diante da morte e o seu senso prevalente de justiça, condensado na máxima “é preferível sofrer 
uma injustiça a cometer uma”.
Na aula de hoje, estudaremos as origens do cristianismo e sua importância como um dos 
elementos fundamentais da cultura ocidental. Veremos a questão das fontes que tratam da vida 
e da pregação de Jesus, assim como um pouco sobre os primeiros contatos entre o cristianismo e 
o paganismo. Faremos a leitura de trechos de alguns dos primeiros escritos cristãos não 
canônicos e trataremos brevemente dos chamados Padres da Igreja.
1. ANO ZERO: O NASCIMENTO DE CRISTO
O nascimento de Jesus é um evento tão fundamental na história da humanidade, mormente na 
cultura ocidental, que serviu como marco para um calendário que se tornou universalmente 
conhecido e que é mesmo aceito e adotado, ao menos para efeitos civis, em certas culturas não 
cristãs. A importância desse acontecimento pode ser resumida em duas siglas: a. C. (antes de 
Cristo) e d. C. (depois de Cristo). O nascimento de Cristo tornou-se um divisor de águas na 
marcação de datas, o marco zero na contagem dos anos, a referência para a medida do tempo de 
nossa cultura. Infelizmente, tem havido, há algum tempo, tentativas de eliminar toda e 
qualquer referência ao nascimento de Cristo como elemento crucial na definição de nosso 
calendário. Você talvez já tenha visto (sem mesmo dar-se conta) as siglas, em inglês, CE e BCE 
para marcar datas, substituindo os tradicionais BC e AD (usados também em inglês e 
equivalentes aos nossos a. C. e d. C.; BC abrevia “Before Christ” – antes de Cristo – e AD, 
“Anno Domini” – no ano do Senhor). As siglas CE e BCE significam, respectivamente, 
“Common Era” – Era Comum – e “Before Common Era” – antes da Era Comum. Toda e 
qualquer referência a Cristo é eliminada. O mais interessante é que não se propõe nenhum 
outro marco inicial. O nascimento de Cristo continua representando o ano zero, mas sem que se 
possa fazer qualquer menção a ele, o que é, obviamente, uma solução hipócrita. Assim, o ano 
1500 da Era Comum (CE, em inglês) é o ano de 1500 d. C. (depois de Cristo). Cristo continua 
sendo o referencial, mas é preciso escondê-lo. Isso é um contrassenso e algo absurdo. Sem 
dúvida são motivações antirreligiosas que estão na raiz dessas siglas. É a ideia de que Cristo, 
2
sendo o centro de uma religião, feriria membros de outras religiões ou ateus. Mas não podemos 
nos esquecer que Cristo, ainda que não seja aceito do ponto de vista religioso, é um personagem 
histórico, real, cuja vida e os ensinamentos marcaram indelevelmente a cultura ocidental. O 
cristianismo é um elemento bimilenar essencial de nossa cultura. Isso não podemos negar. 
Mesmo os que não são cristãos comemoram datas como o Natal (nascimento de Cristo) e a 
Páscoa (ressurreição de Cristo). Essas festas fazem parte da cultura ocidental e têm mesmo uma 
enorme importância econômica, já que a venda de chocolates e presentes é imensa nesses 
períodos. Como negar os fatos? A adoção de siglas como CE e BCE, que escondem o elemento 
cristão de nossa civilização, é não apenas destituída de sentido, mas sobretudo um indicativo de 
um movimento que visa a extirpar a influência cristã da cultura ocidental.
1.1. AS FONTES DA VIDA E DO ENSINAMENTO DE CRISTO
A Bíblia compõe-se de duas grandes partes, que estão divididas pelo nascimento de Cristo: (1) 
o Antigo Testamento, que narra a história do povo judeu e contém os preceitos da religião 
judaica, constituindo o cerne da cultura da qual Jesus faz parte; (2) o Novo Testamento, que 
contém a narrativa da vida de Jesus, seus ensinamentos e os de seus apóstolos. O Antigo 
testamento foi escrito em hebraico, contendo algumas passagens em aramaico. O Novo 
testamento foi escrito em grego, mais especificamente no dialeto comum que então vigorava: a 
koiné. Os fatos essenciais da vida e do ensinamento de Cristo estão conservados nos quatro 
evangelhos que fazem parte do Novo Testamento.
Verbete
Bíblia – o termo vem do grego βιβλία (biblía), “livros”, que é o plural de βιβλίον (biblíon), 
“livro”. O termo está ligado a βίβλος (bíblos), que significa “papiro”, planta de origem egípcia a 
partir da qual se faziam folhas – os papiros – para escrever.
Fim do Verbete
3
Verbete
evangelho – vem do verbo grego ἀγγέλλω, que significa “anunciar” (de onde vem a palavra 
ἄγγελος – ánguelos – “mensageiro”, que através do latim angelus chegou ao português: anjo) e 
do prefixo εὐ, que significa “bem” ou “bom”. A palavra grega ἐυαγγέλιον (euanguélion) quer 
dizer “boa nova”, “boa notícia”, “boa mensagem”.
Fim do Verbete
Quando estudamos os poemas homéricos, pudemos ver a importância da oralidade na cultura 
grega. Ao estudarmos Sócrates, vimos que ele nada escreveu. Defrontamo-nos com essa 
realidade também no que se refere a Jesus. Seu ensino era oral. Ele nada escreveu. A oralidade 
tinha um papel importante, embora a escrita fosse uma realidade antiga na cultura judaica. 
Uma interessante menção à escrita está na passagem em que Deus entrega a Moisés as tábuas 
da Lei (Êxodo, 31, 18):
“Tendo o Senhor acabado de falar a Moisés sobre o monte Sinai, entregou-lhe as duas tábuas 
do testemunho, tábuas de pedras, escritas com o dedo de Deus”.
As tábuas da Lei são escritas pelo próprio Deus (“com o dedo de Deus”). Mas Moisés e outros 
são capaz de ler e escrever, como atestam duas outras passagens:
“Moisés veio referir ao povo todas as palavras do Senhor, e todas as suas leis; e o povo 
inteiro respondeu a uma voz: 'Faremos tudo o que o Senhor disse'. E Moisés escreveu todas 
as palavras do Senhor”. (Êxodo, 24, 3-4)
“Moisés escreveu esta lei e deu-a aos sacerdotes filhos de Levi, que levavam a arca da aliança 
do Senhor, bem como a todos os anciãos de Israel, dando-lhes esta ordem: 'Ao fim de cada 
sete anos, no ano da Remissão, por ocasião da festa dos Tabernáculos, quando todo o Israel 
vier apresentar-se diante do Senhor, vosso Deus,no lugar escolhido por ele, tu farás a leitura 
desta lei a todo o povo israelita'”. (Deuteronômio, 31, 9-11)
4
Mas Jesus teria utilizado o ensino oral por não saber ler e escrever? Não é o que nos indicam os 
evangelhos. Cristo era perfeitamente letrado. Podia ler e escrever, como nos mostram as 
passagens seguintes:
“Dirigiu-se a Nazaré, onde se havia criado. Entrou na sinagoga em dia de sábado, segundo o 
seu costume, e levantou-se para ler. Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías. Desenrolando o 
livro, escolheu a passagem onde está escrito: 'O Espírito do Senhor está sobre mim, porque 
me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para sarar os contritos de 
coração, para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em 
liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor'. E enrolando o livro, deu-o ao 
ministro e sentou-se; todos quantos estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele”. (São 
Lucas, 4, 16-20)
“Os escribas e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher que fora apanhada em adultério. 
Puseram-na no meio da multidão e disseram a Jesus: 'Mestre, agora mesmo esta mulher foi 
apanhada em adultério. Moisés mandou-nos na Lei que apedrejássemos tais mulheres. Que 
dizes tu a isso?' Perguntavam-lhe isso a fim de pô-lo à prova e poderem acusá-lo. Jesus, 
porém, se inclinou para a frente e escrevia com o dedo na terra. Como eles insistissem, 
ergueu-se e disse-lhes: 'Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma 
pedra'”. (São João, 8, 3-7)
BOXE MULTIMÍDIA
Roberto Rosselini, o diretor do filme Sócrates (Aula 12), fez também um filme sobre Cristo: O 
Messias. Vejamos a cena em que Jesus entra na sinagoga em Nazaré e lê um trecho do profeta 
Isaías:
http://www.youtube.com/watch?v=LUGwGtSgw6o 
FIM DO BOXE MULTIMÍDIA
Santo Tomás de Aquino (séc. XIII), ao comentar a passagem do evangelho de São João, dá-nos 
uma belíssima e magnífica explicação:
“Em terceiro lugar, porque a Velha Lei fora escrita em tábuas de pedra, como está dito em 
Ex. 31 e II Cor. 3. Por meio disso, mostra-se a sua dureza, porque 'Se alguém transgredia a lei 
de Moisés, era morto sem nenhuma misericórdia', como está dito em Hebr. 10, 28. A terra, 
5
porém, é suave. Logo, para exprimir a doçura e a suavidade da Nova Lei entregue por meio 
dele, ele escrevia na terra”. (Super Ioannem, c. 8, l. 1)
A pregação de Cristo é oral, feita na forma de sermões e de parábolas. Como, então, teriam suas 
palavras chegado até nós? A resposta, nós já sabemos, pois vimos o mesmo problema com os 
poemas homéricos, que circulavam oralmente e que só séculos depois foram fixados por escrito. 
Com o ensinamento de Cristo, temos um fenômeno semelhante, exceto pelo fato de que ainda 
no séc. I surgem os evangelhos, apenas algumas décadas após a morte de Jesus e por pessoas 
que tinham tido contato direto com Ele ou com seus apóstolos. A noção fundamental para 
entender essa transmissão oral, em um primeiro momento, e escrita, na sequência, é a ideia de 
tradição. A transmissão se faz (oralmente ou por escrito) de uma geração para outra, visando à 
conservação daquilo que há de essencial em um determinado grupo ou cultura. E isso não é 
diferente com a pregação de Cristo, que circulou, inicialmente de forma oral, durante alguns 
anos, mas que teve de percorrer quase dois milênios por escrito até chegar a nossos dias. Como 
a imprensa só foi inventada por Gutenberg no séc. XV d. C., foram pelo menos 1400 anos 
circulando sob forma de manuscritos pacientemente copiados e recopiados. A tradição, como 
vemos, não é apenas um fenômeno oral, mas também escrito, e é graças a ela que herdamos 
toda a literatura clássica e judaico-cristã. Falaremos, um pouco mais adiante, de alguns dos 
primeiros escritos cristãos fora do Novo Testamento. Por ora, leiamos a descrição do 
nascimento de Cristo, conforme registrado no Evangelho de São Mateus (1, 18-2, 23):
“Eis como nasceu Jesus Cristo: Maria, sua mãe, estava desposada com José. Antes de 
coabitarem, aconteceu que ela concebeu por virtude do Espírito Santo. José, seu esposo, que 
era homem de bem, não querendo difamá-la, resolveu rejeitá-la secretamente. Enquanto 
assim pensava, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: 'José, filho de 
Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito 
Santo. Ela dará à luz um filho a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo 
de seus pecados.' Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor falou pelo 
profeta: Eis que a Virgem conceberá e dará à luz a um filho que se chamará Emanuel , que significa: 
Deus conosco. Despertando, José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu 
em sua casa sua esposa. E, sem que ele a tivesse conhecido, ela deu à luz o seu filho, que 
recebeu o nome de Jesus.
Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que magos 
vieram do Oriente a Jerusalém. Perguntaram eles: 'Onde está o rei dos judeus que acaba de 
nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.' A esta notícia, o rei Herodes ficou 
perturbado e toda Jerusalém com ele. Convocou os príncipes dos sacerdotes e os escribas do 
povo e indagou deles onde havia de nascer o Cristo. Disseram-lhe: 'Em Belém, na Judeia, 
6
porque assim foi escrito pelo profeta: E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor 
entre as cidades de Judá, porque de ti sairá o chefe que governará Israel, meu povo'. Herodes, então, 
chamou secretamente os magos e perguntou-lhes sobre a época exata em que o astro lhes 
tinha aparecido. E, enviando-os a Belém, disse: 'Ide e informai-vos bem a respeito do 
menino. Quando o tiverdes encontrado, comunicai-me, para que eu também vá adorá-lo.' 
Tendo eles ouvido as palavras do rei, partiram.
E eis que a estrela, que tinham visto no Oriente, os foi precedendo até chegar sobre o lugar 
onde estava o menino, e ali parou. A aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria. 
Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante dele, o 
adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e 
mirra. Avisados em sonhos de não tornarem a Herodes, voltaram para sua terra por outro 
caminho.
Depois de sua partida, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse: 'Levanta-te, 
toma o menino e sua mãe e foge para o Egito e fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai 
procurar o menino para o matar.' José levantou-se durante a noite, tomou o menino e sua 
mãe e partiu para o Egito. Ali permaneceu até à morte de Herodes para que se cumprisse o 
que o Senhor dissera pelo profeta: Eu chamei do Egito meu filho.
Vendo, então, Herodes que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irado e mandou 
massacrar em Belém e nos seus arredores todos os meninos de dois anos para baixo, 
conforme o tempo exato que havia indagado dos magos. Cumpriu-se, então, o que foi dito 
pelo profeta Jeremias: Em Ramá se ouviu uma voz, choro e grandes lamentos: é Raquel a chorar 
seus filhos; não quer consolação, porque já não existem!
Com a morte de Herodes, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, no Egito, e disse: 
'Levanta-te, toma o menino e sua mãe e retorna à terra de Israel, porque morreram os que 
atentavam contra a vida do menino.'
José levantou-se, tomou o menino e sua mãe e foi para a terra de Israel.
Ao ouvir, porém, que Arquelau reinava na Judeia, em lugar de seu pai Herodes, não ousou 
ir para lá. Avisado divinamente em sonhos, retirou-se para a província da Galileia e veio 
habitar na cidade de Nazaré para que se cumprisse o que foi dito pelos profetas: Será 
chamado Nazareno.”
BOXE MULTIMÍDIA
No filmeA maior história de todos os tempos (1965), indicado a 5 Oscar, podemos ver uma 
representação do nascimento de Cristo, da adoração dos Reis Magos, do massacre dos inocentes 
(as crianças mortas a mando de Herodes) e da fuga de José e Maria para o Egito:
http://www.youtube.com/watch?v=KYFokfb4B2E
Outro filme que retrata a vida de Cristo é Rei dos Reis (1961). Eis como são retratados os mesmos 
fatos:
7
http://www.youtube.com/watch?v=0yt8cRxCTys
FIM DO BOXE MULTIMÍDIA
A presença dos Reis Magos é intrigante, como intrigantes são os presentes que oferecem ao 
menino Jesus: ouro, incenso e mirra. Santo Tomás de Aquino (séc. XIII), citando São João 
Crisóstomo e São Gregório Magno, explica a adoração dos Magos e seus presentes da maneira 
seguinte (Summa Theol., III, q. 36, a. 8, ad 4):
“Como Crisóstomo diz, no comentário ao Evangelho de S. Mateus, 'se os Magos tivessem 
vindo procurar um rei terrestre, teriam ficado decepcionados, pois teriam suportado a fadiga 
de um tão grande caminho'. Donde, nem o teriam adorado nem lhe oferecido presentes. 
'Mas, porque procuravam o Rei celestial, ainda que nele não tenham visto nada de dignidade 
real, todavia o adoraram, satisfeitos apenas com o testemunho da estrela. Com efeito, eles 
veem um homem e reconhecem Deus. E ofereceram presentes adequados à dignidade do 
Cristo: 'ouro, certamente, como ao grande Rei; incenso, que se põe no sacrifício a Deus, 
oferecem como a Deus; mirra, com a qual se embalsamam os corpos dos defuntos, é dada 
como àquele que havia de morrer pela salvação de todos'. E, como Gregório diz, somos 
ensinados a 'oferecer ao Rei recém-nascido o ouro, que simboliza a sabedoria, quando em 
Sua presença brilhamos com a luz da sabedoria; o incenso, que exprime o devotamento da 
oração, oferecemos a Deus, se conseguirmos exalar perfume a Deus por meio do ardor de 
nossas orações; a mirra, que simboliza a mortificação da carne, nós oferecemos, se 
mortificamos os vícios da carne por meio da abstinência'.”
Vejamos, agora, como Cristo ensinou as multidões.
2. A PREGAÇÃO DE JESUS
A pregação de Jesus dá-se por parábolas, por admoestações e por sermões. Por vezes, ele serve-
se do diálogo. O mais fundamental, no entanto, é seu agir, que confirma e completa suas 
palavras. A coerência entre a pregação e o modo de viver ou a ação é fundamental. Os antigos 
sintetizaram isso em um belo ditado latino: uerba uolant, exempla trahunt – as palavras voam, os 
exemplos arrastam. A melhor maneira de você ensinar alguém não é com palavras, mas com 
exemplos, com atos concretos. Essa desconexão entre o falar e o agir é danosa. E Ele mesmo no-
lo advertiu disso, ao falar sobre os escribas e os fariseus:
8
“Dirigindo-se, então, Jesus à multidão e aos seus discípulos, disse: 'Os escribas e os fariseus 
sentaram-se na cadeira de Moisés. Observai e fazei tudo o que eles dizem, mas não façais 
como eles, pois dizem e não fazem. Atam fardos pesados e esmagadores e com eles 
sobrecarregam os ombros dos homens, mas não querem movê-los sequer com o dedo. Fazem 
todas as suas ações para serem vistos pelos homens; por isso trazem largas faixas e longas 
franjas nos seus mantos. Gostam dos primeiros lugares nos banquetes e das primeiras 
cadeiras nas sinagogas'”. (São Mateus, 23, 1-6)
E referindo-se a esses mesmo escribas e fariseus hipócritas, ele dirige-lhes duríssimas palavras:
“Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Vós fechais aos homens o reino dos céus: vós 
mesmos não entrais e nem deixais que entrem os que querem entrar. […] Ai de vós, escribas 
e fariseus hipócritas! Sois semelhantes aos sepulcros caiados: por fora parecem formosos, 
mas por dentro estão cheios de ossos, de cadáveres e de toda espécie de podridão. Assim 
também vós, por fora pareceis justos aos olhos dos homens, mas por dentro estais cheios de 
hipocrisia e de iniquidade.” (São Mateus, 23, 13; 27-28)
A coerência entre o falar e o agir é fundamental na mensagem de Cristo, o que deixa claro que 
sua pregação é de caráter moral: ensinar aos homens como viver e agir de acordo com a Justiça 
e a vontade de Deus. Esse liame essencial entre a fala e a ação torna-se evidente, por contraste e 
oposição, na parábola dos dois filhos:
“Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse-lhe: 'Meu 
filho, vai trabalhar hoje na vinha'. Respondeu ele: 'Não quero'. Mas, em seguida, tocado de 
arrependimento, foi. Dirigindo-se depois ao outro, disse-lhe a mesma coisa. O filho 
respondeu: 'Sim, pai!' Mas não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai? – 'O primeiro', 
responderam-lhe.” (São Mateus, 21, 28-31)
O primeiro filho disse não à ordem do pai, mas, arrependido, obedeceu. O segundo disse sim, 
mas não obedeceu. A conclusão é que este, apesar de ter dito sim, não fez a vontade do pai, 
enquanto o segundo, apesar da negativa inicial, cumpriu o que lhe havia sido mandado.
Cristo não está preocupado com teorizações e abstrações de cunho filosófico. O contexto em que 
Ele se insere é religioso. Sua pregação é voltada para ensinar os homens a viver a vida de 
acordo com a vontade de Deus. Por isso, seu modo de expressão não é complexo, não exige 
grandes esforços intelectuais para ser compreendido. Está ao alcance de todos, ou melhor, de 
todos aqueles que estejam abertos à verdadeira Sabedoria, que não é deste mundo. A busca de 
9
uma sabedoria mundana seria um empecilho para chegar-se à verdadeira Sabedoria, pois 
complica o que é simples e nos faz presunçosos de um saber que não é nosso por direito, mas 
que nos é dado gratuitamente e do qual podemos ser apenas partícipes. A ideia de que a 
Sabedoria é acessível aos simples, ao mesmo tempo em que é negada aos sábios deste mundo 
está expressa mais de uma vez nos evangelhos. Em uma primeira passagem, Jesus diz que o 
reino dos céus pertence aos que se assemelham às crianças, que são a encarnação da pureza e da 
simplicidade:
“Apresentaram-lhe então crianças para que as tocasse; mas os discípulos repreendiam os que 
as apresentavam. Vendo-o, Jesus indignou-se e disse-lhes: 'Deixai vir a mim os pequeninos e 
não os impeçais; porque o reino de Deus é daqueles que se lhes assemelham. Em verdade 
vos digo, todo o que não receber o reino de Deus com a mentalidade de uma criança, nele 
não entrará'. Em seguida, ele as abraçou e as abençoou, impondo-lhes as mãos”. (São 
Marcos, 10, 13-16)
Em outro trecho, Ele fala da sabedoria que é revelada aos pequeninos, mas que é escondida dos 
sábios:
“Por aquele tempo, Jesus pronunciou estas palavras: 'Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da 
terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos”. 
(São Mateus, 11, 25)
2.1. AS PARÁBOLAS E A INFLUÊNCIA EM NOSSA LÍNGUA
Jesus serve-se frequentemente de parábolas, que, utilizando uma linguagem direta e exemplos 
concretos, permitem ensinar de modo bastante simples. Utilizando-se de exemplos quotidianos, 
muitos ligados à agricultura e ao pastoreio, Cristo torna sua pregação acessível a todos, ainda 
que só até certo ponto. Há verdades que muitos podem compreender apenas parcialmente, 
porque têm o coração endurecido, os ouvidos tapados e os olhos fechados. Assim, Ele explica a 
seus discípulos os mistérios do reino dos céus, para eles possam, depois, ensinar ao povo, na 
medida em que este puder compreender:
“Os discípulos aproximaram-se dele, então, para dizer-lhe: 'Por que lhes falas em parábolas?' 
Respondeu Jesus: 'Porque a vós é dado compreender os mistérios do reino dos céus, mas a 
eles, não. Ao que tem, se lhe dará e terá em abundância; mas ao que não tem, será tirado até 
10
mesmo o que tem. Eis porque lhes falo em parábolas:Para que vendo, não vejam, e ouvindo, 
não ouçam nem compreendam. Assim se cumpre para eles o que foi dito pelo profeta Isaías: 
'Ouvireis com vossos ouvidos e não entendereis, olhareis com vossos olhos e não vereis, 
porque o coração deste povo se endureceu: taparam os seus ouvidos, e fecharam os seus 
olhos para que seus olhos não vejam, e seus ouvidos não ouçam, nem seu coração 
compreenda; para que não se convertam e eu os sare'. Mas quanto a vós, bem-aventurados 
os vossos olhos, porque veem! Ditosos os vossos ouvidos, porque ouvem! Eu vos declaro, em 
verdade: Muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não o viram; ouvir o que 
ouvis, e não o ouviram.” (São Mateus, 13, 10-17)
BOXE MULTIMÍDIA
No filme A maior história de todos os tempos (1965) há uma cena em que Jesus conversa com 
Lázaro e suas irmãs. Nela aparecem condenados alguns dos ensinamentos de Cristo que 
encontramos nos Evangelhos:
http://www.youtube.com/watch?v=leK46sGzJhw
BOXE MULTIMÍDIA
As diversas parábolas que encontramos nos evangelhos deixaram traços importantes em nossa 
cultura e em nossa língua. Há expressões em português que derivam de passagens tiradas das 
parábolas:
a) separar o joio do trigo – significa separar o que é bom do que é ruim, mostrar o que há de 
bom e o que há de ruim em uma determinada circunstância, ser prudente e evitar punir os 
bons, quando se quer punir os maus. A expressão vem da parábola seguinte:
“Jesus propôs-lhes outra parábola: 'O reino dos céus é semelhante a um homem que tinha 
semeado boa semente em seu campo. Na hora, porém, em que os homens repousavam, veio 
o seu inimigo, semeou joio no meio do trigo , e partiu. O trigo cresceu e deu fruto, mas 
apareceu também o joio. Os servidores do pai de família vieram e disseram-lhe: 'Senhor, não 
semeaste bom trigo em teu campo? Donde vem, pois, o joio?' Disse-lhes ele: 'Foi um inimigo 
que fez isto!' Replicaram-lhe: 'Queres que vamos e o arranquemos?' 'Não, disse ele, 
arrancando o joio, arriscais a tirar também o trigo. Deixai-os crescer juntos até à colheita. No 
tempo da colheita, direi aos ceifadores: Arrancai primeiro o joio e atai-o em feixes para o 
queimar. Recolhei depois o trigo no meu celeiro'”. (São Mateus, 13, 24-25)
11
b) filho pródigo – diz-se de alguém que desapareceu durante um longo tempo e que reaparece 
repentinamente. A origem é, obviamente, a parábola de mesmo nome:
“Disse também: 'Um homem tinha dois filhos. O mais moço disse a seu pai: Meu pai, dá-me 
a parte da herança que me toca. O pai então repartiu entre eles os haveres. Poucos dias 
depois, ajuntando tudo o que lhe pertencia, partiu o filho mais moço para um país muito 
distante, e lá dissipou a sua fortuna, vivendo dissolutamente. Depois de ter esbanjado tudo, 
sobreveio àquela região uma grande fome: e ele começou a passar penúria. Foi pôr-se ao 
serviço de um dos habitantes daquela região, que o mandou para os seus campos guardar os 
porcos. Desejava ele fartar-se das vagens que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. 
Entrou então em si e refletiu: Quantos empregados há na casa de meu pai, que têm pão em 
abundância... e eu, aqui, estou a morrer de fome! Levantar-me-ei e irei a meu pai, e dir-lhe-ei: 
Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me 
como a um dos teus empregados. Levantou-se, pois, e foi ter com seu pai. Estava ainda 
longe, quando seu pai o viu, e, movido de compaixão, correu-lhe ao encontro, lançou-se-lhe 
ao pescoço e o beijou. O filho lhe disse então: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não 
sou digno de ser chamado teu filho. Mas o pai falou aos servos: Trazei-me depressa a melhor 
veste e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e calçado nos pés. Trazei também um novilho 
gordo e matai-o; comamos e façamos uma festa. Este meu filho estava morto, e reviveu; 
tinha-se perdido e foi achado. E começaram a festa. O filho mais velho estava no campo. Ao 
voltar e aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um servo e perguntou-
lhe o que havia. Ele lhe explicou: Voltou teu irmão. E teu pai mandou matar um novilho 
gordo, porque o reencontrou são e salvo. Encolerizou-se ele e não queria entrar; mas seu pai 
saiu e insistiu com ele. Ele, então, respondeu ao pai: Há tantos anos que te sirvo, sem jamais 
transgredir ordem alguma tua, e nunca me deste um cabrito, para festejar com os meus 
amigos. E agora, que voltou este teu filho, que gastou os teus bens com as meretrizes, logo 
lhe mandaste matar um novilho gordo! Explicou-lhe o pai: Filho, tu estás sempre comigo, e 
tudo o que é meu é teu; convinha, porém, fazermos festa, pois que este teu irmão estava 
morto e reviveu, tinha-se perdido e foi achado'.” (São Lucas, 15, 11-31)
Outros ditados populares não provêm de parábolas, mas de outros trechos da pregação de 
Jesus. Eis apenas alguns exemplos mais conhecidos, para não nos alongarmos:
a) dar pérolas aos porcos – dar algo valioso a alguém que não saberá reconhecê-lo e que ainda 
se voltará contra o benfeitor. Expressão tirada da passagem seguinte:
“Não lanceis aos cães as coisas santas, não atireis aos porcos as vossas pérolas, para que não 
as calquem com os seus pés, e voltando-se contra vós, vos despedacem.” (São Mateus, 7, 6)
12
b) dar a César o que é de César – dar a cada um aquilo que é seu por direito, atribuir a cada um 
aquilo que lhe cabe por justiça. Eis a origem da frase:
“Reuniram-se, então, os fariseus para deliberar entre si sobre a maneira de surpreender Jesus 
nas suas próprias palavras. Enviaram seus discípulos com os herodianos, que lhe disseram: 
'Mestre, sabemos que és verdadeiro e ensinas o caminho de Deus em toda a verdade, sem te 
preocupares de ninguém, porque não olhas para a aparência dos homens. Dize-nos, pois, o 
que te parece: É permitido ou não pagar o imposto a César?' Jesus, percebendo a sua malícia, 
respondeu: 'Por que me tentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda com que se paga o imposto!' 
Apresentaram-lhe um denário. Perguntou Jesus: 'De que é esta imagem e esta inscrição?' 'De 
César', responderam-lhe. Disse-lhes então Jesus: 'Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus 
o que é de Deus'. Esta resposta encheu-os de admiração, e, deixando-o, retiraram-se”. (São 
Mateus, 22, 15-22)
c) ver para crer – expressão que indica um fato no qual dificilmente se pode acreditar. Vem do 
trecho em que o apóstolo São Tomé não acredita quando os outros apóstolos lhe dizem que 
Jesus ressuscitou e apareceu para eles:
“Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Os outros 
discípulos disseram: 'Vimos o Senhor'. Mas ele replicou-lhes: 'Se não vir nas suas mãos o 
sinal dos pregos e não puser o meu dedo no lugar dos pregos, e não introduzir minha mão 
no seu lado, não acreditarei!' Oito dias depois, estavam os seus discípulos outra vez no 
mesmo lugar e Tomé com eles. Estando trancadas as portas, veio Jesus, pôs-se no meio deles 
e disse: 'A paz esteja convosco!' Depois disse a Tomé: 'Introduz aqui o teu dedo, e vê as 
minhas mãos. Põe a tua mão no meu lado. Não sejas incrédulo, mas homem de fé'. 
Respondeu-lhe Tomé: 'Meu senhor, e meu Deus!' Disse-lhe Jesus: 'Creste, porque me viste. 
Felizes aqueles que creem sem terem visto!'” (São João, 20, 24-29)
d) dar a outra face – significa não se vingar, saber ser paciente, mesmo diante das piores 
humilhações, não revidar uma agressão, ainda que injusta. É tirado do trecho seguinte:
“Tendes ouvido o que foi dito: 'Olho por olho, dente por dente'. Eu, porém, vos digo: Não 
resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra. Se alguém te 
citar em justiça para tirar-te a túnica, cede-lhe também a capa. Se alguém vem obrigar-te a 
andar mil passos com ele, anda dois mil. Dá a quem pede e nãote desvies daquele que te 
quer pedir emprestado” (São Mateus, 5, 38-42)
e) atirar a primeira pedra – ser o primeiro a acusar ou culpar alguém. Lemos, anteriormente (no 
tópico 1.1), a passagem de onde é extraída a expressão (São João, 8, 3-7).
13
BOXE MULTIMÍDIA
Eis a cena do filme A maior história de todos os tempos (1965) na qual aparece a passagem sobre 
“atirar a primeira pedra”:
http://www.youtube.com/watch?v=2nadvCsgByU
FIM DO BOXE MULTIMÍDIA
Não há necessidade de multiplicar os exemplos. Podemos facilmente constatar o quanto nossa 
língua está enriquecida por expressões tiradas dos evangelhos e da cultura cristã. Usamos frases 
cristãs diariamente, sem nos darmos conta. A explicação óbvia é a enorme e essencial influência 
que o cristianismo exerceu e exerce em nossa cultura. E da mesma forma que não faria sentido 
banir tais expressões cristãs de nossa língua, não faz sentido a substituição que vem sendo feita 
na língua inglesa, na qual as siglas BC e AD estão sendo rejeitadas em prol de BCE e CE, 
baseada numa inconsistente noção de “Era Comum”, como dissemos anteriormente. Para nós, 
que estudamos língua e literatura, há um problema fundamental que merece toda a atenção. 
Não vamos poder abordá-lo aqui, pois estaríamos nos distanciando do foco da aula, mas seria 
importante que você procurasse se aprofundar no assunto, já que interfere diretamente com seu 
campo de estudo e, futuramente, de trabalho. A questão pode ser formulada através de uma 
simples pergunta – ainda que as implicações sejam imensas: A língua e a literatura podem ser 
controladas e moldadas por uma entidade ou um poder qualquer? Em outras palavras: Pode 
uma decisão – política, judicial, acadêmica etc. – controlar a língua e a literatura? A questão é 
importante, porque a língua, os usos que dela você faz, o vocabulário que você emprega, são os 
meios naturais de exprimir conceitos e formular ideias. Se certas palavras ou expressões são 
banidas da língua, os conceitos que elas exprimem são também banidos. Se elas são substituídas 
por outras mediante a força, os conceitos que exprimem também são substituídos por novos. 
Assim, ao controlar a língua e a literatura, uma entidade ou governo poderia controlar as ideias, 
o modo de pensar e o próprio pensamento, ou seja, fazer com que você pense o que querem que 
você pense e que você não pense o que não querem que você pense. Esse tema foi 
magnificamente explorado em um romance de George Orwell publicado em 1949, cujo título é 
14
1984, e no qual há o “Big Brother”, líder supremo do partido totalitário. Orwell é também 
conhecido por um outro romance, A Revolução dos Bichos (Animal Farm), que aborda a corrupção 
e as injustiças dos regimes totalitários. E a questão do controle da língua e da literatura – da 
cultura, em última instância – é atualíssima, como podemos ver pelas reportagens seguintes:
http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/monteiro-lobato-pode-ser-banido-das-escolas-
publicas-brasileiras
http://oglobo.globo.com/educacao/academia-brasileira-de-letras-contra-tentativa-de-censurar-
livro-de-monteiro-lobato-2930308
http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/mpf-quer-tirar-de-circulacao-o-dicionario-houaiss
http://g1.globo.com/minas-gerais/triangulo-mineiro/noticia/2012/02/mpf-em-mg-move-acao-
para-retirar-de-circulacao-o-dicionario-houaiss.html
Verbete
1984 – É nesse romance escrito por George Orwell que surge a figura do Grande Irmão (Big 
Brother). A história passa-se em Londres, em 1984, quando o mundo, após uma guerra nuclear, 
está dividido em três blocos com governos totalitários. Em um dos blocos, vive Winston Smith, 
que trabalha no Ministério da Verdade do Partido único. Seu trabalho é reescrever a história e 
os fatos e fazer com que concordem com a “verdade” que o Partido quer impor ao povo. A 
verdade é falsificada, os fatos são mudados e, através de propaganda, as pessoas passam a 
acreditar na “verdade” oficial do Partido. Todo e qualquer pensamento que se oponha à 
“verdade” oficial é considerado um crime e há um termo inventado para designar esse “crime 
de pensamento”: a crimideia. Um dos instrumentos utilizados para controlar o pensamento é a 
reengenharia da língua. A língua – seu vocabulário – é controlada e reinventada. As palavras 
que exprimem uma ideia que o Partido quer eliminar da sociedade são proibidas. Novas 
palavras são criadas para representar conceitos que o Partido quer que o povo aceite e adote. 
15
Assim, o povo vai sendo submetido a uma doutrinação através do uso da língua. Seu 
pensamento é cerceado, modificado e completamente controlado através dessa nova maneira de 
falar, a novilíngua.
O Grande Irmão é o chefe supremo do Partido. As pessoas têm sua vida completamente vigiada 
pelo governo, que instalou telas semelhantes a televisões, que transmitem a propaganda da 
“verdade” oficial e a doutrinação, mas que permitem que as pessoas sejam observadas e 
controladas (você vê alguma semelhança com o que acontece com a nossa TV?). O protagonista, 
Winston, é preso por crime de pensamento (crimideia). Ele é terrivelmente torturado, para ser 
“curado” de sua dissidência e compreender que é o Partido que estabelece o que é a “verdade”, 
que ele pode decidir, inclusive, que 2+2=5.
No ano de 1984, foi feito um filme baseado no romance de Orwell. Vejamos algumas cenas que 
ilustra o que dissemos.
a) o trabalho de Smith consiste em reescrever a história de acordo com a “verdade do partido”; 
para isso, ele muda os fatos, distorcendo o que for necessário:
http://www.youtube.com/watch?v=QGiGlrrz458
b) o Partido controla a vida do povo através da “telinha”:
http://www.youtube.com/watch?v=AzBVjd1OmYs
c) o povo é constantemente doutrinado, o casamento, rejeitado:
http://www.youtube.com/watch?v=6GT2SFdNKOc
d) a “verdade” é controlada e pertence ao Partido, que pode decidir que 2+2=5:
http://www.youtube.com/watch?v=xVtIO9K0Zck
Fim do Verbete
3. O LITERÁRIO E O POÉTICO NOS EVANGELHOS
16
Os evangelhos não foram compostos com uma intenção literária. Os objetivos que subjazem à 
sua composição são vários, mas certamente o literário não é um deles. A finalidade precípua é 
transmitir os fatos centrais da vida e da pregação de Jesus de uma maneira bastante direta. Não 
há grandes recursos estilísticos. A linguagem dos quatro evangelhos, com diferenças por vezes 
importantes, não tem um rebuscamento vocabular ou sintático. Notam-se as repetições 
contantes de fórmulas próprias de um substrato oral que estava sendo fixado por escrito. A 
beleza não está tanto na forma, mas claramente no conteúdo. No entanto, há passagem que são 
de grande beleza poética, inclusive em verso. Vejamos agora dois exemplos conhecidíssimos:
a) o Magnificat
O Magnificat é o Cântico de Maria em louvor a Deus, conservado no evangelho de São Lucas (1, 
46-55). O título Magnificat vem da primeira palavra da tradução latina. É o verbo “magnifico”, 
que significa “tornar grande”, “enaltecer”, “engrandecer” etc. É inspirado no cântico de Ana, 
que aparece no primeiro livro de Samuel (Antigo Testamento; I Samuel, 2, 1-10) e permeado de 
versos inspirados sobretudo em trechos dos Salmos (compare com os seguintes versos dos 
salmos: 88, 11; 97, 3; 102, 17; 106,9; 110, 9). O canto é, na verdade, um belo poema de louvor a 
Deus, a Sua misericórdia e a Seu poder. Ei-lo:
“E Maria disse:
Minha alma glorifica ao Senhor,
meu espírito exulta de alegria
em Deus, meu Salvador,
porque olhou para sua pobre serva.
Por isto, desde agora,
me proclamarão bem-aventurada todas as gerações,
porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso
e cujo nomeé Santo.
Sua misericórdia se estende, de geração em geração,
sobre os que o temem.
Manifestou o poder do seu braço:
desconcertou os corações dos soberbos.
Derrubou do trono os poderosos
e exaltou os humildes.
Saciou de bens os indigentes
e despediu de mãos vazias os ricos.
Acolheu a Israel, seu servo,
17
lembrado da sua misericórdia,
conforme prometera a nossos pais,
em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre.
Sobre o Magnificat já se escreveu muitíssimo, vários foram os comentários a ele feitos no 
decorrer dos séculos. Mas a importância desse cântico é tamanha que ultrapassou os limites da 
literatura e do culto religioso – no qual, aliás, ocupa um lugar privilegiado –, havendo várias 
composições clássicas em torno dele, feitas por nomes como Vivaldi, Bach e Schubert, para citar 
apenas alguns. 
O Magnificat não é o único cântico dos evangelhos. Temos o de Zacarias, pai de São João Batista, 
conhecido como Benedictus, que é a primeira palavra da tradução latina (São Lucas, 1, 68-79) ou 
ainda o cântico de Simeão (São Lucas, 2, 29-32), conhecido como Nunc dimittis (palavras iniciais 
da tradução latina).
b) as bem-aventuranças
As bem-aventuranças são a parte inicial do chamado Sermão da Montanha, que Jesus proferiu 
diante de seus discípulos e de uma imensa multidão. Seria interessante que você fizesse a 
leitura integral do sermão (São Mateus, cap. 5-7). Nele encontra-se o Pai Nosso e trechos 
bastante conhecidos, como o “sal da terra” e o homem prudente que edifica sua casa na rocha. 
As bem-aventuranças fazem parte de um sermão, de uma pregação de Cristo, não são uma 
composição literária. No entanto, sua profundidade e beleza são marcantes. E o trecho é 
efetivamente poético, com a repetição do termo “bem-aventurados” (μακάριοι – makárioi, de 
onde vem o nome próprio Macário, que significa “bem-aventurado”) ao início de cada frase, 
que poderíamos, sem grandes esforços, considerar como “versos”. As bem-aventuranças 
descrevem alguns dos elementos essenciais do cristianismo. Eis o texto (São Mateus, 5, 11-12):
Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou-se e seus discípulos 
aproximaram-se dele. Então abriu a boca e lhes ensinava, dizendo:
'Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é reino dos céus!
Bem-aventurados .os que choram, porque serão consolados!
Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra!
18
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados!
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia!
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus!
Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!
Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos 
céus!
Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem 
falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será 
grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes 
de vós'."
Se não soubéssemos da origem do trecho, poderíamos pensar que se trataria de um poema de 
algum grande nome de nossa literatura. Ainda que a finalidade não fosse literária, é inegável 
que a passagem tem uma beleza que não é apenas de conteúdo – uma temática que é universal 
no tempo e no espaço –, mas inclusive de forma: assemelha-se, efetivamente, a um poema.
BOXE MULTIMÍDIA
O Sermão da Montanha é retratado no filme Rei dos Reis (1961) em uma cena que incorpora 
outras passagens dos Evangelhos:
http://www.youtube.com/watch?v=P5uXAsFXpE0
Vejamos uma cena do filme A maior história de todos os tempos (1965) com as bem-aventuranças:
http://www.youtube.com/watch?v=-HpO4nvyI_Q
No filme de Roberto Rosselini (O Messias), há uma cena com o trecho das bem-aventuranças:
http://www.youtube.com/watch?v=blrB-uDsoFA
Por fim, veja (ou melhor, ouça) como as bem-aventuranças são cantadas em grego na liturgia 
bizantina. Vale a pena, pois o canto é belíssimo:
http://www.youtube.com/watch?v=ck0wAZNU8-A
FIM DO BOXE MULTIMÍDIA
19
Atividade 1
Atende ao objetivo 1
1. Comente elementos de nossa cultura que comprovam a grande influência que o cristianismo 
nela exerce.
DIAGRAMADOR: DEIXAR 20 LINHAS PARA RESPOSTA
RESPOSTA COMENTADA
Fale sobre o calendário ocidental, que usa como marco zero o nascimento de Cristo. Mostre que 
ele é usado, inclusive, em países não ocidentais e em culturas não cristãs. Outro bom exemplo a 
ser explorado são as festas cristãs que são comemoradas não só no Ocidente: Páscoa e Natal. 
Você pode retomar os exemplos que citamos de expressões cristãs utilizadas em nossa língua. 
Veja se você pode acrescentar outras expressões além das que apresentamos em nossa aula.
FIM DA RESPOSTA COMENTADA
4. O CONTATO ENTRE CRISTIANISMO E CULTURA GRECO-ROMANA
Nos Atos dos Apóstolos, temos uma interessante narrativa do encontro do apóstolo São Paulo 
com filósofos em Atenas. O texto fala especificamente de estoicos e epicuristas. Vejamos o 
trecho (Atos, 17, 16-23; 32-34):
“Enquanto Paulo os esperava em Atenas, à vista da cidade entregue à idolatria, o seu 
coração enchia-se de amargura. Disputava na sinagoga com os judeus e prosélitos, e todos os 
dias, na praça, com os que ali se encontravam. Alguns filósofos epicureus e estoicos 
conversavam com ele. Diziam uns: 'Que quer dizer este tagarela?' Outros: 'Parece que é 
pregador de novos deuses'. — Pois lhes anunciava Jesus e a ressurreição. — Tomaram-no 
consigo e levaram-no ao Areópago, e lhe perguntaram: 'Podemos saber que nova doutrina é 
essa que pregas? Pois o que nos trazes aos ouvidos nos parece muito estranho. Queremos 
saber o que vem a ser isto'. Ora (como se sabe), todos os atenienses e os forasteiros que ali se 
fixaram não se ocupavam doutra coisa senão ou de dizer ou de ouvir as últimas novidades. 
Paulo, em pé no meio do Areópago, disse: 'Homens de Atenas, em tudo vos vejo muitíssimo 
religiosos. Percorrendo a cidade e considerando os monumentos do vosso culto, encontrei 
um altar com essa inscrição: A um Deus desconhecido. O que vós adorais sem o conhecer, eu 
20
vo-lo anuncio!' (…) Quando o ouviram falar de ressurreição dos mortos, uns zombavam e 
outros diziam: 'A respeito disso te ouviremos outra vez'. Assim saiu Paulo do meio deles. 
Todavia, alguns homens aderiram a ele e creram, entre eles Dionísio, o Areopagita, e uma 
mulher chamada Dâmaris, e com eles ainda outros.”
São Paulo estava em Atenas, a Atenas de Sócrates, de Platão e de Aristóteles. A Atenas da 
filosofia, da sofística, da retórica, das ciências, da busca pelo saber. Mas a cidade estava, diz o 
texto, entregue à idolatria, realidade multissecular da religião politeísta e naturalista dos gregos 
antigos. Ele discute com filósofos. E estes reagem à sua pregação e o chamam de “tagarela”. O 
texto grego diz σπερμολόγος (spermológos), ou seja, “falador”, “tagarela”, “fofoqueiro”, 
“frívolo”. São Paulo é levado ao Areópago – uma colina em Atenas na qual, nos tempos 
clássicos, funcionava um dos tribunais. Os filósofos querem saber que nova doutrina é aquela 
que o apóstolo anuncia. São Paulo, reconhecendo a grande religiosidade dos atenienses, 
menciona o fato de ter visto um altar dedicado a um deus desconhecido. O temor que tinham 
do divino era tanto que, por medo de ignorar alguma divindade e ofendê-la, por não prestar-lhe 
culto, erigiram um altar para um deus desconhecido. E Paulo diz que é esse Deus mesmo 
desconhecido que ele vai anunciar-lhes. Faz, então, um anúncio da fé cristã. Mas ao mencionar 
ressurreição, foi objeto de zombaria.
Esse é um dos primeiros encontrosque temos registrados entre o cristianismo e a cultura pagã 
greco-romana. Há uma menção explícita à filosofia. É, portanto, mais um capítulo da complexa 
questão das relações entre fé e razão. Com Sócrates, a razão foi levada ao tribunal em nome da 
fé. Aqui, a fé é objeto de escárnio por parte da razão.
Em duas passagens da primeira carta aos Coríntios, São Paulo opõe a sabedoria deste mundo à 
verdadeira Sabedoria. Sua pregação do evangelho não recorre à retórica, pois isso poderia, diz 
ele, desvirtuar a cruz de Cristo. A retórica parece, então, ser vista como algo negativo. Mas há 
uma outra explicação. Cristo, que pregou em linguagem simples e por parábolas, também não 
precisou recorrer à retórica. A verdade deve ser aceita pelos homens por ser verdade e não por 
estar floreada de belas palavras. A preocupação de São Paula parece ser que haja quem se deixe 
converter não pela verdade, mas apenas pela beleza das palavras, e que não tenha, assim, a 
verdadeira fé. Eis a passagem (I Coríntios, 1, 17-25):
21
“Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o Evangelho, e isto sem recorrer à 
habilidade da arte retórica, para que não se desvirtue a cruz de Cristo. A linguagem da cruz 
é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma força 
divina. Está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e anularei a prudência dos prudentes (Isaías 
29, 14). Onde está o sábio? Onde está o erudito? Onde o argumentador deste mundo? Acaso 
não declarou Deus por loucura a sabedoria deste mundo? Já que o mundo, com a sua 
sabedoria, não reconheceu a Deus na sabedoria divina, aprouve a Deus salvar os que creem 
pela loucura de sua mensagem. Os judeus pedem milagres, os gregos reclamam a sabedoria; 
mas nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus, e loucura para os pagãos; 
mas para os eleitos — quer judeus, quer gregos— força de Deus e sabedoria de Deus. Pois a 
loucura de Deus é mais sábia do que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte do que os 
homens.”
Na passagem, a rejeição dos exageros retóricos como meio de pregação do evangelho deve ser 
compreendida em um contexto específico. A cultura grega vivia, há alguns séculos, imersa nos 
floreios retóricos que, frequentemente, não tinham qualquer compromisso com a verdade. 
Lembremo-nos da crítica feita por Aristófanes, em Nuvens, quando fala da habilidade dos 
sofistas em transformar o argumento fraco em forte. O ensinamento de Cristo, entretanto, é 
radicalmente oposto ao uso de tais expedientes. A verdade basta e deve prevalecer por sua 
força natural. O emprego de atalhos ou desvios afasta-nos dela. Ao floreá-la, corremos os risco 
de fazê-la desaparecer, de ocultá-la dos olhos dos demais homens. A verdade é simples e com 
simplicidade deve ser dita. Nesse sentido, Cristo faz uma severa admoestação sobre o nosso 
modo de falar, que pode comprometer a verdade:
“Ouviste ainda o que foi dito aos antigos: 'Não jurarás falso, mas cumprirás para com o 
Senhor os teus juramentos'. Eu, porém, vos digo: Não jureis de modo algum: nem pelo céu, 
porque é o trono de Deus; nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés; nem por 
Jerusalém, porque é a cidade do grande rei. Nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes 
fazer um cabelo tornar-se branco ou negro. Dizei somente: 'Sim', se é sim; 'não', se é não. 
Tudo o que passa além disso vem do Maligno.” (São Mateus, 5, 33-37)
A verdade é tão simples que basta um “sim” ou um “não”. Tudo o mais, diz Jesus, procede do 
Maligno. Cristo se refere, aqui, ao demônio, que por Ele é chamado, em outra passagem, de “pai 
da mentira”. A expressão aparece quando Jesus, em uma de suas pregações, diz que 
“conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (você pode ler o trecho completo em São João, 
8, 30-47). Alguns reagem mal a suas palavras e Ele os repreende com dureza:
22
“Vós tendes como pai o demônio, e quereis fazer os desejos de vosso pai. Ele era homicida 
desde o princípio e não permaneceu na verdade, porque a verdade não está nele. Quando 
diz a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira. Mas eu, 
porque vos digo a verdade, não me credes” (São João, 8, 44-45)
O termo grego utilizado nessa e em outras passagens é διάβολος (diábolos), que significa 
“aquele que desune”, “caluniador”. O sentido de “caluniador” é bem adequado e encontramos, 
na Apologia, Sócrates falando da διαβολή (diabolé) para referir-se à(s) calúnia(s) de que era 
vítima.
Há uma oposição entre a sabedoria deste mundo e a sabedoria de Deus. Os gregos pedem 
sabedoria, mas os cristãos pregam o cristo crucificado, que para eles é loucura. Mas, ao 
contrário, a sabedoria deste mundo é loucura aos olhos de Deus (I Cor 3, 18-19):
“Ninguém se engane a si mesmo. Se alguém dentre vós se julga sábio à maneira deste 
mundo, faça-se louco para tornar-se sábio: porque a sabedoria deste mundo é loucura diante 
de Deus.”
A passagem de São Paulo faz-nos recordar o trecho da Apologia de Platão no qual Sócrates 
interpreta o oráculo que o designava como o mais sábio de todos: “E parece-me que o deus não 
atribui a sabedoria a Sócrates, mas que se serve do meu nome, fazendo de mim um exemplo, 
como se dissesse: 'Entre vós, homens, o mais sábio é aquele que, como Sócrates, na verdade, 
reconhece ser a sua sabedoria de nenhum valor'”. A sabedoria de Deus é considerada pelos 
sábios deste mundo como loucura. A sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus. Sócrates 
e São Paulo convergem para a mesma ideia: a verdadeira sabedoria pertence apenas a Deus, o 
homem é sábio quando reconhece a vacuidade da pretensa sabedoria humana e procura, com 
humildade e ciente de suas fraquezas, perseguir a verdadeira sabedoria.
O caminho para a verdadeira sabedoria – que é a sabedoria de Deus e da cruz – é árduo e é 
preciso evitar – “estai de sobreaviso”, diz Paulo – os que nos querem enganar com a filosofia (o 
texto grego usa o singular definido) e da falácia. Poderíamos pensar que se trata de uma rejeição 
absoluta da filosofia e da razão, mas a sequência do texto deixa claro que a crítica é à filosofia 
23
que se baseia na tradição dos homens, ou seja, que não está orientada para a busca da 
verdadeira sabedoria, que é própria de Deus. Essa “filosofia segundo a tradição dos homens” 
poderia ser identificada com uma falsa filosofia, com uma disciplina que se desviou do reto 
caminho que conduz ao conhecimento da verdade. Eis a passagem na qual São Paulo nos 
adverte desses perigos (Colossenses, 2, 8):
“Estai de sobreaviso, para que ninguém vos engane com filosofias e vãos sofismas baseados 
nas tradições humanas, nos rudimentos do mundo, em vez de se apoiar em Cristo.”
Em um trecho da carta aos Romanos, o Apóstolo das Gentes mostra que sua crítica não é contra 
a razão e a sã filosofia, mas contra o abuso e o desvio causados pela falsa filosofia baseada na 
estultice humana. A razão humana é boa e pode conhecer a Deus observando a criação – a obra 
de Deus: as perfeições invisíveis de Deus, o seu sempiterno poder e divindade, se tornaram 
visíveis à inteligência, por suas obras, diz São Paulo. Se o homem não chega a conhecer a Deus, 
é porque ele aprisionou pela injustiça a verdade e extraviou-se em vãos pensamentos (= a falsa 
filosofia):
“A ira de Deus se manifesta do alto do céu contra toda a impiedade e perversidade dos 
homens, que pela injustiça aprisionam a verdade. Porquanto o que se pode conhecer de Deus 
eles o leem em si mesmos; porque Deus lho revelou com evidência. Pois desde a criação do 
mundo, as perfeições invisíveis de Deus, o seu sempiterno poder e divindade, se tornaram 
visíveis à inteligência,por suas obras, de modo que não se podem escusar. Porque, 
conhecendo a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças. Pelo contrário, 
extraviaram-se em seus vãos pensamentos, e se lhes obscureceu o coração insensato. 
Pretendendo-se sábios, tornaram-se estultos. Mudaram a majestade de Deus incorruptível 
em representações e figuras de homem corruptível, de aves, quadrúpedes e répteis.” 
(Romanos, 1, 18-23)
A citação não deixa dúvidas de que o homem pode conhecer a Deus usando sua razão e 
contemplando a criação. Encontraremos solução semelhante em Santo Tomás de Aquino, 
quando tratarmos da existência de Deus (Aula 23). É preciso, no entanto, evitar a falsa filosofia, 
que é, em suma, um mau uso da razão. São Paulo não se opõe à razão e à filosofia, mas apenas 
aos seus desvios. A razão permite ao homem conhecer a Deus. Se ele não o faz, é porque, 
“pretendendo-se sábio, tornou-se estulto”, crítica semelhante à que Sócrates faz à frivolidade da 
sabedoria humana.
24
É preciso, também, compreender que filosofia e cristianismo são realidades diferentes, pois a 
primeira baseia-se apenas na razão, o segundo é uma religião e leva em conta o que é revelado 
por Deus. E a razão pode ser particularmente útil aos gentios, que podem, através dela, 
descobrir a verdadeira religião (FRAYLE, 1986, p. 64-65):
“Deste modo, o cristianismo e a filosofia aparecem colocados em dois planos distintos, cuja 
diferença essencial consiste no fato de que o primeiro é uma religião, uma doutrina de 
salvação respaldada pela autoridade de Deus, aceita e vivida pelo cristianismo com espírito 
de fé; e a segunda, um produto da razão, com todas as imperfeições e deficiências inerentes à 
debilidade da natureza humana.”
“O próprio São Paulo, com palavras expressas e, o que vale mais, com sua conduta e seu 
exemplo, abre caminho a outra solução mais favorável às relações de boa harmonia entre a 
filosofia e o cristianismo. Em seu discurso no Areópago alude à estátua dedicada ao deus 
desconhecido para dizer a seus ouvintes: “quem ergo ignorantes colitis, hunc ego annuntio vobis” 
[=O que vós adorais sem o conhecer, eu vo-lo anuncio]. Nessas palavras estava implícito o 
reconhecimento da razão humana para descobrir o verdadeiro Deus.”
“Não despreza, pois, o Apóstolo nem rebaixa o alcance das forças da razão humana, mas 
antes a considera útil para os gentios que carecem da fé. Ainda que conceda escasso valor às 
elucubrações filosóficas para os cristãos, a quem foi dada a conhecer a plenitude da 
revelação, manifestada por Cristo.”
Veremos, pouco mais adiante, o posicionamento de outros autores dos primeiros séculos do 
cristianismo acerca das relações entre este e a cultura pagã. Na sequência, após a atividade, 
vamos explorar dois escritos cristãos que são de grande importância para os primórdios da 
nova religião.
Atividade 2
Atende ao objetivo 2
1. Nós vimos algumas passagens de São Paulo ou sobre ele (Atos dos Apóstolos) que tratam da 
sabedoria humana e da sabedoria divina. Releia esses trechos e redija um pequeno texto, 
respondendo se, segundo sua interpretação, o Apóstolo é favorável ou contrário à filosofia e à 
ciência pagãs.
25
DIAGRAMADOR: DEIXAR 25 LINHAS PARA RESPOSTA
RESPOSTA COMENTADA
Pelo que vimos, se entendermos bem os trechos de São Paulo, ele teria uma visão interessante 
sobre a filosofia e o saber pagãos: a reta filosofia pode ser útil para trazer os gentios para a fé; a 
falsa filosofia, ao contrário, representa um perigo, por induzir ao erro.
O exercício, no entanto, dá a você a liberdade de concordar ou discordar dessa interpretação. O 
que é fundamental é que você utilize os textos de São Paulo para escrever um texto bem 
estruturado, com argumentos claros e corretamente encadeados, com eventuais exemplos que 
esclareçam o que você está dizendo. O importante é redigir um texto coerente e com uma 
estrutura lógica. Mesmo que concorde com a interpretação que apresentamos, você pode 
escrever um texto discordando, apenas para exercitar sua capacidade de expressão e 
argumentação, que é o objetivo do presente exercício.
FIM DA RESPOSTA COMENTADA
5. OS PRIMEIROS ESCRITOS CRISTÃOS NÃO CANÔNICOS
Os escritos chamados de não canônicos recebem tal designação pelo fato de não pertencerem ao 
cânon, isto é o conjunto de livros que são reconhecidos como de inspiração divina (ou seja, os 
livros do Antigo e do Novo Testamento, no caso do cristianismo). Há uma série de escritos do 
início do cristianismo que nos fornecem uma visão interessante sobre como a nova religião 
crescia e era vista pelas diferentes culturas em que estava inserida (judaísmo e cultura greco-
romana, principalmente). O grau de fiabilidade dos escritos não canônicos é variável, o que não 
significa que eles não nos tragam importantes contribuições para melhor compreendermos a 
vida e o modo de viver a fé dos primeiros cristãos. Veremos, na sequência, dois deles.
5.1. A DIDAKHÉ
26
A Didakhé (frequentemente transliterada sob a forma “Didaché”) é um dos primeiros escritos do 
cristianismo. Remonta provavelmente ao final do século I de nossa era. O título nada mais é do 
que a primeira palavra do título pelo qual o texto era conhecido desde a Antiguidade: Διδαχὴ 
τῶν δώδεκα ἀποστόλων (didakhè tôn dódeka apostólon – Ensinamento dos doze Apóstolos) 
ou ainda Διδαχὴ κυρίου διὰ τῶν δώδεκα ἀποστόλων τοῖς ἔθνεσιν (didakhè kyríou dià tôn 
dódeka apostólon toîs éthnesin– Ensinamento do Senhor aos povos por meio dos doze 
Apóstolos). “Didakhé” significa, em grego, ensino ou ensinamento (lembre-se dos termos 
“didática” e “didático” em português). O texto, que é curto, contém uma catequese, ou seja, um 
ensinamento básico da doutrina e das práticas cristãs do início da Igreja. Sua autoria é 
desconhecida. Ele é, por conseguinte, anônimo.
A Didakhé contém uma série de ensinamentos e preceitos relativos à vida cristã. Nela 
encontramos passagens sobre o batismo, a alimentação, o jejum, a oração – apresentando-nos, 
inclusive, o Pai-Nosso –, a eucaristia, a ação de graças, a observância do domingo etc.
Vemos, por exemplo, a seguinte doutrina sobre o batismo (Didakhé, 7):
“1. Em relação ao batismo, assim batizai: após terdes exposto previamente todas essas coisas, 
batizai em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo em água viva [=água corrente].
2. Se não tens água viva, batiza em uma outra água; se não puderes em água fria, na quente.
3. Se não tiveres ambas, versa água três vezes sobre a cabeça, em nome do Pai, e do Filho e 
do Espírito Santo.
4. Antes do batismo, que o batizante jejue, assim como o batizando, e, se puderem, alguns 
outros. Deves mandar que o batizando jejue um ou dois dias antes.“
Além dos diversos ensinamentos relativos às práticas cristãs que mencionamos, há, nos seis 
primeiros capítulos, a doutrina dos “dois caminhos”. Trata-se de uma instrução contendo a 
doutrina necessária à preparação para o batismo. A doutrina dos dois caminhos encontra-se em 
outro escrito do início do cristianismo, a Epístola de Barnabé (18, 1):
“Dois são os caminhos do ensinamento e do poder, o da luz e o das trevas. A diferença entre 
eles é grande.”
27
Vejamos alguns trechos da primeira parte da Didakhé, que tratam dos dois caminhos:
“Ensinamento do Senhor aos povos
Capítulo 1
1. Dois são os caminhos, um da vida e outro da morte. Grande é a diferença entre os 
caminhos.
2. Ora, esse é o caminho da vida. Primeiramente, amarás a Deus, porque ele te criou, em 
segundo lugar, o teu próximo, como a ti mesmo. Tudo aquilo que não quiseres que te seja 
feito, não o faças tambémtu a outrem.
3. Esse é o ensinamento dessas palavras: Bendizei os que vos amaldiçoam e rezai pelos 
vossos inimigos, jejuai pelos que vos perseguem. Com efeito, qual é o mérito, se amais os que 
vos amam? Também os gentios não o fazem? Mas vós, amai os que vos odeiam e não tendes 
inimigo. 
4. Abstém-te dos desejos carnais. Se alguém te der uma bofetada na face direita, vira-lhe 
também a outra, e será perfeito. Se alguém te forçar a andar uma milha, vai com ele
duas. Se alguém tomar a tua capa, dá-lhe também a túnica. Se alguém tirar de ti o que é teu, 
não o peças de volta, pois não o podes fazer.
5. Dá a todo aquele que te pedir e não o peças de volta, pois o Pai quer que a cada um seja 
dado dos Seus próprios dons. Bem-aventurado o que dá segundo o mandamento, pois é sem 
culpa. Ai daquele que recebe, pois, se alguém recebe por ter necessidade, será sem culpa, 
mas o que não tem necessidade dará contas de por quê recebeu e para quê. Quando estiver 
na prisão, será inquirido quanto ao que fez e dali não será libertado, até que devolva o 
último centavo.
6. Mas também quanto a isso está dito: que a tua esmola transpire em tuas mãos, até que 
saibas a quem deves dá-la.
Capítulo 2
1. Segundo mandamento do ensino:
2. Não matarás, não cometerás adultério, não corromperás as crianças, não fornicarás, não 
roubarás, não praticarás a magia, não farás poções, não assassinarás um filho por aborto nem 
o matarás depois de nascido, não desejarás as coisas do teu próximo. 
3. Não jurarás falsamente, não darás falso testemunho, não falarás mal, não guardarás 
rancor.
4. Não terás duplicidade de pensamento nem de palavras, pois a duplicidade de palavras é 
uma armadilha de morte.
5. Tua palavra não será mentirosa nem vazia, mas cheia de ação.
6. Não serás avaro, nem ladrão, nem hipócrita, nem malicioso, nem soberbo. Não terás má 
intenção contra o teu próximo.
7. Não odiarás nenhum ser humano, mas repreenderás uns, rezarás por outros, e outros 
amarás mais do que a tua alma.
[…]
Capítulo 5
1. Mas esse é o caminho da morte. Antes de tudo, é mau e cheio de maldição: homicídios, 
adultérios, concupiscências, fornicações, furtos, idolatrias, magias, poções, roubos, falsos 
testemunhos, hipocrisias, duplicidade de coração, fraude, soberba, maldade, arrogância, 
avareza, linguagem obscena, inveja, insolência, jactância, falta de temor <de Deus>.
28
2. Perseguidores dos bons, odiadores da verdade, amantes da mentira, que não conhecem a 
recompensa da justiça, que não aderem ao bem e à justa causa, que não ficam vigilantes pelo 
bem, mas pelo mal; dos quais está longe a mansidão e a paciência, que amam as futilidades e 
buscam a recompensa, que se não apiedam do pobre, que não sofrem com o oprimido, que 
não reconhecem Aquele que os criou, assassinos dos filhos, abortadores de uma criatura de 
Deus, que dão as costas para o que está em necessidade, que oprimem o aflito, advogados 
dos ricos, juízes injustos dos pobres, cheios de pecado. – Que vós estejais livres, ó filhos, de 
todas essas coisas.”
Os dois caminhos de que fala a Didakhé são o da vida e o da morte. Primeiramente, é-nos 
apresentado o caminho da vida. A doutrina apresentada é, no geral, a que encontramos nos 
Evangelhos, ainda que de forma sintética. O ensinamento contido nos dez mandamentos é 
também retomado e completado com algumas especificações (por exemplo: “não praticarás a 
magia, não farás poções, não assassinarás um filho por aborto nem o matarás depois de 
nascido”). A coerência que se deve ter entre o falar e o agir é claramente apregoada: “Tua 
palavra não será mentirosa nem vazia, mas cheia de ação”. No capítulo 5, é apresentado o 
caminho da morte, com os pecados e males de que ele está repleto.
A Didakhé está escrita em uma linguagem simples, bastante semelhante à utilizada nos 
Evangelhos, e o caráter didático do texto é evidente. Além dos ensinamentos que encontram 
paralelo nos Evangelhos, temos passagens que retratam a vida dos primeiros cristãos e nos 
permitem vislumbrar o modo como o cristianismo era praticado já nos tempos apostólicos. 
Passemos, agora, a outro texto.
5.2. A EPÍSTOLA A DIOGNETO
A Epístola a Diogneto é um tratado de apologética em forma de carta. O autor do texto é 
desconhecido. Mesmo o destinatário, Diogneto, não foi identificado. Há mesmo a possibilidade 
de que seja um pseudônimo ou mesmo um personagem fictício (HOLMES, 2009, p. 688).
A trajetória do texto até nós é interessante (MATTIOLI, 2011, p. 109):
“A história do único manuscrito grego desse ensaio apologético tem início na banca de um 
vendedor de peixes de Constantinopla, em 1436: ali ele se encontrava, destinado a embalar 
29
peixe, quando um jovem clérigo latino o descobriu e o entregou ao cardeal Stojkovic, que o 
levou consigo ao concílio de Basileia. A aventurosa vicissitude do manuscrito conclui-se mal 
com a sua destruição durante o incêndio da biblioteca de Estrasburgo em 1870. Felizmente, 
no séc. XVI foram feitas três cópias dele, pelo que hoje podemos estar bem seguros quanto ao 
texto de A Diogneto.”
A citação conta-nos como o texto de Epístola escapou de tornar-se embrulho de peixe e como 
acabou destruído pelo fogo causado pela guerra franco-alemã. E faz-nos refletir sobre quantos 
textos antigos e medievais não tiveram a mesma sorte e se perderam, usados como hoje usamos 
nossos jornais velhos ou destruídos em guerras e saques. Ao mesmo tempo, a história do 
manuscrito apresenta-nos uma bela imagem. O texto ia perder-se para embrulhar e proteger um 
peixe, que é, como sabemos, um dos símbolos de Cristo e dos cristãos. A Epístola, que é um 
texto de apologia do cristianismo – ou seja, de defesa – ia ser utilizada para proteger um peixe, 
cuja simbologia acabamos de mencionar.
Verbete
peixe – É um dos símbolos dos cristianismo. O motivo é bastante interessante. Em grego, a 
palavra “peixe” diz-se ἰχθύς (ikhtýs). Se escrevermos em maiúsculas, temos ΙΧΘΥΣ, que forma 
um acrônimo de Ἰησοῦς Χριστός, Θεοῦ Υἱός, Σωτήρ (Iesoûs Khristós, Theoû Hyiós, Sotér), ou 
seja, Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador.
Santo Agostinho explica o sentido do termo (De civitate Dei, XVIII, 23): “Se se juntar as primeiras 
letras dessas cinco palavras gregas, que são Ἰησοῦς Χριστός, Θεοῦ Υἱός, Σωτήρ, o que significa 
em latim Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador (Iesus Christus Dei Filius Salvator), teremos 
Ἰχθύς, isto é, Peixe, nome no qual se compreende misticamente o Cristo, pelo fato de que Ele 
pôde permanecer vivo, isto é sem pecado, no abismo desta nossa mortalidade, semelhante às 
profundezas do mar”.
No filme Quo Vadis (1951), Lígia, uma jovem cristã, é levada à força à corte do imperador Nero. 
Acte, uma escrava, quer ajudá-la a escapar. Para mostrar sua boa-fé, desenha um peixe no talco 
que derramara sobre a mesa. Veja a cena em:
http://www.youtube.com/watch?v=HgWj2nV0IiM
30
Fim do Verbete
O texto começa dirigido a Diogneto, que tem se mostrado pressuroso em saber mais sobre os 
cristãos e sua religião. Três tópicos de interesse são mencionados:
a) em que Deus creem os cristãos e como O cultuam;
b) que tipo de afeto – a caridade – eles têm uns para com os outros;
c) por que essa religião e sua prática surgiram naquele momento e não antes.
Os capítulos 2 a 4 são dedicados à crítica tanto do paganismo quanto da religião judaica e suas 
práticas. Os capítulos 5 e 6, que leremos na sequência, tratam dos cristãos, de sua identidade e 
características e de sua relação com o mundo. Os capítulos 7 a 9 cuidam de aspectos doutrinais e 
da Revelação, enquanto o capítulo 10 é uma exortação à conversão. A parte final do texto – os 
capítulos 11 e 12 – tem como tema o Lógos ou Verbo Divino e o conhecimento.Leiamos, agora, os capítulos 5 e 6 da Epístola a Diogneto. Repare que o trecho menciona a 
perseguição que sofriam os cristãos, que “não são conhecidos e são condenados”:
“Capítulo 5
1. Com efeito, os cristãos não são distintos dos demais homens nem pela pátria, nem pela 
língua, nem pelas vestimentas.
2. Pois nem habitam, onde quer que seja, cidades próprias, nem se servem de uma língua 
estranha, nem vivem uma vida excêntrica.
3. Certamente, esse conhecimento não foi descoberto por eles através de alguma invenção e 
pensamento de homens curiosos, nem estão eles preocupados com uma doutrina humana, 
como alguns.
4. Habitando cidades gregas e bárbaras, conforme coube por sorte a cada um, e seguindo os 
costumes locais quanto à vestimenta, à alimentação e ao restante da vida, demonstram que é 
admirável e reconhecidamente paradoxal a condição de seu modo de vida.
5. Moram em seus próprios países, mas como forasteiros. De tudo participam como cidadãos 
e tudo suportam como estrangeiros: toda pátria estrangeira lhes pertence e toda pátria é para 
eles estrangeira.
6. Casam-se como todos, têm filhos, mas não abandonam seus rebentos.
7. Partilham a mesa, mas não o leito.
8. Estão na carne, mas não vivem segundo a carne.
9. Vivem na terra, mas são cidadãos do céu.
31
10. Obedecem às leis estabelecidas e com suas próprias vidas vencem as leis.
11. Amam a todos e por todos são perseguidos.
12. Não são conhecidos e são condenados: são levados à morte e ganham a vida.
13. São pobres e enriquecem a muitos: de tudo encontram-se privados e em tudo têm 
abundância.
14. São desprezados e em meio aos desprezos são glorificados: são caluniados e são 
justificados.
15. São insultados e bendizem: são maltratados e reverenciam.
16. Ao fazerem o bem, são castigados como maus: ao serem castigados, alegram-se como se 
recebessem a vida.
17. Pelos judeus são combatidos como estrangeiros e pelos gregos são perseguidos e os que 
os odeiam não conseguem dizer o motivo de seu ódio.
Capítulo 6
1. Para falar de modo simples, aquilo que a alma é no corpo, os cristãos o são no mundo.
2. A alma está espalhada por todas as partes do corpo e os cristãos, por todas as cidades do 
mundo.
3. A alma habita no corpo, mas não é do corpo; também os cristãos habitam no mundo, mas 
não são do mundo.
4. Invisível, a alma está aprisionada no corpo visível; sabe-se que também os cristãos estão 
no mundo, mas sua religião permanece invisível.
5. A carne odeia a alma e lhe faz guerra, ainda que não sofra qualquer injustiça, porque é 
impedida de gozar dos prazeres; o mundo odeia também os cristãos, ainda que não sofra 
qualquer injustiça, porque eles se opõem aos prazeres.
6. A alma ama os membros e a carne que a odeia; também os cristãos amam os que os 
odeiam.
7. A alma está confinada no corpo, mas ela sustenta o corpo; também os cristãos estão presos 
no mundo como em uma prisão, mas eles sustentam o mundo.
8. Imortal, a alma habita em uma morada mortal; também os cristãos habitam como 
estrangeiros em meio a realidades corruptíveis, enquanto esperam a incorruptibilidade que 
há nos céus.
9. Quando é maltratada no comer e no beber, a alma torna-se melhor; também os cristãos, 
quando são castigados, aumentam em número mais a cada dia.
10. Deus os pôs em uma posição muito importante, a qual não lhes é permitido rejeitar.
O capítulo final, de número 12, apresenta-nos uma bela visão sobre o conhecimento. Vejamos 
um trecho:
“1. Quando vós entrardes em contato com essas coisas e as ouvirdes com seriedade, sabereis 
o que Deus concede aos que O amam retamente, aqueles que se tornam um jardim de 
delícias, ao fazerem crescer em si mesmos uma árvore florescente, que dá todo tipo de frutos, 
e ficarem enfeitados com frutos multicolores.
2. Nesse lugar estão plantadas uma árvore de conhecimento e uma árvore de vida. Não é a 
árvore do conhecimento que mata, mas a desobediência mata.
3. Com efeito, não é insignificante a passagem da Escritura, que diz que Deus, desde o 
princípio plantou no meio do jardim uma árvore de conhecimento e uma árvore de vida, 
mostrando que a vida se dá através do conhecimento. Os primeiros seres humanos [=Adão e 
32
Eva], porque não usaram o conhecimento com pureza, foram deixados desnudos pela fraude 
da serpente.
4. Com efeito, nem há vida sem conhecimento, nem conhecimento seguro sem vida 
verdadeira. Por isso, as duas árvores estão plantadas uma perto da outra.
5. O Apóstolo, observando esse significado e censurando o conhecimento exercitado sem a 
verdade do mandamento que conduz à vida, diz: 'O conhecimento ensoberbece, mas o amor 
edifica'.
6. Com efeito, aquele que pensa saber algo sem o conhecimento verdadeiro e confirmado 
pela vida nada sabe; é enganado pela serpente, porque não ama a vida. Mas aquele que 
aprendeu com temor e busca a vida planta na esperança, esperando fruto.
7. Que teu coração seja para ti conhecimento, e a tua vida, palavra verdadeira, que se 
realiza.”
A referência ao Jardim do Éden remete-nos ao Gênesis e à questão do pecado original. O texto 
da Epístola apresenta uma visão bem positiva sobre o conhecimento. Ele é essencial para a vida 
e é bom; o que é ruim é o uso que por vezes dele fazemos, sobretudo quando, esquecidos dos 
mandamentos de Deus, que nos conduzem à vida, deixamo-nos ensoberbecer pelo 
conhecimento e tornar-nos senhores da vida e da morte. A menção às duas árvores que estão no 
centro do paraíso não é casual. A vida e o conhecimento estão entrelaçados: não “há vida sem 
conhecimento, nem conhecimento seguro sem vida verdadeira”. A afirmação está no cerne 
mesmo do cristianismo, pois, como dissemos, as obras devem refletir os ensinamentos, não 
pode haver separação entre a doutrina e a vida que vive o cristão (lembre-se do trecho em que 
Cristo admoesta os fariseus pela sua hipocrisia!).
Leiamos a passagem do Gênesis em que se apoia a Epístola:
“Ora, o Senhor Deus tinha plantado um jardim no Éden, do lado do oriente, e colocou nele o 
homem que havia criado. O Senho Deus fez brotar da terra toda sorte de árvores, de aspecto 
agradável, e de frutos bons para comer; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore da 
ciência do bem e do mal.
[…]
O Senhor Deus tomou o homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e guardar. 
Deu-lhe este preceito: 'Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim; mas não comas 
do fruto da árvore da ciência do bem e do mal; porque no dia em que dele comeres, morrerás 
indubitavelmente.
[…]
A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor Deus tinha 
formado. Ela disse à mulher: 'É verdade que Deus vos proibiu comer do fruto de toda árvore 
do jardim?' A mulher respondeu-lhe: 'Podemos comer do fruto das árvores do jardim. Mas 
do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: Vós não comereis dele, nem o 
33
tocareis, para que não morrais'. – 'Oh, não! – tornou a serpente – vós não morrereis! Mas 
Deus bem sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão, e sereis como 
deuses, conhecedores do bem e do mal'.
A mulher, vendo que o fruto da árvore era bom para comer, de agradável aspecto e mui 
apropriado para abrir a inteligência, tomou dele, comeu e o apresentou também ao seu 
marido, que comeu igualmente. Então os seus olhos abriram-se; e, vendo que estavam nus, 
tomaram folhas de figueira, ligaram-nas e fizeram cinturas para si. E eis que ouviram o 
barulho dos passos do Senhor Deus que passeava no jardim, à hora da brisa da tarde. O 
homem e sua mulher esconderam-se da face do Senhor Deus, no meio das árvores do jardim. 
Mas o Senhor Deus chamou o homem, e disse-lhe: 'Onde estás?' E ele respondeu: 'Ouvi o 
barulho dos vossos passos no jardim; tive medo, porque estou nu; e ocultei-me'.

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