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30/08/2013 1 Cumarinas Farmacognosia Prof. André Nascimetno Biossíntese de produtos naturais • Metabolismo: conjunto de reações químicas que continuamente estão ocorrendo em cada célula e que conduz à formação de um produto natural. – Primário: constituído de reações que visam ao aproveitamento de nutrientes para satisfazer às exigências fundamentais da célula: energia (ATP), poder redutor (NADPH) e biossíntese das substâncias essenciais à vida e comuns aos seres vivos (carboidratos, lipídeos, proteínas e ácidos nucléicos), – Secundário: compreendem aqueles processos químicos que são únicos para uma dada planta e não são universais. • O metabolismo pode ser comum para um número de diferentes plantas ou famílias de plantas, mas atualmente a química de produtos naturais é geralmente diferente de uma planta para outra. • Precursores comuns podem levar a produtos diferentes. Biossíntese de produtos naturais • Compostos químicos formados, degradados ou transformados são metabólitos. • Os metabólitos secundários (na maioria dos casos) não parecem ser necessários para a sobrevivência das plantas, mas podem supor uma vantagem competitiva considerável. • Os metabólitos secundários possuem outras características: – não ter funções metabólicas diretas aparentes; – ser importantes para a sobrevivência e interação com o ambiente; – apresentar diferente distribuição no reino vegetal; Biossíntese de produtos naturais • Ao longo da história, os metabólitos secundários das plantas tem sido utilizados pela humanidade e existem quatro classes que são significativas: – terpenóides, – alcalóides e compostos nitrogenados relacionados, – fenilpropanóides e compostos fenólicos relacionados – e flavonóides. 30/08/2013 2 Biossíntese de produtos naturais • As rotas metabólicas dos metabólitos 2º não são tão gerais quanto a dos 1º e talvez só sejam ativadas durante alguns estágios particulares de crescimento e desenvolvimento ou em períodos de estresse causados por limitações nutricionais ou ataque microbiológico. • A origem de todos os metabólitos 2º pode ser resumida a partir do metabolismo de glicose, via dois intermediários principais: o ácido chiquímico e o acetato. • Os metabólitos 2º podem ser encontrados livres (aglicona) ou estar ligados a uma ou mais unidades de açúcar (heterosídeo). Cumarinas • Palavra cumarina originada de cumaru, nome popular de Dipteryx odorata (Aubl.) Willd., Fabaceae. • Sinonímia: fava-tonka, cumaru-ferro • Sementes (1 a 3% cumarinas) • Encontrada no norte do Brasil Sementes de cumaru Dipteryx odorata Ocorrência e distribuição • Amplamente distribuídas nos vegetais. • Também encontradas em fungos e bactérias. • As cumarinas encontram-se distribuídas predominantemente em angiospermas, sendo as estruturas mais simples as mais encontradas. Dipteryx odorata • As famílias mais citadas na literatura pelo conteúdo de cumarinas são: Apiaceae, Rutaceae, Asteraceae, Fabaceae, Oleaceae, Moraceae e Thymeleaceae. • As cumarinas podem ser encontradas em todas as partes de uma planta, frequentemente como misturas. Cumarinas • São lactonas do ácido o-hidróxi-cinâmico (2H-1-benzopiran-2-onas) • Cumarina mais simples: 1,2-benzopirona (estrutura 1 da fig. 1) • Cromonas (5H-1-benzopiran-5-onas): isômeros das cumarinas • Xantonas: derivados dibenzo-γ-pirona (xanthos: amarelo) – Anel A: C 1 a 4, derivam da via metabólica do acetato – Anel B: C 5 a 8, derivam da via metabólica do chiquimato 30/08/2013 3 Cumarinas • Exceto 1,2-benzopirona, demais possuem OH em C7: • Precursora das cumarinas: – 6,7-di-hidroxiladas e 6,7,8-tri-hidroxiladas • Classificação: – Simples, – Diméricas, – Complexas, – Piranocumarinas, – Furanocumarinas. Exemplos de cumarinas Exemplos de cumarinas e cromonas Biogênese Biogênese • As cumarinas são derivados do ácido chiquímico, via o- hidroxilação catalisada pela enzima trans-cinamato 4- hidroxilase, isomerização da dupla ligação da cadeia lateral e lactonização do ácido cinâmico que ocorre espontaneamente. Propriedades físico-químicas e extração • Extração em meio alcalino: sais solúveis em água. • Relactonização por acidificação do meio aquoso, recuperando-se a cumarina com solventes orgânicos. • Algumas são sensíveis à ácidos e bases, o que impede o uso deste procedimento. • Cumarinas hidroxiladas possuem intensa fluorescência azul na região do UV (lâmpada UV com λ de 254 a 366 nm). • Cumarinas solúveis em água, etanol, acetato de etila. REAÇÃO POSITIVA: Fluorescência azul-esverdeada. 30/08/2013 4 Identificação • As cumarinas possuem espectro UV característico influenciado pela natureza e posição dos grupos substituintes e pela alcalinização (ex. reação com KOH, NaOH). • Facilmente visualizadas por CCD. As manchas do cromatograma, sob luz UV, apresentam cores como azul, amarela e roxa, as quais podem ser realçadas após exposição ao vapor de amônia. • Doseamento: espectrofotometria, CLAE/UV e CG. Usos e propriedades farmacológicas • Dependem dos padrões de substituição desse metabólito secundário. • Cumarinas simples possuem odor característico: – aromatizantes em alimentos industrializados: toxicidade hepática em ratos, FDA proibiu adição em alimentos. – indústrias de produtos de limpeza e cosméticos: estabilidade e baixo custo, uso ainda persiste. Usos e propriedades farmacológicas • Derivados da 4-hidróxi-cumarina: – descobertos durante a investigação de uma doença hemorrágica no gado alimentado com trevo-de-cheiro-amarelo fermentado (Melilotus officinalis Lam.), o que levou a descobertas da ação anticoagulante dicumarol. • Dicumarol: antagonista da vitamina K absorção incompleta no organismo sintomas gastrintestinais síntese de análogos (warfarina). • Dicumarol e congêneres: raticidas Usos e propriedades farmacológicas • Escoparona (6,7-dimetóxi-cumarina), isolada da planta chinesa Artemisia scoparia Waldst. ET Kit. (Asteraceae): atividade imunosupressora, relaxante vascular, hipolipidêmica e hipotensora; • Ostosol (7-metóxi-8-[3-metilpent-2-enil]cumarina): isolada da Angelica pubescens Maxim. (Apiaceae), extratos em cães provocam resposta hipotensora de curta duração após injeção IV, inibiu a agregação plaquetária e demonstrou atividade relaxante das musculaturas lisa e cardíaca (inibição das enzimas cAMO e cGMP- fosfodiesterases e do influxo de cálcio?) Usos e propriedades farmacológicas • Escopoletina e outras cumarinas extraídas de Viburnum (Caprifoliaceae): atividade antiespasmódica. • Do mesmo modo, diversas di-hidrofurano- e di- hidropiranocumarinas, isoladas de plantas da família Apiaceae, mostraram atividades vasodilatadoras, espasmolítica e antitrombótica. Usos e propriedades farmacológicas • Cumarinas com grupos di-hidroxilados em posição orto como: – a fraxetina (7,8-di-hidróxi-6-metoxi-cumarina), – esculetina (6,7-di-hidróxi-cumarina) e – 4-metilesculetina (6,7-di-hidróxi-4-metilcumarina) • são poderosos inibidores da peroxidação lipídica, além de eliminarem o ânion radical superóxido e quelarem íons ferro. • Interesse como antioxidantes, possível aplicação na prevenção de doenças causadas por radicais livres. 30/08/2013 5 Usos e propriedades farmacológicas • Atividade anti-HIV:calanolídeos A e B, isolados das folhas de uma árvore de floresta tropical, Calophyllum lanigenummiq. Var. austrocoriaceum, família Guttiferae, encontrada na Malásia. Usos e propriedades farmacológicas • Cumarinas, devido a sua atividade vasodilatadora, podem ser utilizadas no tratamento da impotência masculina. • Cumarinas osthol, imperatorina, xantotoxina e isopimpinelina em conjunto exibiram propriedades relaxadoras emcorpus cavernosum de coelhos com endotélio intacto. • Essas substâncias foram isoladas de frutos de Cnidium monnieri (L.) Cusson, uma planta chinesa usada na impotência masculina. Furanocumarinas e fototoxicidade • Uso antigo: tratamento psoríase, hanseníase, vitiligo, leucoderma, micoses, dermatite e eczemas. Avaliar risco-benefício. • Furanocumarinas absorvem UV (300 a 400 nm UVA) tornando-se reativas com DNA, RNA, proteínas e lipídeos: – fitofotodermatite (erupções bolhosas, hiperpigmentação, eritema e vesículas). • Fotoquimioterapia: uso tópico ou oral das furanocumarinas com exposição controlada ao UV. Drogas vegetais clássicas • GUACO – Nome científico: Mikania glomerata Sprengl. e Mikania laevigata – Família botânica: Asteraceae – Parte usada: Folhas – Monografias farmacopéicas: Formulário Fitoterápicos Nacional 1ª – Espectorante e broncodilator. – Atividade antiplaca, antiúlcera (odontologia) – Precauções: não recomendado o uso do guaco em hemofílicos. Drogas vegetais clássicas • CASTANHA DA ÍNDIA – Nome científico: Aesculum hippocastanum L. – Família botânica: Hippocastanaceae – Parte usada: Sementes – Monografias farmacopéicas: F. Bras. 5 – Esculina e fraxina. – Ação de vitamina P: distúrbios venosos (esculetina, esculina) – Tônico venoso e agente protetor vascular. Drogas vegetais clássicas • ARRUDA – Nome científico: Ruta graveolens L. – Família botânica: Rutaceae – Parte usada: Folhas – Diferentes heterosídeos cumarinicos foram isolados da planta, como o 5-metoxipsoraleno. – Não se recomenda o uso interno do chá das folhas devido a toxicidade. 30/08/2013 6 Drogas vegetais clássicas • MAMACADELA – Nome científico: Brasimum gaudichaudii L. – Família botânica: Moraceae – Parte usada: Raiz e casca – Planta do cerrado brasileiro. – Possui psoraleno e bergapteno (furanocumarinas) – Indicada para psoríase e vitiligo. Drogas vegetais clássicas • ÂMIO – Nome científico: Ammi visnaga (L.) Lam. – Família botânica: Apiaceae – Parte usada: Frutos – Monografias farmacopéicas: DAB 8 (F. Alemã) – Essa droga é feita a partir dos frutos dessa planta que cresce no Mediterrâneo e tem sido usada na Europa para aliviar as dores em casos de cólicas renais e outros distúrbios do trato urinário, além de tratamento de distúrbios cardiovasculares. – Em 1994, ela passou a não ser recomendado como uso terapêutico, considerando a eficácia não comprovada e os possíveis riscos de sua utilização, tendo em vista relatos de toxicidade hepática e reações pseudoalérgicas. Drogas vegetais clássicas • ANGÉLICA – Nome científico: Angelica archangelica L. – Família botânica: Apiaceae – Parte usada: Raízes e rizomas secos – Monografias farmacopéicas: Ph. Bras. I – Radix Angelicae é uma droga clássica do tipo amargo-aromática, obtida por cultivo da variedade Angelica archangelica L. var. archangelica. É usado como estimulante do apetite e carminativo, recomendado em desconforto gástrico como flatulência e sensação de plenitude. – As cumarinas encontradas em espécies de angélica apresentam vários efeitos farmacológicos, destacando-se os efeitos como vasodilatadores coronarianos e antagonistas do cálcio. Drogas vegetais clássicas • TREVO – Nome científico: Melilotus officinalis Lam. e ou Melilotus altissimus – Família botânica: Fabaceae – Parte usada: folhas e sumidades floridas – Monografias farmacopéicas: Ph. Fr. X – A droga é utilizada tradicionalmente no tratamento de desordens provocadas por insuficiência venosa crônica. Todas as espécies de Melilotus contêm, principalmente nas folhas jovens, o metilotosídeo, que se hidrolisa facilmente e, por lactonização, forma a cumarina. – O dicumarol, um potente antiocoagulante, pode ser obtido a partir do ácido o-hidróxi-cinâmico, e é também encontrado nas folhas impropriamente fermentadas e nas influorescências de Melilotus officinalis. Sob certas condições, tal como a acumulação de mofo nas forragens, a cumarina é convertida no dicumarol, que interfere no mecanismo de coagulação sanguínea, conduzindo assim, a processos hemorrágicos. Drogas vegetais clássicas • CITROS – Nome científico: Citrus aurantium L. e Citrus medica L. – Nome popular: laranja amarga e cidra – Família botânica: Rutaceae – Parte usada: frutos imaturos – Monografias farmacopéicas: Ph. Bras. I, F. Bras. II – De modo geral, essa planta é utilizada em problemas de baço e estômago, manifestados na forma de distensão abdominal e epigástrica, náusea, vômito e perda de apetite. Os constituintes químicos desses vegetais são flavonóides, cumarinas e terpenos. – O sumo e as cascas dos frutos cítricos contêm furanocumarinas que, em contato com a pele, podem causar lesões de cor escura devido à fototoxicidade destas substâncias.
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