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REGULAÇÃO E CONTROLE DE MICRORGANISMOS
1. INTRODUÇÃO
Os profissionais da área de saúde bucal, incluindo dentistas, higienistas,
auxiliares e técnicos de prótese dentária, estão freqüentemente expostos a
microrganismos com potencial para transmissão de infecções. De um modo geral,
os microrganismos são capazes de sobreviver em ambientes de diversas
condições físicas. Entretanto, existe uma limitação da capacidade de
sobrevivência de determinado microrganismo, em um meio ambiente
desfavorável. Este recurso foi aproveitado pelo homem para o controle de
microrganismos.
Os meios pelos quais as infecções são transmitidas foram descritos séculos
antes que o homem descobrisse a existência dos microrganismos. Com o advento
dos antibióticos e vacinas, após a II Guerra Mundial, o homem teve uma falsa
impressão de segurança, imaginando que as infecções não representariam mais
problemas. Este fato, associado ao uso de anticoncepcionais no início dos anos
60, levou a um comportamento sexual mais liberal, sem proteção, subestimando
as doenças sexualmente transmissíveis.
Nas últimas décadas, ocorreram grandes mudanças que atuaram na
relação do homem com a natureza e os microrganismos:
• O crescimento demográfico de forma desordenada criou problemas de
saneamento básico e de meio ambiente que favoreceram a dispersão dos
microrganismos;
• O desenvolvimento da Medicina, que pode interferir na seleção natural,
possibilitando maior sobrevida, porém superlotou hospitais de pacientes
debilitados, invadidos por sondas e cateteres, sob ventilação mecânica e
imunossuprimidos;
• Com o surgimento da AIDS, dos transplantes, da radioterapia e da
quimioterapia, os microrganismos passaram a ser favorecidos, resultando nas
infecções ditas oportunistas;
• Uso indiscriminado de antibióticos, permitindo o aparecimento de
microrganismos resistentes;
Responsabilidade no controle de infecção (CI)
O conhecimento científico sobre Controle de Infecções (CI) avançou muito,
mas muitos profissionais ainda resistem em implementá-lo integralmente sob
variados pretextos (ignorância, aumento de custos, irresponsabilidade, etc..). A
mesma falta de ênfase pode ser observada nos cursos de Odontologia do país.
O controle de infecção é constituído por recursos materiais e protocolos que
agrupam as recomendações para prevenção, vigilância, diagnóstico e tratamento
de infecções, visando à segurança da equipe de saúde e dos pacientes.
Deter as contaminações nos consultórios odontológicos tem sido um grande
desafio. Na maior parte das vezes, os microrganismos têm vencido as medidas de
segurança adotadas, colocando em risco profissionais e pacientes. Durante
séculos os profissionais de Odontologia realizaram seu trabalho inconscientes dos
riscos reais de contaminação inerentes à sua prática, até que se compreendeu
que as infecções poderiam ser transmitidas e adquiridas no consultório.
 A biossegurança não é completa quando profissionais da Saúde atendem a
um paciente e manipulam instrumentos, material biológico e superfícies
contaminadas. Porém, o fato de sempre haver um risco deve ser um estímulo à
nossa dedicação, e não o inverso, ou seja, uma justificativa às nossas falhas. A
realização de controle de infecções envolve muito mais conhecimento,
responsabilidade, determinação, organização e disciplina do que raciocínios
complexos e técnicas difíceis de serem aprendidas ou executadas.
2. INFECÇÃO CRUZADA
Chamamos de infecção cruzada a passagem de um agente etiológico da
doença, de um indivíduo para outro susceptível.
Através do controle da infecção, podemos evitar as infecções sérias, e até
mesmo a morte. Várias fontes com potenciais de infecção estão presentes nos
consultórios dentários, como mãos, saliva, secreções nasais, sangue, roupas e
cabelo, assim como instrumentais e equipamentos. Tais fontes, necessitam
portanto serem avaliadas para minimizar o risco da doença.
No consultório odontológico, podemos detectar quatro vias possíveis de
infecção cruzada:
• Do paciente para o pessoal odontológico;
• Do pessoal odontológico para paciente;
• De paciente para paciente via pessoal odontológico;
• De paciente para paciente por intermédio de instrumentos, equipamentos e
pisos.
Em uma pesquisa realizada nos EUA (JACKSON & CRAWFORD, 1980),
verificou-se que numa determinada amostra, 45% do pessoal odontológico havia
se contaminado no trabalho. A maior porcentagem havia adquirido infecções
respiratórias, 14% infecções nos dedos e mãos e, 9% infecções oculares.
Para se compreender o mecanismo da infecção cruzada, basta que
atentemos para o que se passa dentro do consultório, vamos sugerir uma situação
hipotética. O paciente sentou-se na cadeira odontológica, o instrumental
esterilizado foi disposto adequadamente e o profissional lavou criteriosamente as
mãos. Porém, num dado momento o refletor precisa ser melhor posicionado, a
cadeira abaixada, novo instrumento precisa ser retirado da gaveta, as seringas de
ar e água são manipuladas, as peças de alta e baixa rotação são tocadas.
Tudo o que for tocado pelo profissional, torna-se teoricamente contaminado.
Além disso, todas as superfícies da sala ficam contaminadas por aerossóis
produzidos pela peça de mão, seringas de ar e água. Existem três nichos ou
reservatórios que favorecem a infecção cruzada no consultório: 1) instrumental; 2)
mãos do pessoal odontológico; 3) superfícies contaminadas do equipamento ou
outros itens do consultório.
2.1. Hepatite B
 O cirurgião dentista (CD) realiza com freqüência intervenções que, mesmo
quando não invasivas podem promover infecção. Um prova dessa afirmação é o
fato de os praticantes da Ortodontia apresentarem a segunda maior incidência de
marcadores de infecção pelo vírus da hepatite B (VHB) no sangue. Está
comprovado que o VHB é um dos agentes infecciosos mais resistentes,
permanecendo viável num instrumento contaminado e seco, por mais de duas
semanas, além disso, a grande maioria dos agentes desinfetantes não exerce
ação sobre tal vírus.
O vírus da hepatite B produz uma das mais graves doenças transmitidas
por patógenos na prática odontológica. A incidência da hepatite B após a
exposição acidental, através de lesões por instrumentos cortantes ou perfurações
por agulhas utilizados em pacientes que possuem o antígeno HbsAg circulante, é
de aproximadamente 20%. Nas mesmas circunstâncias, o risco de transmissão do
HIV apresenta uma incidência estimada entre 0 a 0,5%.
A prevalência de anticorpos para hepatite B entre cirurgiões-dentistas
aumentou de 12,9% em 1976, para 30% em 1984. O vírus da hepatite pode estar
presente no sangue em concentrações muito elevadas, assim quantidades
insignificantes de sangue, como 0,000025 ml, podem transmitir o vírus. Foram
relatados pelo menos nove casos de hepatite B envolvendo 3 a 53 pacientes que
foram infectados por CDs portadores da doença. A imunização para hepatite B
requer uma série de três injeções intramusculares nos tempos 0, 30 e 180 dias.
Foi comprovado que a vacina é segura e tem aproximadamente 96% de eficácia.
2.2. Herpes
Os vírus do herpes simples do tipo I e II estão freqüentemente presentes na
cavidade oral de pacientes e podem causar infecções sérias em CDs e auxiliares.
A infecção mais séria, o herpes oftálmico, pode causar cegueira. Uma outra
manifestação problemática do vírus é o herpes nos dedos, que causa dor aguda à
palpação e a impossibilidade de exercer a prática odontológica durante um certo
tempo. Em um relato, 20 pacientes desenvolveram gengivoestomatite herpética
após a intervenção de uma higienista com infecção pelo herpes do tipo I nos
dedos.
2.3. AIDS
A infecção pelo vírus da imonudeficiência humana (HIV) é extremamente
séria, e a doença possui um curso fatal nos indivíduos que apresentam os
sintomas. A “epidemia” da AIDS acelerou a pesquisa e o interesse na “assepsia
odontológica”. A partir de 1985, os dentistas refletirame atualizaram seus
programas de assepsia para proteção pessoal, proteção de auxiliares, técnicos e
pacientes durante a prática odontológica. Até mesmo os profissionais mais
informados e conscientes enfrentam um desafio, devido ao fato da hepatite e da
AIDS possuírem períodos de incubação bem prolongados e na maioria dos
indivíduos não ser identificada.
Grande parte dos indivíduos que apresentam a AIDS possui manifestações
orais da doença, tais como ulcerações, líquen-plano e herpes simples. Embora o
número de partículas virais do HIV por mililitro de sangue infectado seja entre
10.000 a um milhão de vezes menor que o do vírus da hepatite B, há uma grande
aflição entre os dentistas quando ocorre um ferimento durante um procedimento
com um portador da doença, ou entre aqueles dentistas que se recusam a usar
luvas e vêm a descobrir mais tarde que trataram de paciente portador do HIV.
A percepção da equipe de saúde
Há profissionais que não adotam um programa de CI, alegando que
nenhum paciente ou profissional da Saúde contraiu uma infecção grave ou fatal
em seu ambiente de trabalho. Outros profissionais afirmam que não atendem a
pacientes portadores de infecções contagiosas, como AIDS, hepatites virais,
herpes e outras.
 Levando-se em consideração que não se consegue identificar todos os
pacientes infectados com base na história clínica, no exame físico e nos testes
laboratoriais, o Center for Disease Control and Prevention (CDC) – EUA
recomenda que se tomem precauções contra a contaminação por sangue ou
outros fluídos corporais de forma consistente no atendimento de TODOS OS
PACIENTES, o que ficou conhecido como “precauções universais”. Muitas vezes,
nem o paciente sabe de sua condição de portador. Submeter todos os pacientes a
exames laboratoriais não é ético, legal, viável nem suficiente; portanto todo
paciente deve ser atendido como se fosse portador de uma doença contagiosa.
 Realizar CI é uma necessidade moral e legal, que torna a razão do trabalho
verdadeira e valoriza o profissional da Saúde e a profissão, perante o paciente e a
sociedade. Embora a realização do CI tenha um certo custo, vidas não têm preço.
3. ESTRUTURAÇÃO DO CONHECIMENTO PARA A REALIZAÇÃO DO CI
Todos os integrantes da equipe de Saúde devem ter em mente, as variáveis
em jogo que levam à contaminação e à infecção: a presença de fontes de
microrganismos, as formas de contaminação e a patogenicidade.
3.1. Fonte de microrganismos
A maior concentração de microrganismos no consultório dentário encontra-
se na boca do paciente. Quanto maior a manipulação de sangue, visível ou não,
maior é sua chance de contrair doença infecciosa. Ao utilizarmos instrumentos
rotatórios, jatos de ar, ar/água, ar/água/bicarbonato e ultra-som, a contaminação
gerada em até 1,5 m de distância é muito grande.
Peças de mão e borrachas contaminadas, a água que supre o
abastecimento de Saúde, o sabonete em barra, a toalha de pano, a torneira não-
automática, as soluções de limpeza, podem ser fortes veículos de
microrganismos. Nossas mãos, uma vez contaminadas de saliva e/ou sangue, são
os maiores veículos de contaminação de superfícies.
3.2. Formas de contaminação
• Direta: ocorre pelo contato direto entre o portador e o hospedeiro. Ex:
doenças sexualmente transmissíveis, hepatites virais, HIV.
• Indireta: ocorre quando o hospedeiro entra em contato com uma superfície
ou substância contaminada. Ex: hepatite B, herpes simples.
• A distância: através do ar, o hospedeiro entra em contato com o
microrganismo. Ex: tuberculose, sarampo e varicela.
3.3. Patogenicidade
A patogenicidade expressa a possibilidade de uma contaminação gerar
uma infecção.
Patogenicidade = no de microrganismos X virulência
 resistência ao hospedeiro
Ou seja, uma vez ocorrida a contaminação, a possibilidade de ocorrer a
infecção é diretamente proporcional ao número de microrganismos
contaminantes vezes a virulência deles, e é inversamente proporcional à
resistência local, humoral e celular do hospedeiro. A virulência é definida como
o conjunto de recursos que os microrganismos possuem para causar dano ao
hospedeiro, instalando-se, sobrevivendo e, finalmente multiplicando-se.
Resumindo, para que ocorra uma infecção é necessário que haja uma fonte de
microrganismos, um contágio através de uma das três formas, por um
microrganismo de determinada virulência, em determinado número, em um
hospedeiro com maior ou menor resistência.
4. IMPLANTANDO O PROGRAMA DE CI
Conhecidas as variáveis sobre as quais temos que atuar para a realização
do CI, devemos estabelecer quais devem ser os meios e a seqüência lógica
de implantação. Primeiramente, é responsabilidade do CD assegurar-se de
que toda a sua equipe tenha conhecimentos mínimos para que possa atuar de
forma responsável. Os aspectos do controle de infecção que devem ser
analisados nas formulações de um programa de controle de infecção efetivo
são: (1) técnicas de assepsia; (2) avaliação dos pacientes; (3) proteção
pessoal; (4) esterilização do instrumental; (5) desinfecção de superfícies; (6)
assepsia dos equipamentos e (7) assepsia laboratorial.
 Vacinas: Aumentando a resistência dos profissionais da Saúde e
pacientes e diminuindo a virulência de microrganismos
Profissionais da Saúde estão sob risco constante de aquisição de doenças
previníveis por vacinas, assim como podem transmitir tais doenças aos
pacientes. A imunização de profissionais da Saúde bucal constitui parte
essencial dos programas de CI. Recomenda-se a esses profissionais as
seguintes vacinas: contra hepatite B, influenza, sarampo, caxumba, rubéola,
difteria, varicela e tétano.
Antibióticos com finalidade profilática e terapêutica
A antibioticoterapia profilática está indicada aos pacientes de risco:
possuidores de implantes em geral, transplantados, portadores de síndrome de
Down, leucemia, diabetes mellitus, AIDS, e aqueles submetidos à radioterapia
ou hemodiálise. A antibioticoterapia profilática deve ser de curta duração. O
uso de antibióticos profiláticos em cirurgia leva com certeza a uma diminuição
na incidência de infecções pós-cirúrgicas.
 Na vigência da infecção instalada, o uso do antibiótico deve ser terapêutico,
e não profilático, sendo prescrito habitualmente por 7 a 10 dias.
4.3.) Interferindo no número de microrganismos
Conceitos
Esterilização: é a destruição de todas as formas de vida, animal ou vegetal,
macroscópicas ou microscópicas de um material. Esse é um termo que não
deve ser usado com sentido relativo: um objeto ou substância estão ou não
esterilizados; jamais poderão estar meio estéreis ou quase estéreis. A
esterilização denota o uso de agentes físicos, químicos ou físico-químicos.
Desinfecção: é a destruição dos microrganismos patogênicos, sem que haja
necessariamente a destruição de todos os microrganismos, pela aplicação
direta de meios físicos ou químicos. Esse termo é empregado para objetos
inanimados.
Antissepsia: é a utilização de substâncias (agentes químicos) para inibição da
proliferação ou a destruição de microrganismos presentes na superfície da pele
e mucosas, esse termo refere-se portanto a ação “in vivo”.
Assepsia: é o contrário de sépsis (presença de patógenos no sangue ou outros
tecidos), ausência de infecção. O termo assepsia é também usado para
designar a prevenção do contato com patógenos, bem como o conjunto de
meios empregados para impedir a penetração dos microrganismos em local
que não os contenha. Em Odontologia, isto inclui as técnicas de proteção com
invólucros, esterilização e desinfecção.
Cadeia asséptica: toda técnica cirúrgica é desenvolvida com a preocupação da
manutenção da cadeia asséptica. Todas as manobras como esterilização de
material, antissepsia do campo operatório, colocação de luvas e máscaras, etc,
fazem parte da cadeia asséptica mantida para o controle das infecções.
5. ESTERILIZAÇÃO
5.1.Métodos físicos: autoclavação, estufa e radiação
Calor seco – estufa: 170 -180o C por 60 minutos, ou 160o C por 120 minutos.
A estufa é utilizada para materiais que não devem ser molhados, tais como
bolas de algodão, gases, pontas de papel e instrumentos metálicos. Dentre as
vantagens da utilização deste método estão: maior capacidade de volume, os
equipamentos necessário são de baixo custo e operação, e o calor seco não
produz corrosão. Empacotamento: papel ou folha de alumínio
Calor úmido – autoclave: 123oC por 20 -30 minutos – 15 Ib/pol2 . A
esterilização por autoclaves é a opção preferencial em relação aos meios
químicos e ao calor seco. A autoclave permite a esterilização das pontas de
alta rotação, das peças de mão, dos contra-ângulos, etc. Dentre as vantagens
de sua utilização estão: a esterilização mais eficiente e confiável, simplicidade
de operação e custo relativamente baixo. Uma desvantagem é a oxidação de
instrumentos metálicos, prejudicando o corte e promovendo a ferrugem dos
instrumentos.
5.2. Métodos químicos de Esterilização e Desinfecção
5.2.1.) Normas para desinfecção de material contaminado
• colocar em desinfetante (glutaraldeído ou hipoclorito), deixar agir por 30 -
60 minutos;
• lavar e enxaguar abundantemente o material com escova, água e
detergente líquido. O manipulador do material deve usar luvas grossas de
borracha, de uso doméstico;
• enxugar o material em pano limpo;
• esterilização: colocar o material no desinfetante de sua opção e deixá-lo
agir pelo tempo necessário à atingir o resultado esperado;
• enxaguar abundantemente em água, para retirar os resíduos do
desinfetante;
• enxugar em pano limpo, guardá-lo em recipiente esterilizado;
5.2.2.) Tipos de desinfetantes/ esterilizantes:
A) Fenóis sintéticos: indicados para desinfecção de artigos não-críticos
pelo período de 60 minutos. Pisos e paredes pelo tempo de 30 minutos.
B) Hipoclorito de sódio: indicado para desinfecção em solução aquosa a
1% (10.000 ppm), para artigos semi-críticos pelo tempo de 60 minutos (ativos
contra o vírus da AIDS e hepatite). Para desinfecção de pisos, paredes e
superfícies lisas, tempo de 30 minutos.
Obs: possui ação corrosiva em instrumento metálicos.
C) Glutaradeído:
Desinfecção: tempo de 30 minutos
Esterilização: tempo de 10 horas
D)Outros:
• Produtos a base de compostos quaternários de amônio (Germikil):
Não são aceitos pela ADA, pois não são efetivos contra o bacilo da
tuberculose, esporos e vírus da hepatite B, e por serem facilmente inativos por
matéria orgânica e algodão. Além disso, as bactérias podem crescer em
soluções velhas e diluídas (Buckthal e cols., 1986). Indicados como
desinfetantes de artigos semi-críticos pelo tempo recomendado pelo
fabricante.
• Álcool etílico: utilizado como antisséptico e desinfetante na concentração
de 77o GL p/v . Não atua contra todos os microrganismos Gram-negativos,
bacilo da tuberculose e vírus (hepatite). O álcool a 77o v/v é obtido a partir de
álcool a 96o GL, na seguinte diluição: 4 partes de álcool e uma parte de água
filtrada ou destilada. Perde parcialmente seu efeito antimicrobiano em material
contendo pus, saliva, sangue, etc.
5.2.3.) Limitações das soluções químicas desinfetantes:
• São sensíveis a alterações de suas concentrações ideais;
• Perdem suas propriedades na presença de material biológico;
• A temperatura é uma variável muito importante para que ajam no tempo
indicado pelo fabricante;
• Não são disponíveis indicadores biológicos♠ para avaliação da efetividade
das soluções;
Obs: a radiação ultravioleta jamais deverá ser utilizada para desinfecção e
esterilização de objetos e instrumentos.
5.3.) Outros métodos de esterilização/desinfecção
Flambagem: colocar o material diretamente na chama de um bico de Bunsen
ou lamparina à álcool. Recurso utilizado no laboratório de Microbiologia e
excepcionalmente em outras áreas da Odontologia. A flambagem ao rubro,
geralmente danifica os instrumentos.
Pasteurização: processo que consiste em aquecer o material a temperatura
relativamente baixa por tempo relativamente longo. É um método de
desinfecção utilizado geralmente para grandes quantidades de líquidos que
não podem ser fervidos (leite, cerveja, vinho, etc.). Para o leite, geralmente
utiliza-se 63oC/ 30 minutos. Não elimina bactérias esporuladas e alguns vírus.
Após a pasteurização, os materiais devem ser resfriados bruscamente, afim
de evitar a manutenção prolongada de temperaturas propícias (30-40oC) à
proliferação das bactérias não destruídas e à germinação de esporos.
Tyndalização: ou esterilização fracionada, consiste no aquecimento repetido,
por 2-3 dias consecutivos. Utilizada em Microbiologia, para determinadas
substâncias que não podem ser autoclavadas.
Filtração: passagem de gases ou líquidos através de substâncias (velas,
discos filtrantes) capazes de reter os microrganismos.
 
♠ testes com esporos, verifica o funcionamento adequado dos aparelhos e dos ciclos de esterilização. Os
esporos utilizados são: Bacillus stearothermophilus para autoclaves e Bacillus subtilis para calor seco, óxido
de etileno e gás- plasma peróxido de hidrogênio.
Gases esterilizantes:
• São utilizados misturas gasosas em esterilizadores especiais, que
produzem pressão de vapor químico não saturado (126oC/ 30 minutos).
Difícil utilização por necessitar de aparelhagem adequada, e alguns gases
deixarem resíduos materiais;
• Gás óxido de etileno: utilizado industrialmente, é bastante efetivo contra
vírus e esporos. Difícil utilização em consultórios por necessitar de
aparelhagem especial e por deixar resíduos nos materiais. É muito tóxico e
alergizante.
Meios transmissores de calor: esterilizadores contendo pérolas de vidro,
cerâmica ou sal, no qual utilizam-se temperaturas de 218 a 246o C por 10
segundos. Utilizado excepcionalmente para alguns instrumentais
endodônticos, não podem ser utilizado para instrumentos calibrosos, e o cabo
do instrumento não é esterilizado.
Luz ultravioleta: método utilizado para desinfecção de ar em centros
cirúrgicos e salas assépticas. Não é efetivo para instrumentais pois alguns
vírus e bactérias esporuladas são resistentes. Além disso, a luz ultravioleta só
tem ação quando da exposição direta do microrganismo à ela, possuindo
muito pouco poder de penetração, devendo o instrumental portanto, ser
exposto em todas as suas faces e não podendo ser acondicionado, o que
torna inviável sua utilização em consultório.
6. PRÁTICA DA ASSEPSIA
O risco de contaminação tem um significado especial onde um
grande número de profissionais e pacientes encontram-se envolvidos com
trabalhos clínicos simultaneamente, como o que ocorre em escolas de
Odontologia. Cabe, portanto aos acadêmicos seguir à risca os métodos de
esterilização, desinfecção e assepsia, além de utilizar paramentação
adequada, evitando a contaminação cruzada e dessa forma, preservando a
integridade física do paciente.
6.1. Assepsia pessoal – lavagem das mãos
A principal rota de transmissão de microrganismos orais e respiratórios
ocorre pelas mãos. A lavagem das mãos é considerada a medida isolada mais
importante para se reduzir o risco de transmissão de microrganismos. As
mãos devem ser lavadas imediatamente antes e após o tratamento de cada
paciente, antes da colocação de luvas e depois de sua remoção, e após tocar
sem luvas objetos provavelmente contaminados. A lavagem simples das mãos
pela técnica correta e utilizando água, sabão e escova retira a microbiota
transitória adquirida pelo contato direto ou indireto com o paciente.
6.2. Limpeza dos ambientes dos estabelecimentos de Saúde
Na ausência de material biológico visível, pisos e paredes devem ser limpos
com água e sabão, em uma seqüência lógica: das áreas menos sujas para as
mais sujas, e de cima para baixo. Na presença de material orgânico visível,procede-se a desinfecção localizada.
Nas salas clínicas, as superfícies tocadas que não puderem ser cobertas
com barreira durante o atendimento deverão ser limpas e desinfetadas entre
cada atendimento, com um desinfetante de ação intermediária, como por
exemplo, solução de cloro a 1% (solução de Milton). O lixo contaminado do
consultório deve ser separado e acondicionado em sacos plásticos brancos e
recolhido por serviço público especializado, que o encaminhará à incineração.
6.3. Limpeza dos instrumentos:
Antes da esterilização ou desinfecção de alto nível, os instrumentos devem
ser limpos vigorosamente para a retirada da sujeira e do material orgânico. O
profissional deve decidir os objetos a serem utilizados durante o atendimento e
determinar aqueles que podem (1) ser apenas cobertos por invólucros,
(2) esterilizados e aqueles que podem ser (3) desinfetados.
No Manual de Controle de Infecção Hospitalar do Ministério da Saúde
(1985), os artigos hospitalares são classificados “segundo o risco potencial de
transmissão de infecção que apresenta”. Como no consultório odontológico o
contato entre o instrumental e o paciente é constante, consideramos que a
classificação proposta pelo Ministério da Saúde para artigos hospitalares pode
ser aplicada na Odontologia. A classificação é a seguinte:
• Artigos críticos: são todos aqueles que penetram nos tecidos
subepiteliais, no sistema vascular e em outros órgãos isentos de microbiota
própria, bem como todos que estejam diretamente conectados com eles.
Estes artigos devem estar obrigatoriamente estéreis ao serem utilizados.
Exs: instrumentos, agulhas, brocas, bisturis, seringas, etc.
• Artigos semi-críticos: são todos aqueles que entram apenas em contato
com mucosa íntegra. Estes artigos também devem estar estéreis ou o
mais possível livre de microrganismos (desinfecção).
• Artigos não-críticos: são todos os que entram em contato apenas com
pele íntegra e ainda os que não entram em contato direto com o paciente.
Estes artigos devem estar isentos de agentes de doenças infecciosas
transmissíveis (desinfecção). Exs: mobiliário, cadeira, telefone, sanitários,
etc.
7. ANTISSEPSIA
Para a profilaxia das infecções, utilizamos os antissépticos sempre antes de
qualquer procedimento – como incisões, injeções, punções, raspagens,
polimentos, moldagens. A importância da antissepsia bucal antes da
realização de procedimentos operatórios é ilustrada por três fatos bem
comprovados:
• mesmo procedimentos aparentemente não invasivos (como profilaxia ou
raspagem) provocam bacteremias de magnitude semelhante a
procedimentos mais invasivos;
• quando se usam peças de mão, é grande a contaminação até 1,5 m de
distância;
• número de microrganismos viáveis da cavidade bucal após a antissepsia é
diminuído em 99% na região cervical dos dentes e, em 96% nos aerossóis
e gotículas decorrentes da utilização de pontas.
Os antissépticos bucais são utilizados através de bochechos e/ou
aplicação tópica, e não devem ser irritantes, tóxicos, alergizantes, produzir
lesões celulares, interferir na defesa do organismo ou prejudicar reparação ou
cicatrização, além de ter rápido início de ação, boa penetração nos tecidos e
ação residual. São considerados antissépticos bucais: os iodóforos, a
clorexidina, o cloreto de cetilpiridínio.
8. RECURSOS MATERIAIS E PROTOCOLOS PARA SE MANTER A
CADEIA ASSÉPTICA
A prevenção da infecção cruzada é feita pelo emprego dos processos de
esterilização e de todos os procedimentos destinados a manter a cadeia
asséptica.
8.1. Equipamentos de proteção individual
São eles: avental, gorro, máscara, óculos de proteção e luvas. O uso
desses equipamentos é indicado para a higiene e proteção da equipe de
Saúde e dos pacientes durante os atendimentos.
8.2. Gerenciamento de superfícies
As partículas produzidas pelo uso de equipamentos rotatórios pemanecem
viáveis no ambiente. Além disso, há relatos a respeito da sobrevivência de
microrganismos sobre superfícies, mostrando que uma grande variedade
deles consegue sobreviver durante um tempo prolongado em diversos
materiais de uso rotineiro em Odontologia, tais como fichas clínicas, peças de
mão, papel e descartáveis como gases e luvas, e ainda sobre a pele.
 Antes de cada atendimento deve-se: desinfetar as peças de mão, as
seringas de ar/água, o refletor e os comandos, as bandejas de instrumentos e
superfícies, os suportes das peças de mão e seringas, os braços e alavancas
da cadeira, o suporte da cabeça, as torneiras do lavatório, as superfícies dos
armários e puxadores das gavetas, a cuspideira, etc.
Papel impermeável, folha de alumínio ou plástico devem ser usados para
proteger itens e superfícies que são difíceis de limpar ou desinfetar e, que
podem ser contaminados com sangue ou saliva durante o uso. No intervalo
entre o atendimento de dois pacientes, essas coberturas de proteção devem
ser removidas (com o profissional ainda enluvado), descartadas, e novas
coberturas devem ser colocadas. As barreiras garantem-nos segurança, mais
economia de tempo e dinheiro.
8.3. Instrumentos e acessórios
Procedimento com o material: colocá-lo após uso em cuba com
desinfetante durante 30 minutos, após o que lavar e acondicionar para
esterilização, utilizando-se preferencialmente uma luva grossa de borracha.
Utilizar sempre instrumental esterilizado.
8.4. Contaminações
• Contaminação de pele com saliva ou sangue: lavar imediata e
abundantemente a região com água e sabão líquido, promover a
antissepsia com ácool-iodado 0,3% ou similar;
• Ferimentos com instrumental cortante ou perfurante: lavagem imediata e
abundante com água e sabão líquido, seguido de álcool-iodado a 0,3% ou
similar;
• Contaminação dos olhos com sangue ou saliva; deve-se usar colírio a base
de nitrato de prata a 1%.
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6. Secretaria de Estado da Saúde. Resolução SS-186, de 19/7/1995. Diário
Oficial do Estado. São Paulo, 2 agosto 1995, p.14.
7. Teixeira, M. & Santos, m.v. Responsabilidade no controle de infecção.
Revista da APCD, v.53, n.3, p.177-189, Mai/Jun, 1999.
8. Wistreich, G.A. & LECHTMAN, M.D. Métodos físicos de controle
microbiano. In: Microbiologia das doenças humanas. 2o ed. Rio de
Janeiro, Guanabara Koogan, 1980, p.262-273.
QUESTÕES
1. Qual o conceito de infecção cruzada e contaminação cruzada?
2. Como estão classificados os artigos hospitalares (aplicáveis em
Odontologia) no Manual de Controle de Infecção Hospitalar do Ministério
da Saúde (1985)?
3. Quais os processos e procedimentos destinados a manter a cadeia
asséptica?
4. Conceitue esterilização e descreva os métodos de esterilização utilizados.
5. Descreva um programa de controle de infecção a ser realizado em seu
consultório.

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