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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto – Departamento de Economia REC02101 – MICROECONOMIA PRIMEIRA PROVA (2011) ROBERTO GUENA (1) Encontre a função de demanda pelo bem 1 para um consumidor cujas prefe- rências são respresentadas pela seguinte função de utilidade: U (x1,x2)= x1x2 x1+ x2 . O bem 2 é substituto ou complementar ao bem 1? Esboce a curva de Engel do bem 1 e mostre o que deve ocorrer com essa curva caso o preço do bem 2 sofra uma elevação. Solução. A utilidade marginal do bem 1 é dada por U M g1 = ∂U (x1,x2) ∂x1 = ∂ ∂x1 x1x2 x1+ x2 = x2(x1+ x2)− x1x2 (x1+ x2)2 = x22 (x1+ x2)2 . A utilidade marginal do bem 2 é U M g2 = ∂ ∂x2 U (x1,x2)= x21 (x1+ x2)2 Desse, modo, a taxa marginal de substituição é T MS =− x22/(x1+ x2)2 x21/(x1+ x2)2 =− x22 x21 . Note que isso implica que taxa marginal de substituição decrescente da es- querda para a direita ao longo da curva de indiferença, portanto, que as pre- ferências são convexas. Além disso, qualquer curva de indiferença associada a um nível de utilidade positivo não pode cruzar os eixos, visto que, para quais- quer x1,x2 positivos, U (0,x2)=U (x1,0)= 0. Desse modo, observando que a função de utilidade é monotônica, podemos estar certos de que a solução para o problema de maximização de utilidade de nosso consumidor será caracterizada por uma solução interior, caracterizada por um ponto de tangência entre a linha de restrição orçamentária e uma curva de indiferença. Para encontrar essa solução, basta, portanto, resolver o sistema de equações: |T MS| = p1 p2 p1x1+p2x2 =m Aplicando a expressão já encontrada para aT MS naprimeira equação e resolvendo- a para x1 obtemos x22 x21 = p1 p2 ⇒ x2 = x1 √ p1 p2 1 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto – Departamento de Economia Substituindo esse resultado na segunda equação, encontramos a função de de- manda pelo bem 1: p1x1+p2x1 √ p1 p2 =m x1(p1+ p p1p2)=m x1 = m p1+pp1p2 (1) A função de demanda pelo bem 2 pode ser obtida substituindo-se a função encontrada acima em x2 = x1 √ p1 p2 obtendo-se x2 = m p2+pp1p2 (2) Note que a função de demanda do bem 2 é decrescente em relação ao preço do bem 1, o que indica que o bem 2 é complemento do bem 1. Observando a expressão (1) podemos notar que a função de demanda pelo bem 1 é linear em m. Portanto, a curva de Engel desse bem deve ser uma linha reta passando pela origem. Tal como ilustra a Figura 1 x1 m tg = 1 / ( p 1+ p p 1 p 2 ) FIGURA 1. A curva de Engel para o bem 1 Já a Figura 2 mostra o efeito de uma elevação no preço do bem 2 sobre a curva de Engel do bem 1. Como a inclinação dessa curva em relação ao eixo da renda (vertical) é dada por 1/(p1+pp1p2, essa elevação tornará a curva de Engel mais inclinada. (2) A função de utilidade de um consumidor é U (x1,x2)= x1+ x2. O preço do bem 2 é 1 e o preço do bem 1 é p1 paras as primeiras Q unidades adquiridas desse bem e 2p1 para as unidades que excederem as primeiraQ unidades. Determine 2 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto – Departamento de Economia x1 m C u rv a d e E n ge l i n ic ia l C u rv a d e E n ge l fi n al FIGURA 2. Deslocamento da curva de Engel do bem 1 em virtude de um aumento no preço do bem 2 a função de demanda desse consumidor pelo bem 1 e esboce o gráfico de sua curva de demanda. Solução. Primeiramente, encontremos a restrição orçamentária desse consu- midor. Caso ele escolha consumir uma quantidade do bem 1 inferior aQ , então sua restrição será dada por p1x1+p2x2 ≤m ⇒ x2 ≤ m p2 − p1 p2 x1 (3) Caso ele escolha x1 >Q então x2 deverá ser tal que p1Q+2p1(x1−Q)+p2x2 ≤m ⇒ x2 ≤ m−p1Q p2 −2p1 p2 x1 (4) Evidentemente, o consumidor só poderá optar por consumir x1 > Q caso sua renda seja mais do que suficiente para adquirir as Q primeiras unidades do bem 1, ou seja, caso m/p1 > Q , isto é, p1 < m/Q . Caso isso não ocorra, a restrição orçamentária relevante será apenas a restrição (3). Note também que, caso p1 ≤m/Q a linha de restrição orçamentária deverá cruzar o eixo horizontal em x1 = m/p1. Caso p1 ≥ m/Q , esse cruzamento é obtido fazendo x2 = 0 na restrição (4), obtendo-se x1 = m 2p1 + Q 2 . Como a função de utilidade é monotônica, sabemos que o consumidor es- colherá consumir uma cesta de bens sobre a linha de restrição orçamentária, isto é, as restrições (3) e (4) serão atendidas com igualdade. Assim, podemos 3 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto – Departamento de Economia substituir essas restrições na função de utilidade, para expressar a utilidade ex- clusivamente em função do bem 1: U = x1+ m p2 − p1 p2 x1 = m p2 + p2−p1 p2 x1 caso x1 ≤Q x1+ m+p1Q p2 −2p1 p2 x1 = m+p1Q p2 + p2−2p1 p2 x1 caso x1 >Q Portanto, enquanto x1 <Q , a utilidade obtida por nosso consumidor será cres- cente, decrescente ou invariante em relação a x1 caso p1 < p2, p1 > p2 ou p1 = p2, respectivamente. Já para que essa utilidade seja crescente em relação a x1 quando x1 ≥Q será preciso que 2p1 < p2 ou p1 < p2/2. Ainda no caso em que x1 >Q , a utilidade será decrescente ou invariante emrelação a x1 caso p1 > p2/2 e p1 = p2/2, respectivamente. Desse modo, a quantidade do bem 1 que o consumidor deverá escolher de- penderá de como p1 se compara com p2 e p2/2. Analisemos as cinco possibili- dades: 1ª possibilidade: Caso p1 > p2, qualquer que seja o trecho da restrição orça- mentária considerado, será sempre melhor para o consumidor reduzir x1, de tal sorte que sua escolha ótima é x1 = 0. 2ª possibilidade: Caso p1 = p2, então a utilidadedo consumidor será amesma em qualquer ponto sobre a linha de restrição orçamentária no trecho em que x1 < Q e será decrescente em relação a x1 no trecho em que x1 > Q . Nesse caso o consumidor escolherá qualquer ponto sobre o primeiro tre- cho de sua linha de restrição orçamentária. Se (p1 =)p2 ≤ m/Q isso im- plica x1 ∈ [0,Q], se (p1 =)p2 > m/Q , o máximo que o consumidor poderá adquirir do bem 1 será m/p1 =m/p2 <Q e a solução ótima ocorrerá com x1 ∈ [0,m/p2]. 3ª possibilidade: Caso p2/2< p1 < p2, o consumidor deverá aumentar tanto quanto possa o consumo do bem1 até que este atinja o valor x1 =Q . A par- tir desse valor a utilidade de nosso consumidor passa a decrescer quando x1 aumenta. Portanto, se p1 ≤m/Q , ele escolherá x1 =Q . Se p1 >m/Q , ou seja, caso sua renda não seja suficiente para que ele adquira Q unidades do bem 1, sua escolha será x1 =m/p1. 4ª posibilidade: Caso p1 = p2/2 a utilidade do consumidor crescerá com x1 no trecho da linha de restrição orçamentária em que x1 < Q e será cons- tante no trecho dessa linha em que x1 ≥Q isso significa que o consumidor deverá consumir emumponto qualquer desse segundo trechode sua linha de restrição orçamentária, ou seja, escolher x1 ∈ [ Q , m 2p1 + Q 2 ] = [ Q , m p2 + Q 2 ] . Ele só não escolherá um valor de x1 nesse intervalo caso sua renda não seja suficiente para adquirirQ unidades do bem1, ou seja, caso p1 = p2 >m/Q . Se isso ocorrer, ele escolherá o maior valor de x1 que lhe seja acessível, ou seja, x1 =m/p1. 5ª posibilidade: Caso p1 < p2/2, a utilidade de nosso consumidor será cres- cerá com x1 ao longo dos dois trechos de sua linha de restrição orçamen- tária e, portanto, ele deverá escolher o maior valor possível para x1, qual 4 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Faculdade de Economia,Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto – Departamento de Economia seja x1 = m p1 caso p1 >m/Q m 2p1 + Q 2 caso p1 ≤m/Q Daanálise das 5 possibilidades acima, concluímos que a quantidade deman- dada do bem 1 depende não apenas de como p1 se compara com p2 mas tam- bém de como p2 se compara com m/Q . Caso p2 <m/Q , a curva de demanda pelo bem 1, terá um formato semelhante ao mostrado na Figura 3. x1 p1 p2 p2 2 Q m p2 + Q 2 x1 = m 2p1 + Q 2 FIGURA 3. A curva de demanda pelo bem 1 caso p2 ≤m/Q Essa figura mostra que, x1 = 0 para qualquer p1 > p2, x1 é qualquer valor entre 0 e Q quando p1 = p2, x1 =Q para qualquer p1 menor que p2 e maior que p2/2, x1 é qualquer valor entre Q e m/(2p2)+Q caso p1 = p2 e x1 =m/(2p1)+ Q/2 para qualquer x1 < p2/2. A Figura 4 mostra a curva de demanda pelo bem 1 no caso em que p2/2 < p2 < m/Q . Nesse caso, quando m/Q < p1 < p2, o consumidor não será capaz de adquirir Q unidades do bem 1 e terá que se contentar em consumir m/p1 unidades desse bem. Assim, entre p1 = p2 e p1 = m/Q , a curva de demanda assumirá a forma negativamente inclinada tradicional. O restante do gráfico apresentado na Figura 4 é similar ao da Figura 3. A Figura 5 mostra, por fim, como será a curva de demanda pelo bem 1 no caso em que p2 > 2m/Q . Nesse caso, o consumo do bem 1 em quantidade igual aQ só ocorrerá a partir domomento emque p1 ≤m/Q ≤ p2/2, isto é, quanto p1 for suficiente para que o consumidor possa adquirir Q unidades do bem 1, ele também já será suficiente para fazer com que o consumidor queira consumir apenas o bem 1. Assim, para qualquer p1 abaixo desse patamar, a quantidade 5 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto – Departamento de Economia x1 p1 p2 p2 2 Q m p2 + Q2 m p2 m Q x 1 = m p 1 x 1 = m 2p 1 + Q 2 FIGURA 4. A curva de demanda pelo bem 1 caso p2/2<m/Q < p2 demandada do bem 1 será x1 = m 2p1 + Q 2 . Isso fará com que a curva de demanda não apresente trechos verticais à direita do eixo de p1 tais como os observados nas figuras 3 e 4. x1 p1 p2 p2 2 Qm p2 m Q x 1 = m p 1 x1 = m 2p1 + Q 2 FIGURA 5. A curva de demanda pelo bem 1 caso p2 ≥ 2m/Q 6 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto – Departamento de Economia (3) Se as preferências de um consumidor são representadas pela função de utili- dade U (x1,x2)= lnx1+2 p x2, qual deve ser a função de demanda do bem1? Qual é a elasticidade-preço dessa demanda? O bem 1 é inferior, essencial ou de luxo? Solução: Trata-se claramente, de um função monotônica, pois tanto a função lnx1 quanto a função p x2 são crescentes em relação a seus argumentos. Assim, o equilíbrio do consumidor se dará sobre sua linha de restrição orçamentária. As utilidades marginais dos dois bens são U M g1 = ∂U ∂x1 = 1 x1 e U M g2 = ∂U ∂x2 = 1p x2 Assim, a taxa marginal de substituição será TMS=−U M g1 U M g2 =− p x2 x1 . Note que, uma vez que ao caminharmos sobre a curva de indiferença da es- querda para a direita, x2 diminui e x2 aumenta, omódulo daTMS é decrescente, o que prova que as preferências são convexas. Então, se houver um ponto de tangência entre a linha de restrição orçamentária e uma curva de indiferença, esse ponto será um ponto de utilidade máxima. Para encontrar esse ponto, re- solvemos o sistema de equações |TMS| = p1 p2 ⇒ p x2 x1 = p1 p2 p1x1+p2x2 =m Daprimeira equação, obtemos x2 = p21x1/p22 . Substituindona segunda equação ficamos com p1x1+ (p1x1) 2 p2 −m = 0. Resolvemos essa equação para p1x1 considerando apenas a raiz positiva ob- tendo p1x1 = √ 1+4 m p2 −1 2/p2 , o que implica x1 = p2 2p1 [√ 1+4 m p2 −1 ] Essa é a função de demanda pelo bem 1. A elasticidade-preço da demanda por esse bem é dada por: ǫ= ∂x1 ∂p1 p1 x1 =− p2 2p21 [√ 1+4 m p2 −1 ] p1 p2 2p1 [√ 1+4 m p2 −1 ] =−1 Não se trata deumbem inferior, pois a funçãodedemanda acima é crescente em relação am. Para determinar se o bem1 é essencial ou de luxo, calcularemos sua elasticidade renda: ǫ1,m = ∂x1 ∂m m x1 7 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto – Departamento de Economia Como ∂x1 ∂m = p2 2p1 4 p2 1 2 √ 1+4 m p2 = 1 p1 √ 1+4 m p2 , ǫ1,m = 1 p1 √ 1+4 m p2 m p2 2p1 [√ 1+4 m p2 −1 ] = 2 mp2 1+4 m p2 − √ 1+4 m p2 = 1+4 m p2 − (1+2 m p2 ) 1+4 m p2 − √ 1+4 m p2 = 1+4 m p2 − √ (1+2 m p2 )2 1+4 m p2 − √ 1+4 m p2 = 1+4 m p2 − √ 1+4 m p2 +4m2 p22 1+4 m p2 − √ 1+4 m p2 Como o numerador da expressão acima é menor do que o denominador, con- cluímos que ǫ1,m < 1 e que, portanto, o bem 1 é um bem essencial. (4) Considere a seguinte função de utilidade: U (x1,x2)= [ x ρ 1 + x ρ 2 ]1/ρ na qual ρ ≤ 1. Para que valores de ρ os bens 1 e 2 serão substitutos? Para que valores eles serão complementares? Solução: Observemos, primeiramente que no caso em que ρ = 1, a função de utilidade se reduz aU (x1,x2)= x1+ x2, e, portanto, os dois bens se comportam como substitutos perfeitos. Resta, assim, considerar ρ < 1 As utilidade marginais dos bens 1 e 2 são: U M g1 = ∂ ∂x1 [ x ρ 1 + x ρ 2 ]1/ρ = xρ−11 [xρ1 + xρ2 ] 1ρ −1 e U M g2 = ∂ ∂x2 [ x ρ 2 + x ρ 2 ]1/ρ = xρ−11 [xρ1 + xρ2 ] 1ρ−1 . Como essas utilidades marginais são positivas para x1,x2 > 0, a função de utili- dade descreve preferências monotônicas. O equilíbrio do consumidor se dará, portanto, sobre a linha de restrição orçamentária. Além disso, a taxa marginal de substituição é dada por TMS=−U M g1 U M g2 =− ( x1 x2 )ρ−1 =− ( x2 x1 )1−ρ Se ρ < 1, a taxa marginal de substituição é, em módulo, crescente em relação a x2/x1 e, portanto, a função de utilidade descreve preferências convexas. Caso o equilíbrio do consumidor seja caracterizado por uma solução inte- rior, esta será dada pela solução do sistema |TMS| = p1 p2 ⇒ ( x2 x1 )1−ρ = p1 p2 p1x1+p2x2 =m Resolvendo a primeira equação para x2 encontramos x2 = ( p1 p2 )1/(1−ρ) x1 8 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto – Departamento de Economia Substituindo esse resultado na segunda equação, encontramos a função de de- manda do bem 1: p1x1+p2 ( p1 p2 )1/(1−ρ) x1 =m p1x1+p 1 1−ρ 1 p − ρ1−ρ 2 x1 =m x1 = m p1+p 1 1−ρ 1 p − ρ1−ρ 2 . x1 é substituto de x2 caso x1 seja crescente em relação a p2. Isso ocorre quanto ρ/(1−ρ) > 0, ou seja, como assumimos ρ < 1, quando ρ > 0. Caso ρ < 0, ao contrário, um aumento em p2 levará a uma redução na quantidade demanda do bem 1, e portanto, x1 será complementar de x2. A nossa função de utilidade não é definida para ρ = 0. Todavia, quando ρ→ 0, ρ/(1−ρ)→ 0, de tal sorte que o bem 1 aproxima-se a condição de independente do bem 2. De modo ao que fizemos para encontrar a função de demanda pelo bem 1, podemos encontrar a seguinte função de demanda pelo bem 2: x2 = m p2+p 1 1−ρ 2 p − ρ1−ρ 1 . Novamente, quando 0< ρ < 1, o bem 2 será substituto do bem 1. Quando ρ < 0 ele será complementar do bem 1. 9
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