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Resenha IPS

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SERRES, M. O mal limpo: poluir para se apropriar. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012. 
 
O mal limpo: poluir para se apropriar? 
 
Sabrina Oroski (UFFS) 
Acadêmica do curso de engenharia ambiental e 
Sanitária da Universidade Federal da Fronteira Sul 
 
O livro o mal limpo: poluir para se apropriar? traduzido por Jorge Bastos e publicado pela 
editora Bertrand Brasil, foi escrito pelo autor Michel Serres, um filósofo francês que nasceu 
no ano de 1930. Professor de Stanford University e membro da academia francesa de letras, 
manteve no andamento da sua formação intelectual mais de 60 livros publicados nos quais 
aborda diversas áreas, sendo fundamentadas no conhecimento humanístico, científico e 
questões encontradas na contemporaneidade. 
Ao longo do livro Serres descreve várias formas de apropriação, fazendo comparações da 
história de comportamentos primitivos dos animais irracionais e interligando com as 
situações presentes na atualidade, isso é de extrema importância, pois para compreendermos a 
atual situação de poluição é necessário analisar e assimilar os nossos comportamentos e a 
nossa história. 
O autor utiliza a palavra propre, e sua tradução mantém dois significados, pode significar 
tanto limpo como próprio. “o próprio [​le propre​] se adquire e se conserva pelo sujo. Melhor 
ainda, o próprio [​le propre​] é o sujo”. Dessa forma, o próprio é obtido a partir do sujo, urina, 
marcas e traços, como no ato de cuspir em uma sopa para se apropriar dela, como as marcas e 
logotipos sujam os objetos as assinaturas sujam as páginas, à medida que o limpo por sua vez 
é estimado como sem proprietário. 
Nesse contexto, o autor evidencia a ligação existente entre a etologia, que é a área que estuda 
os animais, com as técnicas agrícolas, práticas religiosas e até mesmo com a sexologia, isso 
nos permite compreender como podem estar entrelaçadas com a relação entre o sujo e o 
limpo, nessa perspectiva o autor consegue alcançar o seu objetivo enriquecendo o conteúdo 
com diversas exemplificações. 
Para Serres, a apropriação tem uma origem “animal, etológica, corporal, fisiológica, orgânica, 
vital”. Em relação a apropriação do mundo pode-se dizer que está não é característica apenas 
da atualidade, pois essa se mantém presente desde os primórdios. As maneiras de apropriação 
podem ocorrer naturalmente por secreções corporais, como os cães e tigres que urinam para 
marcar território, como o sangue dos sacrifícios que torna os locais sagrados e pela 
impregnação do esperma. 
Também podemos relacionar todo o contexto de apropriação com as áreas de atuação de um 
engenheiro ambiental e sanitarista, onde são características de apropriação a poluição, que de 
forma mais objetiva são as estações de tratamento de esgoto, resíduos, lixões, a poluição 
sonora com os elevados níveis de barulho que perturbam o silêncio do ambiente e a poluição 
visual, que está cada vez mais presente na contemporaneidade, sendo caracterizada por 
grandes quantidades de propagandas, anúncios e imagens que acabam trazendo um 
desconforto visual para a população. De acordo com Serres “verdadeiros tsunamis de 
escritos, de signos e de logotipos com que a publicidade passou a inundar o espaço rural e 
citadino, público, natural e paisagístico”. 
Com relação às técnicas agrícolas e sua forma de apropriação, o autor destaca um 
acontecimento antigo, onde descreve o processo de origem da agricultura, que aconteceu 
através dos nossos ancestrais que despejavam suas secreções corporais ao urinarem e 
defecarem em volta das suas casas e localidades para marcar território e consequentemente 
afastar os predadores, isso de certa forma acabou contribuindo com o aumento de nutrientes 
do solo, o que serviu como adubo deixando a terra fertilizada. 
Serres destaca que a prática religiosa também se mantém como uma forma de apropriação. 
Segundo o autor ``O primeiro que sacrificando uma criança ou um porco depois de fazê-lo 
dar uma volta em determinado lugar, inundou esse lugar com o sangue da vítima, conseguiu 
delimita-lo e torna-lo um templo. `` Nesse sentido o termo templo é caracterizado pelo autor 
como o ato de cercar um determinado local. Com isso podemos considerar que o ritual 
religioso também tem traços e características de apropriação, onde ao mesmo tempo em que o 
sangue escorre delimitando e de acordo com os antigos purificavam o local, existe uma 
apropriação pelo sangue e pelo cadáver. 
O autor destaca que nos limites dessa expansão, a poluição confirma a apropriação do mundo 
pela espécie, concordamos com o posicionamento do autor e podemos dizer que essa é uma 
afirmação válida pois em meio de uma crescente expansão e globalização, que vem gerando 
cada vez mais o acúmulo de lixo produzido pela humanidade, de certa maneira vem sendo 
marcada uma apropriação do mundo pela espécie humana. Nesse sentido, assim como os 
animais irracionais que se apropriam de seu território através de secreções, os vegetais que 
delimitam a sua localidade com o lançamento de substâncias ácidas, o Homo sapiens 
apropria-se do mundo. Os animais é verdade, se apropriam de seu território pela sujeira, mas 
de maneira fisiológica e local já o Homo se apropria do mundo físico global com seus dejetos 
duros e, do mundo humano global pelos dejetos dos meios suaves. 
Não é complicado compreender como o autor relaciona os diversos tipos de apropriação 
partindo do princípio biológico e fazendo referência às ações e comportamentos dos animais 
irracionais, até chegar a comparações químicas e materiais com grande impacto, que 
infelizmente está presente na realidade do mundo. Serres deixar claro que é possível associar 
as ferramentas e utensílios utilizados com as dos organismos do nosso corpo que são os 
responsáveis pela apropriação natural, como um exemplo pode-se citar as roupas, que podem 
ser associadas aos pelos dos animais que garantem a sua proteção do frio, como o martelo 
que representa uma extensão no braço, esses objetos quando não estão mais em uso acabam 
sendo excluídos e descartados gerando o acúmulo de lixo e por consequência marcando o 
mundo. 
De acordo com o autor "Os objetos que compramos permanecem sujos, ou seja, apropriados 
por quem os vende e pelo governo". Essa afirmativa é válida, é mais uma forma de 
apropriação que está presente também quando o consumidor obtém os produtos como 
automóveis, roupas, produtos alimentícios que são marcados pelas marcas, assinaturas, 
publicidades e logotipos das empresas, onde tornam-se apenas alugadores desses bens, as 
empresas por sua vez, permanecem sendo os verdadeiros proprietários, apropriando-se 
também dos dados pessoais que marcam os consumidores, como o nome, data de nascimento 
endereço, número de telefone, conta bancária, entre outros. `` nossos dados não nos 
pertencem. Quero dizer, não completamente. Uma vez mais só nos beneficiamos deles como 
locatários. `` 
O Autor destaca que a poluição cresce com a produção e consumo de bens, ou seja, com o 
número de ricos dos quais abundantemente transbordam as lixeiras, duras, e os alto-falantes, 
suaves. Assim tem-se uma relação com o aumento do dinheiro, do lixo e da propriedade, 
onde os poderosos poluem mais que os miseráveis segundo Serres. Concordamos com a 
opinião do autor, em nosso entender é possível dizer que os principais causadores do aumento 
da poluição e que os fazem aumentar mais rapidamente são aqueles que mais tem dinheiro, os 
ricos que são os que mais possuem bens. Contudo os ricos acabam despejando os seus 
desejos nas localidades dos mais pobres, só para exemplificar podemos dizer que os ricos 
poluem expressivamente os locais mais pobres com grandes quantidades de propagandas, 
outdoors e imagens que acabam causando desconforto visual e tornam esse ambiente mais 
desagradável. Porém, ao se aproximar das moradias dos mais ricos o cenário muda, o 
ambiente agora é mais agradável com áreas mais verdese quase não se encontra mais a 
grande quantidade de publicidade. ``quem suja a paisagem com outdoors estampando frases e 
imagens rouba a paisagem ambiente da visão de todos, mata a percepção que se podia ter`, 
transpassa o local com esse roubo` `Trazendo outro exemplo o autor diz que os grandes 
chefões da comunicação impedem que os seus filhos assistam o que eles produzem, 
``emporcalhar os outros tudo bem, mas não a sua casa nem a sua prole.`` 
Nesse contexto, uma pergunta que faz refletir é a de que quando os países ricos lançam seus 
lixos industriais nos mangues dos países pobres, não estão monopolizando, recolonizado? 
pode-se afirmar que sim, já que tal como citado anteriormente os ricos descarregam nos 
locais mais pobres, sendo esta uma forma de apropriação, marcando-os com sujeira. Quem 
cria lagos de viscosidades envenenadas ou outdoors coloridos garante que ninguém, em seu 
lugar ou vindo depois, vai se apropriar daquilo”. 
Segundo o autor existem três lugares fundamentais, o útero a cama e a tumba. O útero abriga 
o feto e na vulva o homem impregna o esperma que reserva marcando a mulher como um 
objeto. Para Serres `` Com a impregnação do esperma ele acredita se apropriar dos lugares 
em que se realiza o ato de seu desejo``. Com isso o homem busca garantir a mulher como a 
sua propriedade, exemplificando com uma reformulação da escrita de Jean-Jacques, o autor 
traz uma versão sexual. `` O primeiro que, ejaculando em uma vulva ou em uma vagina, diz: 
esse órgão é meu e encontra uma mulher suficiente simples e ingênua para acreditar nisso se 
torna seu proprietário definitivo. `` Já a cama é o lugar do descanso do amor e é dele que o 
corpo retorna para tumba. “O lugar não indica a morte, a morte designa o lugar” descreve 
Serres. 
Fazendo referência mais uma vez do livro com a atuação de um engenheiro ambiental e 
sanitário, podemos citar uma frase que diz que "O primeiro ser vivo a cercar de um terreno, 
cuidando de urinar a seu redor, tornou-se o primeiro proprietário e, ao mesmo tempo, o 
primeiro dos poluidores. “É puro Jean-Jacques, em versão "verde”. Da poluição vem a 
apropriação e vice-versa.”, onde marcamos os nossos nichos com dejetos, assim como os 
escoamentos de esgoto. 
Antes sujávamos o nosso nicho ingenuamente e de forma natural, contudo, a poluição global 
marcou o mundo, apropriando-se de absolutamente tudo. ``Globalizada, a atual poluição 
resulta da luta pela posse do espaço em sua totalidade segundo serres``, Contudo o que 
acontece é que esse aumento da globalização acaba suprimindo os limites da propriedade, 
``Generalizando ou apagando a sujeira, apagando desse modo, as fronteiras que dão acesso ou 
interrompem o ato de sujar, ou seja, de se apropriar, o direito de propriedade atinge, de 
repente um patamar insuportável, perfeitamente impossível a vida. ´´ Assim o mundo torna-se 
um local que não podemos mais tê-lo, pois não existe mais regiões mapeáveis, assim 
podemos habitá-los apenas como locatários. 
Segundo serres o contrato natural com o qual ``a ordem cartesiana, ato agressivo e leonino de 
apropriação, não devemos mais nos impor como senhores e donos da natureza``, pois como 
citado anteriormente habitamos agora como locatários no novo contrato e sabendo dessa 
realidade precisamos agora nos desapossar do mundo. 
Segundo Serres essa luta contra a poluição, segue, exatamente, o processo de hominização. O 
que é válido afirmar onde devemos realmente deixar mesmo que seja aos poucos deixar a 
condição animal, que delimitam seus territórios que o autor refere como sendo `` costumes 
bestiais``. 
Nesse sentido, devemos parar de poluir para se apropriar, onde o autor destaca que para isso 
necessitamos guardar um dever de reserva onde cita que ``o mundo e as coisas constituem a 
soma total das reservas``, desse modo o autor cita quatro sentidos positivos. 
O primeiro sentido positivo é o coletivo e objetivo, onde aponta a associação que o homem 
mantém com o seu habitat, onde segundo Serres é a poupança, provisão, tesouro e parque 
mundial. O segundo sentido positivo é o subjetivo, que para o autor é uma obrigação de 
desprendimento. O terceiro sentido positivo é o jurídico que assimila a totalidade do mundo e 
das coisas como `` a sucessão hereditária das gerações futuras``. Por fim o último sentido 
positivo citado é o locativo onde, `` não há mais propriedade além da minha reserva, ou seja 
de meu próprio nicho`` e é a partir desse último sentido locativo que o autor traz grandes 
características suas na reescrita da frase de Jean-Jacques onde, ``“O primeiro que, tendo 
cercado uma horta, cuidou de dizer ‘Isso, para mim, basta’ e permaneceu egônomo, sem 
babar como um caramujo por mais espaço, teve paz com seus vizinhos e guardou o direito de 
dormir, de se aquecer, além do direito divino de amar. É puro Jean-Jacques em versão 
Serres”. 
Serres descreve sobre a sua assinatura e seu nome que pelo fato de existirem outros destaca `` 
e não somente esse nome não é meu próprio, mas também o seu sentido designa o comum. 
Essa perspectiva nos conceitua como o homem se coloca nesse planeta, e mais uma vez 
retrata que somos apenas locatários, onde todo nome é uma locação, `` estampam meu nome 
locativo, signo arbitrário e leve, ou seja, suave. `` descreve Serres, onde é dito como ``suave, 
desordenado, frágil, miserável e sem lugar. 
Em suma, Michel Serres explora no livro o mal limpo: poluir para se apropriar, de forma 
muito minuciosa e rica, as diversas formas de se apropriar do mundo e como o homem se 
coloca nesse planeta. Onde desde os primórdios, todo ser vivo tenta se apropriar do meio à 
sua volta, neste sentido, o autor retrata diversas formas de apropriação, desde as secreções 
corporais à apropriação pelos signos, o que resulta na poluição da contemporaneidade. A 
associação de teses e apresentação de pontos de vistas, resultou nesse escrito sintético que se 
mantém como uma boa indicação de leitura na íntegra, pois apresenta ideias que se destacam 
em diversos âmbitos, entre eles aspectos históricos e atuais, e a apresentação de ideias e 
exemplificações permite que o leitor se mantenha com um caráter crítico, permitindo a 
formação de bons cidadãos.

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