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MONOGRAFIA - A indústria reversa do dano moral

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO 
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS 
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE CÁCERES “JANE VANINI” 
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS 
 
 
 
 
KARINA AYRES SILVA MOURA 
 
 
 
 
 
 
 
 
INDÚSTRIA REVERSA DO DANO MORAL: A BANALIZAÇÃO DAS DECISÕES 
ACERCA DO DANO MORAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cáceres/MT 
2018/1 
 
 
 
 
 
 
KARINA AYRES SILVA MOURA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INDÚSTRIA REVERSA DO DANO MORAL: A BANALIZAÇÃO DAS DECISÕES 
 
 
Monografia apresentada ao Departamento de 
Ciências Jurídicas como requisito parcial para 
obtenção do título de bacharel em Direito. 
 
Orientador: Prof.ªCintya Leocádio Dias Cunha 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cáceres/MT 
2018/01 
 
 
 
 
KARINA AYRES SILVA MOURA 
 
 
INDÚSTRIA REVERSA DO DANO MORAL: A BANALIZAÇÃO DAS DECISÕES 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
______________________________________________ 
Cintya Leocádio Dias Cunha 
Departamento de Ciências Jurídicas/UNEMAT 
Orientadora 
 
 
________________________________________________ 
Evely Bocardi de Miranda 
Departamento de Ciências Jurídicas/UNEMAT 
Convidada 
 
 
________________________________________________ 
Monise Fontes Barreto 
Convidada 
 
 
 
 
 
 
 
Aprovada em: ___ de __________ de 2018. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
De forma especial, dedico este trabalho 
aos meus amigos Rafael Massad e Lucas 
Nascimento (in memoriam 03/06/2017) 
que sempre me apoiaram, sou 
eternamente grata a vocês por tudo. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
Devemos aprender a dar o crédito 
àqueles que contribuíram na nossa 
construção. 
Agradeço inicialmente aos meus pais, 
pelo apoio incondicional durante toda minha 
vida, sempre dando o impossível para que eu 
pudesse alcançar meus objetivos, sem vocês 
esse trabalho não existiria. 
À minha professora/orientadora, que 
me auxiliou durante esta pesquisa e tornou 
esse momento o mais leve possível. 
Às professoras Evely e Monise que 
aceitaram fazer parte da banca avaliadora, 
muito obrigada por fazerem parte desse 
momento importante. 
Aos meus amigos, que sempre 
pacientes comigo tornam a minha vida cada 
dia mais alegre, vocês são incríveis. 
Ao Carlos que mesmo de longe esteve 
ao meu lado durante esse momento emanando 
boas energias e acreditando em mim. 
À Martina Correa, Shirley Monroy, 
Elina Nascimento e Cintya Leocadio, mulheres 
que mesmo sem saber me inspiram 
diariamente e contribuem para meu 
amadurecimento profissional. 
Por fim, a todos que de alguma forma 
contribuíram durante minha trajetória 
acadêmica e tornaram realidade minha 
graduação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Pouco importa às pessoas saber que têm os 
direitos reconhecidos em princípio, se o 
exercício deles lhes é negado na prática.” 
(Francisco Sá Carneiro) 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
O ordenamento jurídico brasileiro atual prevê o instituto da responsabilidade civil, que tem 
por objetivoa reparação do dano causado a outrem. Entretanto, para chegar a responsabilidade 
civil atual o instituto passou por diversas mudanças de entendimento e previsão legal. Dentre 
as hipóteses da responsabilidade civil existe o dano moral que é considerado como aquele que 
atinge o íntimo do ser humano, como os direitos da personalidade. O Dano Moral não possui 
critérios objetivos para sua caracterização, ficando a cargo do julgador definir se houve um 
dano ou apenas um mero aborrecimento devido a situações do dia a dia, que todos estão 
sujeitos, e ainda, sobre o quantum a ser arbitrado. O número crescente de ações visando a 
indenização por dano moral juntamente com a falta de estrutura do judiciário, que não cresce 
na mesma proporção, têm dificultado os julgadores a proferir suas decisões de forma correta. 
Dessa forma, a jurisprudência tem mostrado um tabelamento do quantum estipulado de 
acordo com a lesão realizada, sob a justificativa de evitar a banalização do instituto. Porém o 
que está ocorrendo em verdade é a banalização das decisões judiciais, fazendo acontecer uma 
indústria reversa do dano moral, onde o que ocorre não é um enriquecimento ilícito apontado 
pelos defensores da “indústria do dano moral”, mas sim um tabelamento cada vez maior dos 
casos gerando um descrédito das vítimas na prestação jurisdicional. 
 
Palavras-chaves: responsabilidade civil; dano moral; banalização; indústria reversa do dano 
moral. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 9 
CAPÍTULO I-ASPECTOS GERAIS DA RESPONSABILIDADE CIVIL ............................. 11 
1.1.Origem da Responsabilidade Civil e seu Desenvolvimento na Sociedade. .................... 11 
1.2.Definição da Responsabilidade Civil e Requisitos ......................................................... 13 
1.3.Contexto Legislativo e Previsão Atual ........................................................................... 18 
CAPÍTULO II -DO DANO MORAL ....................................................................................... 20 
2.1.Breves Delineamentos Acerca do Dano Moral. .............................................................. 20 
2.2.Configuração e Prova do Dano Moral. ........................................................................... 22 
2.3. Natureza Jurídica do Dano Moral .................................................................................. 24 
2.4. Fixação do Valor do Dano Moral .................................................................................. 26 
CAPÍTULO III -BANALIZAÇÃO DAS DECISÕES ............................................................. 28 
3.1. Danos Morais em Números ........................................................................................... 28 
3.2. Análise de um Possível Tabelamento das Decisões ...................................................... 30 
3.3. Indústria Reversa do Dano Moral .................................................................................. 32 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 36 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 38 
ANEXOS .................................................................................................................................. 40 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
INTRODUÇÃO 
A ideia de responsabilidade civil tem início nos primórdios da sociedade, devido o 
sentimento de proteção pertencente ao ser humano. O instituto da responsabilidade civil, nos 
moldes atuais, teve início com a Lex Aquilia, posteriormente sofrendo algumas modificações 
com o Código de Napoleão até chegar à legislação atual. 
A responsabilidade civil pode ser patrimonial ou extrapatrimonial – conhecida também 
com dano moral –, a responsabilidade patrimonial visa reparar os danos causados ao 
patrimônio da vítima, danos que podem ser quantificados de acordo com os prejuízos 
causados, noutro lado o dano extrapatrimonial tem por objetivo a reparaçãodos danos 
causados ao íntimo do ser humano, a sua honra, imagem, e todos os direitos tutelados pelos 
direitos da personalidade. Estes danos, por sua vez, não podem ser quantificados de forma 
objetiva visto que valorar o dano moral ainda é uma atividade muito difícil. 
A presente pesquisa monográfica visará analisar, utilizando do método dedutivo, o 
instituto da responsabilidade civil, com suas mudanças e requisitos, e de forma mais restrita o 
Dano Moral e a problemática da fixação do quantum indenizatório, de forma que não cause 
um enriquecimento ilícito para a vítima e nem que gere uma banalização das decisões com o 
tabelamento do valor, como vem ocorrendo atualmente. 
Assim, com o referido objetivo, a pesquisa monográfica trabalhará em seu primeiro 
capítulo com os conceitos e outras informações pertinentes à responsabilidade civil, tratar-se-
á de sua origem desde os primórdios da sociedade até o ordenamento jurídico atual, sua 
definição, com conceitos feitos por doutrinadores e o contexto legislativo em que foi inserida. 
O segundo capítulo abordaráo Dano Moral como uma espécie de responsabilidade 
civil, mostrando seus conceitos, a natureza jurídica do instituto e a problemática da fixação do 
valor a ser arbitrado, com fundamento nas jurisprudências dos Tribunais, em especial do 
TJ/MT. 
10 
 
E, por fim, o terceiro capítulo intitulado “Indústria Reversa do Dano Moral”, irá 
expora problemática do crescimento exponencial das ações de indenização por dano moral, e 
devido a isso uma possibilidade de tabelamento do quantum arbitrado, demonstrada por 
jurisprudências, que vem gerando uma indústria reversa do dano moral, ou seja, uma 
banalização das decisões, que causa um descrédito por parte da sociedade na prestação 
jurisdicional. Sendo tais decisões o norteador da presente pesquisa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
CAPITULO I 
ASPECTOS GERAIS DA RESPONSABILIDADE CIVIL 
1.1.Origem da Responsabilidade Civil e seu desenvolvimento na sociedade 
A ideia de reparação existe desde os primórdios, uma vez que, faz parte da natureza do 
ser humano cuidar de si e de seu patrimônio e protegê-los dos demais. Assim, quando algo 
atinge seu patrimônio e o modifica busca-se que ele seja reparado para retornar ao status quo. 
Durante a evolução da sociedade, essa busca pela reparação passou por diversas 
modificações, inicialmente levando em consideração apenas o dano causado, independente da 
culpa do agente. 
Gonçalves aponta que “Nos primórdios da humanidade, entretanto, não se cogitava do 
fator culpa. O dano provocava a reação imediata, instintiva e brutal do ofendido. Não havia 
regras nem limitações. Não imperava, ainda, o direito.”1Nesse sentido, imperava a vingança 
privada. Exemplo disso é a famosa Lei do Talião, na qual um dano deveria ser retribuído com 
outro. Porém, com o acelerado crescimento econômico, passa-se a buscar a retribuição 
econômica dos danos sofridos. 
Moltocaro e Tamaoki apontam que a partir da Lei Aquilia é extraída a culpa como 
fator da responsabilidade civil2, e expõem o pensamento de Maria Helena Diniz: 
A Lex Aquilia de damno veio a cristalizar a ideia de reparação pecuniária do dano, 
impondo que o patrimônio do lesante suportasse os ônus da reparação, em razão do 
valor da res, esboçando-se a noção de culpa como fundamento da responsabilidade, 
de tal sorte que o agente se isentaria de qualquer responsabilidade se tivesse 
procedido sem culpa. Passou-se a arbitrar o dano à conduta culposa do agente.3 
Venosa leciona que “O sistema romano de responsabilidade extrai da interpretação 
da Lex Aquilia o princípio pelo qual se pune a culpa por danos injustamente provocados, 
 
1GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 15. Ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 47 
2 MOLTOCARO, Thaiane Martins; TAMAOKI, Fabiana Junqueira; Responsabilidade Civil: Da evolução 
histórica ao estudo do dano moral. Revista Jurídica Direito, Sociedade e Justiça. v. 1 n. 1, 2014. p. 6. 
Disponível em < https://periodicosonline.uems.br/index.php/RJDSJ/article/view/678> Acesso em 09 jul. 2018. 
3 Maria Helena Diniz Apud Moltocaro e Tamaoki, Op. Cit. p. 6. 
12 
 
independente da relação processual preexistente”.4 Passa-se então a levar em 
consideração a culpa do agente e não mais só o dano provocado. 
Posteriormente, surge o Código de Napoleão, após a Revolução Francesa, e trouxe 
influências para a responsabilidade civil. Diniz afirma que o Código de Napoleão influencioua 
construção da doutrina francesa, e os Códigos Modernos devem a ele os ensinamentos da 
Teoria da responsabilidade civil.5 
Para o doutrinador Carlos Roberto Gonçalves: 
A noção da culpa in abstracto e a distinção entre culpa delitual e culpa contratual 
foram inseridas no Código de Napoleão, inspirando a redação dos arts. 1.382 e 
1.383. A responsabilidade civil se funda na culpa - foi a definição que partiu daí 
para inserir-se na legislação de todo o mundo6 
O Código francês passou a prever a responsabilidade extracontratual e diferenciar a 
responsabilidade civil da responsabilidade penal. Acerca da influência do Código 
Napoleônico no ordenamento jurídico brasileiro, Souza assevera: 
O artigo 159 do nosso Código anterior se abeberou no modelo napoleônico, 
prevalecendo a teoria subjetiva da culpa provada, para aferir a responsabilidade civil 
extracontratual, o que se mantém até hoje, ainda que de forma bastante atenuada, 
como se pode perceber pela leitura do parágrafo único do artigo 927.7 
Com a grande expansão industrial, atualmente uma nova teoria vem ganhando força, a 
chamada “teoria do risco”, com objetivo de proteger cada vez mais as vítimas. Deacordo com 
essa teoria, em determinados casos como acidente de trabalho, o trabalhador terá direito a 
indenização independe da culpa do empregador, em razão das atividades realizadas. 
Segundo Gonçalves: 
A realidade, entretanto, é que se tem procurado fundamentar a responsabilidade na 
ideia de culpa, mas, sendo esta insuficiente para atender às imposições do progresso, 
tem o legislador fixado os casos especiais em que deve ocorrer a obrigação de 
reparar, independentemente daquela noção.8 
O campo da responsabilidade civil está em constante mudança, de acordo com o 
desenvolvimento da sociedade, visto que a reparação do dano causado mexe com a essência 
de justiça que o ser humano carrega. 
Neto afirma que o foco atual da responsabilidade civil, pelo que se percebe da sua 
evolução histórica e tendências doutrinárias, têm sido no sentido de estar centrada cada vez 
 
4VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 11. Ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 19 
5
PEREIRA, Caio Mario Silva. Responsabilidade Civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018. p. 16. 
6GONÇALVES, Carlos Roberto. Op. Cit. p. 48 
7 SOUZA, Sylvio Capanema de. O Código Napoleão e Sua Influência do Direito Brasileiro. Revista da Escola 
de Magistratura do Rio de Janeiro. v. 7. n. 26, 2004. p. 47. Disponível em < 
http://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista26/revista26_36.pdf> Acesso em 09 jul. 2018. 
8GONÇALVES, Carlos Roberto. Op. Cit. p. 49. 
13 
 
mais no imperativo de reparar um dano do que na censura do seu responsável. 9 Dessa forma, 
como demonstrado, a Responsabilidade Civil visa reparar o dano causado ao indivíduo, seja 
no seu patrimônio ou a sua moral. 
1.2.Definição da Responsabilidade Civil e Requisitos. 
Nader afirma que o vocábulo responsabilidade provém do verbo latino respondere, de 
spondeo, que significa garantir, responderpor alguém, prometer. No Direito Quiritário, o 
devedor se obrigava perante o credor, nos contratos verbais, respondendo à sua indagação 
com a palavra spondeo (prometo).10 Assim, a Responsabilidade Civil é instituto que visa 
garantir que a vítima de uma lesão seja reparada pelo agente causador. 
Inicialmente, o Direito busca tutelar deveres jurídicos, que podem ser positivos 
(obrigações de dar e/ou fazer) ou negativos (obrigações de não fazer ou tolerar), além disso, 
podem atingir a todos indistintamente ou pessoas determinadas. 
Tais deveres são conhecidos também como obrigação originária, e se violada é 
transformada em um ilícito, que, por sua vez, praticamente sempre causa dano a outrem, 
devendo ser reparado. Esta reparação do dano recebe o nome de obrigação sucessiva, a partir 
daí surge a ideia de responsabilidade civil. 
Dessa forma, a responsabilidade civil surge como a obrigação de reparar um dano 
causado devido à transgressão de uma obrigação originária. 
Conforme Cavalieri Filho sintetiza: 
[...] responsabilidade civil é um dever jurídico sucessivo que surge para recompor o 
dano decorrente da violação de um dever jurídico originário. 
Só se cogita, destarte, de responsabilidade civil onde houver violação de um dever 
jurídico e dano. Em outras palavras, responsável é a pessoa que deve ressarcir o 
prejuízo decorrente da violação de um precedente dever jurídico. E assim é porque a 
responsabilidade pressupõe um dever jurídico preexistente, uma obrigação 
descumprida.11 
No atual Código Civil é possível perceber a diferenciação entre a responsabilidade e a 
obrigação feita pelo legislador no art. 389, quando determina que se não cumprida a 
obrigação, responderá o devedor em perdas e danos. Este dispositivo é aplicável tanto nas 
relações contratuais, quando as extracontratuais. 
Para que dê ensejo à responsabilidade civil é necessário preencher alguns requisitos: 
conduta culposa do agente, nexo de causalidade e dano. Caso preencha esses requisitos, será 
 
9 NETO, Eugênio Facchini. Da Responsabilidade Civil no Novo Código. Revista TST. Brasília, vol. 76, n. 1, 
jan/mar 2010. p. 20. Disponível em < https://hdl.handle.net/20.500.12178/13478> Acesso em 09 jul. 2018. 
10 NADER, Paulo. Responsabilidade Civil. 6. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 6. 
11CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 10. Ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 2 
14 
 
configurada a responsabilidade civil subjetiva. Porém, também há a responsabilidade civil 
objetiva, aplicável no dano praticado pelo Estado por meio de seus agentes e nas relações de 
consumo (tanto a responsabilidade pelo fato do produto ou serviço como a oriunda do vício 
do produto ou serviço), nesta modalidade o elemento culpa não é levado em consideração, 
sendo necessário apenas que haja a conduta do agente, o dano, e o nexo causal entre eles. É 
imprescindível a análise dos requisitos que ensejam a responsabilidade civil para entender o 
instituto. 
Cavalieri Filho aponta que 
Há primeiramente um elemento formal, que é a violação de um dever jurídico 
mediante conduta voluntária; um elemento subjetivo, que pode ser o dolo ou a culpa; 
e, ainda, um elemento causal-material, que é o dano e a respectiva relação de 
causalidade.12 
A conduta pode ser uma ação ou omissão, na maioria das vezes, a responsabilidade é 
ensejada por uma ação do agente, uma conduta positiva, como a destruição de coisa alheia, 
lesão física ou moral realizada a outrem, mas também pode ocorrer devido a uma omissão, 
nos casos em que o agente tinha o “dever jurídico de agir” e não o faz. 
Dessa forma a conduta omissiva só pode ser caracterizadora da responsabilidade civil 
se parte de alguém que tinha o dever legal de agir ou impedir que o dano ocorresse, por 
exemplo, somente os pais possuem o dever de impedir que seus filhos cometam um dano a 
outrem. 
Além disso, em regra só responde pelo dano aquele que lhe deu causa, ou seja, 
somente a conduta própria pode ser responsabilizada. Porém, a lei determina casos em que é 
possível a imputação do dano a alguém pela conduta de terceiro quando o responsável esta 
ligado ao causador do dano por um dever de guarda, vigilância e cuidado. Como os pais em 
relação aos filhos, o empregador em relação ao empregado, etc., conforme determina os art. 
932 e 936 até 938 do Código Civil. 
Seja a conduta comissiva ou omissiva, para que dê ensejo a responsabilidade civil, ela 
deve ser imputável, ou seja, deve haver a possibilidade de atribuir ao agente a 
responsabilidade por seus atos. 
De acordo com Nader, após a caracterização do ato ilícito, deve-se realizar a pesquisa 
da imputabilidade, ou seja, da pessoa responsável pela reparação dos prejuízos. O termo 
 
12CAVALIERI FILHO, Sérgio. Op. Cit. p. 19. 
 
15 
 
“imputabilidade” pode ser considerado em dois sentidos: como referência ao autor material do 
fato ou à pessoa que responde por danos causados a alguém.13 
Para que um agente possa ser imputável ele deve possuir capacidade mental para 
discernir seus atos, uma vez que, diferente da responsabilidade penal, no direito civil, o fato 
do agente não ter atingido a maioridade não impede que este receba a imputação do dano 
causado, caso seja menor de 16 anos, caberá aos seus responsáveis a reparação do dano. 
Gonçalves aponta que: 
Somente os maiores de 18 anos são responsáveis, civil e criminalmente, por seus 
atos. Admite-se, porém, no cível, que os menores de 18 anos sejam também 
responsabilizados, de modo equitativo, se as pessoas encarregadas de sua guarda ou 
vigilância não puderem fazê-lo, desde que não fiquem privados do necessário (art. 
928, parágrafo único).14 
Outro requisito para que seja caracterizado à responsabilidade civil, é que a conduta 
realizada pelo agente seja com culpa, ou seja, uma ação intencional para a prática do dano. O 
ser humano possui o Dever de Cuidado Objetivo, que nada mais é que agir com precaução 
para não causar dano a outras pessoas. 
Em outras palavras, conforme Sérgio Cavalieri expõe: “Exprime um juízo de 
reprovabilidade sobre a conduta do agente, por ter violado o dever de cuidado quando, em 
face das circunstâncias específicas do caso, devia e podia ter agido de outro modo.” 15Assim, 
há alguns elementos para que a conduta seja considerada culposa: a) conduta voluntária e 
resultado involuntário; b) previsão ou previsibilidade; c) falta de cuidado, cautela, atenção ou 
diligência. 
A culpa, em seu sentido, é sempre a mesma independente da sua intensidade. Porém, 
ela pode ter diferentes gravidades de acordo com o dano causado. O doutrinador Cavalieri 
Filho diferencia a culpa em grave, leve e levíssima. 
A culpa grave é aquela cometida com o grau de descuido maior que o esperado pelo 
homem médio, conhecida como a culpa com previsão do resultado. A culpa leve, por sua vez, 
é quando o dano poderia ser evitado se houvesse maior atenção por parte do agente. Por fim, a 
levíssima ocorre quando esta ausente os conhecimentos específicos para que se evitasse o 
dano. Porém, independente dessa diferenciação, pouco importa o grau da culpa que o agente 
teve para fins de indenização. Basta haver culpa para que haja a obrigação de indenizar, o que 
irá diferenciar é o quantum indenizatório. 
 
13 NADER, Paulo. Op. Cit. p. 10. 
14 GONÇALVES, Carlos Roberto. Op. Cit. p. 58. 
15 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Op. Cit. p. 34. 
16 
 
Tartuce define a culpa como o desrespeito a um dever preexistente, não havendo 
propriamente uma intenção de violar odever jurídico, que acaba sendo violado por outro tipo 
de conduta.16Assim, quando o agente desrespeita um dever seja qual intensidade, estará 
sujeito a responsabilização dos danos causados. 
Outro requisito de extrema importância para a caracterização da responsabilidade civil 
é o nexo causal, visto que, antes de decidir se houve ou não culpa por parte do agente, é 
necessário verificar se existe relação de causalidade entre sua conduta e o dano. 
Conforme leciona Caio Mario: 
Não basta que o agente haja procedido contra direito, isto é, não se define a 
responsabilidade pelo fato de cometer um “erro de conduta”; não basta que a vítima 
sofra um “dano”; que é o elemento objetivo do dever de indenizar, pois se não 
houver um prejuízo a conduta antijurídica não gera obrigação ressarcitória. É 
necessário se estabeleça uma relação de causalidade entre a injuridicidade da ação e 
o mal causado.17 
Santos, em seu artigo aponta que “O nexo de causalidade é requisito essencial para 
qualquer espécie de responsabilidade, ao contrário do que acontece com a culpa, que não estar 
presente na responsabilidade objetiva.”18 Como visto, só é possível caracterizar a 
responsabilidade civil se houver o nexo causal entre a ação ou omissão do agente e o dano 
sofrido pela vítima. 
Apesar do conceito do nexo causal ser simples, a sua verificação não é tão simples 
assim, sendo alvo de discussão pelos doutrinadores por mais de um século. Dentre as diversas 
teorias que tentam explicar como verificar o nexo causal, existem três principais que devem 
ser estudadas: Teoria da equivalência das condições, Teoria da causalidade adequada e a 
Teoria dos danos diretos e imediatos. 
A Teoria da equivalência das condições, ou conditio sinequa non, considera todas as 
condutas que contribuíram para o dano, como causas. Ou seja, se houverem várias condutas 
que contribuíram, todas serão consideradas como causas para o dano, independente do grau de 
relevância de tais condutas. 
Porém, adverte Tartuce: “Essa teoria, não adotada no Brasil, tem o grande 
inconveniente de ampliar em muito o nexo de causalidade, até o infinito.” 19 Nesse sentido, 
essa teoria traz grandes riscos, podendo contribuir para resultados catastróficos, por exemplo, 
 
16 TARTUCE, Flávio. Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil. 12. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2016. p. 360. 
17 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Op. Cit. p. 102. 
18SANTOS, Pablo de Paula Saul. Responsabilidade civil: origem e pressupostos gerais. Disponível em < 
http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11875>. Acesso em 15 de 
Abril de 2018. 
19 TARTUCE, Flávio. Op. Cit. p. 371. 
17 
 
se ocorrer um acidente de doméstico, o fabricante do material de construção poderia ser 
responsabilizado, visto que se não o tivesse fabricado não haveria a casa para causar o 
acidente. 
A segunda teoria é a chamada Teoria da causalidade adequada, segundo essa teoria a 
causa é somente a conduta necessária e adequada para causar o resultado. Ou seja, dentre 
todas as condutas que concorreram para o resultado, causa será a mais adequada para a 
produção do dano. O problema dessa teoria se encontra na dificuldade de definir qual das 
condutas é a mais adequada, uma vez que caberá ao julgador se colocar no lugar do agente 
para definir qual conduta será objeto da responsabilização. 
A terceira teoria, denominada Teoria dos danos diretos e imediatos defende que será 
considerada causa somente a que anteceder o fato danoso, e determinasse que o dano é uma 
conseqüência direta e imediata sua. 
Dentre as teorias, ainda há divergências doutrinárias acerca de qual delas é adotada 
pelo atual Código Civil. Há doutrinadores que defendem que é a teoria dos danos diretos e 
imediatos, como Carlos Roberto Gonçalves: “Das várias teorias sobre o nexo causal, o nosso 
Código adotou, indiscutivelmente, a do dano direto e imediato, como está expresso no art. 
403; e das várias escolas que explicam o dano direto e imediato, a mais autorizada é a que se 
reporta à consequência necessária.”20, mas também há doutrinadores que defendem a adoção 
da teoria da causalidade adequada, como Sérgio Cavalieri Filho, que aponta: 
Os nossos melhores autores, a começar por Aguiar Dias, sustentam que, enquanto a 
teoria da equivalência das condições predomina na esfera penal, a da causalidade 
adequada é a prevalecente na órbita civil. Logo, em sede de responsabilidade civil, 
nem todas as condições que concorrem para o resultado são equivalentes (como no 
caso da responsabilidade penal), mas somente aquela que foi a mais adequada a 
produzir concretamente o resultado.21 
Independente da teoria adotada para explicar o nexo causal, entende-se que sem a 
presença desse requisito não haverá responsabilização. Há algumas formas de exclusão do 
nexo causal, como a responsabilidade exclusiva da vítima e caso fortuito ou força maior. 
Por fim, para que a responsabilidade civil exista é necessária a presença do dano, visto 
que sem este não haverá o que indenizar. Durante a vigência do Código Civil de 1916, o dano 
era considerado uma “diminuição de patrimônio”, uma vez que o dano moral não era 
considerado pela legislação. Atualmente, porém, esse conceito se tornou insuficiente devido à 
previsão expressa do dano moral no atual Código Civil, sendo o dano considerado como uma 
redução de um bem jurídico. 
 
20 GONÇALVES, Carlos Roberto. Op. Cit. p. 480. 
21 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Op. Cit. p. 52. 
18 
 
O dano deve abranger tudo que se perdeu (danos emergentes) ou deixou de ganhar 
(lucros cessantes), além disso, o dano pode ser direto (aquele que atinge diretamente a vítima 
e seus bens) ou indireto (quando a pessoa sofre por reflexo do dano causado a um terceiro). 
Os danos podem ser tanto patrimoniais (bens materiais) quando extrapatrimoniais (bens 
imateriais, como a honra). 
Assim, a pessoa que cause algum dano, seja material ou moral, que tenha um nexo de 
causalidade com a sua conduta, fica obrigado a indenizar o ofendido. Importante lembrar que 
na modalidade de responsabilidade objetiva o elemento culpa não é considerado para fins de 
caracterização da responsabilidade civil. Tal reparação pode ser exigida pelo lesado ou seus 
dependentes econômicos. 
1.3.Contexto Legislativo e Previsão Atual 
No ordenamento jurídico brasileiro, o primeiro Código Civil foi promulgado em 1916, 
cujo projeto foi elaborado por Clóvis Beviláqua, utilizando da teoria subjetiva da 
responsabilidade civil, na qual exigia prova robusta da culpa do agente, e somente em alguns 
casos era presumida. Além disso, era um código extremamente patrimonialista. 
Araújo aponta que o Código Civil de 1916 
[...] reuniu normas para regular as relações entre os indivíduos, de forma 
extremamente individualista e patrimonialista, e dentre estas normas, apresentou a 
possibilidade para a reparação ao dano imaterial, sendo necessária uma análise 
hermenêutica para aplicar a lei de forma correta, ficando a mercê da experiência e 
sabedoria do magistrado que iria avaliar o caso em questão.22 
Dessa forma, o Código Civil de 1916 era predominantemente patrimonialista, tratando 
apenas dos prejuízos causados aos bens materiais, sem nenhuma referência expressa aos 
danos extrapatrimoniais, sendo admitida esta modalidade apenas com embasamento nas 
jurisprudências. Acerca da responsabilidade civil, o art. 159 do CC 16 conceituava 
os atos ilícitos que ensejam a responsabilização civil, nos termos dos arts. 1.518 a 1.532. 
O atual Código Civil, em vigor desde janeiro de 2003, manteve a exigência da culpa 
como caracterizadora da responsabilidade civil, nosmoldes do art. 186. Porém, inovou ao 
incluir a possibilidade de responsabilização civil ainda que exclusivamente moral. 
Além disso, apesar de manter a responsabilidade subjetiva como regra, o parágrafo 
único do art. 927 trouxe a previsão da responsabilidade objetiva, ou seja, independente da 
demonstração de culpa, como exceção, devendo ser expressamente prevista os casos 
 
22ARAUJO. Verônica Vilas Boas de. Indústria do Dano Moral. 2013. 35 f. Trabalho de Conclusão de Curso 
(Graduação em Direito). Universidade do Estado de Mato Grosso. Cáceres, 2013. p. 12. 
19 
 
permitidos para essa modalidade. Como ocorre com a responsabilidade civil do Estado, na 
qual a culpa não é considerada como requisito para a sua caracterização, sendo somente 
necessária a comprovação do dano causado por uma conduta do agente estatal e o nexo causal 
entre elas. 
Também foi abarcada a Teoria do Risco, uma vez que o art. menciona que “a atividade 
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os 
direitos de outrem”, será objeto de responsabilização civil. 
Dessa forma, apesar do atual Código Civil adotar a teoria subjetiva da 
responsabilidade civil, vê-se uma maior flexibilização ao aceitar hipóteses cada vez maiores 
da responsabilidade objetiva. Deve-se tomar cuidado para não ocorrer a total desvinculação da 
culpa ao ponto de que o agente seja obrigado a reparar um dano que ocorreu mesmo sem a sua 
culpa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
CAPITULO II 
DANO MORAL 
2.1. Breves delineamentos acerca do Dano Moral 
Considerada uma das formas de responsabilização civil, o dano moral, também 
chamado de dano extrapatrimonial ou dano imaterial, é relativamente novo. A partir da 
promulgação da Constituição Cidadã, em seu art. 1º, inciso III, o princípio da dignidade da 
pessoa humana foi consagrado como um dos fundamentos do Estado, de forma que todas as 
relações devem se submeter a este princípio. Este pensamento é posto por Cavalieri Filho ao 
expor a necessidade do dano moral ser visto sob esta ótica da dignidade da pessoa humana e 
aponta que: 
Atribui-se a Kant a seguinte lição: A dignidade é o valor de que se reveste tudo 
aquilo que não tem preço, ou seja, que não é passível de ser substituído por um 
equivalente. E uma qualidade inerente aos seres humanos enquanto entes morais. Na 
medida em que exercem de forma autônoma a sua razão prática, os seres humanos 
constroem distintas personalidades humanas, cada uma delas absolutamente 
individual e insubstituível. A dignidade é totalmente inseparável da autonomia para 
o exercício da razão prática. A vida só vale a pena se digna. 23 
Nas lições de Nader, o autor afirma que danos morais são as práticas que 
constrangem, injustamente, outrem, causando-lhe sofrimentos na esfera espiritual. Cita, ainda, 
que de acordo com Voirin e Goubeaux, o dano moral “resulta de atentado a um direito da 
personalidade”.24 Assim, o dano moral pode ser entendido como a lesão causada ao íntimo do 
ser humano, e por não ser algo visível ou palpável, não pode ser quantificada de forma 
objetiva tal como os danos materiais. 
Inicialmente, não era admitido o ressarcimento do dano moral, sob a justificativa de 
que era impossível estipular um valor para reparação ou de valorar uma dor, conhecida como 
fase negativista. Porém, com o passar do tempo esse entendimento foi superado, de forma que 
 
23 KANT apud CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 10. Ed. São Paulo: Atlas, 
2012. p. 89. 
24 NADER, Paulo. Responsabilidade Civil. 6. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 29. 
21 
 
o dano moral se tornou passível de reparação, recebendo um caráter satisfatório visando 
compensar o mal sofrido. Araújo explica que: 
A fase negativista, não reconhecia o dano moral, afirmando que somente habilitava 
o dano patrimonial, não admitindo o dano a honra. Esta fase vai desde as primeiras 
discussões acerca da reparabilidade do dano moral, passando pelo Código Civil de 
1916, até meados de 1966, quando, então, no II Congresso Nacional de 
Desembargadores do Brasil mudou a orientação sobre o assunto.25 
Todavia, mesmo após sua admissão ainda não era possível a cumulação do dano 
moral com o dano material, o entendimento era que o dano material absorvia o dano moral, de 
forma que a sua cumulação geraria um enriquecimento ilícito. Nesse sentido: 
Antes da Constituição de 1988, mesmo quando se admitia a reparação do dano 
moral, a jurisprudência predominante negava sua cumulatividade com o dano 
material, ao pretexto de que havendo o ressarcimento de todos os efeitos 
patrimoniais nocivos do ato ilícito já estaria, a vítima, suficientemente reparada.26 
Porém, a reparação do dano moral não visa um acréscimo patrimonial, mas sim a 
compensação do dano sofrido. O STJ acerca do tema decidiu em sede de Recurso Especial 
que não incide o Imposto de Renda nos valores recebidos a título de indenização por danos 
morais. Vejamos: 
PROCESSO CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL 
REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C, DO CPC. 
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. INCIDÊNCIA DO IMPOSTO DE 
RENDA. IMPOSSIBILIDADE. CARÁTER INDENIZATÓRIO DA VERBA 
RECEBIDA. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA. 1. A 
verba percebida a título de dano moral tem a natureza jurídica de indenização, cujo 
objetivo precípuo é a reparação do sofrimento e da dor da vítima ou de seus 
parentes, causados pela lesão de direito, razão pela qual torna-se infensa à 
incidência do imposto de renda, porquanto inexistente qualquer acréscimo 
patrimonial. 2. In casu, a verba percebida a título de dano moral adveio de 
indenização em reclamação trabalhista. 3. Deveras, se a reposição patrimonial goza 
dessa não incidência fiscal, a fortiori, a indenização com o escopo de reparação 
imaterial deve subsumir-se ao mesmo regime, porquanto ubieademratio, ibieadem 
legis dispositio. 4. "Não incide imposto de renda sobre o valor da indenização pago 
a terceiro. Essa ausência de incidência não depende da natureza do dano a ser 
reparado. Qualquer espécie de dano (material, moral puro ou impuro, por ato legal 
ou ilegal) indenizado, o valor concretizado como ressarcimento está livre da 
incidência de imposto de renda. A prática do dano em si não é fato gerador do 
imposto de renda por não ser renda. O pagamento da indenização também não é 
renda, não sendo, portanto, fato gerador desse imposto. (...) Configurado esse 
panorama, tenho que aplicar o princípio de que a base de cálculo do imposto de 
renda (ou de qualquer outro imposto) só pode ser fixada por via de lei oriunda do 
poder competente. É o comando do art. 127, IV, do CTN. Se a lei não insere 
a"indenização", qualquer que seja o seu tipo, como renda tributável, inocorrendo, 
portanto, fato gerador e base de cálculo, não pode o fisco exigir imposto sobre essa 
situação fática. (...) Atente-se para a necessidade de, em homenagem ao princípio 
da legalidade, afastar-se as pretensões do fisco em alargar o campo da incidência 
do imposto de renda sobre fatos estranhos à vontade do legislador."("Regime 
Tributário das Indenizações", Coordenado por Hugo de Brito Machado, Ed. 
Dialética, pg. 174/176) 5. O art. 535 do CPC resta incólume se o Tribunal de 
 
25 ARAÚJO, Verônica Villas Boas. Indústria do Dano Moral. 2013. Trabalho de Conclusão de Curso 
(Graduação em Direito). Universidade do Estado de Mato Grosso. Cáceres, 2013. p. 10. 
26 THEODORO JUNIOR; Humberto. Dano Moral. 8. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 5.22 
 
origem, embora sucintamente, pronuncia-se de forma clara e suficiente sobre a 
questão posta nos autos. Ademais, o magistrado não está obrigado a rebater, um a 
um, os argumentos trazidos pela parte, desde que os fundamentos utilizados tenham 
sido suficientes para embasar a decisão. 6. Recurso especial desprovido. Acórdão 
submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ 08/2008.(STJ - 
REsp: 1152764 CE 2009/0150409-1, Relator: Ministro LUIZ FUX, Data de 
Julgamento: 23/06/2010, S1 - PRIMEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 
01/07/2010) 
Além disso, há outras formas de reparação que não o pagamento pecuniário, nesse 
sentido foi editado o enunciado aprovado na VII Jornada de Direito Civil (2015): “A 
compensação pecuniária não é o único modo de reparar o dano extrapatrimonial, 
sendoadmitida a sua reparação in natura, na forma de retratação pública ou outro meio” 
(Enunciado n. 589). 
Atualmente, entretanto, vigora a reparabilidade integral, visto que a Constituição é 
expressa ao admitir a reparação do dano moral, como previsto nos art. 5º, V e X, e o STJ se 
pronunciou sobre a possibilidade de cumulação do dano moral e material ao editar a Súmula 
37: “São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral, oriundos do mesmo 
fato.” Dessa forma, percebe-se que atualmente é pacificado o entendimento da possibilidade 
de pleitear o dano moral mesmo que não haja um dano material concomitante. 
2.2. Configuração e Prova do Dano Moral 
Diante do que já foi dito, entende-se que o dano moral é a lesão causada ao íntimo do 
ser humano, à sua dignidade. Porém, não há critérios objetivos que determinam quando houve 
ou não a lesão a esses direitos. 
Cavalieri Filho leciona que o dano moral se configura quando: 
(...) a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira 
intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, 
angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, 
irritação ou sensibilidade exacerbada está fora da órbita do dano moral, porquanto, 
além de fazerem parte da normalidade do nosso dia a dia, no trabalho, no trânsito, 
entre os amigos e até no ambiente familiar, tais situações não são intensas e 
duradouras, a ponto de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo. Se assim não 
se entender, acabaremos por banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em 
busca de indenizações pelos mais triviais aborrecimentos.27 
Importante salientar que a dor e o sofrimento da vítima não é o que configura o dano 
moral, mas sim a sua consequência, de forma que a dor, e o vexame sofrido só poderão ser 
considerados como dano moral, quando a causa for uma agressão a dignidade humana. 
 
27CAVALIERI, Sérgio. Op. Cit. p. 93. 
23 
 
Nesse sentido é o enunciado n. 445 da V Jornada de Direito Civil “O dano moral 
indenizável não pressupõe necessariamente a verificação de sentimentos humanos 
desagradáveis como dor ou sofrimento”. 
Grande exemplificação disso é a possibilidade da pessoa jurídica ser vítima de dano 
extrapatrimonial, que por óbvio, não passa por sofrimentos ou dores. Inicialmente esse tema 
sofreu forte resistência da doutrina e jurisprudência, no entendimento que não eram passíveis 
de sofrer o dano moral. 
Nehemias afirma que essa corrente defendia que as pessoas jurídicas, por serem 
figuras abstratas, não se sujeitariam a dor e sofrimento. E que no máximo, caberia aos seus 
sócios, mas nunca a própria pessoa jurídica, que apenas era passível de indenização 
material.28 
Atualmente, o entendimento foi pacificado pelo STJ por meio da Súmula 277, 
assentando que “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”. Assim, a pessoa jurídica pode ser 
vítima tanto de lesão patrimonial quanto extrapatrimonial. 
Também é justificada essa não obrigatoriedade de existência de dor ou vexame pela 
possibilidade dos absolutamente incapazes serem vítimas do dano extrapatrimonial. Se fosse 
necessária a comprovação da consequência do dano, os recém nascidos e crianças não 
poderiam sofrer lesões à sua dignidade por não possuírem ainda entendimento suficiente para 
entender o que é esta lesão. 
Nesse sentido é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça: 
Sempre que ocorrer ofensa injusta à dignidade da pessoa humana restará 
configurado o dano moral, não sendo necessária a comprovação de dor e 
sofrimento. Trata-se de dano moral in reipsa (dano moral presumido). Segundo 
doutrina e jurisprudência do STJ, onde se vislumbra a violação de um direito 
fundamental, assim eleito pela CF, também se alcançará, por consequência, uma 
inevitável violação da dignidade do ser humano.A compensação nesse caso 
independe da demonstração da dor, traduzindo-se, pois, em consequência in reipsa, 
intrínseca à própria conduta que injustamente atinja a dignidade do ser 
humano.Aliás, cumpre ressaltar que essas sensações (dor e sofrimento), que 
costumeiramente estão atreladas à experiência das vítimas de danos morais, 
não se traduzem no próprio dano, mas têm nele sua causa direta. (REsp 
1.292.141-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/12/2012. Informativo 513 
STJ) (grifei). 
Basta que se demonstre o fato gerador para que o dano moral seja objeto de 
reparação, conforme entendimento já pacificado pelo STJ, em julgados como: 
INDENIZAÇÃO - NEGATIVAÇÃO INDEVIDA - PAGAMENTO REALIZADO 
- MANUTENÇÃO DA SENTENÇA (ART. 252 DO RITJSP) Mantém-se a 
sentença que corretamente reconheceu a existência de nexo de causalidade entre a 
 
28MELO, Nehemias de. Dano moral – problemática: do cabimento à fixação do quantum. 2. Ed. São Paulo: 
Atlas, 2011. p. 26-27. 
 
24 
 
conduta perpetrada pelo apelante (negativação indevida) e o dano moral suportado 
em face do pagamento da obrigação que gerou o ato restritivo. (...) A pacífica 
jurisprudência do STJ é no sentido de que a inscrição indevida em cadastro 
negativo de crédito, bem como o protesto indevido, caracterizam, por si sós, 
dano in reipsa, o que implica responsabilização por danos morais. (...) (STJ - 
AREsp: 634910 SP 2014/0332725-8, Relator: Ministro RAUL ARAÚJO, Data de 
Publicação: DJ 09/04/2015) (grifei). 
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ATRASO DE 
VÔO INTERNACIONAL - APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO 
CONSUMIDOR EM DETRIMENTO DAS REGRAS DA CONVENÇÃO DE 
VARSÓVIA. DESNECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DO DANO. 
CONDENAÇÃO EM FRANCO POINCARÉ - CONVERSÃO PARA DES - 
POSSIBILIDADE - RECURSO PROVIDO EM PARTE. 1 - A responsabilidade 
civil por atraso de vôo internacional deve ser apurada a luz do Código de Defesa do 
Consumidor, não se restringindo as situações descritas na Convenção de Varsóvia, 
eis que aquele, traz em seu bojo a orientação constitucional de que o dano moral é 
amplamente indenizável. 2. O dano moral decorrente de atraso de vôo, 
prescinde de prova, sendo que a responsabilidade de seu causador opera-se , in 
reipsa, por força do simples fato da sua violação em virtude do desconforto, da 
aflição e dos transtornos suportados pelo passageiro.3 - Não obstante o texto 
Constitucional assegurar indenização por dano moral sem restrições quantitativas e 
do Código de Defesa do Consumidor garantir a indenização plena dos danos 
causados pelo mau funcionamento dos serviços em relação ao consumo, o pedido 
da parte autora limita a indenização ao equivalente a 5.000 francos poincaré, cujos 
precedentes desta Egrégia Corte determinam a sua conversão para 332 DES 
(Direito Especial de Saque). 4 - Recurso Especial conhecido e parcialmente 
provido.(STJ - REsp: 299532 SP 2001/0003427-6, Relator: Ministro Honildo 
Amaral De MelloCastro (desembargador convocado do TJ/AP), Data de 
Julgamento: 27/10/2009, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: -->DJe 
23/11/2009) (grifei) 
Tartuce defende que seria até grotesco exigir-se a prova das lágrimas vertidas ou a 
realização de prova pericial psicológica para comprovar o sofrimento íntimo da vítima 
decorrente da violação de seus bens personalíssimos.29 
Todavia, não se pode confundir o dano moral com meros aborrecimentos do 
cotidiano, vividos pelo homem médio. De forma que tanto o humano frio e insensível quando 
aquele com os sentimentos a flor da pele não podem ser usados de parâmetro para a 
configuração do dano moral. 
Carlos Roberto Gonçalves complementa: “Do mesmo modo, não se incluem na 
esfera do dano moral certas situações que, embora desagradáveis, mostram-se necessárias ao 
desempenho de determinadas atividades, como, por exemplo, o exame de malas e bagagens 
de passageiros na alfândega.”30 Dessa maneira, situações diárias que causam pequenos 
dissabores não são suficientes para a reparação civil, devendo a lesão ser extraordinária. 
2.3. Natureza Jurídica do Dano Moral 
 
29 TARTUCE, Flávio. Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil. 12. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2016. p. 298. 
30 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 15. Ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 501. 
25 
 
Para parte da doutrina, além da função principal reparatória, que é ligado à vítima, há 
também a natureza punitiva da indenização, por sua vez direcionada ao ofensor. Nas lições de 
Carlos Roberto Gonçalves ao mesmo tempo em que a reparação do dano moral serve para 
atenuar o dano sofrido pela vítima, também atua no sentido de desestimular que o ofensor 
volte a praticar tais atos lesivos à personalidade de outrem. 
Melo também assevera que o dano moral visa compensar a vítima pelos infortúnios a 
que tenha sido submetida, ofertando-lhe uma soma em dinheiro que lhe possa trazer 
satisfações; e punir o ofensor que, sofrendo os efeitos da condenação e a consequente 
diminuição de seu patrimônio, será desestimulado da reiteração.31 
Também há a possibilidade de uma terceira natureza jurídica: pedagógica. Que 
sustenta na necessidade de coibir novas condutas, mas esse caráter só existe se acompanhado 
do principal. 
Pereira afirma que na responsabilidade civil estará presente uma finalidade punitiva 
ao infrator aliada a uma necessidade que eu designo como pedagógica, a que não é estranha a 
ideia de garantia para a vítima, e de solidariedade que a sociedade humana lhe deve prestar.32 
Acerca do assunto Tartuce assevera que deve ser feito o alerta que esse caráter 
disciplinador, pedagógico ou educativo (acessório) somente será possível quando cabível for a 
reparação (principal).33 
Na jurisprudência brasileira há julgados que se filiam tanto na existência apenas do 
caráter punitivo, como também os que admitem o caráter pedagógico da reparação, vejamos: 
RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO PODER PÚBLICO. 
ELEMENTOS ESTRUTURAIS. PRESSUPOSTOS LEGITIMADORES DA 
INCIDÊNCIA DO ART. 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. 
TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO. FATO DANOSO PARA O 
OFENDIDO, RESULTANTE DE ATUAÇÃO DE SERVIDOR PÚBLICO NO 
DESEMPENHO DE ATIVIDADE MÉDICA. PROCEDIMENTO EXECUTADO 
EM HOSPITAL PÚBLICO. DANO MORAL. RESSARCIBILIDADE. DUPLA 
FUNÇÃO DA INDENIZAÇÃO CIVIL POR DANO MORAL (REPARAÇÃO-
SANÇÃO): (a) CARÁTER PUNITIVO OU INIBITÓRIO ("EXEMPLARY 
OR PUNITIVE DAMAGES") E (b) NATUREZA COMPENSATÓRIA OU 
REPARATÓRIA. DOUTRINA. JURISPRUDÊNCIA. AGRAVO IMPROVIDO. 
(...) Impende assinalar, de outro lado, que a fixação do quantum pertinente à 
condenação civil imposta ao Poder Público - presentes os pressupostos de fato 
soberanamente reconhecidos pelo Tribunal a quo - observou, no caso ora em 
análise, a orientação que a jurisprudência dos Tribunais tem consagrado no exame 
do tema, notadamente no ponto em que o magistério jurisprudencial, pondo em 
destaque a dupla função inerente à indenização civil por danos morais, enfatiza, 
quanto a tal aspecto, a necessária correlação entre o caráter punitivo da obrigação 
de indenizar ("punitivedamages"), de um lado, e a natureza compensatória referente 
ao dever de proceder à reparação patrimonial, de outro. (...) Publique-se.Brasília, 
 
31MELO, Nehemias de. Op. Cit. p. 108. 
32 PEREIRA, Caio Mario Silva. Responsabilidade Civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018. p. 14. 
33 TARTUCE, Flávio. Op. Cit. p. 428. 
26 
 
11 de outubro de 2004.Ministro CELSO DE MELLO Relator(STF - AI: 455846 RJ, 
Relator: Min. CELSO DE MELLO, Data de Julgamento: 11/10/2004, Data de 
Publicação: DJ 21/10/2004 PP-00018 RDDP n. 22, 2005, p. 160-163) 
DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. HOSPITAL. AÇÃO DE 
INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. ERRO MÉDICO. SEQÜELAS ESTÉTICAS E 
PSICOLÓGICAS PERMANENTES. CONJUNTO PROBATÓRIO. MONTANTE 
INDENIZATÓRIO. RAZOABILIDADE. SÚMULA 7/STJ. 
PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. 
OMISSÃO E CONTRADIÇÃO INEXISTENTES. - Rejeitam-se os embargos de 
declaração quando inexistentes qualquer omissão, obscuridade ou contradição na 
decisão embargada. - O prequestionamento dos dispositivos legais tidos como 
violados constitui requisito de admissibilidade do recurso especial. - É defeso o 
reexame de provas em sede de recurso especial. - Na revisão do valor arbitrado a 
título de dano moral não se mensura a dor, o sofrimento, mas tão-somente se avalia 
a proporcionalidade do valor fixado ante as circunstâncias verificadas nos autos, o 
poder econômico do ofensor e o caráter educativo da sanção. Recurso especial 
não conhecido.(STJ - REsp: 665425 AM 2004/0068236-3, Relator: Ministra 
NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 26/04/2005, T3 - TERCEIRA 
TURMA, Data de Publicação: --> DJ 16/05/2005 p. 348) 
Portanto, ainda não há um entendimento pacífico na jurisprudência sobre a existência 
ou não da natureza punitiva e pedagógica da reparação dos danos morais. 
2.4. Fixação do valor do dano moral 
A fixação do valor a ser pago a título de danos morais é uma preocupação latente no 
mundo jurídico, visto que, a quantidade demandas nesse sentido tem aumentado 
exponencialmente e ainda não há uma “fórmula” segura para sua estimação. 
Houve um tempo em que, devido à falta de critérios, eram utilizados os que estavam 
dispostos no Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei n. 4.117/62), este diploma foi o 
primeiro que previu a reparação dos danos moraise fixava os valores entre 05(cinco) e 10(dez) 
salários mínimos levando em consideração as circunstâncias e grau de culpa do agente, por 
exemplo. 
Posteriormente esses dispositivos foram revogados, porém ainda assim a Lei de 
Imprensa (Lei n. 5.250/1967) fixou em 20 (vinte) salários mínimos o teto das indenizações, 
parâmetro que foi utilizado por muito tempo nas decisões. 
Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves: 
Algumas recomendações da revogada Lei de Imprensa, feitas no art. 53, continuam a 
ser aplicadas na generalidade dos casos, por integrarem o repertório jurisprudencial, 
como a situação econômica do lesado; a intensidade do sofrimento; a gravidade, a 
natureza e a repercussão da ofensa; o grau de culpa e a situação econômica do ofensor, 
bem como as circunstâncias que envolveram os fatos.34 
Como visto a jurisprudência, por falta de critérios, ainda utiliza os dispostos em 
legislações mesmo já revogadas. Tartuce expõe que 
 
34 GONÇALVES, Carlos Roberto. Op. Cit. p. 516. 
27 
 
Na esteira da melhor doutrina e jurisprudência, na fixação da indenização por danos 
morais, o magistrado deve agir com equidade, analisando:a extensão do dano, as 
condições socioeconômicas e culturais dos envolvidos, as condições psicológicas 
das partes e o grau de culpa do agente, de terceiro ou da vítima.35 
Ainda, afirma que “qualquer tentativa de tarifação ou tabelamento dos danos morais, 
mesmo que por lei, é inconstitucional”.36 
Nesse mesmo sentido é o enunciado n. 550, aprovado na VI Jornada de Direito Civil 
(2013): “A quantificação da reparação por danos extrapatrimoniais não deve estar sujeita a 
tabelamento ou a valores fixos”. 
Assim sendo, caberá ao juiz decidir os critérios a serem utilizados e arbitrar com base 
na razoabilidade e proporcionalidade o valor a ser pago na indenização. 
Melo leciona que: 
O princípio da lógica e do razoável deve ser a bússola norteadora do julgador. 
Pautando-se por eles, acreditamos que restarão afastadas as decisões que fixam 
valores ínfimos, bem como as que fixam os valores em patamares que extrapolam o 
limite do bom-senso.37 
Essa liberdade do julgador ao definir o quantum somado ao crescimento de ações 
repetitivas visando a reparação por dano moral, e o medo do nascimento de uma “indústria do 
dano moral”, tem gerado um “tabelamento” informal dos valores arbitrados, não sendo mais 
levado em consideração o caso concreto, a pessoa como ser individual. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 TARTUCE, Flávio. Op. Cit. p. 558. 
36 Ibidem. p. 556. 
37MELO, Nehemias de. Op. Cit. p. 117. 
28 
 
CAPITULO III 
BANALIZAÇÃO DAS DECISÕES 
3.1. Danos Morais Em Números 
A partir da promulgação da Constituição Federal toda dúvida acerca da possibilidade 
da reparação do dano moral foi dirimida, e juntamente com a possibilidade de propositura de 
tais ações a Constituição Federal trouxe consigo o princípio do acesso à justiça, disposto no 
art. 5º, XXXV: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a 
direito”. Além da possibilidade da justiça gratuita àqueles que não possuem condições de 
arcar com custas processuais sem prejuízo de seu sustento, dentre outros princípios que 
facilitam o acesso à justiça. 
Ainda, vivemos numa época em que as informações correm em uma rapidez 
imensurável e cada vez mais as pessoas estão informadas. Há uma midiatização do direito em 
constante crescimento, órgãos do Governo possuem páginas nas redes sociais, muito dos 
juristas possuem blogs informativos, e a maioria das publicações são realizadas com palavras 
simples que facilita o entendimento pela maior parte da sociedade. Vejamos: 
Imagem 1 – Informações sobre o direito do consumidor. 38 
 
Fonte: Fanpage do facebook do Senado Federal 
 
38 Informação, Senado Federal, 15 jun. 2018. Disponível em <encurtador.com.br/lMP19> Acesso em 20 jun. 
2018 
29 
 
Essa facilidade de acesso à informação e a previsão dos princípios constitucionais 
que facilitam o acesso à justiça resultou em um aumento exponencial na quantidade de ações 
que são propostas no judiciário. 
Segundo informações do CNJ a quantidade de casos novos relativos ao assunto 
“Indenização por Dano Moral” em 2014 foi de 2.573.063 processos, por sua vez, em 2016 
esse número chegou em 6.624.53039, ou seja, houve um aumento de aproximadamente 157%. 
Para ilustração do assunto, de acordo com um demonstrativo divulgado pelo CNJ 
acerca dos assuntos mais demandados nos Tribunais, percebe-se que o dano moral está em 
segundo lugar dentre os processos cíveis. 
Imagem 3 – Assuntos que possuem maior demanda nos Tribunais brasileiros.40 
 
Em relação à Justiça Estadual os processos relativos à Indenização por Dano Moral 
ocupam a segunda colocação. Sobre esse aumento: 
Para a ministra Nancy Andrighi, do STJ, esse aumento é reflexo do amadurecimento 
da sociedade brasileira, cada vez mais consciente dos seus direitos e da necessidade 
de vê-los reconhecidos. Segundo ela, é natural que alguns se excedam, sobretudo até 
que se estabeleçam os limites do que é razoável ser indenizado. Cabe ao Judiciário, 
através de suas decisões, fixar esses limites.41 
Consequência lógica desse aumento é a morosidade da justiça e o descrédito pela 
dificuldade de ver as tutelas resolvidas. O acesso ao judiciário tem se tornado cada dia menos 
burocrático devido às prerrogativas constitucionais, mas esse grande aumento no número de 
 
39Conselho Nacional de Justiça. Justiça em Números. Disponível em <encurtador.net/bwBDZ> Acesso em 
16/06/2018. 
40Conselho Nacional de Justiça. Justiça em Números indica temas mais demandados nos tribunais. 
Disponível em <http://www.cnj.jus.br/t4bk> Acesso em 16/06/2018. 
41
Nancy Andrighi Apud Verônica Vilas Boas. ARAUJO. Verônica Vilas Boas de. Indústria do Dano Moral. 
2013. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito). Universidade do Estado de Mato Grosso. 
Cáceres, 2013. p. 23. 
30 
 
processos e a falta de estrutura do judiciário que não cresce na mesma proporção dificulta a 
saída, ou seja, a duração do processo é muito grande, podendo levar anos para que seja 
resolvido definitivamente. 
Portanto, como exposto, atualmente há um crescimento na propositura das ações 
relativas à indenização por dano moral, em uma quantidade que a atual estrutura judiciária 
não está preparada. 
3.2. Análise de um Possível Tabelamento nas Decisões 
Outra consequência desse aumento na quantidade de processos é que as decisões 
acabem por definir os valores a serem pagos a determinados tipos de ações, levando em 
consideração apenas o assunto tratado e não as peculiaridades de cada caso. 
Aparentemente não existe uma tabela de valores, que obriguem o magistrado a 
seguir, visto que o ordenamento dá liberdade para que ele decida de acordo com o livre 
convencimento, a partir das provas e os fatos trazidos no processo. Por essa razão o valor do 
dano moral não é fixo e varia em cada caso, ou ao menos deveria variar. 
Todavia, não é o que as jurisprudências do Tribunal de Justiça de Mato Grosso 
demonstram, conforme exposto a seguir, há um “costume” em definir valores parecidos para 
casos parecidos, utilizando o termo “casos análogos”. Vejamos: 
APELAÇÃOCÍVEL – AÇÃODECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIADÉBITOC/C 
INDENIZAÇÃO POR DANOSMORAIS – SERVIÇOS DE TELEFONIA NÃO 
CONTRATADOS PELO AUTOR – COBRANÇA E NEGATIVAÇÃO DO NOME 
DO AUTOR INDEVIDAS - FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO 
COMPROVADA – DEVER DE INDENIZAR CONFIGURADO - 
RESPONSABILIDADE OBJETIVA – DANO IN RE IPSA – RECURSO 
PROVIDO.1. Diante da falta de comprovação da existência de contrato celebrado 
entre as partes, ou de qualquer relação jurídica entre as mesmas, deve ser declarada a 
inexistência da dívida em questão.2. Não há como deixar de reconhecer que a 
cobrança de valores sem que o serviço tenha sido contratado, com a consequente 
inscrição do nome do autor nos órgãos restritivos de crédito, importa em ato ilícito 
perpetrado pela Apelada, o que enseja o dever de indenizar.3. Porém, no que tange à 
fixação do quantum, é cediço que o julgador deve observar a capacidade econômica 
das partes, bem como os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, visto 
que o valor da indenização deve ser fixado em parâmetro que a dê caráter 
pedagógico, desestimulando a reiteração da conduta ilícita, mas que não leve o 
devedor a bancarrota.4. No caso, dada às peculiaridades do caso concreto, o 
quantum deve ser fixado no montante equivalente ao usualmente adotado pela 
Câmara em casos análogos (negativação indevida), qual seja, de R$ 10.000,00 
(dez mil reais), com incidência de juros a partir do evento danoso (Súmula 54 do 
STJ) e da correção monetária a partir do arbitramento (Súmula362 do STJ), tendo 
em vista tratar-se de relação extracontratual. (Ap 151989/2017, DESA. SERLY 
MARCONDES ALVES, QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO, Julgado 
em 07/02/2018, Publicado no DJE 09/02/2018) (grifei). 
REMESSA NECESSÁRIA (DE OFÍCIO) – RECURSOS DE APELAÇÃO CÍVEL 
– AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS – PRELIMINAR – ILEGITIMIDADE 
PASSIVA – OBRA EXECUTADA EM RODOVIA ESTADUAL MT-480 – 
REJEITADA – MÉRITO – ACIDENTE DE TRÂNSITO – OBRA NÃO 
31 
 
SINALIZADA – DANO FÍSICO COMPROVADO – INCAPACIDADE 
PERMANENTE – RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO – 
CONFIGURAÇÃO – VALOR DO DANOMORAL - REDUZIDO – DANO 
ESTÉTICO – MAJORAÇÃO – PENSÃO VITALÍCIA – MANUTENÇÃO – 
JUROS E CORREÇÃO – RETIFICAÇÃO – RECURSO DA AUTORA 
PARCIALMENTE PROVIDO – RECURSO DO ESTADO PARCIALMENTE 
PROVIDO – SENTENÇA PARCIALMENTE RETIFICADA.Os acidentes 
ocorridos por falta de sinalização das rodovias estaduais com obras públicas 
caracterizam ato omissivo do Estado, razão pela qual não há que se falar em 
ilegitimidade passiva.O Código de Trânsito Brasileiro estabelece que o ente público 
é responsável pela manutenção e sinalização adequada das rodovias, devendo afixar 
sinalização específica e adequada nas vias em obras.As provas dos autos 
demonstram que a via onde ocorreu o acidente que ocasionou danos físicos à autora 
não possuía sinalização adequada, devendo, portanto, o Estado ser responsabilizado. 
Os danosmorais devem ser reduzidos para R$ 20.000,00 (vinte mil reais), 
levando-se em consideração o critério adotado para casosanálogos, e por se 
mostrar razoável e adequado para compensar o sofrimento causado a autora, e para 
desestimular a repetição da conduta por parte do Estado.A reparação pelo dano 
estético é destinada a cobrir a ofensa ao natural, diretamente ligada à imagem 
pessoal, que no presente caso deve ser majorada, levando-se em consideração que o 
dano ocorreu na face, cuja deformidade prejudica sua vida social e afetiva.O 
pagamento de pensão mensal decorrente do acidente é devido àquele que comprovar 
a incapacidade permanente para o exercício de atividades laborais, no valor de um 
salário mínimo, àqueles que não comprovarem o exercício em atividade 
remunerada.(Apelação / Remessa Necessária 59175/2017, DESA. ANTÔNIA 
SIQUEIRA GONÇALVES, SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO E 
COLETIVO, Julgado em 29/08/2017, Publicado no DJE 03/10/2017) (grifei). 
Percebe-se que há uma padronização das decisões, ou seja, o parâmetro 
utilizado para fixar o quantum indenizatório não é mais o dano sofrido pela vítima, mas sim 
casos análogos que já foram julgados anteriormente, desconsiderando as particularidades de 
cada caso. 
Apenas a titulo de curiosidade a Lei 13.467/2017, que alterou a CLT, incluiu os 
artigos 223-A ao 223-G que tratam do dano extrapatrimonial, os referidos artigos definem os 
titulares, quais são as violações que ensejam essa reparação e em especial o art. 223-G traz os 
aspectos a serem considerados para definir a reparação, e ainda, o §1º do referido artigo traz 
os parâmetros de valores a serem observados de acordo com a gravidade da ofensa. 
A atual legislação trabalhista cria, de certa forma, um tabelamento do quantum a ser 
arbitrado nas indenizações de dano extrapatrimonial e também estabelece um teto para essas 
indenizações, qual seja, 50 salários mínimos. E vêm sofrendo muitas críticas por parte dos 
magistrados, sob o argumento de que tira o exercício da jurisdição do magistrado. 
A Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), de acordo com 
notícia veiculada pelo STF defende que “A restrição ao ofício judicante viola a independência 
dos juízes para julgar as causas e aplicar a lei de acordo com o texto constitucional e com suas 
32 
 
convicções”42. Portanto, a legislação trabalhista tem sofrido resistência dos magistrados por 
tabelar o valor que pode ser arbitrado de acordo com a lesão sofrida, criando um tabelamento. 
No cenário dos danos morais, o STJ ocupa um espaço importante de fazer o controle 
do valor estipulado para evitar que haja um enriquecimento ilícito ou que seja 
demasiadamente baixo. Araújo expõe que as decisões do STJ, além de servir como corretivo 
da decisão contraditada serve como paradigma a ser seguido pelos outros tribunais, de forma a 
uniformizar a jurisprudência nacional. Porém assevera que atribuir essa competência ao STJ 
seria o mesmo que permitir um tabelamento por parte do STJ, que é combatida sob o 
fundamento da proteção das diferenças entre os cidadãos e a isonomia.43 
Tendo em vista que o STJ não pode apreciar fatos e provas, possuir a 
competência para verificar o valor arbitrado para a reparação do dano moral, um instituto 
extremamente subjetivo, que leva em consideração particularidades de cada caso é um tanto 
complicado, podendo gerar um verdadeiro tabelamento. 
3.3. Indústria Reversa do Dano Moral 
O crescimento no pleito de indenizações por dano moral acarretou no mundo jurídico 
o nascimento do termo “indústria do dano moral” ou ainda “banalização do dano moral”, 
fazendo crer que tais processos são na verdade uma máquina de enriquecimento ilícito, vez 
que não há na maioria das vezes um dano moral e sim um mero aborrecimento. 
Venuto estabelece que “O dano moraltransformou-se numa verdadeira indústria, com 
inúmeras formulações de pedidos sem propósito, o que sobrecarrega o já afogado sistema 
judiciário que se mostra ineficiente para acompanhar tamanha quantidade de ações.” 44 
Esse descrédito no dano moral acaba por influenciar os julgadores em suas decisões, 
que muitas vezes utilizam do termo “mero aborrecimento” em casos em que há o dano moral 
evidente. Vejamos: 
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E 
MORAIS - ATRASO DO BANCO NO ENVIO DE DOCUMENTO NECESSÁRIO 
À TRANSFERÊNCIA DO VEÍCULO - MULTA GERADA PELO DETRAN - 
ABALO MORAL NÃO COMPROVADO - ÔNUS DA PARTE AUTORA - 
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS MANTIDOS - RECURSO DESPROVIDO. 
A má prestação de serviços pela instituição financeira por si só é insuficiente para 
configurar o danomoral, tampouco meros transtornos, incômodos ou aborrecimentos 
conduzem ao seu reconhecimento. Tal direito reserva-se à tutela de fatos graves, que 
 
42 STF. Regras da Reforma Trabalhista sobre indenização por dano moral são questionadas no STF. 
Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=367459> Acesso em 
02/07/2018. 
43 ARAUJO, Verônica Vilas Boas. Op. Cit. p. 27. 
44 VENUTO, Andrey Jabour. A BANALIZAÇÃO DO INSTITUTO DO DANO MORAL. Revista das 
Faculdades Integradas Vianna Junior “Vianna Sapiens”. v. 1. n. 1. Juiz de Fora, 2010. p. 1. 
33 
 
atinjam bens jurídicos relevantes, sob pena de levar à banalização do instituto, 
especialmente quando não há a efetiva demonstração do abalo psicológico sofrido. 
Não cabe a majoração dos honorários advocatícios de sucumbência se observados os 
limites positivados no art. 20, § 3º, do CPC.(Ap 100064/2013, DES. RUBENS DE 
OLIVEIRA SANTOS FILHO, QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO, 
Julgado em 04/06/2014, Publicado no DJE 09/06/2014) 
APELAÇÕES CÍVEIS – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOMORAL – 
TEMPO DE ESPERA EM FILA DE BANCO – ILÍCITO QUE NÃO 
ACARRETA AUTOMATICAMENTE O DIREITO À INDENIZAÇÃO POR 
DANOMORAL– AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE SITUAÇÃO 
EXCEPCIONAL – NÃO CARACTERIZADO - PRIMEIRA APELAÇÃO 
CONHECIDA E PROVIDA - SEGUNDA APELAÇÃO - PLEITO PELA 
MAJORAÇÃO DA INDENIZAÇÃO - PEDIDO PREJUDICADO ANTE A 
REFORMA DA SENTENÇA - SEGUNDO RECURSO CONHECIDO E 
DESPROVIDO. 
A simples demora no atendimento, por si só, não é capaz de ensejar 
automaticamente indenização por dano moral, sendo necessário, portanto, que o 
consumidor comprove que a situação ocasionousofrimento extraordinário, além do 
comum, atingindo diretamente sua personalidade. (Ap 53281/2017, DESA. 
CLEUCI TEREZINHA CHAGAS PEREIRA DA SILVA, TERCEIRA CÂMARA 
DE DIREITO PRIVADO. TJMT, Julgado em 04/10/2017, Publicado no DJE 
17/10/2017) (grifei). 
Basta uma breve pesquisa para encontrar várias matérias narrando que os 
consumidores passam horas esperando para um atendimento, e no cenário globalizado atual 
horas em uma fila certamente não pode ser considerado um “mero aborrecimento”. 
Outro tema discutível, ainda na órbita do direito do consumidor, é acerca das 
decisões que indeferem o pedido de dano moral nos casos de anotação indevida nos órgão de 
proteção ao crédito, caso o consumidor já tenha uma anotação pretérita. Inclusive, o STJ já se 
manifestou sobre o assunto na Súmula 385 que dispõe “Da anotação irregular em cadastro de 
proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral, quando preexistente legítima 
inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.” 
Ora, se o consumidor precisa recorrer ao judiciário para o cancelamento de uma 
anotação indevida não há como se pensar em apenas “mero aborrecimento”, visto que o ato 
ilícito de inscrição indevida permanece ilícito e independente da inscrição legítima anterior. 
Dessa forma, o receio que haja a banalização do instituto pode faz com que diversas 
decisões se tornem injustas, posto que, jurisprudências nesse sentido indiretamente 
incentivam que as empresas continuem com as práticas que desrespeitam o consumidor, já 
que não vêm motivos que os obriguem a mudar tais práticas. 
Porém, acabou por criar uma indústria reversa daquela anteriormente mencionada, 
devido ao tabelamento dos valores nas decisões judiciais. A vítima da lesão extrapatrimonial 
já sabe o valor indenizatório que irá receber, pois já há entendimento pacificado acerca de 
muitos assuntos. 
34 
 
A indústria é “reversa” visto que não se considera por gerar enriquecimento dos 
lesionados, mas sim pelas decisões padronizadas de acordo com o assunto macro do processo, 
e não levando em consideração as peculiaridades de cada caso, como a lei determina. 
É certo que ainda há uma dificuldade de definir parâmetros para os valores a serem 
arbitrados nos processos sem que haja um enriquecimento ilícito ou que seja irrisório, e esse 
aumento exponencial e falta de pessoal no Judiciário dificulta ainda mais. Porém isso não 
pode ser obstáculo para que o direito seja negado a quem faça jus. 
Ainda, o aumento dos processos que visam danos morais não pode ser considerado 
uma banalização do instituto, mas sim que os direitos permanecem sendo violados e que as 
pessoas possuem maior conhecimento dos caminhos que podem ser tomados para que não 
sofram danos sem que sejam reparados. 
Deve-se pensar na aplicação do caráter punitivo-pedagógico no quantum a ser pago, 
para o desestímulo do causador do dano, dado que um valor que seja considerado irrisório a 
este não fará com que suas práticas se modifiquem. Evitando assim, uma banalização do 
instituto não pelo enriquecimento ilícito dos lesionados, mas pelo descrédito dos lesionados 
no poder judiciário. 
Melo propõe que haja um fundo de direitos difusos, destinado a criação de 
propagandas educativas que seja financiado pela condenação dos agentes causadores do dano 
em indenizações. Segundo ele: 
Quanto ao caráter exemplar que a condenação poderia ter, há que se considerar que 
na fixação do quantum, o juiz, além de ponderar os aspectos contidos no binômio 
punitivo-compensatório, deveria adicionar outro componente, qual seja, um plus que 
servisse como advertência de que a sociedade não aceita aquele comportamento e o 
reprime, de tal sorte a melhor mensurar os valores a serem impostos aos infratores 
por danos morais. Nesse particular aspecto, para evitar- se o chamado 
enriquecimento sem causa, esse plus advindo da condenação não seria destinado à 
vítima, mas sim a um fundo de interesses difusos, por exemplo, que poderia utilizar 
os recursos para campanhas educativas. 45 
É uma teoria que deve ser levada em consideração, uma vez que quanto maior a 
indenização (dentro do razoável e proporcional), menor será o índice de reincidência e, além 
disso, parte da indenização não será direcionada para a vítima, mas sim para um fundo 
direcionado a propagandas e programas educativos voltados ao tema, não gerando um 
enriquecimento ilícito. 
Portanto, há formas de evitar que haja o enriquecimento ilícito das vítimas sem que 
haja uma banalização das decisões devido ao tabelamento informal dos valores arbitrados, e 
 
45MELO, Nehemias de. Dano moral – problemática: do cabimento à fixação do quantum. 2. Ed. São Paulo: 
Atlas, 2011. p. 119. 
35 
 
por consequência evitando o crescimento da indústria reversa do dano moral, ou seja, a 
indústria das decisões. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Inicialmente devido à dificuldade de “valorar a dor” a reparação do dano moral não 
era considerada como possível, posteriormente passando a ser considerada ainda não era 
possível sua cumulação com o dano material. Atualmente, é pacificado o entendimento da 
possibilidade de reparação do dano moral e sua cumulação com os danos materiais. 
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, o acesso ao judiciário tem se 
tornado cada vez mais facilitado, o que gerou um aumento na quantidade de ações judiciais 
visando à reparação por danos morais. 
Esse aumento causou um temor da banalização do instituto, fazendo com que 
houvesse um entendimento de determinados valores para determinas ações. Porém, esse 
tabelamento indireto fere o que determina a legislação, que determina que o juiz deverá 
analisar cada caso de acordo com suas particularidades. 
A presente pesquisa monográfica foi pensada e desenvolvida no intuito de analisar a 
existência de uma indústria reversa do dano moral. No decorrer do desenvolvimento da 
pesquisa e para situar o leitor interessado pelo tema, foi abordado vários assuntos em comum 
com o objeto em foco, tais como: o desenvolvimento da responsabilidade civil na sociedade, 
seu contexto legal, conceitos e requisitos, também fora tratado especificamente do dano 
moral, com seus requisitos, natureza jurídica, a problemática da fixação do dano no intuito de 
informar o caro leitor sobre os institutos da responsabilidade civil e dano moral. 
Além desse apanhado conceitual, com maior parte de conceitos doutrinários, foi 
analisada as decisões dos tribunais, em especial do TJ/MT, para demonstrar a existência de 
um tabelamento indireto das decisões, tratado de forma mais aprofunda no terceiro capítulo. 
Também no terceiro capítulo foi tratado de forma específica o tema da presente 
pesquisa monográfica: a existência de uma indústria reversa do dano moral. Trazendo 
jurisprudências e teses doutrinárias acerca do tema.A indústria reversa do dano moral existe a 
partir do momento em que as decisões utilizam como argumento o receio de uma banalização 
37 
 
do dano moral para definir parâmetros de valores tabelados de acordo com o assunto do dano, 
deixando de considerar o caso concreto e as peculiaridades de cada sujeito lesado. 
Com as decisões tabeladas, a vítima já sabe qual valor irá receber de acordo com o 
dano sofrido, o que gera um descrédito no poder judiciário, visto que não há mais um 
julgamento particularizado, conforme demonstraram as jurisprudências trazidas. 
Ora, isso só vem confirmar a banalização do dano moral defendida pelos julgadores 
não existe, mas sim uma banalização das decisões prolatadas. Que por um

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