Buscar

tcc a influencia bullying no processo de ensino aprendizagem

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
“A INFLUÊNCIA DO BULLYING NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM”
MARINA DE OLIVEIRA CHIORLIN
SÃO CARLOS
2007
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
“A INFLUÊNCIA DO BULLYING NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM”
Marina de Oliveira Chiorlin
Redação Final do Trabalho de
Conclusão de Curso apresentada à
banca examinadora como requisito
parcial para a obtenção do grau de
Licenciatura em Pedagogia.
Orientador: Eduardo Pinto e Silva
SÃO CARLOS
2007
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente à Deus que me possibilitou a existência, e sempre esteve comigo me
guardando para que nenhum mal me acontecesse e me deu forças em todos os dias de minha
vida.
Agradeço ao meu pai e a minha mãe por terem me ensinado a sempre lutar pelos meus
sonhos, pelo imenso incentivo e apoio na conquista de meus objetivos, sem vocês comigo
nessa trajetória, não teria chegado aonde cheguei.
Agradeço ao Rodrigo pelo carinho e por sempre estar ao meu lado nos momentos em que
precisei de compreensão, e palavras de estímulo para seguir em frente sem fraquejar.
Agradeço a Direção da escola por ter aberto suas portas para a realização dessa pesquisa.
Agradeço aos professores e professoras da escola pela disponibilidade e pela grande e,
indispensável contribuição.
Agradeço ao Professor Eduardo, pela dedicação, pela competência na orientação desta
pesquisa, e pelos saberes compartilhados no percurso de elaboração deste trabalho que foram
essenciais para a conquista deste resultado.
Agradeço a todas as Professoras e Professores desta Universidade que passaram pela minha
vida acadêmica e me ensinaram o verdadeiro sentido e a devida importância da palavra
Educação.
Agradeço as colegas de sala, em especial a Lígia e a Cassiana que compartilharam as
angústias, as dificuldades, as conquistas, as dúvidas, e os problemas encontrados durante o
caminho que agora chegou ao fim.
Enfim, agradeço a todos, de coração, por terem me ajudado direta ou indiretamente durante
minha graduação e na elaboração deste trabalho.
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
RESUMO
Este trabalho analisa a visão dos professores de uma escola estadual de Ensino Fundamental
sobre a influência do bullying no processo de ensino-aprendizagem através de questionários e
entrevistas semi-estruturadas. Verificou-se que os professores consideram que a vítima do
bullying tende a apresentar agressividade, medo, isolamento, diminuição da concentração e da
auto-estima, prejudicando o aprendizado. Os professores tendem a atribuir o fenômeno à
família ou à personalidade do aluno e, embora o relacionem também aos problemas sociais e à
mídia, não o fazem de forma suficientemente aprofundada.
Palavras-chave: bullying, processo ensino-aprendizagem, professores, violência, instituição.
.
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
ABSTRACT
This work analyzes the teacher’s views from a public school of Basic Education about the
influence of bullying in the process of teaching-learning through questionnaires and half-
structuralized interviews. It was noticed that the teachers consider that the victim of bullying
tends to present aggressiveness, fear, isolation, reduction of the concentration and of self-
esteem, becoming the learning process difficult. The teachers tend to attribute the
phenomenon to the family or to the personality of the pupil and, even so they relate it also to
social problems and to the media, it is not deep enough.
Key-Words: bullying, process teaching-learning, teachers, violence, institution.
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
LISTA DE FIGURAS
GRÁFICO 1 Formas como acontecem as intimidações/ provocações...................18
GRÁFICO 2 Fatores primordiais de influência das provocações/intimidações
entre os alunos...................................................................................19
GRÁFICO 3 Aspectos percebidos nas vítimas de provocação..............................25
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..............................................................................................................1
CAPÍTULO 1- Referencial Teórico...............................................................................2
· As violências que nos cercam.............................................................................2
· Uma especificidade: O fenômeno bullying.........................................................6
CAPÍTULO 2 – Metodologia........................................................................................11
· Contextualização...............................................................................................11
· Participantes.....................................................................................................12
· Instrumentos utilizados e justificativa..............................................................13
· Procedimento e dinâmica da coleta de dados..................................................14
CAPÍTULO 3 – Apresentação e Análise dos Dados....................................................18
CAPITULO 4 – Considerações Finas...........................................................................28
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................31
APÊNDICES...............................................................................................................33
ANEXOS.......................................................................................................................
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho diz respeito à redação final da monografia de conclusão de
curso apresentada como um dos requisitos para a obtenção do grau de Licenciado em
Pedagogia pela Universidade Federal de São Carlos e tem como intenção contribuir para o
desenvolvimento de capacidades científicas e crítico-reflexivas do futuro pedagogo.
Neste trabalho foi proposta uma investigação sobre a influência do fenômeno
bullying no processo de ensino-aprendizagem de alunos de uma escola da cidade de São
Carlos a partir da visão dos professores acerca dessa problemática. A coleta de dados se deu
através da aplicação de questionários e realização de entrevistas.
O objetivo geral foi o de compreender o fenômeno bullying e as relações deste
com o processo de ensino-aprendizagem, visando contribuir com subsídios para o
esclarecimento acerca de tal fenômeno e, conseqüentemente, apontar caminhos para a
melhoria da qualidade da educação. Nosso objetivo específico foi o de investigar através da
visão dos professores, se o fenômeno bullying influenciaria negativamente o processo de
ensino-aprendizagem.
O trabalho foi organizado em quatro capítulos: o primeiro capítulo discute a
questão da violência, da violência escolar, e da indisciplina na sociedade atual visto que esses
são assuntos que perpassam a problemática do fenômeno estudado; neste capítulo também é
feita uma definição do conceito de bullying bem como a discussão de suas conseqüências no
cotidiano da escola e sua relação com outros aspectos da sociedade. O segundo capítulo
apresentaa metodologia de pesquisa utilizada, a contextualização do local de pesquisa e a
justificativa da escolha do objeto, além de apresentar o procedimento e a dinâmica da coleta
de dados. No terceiro capítulo apresentamos e analisamos os dados coletados buscando
compreender a relação existente entre o fenômeno bullying e o processo de ensino-
aprendizagem, além de discutirmos outros aspectos que foram levantados no decorrer da
pesquisa. E por fim, nas considerações finais, sintetizamos as principais discussões realizadas
ao longo do trabalho, buscando apontar alternativas para contribuir com a melhoria da
qualidade da educação brasileira.
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
CAPÌTULO 1
REFERENCIAL TEÓRICO
As violências que nos cercam
Atualmente vivemos em uma sociedade na qual a violência tornou-se parte do
nosso cotidiano e, nesse sentido, a escola como instituição pertencente a ela, também acaba
envolvida por esse problema. Conforme nos aponta Silva (2006), a violência nas escolas,
atualmente, pode ser considerada um fato.
A violência é um fenômeno complexo e multifacetado, que foi social e
historicamente construído, conforme Silva (2006) "a violência está nos próprios fins de uma
determinada forma de organização social, sob forma de exploração do homem pelo homem",
ou seja, a violência provém de uma estrutura social construída no percurso da história da
humanidade, seus sentidos se definem conforme seu contexto cultural, social e econômico,
variando de acordo com o sistema de valores adotados por cada sociedade (Fante, 2005).
Podemos nos referir ao fenômeno da violência não apenas em suas
manifestações físicas, tais como crimes, homicídios, roubos, mas também às situações de
humilhação, indiferença, desrespeito, exclusão, presentes nas relações estabelecidas dentro
das instituições como a família, a escola, entre outras instituições que, através de sua
dinâmica, exercem ações coercitivas que, de alguma maneira, causam prejuízos físicos e/ou
psicológicos nos sujeitos dessas relações, o que pode ser caracterizado, nesse sentido, como
uma violência invisível, que também pode ser nomeada de assédio moral, como define
Heloani (2003). No entanto, o assédio moral diz respeito à violência invisível que ocorre nos
locais de trabalho, na relação existente entre os funcionários na qual um ou mais indivíduos
colocam um terceiro numa situação de humilhação em que ele é levado a uma posição de
“fraqueza psicológica” (Leymann, Apud Heloani, 2003). Porém, outros autores (Smith &
Sharp, 1994) vão denominar esse tipo de fenômeno, mesmo nos locais de trabalho, como
bullying.
Costa (Apud Fante, 2005, p.155) apresenta uma definição interessante sobre
violência: “é uma particularidade do viver social, um tipo de 'negociação’, que através do
emprego da força ou da agressividade visa encontrar soluções para conflitos que não se
deixam resolver pelo diálogo e pela cooperação.". Para complementar essa idéia, cabe
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
acrescentar, que as relações de poder também são um meio de 'negociação', como referido
acima, e que essas muitas vezes se dão de forma oculta, não aparente.
Entretanto, ao estudar a violência em seu nível micro, ou seja, a violência
escolar, dá-se ênfase ou a aspectos individuais, ou a aspectos sociais tratando-os como
entidades separadas (Medeiros, 2006). Porém, ambos estão intrinsecamente relacionados, mas
a escola, de maneira geral, acaba revertendo esse problema a aspectos individuais dos alunos
(Aquino, 1998).
O comportamento agressivo ou violento é resultante de diversos fatores dentre
eles, os fatores de ordem econômica e social como a desigualdade social; o desemprego; a
pobreza; a competitividade imposta pelo sistema capitalista; a exclusão social. Nesse sentido
o comportamento violento não está atrelado somente à personalidade do indivíduo, ou ainda,
aos problemas de relações inter-pessoais. Fante (2005) acrescenta:
“a exclusão social, principalmente da infância e da juventude, é uma das causas que
fazem com que prolifere a violência, pois uma vez excluídos do convívio social, os
jovens não encontram outra alternativa senão a violência - uma forma de mostrarem
que existem e que também fazem parte do mesmo contexto social". (p.170)
Complementando a posição de Fante (2005), também é preciso considerar que
na sociedade atual a violência não é apenas uma maneira de o jovem se destacar frente ao
restante da sociedade. Muitas vezes os protagonistas da violência dentro da escola são vítimas
de um sistema social excludente e a violência para eles se torna uma alternativa de
"sobrevivência", pois em meio à tamanha exclusão social o jovem rende-se ao caminho “mais
fácil” que encontra diante de sua realidade, que é partir para o mundo do crime, do
narcotráfico, não que ele tenha escolhido seguir por esse caminho, mas o sistema social acaba
propiciando essa condição.
Frente a essa realidade, a escola não tem meios, nem subsídios para impedir a
influência desses fatores externos sobre a vida de seus alunos e acaba se tornando alvo dos
casos de violência praticados por conta desses fatores externos, uma vez que estão além do
controle que ela pode exercer.
De acordo com Debarbieux (Apud Abramovay, 2003), a violência na escola
pode estar associada a três dimensões: a primeira dimensão seria a dificuldade de gestão da
escola, resultando em estruturas deficientes; a segunda dimensão seria o contexto social, isto
é, a violência que se origina fora e se infiltra na escola através da manifestação de gangues,
tráfico de drogas e da crescente exclusão social na comunidade escolar; e por fim, a terceira
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
dimensão se deve aos componentes internos de cada escola, ou seja, suas especificidades, a
cultura da escola.
Estudos apontam que a violência escolar vem aumentando nos últimos anos
(Medeiros, 2006). O número de pesquisas relacionadas ao assunto também têm aumentado
significativamente, principalmente na década de 90 (Sposito, 2001). Essas pesquisas sobre
violência escolar, de acordo com Sposito (2001), tiveram dois enfoques principais: o primeiro
era investigar a violência como "decorrência de um conjunto significativo de práticas
escolares inadequadas" e o outro era considerar a violência escolar como "um dos aspectos
que caracterizam a violência na sociedade". Como resultado dessas pesquisas pôde-se definir
as principais modalidades da violência escolar: ações contra o patrimônio, isto é, depredações,
pichações; e formas de agressão interpessoal, sobretudo entre os próprios alunos (Sposito,
2001).
Apesar de sempre ter existido, a violência escolar com o passar dos anos teve
suas formas de manifestação transformadas, e segundo Sposito (2001), no Brasil esse tema
começou a ter repercussão no debate público no início dos anos 80, quando o país passou pelo
processo de reabertura política e redemocratização. Nesse sentido, tornou-se visível para a
sociedade a rotina do sistema de ensino público no Brasil, que outrora foi ocultado pela
ditadura militar.
O problema da violência atinge o âmbito escolar de distintas formas,
manifestadas através de furtos, agressões verbais e físicas, ameaças, depredações contra o
patrimônio, entre outras, concreta, ou ainda, de forma simbólica.
O conceito de violência simbólica foi desenvolvido pelo sociólogo Pierre
Bourdieu, segundo ele (Bourdieu, 1970, Apud Vasconcelos, 2002), a violência simbólica é o
mecanismo que as instituições dominantes e seus agentes se utilizam para legitimar a
dominação sobre uma classe, de forma que esses indivíduosvejam como “naturais” as
representações e as idéias dos dominantes. Em outras palavras, é uma maneira oculta de
impor os ideais de uma classe dominante, de modo que seja possível gerir a sociedade em
favor do exercício de dominação. Nesse sentido, a escola é encarada como um dos meios de
prática da violência simbólica. Outra forma de violência simbólica é a criação de um estigma
ou marca negativa por um indivíduo ou grupo a outrem, com a intenção de inferiorizá-lo
socialmente. Isto faz com que se preservem as normas e condutas do grupo social já
estabelecido (Silva Filho, 2004). Dessa forma, o fenômeno bullying pode ser relacionado
como uma manifestação de violência dentro da escola, caracterizado como violência
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
simbólica, mas que algumas vezes se manifesta de maneira concreta, por meio de violência
física, entre outras.
A questão da violência escolar nos mostra ainda que ela pode ser interpretada
de formas distintas: como violência na escola e violência da escola. A violência na escola é
aquela que se manifesta na relação entre os alunos, que pode ser influenciada de alguma
forma por fatores externos, ou entre alunos e professores, e que pode acarretar em prejuízos
no processo de ensino-aprendizagem. A violência da escola é aquela que se dá através da
dinâmica da instituição como forma de coerção sobre os alunos, isto é, seus programas, a
organização do tempo e do espaço, e as relações de poder instituídas nesse contexto. Esta
muitas vezes reverte-se em reações dos alunos na forma de apatia, indisciplina e violência,
que geralmente acabam sendo mal interpretadas, transferindo toda a "culpa" para os alunos
(Aquino, 1998). Nesse sentido, é importante se ter uma clara definição sobre o significado de
indisciplina. A indisciplina é sempre um tema polêmico a ser discutido. Porém, é um
problema presente e constante em todas as escolas do mundo, seja ela particular ou pública.
A imagem da escola na atualidade está ameaçada. Podemos afirmar até que
ela está passando por uma grande crise, pois seus moldes não se transformaram seguindo o
ritmo da transformação da sociedade. A sociedade de hoje não se comporta como a sociedade
do início do século passado. Entretanto, a escola perdura com a estrutura similar daquela
época.
Nesse sentido, o fenômeno da indisciplina pode ser relacionado
intrinsecamente com o problema que a própria estrutura da escola apresenta, e que seus
alunos, através de comportamentos indisciplinares, refletem essa “deficiência” ou
“ineficiência” da escola.
A indisciplina escolar indica que existe uma recusa desse novo sujeito
histórico, que a sociedade atual produziu, em relação às práticas arraigadas no cotidiano
escolar. A indisciplina é uma tentativa de apropriação da escola de outra maneira, mais aberta,
mais fluida, mais democrática, diferente da escola de antigamente (Aquino, 1998).
Contudo, a indisciplina geralmente é remetida a fatores individuais dos alunos,
caracterizando-os como: alunos desrespeitadores, alunos sem limites, alunos desinteressados,
de maneira geral os “alunos-problema” da escola. Mas o fato do profissional da Educação
taxar seus alunos dessa maneira pode ser considerado, de acordo com Aquino (1998), como
um “equívoco ético”, uma vez que a disciplina não é requisito para a ação pedagógica, e sim
um dos produtos ou efeitos do trabalho cotidiano na sala de aula. Portanto, o professor não
deve abandonar sua função, justificando que os alunos não dão conta de aprender ou não dão
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
conta de se comportar e entrar nos padrões exigidos para se estar na escola, ou ainda, que
possuam problemas, mas sim transformar suas ações, buscando novas formas de atuação para
tornar essa função altamente atrativa para seus alunos. Eis o desafio de ser professor.
A violência no âmbito escolar é uma realidade que não pode ser negligenciada.
Investir em pesquisas e ações na questão da violência e indisciplina na escola é um fator
imprescindível para a garantia da qualidade do processo de ensino-aprendizagem e para uma
compreensão crítica acerca da dinâmica da instituição escolar, visto que esses fenômenos
estão intrinsecamente ligados à prática educativa nos dias de hoje. Diante disso, levar em
consideração as interações entre os alunos dentro da escola, tendo em vista que sua identidade
é construída pelos processos de socialização em diferentes espaços, é uma das formas de se
construir uma cultura escolar na qual se estabeleçam práticas escolares mais democráticas e
menos excludentes.
Uma especificidade: o fenômeno bullying
O fenômeno bullying diz respeito a uma modalidade específica de violência na
escola: a violência intraescolares (Fante, 2005). Embora o termo seja empregado, sobretudo
para referir-se a tal modalidade de violência, o fenômeno bullying também se faz presente em
outros âmbitos, tais como os locais de trabalho, família, comunidade e outros contextos
sociais (Smith & Sharp, 1994).
Heloani (2003) é um dos autores que discutem no Brasil, sobre uma das
“vertentes” de compreensão do fenômeno da violência oculta nas relações sociais,
denominado por ele, como dito anteriormente neste trabalho, de assédio moral. O assédio
moral é característico do mundo corporativo, no qual os algozes costumam ser pessoas de
cargo mais elevado dentro das relações de trabalho que abusam de seu poder e da situação de
fragilidade de seus liderados. As vítimas se sentem encurraladas e não denunciam o abuso por
temer a possibilidade de demissão do emprego. Dentre as conseqüências do assédio moral
está o desenvolvimento de patologias como úlcera, cefaléia e depressão (Heloani, 2003).
O bullying escolar, de acordo com Fante (2005, p.28), é caracterizado como
uma manifestação de atitudes agressivas intencionais e repetidas que ocorrem sem motivação
evidente e que são adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), executadas dentro de
uma relação desigual de poder, tornando possível a intimidação da vítima, causando a ela dor,
angústia e sofrimento, já que esta é ridicularizada, insultada e/ou hostilizada. Tal fenômeno
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
geralmente relaciona-se à exclusão do aluno vitimado, provocando distintos danos (físicos,
morais, psicológicos, materiais etc).
Na definição de Smith & Sharp (1994), bullying é descrito como sistemático
abuso de poder e esse abuso têm como característica ser repetitivo e deliberado, podendo
ocorrer em diversos contextos, como já dito, incluindo locais de trabalho e o lar. De acordo
com esses autores, bullying é um problema presente nos grupos sociais em que há uma clara
relação de poder (Smith & Sharp, 1994, p. 2).
A palavra bullying se origina da palavra bully que pode ser designada como
verbo sendo traduzido como "tiranizar", "brutalizar", "amedrontar", ou ainda, ser designada
como substantivo, traduzido como "valentão", " tirano". Dessa forma, de acordo com Fante
(2005, p.28) bullying pode ser entendido como um "subconjunto de comportamentos
agressivos, sendo caracterizado por sua natureza repetitiva e por desequilíbrio de poder".
Fante (2005) aponta que existem três tipos de pessoas envolvidas nessa
situação de violência: o espectador, o agressor, e a vítima. No entanto, esta última possui em
sua classificação três categorias.
O espectador é aquele que presencia as situações de bullying e não interfere e
que representa a maioria dos alunos que convive com o problema. Sua omissão deve-se pelo
fato de temer represálias, ou ser a próxima vítima de ataque do agressor e, nesse caso, prefereadotar a “lei do silêncio”.
O agressor é aquele que vitimiza os mais fracos e costuma manifestar pouca
empatia. Ele impõe mediante o poder e ameaça para alcançar aquilo a que se propõe.
Geralmente é mais forte que seus companheiros de classe, por ser mais velho ou maior
fisicamente que suas vítimas, ou ainda, por apresentar maior habilidade física nas brincadeiras
e nos esportes.
A vítima é aquela freqüentemente ameaçada, intimidada, isolada, ofendida,
discriminada, agredida. Recebe apelidos e provocações, tem os objetos pessoais furtados ou
quebrados, mas pode ser diferenciada em sua classificação quando serve de bode expiatório
para um grupo e não consegue reagir diante das agressões sofridas, pois tem dificuldades de
impor-se ao grupo. Neste caso, ela pode ser denominada de “vítima típica”. Quando a vítima
consegue reagir e se torna agressiva com quem a agrediu, e costuma causar tensões no
ambiente em que se encontra, essa pode ser caracterizada como “vítima provocadora”. Por
fim, a vítima que reproduz os maus-tratos que sofreu em indivíduos mais frágeis que ela, para
transformá-los em bode expiatório buscando dessa forma, transferir as agressões sofridas.
Neste caso, ela pode ser denominada como “vítima agressora”.
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
O fenômeno bullying pode ser distinguido por três formas (Medeiros, 2006, p.
26): o bullying físico, no qual há agressão física do agressor para com a vítima; o bullying
verbal, no qual o agressor apelida ou qualifica sua vítima de modo injurioso; e por fim, o
bullying afetivo, no qual o agressor é excluído de seu grupo de colegas.
As conseqüências do bullying escolar afetam todos os envolvidos, mas
sobretudo a vítima é a que apresenta maiores prejuízos (Fante, 2005). Dentre os aspectos
percebidos nas vítimas estão a baixa auto-estima, sentimentos negativos e pensamentos de
vingança, dificuldades de aprendizagem, queda no rendimento escolar, estresse, depressão,
afetando dessa forma seu desenvolvimento emocional e social, podendo gerar até
comportamentos agressivos. A não superação do trauma causado pelas humilhações sofridas
pode repercutir em efeitos que o indivíduo levará para a sua vida, tornando-se um adulto
introspectivo, inseguro e com dificuldades de se relacionar socialmente. Os espectadores, por
viverem em um ambiente de conflito, tensão, no qual as relações entre os companheiros estão
deterioradas, se vê desmotivado e não sente vontade de freqüentar a escola, e
concomitantemente a isso, tem que lidar com sentimentos de insegurança e medo constante de
se tornar o próximo alvo do agressor.
Aqueles que praticam o bullying poderão levar para a vida adulta o mesmo
comportamento agressivo, adotando atitudes agressivas em suas relações familiares (violência
familiar) e/ou relações de trabalho (assédio moral). Estudos como o realizado por Olewus
(Apud Fante 2005), aponta uma relação existente entre o bullying e a criminalidade, pois
verificou-se, através de um acompanhamento realizado com jovens com idades entre 12 e 16
anos, identificados como agressores no fenômeno bullying que, “ a 60% deles havia sido
imputada uma condenação legal antes que completassem 24 anos de idade” (Fante, 2005.p.
81). Porém, isso não pode ser considerado como determinante ou que todos os agressores
apresentarão essa conduta, pois as conseqüências poderão variar de acordo com o contexto
social que todos os envolvidos estão inseridos.
Embora a disseminação da terminologia bullying seja relativamente recente,
ela foi abordada por estudiosos ingleses em 1994 (Smith & Sharp, 1994) e estudada,
pioneiramente na Europa, por um autor norueguês chamado Dan Olweus, em seu livro
"Agression in the schools: bullies and whipping boys” (Olwues, 1978, Apud Smith &
Sharp,1994, p. 2-3). O fenômeno bullying, como nos aponta Fante (2005), Smith &
Sharp(1994) e outros autores como Corti (2002), Pinheiro (2006) e Medeiros (2006), porém, é
bastante antigo. No Brasil o bullying vem sendo minimizado e prevenido através de
programas desenvolvidos por instituições com parcerias público-privadas, além de projetos e
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
estratégias curriculares nas próprias unidades escolares. Assim, trata-se de uma forma de
violência que sempre existiu nas escolas, mas que vem efetivamente sendo pesquisado nas
últimas décadas, despertando a atenção da sociedade para suas conseqüências.
A mídia tem sido um forte meio de divulgação desse fenômeno. Na internet
existem muitos sites relacionados ao assunto, além de reportagens em revistas especializadas
e até mesmo em jornais televisivos têm-se falado sobre casos de bullying nas escolas. Apesar
de a mídia ter popularizado esse assunto principalmente após a tragédia em Columbine (vide
anexo), ela ainda trata com superficialidade e ambigüidade esse fenômeno, uma vez que o
identifica como um fenômeno específico; ou melhor, o apresenta como um fenômeno de
relações interpessoais, não contextualizando-o com seus determinantes sociais, culturais e
ideológicos.
No Brasil ainda não existe um número significativo de estudos acadêmicos
relacionados a esse assunto específico, o bullying escolar. Esse fato nos traz possibilidades,
mas também limitações desse espaço de discussão, pois as fontes encontradas, apesar de
importantes, tendem a abordar o problema pelo viés das relações inter-pessoais, ou ainda,
negando ou considerando insuficientemente a sua articulação com problemas intrinsecamente
relacionados à lógica econômica e competitiva ensejada pelo sistema capitalista, tal como
ocorre na abordagem de Fante (2005).
Devemos nos atentar nesse sentido para que se interprete esse fenômeno
criticamente, de modo a melhor compreender as relações dialéticas entre problemas inter-
pessoais e macro-sociais, e aí que surge a necessidade de se investigar melhor o fenômeno da
violência inter-pessoal, e superar a tendência da explicação pela via de relações causais,
notadamente da explicação do problema com ênfase nas relações inter-pessoais. A partir da
visão do materialismo histórico dialético é possível entender e explicar o bullying como sendo
um fenômeno que apresenta influências recíprocas entre o indivíduo e a sociedade, e não
como uma relação de causa e efeito (Vigotsky, 1992).
Dessa forma, a escola torna-se o lugar privilegiado para articular a análise
micro e a análise macro do fenômeno, para que se possa superar as lacunas de ambas, pois a
escola se relaciona concomitantemente com essas duas esferas de compreensão da sociedade.
Portanto, o fenômeno bullying deve ser considerado um problema, uma
modalidade de violência escolar, cuja presença no cotidiano da escola, não pode ser
negligenciada ou banalizada. Porém deve-se admitir que há uma grande dificuldade de captar
a totalidade concreta e as relações dialéticas entre os aspectos inter-pessoais e macro sociais
para abordar o fenômeno enquanto realidade psicossocial, visto que os estudos específicos
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
sobre bullying escolar ainda são muito recentes e em número reduzido. Esta dificuldade de
compreender o fenômeno em sua totalidade deve ser levada em conta também pelo fato de,
especificamente este trabalho, se tratar de uma análise feita através das representações sociais
do professores. As representações sociais são definidas por Jodelet (Apud Spink, 1995. p. 86)
como: “(...)relação entre as produções mentais e as dimensões materiais e funcionais da vida
dos grupo”, “que são resultado do contínuo diálogo entre os indivíduos, que acontece tanto
interna quanto externamente no qualas representações individuais repercutem ou são
complementadas” (Spink, 1995.p. 99), ciente dos limites e possibilidades do nosso recorte do
objeto de pesquisa, analisaremos o fenômeno bullying através da percepção que os
professores têm acerca dele.
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
CAPÌTULO 2
METODOLOGIA
Contextualização
A pesquisa teve como objetivo principal verificar, através da visão dos
professores, se o fenômeno bullying interfere negativamente no processo de ensino-
aprendizagem de alunos das 5ª e 6ª séries. A pesquisa foi realizada em uma escola estadual
localizada na periferia da cidade de São Carlos que oferece os cursos do Ensino Fundamental
Ciclo I e II (1ª a 4ª séries) e também 5ª e 6ª séries no período da manhã e da tarde.
A região onde se localiza a escola é considerada uma região marginalizada da
cidade, tanto no sentido literal da palavra quanto pelo fato de ser um bairro violento, com alto
índice de tráfico de drogas. As casas são bastante simples, a maioria é inacabada, o bairro não
possui áreas de lazer, mas há algumas praças onde esporadicamente são instalados pequenos
parques de diversão itinerantes. O comércio também é pequeno, alguns bares e mercearias
apenas para suprir as necessidades básicas da população, pois os supermercados ficam longe
dessa região. Entretanto, apesar de ser um bairro periférico está rodeado por um condomínio
residencial de alto padrão e também um campus de uma universidade pública.
Essa escola é a única do bairro e de suas proximidades que atende a clientela
de sete a doze anos e, de acordo com o depoimento da Direção, a partir do ano de 2007 serão
implementadas as demais séries do Ensino Fundamental.
Os alunos que freqüentam essa escola são unanimemente provindos de uma
classe social menos favorecida e são em sua maioria moradores do bairro ou de suas
proximidades. Os pais e responsáveis da maioria dos alunos trabalham como operários,
pedreiros, empregadas domésticas e as faixas salariais variam de dois a quatro salários
mínimos e também há uma parcela desempregada.
A escola não apresenta um clima favorável às relações de ensino e
aprendizagem. Existem alguns fatores que contribuem para um ambiente de trabalho
improdutivo, tanto para os professores quanto para os alunos, desde condições físicas, como
baixa iluminação, pouca ventilação, até condições geradas pelas relações que são
estabelecidas no seu cotidiano, como por exemplo, relações de autoritarismo, punição. Nessa
escola há uma preocupação muito grande em se manter uma ordem. Um exemplo disso é que
as crianças não podem correr em momento algum, nem durante o recreio, e quando isso
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
acontece, sempre aparece uma figura de repressão para tolher esse tipo de brincadeira. Entre
os professores não há uma relação de cooperação e troca de saberes. As funções de Direção e
Coordenação são bastante compartimentalizadas, como em uma fábrica em que o operário não
tem noção do todo, do produto final. Há uma ênfase apenas no aspecto burocrático-
administrativo, em detrimento dos aspectos pedagógicos de ensino-aprendizagem dos alunos.
Participantes
Participaram dessa pesquisa dez professores de um total de treze professores
que lecionam nas 5ª e 6ª séries dessa escola.
Dos professores participantes, quatro possuem o curso superior completo, dois
possuem além do curso superior o curso de magistério, dois concluíram mestrado e dois o
doutorado.
Todos os professores participantes trabalhavam em outras escolas além da que
foi realizada a pesquisa.
O critério para participação da pesquisa era que o professor já tivesse
lecionado em 5ª e/ou 6ª séries, pois partíamos da hipótese que o fenômeno bullying se tornaria
mais notável nessa faixa etária, ou seja, o início da adolescência ou puberdade, visto que as
mudanças no corpo que ocorrem nessa fase da vida podem se tornar alvo de provocações
entre os alunos. Porém, tal condição não é um fator determinante, pois há registros na
literatura em que se descrevem casos de bullying também na infância. (Fante, 2005)
A delimitação desse objeto de pesquisa (representação social dos professores)
se deu por conta do próprio caráter do tema tratado na pesquisa, pois, o fenômeno bullying
envolve uma complexa trama subjetiva, cultural e sócio-institucional, ou ainda, atos de
violência velada e uma lei do silêncio em relação aos mesmos. Sendo assim, os sujeitos
envolvidos dificilmente revelariam informações sobre o que realmente se passa nas relações
entre vítimas e agressores, ou seja, uma vítima de bullying não se exporia ao ponto de revelar
a que agressão já fora submetido; e o agressor, por outro lado, não assumiria que de fato o é.
Sendo assim, optamos por analisar a visão dos professores, pois garantiria maior rigor nas
informações adquiridas. Acrescente-se a tal fator, o foco da pesquisa, ou seja, a busca da
compreensão da influência do fenômeno bullying na relação de ensino-aprendizagem, relação
esta na qual integra-se o professor e cujas características e processos são por ele
cotidianamente observadas, avaliadas, analisadas etc.
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
Instrumentos utilizados e justificativa
Para a realização da coleta de dados foram utilizados dois instrumentos:
questionários estruturados (em apêndice) com questões abertas e fechadas e entrevistas semi-
estruturadas.
O questionário foi escolhido para a obtenção de dados objetivos sobre a
relação “bullying x aprendizagem” e, nesse sentido, quantificar alguns aspectos envolvidos
acerca dessa questão, produzindo uma caracterização preliminar do fenômeno bullying.
A entrevista foi utilizada neste trabalho como um instrumento que
proporcionou a obtenção de dados qualitativos sobre a relação “bullying x aprendizagem”,
visando também a complementação dos dados quantitativos adquiridos através dos
questionários, preenchendo algumas lacunas que, eventualmente, o questionário não consegue
preencher, pelo fato de ser um instrumento mais objetivo e impessoal.
Nesta pesquisa procuramos superar a dicotomia entre o quantitativo e
qualitativo referida por Minayo (2000) quando problematiza a metodologia da pesquisa nas
distintas práticas sociais, a autora discute a polêmica estabelecida no meio científico entre as
abordagens metodológicas quantitativas e qualitativas. Nesse sentido, a autora afirma que “a
pesquisa social não pode ser definida de forma estática ou estanque” (MINAYO, 2000, p.27)
e, sobretudo que:
“qualquer pesquisa social que pretenda um aprofundamento
maior da realidade não pode ficar restrita ao referencial apenas quantitativo”
(MINAYO, 2000, p.28).
Minayo (2000) justifica seu argumento sobre a questão acima referida a partir
do caráter específico do objeto de conhecimento da pesquisa social: o ser humano e a
sociedade. Tal objeto se recusa categoricamente a se revelar apenas nos números. Neste
contexto, foi igualmente adotado, neste trabalho, o que Gamboa (2000) define como tendência
dialética de pesquisa, tendência esta que admite a inter-relação quantidade/qualidade, ou
ainda, a integração crítica de instrumentos quantitativos de abordagens mais descritivas nas
pesquisas interpretativas e crítico-dialéticas.
Procedimento e dinâmica da coleta de dados
O primeiro contato foi realizado verbalmente com a diretora da escola para
saber da disponibilidade de realização da pesquisa. Foi entregue pessoalmente uma carta de
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
solicitação de autorização (em apêndice) paraingressar na escola e realizar a pesquisa. A carta
continha informações a respeito do estudo, do objetivo, dos procedimentos a serem
empregados e sobre os aspectos éticos, esclarecendo sobre a preservação do anonimato da
instituição e dos sujeitos, além da participação voluntária dos mesmos.
Mediante a autorização da direção a pesquisadora contabilizou o número de
professores que trabalham nas 5ª e 6ª séries e consultou o quadro de horários para saber os
dias da semana que eles estavam na escola, pois a Direção informou que especificamente os
professores em sua maioria não eram efetivos na escola e também trabalhavam em outras
escolas. Portanto, não havia nenhum horário em comum em que a pesquisadora pudesse
reuní-los e solicitar a participação na pesquisa, uma vez que eles não participavam do horário
de trabalho pedagógico coletivo (HTPC). Sendo assim, o único horário que pudemos
encontrá-los foi o do momento de intervalo das aulas.
Sendo assim, a pesquisadora conversou individualmente com cada professor
durante o intervalo das aulas na sala dos professores, apresentando a pesquisa e o termo de
consentimento informado (em apêndice), no qual se esclareciam os aspectos éticos da
pesquisa, tais como a participação voluntária, a garantia de sigilo da identidade dos
participantes e das informações fornecidas por eles, bem como a liberdade de interrupção da
participação a qualquer momento. Nesse sentido, cabe ressaltar a dificuldade encontrada em
adquirir a adesão dos professores, pois o momento que foi concedido para a conversa com
eles era um momento em que eles estavam em sua pausa do trabalho e muitos se recusaram a
conversar por esse fato.
A primeira fase da coleta de dados, que foi a aplicação dos questionários,
ocorreu após algumas visitas feita a escola. Foi preciso mais de um dia para que fosse possível
entrar em contato com todos os professores, pois alguns não estavam todos os dias na escola.
Os principais objetivos do questionário foram: avaliar se a agressão entre os
alunos era um fato presente no cotidiano da escola em questão, verificando se os professores
já haviam constatado agressões entre os alunos; identificar quais eram as formas de agressão
que ocorriam entre os alunos; avaliar quais os principais fatores de influência das agressões
entre os alunos; identificar como os professores vêem os protagonistas do fenômeno bullying,
assim como as reações dos alunos agredidos; identificar os desdobramentos no processo de
ensino-aprendizagem dos alunos vitimizados; verificar qual a repercussão, perante os alunos
de modo geral, das atitudes e imagens protagonizadas pelo “valentão” (agente do bullying).
Vale ressaltar que após a formulação das questões, antes do início da pesquisa,
o questionário passou por uma fase de teste com uma professora que trabalha na rede estadual
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
e uma que trabalha na rede municipal de outra cidade do interior do estado de São Paulo, para
que elas ressaltassem possíveis dúvidas quanto à clareza das perguntas, sendo que algumas
sugestões contribuíram para o aperfeiçoamento do questionário.
Após o primeiro contato e mediante a assinatura do termo de consentimento, a
pesquisadora combinou com cada professor um dia em que ela poderia levar o questionário
para que eles respondessem. Porém alguns professores preferiram responder de imediato,
justificando que não teriam tempo em outros dias porque era a época de fechamento de notas
no final do bimestre, e ainda outros, pediram para que pudessem levar o questionário para
casa e trazer em outro momento, mas, por cuidados metodológicos, a pesquisadora pediu que
fossem respondidos no mesmo dia, para que não corresse o risco de eles esquecerem de
responder ou até mesmo de não trazerem de volta. Nos outros dias em que a pesquisadora foi
à escola para levar os questionários, alguns professores preferiram responder no horário do
intervalo na sala dos professores, e outros preferiram responder na sala de aula depois de
passarem alguma tarefa para os alunos. Antes do início do preenchimento do questionário a
pesquisadora esclareceu aos participantes que qualquer dúvida que surgisse poderia ser
manifestado o pedido de esclarecimento. Porém, nenhum professor se manifestou.
Contudo, essa não foi a condição ideal para que esse trabalho fosse realizado,
pois o local em que os professores responderam o questionário não estava apropriado. Havia
muitos fatores que atrapalhavam a concentração do professor como, por exemplo, a
movimentação e o barulho da sala dos professores no horário do intervalo, o fato de ser um
momento de descanso e descontração para eles. Os que responderam durante à sua própria
aula não tiveram condições favoráveis de dar uma elaboração mais pormenorizada de suas
respostas, o que acabou refletindo no resultado encontrado na análise dos questionários:
algumas respostas obtidas não apresentaram o aprofundamento necessário sobre o tema
tratado.
A segunda fase da coleta de dados foi a realização de entrevistas semi-
estruturadas que ocorreram após a manifestação de interesse de alguns professores em
participar e também da disponibilidade dos mesmos. A identificação desses professores foi
feita através do próprio questionário, que continha um item de preenchimento em que o
participante demonstrava seu interesse e forma de contato para o agendamento da entrevista.
A entrevista foi feita com cinco professores que participaram da primeira fase
da coleta de dados e duraram em média trinta minutos cada. Elas não foram realizadas todas
no mesmo dia, mas todas, com exceção de uma, que aconteceu em uma sala de aula vazia,
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
foram realizadas na sala dos professores. Duas entrevistas aconteceram durante o horário do
intervalo, e as outras três no horário vago dos professores.
As entrevistas tiveram um tempo restrito porque o horário dos professores era
sempre limitado, o que de certa forma dificultou o aprofundamento nas respostas obtidas. Os
locais de realização das entrevistas também não eram muito apropriados, pois havia grande
circulação de pessoas, gerando inibição dos professores e interrupções em determinados
momentos por conta do professor ser solicitado por terceiros.
As entrevistas tiveram como tema geral a relação entre o fenômeno bullying e
a aprendizagem para, a partir disso, descobrir outros aspectos envolvidos nessa temática, tais
como a influência da família, da sociedade e da dinâmica da escola no comportamento do
aluno; as características dos alunos agredidos e dos alunos agressores; os tipos de agressão
presentes na relação entre os alunos. Nas entrevistas a pesquisadora procurou entender e
aprofundar o que os professores escreveram como respostas nas perguntas abertas do
questionário, assim como entender qual havia sido a intenção deles ao responder às questões
fechadas, buscando, dessa forma, traçar o posicionamento dos mesmos frente à violência entre
os alunos e suas possíveis repercussões. Porém, não houve um aprofundamento relevante no
que diz respeito à influência negativa das agressões entre os alunos na aprendizagem dos
mesmos, talvez pela forma como a entrevista foi conduzida, devido a inexperiência da
pesquisadora com esse tipo de coleta de dados, a saber: seguiu-se a ordem das perguntas do
questionário, não permitindo que o entrevistado fosse diretamente e/ou priorizasse, em sua
fala, o referido aspecto (bullying e ensino-aprendizagem).
Todo o processo de coleta de dados durou aproximadamente trinta dias entre
conversa com a Direção, com os professores e a coleta de dados de fato, e posteriormente, as
entrevistas foram transcritas(em apêndice) para a possibilidade de análise dos dados obtidos.
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
Formas como acontecem as intimidações/provocações
0%
10%
70%70%
80%80%
100%
90% 90%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Xingamentos Agressões
Brincadeiras de mau gosto Apelidos pejorativos
Ameaças Ridicularização/Humilhação por características físicas
Ridicularização/Humilhação por raça ou cor Outros
Ricularização/Humilhação por religião 0%
CAPÍTULO 3
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
Diante da leitura dos dados obtidos através dos questionários e das entrevistas
puderam-se constatar muitas informações relevantes para a discussão do fenômeno bullying e
sua relação com o processo de ensino-aprendizagem, entre outros aspectos que permeiam essa
temática.
Após tabular os dados dos questionários, foram constatados que 100% dos
participantes da pesquisa já presenciaram algum tipo de agressão entre os alunos, tal dado
evidencia que a presença da violência e, conseqüentemente, do fenômeno bullying é uma
realidade na escola e, portanto confirma a pertinência deste estudo.
Ao investigar os tipos de agressões que os professores já presenciaram no
cotidiano escolar foi possível sistematizar os dados no gráfico abaixo:
Gráfico 1.
Diante desse gráfico notamos que na visão dos professores a principal forma de
agressão entre os alunos é feita através de xingamentos, que totalizaram 100%. Em seguida,
há agressões e brincadeiras de mau gosto, com 90%. Em terceiro os apelidos pejorativos e as
ameaças com 80%, seguido de 70% de ridicularizações/humilhações por características físicas
e por raça ou cor, e não houve ocorrência de ridicularização ou humilhação por religião. Todas
essas formas de agressões apresentadas pelos professores podem ser caracterizadas como
bullying em suas manifestações verbais e físicas. Cabe ressaltar que, em outra pesquisa,
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
F a t o r e s p r im o r d ia is d e in f lu ê n c ia d a s p r o v o c a ç õ e s e in t im id a ç õ e s e n t r e o s
a lu n o s
4 0 %
5 0 %
0 %
1 0 %
0
1 0
2 0
3 0
4 0
5 0
6 0
7 0
8 0
9 0
1 0 0
s o c ie d a d e d in â m ic a d a
e s c o la
d in â m ic a d a
f a m ília
p e r s o n a lid a d e
d o a lu n o
realizada por Candau (1999, Apud Sposito, 2001) também com professores, mas com o foco
no tema violência escolar, as manifestações verbais e físicas de violência também foram
apontadas como as mais freqüentes entre os entrevistados.
Outro dado relevante é a questão dos fatores de influência das provocações e
intimidações entre os alunos. No questionário, foi solicitado aos participantes que ordenassem
os fatores que influenciam as provocações e intimidações entre os alunos, dentre os quais
estavam: sociedade, dinâmica da escola, dinâmica da família e personalidade do aluno. Diante
desses aspectos, os participantes deveriam numerá-los, sendo que o número um devia ser
atribuído ao aspecto cuja influência fosse primordial na opinião deles.
Para tabular essa questão, foram colocados em foco somente os aspectos
considerados primordiais, ou seja, aqueles que estavam assinalados com o número um.
Verificou-se o seguinte resultado: metade dos participantes acreditavam que o principal fator
de influência era a família, enquanto 40% acreditavam que o principal fator de influência era a
própria personalidade do aluno e apenas 10% presumiram ser a sociedade a principal
influência. Por fim, nenhum dos participantes acreditava que a dinâmica da escola pudesse
gerar influência nas provocações e intimidações entre os alunos. Como pode ser visualizado
no gráfico a seguir:
Gráfico 2.
Diante desse gráfico é importante nos atentarmos para um dado significativo:
nenhum professor considera como primordial a influência da dinâmica da escola nas agressões
e intimidações entre os alunos. Entretanto, a dinâmica da escola pode ser relacionada à
agressividade intra-escolar, visto que a instituição escolar possui uma estrutura em que exerce
o controle de seus alunos por meio de sua própria organização.
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
O sistema escolar está estruturado de tal forma que através de seus programas,
currículos e normas pedagógicas têm o poder de produzir sujeitos submissos e dóceis na
medida em que determinam o tempo, o espaço, o movimento, o gesto e as atitudes de seus
alunos e ainda controlam tais aspectos por meio da vigilância e da punição.
A escola classifica seus alunos (alunos bons e os ruins), hierarquiza as relações
entre corpo docente e discente, define o que é normal e o que é anormal, estigmatizando seus
alunos; Tragtenberg (1985, p.41) acrescenta: “A escola, ao dividir os alunos e o saber em
séries, graus, salienta as diferenças, recompensando os que se sujeitam aos movimentos
regulares impostos pelo sistema escolar”. Portanto é nesse ponto que a dinâmica da escola vai
interferir no comportamento de seus alunos, pois aqueles que não se adeqüam a esse modelo
de escola serão de alguma forma punidos. Porém, é através de suas atitudes que esses alunos
tentam sinalizar à comunidade escolar que há algo de errado nessa estrutura e nessas relações
que são estabelecidas dentro da escola e que isso precisa ser de alguma forma transformado.
Os dados do Gráfico 2 foram confrontados com a análise das entrevistas e foi
possível observar que na fala dos professores a questão da influência da sociedade se faz
presente, ainda que tenha sido mais enfatizada a influência da dinâmica da família.
A família, segundo os professores, é a base da educação das crianças. Segundo
os mesmos, é na família que acontecem as primeiras aprendizagens da criança. Portanto, ela
terá como base o que aprende com a família e, através dela, formará sua personalidade. Frente
a isso os professores consideraram a família como fator primordial de influência das agressões
e intimidações entre os alunos, defendendo o princípio de que as famílias na sociedade atual
estão "desestruturadas" e não dão mais conta de educar seus filhos, como é elucidado na fala
de um professor: "várias pessoas além de pai, mãe e filhos, moram outras pessoas da família,
há um desarranjo nesse sentido, então os pais deixam de cobrar o comportamento das
crianças, de cobrar atividades, deixa de cobrar o empenho”.
No entanto, o que se verificou foi uma relação dos problemas familiares com a
visão estereotipada de “família desestruturada”; mas não podemos nos esquecer de que
vivemos em uma sociedade na qual a família não possui mais a mesma estrutura nuclear de
pai, mãe e filhos. Notou-se no discurso dos professores que eles culpabilizam a família pela
reprodução de agressões e intimidações entre os alunos. Existe de fato uma correlação entre os
problemas de violência familiar e o comportamento agressivo das crianças inclusive da prática
do bullying escolar, e há estudos que comprovam essa influência (Pinheiro, 2006). No entanto,
esses problemas familiares também estão relacionados com os problemas sociais mais amplos,
ou seja, a violência social a qual essas famílias estão submetidas, em suas múltiplas
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
dimensões, como o desemprego, a exclusão social, a desigualdade econômica a baixa
escolaridade. A culpabilização e o estereótipo de família desestruturada, porém dificultam tal
compreensão mais ampla.
Neste contexto, os atos individuais dos alunos não podem ser minimizados a
meros problemas interpessoais ou de personalidade. Existe uma relação dialéticaentre o
sujeito e a sociedade na qual sua identidade vai se construindo ao longo da história. A
identidade dos agentes do bullying é construída socialmente, nos processos de socialização,
mediados principalmente pela mídia e pela cultura do espetáculo (Türcke, 2004, Zuin, 2006).
Os professores, em suas falas, colocaram a questão da sociedade atrelada ao
bairro onde os alunos moram e por isso eles conviviam com situações de violência dentro e
fora de casa pelo fato de parentes e/ou vizinhos estarem envolvidos com o tráfico de drogas ou
com roubos e, portanto tinham o exemplo de violência e atitudes violentas muito próximas
deles, gerando de certa forma a reprodução da violência dentro da escola das formas como
puderam ser visualizadas no Gráfico 1. Porém, Fante (2005), através de seus estudos, aponta
que o bullying não é um fenômeno próprio de grandes cidades, escolas públicas e zonas
periféricas onde a violência, o tráfico e o consumo de drogas se integram à vida dos
habitantes, pois os índices de sua incidência não são menores nas escolas particulares e nem
em cidades pequenas.
Sendo assim, essa relação do bullying com a sociedade foi apresentada de
maneira superficial pelos professores, não passando de mera justificativa do problema. Não foi
feita uma análise mais profunda da sociedade como fator de influência, ou seja, quais são de
fato os aspectos da sociedade que influenciam os alunos. O que pôde ser destacado da fala dos
professores nesse sentido é a relação que alguns deles fizeram da sociedade atrelada à mídia e
pôde ser ilustrada nas seguintes falas: “a sociedade é retratada na TV” e “a sociedade atual se
forma na mídia”. Nesse contexto, esses professores defenderam o argumento de que a mídia é
um fator muito presente na vida de seus alunos e que exercem constante influência sobre eles.
Um dos professores até citou o exemplo de que algumas alunas se vestiam como as
personagens de uma determinada novela que era transmitida pela televisão naquela época e
que fez muito sucesso com o público infanto-juvenil brasileiro, apontando dessa forma o grau
de influência da mídia sobre a vida dos alunos.
Outro aspecto destacado por um dos professores no qual a mídia influencia é a
questão da banalização da violência. Para esse professor a TV divulga e promove a violência
mostrando a “realidade nua e crua” e, através de seus meios, “exige da vida da criança que
ela seja adulta que tenha atitudes adultas e isso inclui a violência”.
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
O que vivemos na atual sociedade é a busca constante por ser percebido, há
uma super valorização daquele que consegue impressionar: hoje em dia “ser significa ser
percebido” (Türcke, 2004. p.65, Zuin, 2006). Aquele que não é percebido não é considerado
bom, somente o que impressiona se torna válido.
Como afirma Türcke (2004), a mídia se fixa cada vez mais, sem qualquer tipo
de escrúpulo diante da morte, da miséria, do horror, da violência, sensacionalizando tudo e
todos, mas ao mesmo tempo proporciona ao telespectador uma “pseudosegurança” de que ele
está protegido pela tela da TV de tudo que acontece na sociedade, o que acarreta na
banalização dos acontecimentos, inclusive da violência, como se tudo o que acontecesse
estivesse num mundo à parte.
Nesse contexto, é desenvolvido nas pessoas um constante desejo de ser
exaltado e ser percebido pelos demais e, para que isso aconteça, a mídia passa a idéia de que
tudo é possível, não havendo nenhum tipo de limite que impeça a satisfação do desejo. Diante
disso, ser percebido se torna uma necessidade de existência e essa luta pela sobrevivência se
transforma em um problema estético, de acordo com argumentos de Türcke (2004) em seu
texto: “Sociedade da sensação: a estetização da luta pela existência”, no qual considera que
tudo é movido pelas aparências e pela busca das sensações obsessivamente.
Essa constante busca de valorização pelos demais foi constatada nas entrevistas
quando se tratou sobre os agentes praticantes do bullying. Entre os alunos há uma constante
busca de identificação dentro de um grupo. Para eles é muito importante fazer parte de um
grupo e ser reconhecido dentro dele, pois isso contribui para a própria formação da identidade
do indivíduo; mas fazer parte de um grupo também pode ser interpretado como uma busca de
valorização dessa identidade. Assim agem os alunos “valentões”, como caracterizado nos
questionários, no qual foi constatado que 80% dos professores percebem que esses alunos são
temidos pelos demais e ainda, 70% dos professores acreditam que a figura do aluno
“valentão” é valorizada pelos outros alunos, um dos professores comenta: “ele quer atenção e
eles vão ser valorizados pelos demais que presenciam a situação, ele vai querer ser cada vez
mais notado através de suas atitudes” (se referindo ao aluno agente do bullying).
Esse é um dado preocupante porque mostra implicitamente a atuação da mídia
diante dessa valorização, pois diariamente é veiculada pelos meios de comunicação a
violência pela qual a sociedade está submetida e a imagem dos agentes da violência é exposta
sob o pretexto de se criticar a violência, mas o que acontece de fato é a transformação dessas
tragédias em um grande espetáculo a ser consumido pela sociedade e, a violência escolar, de
acordo com Sposito (2001, p. 91) vem sendo apresentada esporadicamente pela imprensa e
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
pela mídia nos últimos anos privilegiando homicídios que ocorreram nas cercanias ou no
interior dos prédios escolares. Um exemplo disso foi o fato de um aluno (vide anexo) que
neste ano de 2007 matou trinta e duas pessoas incluindo alunos e professores da universidade
onde estudava nos EUA e depois se suicidou deixando, como definiu a mídia, um “manifesto
multimídia” composto de fotografias do estudante posando com armas na mão, textos e uma
fita de vídeo gravada por ele na qual dizia que os assassinos da tragédia acontecida em
Columbine (vide anexo), há alguns anos atrás, eram mártires, na opinião dele. Essa fita foi
veiculada pela mídia de todo o mundo e exibida como um grande espetáculo, de maneira
sensacionalista e que, em momento posterior, é facilmente esquecido pela sociedade, não
causando nenhum tipo de reflexão sobre o assunto. Existe apenas a preocupação em
impressionar a população com o fato, e ela, por outro lado assiste como mero telespectador.
Nessa “sociedade das sensações” (Türcke, 2004) a qual estamos submetidos, a
banalização é um fator que se faz presente e, claramente pôde ser observado na visão de
alguns professores entrevistados acerca do fenômeno bullying. Ao questionar os professores
sobre o fato de os alunos se agredirem verbalmente ou às vezes até fisicamente, atribuindo uns
aos outros apelidos pejorativos, fazendo brincadeiras de mau gosto alguns professores
descrevem isso como “brincadeiras de criança” ou ainda dizem “é normal, é a idade”,
“crianças são crianças”. Entretanto, essa opinião dos professores está atrelada, segundo Fante
(2005, p. 67) “ao fato deles não estarem preparados para distinguir entre condutas violentas
e brincadeiras próprias da idade, bem como lhes falta preparo para identificar, diagnosticar
e desenvolver estratégias pedagógicas para enfrentar os problemas bullying”. Também deve
ser considerado que o fenômeno bullying ainda é pouco estudado no meio acadêmico
brasileiro. Portanto, na realidade escolar do Brasil, esse assunto se torna ainda mais distante
do conhecimento dos professores. Este fato se constata no momento em que ouvimos dos
professores a descrição do fenômeno como “brincadeiras estúpidas” ou ainda, “brincadeiras
depreciativas”.Embora os adjetivos sejam pertinentes ao fenômeno em questão, o substantivo
não o é.
Ao relacionar esse tipo de postura do professor frente ao bullying devemos
analisar que tal postura pode interferir no processo de ensino-aprendizagem dos alunos; na
vítima, pois ela não vê no professor uma fonte segura em que pode se apoiar nos momentos
em que é agredida, afinal para o professor não passa de mera brincadeira; e por outro lado o
agressor pode ser identificado de maneira injusta e qualificado como aluno violento, sem antes
considerar os aspectos que estão envolvidos na situação ou no próprio aluno. Nesse sentido, a
conduta do professor é fundamental, pois ela pode ser uma das fontes causadoras do
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
Aspectos percebidos nas vítimas de provocação
70% 70%
60%
50%
40%
30%
20% 10%10%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Agressividade Medo
Queda da auto-estima Isolamento
Queda no desempenho escolar Inibição
Apatia Vergonha
Procuram ajuda
sofrimento desses alunos, proporcionando prejuízos no seu desenvolvimento
socioeducacional.
Mas também é necessário ressaltar que a visão dos professores na análise das
entrevistas apresentou uma significativa oscilação de posturas, não apresentando uma visão
somente simplificada durante suas falas. Nesse sentido, foi possível identificar, algumas vezes
na fala de um mesmo professor, visões estereotipadas como a referência à “família
desestruturada”, visões moralistas quando diz “o mundo está liberal demais”, visões
reducionistas quando se refere à “ele faz o que quer, a hora que quer sem limites”, e também
visões mais críticas, relacionando os problemas dos alunos com a questão da mídia. Houve
também críticas à sociedade, ao sistema educacional brasileiro, como no caso do professor que
citou a questão do “Programa de Progressão Continuada” do governo do Estado de São Paulo,
mostrando que tem opinião contrária à esse sistema e que isso influencia no processo de
ensino-aprendizagem dos alunos. Enfim, algumas posições foram tomadas acerca dos
problemas que permeiam a sociedade, ainda que não aprofundados.
Diante do olhar dos professores conseguimos elencar algumas características
presentes nas vítimas do fenômeno bullying visualizadas a seguir:
Gráfico 3
Os aspectos mais visíveis pelos professores são a agressividade e o medo,
ambos com 70%. Em seguida estão a queda da auto-estima com 60%, depois com 50%
aparece o isolamento e, com 40%, estão a queda no desempenho escolar e a distorção da auto-
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
imagem. Ansiedade e inibição vêem logo após, com 30%, e a apatia aparece com 20%. Por
fim, com 10% estão a vergonha e a procura de ajuda para resolver o problema.
Tendo em vista esses dados apresentados, concluímos que o bullying não pode
ser considerado como mera brincadeira de criança, já que características negativas como essas
citadas acima são visivelmente percebidas nos alunos e, de alguma forma, estão interferindo
na vida deles, assim como também interfere na dinâmica da escola.
Na fala dos professores pudemos verificar que o bullying interfere no processo
de ensino-aprendizagem, considerando este como as relações existentes entre professores e
alunos, alunos e alunos, professores e professores, nas quais se firmam aprendizagens e
ensinamentos dentro do contexto escolar. De modo geral os professores acreditam que o
fenômeno bullying pode influenciar negativamente a aprendizagem dos alunos e isso foi
comprovado, pois nenhum dos professores que preencheram o questionário assinalou a
alternativa “não” quando lhes foi colocada essa questão, enquanto 60% assinalaram “sim” e
40% assinalaram “em termos”.
Ao analisar as entrevistas foi possível conhecer a opinião dos professores frente
à influência negativa que o bullying pode ter na aprendizagem de seus alunos, mas também a
interferência que ele gera na dinâmica da escola. Apesar desse fenômeno acontecer
principalmente longe dos olhos dos adultos, como confirma Olweus (Apud Fante, 2005,p.
149) dizendo que: “o mais habitual é que as agressões e ou condutas indesejáveis se
produzam quando os adultos não estão presentes ou quando não observam o que as crianças
ou adolescentes estão fazendo”, e isso foi percebido na fala de um professor: “eu percebi
alguma coisa assim, um bilhetezinho, uma palavrinha baixa” (se referindo a alunos que
estavam envolvidos com uma situação de bullying e que tentavam ocultar o acontecimento).
Entretanto as conseqüências desse fenômeno podem ser observadas por aqueles que têm como
função analisar e avaliar o processo de aprendizagem das crianças cotidianamente, isto é, o
professor.
Nas entrevistas, as influências negativas foram mais relacionadas à
aprendizagem dos alunos que são vítimas do bullying. Para os professores esse fenômeno faz
com que o aluno se sinta coagido, pois há uma relação de poder entre mais fortes e mais
fracos. A vítima se vê numa posição acovardada, o aluno, segundo depoimento de um
professor, “se sente encurralado”, “fica com medo”, e a “lei do silêncio” impera sobre os
alunos: as vítimas são ameaçadas pelos agressores e não revelam em hipótese alguma nada do
que acontece com ela por medo de represálias, e os espectadores também temem o agressor,
por pensarem que também podem ser futuros alvos de ataques.
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
Outro ponto destacado é o fato de que o aluno transfere sua atenção, ficando
alerta a possíveis agressões que pode ser submetido, acarretando na falta de concentração e na
dificuldade de assimilar o conteúdo por conta disso. Fante (2005) nos acrescenta ainda que:
“o medo constante e repetitivo bloqueia a agressividade e o bom funcionamento
mental, prejudicando as funções de raciocínio, abstração, interesse por si mesmo e
pelo aprendizado, além de estender-se a outras faculdades mentais ligadas à
autopercepção, concentração, auto-estima e capacidade de interiorização” (p. 24).
Aspectos como desinteresse, diminuição da freqüência às aulas, também foram
mencionados por eles como ilustrado nessa fala: “quem sofreu agressão, ele fica retraído,
então ele fica com medo, ele fala para a mãe que não quer vir para a escola, quando vem às
vezes ele é exposto a uma situação de ridicularização”. Ainda nesse sentido, foi mencionada
nas entrevistas, a questão da identificação com o grupo. A criança, quando não se identifica
com o restante do grupo, se sente desmotivada, e se desliga, se fecha, prefere não participar
das atividades em grupo e acaba se descomprometendo com as atividades em sala de aula,
pelo medo de se expor a novas agressões e chegam ao ponto, segundo Fante (2005, p. 49), de
“o aluno agredido estranhar quando pouco hostilizado, pois no fundo, acredita que não tem
valor e que é merecedor de ataques”.
Nesse sentido é preciso refletir sobre a dinâmica da sala de aula pois ela é mais
um aspecto do contexto escolar, depois dos alunos, que é influenciado pelo fenômeno bullying
e acaba sofrendo modificações diante das manifestações desse fenômeno porque de alguma
maneira o professor tenta intervir na situação de agressão dentro da sala de aula. Nesse sentido
o professor se vê diante da necessidade de desenvolver uma postura de forma a sanar ou
amenizar esse problema criando estratégias e condições para a criação de um ambiente mais
favorável a aprendizagem dos alunos. Entretanto esse fenômeno ainda é interpretado como
"inocentes brincadeirinhas" e não é tratado com rigor no cotidiano da sala de aula.
Em vista disso, se faz necessário repensar os caminhos nos quais os professorese demais agentes escolares devem se guiar para que não percorram o caminho da punição, do
autoritarismo, da imposição, contribuindo, dessa forma, para a permanência da atual estrutura
da escola, que está ainda pautada em moldes similares ao do século passado.
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
CAPÍTULO 4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A hipótese a partir da qual iniciamos o trabalho era a de que as crianças
vítimas do bullying apresentariam prejuízos em seu processo de ensino-aprendizagem. De
fato, ao analisar o ponto de vista dos professores sobre o fenômeno, verificamos que o
bullying gera nas vítimas reações tais como: agressividade, medo, queda da auto-estima e
isolamento. Portanto, foi possível constatar que, na visão dos professores, o bullying
influencia negativamente a aprendizagem dos alunos, visto que as reações por eles verificadas
são prejudiciais não somente ao aprendizado, mas também à vida e à identidade do aluno.
Entretanto, no percurso de elaboração do trabalho, com as discussões
realizadas acerca da dialética existente entre o individuo e a sociedade e da análise feita da
visão dos professores sobre o bullying, compreendemos que são diversos fatores, além do
fenômeno bullying, que influenciam negativamente a aprendizagem dos alunos dentro da
escola. Dentre eles podemos destacar: os problemas da própria estrutura escolar, que faz com
que os alunos não se sintam parte integrante desse meio; a deterioração das condições
materiais e objetivas de vida que atingem sobretudo as classes populares em nosso país; a
mediação da mídia nos processos de socialização relacionados à produção da violência.
A visão dos professores nos deu alguns subsídios para a análise da relação
dialética entre o indivíduo e a sociedade, visto que, em suas falas, eles estabeleciam
correlações entre o comportamento de seus alunos e o contexto social em que eles estão
inseridos, na medida em que citavam a família, a mídia, a violência, como fatores de
influência sobre os alunos. No entanto, alguns professores, em determinados momentos,
apresentaram visões reducionistas e superficiais a respeito acerca de tais relações, o que é
compreensível, sobretudo quando temos em vista que vivemos em uma sociedade, na qual o
sistema, por meio de sua dinâmica e ideologia, nos impede de compreender a totalidade dos
problemas que nos cercam.
Procuramos com este trabalho superar a visão reducionista do fenômeno
bullying, na qual suas causas são atreladas aos problemas interpessoais e/ou de personalidade,
sem considerar a relação que existe entre estes e a realidade macro-social que permeia a vida
do aluno. Dessa forma, concluímos que o aluno que pratica bullying, denominado como
agressor, não o faz pelos simples fato de ter uma personalidade agressiva ou por questões de
caráter pessoal. Compreendemos que sua personalidade é construída através dos processos de
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
socialização e por influências que recebeu de um forte elemento mediador de tais processos
existente na nossa sociedade atual: a mídia.
Com a realização deste trabalho foi possível elaborar uma breve caracterização
dos aspectos que classificam a violência escolar, identificando suas formas de manifestação,
tanto concretamente quanto simbolicamente. Verificamos que a violência é um problema que
a escola enfrenta, mas que ainda não consegue superá-lo. A violência escolar interfere na
qualidade de ensino, prejudicando o processo de ensino-aprendizagem, pois ela gera um clima
de tensão e medo dentro da escola e, dessa forma, professores e alunos se tornam inseguros e
desmotivados a desenvolver qualquer tipo de trabalho significativo.
Diante disso, é necessário refletir que a escola é um importante espaço de
socialização onde são construídas relações de ensino e aprendizagem entre professores e
alunos e esta é a razão de existência da escola. São eles os protagonistas do processo
educativo e, lhes proporcionar condições adequadas de trabalho, é tarefa imprescindível para
se garantir a qualidade do ensino. O foco da escola é a aprendizagem do aluno, então, adequar
a proposta pedagógica, tornando-a mais atraente e significativa ao mesmo, é uma maneira de
se construir uma escola mais democrática e menos excludente, em que se priorize a formação
da sua autonomia. Do nosso ponto de vista, a escola fechada ao diálogo em relação aos
conteúdos, às suas formas de gestão e aos problemas daí relativamente decorrentes, tal como
o da violência intra-escolares, deve sofrer mudanças que são processuais e inter-dependentes
de outras transformações institucionais, culturais e sociais.
Ao concluirmos este trabalho, nos deparamos com a necessidade de
transformação da escola como uma das soluções pelas quais podemos minimizar ou superar o
problema da violência neste âmbito. Entretanto, o problema da violência está em todos os
âmbitos da sociedade e a escola não consegue resolver este problema isoladamente, pois são
muitos, complexos e inter-relacionados, os fatores envolvidos nessa problemática e a
educação não é o único meio para transformar a sociedade.
Consideramos igualmente importante explicitar, nas presentes considerações
finais, que o fenômeno bullying é uma realidade dentro da escola. Porém, ainda é visto como
“brincadeiras de criança”. Contudo, ele não deve ser tratado dessa forma, pois esse fenômeno
gera conseqüências que interferem diretamente na aprendizagem, identidade e vida dos
alunos. Estes geralmente ficam desmotivados, perdem a concentração nos estudos e se
preocupam mais com as possíveis humilhações que podem vir a sofrer do que propriamente
com os conteúdos escolares e seus próprios interesses. A auto-estima é deteriorada, sendo que
a literatura nos aponta para casos em que o aluno perde até mesmo a vontade de viver e chega
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
a cometer suicídio, ainda que não tenhamos verificado tal ocorrência em nossa pesquisa. A
vontade de vingança contra aqueles que inferiorizaram a vítima do bullying pode conduzi-lo à
reprodução da violência, criando-se, assim, um círculo vicioso.
Portanto, consideramos necessário construir um projeto pedagógico que tenha
como objetivo principal a superação da desigualdade social e a exclusão social, respeitando os
direitos de cidadania dos alunos, além de se criar meios de conscientização dos professores
com relação ao fenômeno bullying. Compreendemos que a solução para a violência escolar
não se efetiva através da colocação de grades, instalação de câmeras de vídeo e policiamento
e que tais medidas apenas contribuem para a degradação do ambiente escolar e reprodução da
violência, uma vez que tenta combatê-la através da repressão, o que somente aumentaria a
cultura disciplinadora e autoritária dento da escola, o quê, com certeza, não seria o caminho a
se seguir.
Cientes da dificuldade das transformações na escola e na sociedade que aqui
defendemos e dos limites de nosso trabalho e do próprio recorte de nosso objeto de estudo,
esperamos, não obstante, poder ter dado nossa parcela de contribuição à compreensão da
violência entre escolares e de suas complexas relações com a dinâmica sócio-institucional.
Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRAMOVAY, Miriam; RUA, Maria das Graças. Violência nas escolas. Versão resumida.
Brasília: Pitágoras Rede/ Unesco, 2003.
AQUINO, Julio Groppa. A Indisciplina e a escola atual. Revista Faculdade de Educação,
São Paulo, v.24, n.2, p. 181-204, jul./dez. 1998.
BOURDIEU, Pierre. La reproduction.

Continue navegando