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AT 1 2 3 S U M Á R IO 2 3 INTRODUÇÃO 6 UNIDADE 1 - Conceitos e fundamentos da educação inclusiva 36 UNIDADE 2 - Considerações finais 37 REFERÊNCIAS 2 33 INTRODUÇÃO Ao longo das últimas três décadas até os dias de hoje o tema inclusão escolar continua a ser amplamente discutido nos espaços educativos e entre as pessoas que direta ou indiretamente, se envolvem com este processo na escola ou em diver- sos ambientes sociais, onde há interação de pessoas. Não se pode negar a polêmica que existe em torno das questões que se relacionam com a inclusão nas escolas re- gulares de alunos com deficiências ou dife- renças individuais acentuadas. Para alguns professores, o cotidiano da educação inclusiva é tão complexo que ele se torna difícil de enfrentar, ou até mes- mo, impossível de acontecer algo de novo. Ele se apresenta, às vezes, de forma tão incerta, tão cheia de dúvidas que gera in- segurança e medo de enfrentar situações inesperadas. Isso, porque dependendo da situação a ser encarada poderá represen- tar uma ameaça a identidade do professor como sujeito que ensina. Não há dúvida de que a atividade docen- te não é simples, principalmente, quando se lida com uma heterogeneidade de maior complexidade. A formação docente ofere- cida nos moldes que se apresenta nas ins- tituições de ensino superior, infelizmente, não favorece uma visão dessa complexi- dade que há nas relações socioculturais no espaço escolar. Com isso, o profissional terá que adquirir experiências e aprender a lidar com todas as situações inesperadas a partir de uma formação continuada em serviço e por meio de estudos. No decorrer desta reflexão vamos ten- tar chamar àqueles que se interessam em entender um pouco mais sobre a comple- xidade do processo de inclusão escolar, no sentido de indicar algumas questões que possam favorecer um repensar sobre como desenvolver uma educação inclusi- va, de forma que a própria ação de refletir possa significar mudança. Para início da discussão destacou-se al- guns conceitos e ideias sobre a educação inclusiva. Educadores que se dedicaram à pesquisa sobre essa temática tentaram contextualizar conceitos de um processo inclusivo de educação que consideram per- tinente ao direito de participação de todos no espaço escolar. Sobretudo, por meio de práticas e ações estruturadas para aten- der com igualdade a todos. A discussão de ambos educadores mostrou que para se efetivar a educação inclusiva de fato, haverá a necessidade de transformações na estrutura e organização do tempo e es- paço escolar. Além disso, é preciso haver formação permanente dos profissionais que atuam diretamente com a diversidade sociocultural presente num mesmo espaço educacional escolar. Uma das tentativas de mudanças de pa- radigma educacional ficou registrada na substituição do termo integração para o termo inclusão. Mudanças de estruturas e paradigmas são muitas vezes, lentas e até dolorosas. Mudar tradições requer paciên- cia, persistência e enfrentamento de resis- tências e limites. Infelizmente, não se pode afirmar, hoje, que a inclusão como proces- so de inserção total, se instalou de fato nas escolas brasileiras e substituiu, completa- mente, o modelo da integração, processo parcial de inserção. 4 5 Neste sentido, há de se perceber que este sonho de incluir todos num mesmo espaço e com as mesmas oportunidades de aprendizado se realiza lentamente, por meio de tentativas, erros e acertos. Assim sendo, torna-se necessário pensar que o processo de educação inclusiva vai exigir de fato mudança de paradigma educacio- nal e o fim da subdivisão do ensino especial e ensino regular. Entretanto, sabe-se que é direito de qualquer pessoa, ocupar um espaço na escola pública, tendo os mesmos direitos e oportunidades para aprender. Se numa visão tradicional de educação o processo de integração imperou como paradigma de educação ideal, na atualida- de, urge uma mudança de mentalidade. No contexto da inclusão escolar é necessário valorizar as diferenças individuais, no sen- tido de que aprende-se com maior qualida- de quando o professor deixa de ser o único detentor do saber. Num espaço onde as diferenças individuais são respeitadas e valorizadas haverá espaço para a coopera- ção, para a solidariedade e para as signifi- cativas trocas culturais. Nessa ambiência educativa se instala as oportunidades de aprender com os pares, onde todos os alu- nos se beneficiam academicamente, tendo a chance de expandir suas ideias, emoções e potencialidades que numa outra situação não lhe seria possível. Para se discutir uma forma mais ade- quada de organização da escola para o desenvolvimento da educação inclusiva, recorreu-se a pesquisadores que com per- tinência levantaram importantes ideias teóricas e práticas de como se fazer inclu- são no espaço da escola regular de ensino. Uma ideia que mereceu destaque e que precisa ser levada em conta é o fato de que num processo de educação inclusiva há a necessidade de formação de grupos de es- tudos e discussões entre os profissionais da educação sobre os problemas educacio- nais nas escolas. O foco central desse mo- delo educacional precisa se fundamentar, prioritariamente, na aprendizagem do alu- no. E para assegurar que ocorra a inclusão, se fará necessário, a compreensão de que é fundamental uma aliança entre teoria e prática em qualquer ação pedagógica que venha a ser executada na escola. Ao tratar neste estudo de uma expe- riência de pesquisa de inclusão na esco- la regular, a ideia foi mostrar um pouco da vivência de uma aventura, que buscou respostas para incertezas e angústias que faziam parte da realidade de uma educa- dora, que buscava conhecer os caminhos que contribuem para a inclusão/exclusão de pessoas com deficiência no cenário es- colar. Na trajetória de pesquisa, a realidade do cenário revelou a necessidade de maior conhecimento do processo de educação inclusiva por parte dos profissionais. Mos- trou que para se efetivar a inclusão na es- cola regular é preciso conhecer a essência do processo, planejar e organizar as ações educativas. É necessário acreditar que to- dos os alunos são capazes de aprender e, que a inclusão só se efetiva de fato, quan- do há reconhecimento das diferenças in- dividuais como fator positivo para enri- quecimento do espaço cultural. Quando há cooperação e busca de estratégias para desenvolver uma educação que valorize todos os alunos nas suas variadas habilida- des e talentos. É válido ressaltar alguns caminhos que são fundamentais ao professor quando este pretende ensinar e aprender na diver- sidade. É preciso ter a coragem de mudar o 4 5 que já está pronto, alçar vôos mais altos e vislumbrar novos caminhos quando se pre- tende ensinar e aprender num processo de educação inclusiva. A tarefa de ensinar é complexa, pois motivar alguém a apren- der depende de estratégias criativas para fazê-lo de forma eficaz. Assim, todo esse processo educacional vai demandar do professor não só conhecimentos científi- cos, mas, também uma tomada de atitude para mudar as velhas práticas, tornando- -as espaços de interação e de respeito à cultura e ao conhecimento de todos. A seguir, a preocupação ficou em torno da discussão de quais competências didá- ticas poderiam favorecer a educação inclu- siva. Ficou registrado que uma educação inclusiva exige uma ação docente dinâmica e inovadora que vai requerer uma forma- ção docente continuada em serviço. Na versão inclusiva os docentes se colocam como gestores da ação educativa, tomam decisões, e têm liderança compartilhada nos diversos espaços das escolas. Neste sentido, o professor busca estratégias es- pecíficas de atendimento educacional es- pecializadopara atender às necessidades de todos os alunos. Ficou também registrada a importância da parceria dos pais com a escola para fa- vorecer uma melhor qualidade ao processo de educação inclusiva. Os pais que acom- panham o trabalho da escola, que partici- pam de reuniões, que se aliam à escola nas suas dificuldades de lidar com as diferen- ças individuais estão favorecendo o êxito da inclusão. Contudo, torna-se necessário que a escola abra as portas para a família de forma a envolvê-la como força-tarefa nesse processo inclusivo de educação. Encerrando a presente discussão ficou exposto o conto de uma história relatada por uma pessoa portadora de deficiên- cia visual que descreveu algumas de suas experiências escolares, com o propósito de contribuir para uma reflexão sobre as ações e atitudes dos profissionais que fi- zeram parte do seu processo educativo. É importante observar na presente história certa fragilidade dos professores para li- dar com as diferenças individuais. Pode- -se analisar também, que algumas ações daquela realidade vivida, infelizmente, podem ser associadas a alguns fatos da realidade educacional do momento atual, configurando ações excludentes. Importa ressaltar que o quadro concei- tual e teórico que fundamentou este estu- do não esgotou as ideias que se relacionam com o tema educação inclusiva. É impor- tante lembrar, como foi mencionado nes- te texto, que é necessário e urgente que os profissionais da educação percebam a importância da formação continuada em serviço. Pois esta é estratégia que pode permitir a melhoria das ações educativas, no cenário da educação inclusiva. Portanto, a partir deste estudo, espera- -se que haja uma leitura crítica com relação ao processo de inclusão. Vale lembrar que nunca se discutiu tanto, esse tema, como nos dias de hoje. E nessa perspectiva, mui- tos são os desafios a enfrentar e toda e qualquer tentativa de desenvolver uma educação que promova a inclusão de todos na escola ou na vida em sociedade, impli- cará em mudanças das condições atuais em que se encontram as escolas regulares. Então, fique alerta! 6 7 UNIDADE 1 - Conceitos e fundamentos da educação inclusiva 6 O conceito de educação inclusiva é am- plo e complexo. Ele se expressa em dife- rentes formas de concepção e contextos. Para uma melhor compreensão deste es- tudo é necessário levar em conta a ques- tão dos direitos humanos e das diferenças individuais. Sabemos que a inclusão de todos nas escolas brasileiras, ainda, não é uma realidade de fato. Muitos educadores que se dedicam a pesquisas sobre esse as- sunto revelam que para haver inclusão es- colar na realidade das escolas regulares de ensino há a necessidade de mudanças de paradigmas educacionais e afirmam que, infelizmente, existe uma cultura que per- siste em conservar práticas excludentes no cenário das escolas. Neste sentido, a presente reflexão, poderá contribuir com algumas questões sobre o desenvolvimento do processo de educação inclusiva. Elas ressaltam a impor- tância de valorizar as diferenças e oportu- nizar a todos os alunos, o acesso ao espaço escolar e ao conhecimento científico com igualdade de oportunidades. Antes de abordar algumas reflexões sobre o paradigma da educação inclusiva, considera-se pertinente analisar os con- ceitos de educadores que se dedicaram e ou dedicam a pesquisar sobre esse pro- cesso educacional. Educadores e pessoas que direta ou indiretamente, defendem o direito de todos na escola com as mesmas oportunidades de acesso e permanência e aprendizagem de qualidade. Nas ideias de Stainback (1999), a educa- ção inclusiva é a prática da inclusão escolar de todos os alunos, independentemente, de seu talento, deficiência, origem sócio- -econômica ou origem cultural onde todos possam se apropriar, igualmente, de todos os benefícios que a escola pode oferecer. A inclusão é um valor. Ela é o que fazemos com todas as crianças. Ela é o que deseja- mos para nós mesmos. Nesse modelo de educação todos os alunos juntos têm o di- reito à mesma preparação para a vida na comunidade. Baseado neste conceito pode-se afir- mar que esse tipo de educação requer uma transformação dos sistemas de ensino no país. As escolas brasileiras se configuram, ao longo da história de educação brasileira até os dias de hoje, no retrato de uma edu- cação para uma parcela da sociedade. As mudanças ocorrem de forma lenta com re- lação ao processo de inclusão de todos no espaço educacional escolar. Basta verificar o índice de evasão, repetência e insucesso no processo de aprendizagem dos alunos. Na visão de Mitler (2003), a educação inclusiva se baseia num sistema de va- lores que faz com que todos os alunos se sintam bem vindos à escola e esta celebra a diversidade que tem como base o gêne- ro, a nacionalidade, a raça, a linguagem de origem, o nível de aquisição educacional e cultural, ou a deficiência. Esse modelo de inclusão, porém, implica em uma reforma radical nas escolas em termos de currículo, avaliação, pedagogia e agrupamento dos alunos nas atividades de sala de aula. Im- plica, também, no preparo apropriado dos professores mediante uma formação de uma educação e desenvolvimento profis- sional contínuo durante a vida profissional. A ideia acima revela que o processo para uma educação inclusiva caminha como ex- 6 77 pressão de luta para o alcance dos direitos humanos, tendo, portanto, a necessidade de amplas transformações. Mantoan(2003), destaca que a educa- ção inclusiva implica em mudança de para- digma educacional. É a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós. A educa- ção inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção. Esse processo prevê a inserção de todos os alunos de forma radical, com- pleta e sistemática. A inclusão escolar é produto de uma educação plural, democrá- tica e transgressora que provoca uma cri- se de identidade institucional, que por sua vez, abala a identidade dos professores, pois parte dos mesmos buscam alunos de modelos ideais, permanentes e essenciais. A ideia de aluno ideal pode nos levar a refletir sobre a cultura da homogeneidade, muitas vezes, desejada por educadores que temem mudanças, utilizam de práticas imutáveis e rotineiras e desvalorizam as di- ferenças individuais. O conceito de educação inclusiva nas palavras de Ferreira e Guimarães (2003) se refere ao acesso à escola de todos os alu- nos, indistintamente, independentemen- te, do fato de apresentarem dificuldades e ou deficiências. Nesse modelo de edu- cação é preciso criar alternativas técnico- -pedagógicas, psicopedagógicas e sociais que possam contribuir para o processo de aprendizagem de todas as crianças, e isto requer mudança de antigos para novos paradigmas. E é a partir da compreensão de inúmeros aspectos ligados aos concei- tos de igualdade e de diferença, é que se pode investir em seres humanos melhores e mais fraternos. E assim sendo, haverá significativa contribuição para profundas modificações na área educacional. De acordo com Guimarães (2003), a in- clusão escolar que funciona se baseia na ideia de que incluir é mais do que criar con- dições para os deficientes, é um desafio que implica em mudança da escola como um todo, partindo do projeto pedagógico, à postura do professor diante dos alunos. Na educação inclusiva não se espera que o aluno com deficiência se integre à escola, mas que esta se transforme de maneira a possibilitar a inserção total dele. Considerando a ideia acima, vale a pena chamar a atenção pelo fato de que a esco- la precisa de transformação para receber qualquer tipo de aluno, mesmo aqueles com deficiência. Valendo-se disso, umaquestão merece ser refletida: Há interes- se e vontade política por parte de todos os profissionais das escolas em mudar, radi- calmente, atitudes, práticas e conceitos? Nas últimas décadas, o tema inclusão tem sido palco de debate para educadores, pais de alunos com deficiências e pessoas diretamente ligadas a instituições que lu- tam pela inclusão e valorização das pes- soas que portam alguma deficiência ou dificuldades de aprendizagem. Pensar a educação numa lógica inclusiva é pensá- -la em novas perspectivas educacionais, é caminhar para a busca dos direitos, bem como, levantar a bandeira da igualdade no cenário educativo. Para discutir com maior propriedade a educação inclusiva, consideramos neces- sário refletir como esse processo surgiu e como ele vem sendo analisado no cenário da educação escolar. 8 9 1.1 Do Processo De Integra- ção Ao Processo De Inclusão Para uma maior compreensão das po- lêmicas que envolvem a ideia dos proces- sos de integração ao processo de inclusão, Mantoan (2003, p. 22) sugere importan- tes reflexões que podem favorecer uma melhor compreensão desses paradigmas educacionais. A discussão sobre integra- ção e inclusão provoca dúvidas devido aos significados semelhantes, porém, ambos se referem à situações de inserção no en- sino regular de maneiras diferentes e se divergem nos fundamentos teórico-meto- dológicos. Para iniciar a discussão ela faz o seguinte registro sobre o processo de inte- gração escolar: Os movimentos em favor da integra- ção de crianças com deficiência sur- giu nos Países Nórdicos, em 1969, quando se questionaram as práticas sociais e escolares de segregação. Sua noção de base é o princípio de normalização, que não sendo especí- fico da vida escolar, atinge o conjunto de manifestações e atividades hu- manas e todas as etapas da vida das pessoas, sejam elas afetadas ou não por uma incapacidade, dificuldade ou inadaptação. No processo de integração escolar o alu- no participa das atividades escolares na sala de aula do ensino regular e também do ensino de escolas especiais. Assim sen- do, esse aluno transita no sistema escolar regular e especial, em todos os tipos de atendimento, ou seja, classes especiais em escolas comuns, ensino itinerante, sala de recursos, classes hospitalares, ensino do- miciliar e outros. Neste sentido, o aluno é submetido a um processo parcial de inserção, pois o sistema segrega quando oferece servi- ços educacionais de forma diferenciada para alguns em lugares especiais, ou seja, a escola não muda como um todo, mas os alunos precisam se deslocar, e mudar para se adaptarem às exigências de um sistema que prima pela homogeneização e nivela- mento da aprendizagem. Assim sendo, o processo de integração tem por objetivo inserir um aluno ou um grupo de alunos, que já foi anteriormente excluído. O sistema de integração na escola de- nota situações de seleção e discriminação, pois nem todos os alunos com deficiência cabem nas turmas de ensino regular. Há, infelizmente, resistências por parte de algumas escolas em aceitar a presença de pessoas que possuem características marcantes, sejam elas físicas ou mentais. E a situação é mais constrangedora, ainda, quando a escola nem se quer avalia as reais condições do aluno de participar das ativi- dades cotidianas do espaço educativo. Considerando esta situação, percebe- -se que a escola não muda, não avalia suas estruturas, não mexe no sistema que já se encontra enraizado em ideias inflexíveis e rigidamente registradas num modelo cul- tural que parece se apresentar resistente a mudanças. Em situações onde a integração escolar é o único caminho que a escola adota, con- cebe-se uma proposta de trabalho menos holística, pois os objetivos educacionais são reduzidos para compensar as dificul- dades de aprendizagem, os currículos são adaptados e as avaliações são especiais li- mitando a capacidade de transgressão dos limites individuais, ou seja, é predetermi- nada a quantidade de conhecimentos que 8 9 o aluno consegue aprender. Com base nes- ta afirmação, pode-se entender que num sistema de ensino no qual não se acredita na capacidade do ser humano de ser mais e de aprender sempre fica clara a situação de exclusão. A integração escolar pode ser enten- dida como o “especial na educação”, ou seja, a justaposição do ensino es- pecial ao regular, ocasionando um inchaço, desta modalidade, pelo des- locamento de profissionais, recursos, métodos e técnicas da educação es- pecial às escolas regulares. (MANTO- AN, 2003, p. 23) A ideia acima revela que o objetivo da in- tegração escolar se limita a inserir o aluno na escola regular sem mudanças e abolição dos serviços segregados da educação es- pecial. Além disso, essa modalidade exige que o aluno é que se adapte às exigências do sistema que já encontra alojado. No caso da inclusão escolar, o trata- mento das diferenças tem uma política de organização que se baseia no princípio da igualdade. Esta no sentido de favorecer o direito a ter direitos iguais. Pois a Consti- tuição Federal prescreve no seu Art. 5º que todos são iguais perante a lei, sem distin- ção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residen- tes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. O registro deste artigo é claro e objetivo no que se refere aos direi- tos de qualquer cidadão ter os mesmos di- reitos. Neste sentido, caberia a qualquer escola investir na organização de seu sistema de ensino pautado na ideia de inclusão. Sobre a questão da inclusão escolar, Mantoan (2003) também sugere uma importante contribuição para as escolas brasileiras, no momento em que discute conceitos, alter- nativas de melhoria da qualidade do ensino e favorece um novo olhar sobre a questão da valorização das diferenças individuais no espaço da sala de aula e na escola. Ela enfatiza que para a escola ser inclusiva precisa partir de um bom projeto pedagó- gico que começa pela reflexão. Um bom projeto valoriza a cultura, a história e as experiências anteriores da turma. Os alu- nos precisam de liberdade para aprender do seu modo, de acordo com as suas con- dições. E isso vale para os estudantes com deficiência ou não. O processo de educação inclusiva exige de fato mudança de paradigma educacio- nal. Exige que chegue ao fim a subdivisão do ensino especial e ensino regular. Pois é direito de qualquer pessoa, ocupar um es- paço na escola pública, e ou, na sociedade, seja em qualquer tempo ou espaço, consi- derando as normativas instituídas em lei. A partir do momento que se instaura a educação inclusiva no meio educativo ha- verá obstáculos reais a serem transpostos, pois os impactos da inclusão numa cultura já instalada podem provocar insegurança, insatisfação, medo e aversão ao processo. Além disso, essa nova visão inclusiva de trabalho vai abalar a rotina da massifica- ção dos programas prontos e indiscutíveis e das classes especiais nas escolas que passarão a não existir mais. Assim sendo, todas as turmas da escola inclusiva se constituirão em espaços da di- versidade. Espaço para as trocas culturais, para o respeito à capacidade de cada aluno para aprender dentro do seu tempo. Tais afirmações podem gerar insegurança e até mesmo descrédito de alguns professores 10 11 que não acreditam neste modelo de edu- cação. A educação inclusiva vai, com certeza, mexer com conceitos, paradigmas e cultu- ras cristalizadas de que não é possível tra- balhar na perspectiva da igualdade. Mitler (2003) apud Cláudia Werneck que salienta com propriedade a seguinte contribuição “Traga dúvidas e incertezas, doses de an- siedade, construa e desconstrua hipóte- ses, poisaí reside a base do pensamento científico do novo século . Um século can- sado de verdades, mas sedento de cami- nhos.” Nessa reflexão presencia-se a emer- gência de mudanças, de posturas científi- cas e complexas. O sujeito dessa sociedade atual não pode mais conviver com verda- des prontas e incontestáveis. É preciso caminhar para frente em busca de novas ideias e resolução para os problemas que afligem. A realidade atual requer mudança de an- tigos para novos paradigmas. A transição do processo de integração e inclusão pas- sa por momentos de desafios, incertezas, conflitos, medos e acima de tudo insegu- rança de se lançar ao novo. Neste sentido, Mitler (2003) apud Morin (2000), que su- gere com pertinência a seguinte ideia que poderia servir de relação com essa transi- ção de processos: Estamos numa época em que te- mos um velho paradigma, um velho princípio que nos obriga a disjuntar, a simplificar, a reduzir, a formalizar sem poder comunicar aquilo que está disjunto e sem poder conceber os conjuntos ou a complexidade do real. Estamos num período “entre dois mundos”: um que está prestes a morrer, mas que não morreu ainda, e outro, que quer nascer, mas que não nasceu ainda. Estamos numa grande confusão, num desses períodos an- gustiantes, de nascimentos que se assemelham aos períodos de agonia, de mortes. A atualidade da era do conhecimento, da globalização e da complexidade imprime muitos desafios para a escola. Sem con- tar a questão da diversidade cultural que a cada dia evolui com as novas ideias, com as experiências e com as transformações que ocorrem na sociedade de maneira muito rápida. Toda essa mudança tende a provo- car certa angústia nos professores que se sentem como se estivessem sempre defa- sados diante da sala de aula. Mantoan (2003) apud Mitler (2000), salienta que os professores do ensino re- gular se consideram despreparados e in- competentes para lidar com as diferenças nas salas de aula, especialmente, ao aten- dimento de alunos com deficiência, pois seus colegas especializados sempre se dis- tinguiram por realizar unicamente esses atendimentos e exageraram essa capaci- dade de fazê-lo aos olhos de todos. De acordo com a autora pode-se anali- sar que há por parte dos professores certa insegurança para lidar com situações que fogem da normalidade da prática comum do cotidiano. O fato dos colegas especiali- zados exagerar na excelência da sua prá- tica acaba favorecendo aos professores da escola regular de ensino o sentimento de incompetência. Vale a pena lembrar que mesmo a partir de alguns acontecimentos como seminá- rios e congressos destinados a discutir a educação inclusiva percebe-se que a práti- 10 11 ca da inclusão total e irrestrita é incipiente nas escolas regulares. Muitas tentativas de inclusão escolar se tornam experiências frustrantes devido a ações que não encon- tram novas alternativas de mudanças que favoreçam uma real educação inclusiva. A importância central em torno desta discussão está no fato de que a exclusão e a discriminação devem ser extintas da es- cola. Todos os alunos devem ter as mesmas chances de acesso aos conhecimentos e às atividades realizadas pela escola. É preciso que se reconheça que a igualdade é direito de todos. Que a inclusão é dever da escola e que os profissionais que atuam no espa- ço educativo reconheçam que as diferen- ças existem e que elas devem ser incluídas dentro da escola para favorecer a riqueza da multiplicidade cultural e dos princípios éticos da valorização humana. 1.2 A Valorização Das Dife- renças Na Escola Como Fa- tor De Inclusão Se quisermos que cada pessoa seja um membro respeitado de nossas comunidades, não podemos sepa- raralgumas crianças de seus pares durante sua vida escolar. Susan Stainback Abordar a questão das diferenças indi- viduais é uma tarefa um tanto complexa. Porque ao mesmo tempo em que falamos em diferenças, falamos de semelhanças. A presente discussão não irá abordar a ques- tão das diferenças de uma maneira pecu- liar. O contexto de discussão vai além das características físicas ou opções pessoais por determinadas preferências por coisas ou objetos. As diferenças individuais aqui colocadas são mais profundas, se referem à essên- cia da pessoa, por isso, é de fundamental importância que sejam enaltecidas e valo- rizadas pela escola. É preciso reconhecer que cada ser humano possui suas especi- ficidades e habilidades naturais. São seres humanos diferentes por natureza, perten- cem a grupos variados, convivem e desen- volvem-se em culturas distintas. São dife- rentes por direito. Infelizmente, existem culturas que insistem em diferenciar pes- soas por condições intelectuais, sociais, fí- sicas, dentre outras. É preciso pensar que tratar pessoas diferentemente, enfatizan- do suas diferenças de maneira a inferiori- zá-las, é criar estigmas, é excluir. Conviver reconhecendo e valorizando as diferenças é uma experiência es- sencial à nossa existência, desde que definamos a natureza dessa relação, distinguindo o estar com o outro do estar junto ao outro. Estar junto ao outro tem a ver com o que o outro é – é um ser que não é como eu sou, que não sou eu. Essa relação estabelece uma identidade imposta, forjada e rotulada pelo outro. Estar com o ou- tro, tem a ver com quem é esse outro, esse desconhecido, um enigma que tenho de decifrar e que vai sendo des- velado à medida que se constrói en- tre nós um vínculo pelo qual nos con- frontamos, nos identificamos e nos constituímos como seres singulares e mutantes. (MANTOAN(2004/2205, p. 13 apud SILVA, 2000). A escola como instituição formadora de ideias, não pode destruir as diferenças no seu meio. Deve acima de tudo extinguir a tentativa de assegurar homogeneidade 12 13 das turmas escolares e acolher a diversi- dade cultural existente nos vários pensa- mentos e vivências pessoais num mesmo espaço. Numa entrevista à revista Pátio, Stainback (2004/2005) respondendo à pergunta se as escolas deveriam estar equipadas para atender a qualquer tipo de criança com necessidade especial ou seria melhor se patologias específicas fossem atendidas somente em educação especial, ela ressaltou que: se quisermos que cada pessoa seja um membro respeitado em qualquer lugar, não se pode separar algu- mas crianças de seus pares durante a tra- jetória de vida escolar. Não há justificativa para a segregação nas escolas e nem na sociedade. Todos os indivíduos têm direito de ser parte integrante de qualquer espa- ço na sociedade. Não acredito que apenas algumas pessoas têm o direito de ser par- te de todo o grupo, enquanto outras pre- cisam provar o seu valor porque são con- sideradas diferentes. Quando as crianças não aprendem juntas e não se compreen- dem mutuamente, enraíza-se o fenômeno do “nós e eles”. É preciso acreditar que toda criança tem algo a oferecer, e seus talen- tos não serão aproveitados pelos pares se segregarmos aquelas percebidas por “nós como eles”. A ideia acima ilustra uma das maiores dificuldades que precisam ser repensadas e discutidas nas escolas. A construção de novos paradigmas de inclusão deve partir da ideia da valorização das diferenças e do direito a igualdade. Na atualidade, não é possível negar a política e a organização das diferenças. A sociedade de hoje vive numa época em que se assiste de maneira acelerada o abalo das certezas. Emerge o paradigma da lógica includente da comple- xidade. Morin (2002) concebe que a contribui- ção da cultura das humanidades para o es- tudo da condição humana é fundamental. O estudo da linguagem sob a forma mais consumada que é a forma natural, literária e poética é criada na essência de cada um. No momento em que a escola concederes- paço para que todos se manifestem, inde- pendentemente de crença, etnia, condição física, deficiência, estará criando um con- junto de estruturas para o êxito da inclu- são. Na educação inclusiva, as informações devem se transformar em conhecimento. E esse conhecimento precisa ser transfor- mado em sabedoria para que haja compre- ensão humana. A compreensão humana chega às pes- soas quando se sente e se concebe os hu- manos como sujeitos. Ela torna as pessoas abertas ao sofrimento e a alegria. E é a par- tir da compreensão humana que se pode lutar contra o ódio e a exclusão. Considerando as palavras desse autor, percebe-se que as maiores dificuldades da escola em trabalhar com a inclusão ocorre por falta de sabedoria de como lidar com a diversidade humana. Enfrentar essa di- ficuldade exige o trabalho de uma peda- gogia criativa que dialogue com a incerte- za humana, que prepare as pessoas para situações inesperadas, que conscientize as pessoas de que sua própria vida é uma aventura da humanidade. A diversidade humana apresenta-se assim, como algo vivido e a viver. É um ca- minho sem volta. Querendo ou não, todos fazem parte dessa diversidade humana. É preciso, portanto, lutar para adquirir res- peito e o direito de ser diferente. Basea- do nesta reflexão, Ferreira e Guimarães 12 13 (2003, p. 41), registraram a seguinte ideia: A sociedade está se tornando mais complexa a cada dia: a diversidade aumenta de forma acelerada. Com isso, imperceptivelmente, muda tam- bém a forma de compreender o mun- do e os próprios semelhantes. É este o novo paradigma que está nascen- do: “viver a igualdade na diferença”, “integrar na diversidade” – eis o apelo dos líderes dos movimentos em con- flito. O diferente fica cada vez mais comum. Partindo desta reflexão, qual é o papel da escola a desempenhar para valorizar todas as pessoas que ocupam um espaço no seu interior? A escola de hoje tem que assumir uma função diferente das quais assumiu no passado. Hoje a demanda so- cial, política e humana exige um novo mo- delo de educação. A escola atual tem uma função mais complexa. O seu processo de formação deve estar pautado no desper- tar da reflexão crítica e sistemática sobre a natureza humana, na importância das di- ferenças individuais, na valorização da ca- pacidade criadora de cada ser humano, na consciência da incompletude e da necessi- dade de ser mais a cada dia. Não se pode negar que falta um longo caminho para que as escolas brasileiras in- corporem na sua estrutura organizacional todos estes requisitos mencionados. Mas não se pode negar, também, que há ten- tativas de avanço no aprofundamento de valores e atitudes compatíveis com os ide- ais de igualdade, diferença, diversidade e deficiência. Segundo Ferreira e Guimarães (2003), é necessário repensar o significado da prática pedagógica na escola regular, para poder assim evitar os erros do passado, quando os alunos com deficiência eram deixados á margem. Neste sentido, cabe a escola se tornar uma ambiente de ensino e aprendizagem de qualidade, garantindo aos alunos, sem distinção, o apoio e incen- tivo para que sejam sujeitos ativos nesse novo tipo de sociedade. Pode-se concluir, portanto, que é urgen- te repensar sobre a questão das diferenças individuais e construir novos paradigmas de convivência humana. Não se pode negar a beleza da diversidade humana. É preciso percebê-la como algo positivo e importan- te para a compreensão humana. 1.3 A Organização Docente na Educação Inclusiva Teoria e Prática Segundo Pesquisa- dores Muitos professores reagem com perple- xidade quando se discute questões rela- cionadas à inclusão na escola regular. Há de se reconhecer que uma expressiva parcela de professores foram formados a partir de um processo de educação tradicional onde priorizava-se a memorização de conteúdos prontos e acabados que ao serem ensina- dos pelo professor da época tornava-se uma verdade única e indiscutível. Ao analisar esta ideia pode-se notar que nesse modelo de educação havia padroni- zação do saber e todos aqueles que não se enquadravam ao nível mínimo exigido pela escola, eram, totalmente, excluídos dela, sem justificativas que pudessem ser dis- cutidas. 14 15 Certamente, um professor que fora for- mado nestes moldes educativos e que não tenha uma formação continuada na pro- fissão docente, poderá ter maiores dificul- dades de lidar com as diferenças individu- ais no seu espaço pedagógico de atuação. Admite-se pensar assim, o fato de carregar na sua bagagem cultural um retrato padro- nizado de ensino incompatível com as ne- cessidades de um paradigma de educação inclusiva. O que pode acontecer, no entanto, com professores oriundos dessa experiência pedagógica tradicional é o fato dos mes- mos encontrar dificuldades de se desgarrar dessa referência de padrões pré-estabele- cidos, rígidos e considerados imutáveis. E isso poderia desencadear uma transferên- cia de posturas, aprendizados e crenças para a sua própria prática docente, confi- gurando-a num espaço de educação que favoreça uma relativa parcela de repetição dos moldes tradicionais de educação. Segundo Mantoan (2003) o argumen- to usado, geralmente, pelos professores quando se vêem diante da possibilidade de envolvimento com um grupo mais he- terogêneo de alunos é dizer que não estão preparados ou não terem sido preparados para desenvolver a inclusão de alunos que não se enquadram no padrão da dita nor- malidade. Alguns professores reagem, inicialmente, à metodologia de oferecer a todos as mesmas oportunidades nas mais variadas estratégias pedagógicas de tra- balho. Não é novidade que mesmo que o pro- fessor utilize da mesma metodologia para ensinar todos os alunos, os resultados se- rão diferentes. Porém, sabe-se que há ex- pectativas entre professores de que todos os alunos aprendem os conteúdos num mesmo tempo e espaço. Esta ideia revela a necessidade de co- nhecimento por parte desses professores de como se processa a construção do co- nhecimento. E, enquanto esses se funda- mentarem no senso comum para desen- volver sua prática de educação não haverá compreensão científica de como desenvol- ver de forma eficaz uma educação inclusi- va de fato. Considerando esta ideia, vale a pena citar as palavras de Mantoan (2003) que sugere que para se efetivar, na realidade, uma educação inclusiva há a necessidade de formação de grupos de estudos e dis- cussões sobre os problemas educacionais nas escolas. Ainda, recomenda que a orga- nização desses grupos deve partir dos pró- prios professores no momento em que se encontram na escola. As reuniões devem ter como ponto de partida as necessidades e os interesses comuns de alguns profes- sores, como também, a discussão de estra- tégias de trabalho na sala de aula e a troca de experiências que deram certo. A questão sugerida acima é pertinente e fundamentalmente, importante para a reflexão dos professores. Pois a interação, as trocas culturais de experiências são es- tratégias significativas para o desenvol- vimento da educação inclusiva. Segundo Mitler (2003) a partir do momento que os profissionais ligados è educação têm com- preensão de inúmeros aspectos ligados aos conceitos de igualdade e de diferença, fica mais fácil investir em seres humanos melhores, mais fraternos e isso, conse- quentemente, vai resultar em boas modi- ficações na área educacional. Neste sentido, o autor chama a aten- ção para a importância da discussão nas 14 15 escolas de questões ligadas à diferença e igualdade. Acredita-se que o ponto de par- tida para iniciar um trabalho de educação inclusiva é o conhecimento desses concei- tos. Um ensino inclusivo, como se sabe é moroso porque requera conscientização da mudança de paradigmas antigos para novos paradigmas. Não é novidade que a implementação de um processo de educação inclusiva irá exi- gir paciência, estudo, cooperação, solida- riedade, conhecimento do funcionamento da inclusão e uma boa dose de coragem e entusiasmo para enfrentar as incertezas, dúvidas e novidades que vão surgir no co- tidiano do cenário educativo. E para não se desvencilhar da rota da educação inclusi- va, cada profissional envolvido vai precisar se libertar dos velhos, superficiais e rígidos paradigmas de integração e inclusão par- cial na escola de ensino regular. Mitler(2003, p. 135) oferece uma contri- buição quando assinala que na escola nun- ca deve deixar de haver questionamentos, e acrescenta: pensar a educação numa lógica buro- crática e corporativa de mera adição, confrontação ou justaposição de “pa- péis educacionais” é pensar a educa- ção numa perspectiva profundamen- te redutora, social e culturalmente perversa. Reforçar os mecanismos de interação solidária e os procedimen- tos cooperativos é, pois, um imperati- vo de qualquer política educativa que pretenda assumir a educação como uma responsabilidade social. Dessa forma, a interação é uma ativida- de que deve acontecer como fator impres- cindível nos ambientes da escola para que se privilegie a circulação de informações, a cultura da cooperação, o crescimento da formação voltado para a construção de no- vos conhecimentos, bem como a aprendi- zagem do aprender sempre. A educação inclusiva não prevê a uti- lização de práticas de ensino escolar específicas para esta ou aquela defi- ciência e/ ou dificuldades de aprendi- zagem. Os alunos aprendem nos seus limites e se o ensino for, de fato, de boa qualidade, o professor levará em conta esses limites e explorará con- venientemente, as possibilidades de cada um. Não se trata de uma aceita- ção passiva do desempenho escolar, e sim de agirmos com realismo e co- erência e admitirmos que as escolas existem para formar as novas gera- ções, e não apenas alguns de seus fu- turos membros, os mais capacitados e privilegiados. MANTOAN, 2003, p. 67). As palavras da autora mostram o desafio que a realidade desse modelo de educação vai exigir do professor e demais pessoas envolvidas no processo de aprendizagem dos alunos com maiores dificuldades. Con- tudo, ainda, vai ser necessário reorganizar as estruturas educacionais embasadas nos moldes de uma educação que privilegia uma minoria. A educação inclusiva impõe a reestrutu- ração dos espaços em sala de aula. Neste contexto, os alunos não devem se apoiar somente no professor, ou seja, precisam de liberdade para se apoiarem mutuamen- te com todos os colegas de classe. O papel controlador do professor como único facili- tador da aprendizagem deixa de existir e o cenário educativo se abre para que todos ensinem e aprendem juntos. 16 17 Uma situação que pode contribuir para a aprendizagem de todos se encontra na oportunidade das trocas de experiências através de trabalhos coletivos em grupos pequenos e diversificados que exercitam a capacidade de decisão dos alunos diante da escolha das tarefas. Mantoan (2003, p. 68), destaca a seguinte reflexão com per- tinência: É certo que não se consegue prede- terminar a extensão e profundidade dos conteúdos a serem construídos pelos alunos, nem facilitar/adaptar as atividades escolares para alguns, porque somos incapazes de prever, de antemão, as dificuldades e as fa- cilidades que cada um poderá encon- trar para realizá-las. Porque é o aluno que se adapta ao novo conhecimento e só ele pode regular o processo de construção intelectual. A maioria dos professores não pensa assim nem é alertada para esse fato e se apavora, com razão, ao receber alunos com de- ficiência ou com problemas de apren- dizagem em suas turmas, pois prevê como será difícil dar conta das dife- renciações que um pretenso ensino inclusivo exigir-lhes-á. A educação assim compreendida, pro- porcionaria aos professores algumas re- flexões que poderiam favorecer uma nova estratégia pedagógica, onde o aluno dei- xaria de aprender sozinho na sua carteira e passaria a buscar conhecimento com todos ou com aqueles que lhe atribuísse maior confiança ou facilidade de entendimento. A superação das dificuldades e insegu- rança poderia ser erradicada a partir de um trabalho voltado à exploração de talentos, ao desenvolvimento de predisposições, à criação de alternativas pedagógicas atu- alizadas e recheadas de possibilidades de transcendência da criatividade. O ensino deixaria de ter apenas uma metodologia para ser mediado e passaria a ser relacio- nado à vida dos alunos e da sociedade em que se vive na realidade atual. O foco central da educação inclusiva não se fundamenta, prioritariamente, no ensi- no e sim, na aprendizagem do aluno. O pro- cesso de educação, assim entendido, se- gundo Mitler (2003) implica a existência de processos transformadores que decorrem da experiência, algo inerente a cada sujei- to e que depende da ação, da interação e transação entre sujeito e objeto, sujeito e meio. Para que a turma toda seja capaz de aprender novos conhecimentos, o profes- sor precisa ter consciência de que cada aluno já sabe alguma coisa, e que qualquer educando é capaz de aprender dentro das suas capacidades cognitivas. Sabendo dis- so, um dos caminhos é trabalhar os conte- údos e atividades respeitando sempre as diferenças individuais, oferecendo estra- tégias pedagógicas dinâmicas, interativas, integradoras, cooperativas e dialógicas. Diante dessas sugestões, vale ainda, relembrar a questão já mencionada neste estudo de que o aluno é que vai se adap- tar ao novo conhecimento e que somente ele pode regular o processo de constru- ção intelectual, porém, o professor poderá contribuir para que haja um equilíbrio emo- cional diante das dificuldades de aprendi- zagem que, muitas vezes, surgem e desen- cadeia falta de segurança, de ousadia e de motivação do aluno. Algumas outras ideias propostas por Mantoan (2003, p. 71) apud Gallo 1999), podem servir de sugestões 16 17 para a melhoria da prática da educa- ção inclusiva: o rompimento das fronteiras entre as disciplinas curriculares; a formação de redes de conhecimento e de significações, em contraposição a cur- rículos conteudistas, a verdades prontas e acabadas, listadas em programas escola- res seriados; a integração de saberes, decorren- te da transversalidade curricular e que se contrapõe ao consumo passivo de infor- mações e de conhecimentos sem sentido; policompreensões da realidade; a descoberta, a inventividade e a au- tonomia do sujeito, na conquista do conhe- cimento; ambientes polissêmicos, favorecidos por temas de estudo que partem da re- alidade, da identidade sociocultural dos alunos, contra toda a ênfase no primado do enunciado desencarnado e no conheci- mento pelo conhecimento. Aliado a essas contribuições, outras de expressiva importância são suge- ridas por Mitler(2003, p. 152) para atender à proposta da educação in- clusiva: Aprende-se não só com a escola e, muito menos, só fora dela; Aprende-se a vida inteira, através das formas de viver e conviver; Processos cognitivos e processos vi- tais encontram-se e interagem constante- mente; Aprende-se pelas expressões da au- to-organização da complexidade e da per- manente conectividade de TODOS com TODOS, em todos os momentos e etapas do processo evolutivo; Cada ser vivo, para existir e viver tem que se flexibilizar, adaptar-se, reestrutu- rar-se, interagir, criar, coevoluir e transfor- mar; Diante dessas reflexões, percebe-se que uma proposta de inclusão total vai de- mandar dos envolvidos no contexto desse processo,algumas posturas inovadoras, atitudes ousadas e conhecimentos biopsi- cossocial e histórico. Assim, caberá, princi- palmente o professor, como gestor da sala de aula, promover o ensino para todos, sabendo que cada educando vai aprender dentro do seu ritmo de capacidade cogni- tiva. Porém, o professor pode e deve esti- mular e transgressão dos limites oferecen- do atividades desafiadoras e carregadas de significado e sentido para os alunos. Parafraseando Mantoan (2003), algu- mas práticas consagradas nas escolas não são capazes de ensinar a turma toda. Elas contribuem para uma maior seleção e dis- criminação quando não são desenvolvidas a partir da visão de que cada pessoa possui um processo de conhecimento diferente. Assim sendo a autora destacou que é contra a proposta de trabalhos coletivos que se resumem em atividades individuais realizadas ao mesmo tempo pela turma. É contra ensinar com ênfase e unicamente, a partir dos conteúdos programáticos da série. É contra adotar o livro didático como única ferramenta exclusiva de orientação dos programas de ensino. É contra a consi- derar a prova final como único instrumento para diagnosticar o desempenho escolar Outras práticas, segundo a mesma au- tora, não contribuem para o pleno desen- volvimento da inclusão. Como por exemplo, 18 19 não é a favor ao professor que serve-se de folhas mimeografadas e xerocadas duran- te todo o período de ensino para que todos os alunos as preencham ao mesmo tem- po, respondendo às mesmas perguntas, com as mesmas respostas. Não é a favor de propor projetos de trabalho totalmente desvinculados das experiências e do inte- resse da turma, que na maioria das vezes, só serve para demonstrar a pseudo-ade- são do professor às inovações. E, também não é a favor da organização do modo frag- mentado do emprego do dia letivo, que se apresenta com rigidez e determinação de tempo igual para que todos aprendam num mesmo período, e ainda, com conteúdos estanques desta ou daquela disciplina. A rotina escolar desenvolvida nestes moldes retrata a exclusão escolar que de alguma forma atinge àqueles que apre- sentam uma maior dificuldade de aprender ou deficiência específica ou necessita de maior tempo para aprender. Pode-se ima- ginar qual seria a reação desses alunos que rejeitam essas propostas de trabalho. Em muitas ocasiões esse ensino seletivo cau- sa indisciplina, passividade, revolta, eva- são e frustrações que poderão ser carre- gadas pelo resto da vida. Ao refletir sobre as ideias acima, pode- -se concluir que o êxito da educação inclu- siva depende, de várias mudanças de para- digma educacional escolar, a começar pela transformação nas práticas educativas da escola regular. Foi possível perceber que com práticas pedagógicas inflexíveis, sele- tivas, preconceituosas e discriminatórias, a exclusão vai se alastrar e se perpetuar no cenário da escola regular. Acredita-se, também que é necessário que os profis- sionais envolvidos direta e indiretamente, na educação inclusiva trabalhem, inovem e ousem na implantação e execução desse modelo de educação, acreditando na oti- mização da perspectiva inclusiva. 1.4 Uma Experiência De Pes- quisa Sobre Inclusão Na Es- cola Regular – A Realidade Discursiva Dos Profissionais A intenção aqui é compartilhar uma ex- periência de pesquisa sobre a inclusão rea- lizada numa escola da rede regular de ensi- no, onde havia uma criança com Síndrome de Down de sete anos de idade matricula- da na educação Infantil de uma escola da rede pública municipal de ensino. Concre- tamente, a pesquisa foi realizada durante o ano de 2004 e teve por objetivo analisar o desenvolvimento do processo de inclu- são realizado a partir da permanência des- sa criança nesse ambiente educativo. Espera-se que este relato possa contri- buir para um novo repensar sobre a educa- ção inclusiva e mostrar que não basta incluir alunos com necessidades educacionais especiais, sem acreditar na possibilidade de aprender todo dia com as experiências cotidianas, sem buscar novas estratégias de trabalho e, sem contudo, buscar conhe- cimentos que servirão de guia no enfren- tamento das dificuldades que tal processo possa demandar no cenário da escola. As experiências pesquisadas por Ne- ves(2005) apresentadas aqui fazem parte da rotina de trabalho de profissionais que estão diretamente envolvidos no processo de inclusão desenvolvidos pela escola. Tais profissionais contribuíram com a pesquisa relatando crenças e ideias sobre como con- cebiam e trabalhavam a inclusão no con- 18 19 texto das atividades ligadas ao processo. Na perspectiva de analisar crenças e ideias dos profissionais que faziam par- te de uma escola que estava envolvida no processo de inclusão e que era a escola considerada modelo para incluir todos os alunos, foram realizadas entrevistas com a diretora, a supervisora pedagógica e a professora da sala de aula onde estudava o aluno incluído. A intenção presente nessa prática in- vestigativa era conhecer alguns elemen- tos importantes relacionados a esse pro- cesso inclusivo, e, além disso, refletir fala/ ação, crenças e se havia possíveis resistên- cias desses profissionais que participavam diretamente do desenvolvimento desse processo de inclusão. A esse respeito, a diretora da escola foi a primeira profissional a ser entrevistada. A escolha se deu, segundo a pesquisado- ra, pelo fato da diretora ser a profissional quem decidia sobre a matrícula, ou não, dos alunos que ingressavam na escola. Se- gundo Mantoan (2001), esses líderes dão o “tom” do trabalho nas escolas e podem contribuir bastante para as inovações, como a inclusão, que trazem novas oportu- nidades educacionais para todos. Ao ser indagada sobre o desenvolvimen- to do processo de inclusão que acontecia na escola em que trabalha e se a mesma acredita na possibilidade de desse proces- so dar certo na escola regular, a diretora assim se posicionou: Eu acredito que a inclusão dá certo. Muito certo. Tanto que se não hou- vesse a inclusão eu acho que não seria um trabalho perfeito do profis- sional da educação. Que a inclusão dá abertura para o próprio profissional da educação, que goste realmente do seu trabalho e tem dom. Vê que é através dessa inclusão é que pode- mos alcançar os nossos objetivos. Por- que se nós realizamos algo com uma criança que precisa de mais atenção e carinho e isso temos condições de dar, então nós vamos ver que somos preparados para trabalhar com essas crianças. Então, por isso eu acho que dá certo. E temos que continuar por- que através da inclusão é que vamos alcançar os nossos objetivos. Refletindo sobre seu depoimento, po- de-se pensar que no universo escolar, muitas vezes, ao oferecer mais atenção e carinho para esse ou aquele aluno, poderia estar praticando um preconceito ou discri- minação, pelo fato de não acreditar na ca- pacidade de desenvolvimento do aluno. No depoimento, a diretora ressalta que é através da inclusão que vai alcançar os objetivos, porém não define que objetivos são esses. Pode-se pensar através da sua fala que há certa indefinição do que seja a inclusão, pois a mesma afirma que a inclu- são dá abertura para o profissional da edu- cação que goste, realmente do seu traba- lho e tem dom, em seguida, afirma que os profissionais estão preparados para traba- lhar com essas crianças. Não se pode esquecer de que o preparo para a inclusão se faz no cotidiano e sem- pre. Não se deve afirmar que alguém está, totalmente, preparado porque a realidade exige sempre posturas diferentes para cada cenário real de educação. Tudo muda a cada tempo e espaço. É preciso crer que é preciso se formar todo dia, a todo tempo e com situações inesperadas que surgem no cotidiano daescola. 20 21 De acordo com Ferreira e Guimarães (2003, p. 22) “torna-se imperativo refletir alguns conceitos e estudar seus aspectos históricos, culturais e sociais para se com- preender o que está implícito na inserção do aluno com deficiência no ensino regu- lar.” Pois o simples fato de aceitar um aluno com deficiência, afirmar que acredita na inclusão não significa que o aluno foi total- mente incluído. No decorrer das atividades de entrevis- tas, foi solicitado à supervisora pedagógica um momento para que pudesse responder a algumas questões sobre o processo inclu- sivo da escola. De imediato, segundo a pes- quisadora, foi negada a sua contribuição, pois a mesma relatou que precisava saber que perguntas seriam feitas. Afirmou que não gostaria de responder oralmente às perguntas, ou melhor, responderia se fos- se através de questionário para responder em casa. Ainda, acrescentou que não gos- taria que fosse gravada a sua voz no apa- relho de gravador, instrumento que seria usado no momento da entrevista. Posteriormente, atendendo à solicita- ção da mesma para que fosse realizada a conversa, num outro dia, a supervisora foi procurada para a realização da entrevista. Pesquisadora e supervisora foram para uma sala que estava vazia e iniciaram a conversa. Ao ser questionada se acredita na inclusão e qual a sua ideia sobre o pro- cesso, assim a supervisora fez a seguinte leitura: “Acredito. Os alunos portadores de ne- cessidades especiais devem conviver com crianças do ensino regular porque a convivência no meio de onde há di- ferenças lhes trarão mais oportunida- des de socialização e momentos diver- sificados de aprendizagens também.”. Em sua leitura, ela afirmou com segu- rança a importância do convívio dos alunos com necessidades especiais com crianças do ensino regular. Porém, um fato chamou a atenção: Qual o porquê da inseguran- ça em responder à entrevista oralmente. Considerando esse fato, vale a pena refle- tir: Por que uma pessoa que participa de um processo de inclusão escolar, se envol- ve nas atividades diárias e resiste discutir essa realidade vivida no cotidiano? A partir desse depoimento há de se constatar a dificuldade que muitos profis- sionais, ainda, encontram para trabalhar com o processo de inclusão. Muitos profis- sionais sentem insegurança em discutir o assunto. Têm dificuldade de se livrar das discussões polêmicas que se relacionam com a inclusão. Sentem-se inseguros para tomar atitudes corajosas em relação aos professores, aos pais, à comunidade esco- lar como um todo. Stainback, Stainback e Karagiannis (1999), ressaltam que existem muitas ten- tativas para se resistir ao ensino inclusivo e que talvez o indicador mais revelador da resistência à inclusão esteja contido nas estatísticas referentes aos alunos com deficiência. Pois, o fato de receber alunos com deficiência tende a gerar maior inse- gurança, ao passo que professores e co- ordenadores pedagógicos das últimas dé- cadas quase não tiveram a chance de uma formação que abordasse metodologias inovadoras quanto ao modelo de educação inclusiva. Torna-se imperativo ressaltar que um dos caminhos para melhor formação des- ses profissionais que lidam, diretamente, com todo o processo ensino aprendizagem é o exercício constante e sistemático de compartilhamento de ideias, sentimentos 20 21 e ações entre todos, diretores, supervi- sores e professores, que devem partir do aprimoramento em serviço. Esse exercício é realizado sobre as experiências concre- tas, os problemas reais, as situações do co- tidiano que, muitas vezes, desequilibram o trabalho inclusivo no interior da escola. É preciso levar em conta que esta pode ser a matéria-prima das mudanças pretendidas para o êxito da educação inclusiva. (MAN- TOAN, 2003) Para dar sequência à importante tare- fa de conhecer a crença desses profissio- nais no que dizia respeito à inclusão, numa outra ocasião, foi solicitado a entrevista à professora da turma nomeada de inclusiva pelos profissionais da escola. A entrevis- ta ocorreu numa sala de aula que também estava vazia, num momento extra da aula. No momento em que foi questionada se a mesma acreditava na inclusão e porquê, a professora afirmou, categoricamente: Eu acredito que possa ter inclusão so- cial, não a inclusão pedagógica no mo- mento, esta está em processo de mu- dança. As pessoas ainda têm receio, tem medo, por não ter apoio, por a lei não ser cumprida como realmente ela vem escrita. Então o professor de es- cola regular se sente com medo, com receio de trabalhar, por não conhecer e por não ter suporte. Nesse depoimento a professora res- salta a impossibilidade de haver inclusão pedagógica no momento. A este respei- to como se pode analisar o discurso que revela a possibilidade de credibilidade na inclusão social e não na inclusão pedagógi- ca? Vale pensar, também, sobre o fato de trabalhar com o processo e não se sentir sujeito dele. Essa ideia pode levar a pensar que esse processo de inclusão não se efe- tivou no espaço educacional. Baseado nestes pressupostos, Manto- an (2003, p. 78) oferece uma contribuição quando diz que “o argumento mais fre- quente dos professores, quando resistem à inclusão, é não estarem ou não terem sido preparados para esse trabalho.” E acrescenta que a maioria dos professores tem uma visão funcional do ensino que estão acostumados a lidar na rotina diária e tudo o que pode vir a ameaçar o rompi- mento do esquema de trabalho prático que aprenderam a aplicar em suas salas de aula é inicialmente rejeitado. Acredita-se que o professor é peça fun- damental no êxito da inclusão. Ele é sujei- to ativo no processo, entretanto, precisa acreditar na possibilidade de promover uma educação inclusiva de fato, ter a cons- ciência da importância do crescimento e aperfeiçoamento de suas habilidades dian- te das dúvidas e incertezas do cotidiano da sala de aula e da escola. Reportando ao depoimento da profes- sora, quando destaca que o professor tem receio de trabalhar, por não conhecer, isto poderia estar se constituindo numa teoria criada a partir do receio de que no questio- namento da própria prática, nas compara- ções, na análise das circunstâncias e dos fatos que provocam perturbações. No plano da educação escolar é preciso aprender com a prática, construir teorias a partir daquilo que funcionou bem na ação desempenhada. A qualidade do trabalho docente não pode se resumir à questão de ter ou não um apoio ou suporte. É preciso reconhecer que aprende-se todo dia com falhas e acertos. E nessa ação, reflexão e ação é que o profissional da educação vai contribuindo para a evolução do processo 22 23 de ensino e aprendizagem. Não se pode também esquecer que o professor é peça-chave no êxito da inclu- são, por isso, ele não pode se tornar um mero ensinante. Ele precisa deixar esse “medo” e insegurança de trabalhar com as diferenças na sala de aula, sejam ela de qualquer origem e estar consciente de que é possível aprender todo dia. “Quando vivemos a autenticidade exi- gida pela prática de ensinar-aprender participamos de uma experiência to- tal, diretiva, política, ideológica, gno- siológica, pedagógica, estética e ética, em que a boniteza deve achar-se de mãos dadas com a decência e com a seriedade.” (FREIRE, 1996, p. 26) A situação real da escola onde se reali- zou a pesquisa, retratada nos discursos de seus profissionais revelou a necessidade de aprimoramento e conhecimento do real significado do processo de inclusão, suas crenças em torno do saber teórico e práti- co pareceu trazer no bojo da subjetivação de ambas um antagonismo presente na identidade e no papel social. Mantoan (2003) destaca que o fato dos profissionaisda educação fundamentarem suas práticas e seus argumentos pedagó- gicos no senso comum dificulta a explici- tação dos problemas de aprendizagem. E essa dificuldade pode mudar o caminho da trajetória escolar de alunos que, muitas vezes são encaminhados indevidamente para as modalidades do ensino especial e outras situações segregativas de atendi- mento educacional. Morin (2002, p. 99-100) assim se mani- festa com relação à resistência a mudan- ças: “[...]. Há uma resistência obtusa, in- clusive entre os espíritos refinados. Para eles, o desafio é invisível. A cada tentativa de reforma, mínima que seja, a resistência aumenta.” As discussões com as profissionais da escola trilharam no eixo dos saberes da inclusão que aos poucos revelaram algu- mas ideias frágeis do ponto de vista do co- nhecimento de uma verdadeira educação inclusiva. Porém, neste sentido, é neces- sário questionar: Em que cultura de inclu- são, esses profissionais se sustentaram para assumirem a tarefa de desenvolver a educação inclusiva? Há compreensão da complexidade que envolve as questões de diversidades e diferenças? Há de se pensar que o processo de inclu- são, em alguns casos é abortado, devido o fato do desconhecimento, em outros, de práticas revestidas de seleção e exclusão que passam despercebidas no tempo e no espaço. E nesse espaço e tempo, o aluno perde a chance de ocupar seu espaço de direito na escola e na sociedade. A partir dessa reflexão, Mantoan (2001), dá outra importante contribuição quando diz que nem todos os caminhos levam à in- clusão e que incluir tem a ver com o desafio de reconhecer que a exclusão é a negação da diversidade e das diferenças nas salas de aula. Daí, torna-se necessário que educado- res busquem sua excelência em um dos atos mais nobres da vida que é educar res- peitando as diferenças individuais. E, só a partir da consciência de que todos os seres humanos são constituídos de culturas dife- rentes e ritmos de aprendizagem variados é que os educadores poderão afirmar-se agentes de transformação pessoal, social e inclusivo. Portanto, vale a pena registrar que os 22 23 educadores devem ficar atentos às suas atitudes, desde a fala à ação, pois o repen- sar desses dois aspectos é inerente du- rante toda a trajetória de trabalho escolar. A escola enquanto espaço sócio-político- -cultural e espaço de direito de todos de- manda por educadores que conheçam as estruturas de um ensino para todos e que busquem uma formação que lhes ofereça conhecimento suficiente para trabalhar a educação inclusiva de todos. 1.5 Que Caminhos O Profes- sor Deve Percorrer Para En- sinar E Aprender Na Diver- sidade? Nesta discussão pretende-se abordar alguns caminhos fundamentais que o pro- fessor deve encontrar para desenvolver práticas pedagógicas de qualidade tendo em vista ensinar a turma toda sem precon- ceitos e exclusão. A expressão parece uma afirmativa simples, mas não é. A dimensão e complexidade que envolve a busca des- ses caminhos assustam e causam incerte- zas que irão rondar o dia a dia do professor durante seu trabalho. Antes de destacar quais os compromis- sos e ações serão necessárias ao professor para que desenvolva uma prática de edu- cação inclusiva de qualidade e dentro dos padrões do atendimento à diversidade, torna-se necessário refletir algumas difi- culdades da profissão que o professor en- frenta na realidade dos dias de hoje. Vasconcellos (2003), destacou que nas últimas décadas ocorreram variadas mu- danças na escola brasileira, e isso de certa forma, influenciou as condições de vida e de trabalho dos professores, deixando-os num dilema. De um lado, o professor pon- dera seu gosto pelo magistério, as alegrias que encontra no exercício da função, os anos dedicados à profissão, com também a sua remuneração que, independentemen- te do valor, de alguma forma garante-lhe a sobrevivência. De outro lado, emerge um conjunto de fatores bastante desestimu- ladores como a falta de reconhecimento de seu trabalho por parte dos dirigentes do sistema de educação, dos pais, da equi- pe da escola, dos alunos e até dos colegas. Como se não bastasse, a sobrecarga de trabalho, as exigências crescentes frente às condições mínimas que não são garanti- das, a falta de clareza do seu papel. Diante desse quadro cabe destacar que esses dilemas precisam que ser discutidos e enfrentados entre toda a equipe de tra- balho, além de ser fator fundamental de reflexão para cada educador na sua indivi- dualidade, poder encontrar suas próprias respostas. É certo que a tarefa é complexa, contudo, torna-se necessário criar pers- pectivas holísticas em torno da educação escolar. Muitas instituições passam uma visão reducionista da atividade docente, de maneira que o professor recém-for- mado considera-se um “especialista”, não sendo raro encontrarmos uma postura até arrogante, quando em al- guns casos nem se quer há o domínio dos conteúdos básicos a serem mi- nistrados em sala de aula... (VASCON- CELLOS, 2003), P. 14). A situação acima destacada denota a fragilidade da formação dos professores para o magistério. Sem contar que muitos deles permanecem muitos anos na carrei- ra docente sem uma formação continuada 24 25 relacionada à profissão. E isso poderia se denominar o verdadeiro caos da educação. Nesse sentido, vale a pena questionar: Como um professor advindo dessa forma- ção única e, provavelmente, ultrapassada no sentido de conhecimentos científicos, dentre outros, poderia favorecer uma aprendizagem significativa, atualizada e coerente com a diversidade de alunos que ocupa os bancos das escolas de hoje? Seria um equívoco não buscar maior compreensão para essa face da realidade. É necessário discutir resultados de pesqui- sas, usar a imaginação, a intuição, a cria- tividade para encontrar alternativas de melhorias nas situações que fazem muitas vezes o professor colecionar rótulos e es- tigmas. A situação de muitos professores, como constatamos, está difícil; pro- curam então, alternativas: O que fazer? Tal procedimento é absoluta- mente razoável. Ocorre que acabam buscando fora de si a resposta; não percebem que a alternativa tem de fazer parte do seu plano de ação, tem de entrar no seu movimento re- flexivo. Além disso, não conseguem perceber o que de bom já fazem, não valorizam a própria prática, que seria ponto de partida para novos avanços. (VASCONCELLOS, 2003, P. 14) O autor procurou mostrar que é neces- sário ganhar clareza em relação às finalida- des e propósitos que se estabelecem como metas, como sonho. É preciso ser capaz de ter a coragem de mudar o que já está pron- to, alçar vôos mais altos e vislumbrar novos caminhos. Entretanto, o que se verifica é que mui- tos ideais e sonhos morrem, por falta de ousadia e coragem de aprender a aprender sempre, todo dia, toda hora, com todas as pessoas que nos cercam. E pode se consi- derar que é na escola o lugar mais digno de encontrar novos conhecimentos. Não se pretende aqui nesta discussão esgotar as possibilidades de ideias para ensinar e aprender na diversidade. É preciso cons- cientizar-se da complexidade de uma prá- tica transformadora. Torna-se necessário pensar que o problema não é apenas ter o que fazer e saber o que deve ser feito. O que interessa é interiorizar conceitos, ela- borar planos de ação, lançar mão de méto- dos criativos, construir novas competên- cias e descobrir espaços de autonomia. Interessa agora discutir que caminhos o professor deve trilhar para desenvolver uma prática de educação inclusiva com competência e qualidade na docência. De acordo com Imbernon (2000, p. 99), “a qua- lidade não está unicamente no conteúdo, e sim na interatividade do processo, na dinâ- mica dogrupo, no uso das atividades, no estilo do formador ou professor/a, no ma- terial que se utiliza.” Desse modo, assume importância a reflexão sobre a prática em um contexto determinado, a fundamenta- ção em estabelecer estratégias de pensa- mento, de percepção, e de estímulos. O professor precisa desenvolver sua ca- pacidade reflexiva. É preciso vencer inér- cias, ter vontade e persistência. É preci- so dialogar com o outro e consigo mesmo atingindo o nível da crítica que permita agir, melhorar e falar com o poder da razão. Imbernon (2000, p. 48), destaca cinco grandes linhas e eixos de atua- ção na formação permanente do pro- fessor e que as considera como base para uma reflexão dos sujeitos sobre sua prática docente: 24 25 A reflexão prático-teórica sobre a própria prática mediante a análise, a com- preensão, a interpretação e a intervenção sobre a realidade. A capacidade do profes- sor de gerar conhecimento pedagógico por meio da prática educativa; A troca de experiências entre iguais para tornar possível a atualização em to- dos os campos de intervenção educativa e aumentar a comunicação entre os profes- sores; A união da formação a um projeto de trabalho; A formação como estímulo crítico ante as práticas profissionais como a hierarquia, o sexismo, prolietarização, o individualis- mo, o pouco prestígio etc., e práticas so- ciais como a exclusão, a intolerância; O desenvolvimento profissional da instituição educativa mediante o trabalho conjunto para transformar essa prática. Possibilitar a passagem da experiência de inovação (isolada e individual) à inovação institucional. Baseando-se nestas reflexões, perce- be-se a necessidade de formação perma- nente do professor a partir do exame de suas teorias implícitas, de auto-avaliação crítica, de recomposição do equilíbrio en- tre os esquemas teóricos e práticos, bem como a aprendizagem do aprender a inter- pretar, compreender e refletir sobre a edu- cação e a realidade social de forma comu- nitária. Além dessas ideias, Imbernon (2000, p. 69-70) elaborou outras re- lacionadas à formação permanente do professor que são de fundamental importância e merecem destaque: Aprender continuamente de forma colaborativa, participativa, isto é, analisar experimentar, avaliar, modificar juntamen- te com outros colegas ou membros da co- munidade. Ligar os conhecimentos derivados da socialização comum com novas informa- ções em um processo coerente de forma- ção (adequação das modalidades à finali- dade formativa) para rejeitar ou aceitar os conhecimentos em função do contexto. Aprender mediante a reflexão indi- vidual e coletiva a resolução de situações problemáticas da prática. Ou seja, a partir da prática do professor, realizar um pro- cesso de prática teórica. Aprender em um ambiente formativo de colaboração e de interação social: com- partilhar problemas, fracasso e sucessos com os colegas. Elaborar projetos de trabalho conjun- to e vinculá-los à formação mediante es- tratégias de pesquisa-ação. Tudo isso será obtido mediante processos em que se verifique: Abandono do individualismo e do celu- larismo na cultura profissional docente. Predisposição numa revisão crítica da própria prática educativa mediante pro- cessos de reflexão e análise crítica. Modalidades de formação adequadas ao que o professor tem como finalidade formativa. Busca do significado das ações educa- tivas, que devem ser compartilhadas com outras equipes docentes tendo em conta o contexto em que se forma. Formação como processo de definição de princípios e de elaboração de um proje- 26 27 to educativo conjunto que preveja o uso de atividades educativas mais adequadas à mudança da educação. Formação no lugar de trabalho, na própria instituição educacional. A partir dessa perspectiva, segundo o mesmo autor, o trabalho docente incorpo- ra um conhecimento profissional que per- mite criar processos próprios, autônomos, de intervenção, em vez de buscar uma ins- trumentação já elaborada e pronta. Dentre as características necessárias para promo- ver esse conhecimento profissional ativo, a formação permanente não deve oferecer apenas novos conhecimentos científicos, mas, principalmente, processos relativos a metodologias de participação, projetos, observação e diagnóstico dos processos, estratégias contextualizadas, comunica- ção, tomada de decisões, análise de intera- ção humana. Portanto, há de se perceber ao longo dessas ideias que ensinar e aprender são atividades complexas que vão exigir do professor uma boa dose de motivação e um considerável nível de criatividade. 1.6 Algumas Competências Didáticas Para a Educação Inclusiva Para se desenvolver uma ação docente inclusiva o professor precisa vencer o de- safio da dificuldade de lidar com as diferen- ças. Segundo Campos (2006/2007) o pro- fessor precisa desempenhar sua função a partir de uma visão renovada e integral. Mobilizar suas capacidades profissionais, sua disposição pessoal e sua responsabili- dade social para desenvolver relações sig- nificativas entre o conhecimento já produ- zido e a realidade, procurando dar sentido à aprendizagem dos alunos. Esse foco assinala a necessidade de transformação de práticas tradicionais onde se privilegiava, simplesmente, a me- morização de conteúdos prontos. Para ser coerente com essas ideias, vale a pena mencionar algumas dimensões de trabalho docente, que segundo a mesma autora, se tomadas como base da ação pedagógica educativa poderiam favorecer o desenvol- vimento de uma educação para todos, sem distinção. Uma das dimensões é focalizar apren- dizagem dos estudantes, já que a razão do ser docente é facilitar-lhes a aprendi- zagem. O docente sem ser o único agente educativo em interação com os estudan- tes, poderia garantir a aprendizagem como um processo intencional, sistemático e te- oricamente fundamentado. Outra dimensão se refere aos docentes como gestores da ação educativa, da to- mada de decisões e da liderança compar- tilhada nas escolas. Estes devem traduzir as demandas de sua comunidade e as po- líticas educativas na visão estratégica e o projeto educativo para sua escola, além de assumir a responsabilidade corresponden- te aos resultados educativos. A dimensão das políticas educativas re- fere-se à participação dos docentes na for- mulação, na execução e na avaliação por meio de mecanismos que tornam possível sua presença real. Docentes que recupe- ram sua capacidade de se expressar como sujeitos sociais com voz própria. As dimensões citadas pela autora não podem ser esgotadas no que se refere ao desenvolvimento profissional dos docen- 26 27 tes. Muitas outras considerações teóricas poderiam ser aqui sugeridas. Porém, há a necessidade de abordar também, compe- tências didáticas diretamente relaciona- das à prática docente na sala de aula. Pois estas ações poderiam servir de sugestões para aqueles que buscam incessantemen- te, desenvolver um processo de educação inclusiva. Não é novidade que trabalhar com alu- nos com deficiências na sala de aula exige do professor algumas competências que são imprescindíveis para que a ação edu- cativa produza resultados positivos. O pro- fessor quando se deparar com alunos com deficiências na sala de aula tem que tomar algumas providências de início: Ele precisa investigar e diagnosticar junto a outros profissionais que tipo de de- ficiência tem o aluno; É preciso tomar iniciativas de usar estratégias e ferramentas que facilitam a aprendizagem desse aluno; Dialogar com a turma de forma crítica e construtiva sobre as necessidades edu- cativas especiais do aluno e solicitar a com- preensão e ajuda de todos para ensinar o aluno; Mudar
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