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RESUMO: 
 
TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO: Este trabalho teve por objetivo discutir duas teorias que embasam o desenvolvimento motor normal dos 
lactentes. O desenvolvimento motor normal foi, por muito tempo, interpretado dentro de uma visão neuromaturacional. No início da 
década de 80, uma nova visão surgiu, a Abordagem dos Sistemas Dinâmicos, na qual o desenvolvimento motor ocorreria pela interação 
não mais exclusiva do sistema nervoso central, mas também de fatores orgânicos, ambientais e funcionais. Pontos positivos e negativos 
são abordados em relação ao Modelo Teórico Neuromaturacional e à Abordagem dos Sistemas Dinâmicos, por isso o melhor tanto para 
a prática clínica quanto para a pesquisa será unir os aspectos positivos de ambas e não substituir a visão de uma pela outra. 
 
 
 
UNITERMOS: 
Teorias do desenvolvimento - Teoria neuromaturacional - Abordagem dos sistemas dinâmicos 
 
 
 
ABSTRACT: 
 
THEORIES OF THE DEVELOPMENT: This paper has the goal of arguing two theories basing the children normal motor development. The 
normal motor development was, for a long time, interpreted inside a neuromaturational structure. At the beginning of the decade of 80, a 
new vision arose, the Dynamic Systems Approach, in which the motor development occurs by the interaction not more exclusive of the 
central nervous system, but also envolving organic, environmental and functional factors. Positive and negative points are boarded 
regarding the Neuromaturational Model and the Dynamic Systems Approach, and the best for the clinical practice as well as for the 
research should be the union of the positive aspects of both of them, and not to replace the vision of one by the other. 
 
 
 
UNITERMS: 
Theories of the development - Neuromaturacional theory - Approach of the dynamic systems 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Artigo de Revisão 
 
LOPES, V.B. e TUDELLA, E. - Teorias do desenvolvimento. Temas sobre Desenvolvimento, v.12, n.72, p.23-8, 2004. 
 
 
 
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A história do desenvolvimento motor caracteriza a 
busca de estudiosos e profissionais em explicar como 
as transformações motoras do lactente ocorrem. Nesta 
busca, algumas teorias do desenvolvimento têm sido 
formuladas. Para este estudo apresentamos o Modelo 
Teórico Neuromaturacional e a Abordagem dos 
Sistemas Dinâmicos, por serem os modelos teóricos 
que fundamentam os instrumentos de avaliação do 
desenvolvimento motor. 
 
MODELO TEÓRICO 
NEUROMATURACIONAL 
 
Segundo Lockman e Thelen (1993), os primeiros 
estudos sobre o desenvolvimento motor surgiram a 
partir da década de 20, primeiramente com Shirley, nos 
estudos de 1931 a 1933 e, posteriormente, com 
McGraw, de 1932 a 1945 e Gesell, de 1933 a 1939. 
Estes estudiosos acreditaram que as mudanças nas 
habilidades motoras grossas, durante o primeiro ano 
de vida, resultavam unicamente da maturação neuroló-
gica do sistema nervoso central (SNC), mais especifi-
camente da crescente mielinização do SNC e da simul-
tânea inibição dos núcleos subcorticais do cérebro, 
através do aumento funcional do córtex cerebral. Esta 
visão de que o desenvolvimento motor é dependente 
da maturação do SNC foi denominada de Modelo Teó-
rico Neuromaturacional. Neste modelo, tanto o desen-
volvimento motor como as mudanças nas habilidades 
motoras são intrinsecamente dirigidas somente pelos 
fatores endógenos; assim, a influência do ambiente 
(fatores externos) seria secundária (Thelen e colabora-
dores, 1987; Heriza, 1988; Piper e Darrah, 1994). 
Piper e Darrah (1994) afirmam que o que caracteri-
za o Modelo Teórico Neuromaturacional é a evolução 
das habilidades motoras seguir o sentido céfalo-caudal 
e próximo-distal, partindo de comportamentos reflexos 
para movimentos voluntários, com a seqüência de 
aquisição das habilidades motoras ser fixa e previsível 
entre os lactentes e o ritmo de desenvolvimento motor 
ser estável. 
Baseando-se em seu estudo de observação longitu-
dinal com 25 lactentes com até os dois anos de idade, 
Shirley (1931) sugeriu que ao Modelo Teórico Neuro-
maturacional se aplicaria o conceito de que o controle 
motor é adquirido respeitando uma direção céfalo-
caudal. Segundo Vles e colaboradores (1989), esta 
direção é visível na posição de flexão dos membros 
superiores que, quando comparados com os membros 
inferiores, é maior da 34ª a 38ª semana de vida intra-
uterina. Saint-Anne Dargassies (1980) também 
descreve o princípio da aquisição céfalo-caudal do 
tono flexor e concorda que esta direção representa a 
maturação do SNC. Entretanto, Horowitz e Sharby 
(1988) investigaram a seqüência do desenvolvimento 
de cabeça, membros superiores e membros inferiores 
na postura prono. Participaram do estudo 16 lactentes, 
a termo, saudáveis, observados longitudinalmente da 
8ª a 28ª semana de idade. Os resultados demonstra-
ram que a seqüência do desenvolvimento da postura 
de extensão em prono consiste de extensão de cabe-
ça, seguida por membros inferiores e depois por mem-
bros superiores. Os autores concluíram que os lacten-
tes podem usar diferentes estratégias para o desenvol-
vimento motor, e que não podemos afirmar, então, que 
a direção céfalo-caudal seja fixa no desenvolvimento. 
Outros princípios foram incluídos no Modelo Teórico 
Neuromaturacional. O princípio da progressão próximo 
-distal foi introduzido por Irwin (1933). Em sua tese, o 
autor defende que a direção do desenvolvimento seria 
uma função geneticamente programada, de forma que 
a estabilidade e o controle das articulações proximais 
antecederiam a função do membro, como a estabilida-
de e controle das articulações distais. Entretanto, para 
Ververs e colaboradores (1998), este princípio precisa 
ser revisto. Os autores publicaram estudo longitudinal 
sobre a postura do membro superior do feto, em dez 
gestantes sem complicações, usando o ultra-som em 
tempo real. As observações foram desenvolvidas em 
intervalos de quatro semanas, da 12ª a 36ª semana e na 
38ª semana de idade gestacional. Os pesquisadores 
constataram uma clara tendência no desenvolvimento 
da postura em flexão; entretanto, observaram o início 
da flexão de cotovelo na 16ª semana, seguida pela fle-
xão de dedos na 20ª semana, finalizando com a flexão 
de punho na 28ª semana. A descoberta de que a flexão é 
encontrada primeiro no cotovelo, então nos dedos e 
depois no punho contradiz a direção próximo-distal que 
tem sido sustentada para explicar o desen-volvimento 
motor pós-natal e pode estar relacionada com as 
restrições ambientais da ausência da gravidade. 
Segundo Darrah e colaboradores (1998), a estabili-
dade do ritmo de desenvolvimento motor pode ser um 
princípio equivocado. Os autores realizaram um estudo 
com o objetivo de avaliar a estabilidade intra-individual 
do desenvolvimento motor grosseiro, obtido por lacten-
tes a termo de desenvolvimento normal, utilizando a 
Alberta Infant Motor Scale (AIMS) (Piper e Darrah, 
1994). O resultado dos 45 lactentes avaliados longitu-
dinalmente, mês a mês, a partir da 2ª semana de vida 
até a aquisição da marcha independente, registrou que 
 
 
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o percentil individual dos lactentes variou considera-
velmente. Os autores concluíram que, comumente, o 
desenvolvimento infantil não é estável no ritmo de 
aquisição das habilidades motoras grossas, podendo 
existir períodos no desenvolvimento em que nenhuma 
habilidade motora seja adquirida, e outros períodos em 
que um número de habilidades motoras sejam adquiri-
das simultaneamente. Esta visão não contínua do ritmo 
do desenvolvimento motor é sustentada pela Abordagemdos Sistemas Dinâmicos (Thelen, 1995). 
O ritmo de aquisição do desenvolvimento motor de 
um lactente individual pode ser variável, dependendo 
de fatores internos e externos. Isto ocorre como conse-
qüência de os comportamentos motores não serem 
intrinsecamente dirigidos somente pelo SNC, mas 
resultarem da interação de muitas variáveis a partir do 
organismo, do ambiente e de uma tarefa motora espe-
cífica (Newell, 1986). Este ritmo estável como também 
o princípio de a seqüência de aquisição das habilida-
des motoras evoluir de forma fixa e previsível se 
originaram a partir das observações de Arnold Gesell 
(1928, apud Piper e Darrah, 1994) sobre os marcos 
motores. Este autor desenvolveu a primeira escala de 
marcos do desenvolvimento, a Gesell Developmental 
Schedules (Gesell, 1940 apud Piper e Darrah, 1994), 
na qual muitos itens que constituem as distintas esca-
las de desenvolvimento motor foram inspiradas. 
O controle motor, segundo McGraw (1945, apud 
Rocha e Tudella, 2003), passa de condutas ditas 
“reflexas”, determinadas pela imaturidade do córtex 
cerebral, para as condutas voluntárias ou intencionais, 
estabelecidas pelo controle do SNC. Nesse sentido, o 
sistema nervoso central é responsável pela emergên-
cia e aprimoramento das habilidades motoras, proces-
sando, controlando e armazenando todas as informa-
ções. O princípio de que os movimentos progridem de 
reflexos para voluntários pode ser observado no estu-
do de Zelazo (1983). O trabalho experimental de 
Zelazo (1983) mostra claramente que a integração e a 
inibição dos reflexos (no caso estudado, o reflexo de 
marcha) podem ser conservadas pelo estímulo e, por 
isso, o desaparecimento não depende, exclusivamen-
te, da maturação cortical. 
Além disso, Thelen (1986a) relata que, se o reflexo 
de marcha (por exemplo) desaparecesse por inibição 
dos centros corticais, então os padrões de movimento 
na forma de chutes teriam de ser suprimidos, visto 
serem os componentes do mesmo movimento (marcha 
e chute); entretanto, isso não ocorre. O movimento de 
chute continua quando os lactentes estão em supino e 
quando são exercitados na postura em pé. Este para-
doxo seria mais facilmente resolvido se a relação dos 
fatores que inibem o reflexo de marcha mantendo o 
padrão de movimento dos chutes fosse dinâmico e de 
perspectivas multicausais do que a partir de uma visão 
unicamente causal. Thelen e Fisher (1982) sugeriram 
que o rápido crescimento da gordura corporal em pro-
porção à muscular durante os primeiros três meses 
resulta em ganho de peso, mas não em força nos 
membros inferiores. Esta restrição corporal (ganho de 
peso) pode dificultar que o lactente movimente seus 
membros simulando a marcha, quando na biomecânica 
da posição em pé. Ao contrário, estes movimentos dos 
membros inferiores podem ser executados quando a 
carga é diminuída pela postura supino ou quando os 
membros inferiores são fortalecidos pelo exercício. 
Thelen e colaboradores (1984) apontam que a marcha 
automática não poderia ser identificada como resposta 
reflexa, ou seja, uma ação exclusiva do córtex cerebral 
controlando a biomecânica do movimento, mas sim 
como resposta modulada pelo ambiente. 
Com relação ao aprendizado, Wyke (1975) afirma 
que, no período de recém-nascido até o terceiro mês 
de vida, o lactente é incapaz de aprendizagem. Seus 
comportamentos são basicamente reflexos e seus 
movimentos sem função. Os autores relatam que isto 
se deve à não influência do córtex (devida à pouca 
mielinização). A influência do córtex cerebral somente 
seria exercida no sistema neuromuscular após a 
maturação do SNC. No entanto, Lipsitt (1969) afirma 
que o recém-nascido apresenta o sistema sensorial 
funcionando e que o seu processo de aprendizagem é 
imediato. Esta opinião veio sendo construída a partir 
da década de 1960, quando investigações sobre as 
competências do recém-nascido, principalmente na 
área sensorial, permitiram aos estudiosos refutarem a 
idéia de conceber o neonato como um ser meramente 
reflexivo ou com respostas automáticas aos estímulos 
ambientais. Lipsitt (1969) também demonstrou que o 
recém-nascido é um ser não só capaz de aprendiza-
gem, mas também sensível aos eventos ambientais, 
principalmente àqueles relacionados às estimulações 
orais e à ingestão de alimentos. Para Lipsitt, “os 
eventos ambientais podem servir como estímulos de 
reforço para moldar ou fortalecer seletivamente as 
respostas no repertório comportamental do neonato”. 
Portanto, pode-se inferir que os movimentos iniciais 
do lactente não podem ser caracterizados na forma 
tradicional do Modelo Teórico Neuromaturacional, visto 
que movimentos são alterados por influência também 
do ambiente e do organismo. Embora o Modelo 
Teórico Neuromaturacional tenha suas limitações, ele 
 
 
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contribuiu muito para o conhecimento científico do 
desenvolvimento motor normal e não deve ser excluído 
(Gontijo, 1998). Por conseguinte, concordamos com 
Piper e Darrah (1994) que a Abordagem dos Sistemas 
Dinâmicos surgiu com o intuito de explicar o desenvol-
vimento motor complementando o modelo anterior. 
Para nós, a Abordagem dos Sistemas Dinâmicos não é 
a evolução do Modelo Teórico Neuromaturacional, mas 
sim uma outra visão teórica que, em alguns aspectos, 
vai ao encontro de alguns princípios neuromaturacio-
nais e, em outros aspectos, explica ou tenta explicar o 
que o modelo não conseguia. 
 
ABORDAGEM DOS 
SISTEMAS DINÂMICOS 
 
A Abordagem dos Sistemas Dinâmicos enfatiza que 
o desenvolvimento não poderia obedecer exclusivamente 
um comando do SNC em uma hierarquia vertical. 
Segundo Thelen (1986a) esta abordagem dinâmica 
para o controle motor e das coordenações deriva, em 
parte, do trabalho do neurofisiologista soviético Nicolai 
Bernstein (1967, apud Thelen, 1986a) que transferiu 
para o movimento humano os princípios da teoria dos 
sistemas existente na física e na biologia. Bernstein 
(1967, apud Kamm e colaboradores, 1990) acredita 
que não se pode compreender o controle neural de um 
movimento sem compreender as características do 
sistema, ou seja, o estudo do movimento deveria incluir 
todas as forças internas e externas que atuam sobre o 
corpo e não unicamente as forças geradas pelo SNC. 
Desta forma, o mesmo comando do SNC que 
controla um movimento pode resultar em vários 
movimentos diferentes, dependendo da variação do 
momento, da velocidade e do contexto do movimento. 
Segundo Bernstein (1967, apud Piper e Darrah, 1994), 
as articulações e músculos nunca trabalham isolada-
mente, mas em padrões coordenados, no qual o córtex 
cerebral controla grupos musculares e não unidades 
individuais, ou seja, ao descrever o corpo como um 
sistema mecânico, o autor introduziu o conceito de 
“graus de liberdade”. 
Por definição, entende-se por graus de liberdade 
qualquer elemento de um sistema que possa ser 
alterado ou manipulado, não se limitando ao plano ou 
eixo de movimento usualmente presente na biomecâ-
nica. Os graus de liberdade fazem referência ao 
grande número de variáveis que devem ser contro-
ladas na realização de qualquer movimento, ou seja, 
todas as possibilidades de movimento que o homem 
tem à sua disposição para gerar um movimento 
coordenado (Rocha e Tudella, 2003). Portanto, 
podemos exemplificar assim: o repertório motor é 
como se fosse uma frase formada por muitas palavras, 
sendo que as letras de uma palavra são os músculos, 
e as palavras, o movimento; o repertório motor é 
constituído por diferentes movimentos desencadeados 
por diferentes trabalhos musculares. Cada palavra 
(movimento) tem o seu grau de liberdade, pois se pode 
modificar a disposição das letras (trabalho muscular). 
Para Morris e colaboradores (1994), a Abordagem 
dos Sistemas Dinâmicos vê o SNC como um dos 
muitos sistemas que dinamicamente interagem entre si 
paraproduzir o movimento. Não existem níveis altos e 
baixos, mas uma interação entre a percepção, a cogni-
ção e a ação que inclui as propriedades neuromuscu-
lares e as propriedades físicas do sistema músculo-
esquelético. Para Thelen (1986a), a Abordagem dos 
Sistemas Dinâmicos resume-se em três princípios. 
O primeiro princípio afirma que o movimento e o 
desenvolvimento do organismo são sistemas coopera-
tivos, ordenados e coordenados com propriedades 
emergentes. A ordem de aquisição das habilidades 
motoras é derivada das relações de elementos nos 
mesmos níveis hierárquicos, e, como tal, a reunião dos 
elementos resulta no aumento da complexidade. Isto 
contradiz o Modelo Teórico Neuromaturacional, no qual 
a complexidade reside no nível mais elevado do encé-
falo e é distribuída como instrução aos níveis mais 
baixos (Thelen, 1986a). Kamm e colaboradores (1990) 
afirmam que o comportamento motor é um produto da 
cooperação de todos os subsistemas, na qual todos os 
subsistemas têm impacto no comportamento e influen-
ciam as respostas. De acordo com os autores, o 
movimento adquirido desta cooperação para a execu-
ção de uma tarefa não exerce soberania sobre os 
demais movimentos auxiliares na execução, mas sim 
uma ação paralela. Os autores concluem que os movi-
mentos se organizam espontaneamente pela interação 
dos subsistemas, não havendo representações, 
prescrições ou movimentos preestabelecidos. 
O segundo princípio afirma que há componentes 
dos sistemas que preservam a estabilidade da forma e 
componentes que permitem a flexibilidade em face de 
questões funcionais. Para Heriza (1988), os movimen-
tos são influenciados pela tarefa. Heriza discorre que o 
resultado de um padrão de movimento é o resultado da 
interação da contribuição dos subsistemas que se 
organizam com respeito às exigências da tarefa. 
Portanto, todos os estágios do desenvolvimento são 
adquiridos a partir de qualquer subsistema que amadu-
 
 
��
rece por respeito ao contexto de uma tarefa específica. 
Assim, segundo citado por Newell (1986), todas as 
tarefas têm o objetivo de produzir ou resultar uma 
ação. Na maioria das tarefas, o resultado da ação não 
é específico, ou seja, a tarefa produz uma ação, mas 
esta ação não tem um padrão de movimento especí-
fico, pois alguns fatores da tarefa influenciam exigindo 
a adaptação da ação a ser utilizada. Partindo do pres-
suposto, entretanto, de que as dificuldades da tarefa 
limitam o movimento ou a natureza dinâmica da 
resposta que seria produzida, então algumas tarefas 
seriam definidas somente por um dado movimento. 
Assim, as demandas da tarefa se associam ao movi-
mento, permitindo desempenho motor mais fácil e 
confortável (Thelen, 1993 apud Thelen, 1995). As 
dificuldades e o objetivo da tarefa permitem a seleção 
e a adaptação da dinâmica natural do movimento. Por 
exemplo, se a tarefa é agarrar um objeto, a caracterís-
tica do objeto influencia a ação do indivíduo, na qual 
determinados movimentos devem ocorrer para que o 
objeto seja alcançado e apreendido com exatidão 
(Rocha, 2002). 
No terceiro princípio, a teoria dos sistemas prevê 
que as transições de uma fase estável da organização 
para outra pode não ser linear ou contínua. Como 
relatado por Bernstein (1967 apud Piper e Darrah, 
1994), os comportamentos motores não são controla-
dos e modulados apenas pelo SNC na forma de 
feedback, porque a influência da maturação é conside-
rada importante, mas na mesma proporção dos demais 
subsistemas. Desse modo, Kamm e colaboradores 
(1990) propõem que os sistemas exibem organização 
própria e propriedades autônomas. De acordo com os 
autores, o conceito de sistema auto-organizado pode, 
a princípio, parecer estranho aos profissionais que 
receberam treinamento baseado nos modelos mais 
tradicionais de mecanismos de input-output. Auto-
organização, em que a ordem e o padrão surgem a 
partir da cooperação de muitos elementos, é um meca-
nismo complexo, sistema dinâmico (ou não linear). 
Thelen e colaboradores (1987) relatam que a auto-
organização surge a partir de sua natureza dinâmica, 
ou seja, do fenômeno de aquisição do movimento que, 
ao longo do desenvolvimento, é resultado não apenas 
do estado cognitivo ou neuromaturacional, mas é um 
único produto da contribuição de todos os elementos. 
Os fatores que influenciam e alteram o comportamento 
motor não se desenvolvem no mesmo período, e o 
surgimento de novos padrões motores, uma das 
maiores questões da área do desenvolvimento motor. 
Este seria para Piper e Darrah (1994) um quarto princí-
pio da Abordagem dos Sistemas Dinâmicos: os 
subsistemas podem se desenvolver em períodos 
diferentes. Como resultado desta influência dos 
fatores, podemos ter que qualquer fator pode vir a se 
tornar um fator-limitante impedindo o sistema de gerar 
um padrão motor específico. Por definição, fator-
limitante é uma variável que pode limitar um determi-
nado comportamento, ou seja, é a variável responsável 
pela restrição do comportamento motor (Thelen e 
Fisher, 1982; Thelen e colaboradoreS, 1984). Portanto, 
pode-se inferir que a coordenação e o controle dos 
movimentos, que encontra uma ordem temporal e 
espacial, surge de um sistema que é limitado pela tare-
fa funcional, a estrutura do organismo e o ambiente no 
qual o movimento é realizado. 
Conforme Barela (1997), a emergência de compor-
tamentos motores se dá a partir de processos de auto-
organização. Auto-organização é possível em sistemas 
biológicos, pois são sistemas complexos - compostos 
de muitos subsistemas. Estes subsistemas estão em 
constante flutuação, mudando, ao longo do tempo. 
Como resultado desta instabilidade, padrões de com-
portamento emergem quando um ou mais subsistemas 
atingem “pontos críticos”, fazendo com que o sistema 
entre em um novo estado de organização. 
Diante do exposto até o momento, observamos que 
existem questões fundamentais do desenvolvimento 
motor que não são respondidas pelo Modelo Teórico 
Neuromaturacional, e que a Abordagem dos Sistemas 
Dinâmicos promove subsídios para explicar estas 
questões, mas esta é uma abordagem que ainda está 
em tese e construção. 
Portanto, o Modelo Teórico Neuromaturacional, 
apesar de amplamente difundido para explicar o 
desenvolvimento motor e fundamentar avaliações, não 
é capaz de esclarecer completamente a complexidade 
do desenvolvimento motor, embora apresente a 
seqüência de desenvolvimento do controle motor. A 
Abordagem dos Sistemas Dinâmicos não nos propor-
ciona uma linha de desenvolvimento, mas encoraja os 
profissionais a ampliar sua visão na descrição, avalia-
ção e tratamento, pois considera outros parâmetros 
além do SNC, dando ao desenvolvimento motor um 
caráter multidisciplinar. 
Pontos positivos e negativos são abordados em 
relação ao Modelo Teórico Neuromaturacional e à 
Abordagem dos Sistemas Dinâmicos, demonstrando 
que o melhor, tanto para a prática clínica quanto para a 
pesquisa, será unir os aspectos positivos de ambas, e 
não substituir a visão de uma pela outra. 
 
 
 
��
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