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CRIME E CASTIGO

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UFBA
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
GABRIELA ARAUJO DA COSTA
CRIME E CASTIGO
Salvador, 06 de agosto 2016
 Em Crime e Castigo o personagem principal é Raskólhnikov, um jovem ex-estudante de direito, morador de São Petersburgo, que por não ter mais dinheiro teve que abandonar a Universidade. Após ter desistido da Faculdade ele passa um grande período em seu pequeno e lúgubre quarto refletindo sobre sua condição e a de sua família. 
 Sua mãe e irmã que haviam ficado na aldeia em que eles moravam também passavam por dificuldades financeiras, mas ambas possuíam um enorme afeto e esperança em Raskólhnikov e de tudo faziam para poder conseguir dinheiro para mandar para ele. A mãe, muitas vezes, pedia adiantamentos de sua pensão para mandar dinheiro para ele. Já a irmã trabalhava como professora em casas de família para conseguir algum dinheiro.
 Durante o período que ficou sem estudar ele viveu em uma espécie de transe. Não saia. Parou com as aulas que dava. Não ia atrás de alimento, só comia se Nastácia, uma empregada da pensão onde ele morava, lhe trouxesse alimento. Não pagava suas dívidas. Passava os dias deitado ou dormindo numa espécie de torpor.
 Refletia sobre a desoladora situação de sua família e sua. Considerava-se um grande ser, mas que não tinha os meios para as suas realizações. Começou então a criar uma teoria segundo a qual o mundo seria dividido em duas castas: homens vulgares e extraordinários. Os vulgares, por serem vulgares se submetiam à ordem estabelecida e não a questionavam. Já os extraordinários esmagavam as regras, eram superiores a elas. Eram estes quem criava as novas regras, as grandes revoluções. 
 Para conseguir algum dinheiro Raskolhnikov penhorava alguns objetos de pequeno valor que eram a herança que tinha recebido de seu pai. Penhorava-os com uma velha agiota que vivia com uma irmã adotiva, Lisavieta. Essa agiota maltratava muito a irmã e era muito má. Raskólhnikov em seus devaneios se considerava um ser extraordinário que só não tinha produzido algo grande porque não tinha acesso aos meios para tal. Sozinho, em extrema miséria e a ponto de ver sua irmã se casar apenas por dinheiro, decide que a única maneira de mudar de situação é matar a agiota que era para ele um inseto, digno de ser esmagado, para com o seu dinheiro conseguir bancar o seu extraordinário projeto e ajudar a sua família. 
 Após receber uma carta de sua mãe avisando que iria a São Petersburgo vê-lo e acertar os últimos detalhes do casamento de Dúnia ele decide-se a por o seu plano em ação. Ele só tinha o intuito de matar a agiota, mas Lisavieta apareceu quando ele estava saindo e ele acabou matando-a. Por estar muito nervoso acabou roubando apenas uma pequena parte do dinheiro e alguns poucos objetos de valor. Com medo de ser descoberto levou tudo isso para um lugar ermo e colocou embaixo de uma pedra.
 A partir desse momento Raskolhnikov passa um período de grandes tormentos. Com medo de ser apanhado e, principalmente, com receio de que sua teoria não estivesse correta, pois mais do que conseguir o dinheiro ele queria através do assassinato provar a sua teoria: que um ser superior é aquele que esmaga as regras e constrói as suas próprias. Mas depois do assassinato ele percebe que isto estava afetando ele e que por isso ele não era um ser superior, pois um ser superior não sentiria nada a não ser orgulho do que ele havia feito, ele é uma ‘’barata’’ assim como a agiota: ‘’efetivamente matei a princípio, mas não soube passar por cima do obstáculo, fiquei do lado de cá.’’ p. 280
 Fica com medo de ser descoberto, não consegue se controlar. Sente como se ao ter matado as duas velhas ele, na verdade, tinha matado a si próprio. Aquele Rodka que morava na aldeia, que todos viam como um ser destinado a grandes coisas. Passa a viver em constante sofrimento. Isso acaba o levando a adoecer, dias doente e delirando. Seu ex-colega da Universidade, Razumikhim, é quem lhe dá algum socorro. Quando ele estava começando a se recuperar sua mãe e irmã chegam a São Petersburgo. Elas como o amavam muito ficam muito preocupadas com o seu estado. Mas ele começa a tratá-las mal, pois por amá-las muito elas lembram aquilo quem ele era, quem deveria ser. Acaba expulsando-as. Razumikhim é quem as ajuda.
 Durante esse tempo pós-assassinato ele vive em uma espécie de loucura e solidão. Ao mesmo tempo em que não suporta estabelecer conversas com pessoas tem horror a ficar sozinho. Afasta-se de todos. Para aumentar a sua agonia os investigadores começam a suspeitar dele, mas não têm provas. Então começam a fazer jogos psicológicos com ele com o intuito de que ele ou se entregue ou dê algum deslize. A única pessoa que ele consegue conversar é Sônia, uma prostituta. Essa garota havia virado prostituta apenas para ajudar a família e tudo que ganhava utilizava para ajudar os seus amigos ou familiares. Ele após conhecê-la ficou muito intrigado pelo fato de ela tanto odiar a sua vida de prostituta, mas continuar nela. Ela só suportava porque com o dinheiro que ganhava conseguia fazer as pessoas que gostava um pouco mais felizes. Ele, por fim, conta a ela o que tinha feito.
 Ele se sente perdido, pois vê que sua crença, sua teoria não era nada, era incorreta. O seu crime tinha sido em vão. Ele procura um lugar para onde ir, um lugar onde pudesse encontrar alguns momentos felizes. Começa a sentir saudade de sua casa na aldeia. De como era naquela época sua relação com a mãe e a irmã. Considera-se morto, procura em Sônia, um pessoa tão boa, um motivo para acreditar que está vivo. Ela então o aconselha a denunciar-se. E é o que ele faz. É condenado a oito anos de trabalho forçado na Sibéria. Ela o acompanha e visita-o sempre.
 Dúnia rompe o noivado e se casa com Razumikhim. A mãe de Dúnia após a prisão de Raskolhnikov fica desequilibrada e muito triste. Acaba morrendo em menos de um ano. Sônia abandona a vida de prostituta e passa a viver como costureira.
 Mais do que tratar apenas do cometimento e da punição de um crime Dostoiévski, traz a tona questões eternas e malditas da existência humana. Até onde um homem pode ir por uma idéia, pois, afinal foi devido a uma que Raskolhnikov matou. Como se sente um criminoso em sua solidão? Como uma religião, sem discutir ou não a veridicidade de seus ensinamentos, pode influir na capacidade de suportar desafios em uma pessoa? 
 O livro traz uma idéia de salvação através do sofrimento. O sofrimento como uma forma do ser humano expurgar seus pecados. Como uma forma de aliviar a pressão exercida pela própria mente. Afinal, não havia nada que ligasse Rodka ao crime foi ele mesmo que através de seus atos chamou a atenção para si. Mesmo ele afirmando que não sentia arrependimento ele ficou profundamente abalado, transtornado.
 O desfecho da história faz certa analogia com o capítulo XI do Evangelho de São João no qual há a passagem sobre a ressurreição de Lázaro. Sônia lê essa passagem para Rodka pouco antes de pedir para que ele confesse: ‘’A vela quase no fim iluminava frouxamente naquele quarto um assassino e uma prostituta singularmente reunidos para ler o livro sagrado. ’’ p. 334 
 Assim, através do sofrimento de ter que se entregar e dizer para todos o que ele havia feito Rodka, tal qual Lázaro, se ergueria para uma nova vida ao lado de Sônia. O sofrimento faria com que ele se sentisse novamente vivo. E conseguisse, no futuro, saber identificar e viver os bons momentos, o que ele sempre procurou.
 Em Crime e castigo é traçado um panorama das várias facetas que o ser humano pode tomar: o desequilíbrio e a inconstância de Rodka; o altruísmo de Dúnia e de Sônia; o puro e quase infantil amor de Razumikhim, etc. Vai do extremo do detalhamento de um assassinato até a cômica e mimosa cena de Razumikhim demonstrando a sua felicidade por Dúnia ter desatadoo noivado.
 A obra de Dostoiévski mesmo após dois séculos continua atual. Afinal, o crime e a criminalidade ainda existem e aumentam. Assim como todas as grandes obras da literatura conduz o leitor a ser mais humano, levando-o a desvendar mais alguns aspectos do comportamento humano.

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