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TRABALHO DE INTRODUÇAO

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TRABALHO DE INTRODUÇAO.
2 CONCEITO DE FEMINICÍDIO
 A lei do feminicídio entrou em vigor no dia 09 de março de 2015. Uma de suas características é a majoração da pena para aquelas condutas elencada nesse crime. Referida lei veio para complementar e não revogar, a lei de nº 11.340 de 2006, conhecida como a lei Maria da Penha, destacando aqueles casos de violência contra a mulher cometida dentro ou fora do seu âmbito familiar, cujo agressor é aquele que deveria protegê-la. Entretanto, são eles, muitas vezes, os principais agressores: cônjuges, companheiros, pais, padrastos, irmãos, entre outros do círculo familiar ou que já fizeram parte como ex-marido, ex-namorado etc. As autoras (RUSSELL; CAPUTI, 1992) conceituam violência contra a mulher como sendo, in verbis:
[...] O extremo do continuum de terror antifeminino, que inclui uma grande variedade de abusos verbais e físicos, tais como estrupo, tortura, escravidão sexual (particularmente na prostituição) , relação incestuosas extrafamiliares de abuso sexual de crianças; agressões físicas e emocional, o assédio sexual ( no telefone, na rua, no escritório e na sala de aula) , mutilação genital (clitoridectomia, a excisão, infibulação) operações ginecológicas desnecessárias, heterossexualidade forçada, a esterilização forçada, (ao criminalizar a contracepção e o aborto), psicocirurgia, a negação de alimentos para as mulheres em algumas culturas, a cirurgia estética. E outras mutilações, em nome de embelezamento.
 	Na tradução da palavra femicídio para o espanhol, apareceram duas tendências: “femicídio e feminicídio” (RUSSEL, 2012)
 	De acordo com a autora (Adriana Ramos de Mello 2017)
A nova categoria de análise teve uma ampla repercussão internacional nas últimas décadas. Essa expansão foi favorecida pelo avanço do movimento feminista transnacional a partir dos anos 1990 e seus avanços no desenvolvimento dos direitos das mulheres. 
 	A lei do femicídio veio como reforço, trouxe em seu corpo alguns requisitos necessários para a sua real eficácia e validade. Requisitos esses, que não devem ser esquecidos pelos operadores do direito, o que será abordado mais adiante. 
2.1. Maria da penha conforme alguns autores.
	
	Para explicitar, é válido lembrar alguns autores como Adriana Ramos de Mello que diz:
No Brasil, a violência doméstica e familiar contra a mulher não vinha recebendo, por parte das autoridades e da sociedade em geral, a devida atenção até a entrar em vigor a Lei nº 11.340 de 07 de agosto de 2006, para além do fato de ter a Constituição da República, proclamada em 1988 declarações, no seu inciso 8º do artigo 226, repúdio à violência doméstica e familiar contra a mulher (MELLO, ADRIANA. 2017).
 	Diversos países latino-americanos criaram leis especificas sobre violência doméstica, muitas sem nenhuma eficácia por volta dos anos 1990. Por conta disso algumas leis receberam críticas por enquadrarem a violência contra a mulher como um problema da esfera cível e não criminal. No caso brasileiro, já no início dos anos 1990, havia discussões e propostas feministas de uma “lei contra a violência familiar” (PIMENTEL; PIERRO,1993). 
Até meados do ano de 2004 não havia nenhum projeto de lei tramitando no congresso nacional, apesar de tantos impactos de violência doméstica e familiar registrados diuturnamente, mas algo estava para acontecer: o projeto de Lei nº 4.559/2004. O mesmo projeto que se transformaria na novel lei 11.340/2006, conhecida atualmente como a lei Maria da Penha, atendendo assim ao art. 226 da nossa CF/88.
2.1.1. Breve reflexão da busca de reconhecimento de direitos pelo direito.
 	A Constituição Brasileira considera a família como a base da sociedade, garantindo-lhe especial proteção do Estado (art. 226). Mas, sabe-se que nem sempre foi assim. Basta lembrar que o Brasil foi colonizado por Portugal e naquela época a sua legislação era regida pelas ordenações Filipinas, também conhecidas como Código Filipino. Era composto por cinco livros de leis e regras que formavam a base do direito português que se estendia a suas colônias.
Neste sentido, a penalização se dava de acordo com a origem social do indivíduo e não de acordo com a conduta realizada. Essa era uma dura realidade que se podia notar nas aplicações das regras rigorosas quando se tratava de mulher que tinha seus castigos muito mais severos; não tinham direito à fala e quem decidia sobre sua vida era o pai ou o esposo.
A vida no Brasil colonial era regida pelas Ordenações Filipinas, um código legal que se aplicava a Portugal e seus territórios ultramarinos. Com todas as letras, esse regramento assegurava ao marido o direito de matar a mulher caso a flagrasse em adultério. Também podia matá-la por meramente suspeitar de traição — bastava um boato e previa-se um único caso de punição.
Por outro lado, se o marido traído fosse um “peão”, ou seja, uma pessoa pobre sem recursos financeiros. Mas sendo o amante de sua mulher uma pessoa de maior qualidade social possuidores de posses, e em poder aquisitivo, o assassino, poderia ser condenado a três anos de desterro (extraditado) na África por ter matado sua mulher, por acha-la em adultério.
[ a ]achando o homem casado sua mulher em adultério, licitamente poderá matar assim a ela, como o adultero, salvo se o marido for peão, e o adultero fidalgo, ou o nosso desembargador, ou pessoa de maior qualidade. (ORDENAÇÕES FILIPINAS)1822.
Notamos que as raízes da isonomia do estereótipo e do patriarcalismo já vinham sendo implantadas no Brasil desde os tempos mais remotos, a isonomia existia, em vista da aplicação da pena que era também diferenciada quando se tratava de um marido traído “peão” ou fidalgo, sendo o marido traído um fidalgo o mesmo podia matar sua mulher sem nenhuma restrição, porque era legitimada sua conduta, já sendo o marido traído um “peão” ainda que legitimada sua conduta, mas se o adúltero era um fidalgo ou o próprio desembargador, o peão deveria ser extraditado para fora do país.
 	É válido ressaltar que um dos assuntos que aborda este trabalho acadêmico é a questão da desigualdade feminina e as conquistas das mulheres ao longo de décadas por meio de diversos movimentos feministas. Sendo assim, impressiona a forma como vêm galgando lugares de destaque nas leis e normas políticas, no Brasil e no mundo.
Para que o entendimento seja completo, abordar-se-á um pouco sobre os progressos conquistados no de correr das históricas lutas revolucionárias. 
2.1.2 Convenção do Pará 1994
	Entre diversas lutas históricas pela conquista de seus direitos humanitários, está a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher. Pode-se dizer que as portas para a novel lex começavam se a abrir, pois foi por meio dessa convenção que diversos países se organizaram para punir o invisível. Países como México, Guatemala, Chile, Peru, Argentina, Costa Rica, inclusive o Brasil. Todos esses países se comprometeram ao acolhimento das seguintes normas, in verbis:
Definição e âmbito de Aplicação
Artigo 1º
	Para os efeitos desta Convenção deve-se entender por violência contra a mulher, qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou, sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado.
Artigo 2º
	Entender-se-á que violência contra a mulher inclui violência física, sexual e psicológica:
1. Que tenha ocorrido dentro da família ou unidade doméstica ou em qualquer outra relação interpessoal, em que o agressor conviva ou haja, convivido no mesmo domicílio que a mulher e que compreende, entre outros, estupro, violação, maus-tratos e abuso sexual:
2. Que tenha ocorrido na comunidade e seja perpetrada por qualquer pessoa e que compreende, entre outros, violação, abuso sexual, tortura, maus, tratos de pessoas, tráfico de mulheres, prostituição forçada, sequestro e assédio sexual no lugar de trabalho, bem como em instituições, educacionais, estabelecimentos de saúde ou qualquer outro lugar.
3. Queseja perpetrada ou tolerada pelo Estado ou seus agentes, onde quer que ocorra.
Direitos Protegidos
Artigo 3º
	Toda mulher tem direito a uma vida livre de violência, tanto no âmbito público como no privado.
Artigo 4º
	Toda mulher tem direito ao reconhecimento, gozo, exercícios e proteção de todos os direitos humanos e às liberdades consagradas pelos instrumentos, regionais e internacionais sobre direitos humanos. Estes direitos compreendem, entre outros:
1. O direito a que se respeite sua vida;
2. O direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e moral;
3. O direito à liberdade e à segurança pessoal;
4. O direito a não ser submetida a torturas;
5. O direito a que se refere a dignidade inerente a sua pessoa e que se proteja sua família;
6. O direito à igualdade de proteção perante a lei e da lei;
7. O direito a um recurso simples e rápido diante dos tribunais competentes, que a ampare contra atos que violem seus direitos;
8. O direito à liberdade de associação;
9. O direito à liberdade de professar a religião e as próprias crenças, de acordo com a lei;
10. O direito de ter igualdade de acesso às funções públicas de seu país e a participar nos assuntos públicos, incluindo a tomada de decisões.
Artigo 5º
	Toda mulher poderá exercer livre plenamente seus direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais e contará com a total proteção desses direitos, consagrados nos instrumentos regionais e internacionais sobre direitos humanos.
Os Estados-partes reconhecem que a violência contra a mulher impede e anula o exercício desses direitos.
Artigo 6º
	 O direito de toda mulher a uma vida livre de violência incluir, entre outros:
1. O direito da mulher de ser livre de toda forma de discriminação.
2. O direito de a mulher ser valorizada e educada livre de padrões, estereotipados de comportamentos, práticas sociais e culturais baseadas, em conceitos de inferioridade de subordinação.

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