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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE CÁCERES “JANE VANINI” DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS KARINA AYRES SILVA MOURA INDÚSTRIA REVERSA DO DANO MORAL: A BANALIZAÇÃO DAS DECISÕES ACERCA DO DANO MORAL Cáceres/MT 2018/1 KARINA AYRES SILVA MOURA INDÚSTRIA REVERSA DO DANO MORAL: A BANALIZAÇÃO DAS DECISÕES Monografia apresentada ao Departamento de Ciências Jurídicas como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Direito. Orientador: Prof.ªCintya Leocádio Dias Cunha Cáceres/MT 2018/01 KARINA AYRES SILVA MOURA INDÚSTRIA REVERSA DO DANO MORAL: A BANALIZAÇÃO DAS DECISÕES BANCA EXAMINADORA ______________________________________________ Cintya Leocádio Dias Cunha Departamento de Ciências Jurídicas/UNEMAT Orientadora ________________________________________________ Evely Bocardi de Miranda Departamento de Ciências Jurídicas/UNEMAT Convidada ________________________________________________ Monise Fontes Barreto Convidada Aprovada em: ___ de __________ de 2018. De forma especial, dedico este trabalho aos meus amigos Rafael Massad e Lucas Nascimento (in memoriam 03/06/2017) que sempre me apoiaram, sou eternamente grata a vocês por tudo. AGRADECIMENTOS Devemos aprender a dar o crédito àqueles que contribuíram na nossa construção. Agradeço inicialmente aos meus pais, pelo apoio incondicional durante toda minha vida, sempre dando o impossível para que eu pudesse alcançar meus objetivos, sem vocês esse trabalho não existiria. À minha professora/orientadora, que me auxiliou durante esta pesquisa e tornou esse momento o mais leve possível. Às professoras Evely e Monise que aceitaram fazer parte da banca avaliadora, muito obrigada por fazerem parte desse momento importante. Aos meus amigos, que sempre pacientes comigo tornam a minha vida cada dia mais alegre, vocês são incríveis. Ao Carlos que mesmo de longe esteve ao meu lado durante esse momento emanando boas energias e acreditando em mim. À Martina Correa, Shirley Monroy, Elina Nascimento e Cintya Leocadio, mulheres que mesmo sem saber me inspiram diariamente e contribuem para meu amadurecimento profissional. Por fim, a todos que de alguma forma contribuíram durante minha trajetória acadêmica e tornaram realidade minha graduação. “Pouco importa às pessoas saber que têm os direitos reconhecidos em princípio, se o exercício deles lhes é negado na prática.” (Francisco Sá Carneiro) RESUMO O ordenamento jurídico brasileiro atual prevê o instituto da responsabilidade civil, que tem por objetivoa reparação do dano causado a outrem. Entretanto, para chegar a responsabilidade civil atual o instituto passou por diversas mudanças de entendimento e previsão legal. Dentre as hipóteses da responsabilidade civil existe o dano moral que é considerado como aquele que atinge o íntimo do ser humano, como os direitos da personalidade. O Dano Moral não possui critérios objetivos para sua caracterização, ficando a cargo do julgador definir se houve um dano ou apenas um mero aborrecimento devido a situações do dia a dia, que todos estão sujeitos, e ainda, sobre o quantum a ser arbitrado. O número crescente de ações visando a indenização por dano moral juntamente com a falta de estrutura do judiciário, que não cresce na mesma proporção, têm dificultado os julgadores a proferir suas decisões de forma correta. Dessa forma, a jurisprudência tem mostrado um tabelamento do quantum estipulado de acordo com a lesão realizada, sob a justificativa de evitar a banalização do instituto. Porém o que está ocorrendo em verdade é a banalização das decisões judiciais, fazendo acontecer uma indústria reversa do dano moral, onde o que ocorre não é um enriquecimento ilícito apontado pelos defensores da “indústria do dano moral”, mas sim um tabelamento cada vez maior dos casos gerando um descrédito das vítimas na prestação jurisdicional. Palavras-chaves: responsabilidade civil; dano moral; banalização; indústria reversa do dano moral. SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 9 CAPÍTULO I-ASPECTOS GERAIS DA RESPONSABILIDADE CIVIL ............................. 11 1.1.Origem da Responsabilidade Civil e seu Desenvolvimento na Sociedade. .................... 11 1.2.Definição da Responsabilidade Civil e Requisitos ......................................................... 13 1.3.Contexto Legislativo e Previsão Atual ........................................................................... 18 CAPÍTULO II -DO DANO MORAL ....................................................................................... 20 2.1.Breves Delineamentos Acerca do Dano Moral. .............................................................. 20 2.2.Configuração e Prova do Dano Moral. ........................................................................... 22 2.3. Natureza Jurídica do Dano Moral .................................................................................. 24 2.4. Fixação do Valor do Dano Moral .................................................................................. 26 CAPÍTULO III -BANALIZAÇÃO DAS DECISÕES ............................................................. 28 3.1. Danos Morais em Números ........................................................................................... 28 3.2. Análise de um Possível Tabelamento das Decisões ...................................................... 30 3.3. Indústria Reversa do Dano Moral .................................................................................. 32 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 38 ANEXOS .................................................................................................................................. 40 9 INTRODUÇÃO A ideia de responsabilidade civil tem início nos primórdios da sociedade, devido o sentimento de proteção pertencente ao ser humano. O instituto da responsabilidade civil, nos moldes atuais, teve início com a Lex Aquilia, posteriormente sofrendo algumas modificações com o Código de Napoleão até chegar à legislação atual. A responsabilidade civil pode ser patrimonial ou extrapatrimonial – conhecida também com dano moral –, a responsabilidade patrimonial visa reparar os danos causados ao patrimônio da vítima, danos que podem ser quantificados de acordo com os prejuízos causados, noutro lado o dano extrapatrimonial tem por objetivo a reparaçãodos danos causados ao íntimo do ser humano, a sua honra, imagem, e todos os direitos tutelados pelos direitos da personalidade. Estes danos, por sua vez, não podem ser quantificados de forma objetiva visto que valorar o dano moral ainda é uma atividade muito difícil. A presente pesquisa monográfica visará analisar, utilizando do método dedutivo, o instituto da responsabilidade civil, com suas mudanças e requisitos, e de forma mais restrita o Dano Moral e a problemática da fixação do quantum indenizatório, de forma que não cause um enriquecimento ilícito para a vítima e nem que gere uma banalização das decisões com o tabelamento do valor, como vem ocorrendo atualmente. Assim, com o referido objetivo, a pesquisa monográfica trabalhará em seu primeiro capítulo com os conceitos e outras informações pertinentes à responsabilidade civil, tratar-se- á de sua origem desde os primórdios da sociedade até o ordenamento jurídico atual, sua definição, com conceitos feitos por doutrinadores e o contexto legislativo em que foi inserida. O segundo capítulo abordaráo Dano Moral como uma espécie de responsabilidade civil, mostrando seus conceitos, a natureza jurídica do instituto e a problemática da fixação do valor a ser arbitrado, com fundamento nas jurisprudências dos Tribunais, em especial do TJ/MT. 10 E, por fim, o terceiro capítulo intitulado “Indústria Reversa do Dano Moral”, irá expora problemática do crescimento exponencial das ações de indenização por dano moral, e devido a isso uma possibilidade de tabelamento do quantum arbitrado, demonstrada por jurisprudências, que vem gerando uma indústria reversa do dano moral, ou seja, uma banalização das decisões, que causa um descrédito por parte da sociedade na prestação jurisdicional. Sendo tais decisões o norteador da presente pesquisa. 11 CAPITULO I ASPECTOS GERAIS DA RESPONSABILIDADE CIVIL 1.1.Origem da Responsabilidade Civil e seu desenvolvimento na sociedade A ideia de reparação existe desde os primórdios, uma vez que, faz parte da natureza do ser humano cuidar de si e de seu patrimônio e protegê-los dos demais. Assim, quando algo atinge seu patrimônio e o modifica busca-se que ele seja reparado para retornar ao status quo. Durante a evolução da sociedade, essa busca pela reparação passou por diversas modificações, inicialmente levando em consideração apenas o dano causado, independente da culpa do agente. Gonçalves aponta que “Nos primórdios da humanidade, entretanto, não se cogitava do fator culpa. O dano provocava a reação imediata, instintiva e brutal do ofendido. Não havia regras nem limitações. Não imperava, ainda, o direito.”1Nesse sentido, imperava a vingança privada. Exemplo disso é a famosa Lei do Talião, na qual um dano deveria ser retribuído com outro. Porém, com o acelerado crescimento econômico, passa-se a buscar a retribuição econômica dos danos sofridos. Moltocaro e Tamaoki apontam que a partir da Lei Aquilia é extraída a culpa como fator da responsabilidade civil2, e expõem o pensamento de Maria Helena Diniz: A Lex Aquilia de damno veio a cristalizar a ideia de reparação pecuniária do dano, impondo que o patrimônio do lesante suportasse os ônus da reparação, em razão do valor da res, esboçando-se a noção de culpa como fundamento da responsabilidade, de tal sorte que o agente se isentaria de qualquer responsabilidade se tivesse procedido sem culpa. Passou-se a arbitrar o dano à conduta culposa do agente.3 Venosa leciona que “O sistema romano de responsabilidade extrai da interpretação da Lex Aquilia o princípio pelo qual se pune a culpa por danos injustamente provocados, 1GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 15. Ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 47 2 MOLTOCARO, Thaiane Martins; TAMAOKI, Fabiana Junqueira; Responsabilidade Civil: Da evolução histórica ao estudo do dano moral. Revista Jurídica Direito, Sociedade e Justiça. v. 1 n. 1, 2014. p. 6. Disponível em < https://periodicosonline.uems.br/index.php/RJDSJ/article/view/678> Acesso em 09 jul. 2018. 3 Maria Helena Diniz Apud Moltocaro e Tamaoki, Op. Cit. p. 6. 12 independente da relação processual preexistente”.4 Passa-se então a levar em consideração a culpa do agente e não mais só o dano provocado. Posteriormente, surge o Código de Napoleão, após a Revolução Francesa, e trouxe influências para a responsabilidade civil. Diniz afirma que o Código de Napoleão influencioua construção da doutrina francesa, e os Códigos Modernos devem a ele os ensinamentos da Teoria da responsabilidade civil.5 Para o doutrinador Carlos Roberto Gonçalves: A noção da culpa in abstracto e a distinção entre culpa delitual e culpa contratual foram inseridas no Código de Napoleão, inspirando a redação dos arts. 1.382 e 1.383. A responsabilidade civil se funda na culpa - foi a definição que partiu daí para inserir-se na legislação de todo o mundo6 O Código francês passou a prever a responsabilidade extracontratual e diferenciar a responsabilidade civil da responsabilidade penal. Acerca da influência do Código Napoleônico no ordenamento jurídico brasileiro, Souza assevera: O artigo 159 do nosso Código anterior se abeberou no modelo napoleônico, prevalecendo a teoria subjetiva da culpa provada, para aferir a responsabilidade civil extracontratual, o que se mantém até hoje, ainda que de forma bastante atenuada, como se pode perceber pela leitura do parágrafo único do artigo 927.7 Com a grande expansão industrial, atualmente uma nova teoria vem ganhando força, a chamada “teoria do risco”, com objetivo de proteger cada vez mais as vítimas. Deacordo com essa teoria, em determinados casos como acidente de trabalho, o trabalhador terá direito a indenização independe da culpa do empregador, em razão das atividades realizadas. Segundo Gonçalves: A realidade, entretanto, é que se tem procurado fundamentar a responsabilidade na ideia de culpa, mas, sendo esta insuficiente para atender às imposições do progresso, tem o legislador fixado os casos especiais em que deve ocorrer a obrigação de reparar, independentemente daquela noção.8 O campo da responsabilidade civil está em constante mudança, de acordo com o desenvolvimento da sociedade, visto que a reparação do dano causado mexe com a essência de justiça que o ser humano carrega. Neto afirma que o foco atual da responsabilidade civil, pelo que se percebe da sua evolução histórica e tendências doutrinárias, têm sido no sentido de estar centrada cada vez 4VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 11. Ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 19 5 PEREIRA, Caio Mario Silva. Responsabilidade Civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018. p. 16. 6GONÇALVES, Carlos Roberto. Op. Cit. p. 48 7 SOUZA, Sylvio Capanema de. O Código Napoleão e Sua Influência do Direito Brasileiro. Revista da Escola de Magistratura do Rio de Janeiro. v. 7. n. 26, 2004. p. 47. Disponível em < http://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista26/revista26_36.pdf> Acesso em 09 jul. 2018. 8GONÇALVES, Carlos Roberto. Op. Cit. p. 49. 13 mais no imperativo de reparar um dano do que na censura do seu responsável. 9 Dessa forma, como demonstrado, a Responsabilidade Civil visa reparar o dano causado ao indivíduo, seja no seu patrimônio ou a sua moral. 1.2.Definição da Responsabilidade Civil e Requisitos. Nader afirma que o vocábulo responsabilidade provém do verbo latino respondere, de spondeo, que significa garantir, responderpor alguém, prometer. No Direito Quiritário, o devedor se obrigava perante o credor, nos contratos verbais, respondendo à sua indagação com a palavra spondeo (prometo).10 Assim, a Responsabilidade Civil é instituto que visa garantir que a vítima de uma lesão seja reparada pelo agente causador. Inicialmente, o Direito busca tutelar deveres jurídicos, que podem ser positivos (obrigações de dar e/ou fazer) ou negativos (obrigações de não fazer ou tolerar), além disso, podem atingir a todos indistintamente ou pessoas determinadas. Tais deveres são conhecidos também como obrigação originária, e se violada é transformada em um ilícito, que, por sua vez, praticamente sempre causa dano a outrem, devendo ser reparado. Esta reparação do dano recebe o nome de obrigação sucessiva, a partir daí surge a ideia de responsabilidade civil. Dessa forma, a responsabilidade civil surge como a obrigação de reparar um dano causado devido à transgressão de uma obrigação originária. Conforme Cavalieri Filho sintetiza: [...] responsabilidade civil é um dever jurídico sucessivo que surge para recompor o dano decorrente da violação de um dever jurídico originário. Só se cogita, destarte, de responsabilidade civil onde houver violação de um dever jurídico e dano. Em outras palavras, responsável é a pessoa que deve ressarcir o prejuízo decorrente da violação de um precedente dever jurídico. E assim é porque a responsabilidade pressupõe um dever jurídico preexistente, uma obrigação descumprida.11 No atual Código Civil é possível perceber a diferenciação entre a responsabilidade e a obrigação feita pelo legislador no art. 389, quando determina que se não cumprida a obrigação, responderá o devedor em perdas e danos. Este dispositivo é aplicável tanto nas relações contratuais, quando as extracontratuais. Para que dê ensejo à responsabilidade civil é necessário preencher alguns requisitos: conduta culposa do agente, nexo de causalidade e dano. Caso preencha esses requisitos, será 9 NETO, Eugênio Facchini. Da Responsabilidade Civil no Novo Código. Revista TST. Brasília, vol. 76, n. 1, jan/mar 2010. p. 20. Disponível em < https://hdl.handle.net/20.500.12178/13478> Acesso em 09 jul. 2018. 10 NADER, Paulo. Responsabilidade Civil. 6. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 6. 11CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 10. Ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 2 14 configurada a responsabilidade civil subjetiva. Porém, também há a responsabilidade civil objetiva, aplicável no dano praticado pelo Estado por meio de seus agentes e nas relações de consumo (tanto a responsabilidade pelo fato do produto ou serviço como a oriunda do vício do produto ou serviço), nesta modalidade o elemento culpa não é levado em consideração, sendo necessário apenas que haja a conduta do agente, o dano, e o nexo causal entre eles. É imprescindível a análise dos requisitos que ensejam a responsabilidade civil para entender o instituto. Cavalieri Filho aponta que Há primeiramente um elemento formal, que é a violação de um dever jurídico mediante conduta voluntária; um elemento subjetivo, que pode ser o dolo ou a culpa; e, ainda, um elemento causal-material, que é o dano e a respectiva relação de causalidade.12 A conduta pode ser uma ação ou omissão, na maioria das vezes, a responsabilidade é ensejada por uma ação do agente, uma conduta positiva, como a destruição de coisa alheia, lesão física ou moral realizada a outrem, mas também pode ocorrer devido a uma omissão, nos casos em que o agente tinha o “dever jurídico de agir” e não o faz. Dessa forma a conduta omissiva só pode ser caracterizadora da responsabilidade civil se parte de alguém que tinha o dever legal de agir ou impedir que o dano ocorresse, por exemplo, somente os pais possuem o dever de impedir que seus filhos cometam um dano a outrem. Além disso, em regra só responde pelo dano aquele que lhe deu causa, ou seja, somente a conduta própria pode ser responsabilizada. Porém, a lei determina casos em que é possível a imputação do dano a alguém pela conduta de terceiro quando o responsável esta ligado ao causador do dano por um dever de guarda, vigilância e cuidado. Como os pais em relação aos filhos, o empregador em relação ao empregado, etc., conforme determina os art. 932 e 936 até 938 do Código Civil. Seja a conduta comissiva ou omissiva, para que dê ensejo a responsabilidade civil, ela deve ser imputável, ou seja, deve haver a possibilidade de atribuir ao agente a responsabilidade por seus atos. De acordo com Nader, após a caracterização do ato ilícito, deve-se realizar a pesquisa da imputabilidade, ou seja, da pessoa responsável pela reparação dos prejuízos. O termo 12CAVALIERI FILHO, Sérgio. Op. Cit. p. 19. 15 “imputabilidade” pode ser considerado em dois sentidos: como referência ao autor material do fato ou à pessoa que responde por danos causados a alguém.13 Para que um agente possa ser imputável ele deve possuir capacidade mental para discernir seus atos, uma vez que, diferente da responsabilidade penal, no direito civil, o fato do agente não ter atingido a maioridade não impede que este receba a imputação do dano causado, caso seja menor de 16 anos, caberá aos seus responsáveis a reparação do dano. Gonçalves aponta que: Somente os maiores de 18 anos são responsáveis, civil e criminalmente, por seus atos. Admite-se, porém, no cível, que os menores de 18 anos sejam também responsabilizados, de modo equitativo, se as pessoas encarregadas de sua guarda ou vigilância não puderem fazê-lo, desde que não fiquem privados do necessário (art. 928, parágrafo único).14 Outro requisito para que seja caracterizado à responsabilidade civil, é que a conduta realizada pelo agente seja com culpa, ou seja, uma ação intencional para a prática do dano. O ser humano possui o Dever de Cuidado Objetivo, que nada mais é que agir com precaução para não causar dano a outras pessoas. Em outras palavras, conforme Sérgio Cavalieri expõe: “Exprime um juízo de reprovabilidade sobre a conduta do agente, por ter violado o dever de cuidado quando, em face das circunstâncias específicas do caso, devia e podia ter agido de outro modo.” 15Assim, há alguns elementos para que a conduta seja considerada culposa: a) conduta voluntária e resultado involuntário; b) previsão ou previsibilidade; c) falta de cuidado, cautela, atenção ou diligência. A culpa, em seu sentido, é sempre a mesma independente da sua intensidade. Porém, ela pode ter diferentes gravidades de acordo com o dano causado. O doutrinador Cavalieri Filho diferencia a culpa em grave, leve e levíssima. A culpa grave é aquela cometida com o grau de descuido maior que o esperado pelo homem médio, conhecida como a culpa com previsão do resultado. A culpa leve, por sua vez, é quando o dano poderia ser evitado se houvesse maior atenção por parte do agente. Por fim, a levíssima ocorre quando esta ausente os conhecimentos específicos para que se evitasse o dano. Porém, independente dessa diferenciação, pouco importa o grau da culpa que o agente teve para fins de indenização. Basta haver culpa para que haja a obrigação de indenizar, o que irá diferenciar é o quantum indenizatório. 13 NADER, Paulo. Op. Cit. p. 10. 14 GONÇALVES, Carlos Roberto. Op. Cit. p. 58. 15 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Op. Cit. p. 34. 16 Tartuce define a culpa como o desrespeito a um dever preexistente, não havendo propriamente uma intenção de violar odever jurídico, que acaba sendo violado por outro tipo de conduta.16Assim, quando o agente desrespeita um dever seja qual intensidade, estará sujeito a responsabilização dos danos causados. Outro requisito de extrema importância para a caracterização da responsabilidade civil é o nexo causal, visto que, antes de decidir se houve ou não culpa por parte do agente, é necessário verificar se existe relação de causalidade entre sua conduta e o dano. Conforme leciona Caio Mario: Não basta que o agente haja procedido contra direito, isto é, não se define a responsabilidade pelo fato de cometer um “erro de conduta”; não basta que a vítima sofra um “dano”; que é o elemento objetivo do dever de indenizar, pois se não houver um prejuízo a conduta antijurídica não gera obrigação ressarcitória. É necessário se estabeleça uma relação de causalidade entre a injuridicidade da ação e o mal causado.17 Santos, em seu artigo aponta que “O nexo de causalidade é requisito essencial para qualquer espécie de responsabilidade, ao contrário do que acontece com a culpa, que não estar presente na responsabilidade objetiva.”18 Como visto, só é possível caracterizar a responsabilidade civil se houver o nexo causal entre a ação ou omissão do agente e o dano sofrido pela vítima. Apesar do conceito do nexo causal ser simples, a sua verificação não é tão simples assim, sendo alvo de discussão pelos doutrinadores por mais de um século. Dentre as diversas teorias que tentam explicar como verificar o nexo causal, existem três principais que devem ser estudadas: Teoria da equivalência das condições, Teoria da causalidade adequada e a Teoria dos danos diretos e imediatos. A Teoria da equivalência das condições, ou conditio sinequa non, considera todas as condutas que contribuíram para o dano, como causas. Ou seja, se houverem várias condutas que contribuíram, todas serão consideradas como causas para o dano, independente do grau de relevância de tais condutas. Porém, adverte Tartuce: “Essa teoria, não adotada no Brasil, tem o grande inconveniente de ampliar em muito o nexo de causalidade, até o infinito.” 19 Nesse sentido, essa teoria traz grandes riscos, podendo contribuir para resultados catastróficos, por exemplo, 16 TARTUCE, Flávio. Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil. 12. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 360. 17 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Op. Cit. p. 102. 18SANTOS, Pablo de Paula Saul. Responsabilidade civil: origem e pressupostos gerais. Disponível em < http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11875>. Acesso em 15 de Abril de 2018. 19 TARTUCE, Flávio. Op. Cit. p. 371. 17 se ocorrer um acidente de doméstico, o fabricante do material de construção poderia ser responsabilizado, visto que se não o tivesse fabricado não haveria a casa para causar o acidente. A segunda teoria é a chamada Teoria da causalidade adequada, segundo essa teoria a causa é somente a conduta necessária e adequada para causar o resultado. Ou seja, dentre todas as condutas que concorreram para o resultado, causa será a mais adequada para a produção do dano. O problema dessa teoria se encontra na dificuldade de definir qual das condutas é a mais adequada, uma vez que caberá ao julgador se colocar no lugar do agente para definir qual conduta será objeto da responsabilização. A terceira teoria, denominada Teoria dos danos diretos e imediatos defende que será considerada causa somente a que anteceder o fato danoso, e determinasse que o dano é uma conseqüência direta e imediata sua. Dentre as teorias, ainda há divergências doutrinárias acerca de qual delas é adotada pelo atual Código Civil. Há doutrinadores que defendem que é a teoria dos danos diretos e imediatos, como Carlos Roberto Gonçalves: “Das várias teorias sobre o nexo causal, o nosso Código adotou, indiscutivelmente, a do dano direto e imediato, como está expresso no art. 403; e das várias escolas que explicam o dano direto e imediato, a mais autorizada é a que se reporta à consequência necessária.”20, mas também há doutrinadores que defendem a adoção da teoria da causalidade adequada, como Sérgio Cavalieri Filho, que aponta: Os nossos melhores autores, a começar por Aguiar Dias, sustentam que, enquanto a teoria da equivalência das condições predomina na esfera penal, a da causalidade adequada é a prevalecente na órbita civil. Logo, em sede de responsabilidade civil, nem todas as condições que concorrem para o resultado são equivalentes (como no caso da responsabilidade penal), mas somente aquela que foi a mais adequada a produzir concretamente o resultado.21 Independente da teoria adotada para explicar o nexo causal, entende-se que sem a presença desse requisito não haverá responsabilização. Há algumas formas de exclusão do nexo causal, como a responsabilidade exclusiva da vítima e caso fortuito ou força maior. Por fim, para que a responsabilidade civil exista é necessária a presença do dano, visto que sem este não haverá o que indenizar. Durante a vigência do Código Civil de 1916, o dano era considerado uma “diminuição de patrimônio”, uma vez que o dano moral não era considerado pela legislação. Atualmente, porém, esse conceito se tornou insuficiente devido à previsão expressa do dano moral no atual Código Civil, sendo o dano considerado como uma redução de um bem jurídico. 20 GONÇALVES, Carlos Roberto. Op. Cit. p. 480. 21 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Op. Cit. p. 52. 18 O dano deve abranger tudo que se perdeu (danos emergentes) ou deixou de ganhar (lucros cessantes), além disso, o dano pode ser direto (aquele que atinge diretamente a vítima e seus bens) ou indireto (quando a pessoa sofre por reflexo do dano causado a um terceiro). Os danos podem ser tanto patrimoniais (bens materiais) quando extrapatrimoniais (bens imateriais, como a honra). Assim, a pessoa que cause algum dano, seja material ou moral, que tenha um nexo de causalidade com a sua conduta, fica obrigado a indenizar o ofendido. Importante lembrar que na modalidade de responsabilidade objetiva o elemento culpa não é considerado para fins de caracterização da responsabilidade civil. Tal reparação pode ser exigida pelo lesado ou seus dependentes econômicos. 1.3.Contexto Legislativo e Previsão Atual No ordenamento jurídico brasileiro, o primeiro Código Civil foi promulgado em 1916, cujo projeto foi elaborado por Clóvis Beviláqua, utilizando da teoria subjetiva da responsabilidade civil, na qual exigia prova robusta da culpa do agente, e somente em alguns casos era presumida. Além disso, era um código extremamente patrimonialista. Araújo aponta que o Código Civil de 1916 [...] reuniu normas para regular as relações entre os indivíduos, de forma extremamente individualista e patrimonialista, e dentre estas normas, apresentou a possibilidade para a reparação ao dano imaterial, sendo necessária uma análise hermenêutica para aplicar a lei de forma correta, ficando a mercê da experiência e sabedoria do magistrado que iria avaliar o caso em questão.22 Dessa forma, o Código Civil de 1916 era predominantemente patrimonialista, tratando apenas dos prejuízos causados aos bens materiais, sem nenhuma referência expressa aos danos extrapatrimoniais, sendo admitida esta modalidade apenas com embasamento nas jurisprudências. Acerca da responsabilidade civil, o art. 159 do CC 16 conceituava os atos ilícitos que ensejam a responsabilização civil, nos termos dos arts. 1.518 a 1.532. O atual Código Civil, em vigor desde janeiro de 2003, manteve a exigência da culpa como caracterizadora da responsabilidade civil, nosmoldes do art. 186. Porém, inovou ao incluir a possibilidade de responsabilização civil ainda que exclusivamente moral. Além disso, apesar de manter a responsabilidade subjetiva como regra, o parágrafo único do art. 927 trouxe a previsão da responsabilidade objetiva, ou seja, independente da demonstração de culpa, como exceção, devendo ser expressamente prevista os casos 22ARAUJO. Verônica Vilas Boas de. Indústria do Dano Moral. 2013. 35 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito). Universidade do Estado de Mato Grosso. Cáceres, 2013. p. 12. 19 permitidos para essa modalidade. Como ocorre com a responsabilidade civil do Estado, na qual a culpa não é considerada como requisito para a sua caracterização, sendo somente necessária a comprovação do dano causado por uma conduta do agente estatal e o nexo causal entre elas. Também foi abarcada a Teoria do Risco, uma vez que o art. menciona que “a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”, será objeto de responsabilização civil. Dessa forma, apesar do atual Código Civil adotar a teoria subjetiva da responsabilidade civil, vê-se uma maior flexibilização ao aceitar hipóteses cada vez maiores da responsabilidade objetiva. Deve-se tomar cuidado para não ocorrer a total desvinculação da culpa ao ponto de que o agente seja obrigado a reparar um dano que ocorreu mesmo sem a sua culpa. 20 CAPITULO II DANO MORAL 2.1. Breves delineamentos acerca do Dano Moral Considerada uma das formas de responsabilização civil, o dano moral, também chamado de dano extrapatrimonial ou dano imaterial, é relativamente novo. A partir da promulgação da Constituição Cidadã, em seu art. 1º, inciso III, o princípio da dignidade da pessoa humana foi consagrado como um dos fundamentos do Estado, de forma que todas as relações devem se submeter a este princípio. Este pensamento é posto por Cavalieri Filho ao expor a necessidade do dano moral ser visto sob esta ótica da dignidade da pessoa humana e aponta que: Atribui-se a Kant a seguinte lição: A dignidade é o valor de que se reveste tudo aquilo que não tem preço, ou seja, que não é passível de ser substituído por um equivalente. E uma qualidade inerente aos seres humanos enquanto entes morais. Na medida em que exercem de forma autônoma a sua razão prática, os seres humanos constroem distintas personalidades humanas, cada uma delas absolutamente individual e insubstituível. A dignidade é totalmente inseparável da autonomia para o exercício da razão prática. A vida só vale a pena se digna. 23 Nas lições de Nader, o autor afirma que danos morais são as práticas que constrangem, injustamente, outrem, causando-lhe sofrimentos na esfera espiritual. Cita, ainda, que de acordo com Voirin e Goubeaux, o dano moral “resulta de atentado a um direito da personalidade”.24 Assim, o dano moral pode ser entendido como a lesão causada ao íntimo do ser humano, e por não ser algo visível ou palpável, não pode ser quantificada de forma objetiva tal como os danos materiais. Inicialmente, não era admitido o ressarcimento do dano moral, sob a justificativa de que era impossível estipular um valor para reparação ou de valorar uma dor, conhecida como fase negativista. Porém, com o passar do tempo esse entendimento foi superado, de forma que 23 KANT apud CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 10. Ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 89. 24 NADER, Paulo. Responsabilidade Civil. 6. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 29. 21 o dano moral se tornou passível de reparação, recebendo um caráter satisfatório visando compensar o mal sofrido. Araújo explica que: A fase negativista, não reconhecia o dano moral, afirmando que somente habilitava o dano patrimonial, não admitindo o dano a honra. Esta fase vai desde as primeiras discussões acerca da reparabilidade do dano moral, passando pelo Código Civil de 1916, até meados de 1966, quando, então, no II Congresso Nacional de Desembargadores do Brasil mudou a orientação sobre o assunto.25 Todavia, mesmo após sua admissão ainda não era possível a cumulação do dano moral com o dano material, o entendimento era que o dano material absorvia o dano moral, de forma que a sua cumulação geraria um enriquecimento ilícito. Nesse sentido: Antes da Constituição de 1988, mesmo quando se admitia a reparação do dano moral, a jurisprudência predominante negava sua cumulatividade com o dano material, ao pretexto de que havendo o ressarcimento de todos os efeitos patrimoniais nocivos do ato ilícito já estaria, a vítima, suficientemente reparada.26 Porém, a reparação do dano moral não visa um acréscimo patrimonial, mas sim a compensação do dano sofrido. O STJ acerca do tema decidiu em sede de Recurso Especial que não incide o Imposto de Renda nos valores recebidos a título de indenização por danos morais. Vejamos: PROCESSO CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C, DO CPC. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. INCIDÊNCIA DO IMPOSTO DE RENDA. IMPOSSIBILIDADE. CARÁTER INDENIZATÓRIO DA VERBA RECEBIDA. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA. 1. A verba percebida a título de dano moral tem a natureza jurídica de indenização, cujo objetivo precípuo é a reparação do sofrimento e da dor da vítima ou de seus parentes, causados pela lesão de direito, razão pela qual torna-se infensa à incidência do imposto de renda, porquanto inexistente qualquer acréscimo patrimonial. 2. In casu, a verba percebida a título de dano moral adveio de indenização em reclamação trabalhista. 3. Deveras, se a reposição patrimonial goza dessa não incidência fiscal, a fortiori, a indenização com o escopo de reparação imaterial deve subsumir-se ao mesmo regime, porquanto ubieademratio, ibieadem legis dispositio. 4. "Não incide imposto de renda sobre o valor da indenização pago a terceiro. Essa ausência de incidência não depende da natureza do dano a ser reparado. Qualquer espécie de dano (material, moral puro ou impuro, por ato legal ou ilegal) indenizado, o valor concretizado como ressarcimento está livre da incidência de imposto de renda. A prática do dano em si não é fato gerador do imposto de renda por não ser renda. O pagamento da indenização também não é renda, não sendo, portanto, fato gerador desse imposto. (...) Configurado esse panorama, tenho que aplicar o princípio de que a base de cálculo do imposto de renda (ou de qualquer outro imposto) só pode ser fixada por via de lei oriunda do poder competente. É o comando do art. 127, IV, do CTN. Se a lei não insere a"indenização", qualquer que seja o seu tipo, como renda tributável, inocorrendo, portanto, fato gerador e base de cálculo, não pode o fisco exigir imposto sobre essa situação fática. (...) Atente-se para a necessidade de, em homenagem ao princípio da legalidade, afastar-se as pretensões do fisco em alargar o campo da incidência do imposto de renda sobre fatos estranhos à vontade do legislador."("Regime Tributário das Indenizações", Coordenado por Hugo de Brito Machado, Ed. Dialética, pg. 174/176) 5. O art. 535 do CPC resta incólume se o Tribunal de 25 ARAÚJO, Verônica Villas Boas. Indústria do Dano Moral. 2013. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito). Universidade do Estado de Mato Grosso. Cáceres, 2013. p. 10. 26 THEODORO JUNIOR; Humberto. Dano Moral. 8. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 5.22 origem, embora sucintamente, pronuncia-se de forma clara e suficiente sobre a questão posta nos autos. Ademais, o magistrado não está obrigado a rebater, um a um, os argumentos trazidos pela parte, desde que os fundamentos utilizados tenham sido suficientes para embasar a decisão. 6. Recurso especial desprovido. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ 08/2008.(STJ - REsp: 1152764 CE 2009/0150409-1, Relator: Ministro LUIZ FUX, Data de Julgamento: 23/06/2010, S1 - PRIMEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 01/07/2010) Além disso, há outras formas de reparação que não o pagamento pecuniário, nesse sentido foi editado o enunciado aprovado na VII Jornada de Direito Civil (2015): “A compensação pecuniária não é o único modo de reparar o dano extrapatrimonial, sendoadmitida a sua reparação in natura, na forma de retratação pública ou outro meio” (Enunciado n. 589). Atualmente, entretanto, vigora a reparabilidade integral, visto que a Constituição é expressa ao admitir a reparação do dano moral, como previsto nos art. 5º, V e X, e o STJ se pronunciou sobre a possibilidade de cumulação do dano moral e material ao editar a Súmula 37: “São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral, oriundos do mesmo fato.” Dessa forma, percebe-se que atualmente é pacificado o entendimento da possibilidade de pleitear o dano moral mesmo que não haja um dano material concomitante. 2.2. Configuração e Prova do Dano Moral Diante do que já foi dito, entende-se que o dano moral é a lesão causada ao íntimo do ser humano, à sua dignidade. Porém, não há critérios objetivos que determinam quando houve ou não a lesão a esses direitos. Cavalieri Filho leciona que o dano moral se configura quando: (...) a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada está fora da órbita do dano moral, porquanto, além de fazerem parte da normalidade do nosso dia a dia, no trabalho, no trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar, tais situações não são intensas e duradouras, a ponto de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo. Se assim não se entender, acabaremos por banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em busca de indenizações pelos mais triviais aborrecimentos.27 Importante salientar que a dor e o sofrimento da vítima não é o que configura o dano moral, mas sim a sua consequência, de forma que a dor, e o vexame sofrido só poderão ser considerados como dano moral, quando a causa for uma agressão a dignidade humana. 27CAVALIERI, Sérgio. Op. Cit. p. 93. 23 Nesse sentido é o enunciado n. 445 da V Jornada de Direito Civil “O dano moral indenizável não pressupõe necessariamente a verificação de sentimentos humanos desagradáveis como dor ou sofrimento”. Grande exemplificação disso é a possibilidade da pessoa jurídica ser vítima de dano extrapatrimonial, que por óbvio, não passa por sofrimentos ou dores. Inicialmente esse tema sofreu forte resistência da doutrina e jurisprudência, no entendimento que não eram passíveis de sofrer o dano moral. Nehemias afirma que essa corrente defendia que as pessoas jurídicas, por serem figuras abstratas, não se sujeitariam a dor e sofrimento. E que no máximo, caberia aos seus sócios, mas nunca a própria pessoa jurídica, que apenas era passível de indenização material.28 Atualmente, o entendimento foi pacificado pelo STJ por meio da Súmula 277, assentando que “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”. Assim, a pessoa jurídica pode ser vítima tanto de lesão patrimonial quanto extrapatrimonial. Também é justificada essa não obrigatoriedade de existência de dor ou vexame pela possibilidade dos absolutamente incapazes serem vítimas do dano extrapatrimonial. Se fosse necessária a comprovação da consequência do dano, os recém nascidos e crianças não poderiam sofrer lesões à sua dignidade por não possuírem ainda entendimento suficiente para entender o que é esta lesão. Nesse sentido é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça: Sempre que ocorrer ofensa injusta à dignidade da pessoa humana restará configurado o dano moral, não sendo necessária a comprovação de dor e sofrimento. Trata-se de dano moral in reipsa (dano moral presumido). Segundo doutrina e jurisprudência do STJ, onde se vislumbra a violação de um direito fundamental, assim eleito pela CF, também se alcançará, por consequência, uma inevitável violação da dignidade do ser humano.A compensação nesse caso independe da demonstração da dor, traduzindo-se, pois, em consequência in reipsa, intrínseca à própria conduta que injustamente atinja a dignidade do ser humano.Aliás, cumpre ressaltar que essas sensações (dor e sofrimento), que costumeiramente estão atreladas à experiência das vítimas de danos morais, não se traduzem no próprio dano, mas têm nele sua causa direta. (REsp 1.292.141-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/12/2012. Informativo 513 STJ) (grifei). Basta que se demonstre o fato gerador para que o dano moral seja objeto de reparação, conforme entendimento já pacificado pelo STJ, em julgados como: INDENIZAÇÃO - NEGATIVAÇÃO INDEVIDA - PAGAMENTO REALIZADO - MANUTENÇÃO DA SENTENÇA (ART. 252 DO RITJSP) Mantém-se a sentença que corretamente reconheceu a existência de nexo de causalidade entre a 28MELO, Nehemias de. Dano moral – problemática: do cabimento à fixação do quantum. 2. Ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 26-27. 24 conduta perpetrada pelo apelante (negativação indevida) e o dano moral suportado em face do pagamento da obrigação que gerou o ato restritivo. (...) A pacífica jurisprudência do STJ é no sentido de que a inscrição indevida em cadastro negativo de crédito, bem como o protesto indevido, caracterizam, por si sós, dano in reipsa, o que implica responsabilização por danos morais. (...) (STJ - AREsp: 634910 SP 2014/0332725-8, Relator: Ministro RAUL ARAÚJO, Data de Publicação: DJ 09/04/2015) (grifei). CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ATRASO DE VÔO INTERNACIONAL - APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR EM DETRIMENTO DAS REGRAS DA CONVENÇÃO DE VARSÓVIA. DESNECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DO DANO. CONDENAÇÃO EM FRANCO POINCARÉ - CONVERSÃO PARA DES - POSSIBILIDADE - RECURSO PROVIDO EM PARTE. 1 - A responsabilidade civil por atraso de vôo internacional deve ser apurada a luz do Código de Defesa do Consumidor, não se restringindo as situações descritas na Convenção de Varsóvia, eis que aquele, traz em seu bojo a orientação constitucional de que o dano moral é amplamente indenizável. 2. O dano moral decorrente de atraso de vôo, prescinde de prova, sendo que a responsabilidade de seu causador opera-se , in reipsa, por força do simples fato da sua violação em virtude do desconforto, da aflição e dos transtornos suportados pelo passageiro.3 - Não obstante o texto Constitucional assegurar indenização por dano moral sem restrições quantitativas e do Código de Defesa do Consumidor garantir a indenização plena dos danos causados pelo mau funcionamento dos serviços em relação ao consumo, o pedido da parte autora limita a indenização ao equivalente a 5.000 francos poincaré, cujos precedentes desta Egrégia Corte determinam a sua conversão para 332 DES (Direito Especial de Saque). 4 - Recurso Especial conhecido e parcialmente provido.(STJ - REsp: 299532 SP 2001/0003427-6, Relator: Ministro Honildo Amaral De MelloCastro (desembargador convocado do TJ/AP), Data de Julgamento: 27/10/2009, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: -->DJe 23/11/2009) (grifei) Tartuce defende que seria até grotesco exigir-se a prova das lágrimas vertidas ou a realização de prova pericial psicológica para comprovar o sofrimento íntimo da vítima decorrente da violação de seus bens personalíssimos.29 Todavia, não se pode confundir o dano moral com meros aborrecimentos do cotidiano, vividos pelo homem médio. De forma que tanto o humano frio e insensível quando aquele com os sentimentos a flor da pele não podem ser usados de parâmetro para a configuração do dano moral. Carlos Roberto Gonçalves complementa: “Do mesmo modo, não se incluem na esfera do dano moral certas situações que, embora desagradáveis, mostram-se necessárias ao desempenho de determinadas atividades, como, por exemplo, o exame de malas e bagagens de passageiros na alfândega.”30 Dessa maneira, situações diárias que causam pequenos dissabores não são suficientes para a reparação civil, devendo a lesão ser extraordinária. 2.3. Natureza Jurídica do Dano Moral 29 TARTUCE, Flávio. Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil. 12. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 298. 30 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 15. Ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 501. 25 Para parte da doutrina, além da função principal reparatória, que é ligado à vítima, há também a natureza punitiva da indenização, por sua vez direcionada ao ofensor. Nas lições de Carlos Roberto Gonçalves ao mesmo tempo em que a reparação do dano moral serve para atenuar o dano sofrido pela vítima, também atua no sentido de desestimular que o ofensor volte a praticar tais atos lesivos à personalidade de outrem. Melo também assevera que o dano moral visa compensar a vítima pelos infortúnios a que tenha sido submetida, ofertando-lhe uma soma em dinheiro que lhe possa trazer satisfações; e punir o ofensor que, sofrendo os efeitos da condenação e a consequente diminuição de seu patrimônio, será desestimulado da reiteração.31 Também há a possibilidade de uma terceira natureza jurídica: pedagógica. Que sustenta na necessidade de coibir novas condutas, mas esse caráter só existe se acompanhado do principal. Pereira afirma que na responsabilidade civil estará presente uma finalidade punitiva ao infrator aliada a uma necessidade que eu designo como pedagógica, a que não é estranha a ideia de garantia para a vítima, e de solidariedade que a sociedade humana lhe deve prestar.32 Acerca do assunto Tartuce assevera que deve ser feito o alerta que esse caráter disciplinador, pedagógico ou educativo (acessório) somente será possível quando cabível for a reparação (principal).33 Na jurisprudência brasileira há julgados que se filiam tanto na existência apenas do caráter punitivo, como também os que admitem o caráter pedagógico da reparação, vejamos: RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO PODER PÚBLICO. ELEMENTOS ESTRUTURAIS. PRESSUPOSTOS LEGITIMADORES DA INCIDÊNCIA DO ART. 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO. FATO DANOSO PARA O OFENDIDO, RESULTANTE DE ATUAÇÃO DE SERVIDOR PÚBLICO NO DESEMPENHO DE ATIVIDADE MÉDICA. PROCEDIMENTO EXECUTADO EM HOSPITAL PÚBLICO. DANO MORAL. RESSARCIBILIDADE. DUPLA FUNÇÃO DA INDENIZAÇÃO CIVIL POR DANO MORAL (REPARAÇÃO- SANÇÃO): (a) CARÁTER PUNITIVO OU INIBITÓRIO ("EXEMPLARY OR PUNITIVE DAMAGES") E (b) NATUREZA COMPENSATÓRIA OU REPARATÓRIA. DOUTRINA. JURISPRUDÊNCIA. AGRAVO IMPROVIDO. (...) Impende assinalar, de outro lado, que a fixação do quantum pertinente à condenação civil imposta ao Poder Público - presentes os pressupostos de fato soberanamente reconhecidos pelo Tribunal a quo - observou, no caso ora em análise, a orientação que a jurisprudência dos Tribunais tem consagrado no exame do tema, notadamente no ponto em que o magistério jurisprudencial, pondo em destaque a dupla função inerente à indenização civil por danos morais, enfatiza, quanto a tal aspecto, a necessária correlação entre o caráter punitivo da obrigação de indenizar ("punitivedamages"), de um lado, e a natureza compensatória referente ao dever de proceder à reparação patrimonial, de outro. (...) Publique-se.Brasília, 31MELO, Nehemias de. Op. Cit. p. 108. 32 PEREIRA, Caio Mario Silva. Responsabilidade Civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018. p. 14. 33 TARTUCE, Flávio. Op. Cit. p. 428. 26 11 de outubro de 2004.Ministro CELSO DE MELLO Relator(STF - AI: 455846 RJ, Relator: Min. CELSO DE MELLO, Data de Julgamento: 11/10/2004, Data de Publicação: DJ 21/10/2004 PP-00018 RDDP n. 22, 2005, p. 160-163) DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. HOSPITAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. ERRO MÉDICO. SEQÜELAS ESTÉTICAS E PSICOLÓGICAS PERMANENTES. CONJUNTO PROBATÓRIO. MONTANTE INDENIZATÓRIO. RAZOABILIDADE. SÚMULA 7/STJ. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO E CONTRADIÇÃO INEXISTENTES. - Rejeitam-se os embargos de declaração quando inexistentes qualquer omissão, obscuridade ou contradição na decisão embargada. - O prequestionamento dos dispositivos legais tidos como violados constitui requisito de admissibilidade do recurso especial. - É defeso o reexame de provas em sede de recurso especial. - Na revisão do valor arbitrado a título de dano moral não se mensura a dor, o sofrimento, mas tão-somente se avalia a proporcionalidade do valor fixado ante as circunstâncias verificadas nos autos, o poder econômico do ofensor e o caráter educativo da sanção. Recurso especial não conhecido.(STJ - REsp: 665425 AM 2004/0068236-3, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 26/04/2005, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: --> DJ 16/05/2005 p. 348) Portanto, ainda não há um entendimento pacífico na jurisprudência sobre a existência ou não da natureza punitiva e pedagógica da reparação dos danos morais. 2.4. Fixação do valor do dano moral A fixação do valor a ser pago a título de danos morais é uma preocupação latente no mundo jurídico, visto que, a quantidade demandas nesse sentido tem aumentado exponencialmente e ainda não há uma “fórmula” segura para sua estimação. Houve um tempo em que, devido à falta de critérios, eram utilizados os que estavam dispostos no Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei n. 4.117/62), este diploma foi o primeiro que previu a reparação dos danos moraise fixava os valores entre 05(cinco) e 10(dez) salários mínimos levando em consideração as circunstâncias e grau de culpa do agente, por exemplo. Posteriormente esses dispositivos foram revogados, porém ainda assim a Lei de Imprensa (Lei n. 5.250/1967) fixou em 20 (vinte) salários mínimos o teto das indenizações, parâmetro que foi utilizado por muito tempo nas decisões. Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves: Algumas recomendações da revogada Lei de Imprensa, feitas no art. 53, continuam a ser aplicadas na generalidade dos casos, por integrarem o repertório jurisprudencial, como a situação econômica do lesado; a intensidade do sofrimento; a gravidade, a natureza e a repercussão da ofensa; o grau de culpa e a situação econômica do ofensor, bem como as circunstâncias que envolveram os fatos.34 Como visto a jurisprudência, por falta de critérios, ainda utiliza os dispostos em legislações mesmo já revogadas. Tartuce expõe que 34 GONÇALVES, Carlos Roberto. Op. Cit. p. 516. 27 Na esteira da melhor doutrina e jurisprudência, na fixação da indenização por danos morais, o magistrado deve agir com equidade, analisando:a extensão do dano, as condições socioeconômicas e culturais dos envolvidos, as condições psicológicas das partes e o grau de culpa do agente, de terceiro ou da vítima.35 Ainda, afirma que “qualquer tentativa de tarifação ou tabelamento dos danos morais, mesmo que por lei, é inconstitucional”.36 Nesse mesmo sentido é o enunciado n. 550, aprovado na VI Jornada de Direito Civil (2013): “A quantificação da reparação por danos extrapatrimoniais não deve estar sujeita a tabelamento ou a valores fixos”. Assim sendo, caberá ao juiz decidir os critérios a serem utilizados e arbitrar com base na razoabilidade e proporcionalidade o valor a ser pago na indenização. Melo leciona que: O princípio da lógica e do razoável deve ser a bússola norteadora do julgador. Pautando-se por eles, acreditamos que restarão afastadas as decisões que fixam valores ínfimos, bem como as que fixam os valores em patamares que extrapolam o limite do bom-senso.37 Essa liberdade do julgador ao definir o quantum somado ao crescimento de ações repetitivas visando a reparação por dano moral, e o medo do nascimento de uma “indústria do dano moral”, tem gerado um “tabelamento” informal dos valores arbitrados, não sendo mais levado em consideração o caso concreto, a pessoa como ser individual. 35 TARTUCE, Flávio. Op. Cit. p. 558. 36 Ibidem. p. 556. 37MELO, Nehemias de. Op. Cit. p. 117. 28 CAPITULO III BANALIZAÇÃO DAS DECISÕES 3.1. Danos Morais Em Números A partir da promulgação da Constituição Federal toda dúvida acerca da possibilidade da reparação do dano moral foi dirimida, e juntamente com a possibilidade de propositura de tais ações a Constituição Federal trouxe consigo o princípio do acesso à justiça, disposto no art. 5º, XXXV: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Além da possibilidade da justiça gratuita àqueles que não possuem condições de arcar com custas processuais sem prejuízo de seu sustento, dentre outros princípios que facilitam o acesso à justiça. Ainda, vivemos numa época em que as informações correm em uma rapidez imensurável e cada vez mais as pessoas estão informadas. Há uma midiatização do direito em constante crescimento, órgãos do Governo possuem páginas nas redes sociais, muito dos juristas possuem blogs informativos, e a maioria das publicações são realizadas com palavras simples que facilita o entendimento pela maior parte da sociedade. Vejamos: Imagem 1 – Informações sobre o direito do consumidor. 38 Fonte: Fanpage do facebook do Senado Federal 38 Informação, Senado Federal, 15 jun. 2018. Disponível em <encurtador.com.br/lMP19> Acesso em 20 jun. 2018 29 Essa facilidade de acesso à informação e a previsão dos princípios constitucionais que facilitam o acesso à justiça resultou em um aumento exponencial na quantidade de ações que são propostas no judiciário. Segundo informações do CNJ a quantidade de casos novos relativos ao assunto “Indenização por Dano Moral” em 2014 foi de 2.573.063 processos, por sua vez, em 2016 esse número chegou em 6.624.53039, ou seja, houve um aumento de aproximadamente 157%. Para ilustração do assunto, de acordo com um demonstrativo divulgado pelo CNJ acerca dos assuntos mais demandados nos Tribunais, percebe-se que o dano moral está em segundo lugar dentre os processos cíveis. Imagem 3 – Assuntos que possuem maior demanda nos Tribunais brasileiros.40 Em relação à Justiça Estadual os processos relativos à Indenização por Dano Moral ocupam a segunda colocação. Sobre esse aumento: Para a ministra Nancy Andrighi, do STJ, esse aumento é reflexo do amadurecimento da sociedade brasileira, cada vez mais consciente dos seus direitos e da necessidade de vê-los reconhecidos. Segundo ela, é natural que alguns se excedam, sobretudo até que se estabeleçam os limites do que é razoável ser indenizado. Cabe ao Judiciário, através de suas decisões, fixar esses limites.41 Consequência lógica desse aumento é a morosidade da justiça e o descrédito pela dificuldade de ver as tutelas resolvidas. O acesso ao judiciário tem se tornado cada dia menos burocrático devido às prerrogativas constitucionais, mas esse grande aumento no número de 39Conselho Nacional de Justiça. Justiça em Números. Disponível em <encurtador.net/bwBDZ> Acesso em 16/06/2018. 40Conselho Nacional de Justiça. Justiça em Números indica temas mais demandados nos tribunais. Disponível em <http://www.cnj.jus.br/t4bk> Acesso em 16/06/2018. 41 Nancy Andrighi Apud Verônica Vilas Boas. ARAUJO. Verônica Vilas Boas de. Indústria do Dano Moral. 2013. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito). Universidade do Estado de Mato Grosso. Cáceres, 2013. p. 23. 30 processos e a falta de estrutura do judiciário que não cresce na mesma proporção dificulta a saída, ou seja, a duração do processo é muito grande, podendo levar anos para que seja resolvido definitivamente. Portanto, como exposto, atualmente há um crescimento na propositura das ações relativas à indenização por dano moral, em uma quantidade que a atual estrutura judiciária não está preparada. 3.2. Análise de um Possível Tabelamento nas Decisões Outra consequência desse aumento na quantidade de processos é que as decisões acabem por definir os valores a serem pagos a determinados tipos de ações, levando em consideração apenas o assunto tratado e não as peculiaridades de cada caso. Aparentemente não existe uma tabela de valores, que obriguem o magistrado a seguir, visto que o ordenamento dá liberdade para que ele decida de acordo com o livre convencimento, a partir das provas e os fatos trazidos no processo. Por essa razão o valor do dano moral não é fixo e varia em cada caso, ou ao menos deveria variar. Todavia, não é o que as jurisprudências do Tribunal de Justiça de Mato Grosso demonstram, conforme exposto a seguir, há um “costume” em definir valores parecidos para casos parecidos, utilizando o termo “casos análogos”. Vejamos: APELAÇÃOCÍVEL – AÇÃODECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIADÉBITOC/C INDENIZAÇÃO POR DANOSMORAIS – SERVIÇOS DE TELEFONIA NÃO CONTRATADOS PELO AUTOR – COBRANÇA E NEGATIVAÇÃO DO NOME DO AUTOR INDEVIDAS - FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO COMPROVADA – DEVER DE INDENIZAR CONFIGURADO - RESPONSABILIDADE OBJETIVA – DANO IN RE IPSA – RECURSO PROVIDO.1. Diante da falta de comprovação da existência de contrato celebrado entre as partes, ou de qualquer relação jurídica entre as mesmas, deve ser declarada a inexistência da dívida em questão.2. Não há como deixar de reconhecer que a cobrança de valores sem que o serviço tenha sido contratado, com a consequente inscrição do nome do autor nos órgãos restritivos de crédito, importa em ato ilícito perpetrado pela Apelada, o que enseja o dever de indenizar.3. Porém, no que tange à fixação do quantum, é cediço que o julgador deve observar a capacidade econômica das partes, bem como os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, visto que o valor da indenização deve ser fixado em parâmetro que a dê caráter pedagógico, desestimulando a reiteração da conduta ilícita, mas que não leve o devedor a bancarrota.4. No caso, dada às peculiaridades do caso concreto, o quantum deve ser fixado no montante equivalente ao usualmente adotado pela Câmara em casos análogos (negativação indevida), qual seja, de R$ 10.000,00 (dez mil reais), com incidência de juros a partir do evento danoso (Súmula 54 do STJ) e da correção monetária a partir do arbitramento (Súmula362 do STJ), tendo em vista tratar-se de relação extracontratual. (Ap 151989/2017, DESA. SERLY MARCONDES ALVES, QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO, Julgado em 07/02/2018, Publicado no DJE 09/02/2018) (grifei). REMESSA NECESSÁRIA (DE OFÍCIO) – RECURSOS DE APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS – PRELIMINAR – ILEGITIMIDADE PASSIVA – OBRA EXECUTADA EM RODOVIA ESTADUAL MT-480 – REJEITADA – MÉRITO – ACIDENTE DE TRÂNSITO – OBRA NÃO 31 SINALIZADA – DANO FÍSICO COMPROVADO – INCAPACIDADE PERMANENTE – RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO – CONFIGURAÇÃO – VALOR DO DANOMORAL - REDUZIDO – DANO ESTÉTICO – MAJORAÇÃO – PENSÃO VITALÍCIA – MANUTENÇÃO – JUROS E CORREÇÃO – RETIFICAÇÃO – RECURSO DA AUTORA PARCIALMENTE PROVIDO – RECURSO DO ESTADO PARCIALMENTE PROVIDO – SENTENÇA PARCIALMENTE RETIFICADA.Os acidentes ocorridos por falta de sinalização das rodovias estaduais com obras públicas caracterizam ato omissivo do Estado, razão pela qual não há que se falar em ilegitimidade passiva.O Código de Trânsito Brasileiro estabelece que o ente público é responsável pela manutenção e sinalização adequada das rodovias, devendo afixar sinalização específica e adequada nas vias em obras.As provas dos autos demonstram que a via onde ocorreu o acidente que ocasionou danos físicos à autora não possuía sinalização adequada, devendo, portanto, o Estado ser responsabilizado. Os danosmorais devem ser reduzidos para R$ 20.000,00 (vinte mil reais), levando-se em consideração o critério adotado para casosanálogos, e por se mostrar razoável e adequado para compensar o sofrimento causado a autora, e para desestimular a repetição da conduta por parte do Estado.A reparação pelo dano estético é destinada a cobrir a ofensa ao natural, diretamente ligada à imagem pessoal, que no presente caso deve ser majorada, levando-se em consideração que o dano ocorreu na face, cuja deformidade prejudica sua vida social e afetiva.O pagamento de pensão mensal decorrente do acidente é devido àquele que comprovar a incapacidade permanente para o exercício de atividades laborais, no valor de um salário mínimo, àqueles que não comprovarem o exercício em atividade remunerada.(Apelação / Remessa Necessária 59175/2017, DESA. ANTÔNIA SIQUEIRA GONÇALVES, SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO E COLETIVO, Julgado em 29/08/2017, Publicado no DJE 03/10/2017) (grifei). Percebe-se que há uma padronização das decisões, ou seja, o parâmetro utilizado para fixar o quantum indenizatório não é mais o dano sofrido pela vítima, mas sim casos análogos que já foram julgados anteriormente, desconsiderando as particularidades de cada caso. Apenas a titulo de curiosidade a Lei 13.467/2017, que alterou a CLT, incluiu os artigos 223-A ao 223-G que tratam do dano extrapatrimonial, os referidos artigos definem os titulares, quais são as violações que ensejam essa reparação e em especial o art. 223-G traz os aspectos a serem considerados para definir a reparação, e ainda, o §1º do referido artigo traz os parâmetros de valores a serem observados de acordo com a gravidade da ofensa. A atual legislação trabalhista cria, de certa forma, um tabelamento do quantum a ser arbitrado nas indenizações de dano extrapatrimonial e também estabelece um teto para essas indenizações, qual seja, 50 salários mínimos. E vêm sofrendo muitas críticas por parte dos magistrados, sob o argumento de que tira o exercício da jurisdição do magistrado. A Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), de acordo com notícia veiculada pelo STF defende que “A restrição ao ofício judicante viola a independência dos juízes para julgar as causas e aplicar a lei de acordo com o texto constitucional e com suas 32 convicções”42. Portanto, a legislação trabalhista tem sofrido resistência dos magistrados por tabelar o valor que pode ser arbitrado de acordo com a lesão sofrida, criando um tabelamento. No cenário dos danos morais, o STJ ocupa um espaço importante de fazer o controle do valor estipulado para evitar que haja um enriquecimento ilícito ou que seja demasiadamente baixo. Araújo expõe que as decisões do STJ, além de servir como corretivo da decisão contraditada serve como paradigma a ser seguido pelos outros tribunais, de forma a uniformizar a jurisprudência nacional. Porém assevera que atribuir essa competência ao STJ seria o mesmo que permitir um tabelamento por parte do STJ, que é combatida sob o fundamento da proteção das diferenças entre os cidadãos e a isonomia.43 Tendo em vista que o STJ não pode apreciar fatos e provas, possuir a competência para verificar o valor arbitrado para a reparação do dano moral, um instituto extremamente subjetivo, que leva em consideração particularidades de cada caso é um tanto complicado, podendo gerar um verdadeiro tabelamento. 3.3. Indústria Reversa do Dano Moral O crescimento no pleito de indenizações por dano moral acarretou no mundo jurídico o nascimento do termo “indústria do dano moral” ou ainda “banalização do dano moral”, fazendo crer que tais processos são na verdade uma máquina de enriquecimento ilícito, vez que não há na maioria das vezes um dano moral e sim um mero aborrecimento. Venuto estabelece que “O dano moraltransformou-se numa verdadeira indústria, com inúmeras formulações de pedidos sem propósito, o que sobrecarrega o já afogado sistema judiciário que se mostra ineficiente para acompanhar tamanha quantidade de ações.” 44 Esse descrédito no dano moral acaba por influenciar os julgadores em suas decisões, que muitas vezes utilizam do termo “mero aborrecimento” em casos em que há o dano moral evidente. Vejamos: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS - ATRASO DO BANCO NO ENVIO DE DOCUMENTO NECESSÁRIO À TRANSFERÊNCIA DO VEÍCULO - MULTA GERADA PELO DETRAN - ABALO MORAL NÃO COMPROVADO - ÔNUS DA PARTE AUTORA - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS MANTIDOS - RECURSO DESPROVIDO. A má prestação de serviços pela instituição financeira por si só é insuficiente para configurar o danomoral, tampouco meros transtornos, incômodos ou aborrecimentos conduzem ao seu reconhecimento. Tal direito reserva-se à tutela de fatos graves, que 42 STF. Regras da Reforma Trabalhista sobre indenização por dano moral são questionadas no STF. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=367459> Acesso em 02/07/2018. 43 ARAUJO, Verônica Vilas Boas. Op. Cit. p. 27. 44 VENUTO, Andrey Jabour. A BANALIZAÇÃO DO INSTITUTO DO DANO MORAL. Revista das Faculdades Integradas Vianna Junior “Vianna Sapiens”. v. 1. n. 1. Juiz de Fora, 2010. p. 1. 33 atinjam bens jurídicos relevantes, sob pena de levar à banalização do instituto, especialmente quando não há a efetiva demonstração do abalo psicológico sofrido. Não cabe a majoração dos honorários advocatícios de sucumbência se observados os limites positivados no art. 20, § 3º, do CPC.(Ap 100064/2013, DES. RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO, QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO, Julgado em 04/06/2014, Publicado no DJE 09/06/2014) APELAÇÕES CÍVEIS – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOMORAL – TEMPO DE ESPERA EM FILA DE BANCO – ILÍCITO QUE NÃO ACARRETA AUTOMATICAMENTE O DIREITO À INDENIZAÇÃO POR DANOMORAL– AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE SITUAÇÃO EXCEPCIONAL – NÃO CARACTERIZADO - PRIMEIRA APELAÇÃO CONHECIDA E PROVIDA - SEGUNDA APELAÇÃO - PLEITO PELA MAJORAÇÃO DA INDENIZAÇÃO - PEDIDO PREJUDICADO ANTE A REFORMA DA SENTENÇA - SEGUNDO RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. A simples demora no atendimento, por si só, não é capaz de ensejar automaticamente indenização por dano moral, sendo necessário, portanto, que o consumidor comprove que a situação ocasionousofrimento extraordinário, além do comum, atingindo diretamente sua personalidade. (Ap 53281/2017, DESA. CLEUCI TEREZINHA CHAGAS PEREIRA DA SILVA, TERCEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO. TJMT, Julgado em 04/10/2017, Publicado no DJE 17/10/2017) (grifei). Basta uma breve pesquisa para encontrar várias matérias narrando que os consumidores passam horas esperando para um atendimento, e no cenário globalizado atual horas em uma fila certamente não pode ser considerado um “mero aborrecimento”. Outro tema discutível, ainda na órbita do direito do consumidor, é acerca das decisões que indeferem o pedido de dano moral nos casos de anotação indevida nos órgão de proteção ao crédito, caso o consumidor já tenha uma anotação pretérita. Inclusive, o STJ já se manifestou sobre o assunto na Súmula 385 que dispõe “Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.” Ora, se o consumidor precisa recorrer ao judiciário para o cancelamento de uma anotação indevida não há como se pensar em apenas “mero aborrecimento”, visto que o ato ilícito de inscrição indevida permanece ilícito e independente da inscrição legítima anterior. Dessa forma, o receio que haja a banalização do instituto pode faz com que diversas decisões se tornem injustas, posto que, jurisprudências nesse sentido indiretamente incentivam que as empresas continuem com as práticas que desrespeitam o consumidor, já que não vêm motivos que os obriguem a mudar tais práticas. Porém, acabou por criar uma indústria reversa daquela anteriormente mencionada, devido ao tabelamento dos valores nas decisões judiciais. A vítima da lesão extrapatrimonial já sabe o valor indenizatório que irá receber, pois já há entendimento pacificado acerca de muitos assuntos. 34 A indústria é “reversa” visto que não se considera por gerar enriquecimento dos lesionados, mas sim pelas decisões padronizadas de acordo com o assunto macro do processo, e não levando em consideração as peculiaridades de cada caso, como a lei determina. É certo que ainda há uma dificuldade de definir parâmetros para os valores a serem arbitrados nos processos sem que haja um enriquecimento ilícito ou que seja irrisório, e esse aumento exponencial e falta de pessoal no Judiciário dificulta ainda mais. Porém isso não pode ser obstáculo para que o direito seja negado a quem faça jus. Ainda, o aumento dos processos que visam danos morais não pode ser considerado uma banalização do instituto, mas sim que os direitos permanecem sendo violados e que as pessoas possuem maior conhecimento dos caminhos que podem ser tomados para que não sofram danos sem que sejam reparados. Deve-se pensar na aplicação do caráter punitivo-pedagógico no quantum a ser pago, para o desestímulo do causador do dano, dado que um valor que seja considerado irrisório a este não fará com que suas práticas se modifiquem. Evitando assim, uma banalização do instituto não pelo enriquecimento ilícito dos lesionados, mas pelo descrédito dos lesionados no poder judiciário. Melo propõe que haja um fundo de direitos difusos, destinado a criação de propagandas educativas que seja financiado pela condenação dos agentes causadores do dano em indenizações. Segundo ele: Quanto ao caráter exemplar que a condenação poderia ter, há que se considerar que na fixação do quantum, o juiz, além de ponderar os aspectos contidos no binômio punitivo-compensatório, deveria adicionar outro componente, qual seja, um plus que servisse como advertência de que a sociedade não aceita aquele comportamento e o reprime, de tal sorte a melhor mensurar os valores a serem impostos aos infratores por danos morais. Nesse particular aspecto, para evitar- se o chamado enriquecimento sem causa, esse plus advindo da condenação não seria destinado à vítima, mas sim a um fundo de interesses difusos, por exemplo, que poderia utilizar os recursos para campanhas educativas. 45 É uma teoria que deve ser levada em consideração, uma vez que quanto maior a indenização (dentro do razoável e proporcional), menor será o índice de reincidência e, além disso, parte da indenização não será direcionada para a vítima, mas sim para um fundo direcionado a propagandas e programas educativos voltados ao tema, não gerando um enriquecimento ilícito. Portanto, há formas de evitar que haja o enriquecimento ilícito das vítimas sem que haja uma banalização das decisões devido ao tabelamento informal dos valores arbitrados, e 45MELO, Nehemias de. Dano moral – problemática: do cabimento à fixação do quantum. 2. Ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 119. 35 por consequência evitando o crescimento da indústria reversa do dano moral, ou seja, a indústria das decisões. 36 CONSIDERAÇÕES FINAIS Inicialmente devido à dificuldade de “valorar a dor” a reparação do dano moral não era considerada como possível, posteriormente passando a ser considerada ainda não era possível sua cumulação com o dano material. Atualmente, é pacificado o entendimento da possibilidade de reparação do dano moral e sua cumulação com os danos materiais. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, o acesso ao judiciário tem se tornado cada vez mais facilitado, o que gerou um aumento na quantidade de ações judiciais visando à reparação por danos morais. Esse aumento causou um temor da banalização do instituto, fazendo com que houvesse um entendimento de determinados valores para determinas ações. Porém, esse tabelamento indireto fere o que determina a legislação, que determina que o juiz deverá analisar cada caso de acordo com suas particularidades. A presente pesquisa monográfica foi pensada e desenvolvida no intuito de analisar a existência de uma indústria reversa do dano moral. No decorrer do desenvolvimento da pesquisa e para situar o leitor interessado pelo tema, foi abordado vários assuntos em comum com o objeto em foco, tais como: o desenvolvimento da responsabilidade civil na sociedade, seu contexto legal, conceitos e requisitos, também fora tratado especificamente do dano moral, com seus requisitos, natureza jurídica, a problemática da fixação do dano no intuito de informar o caro leitor sobre os institutos da responsabilidade civil e dano moral. Além desse apanhado conceitual, com maior parte de conceitos doutrinários, foi analisada as decisões dos tribunais, em especial do TJ/MT, para demonstrar a existência de um tabelamento indireto das decisões, tratado de forma mais aprofunda no terceiro capítulo. Também no terceiro capítulo foi tratado de forma específica o tema da presente pesquisa monográfica: a existência de uma indústria reversa do dano moral. Trazendo jurisprudências e teses doutrinárias acerca do tema.A indústria reversa do dano moral existe a partir do momento em que as decisões utilizam como argumento o receio de uma banalização 37 do dano moral para definir parâmetros de valores tabelados de acordo com o assunto do dano, deixando de considerar o caso concreto e as peculiaridades de cada sujeito lesado. Com as decisões tabeladas, a vítima já sabe qual valor irá receber de acordo com o dano sofrido, o que gera um descrédito no poder judiciário, visto que não há mais um julgamento particularizado, conforme demonstraram as jurisprudências trazidas. Ora, isso só vem confirmar a banalização do dano moral defendida pelos julgadores não existe, mas sim uma banalização das decisões prolatadas. Que por um
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