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Notas de aula Departamento de Engenharia Disciplina: Fundações Prof. Marco Túlio P. de Campos Goiânia, agosto de 2014. Pr of . Marc o Tú l i o - 0 2 /2 0 1 4 Notas de Aula de Fundações - 1 CAPÍTULO I SOBRE O PROJETO DE FUNDAÇÕES 1.1 FUNDAÇÃO Elemento de ligação entre a superestrutura e o solo. Parte de uma estrutura que transmite ao terreno subjacente seu próprio peso, o peso da superestrutura e qualquer outra força que atue sobre ela. 1.2 FUNÇÃO DA FUNDAÇÃO Suportar as cargas que atuam sobre ela e distribuí -las de maneira satisfatória e econômica sobre as superfícies de contato com o solo sobre o qual se apoia. 1.3 DADOS PARA PROJETO Os dados mínimos para execução de um projeto de fundações para qualquer tipo de obra são: Planta de locação e carga nos pilares. Conhecimento das características do subsolo 1.4 ELEMENTOS NECESSÁRIOS AO PROJETO Os elementos necessários para o desenvolvimento de um projeto de fundações são: 1) Topografia da área Levantamento topográfico (planialtimétrico); Dados sobre taludes e encostas no terreno (ou que possam atingir o terreno); Dados sobre erosões (ou evoluções preocupantes na geomorfologia). 2) Dados geológico-geotécnicos Investigações do subsolo (às vezes em duas etapas: preliminar e complementar); Pr of . Marc o Tú l i o - 0 2 /2 0 1 4 Notas de Aula de Fundações - 2 Outros dados geológicos e geotécnicos (mapas, fotos aéreas e levantamentos aerofotogramétricos, artigos sobre experiências anteriores na área,etc). 3) Dados da estrutura a construir Tipo e uso que terá a nova obra; Sistema estrutural (hiperestaticidade, flexi bilidade, etc); Sistema construtivo (convencional ou pré -moldado); Cargas (ações nas fundações). 4) Dados sobre construções vizinhas Número de pavimentos, carga média por pavimento; Tipo de estrutura e fundações; Desempenho das fundações; Existência de subsolo; Possíveis conseqüências de escavações e vibrações provocadas pela nova obra. 1.5 REQUISITOS PARA EXECUÇÃO DE UMA FUNDAÇÃO As cargas da estrutura devem ser transmitidas às camadas de terreno capazes de suportá-las sem ruptura; As deformações das camadas do solo subjacentes às fundações devem ser compatíveis com as suportáveis pela superestrutura; A fundação deve ser colocada à uma profundidade adequada para prevenir a expulsão lateral do solo existente sob a fundação (particularmente sapatas e radiers), ou sofrer qualquer dano devido à uma possível construção vizinha; A execução das fundações não deve causar danos às estruturas vizinhas; As fundações deverão ser seguras quanto ao tombamento e deslizamento; O tipo de fundação escolhido e o seu método de instal ação devem ser econômicos. Pr of . Marc o Tú l i o - 0 2 /2 0 1 4 Notas de Aula de Fundações - 3 Figura 1 .1 Requisi tos de um Proje to de Fundações (a) Deformações excessivas , (b) co lapso do solo, (c ) tombamento, (d) desl izamento e (e) co lapso est rutura l , resultado de projetos def icientes Figura 1 .2 Deformações causadas por reca lques di ferencia is devido ao uso de t ipos de fundações d i ferentes e fal ta de junta de dila tação. Pr of . Marc o Tú l i o - 0 2 /2 0 1 4 Notas de Aula de Fundações - 4 Figura 1 .3 Recalque por incl inação de edi f íc io em Ubatuba Figura 1 .4 Recalque por incl inação em ed i fíc io de Santos Pr of . Marc o Tú l i o - 0 2 /2 0 1 4 Notas de Aula de Fundações - 5 Figura 1 .5 Ruptura de solo colapsíve l inundado sob carregamento . Figura 1 .6 Sobrecarga no solo devido à superposição das áreas de inf luência dos edi f íc ios Pr of . Marc o Tú l i o - 0 2 /2 0 1 4 Notas de Aula de Fundações - 6 Figura 1 .7 Recalque devido a porções de so lo mais fracos não ident i ficados nas sondagens Figura 1 .8 Vazio formado pelo intemper ismo e poster ior ruptura da camada superior em zona cárst ica. Pr of . Marc o Tú l i o - 0 2 /2 0 1 4 Notas de Aula de Fundações - 7 1.6 ESTADOS LIMITES O projeto deve assegurar que as fundações apresentem segurança quanto aos: a) estado limite último – ELU (associados ao colapso parcial ou total da obra); b) estado l imite de serviço – ELS (quando ocorrem deformações, fissuras, etc. que comprometem o uso da obra); 1.6.1 VERIFICAÇÃO DOS ESTADOS LIMITES ÚLTIMOS (ELU) Os estados limites últimos representam os mecanismos que conduzem ao colapso da fundação: a) perda de estabilidade global; b) ruptura por esgotamento da capacidade de carga do terreno; c) ruptura por deslizamento; d) ruptura estrutural em decorrência de movimentos das fundação; e) arrancamento ou insuficiência de resistência por tração; f) ruptura do terreno decorrente de carregamentos transversais. 1.6.2 VERIFICAÇÃO DOS ESTADOS LIMITES DE SERVIÇO (ELS) A verificação dos estados limites de serviço em relação ao solo de fundação ou ao elemento estrutural de fundação deve atender a: Ek ≤ C Onde: Ek = valor do efeito das ações (por exemplo recalque estimado), calculado considerando-se os parâmetros característ icos e ações características; C = valor limite de serviço (admissível) do efeito das ações (por exemplo, recalque aceitável). O valor limite de serviço para uma determinada deformação é o valor correspondente ao comportamento que cause problemas como, por exemplo, trincas inaceitáveis, vibrações ou comprometimentos à funcionalidade plena da obra. 1.7 TIPOS DE FUNDAÇÕES As fundações são usualmente separadas em dois grandes grupos, as fundações superficiais e fundações profundas, devido ao fato de possuírem Pr of . Marc o Tú l i o - 0 2 /2 0 1 4 Notas de Aula de Fundações - 8 superfícies de ruptura diferentes, que são função da profundidade, como mostrado abaixo. Figura 1 .9 Tipos de fundações: super fic ia l e p rofunda A distinção entre esses dois tipos é feita segundo o critério (arbitrário) de que uma fundação profunda é aquela cujo mecanismo de ruptura de base não surgisse na superfície do terreno. Como os mecanismos de ruptura de base atingem, acima dela, tipicamente duas vezes sua menor dime nsão, a norma NBR 6122 determinou que fundações profundas são aquelas que possuem sua ponta ou base assentes em profundidade superior ao dobro de sua menor dimensão em planta, e no mínimo 3,0m de profundidade. Fundação Superficial (D f 2B) – t ransmite a carga ao solo somente através de pressões distribuídas sob sua base. – Sapata – Bloco de fundação – Radier Fundação Profunda (D f 2B) – t ransmite a carga ao solo por sua superfície lateral (resistência de atrito do fuste) ou pela base (resistência de po nta) ou por combinação das duas. – Estaca – Tubulão 1.8 TIPOS DE RUPTURA DE FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS Os três principais modos de ruptura por cisalhamento do solo de supo rte de uma fundação são: Pr of . Marc o Tú l i o - 0 2 /2 0 1 4 Notas de Aula de Fundações - 9 a) - ruptura generalizada; b) - ruptura localizada; c) - ruptura por puncionamento. O processo de ruptura do solo depende: da compressibilidade do solo, da geometria da fundação, das condições de carregamento e do embutimento. 1.8.1 Ruptura generalizada:A ruptura geral ocorre em solos mais rígidos (baixa compressibilidade) , areias compactas e argilas rijas, onde há uma superfície de ruptura bem definida de uma das bordas da fundação até a superfície do terreno (figura 1.10-a). Observa-se na mesma figura que há a elevação do solo ao redor da fundação , embora a superfície final de ruptura ocorra de um lado. A ruptura é repentina, com inclinação da fundação e carga limite bem definida Na curva tensão recalque (figura 1.10-b) a ruptura fica bem def inida, podendo-se observar um ponto de carga máxima, com posterior decréscimo, e com os recalques sempre crescentes. Figura 1.10 – Ruptura generalizada 1.8.2 Ruptura localizada: A ruptura local ocorre em solos intermediários, mais deformáveis que os solos rígidos, caso de areias medianamente compactas e argilas médias a moles. Neste tipo de ruptura (figura 1.11-a), embora a superfície de deslizamento se inicie abaixo das extremidades da fundação até a superfície do terreno, a ruptura se dá apenas até certo ponto no interior do maciço. Com isso, a curva tensão-recalque (figura 1.11-b) apresenta uma curvatura mais branda que o caso de ruptura geral , sem atingir pico algum. Pr of . Marc o Tú l i o - 0 2 /2 0 1 4 Notas de Aula de Fundações - 10 Figura 1.11 – Ruptura local 1.8.3 Ruptura por puncionamento: Esse tipo de ruptura é de difícil observação. A fundação tende a recalcar de forma intensa, em vista da alta compressibilidade do solo . O solo externo à área carregada não é afetado ( figura 1.12-a). O equil íbrio horizontal e vertical da fundação é mantido. Figura 1.12 – Ruptura por puncionamento Pr of . Marc o Tú l i o - 0 2 /2 0 1 4 Notas de Aula de Fundações - 11 1.9 RECALQUE O recalque de uma fundação superficial é o deslocamento vertical descendente da base do elemento de fundação, ocasionado pela deformação do solo de suporte.). Sabe-se que toda edificação sofre recalques, muitas vezes imperceptíveis a olho nu, por se tratarem de deslocamentos milimétricos. Podem ser classificados de acordo com seu deslocamento/deformação em três tipos, sendo: a) Recalques homogêneos ou uniformes: o solo sofre uma deformação como um todo e a estrutura recalca por inteiro, não havendo na maioria dos casos danos estruturais; b) Recalques por inclinação ou desuniforme sem distorção: apenas um lado da edificação sofre recalque, ocorrendo inclinação da obra, de modo que seus elementos estruturais não sofram danos; c) Recalques diferenciais ou desuniformes com distorção: uma parte da edificação sofre recalque, gerando torções e danos aos elementos estruturais, podendo ser notado através de fissuras e trincas com 45° de inclinação. É um recalque indesejável e que exige a execução de reforços tanto das fundações, quanto da estrutura. A ocorrência de recalques se dá, principalmente, pela diminuição do índice de vazios do solo que recebe as cargas dos elementos de fundação. Figura 1 .13 Principais modos de deformação de uma estrutura (a) Recalques uni formes, (b ) reca lques desuni formes sem d istorção e (c) recalques desuni formes com dis torção Pr of . Marc o Tú l i o - 0 2 /2 0 1 4 Notas de Aula de Fundações - 12 Figura 1 .14 Recalques d i ferencia is Além dos recalques supracitados classificados de acordo com os tipos de deformação, pode-se também classificá-los em função do tempo em que ocorrem, sendo eles: a) Recalque imediato, elástico ou não drenado (ρ i); b) Recalque por adensamento primário (ρ a); c) Recalque por compressão secundária (ρ s). O ρ i ocorre logo após aplicação de carga, há mudança de forma com alteração do volume devido à redução de índice de vazios. O ρa ocorre em solos de baixa permeabilidade, argilosos, que sofrem redução de volume provocado pela saída de água devido à diminuição dos vazios pelo acréscimo de carga e aumento de pressão neutra . O ρ s , muito importante para argilas moles e argilas marinhas, se desenvolve simultaneamente com o ρ a . Ocorre devido ao rearranjo estrutural causado por tensões de cisalhamento. Trata-se da deformação sofrida pelo solo, mesmo após a dissipação das pressões neutras. Ocorre muito lentamente nos solos argilosos, e é geralmente desprezado no cálculo de fundações . O recalque total se dá então pela soma de ρ i , ρa e ρ s , onde parte ocorre de imediato e parte se desenvolve ao longo do tempo. A previsão de recalques é um dos exercícios mais difíceis da Geotecnia, de forma que o resultado dos cálculos, por mais sofisticados que sejam, devem ser encarados como uma estimativa. Pr of . Marc o Tú l i o - 0 2 /2 0 1 4 Notas de Aula de Fundações - 13 1.9.1 Recalques limites Segundo a NBR 6122, a definição dos valores limites de projeto para os deslocamentos e deformações deve considerar: a) a confiabilidade com a qual os valores de deslocamentos aceitáveis podem ser estabelecidos; b) velocidade dos recalques e movimentos do terreno de fundação; c) o tipo de estrutura e o material de construção; d) o tipo de fundação; e) a natureza do solo; f) a finalidade da obra; g) a influência nas estruturas, utilidades e edificações vizinhas. Os tipos de danos sofridos pela edificação oriundos de recalques diferenciais podem ser demonstrados através da tabela a seguir, de acordo com a intensidade do recalque e a distância entre os pilares analisados (ρ/l) . Figura 1.15 - Recalques limites Pr of . Marc o Tú l i o - 0 2 /2 0 1 4 Notas de Aula de Fundações - 14 No caso de recalques totais limites para estruturas usuais de aço ou concreto, consideram-se aceitáveis como valores limites as recomendações de Skempton - MacDonald, em casos rotineiros para areias e argilas, sendo: Areias: ρmáx = 40mm para sapatas isoladas ρmá x = 40 a 65mm para radiers Argilas: ρmáx = 65mm para sapatas isoladas ρmáx = 65 a 100mm para radiers Tais parâmetros não são aplicáveis para os casos de prédios de alvenaria estrutural, edifícios altos com corpos de alturas d iferentes, vãos grandes, acabamentos especiais e outros, onde são necessários critérios mais rigorosos de avaliação. 1.9.2 Recalque admissível Segundo Terzaghi e Peck, para sapatas contínuas carregadas uniformemente e sapatas isoladas de aproximadamente mesmas d imensões, em areais o recalque diferencial geralmente não excede 50% do maior recalque observado. Já em condições extremas, que envolvem tamanhos muito diferentes de sapatas e embutimentos no terreno, o recalque diferencial não deve ser superior a 75% do maior recalque. Há a recomendação de Terzaghi e Peck de valores admissíveis para o recalque diferencial e recalque total para sapatas em areia de respectivamente: ρ ≈ 20mm e ρ = 25mm
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