Buscar

ONLINE AULA 5 A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DA COLÔNIA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

ONLINE AULA 5 A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DA COLÔNIA
Nesta aula, veremos de que forma o projeto colonial ibérico deu origem a uma cultura única, profundamente miscigenada e agregando elementos de diversas influências, como as culturas africana e indígena.
Governo Geral
A instalação do Governo Geral no Brasil constituiu uma nova etapa do desenvolvimento administrativo colonial, mas sua implantação também passou por dificuldades.
Quando Tomé de Souza instalou-se em seu cargo e centralizou as funções administrativas, capitanias que prosperaram, como Pernambuco, viram sua autonomia diminuída, o que provocou insatisfação, justamente entre aqueles que haviam conseguido atingir os objetivos propostos pela Coroa quando estabeleceu o sistema de capitanias, gerar lucro. 
Duarte Coelho, donatário da capitania de Pernambuco, recorreu diretamente ao rei para manter sua autonomia. Essa interferência evidencia a disputa pelo poder nos primeiros momentos do Brasil Colonial.
Se Tomé de Souza enfrentou problemas, com o segundo governador geral, Duarte da Costa, não foi diferente. Um dos episódios mais singulares acabou por opor o governo geral aos jesuítas.
Quando Tomé de Souza veio para o Brasil, trouxe consigo o bispo Dom Pero Fernandes Sardinha, responsável pela fundação do primeiro bispado nas terras brasileiras em 1551.
Canibalismo
Em 1556, Dom Pero foi chamado de volta a Portugal e, em sua viagem de retorno, seu navio naufragou, ainda no litoral brasileiro. Dom Pero e quase toda sua tripulação, bem como os demais passageiros, foram capturados e devorados, provavelmente pela tribo dos índios caetés. Pois é, havia tribos indígenas canibais no Brasil!
O caso do bispo Sardinha
Naufrágio, morte e canibalismo se misturam na trágica história que envolveu d. Pero Fernandes Sardinha (1495-1556), o primeiro bispo do Brasil. Sardinha exerceu o episcopado desde a criação da diocese da Bahia pelo Papa Julio III, em 1551. Cinco anos mais tarde, por ordem de D. João III, Sardinha embarcou em direção a Portugal na nau Nossa Senhora da Ajuda com uma centena de pessoas, entre as quais fidalgos com as famílias, o deão e dois cônegos, além de índios escravos. O barco naufragaria próximo da foz do rio Coruripe, a cerca de seis léguas (24 quilômetros) do rio São Francisco. No entanto, a maior parte da tripulação e dos passageiros sobreviveu. Mas foram aprisionados mortos e devorados por índios caetés. Segundo frei Vicente de Salvador, em sua História do Brasil, além do bispo Sardinha, outras noventas pessoas foram devoradas, salvando-se apenas um português que conhecia a língua nativa e dois escravos índios. Fato incomum: não pouparam nem as mulheres que estavam na nau. Anos depois, em represália, o governador geral Mem de Sá ordenou o massacre dos caetés.
Os caetés não eram os únicos praticantes de canibalismo. Os tupinambás, famosos guerreiros, também mantinham esta prática.
Também no século XVI, o alemão Hans Staden que esteve duas vezes no Brasil, foi capturado pelos tupinambás, em Ubatuba, atual Estado de São Paulo. Staden teve melhor sorte que o bispo Sardinha e conseguiu ser resgatado, mas viveu 9 meses entre os indígenas e descreveu e desenhou seus rituais, dentre eles, o canibalismo.  
De volta a Europa escreveu: História verdadeira e descrição de uma terra de selvagens, nus e cruéis comedores de seres humanos, situada no Novo Mundo da América, desconhecida antes e depois de Jesus Cristo nas Terras de Hessen até os dois últimos anos, visto que Hans Staden, de Homberg, em Hessen, a conheceu por experiência própria e agora a traz a público com essa impressão.
O livro fez enorme sucesso na Europa, mas contribuiu para reforçar a imagem do indígena como bárbaro e pagão. 
De toda forma, muito do que se sabe sobre o cotidiano do Brasil Colonial provem destas fontes, os relatos dos viajantes europeus, dos quais a obra de Hans Staden constituiu um dos mais importantes exemplos.
A resistência indígena
Eventos como o visto anteriormente nos fazem repensar a questão indígena no Brasil Colonial. Faz parte do senso comum entender as tribos brasileiras como ingênuas, o “bom selvagem” do qual nos fala Jean Jacques Rousseau, como se estes indivíduos tivessem se submetido gentilmente ao domínio português. Nada mais longe da verdade.
Tendemos a pensar nos indígenas como um todo, abarcado pela palavra índio, mas existiam centenas de tribos, com práticas, usos e costumes diferentes entre si. 
Algumas tribos ofereceram mais resistência, aliando-se, por exemplo, aos invasores estrangeiros, como foi o caso dos franceses, outras se aliaram aos portugueses; mas não, o processo de dominação destas tribos não foi fácil nem dócil. 
Um dos fatores do fracasso das capitanias hereditárias foi justamente a resistência dos indígenas à invasão de suas terras.
Um dos exemplos desta resistência foi a Confederação dos Tamoios, que teve lugar entre 1556 a 1567. 
Os tupinambás, aliados a outras tribos como os goitacazes e os aimorés fizeram uma série de levantes, sobretudo contra a escravização indígena.
Resistência indígena
 
Os tupinambás aliaram-se aos franceses quando estes invadiram o Rio de 
Janeiro, fundando a França Antártica. Os portugueses por sua vez tinham o apoio dos índios termininós, liderados por Arariboia. 
Aos termininós havia sido prometida a posse de terras, em troca da ajuda para derrotar os franceses. Com o apoio de Arariboia, os franceses foram derrotados e expulsos sob a liderança de Estácio de Sá, que fundou a cidade 
do Rio de Janeiro em 1 de março de 1556. 
Os portugueses cumpriram a promessa e Arariboia recebeu as terras do outro lado da baia de Guanabara e fundou a cidade de Niterói em 22 de novembro de 1573. Não é à toa que dois dos principais patrimônios históricos de Niterói, a Pedra do Índio e a Pedra de Itapuca – esta, tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural em 1985 – estejam relacionados à presença dos indígenas na história da cidade. 
A Confederação dos Tamoios evidencia um problema crucial para os primários anos da colonização: o uso da mão de obra. Duarte da Costa, que governou entre 1553 e 1558, era a favor da utilização dos indígenas que, por sua vez, estavam protegidos pelos jesuítas, que desejavam sua catequização, seguindo o projeto da expansão da fé católica. 
Entretanto, mesmo em casos de aliança, como ocorreu entre Arariboia e os portugueses, os indígenas tinham como objetivo a sobrevivência de sua tribo. É o caso do líder dos Tupiniquins, Tibiriça, que permitiu o contato com os jesuítas, tendo sido convertido à fé católica. Segundo o historiador John Monteiro: 
“Aquilo que parecia uma aliança inofensiva e até salutar logo se mostrou muito nocivo para os índios. As mudanças nos padrões de guerra e as graves crises de autoridade, pontuadas pelos surtos de contágios, conspiraram para debilitar, desorganizar e, finalmente, destruir os Tupiniquins” i
Por um lado, a presença jesuíta contribuiu para a sobrevivência de alguns indígenas, que dessa forma ficavam livres do jugo português, por outro, foram responsáveis pela catequização e pela extinção da cultura e das 
tradições destas tribos. 
Os índios eram chamados de “negros da terra”, mas, como vimos, demonstravam forte aversão e resistência à escravização. Foram considerados preguiçosos e ineptos para o trabalho árduo, em uma concepção que se prolongou por séculos, inclusive na literatura e nos documentos oficiais do período. 
Mas, se a mão de obra indígena mostrou-se inviável, embora tenha sido largamente utilizada, era necessário encontrar uma alternativa. Esta alternativa foi a importação de mão de obra escrava, negra e africana. 
i
 MONTEIRO, John. Os negros da terra. São Paulo: Cia das letras, 1994. p. 17
O amargo poder do açúcar
Antes de nos determos sobre a questão da escravidão, devemos fazer algumas considerações acerca da implantação da empresa açucareira no Brasil Colonial. Ou seja, por que o açúcar?
Primeiro, temos que lembrar o que vimos na aula anterior:a colonização deve ser entendida em um processo maior, que inclui as necessidades metropolitanas e a economia mercantilista.
O açúcar que era consumido na Europa vinha, sobretudo, do Oriente, de onde a cana-de-açúcar é originaria. 
Este produto chegava a Europa principalmente através do comércio veneziano, e alcançava um alto preço no mercado.
Procurando oferecer esta mercadoria a preços mais competitivos, Portugal implantou nas ilhas, como no caso da Ilha da Madeira, engenhos açucareiros, o que permitia que o produto chegasse ao comércio europeu a um preço mais baixo que aquele praticado pelos comerciantes venezianos, o que proporcionava grandes lucros.
Neste contexto e entendendo que o objetivo final da colônia era gerar lucro para a metrópole, as primeiras mudas de cana foram trazidas para o Brasil por Martim Afonso de Sousa por volta de 1533.  
Como e onde produzir açúcar?
Alguns dos primeiros engenhos foram instalados em Pernambuco, tendo sido fundamentais para o sucesso econômico desta capitania. A prévia experiência portuguesa no cultivo da cana também é um dos fatores para a implantação dos engenhos no Brasil.
Mas esta atividade, para gerar o lucro almejado pela metrópole, deveria ser feita em grandes faixas de terra, que permitissem uma enorme produção, voltada para o mercado externo.
Estabelece-se assim a economia de plantation.: Baseada na monocultura, no latifúndio, na mão de obra escrava e na economia agroexportadora, que caracterizaria a sociedade colonial.
Para produzir a contento, o engenho necessitava de grande quantidade de mão de obra. 
Se havia empecilhos na utilização do indígena, o mesmo não podemos dizer da utilização da mão de obra escrava africana.
Organização das colônias americanas
 Se formos pensar de modo geral, na maneira como as colônias americanas se organizaram, veremos que elas possuem muito em comum, fazendo com que a distinção entre colônia de exploração e povoamento perca, cada vez mais, seu sentido, tendo sido por isso, progressivamente abandonada pela historiografia recente. 
Na América hispânica, utilizou-se largamente a mão de obra indígena, aproveitando-se de estruturas que já existiam no período pré-colombiano. 
Entre os incas e os astecas, já havia o trabalho compulsório, realizado sob a forma de imposto, e do qual os espanhóis se apropriaram, como é o caso da mita, no Peru e do cuatequil, no México. ("Mita e cuatequil" – Sistemas de trabalho forçado que utiliza mão-de-obra indígena. Nas minas peruanas, esse trabalho recebe o nome de mita, e nas minas mexicanas, de cuatequil).
"Encomienda e repartimiento" – Paralelamente à economia mineira, desenvolvem-se atividades subsidiárias como a agricultura e pecuária, nas quais os índios também são aproveitados como mão-de-obra. Por meio do repartimiento, a terra é dividida entre os colonos e, pela encomienda, lhes é confiado certo número de índios. Em troca do trabalho, o encomendador encarrega-se de manter e cristianizar os índios. Na prática, muitos são escravizados.
 No sul dos Estados Unidos então, parte das 13 colônias inglesas, foi estabelecido o mesmo sistema de plantation, substituindo o açúcar pelo tabaco e algodão, mais propícios ao clima daquela região, mas conservando o uso da mão de obra escrava africana. 
 O que não podemos esquecer é que o objetivo das colônias, pertencessem elas a qualquer metrópole, era gerar lucro, e para isto os sistemas produtivos fora adaptados a cada realidade.
Mão de obra escrava
A escravidão não era uma novidade no continente africano. Ela já era praticada nos reinos da África, em geral, tendo como escravos prisioneiros das inúmeras guerras tribais. Dessa forma os escravos africanos eram uma resposta à necessidade de mão de obra na lavoura açucareira.  
Assim, entre os séculos XVI e XIX, milhares de africanos, de diferentes etnias, foram trazidos para o Brasil e mantidos sob o regime de escravidão em substituição ao trabalho indígena. Segundo Sheila de Castro Faria:
“Diversas pesquisas demonstraram, posteriormente, que a escravidão indígena foi largamente utilizada e que vários deveriam ser os fatores que fizeram com que os africanos fossem privilegiados. Nestes trabalhos, explica-se a substituição pela dificuldade cada vez maior de se ter acesso a índios, tanto pela diminuição de seu número, provocada por guerras e doenças, quanto pela sua migração para o interior, o que dificultava o apresamento. Também se faz referência à rentabilidade do trabalho, alegando-se que os índios rendiam menos que os africanos. Considera-se que, sendo o trabalho agrícola uma atividade feminina entre indígenas, haveria pouca predisposição dos homens a se tornarem trabalhadores de lavoura. Do outro lado do Atlântico, na África, um conjunto de fatores se teria articulado para fornecer mão de obra a preços vantajosos para a empresa comercial escravista. Muitas variáveis, portanto, teriam agido conjuntamente para explicar, em certas épocas e lugares, o predomínio da escravidão negra africana, incluindo a rentabilidade do tráfico.”
De fato, o comércio negreiro trouxe fortuna aos traficantes. Os escravos eram comumente chamados de “negros da Guiné”, em referência a esta região, mas, na prática, provinham das mais diferentes áreas e etnias africanas. Alcançavam alto preço no mercado, dependendo de seu sexo, idade e aparência.
No século XVII, o jesuíta italiano André João Antonil, que vivia no Brasil, assim descrevia os escravos:
“E porque comumente são de nações diversas, e uns mais boçais que os outros e de força muito diferentes, se há de fazer a repartição com reparo e escolha, e não às cegas. Os que vêm para o Brasil são ardas, minas, congos, de São Tomé, de Angola, de Cabo Verde e alguns de Moçambique, que vêm nas naus da Índia. Os ardas e os minas são robustos. Os de Cabo Verde e de São Tomé são mais fracos. Os de Angola, criados em Luanda, são mais capazes de aprender ofícios mecânicos que os das outras partes já nomeadas. Entre os congos, há também alguns bastantemente industriosos e bons não somente para o serviço da cana, mas para as oficinas e para o meneio da casa”
É interessante perceber o uso da palavra boçal, utilizado por Antonil. 
No vocabulário atual, boçal ganhou o sentido de culto, ignorante, mas na sua origem, o sentido que o autor se refere, boçal designa o africano recém-chegado ao Brasil e que não dominava o idioma, ou seja, o português. 
Essa é uma das tantas manifestações nas quais podemos perceber o preconceito racial embutido em nossa herança cultural.  
Para onde eram levados os negros escravizados?
Aqueles que sobreviviam às viagens – feitas dos navios negreiros, onde atravessavam o Atlântico entulhados, seminus, mal alimentados e em péssimas condições de higiene, em que proliferavam as doenças e causava uma enorme mortalidade – eram vendidos nos mercados, próximos ao porto.
No Brasil, foram notórios os mercados de Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro, onde eram comprados e encaminhados para os engenhos de açúcar. 
Na Bahia, onde o patrimônio histórico oriundo da escravidão ainda é notório e, atualmente, preservado, podemos perceber inúmeras referências a este período histórico.
Quando Salvador foi fundada por Tomé de Souza, em 1549, foi pensada para ser uma cidade fortaleza. Por questões de segurança, para evitar a invasão e o saque de piratas e estrangeiros, seu primeiro povoamento foi construído na parte mais alta da cidade, onde hoje se encontra o centro histórico e seu mais famoso bairro: o Pelourinho.
Pelourinho é o nome de uma estaca de madeira, onde, na Europa, os criminosos eram presos e açoitados. Existiu em diversos lugares durante o período medieval e chegou ao Brasil junto com os portugueses. 
Os pelourinhos eram comuns nos engenhos, onde os escravos rebeldes ou que haviam sido fugidos e recapturados eram presos e chicoteados. 
O suplício era público, pois devia servir de exemplo aos demais.
No caso da Bahia, como uma demonstração de autoridade, foi construído um Pelourinho em praça pública,para o castigo de escravos e criminosos.
No Pelourinho, as heranças escravas e portuguesas se misturam. Durante parte de sua história, o bairro foi lugar dos grandes casarios, residências na cidade dos senhores de engenho. 
As diversas igrejas, muitas em estilo barroco, demonstram a opulência e a riqueza trazida pelo açúcar.
O sincretismo religioso
Durante os séculos XVI, os africanos de origem iorubá, originários da África Ocidental, nas regiões dos atuais Benin, Togo e Nigéria, praticavam o candomblé, uma religião politeísta.
Ao aportarem no Brasil, eram batizados e submetidos à conversão ao catolicismo, sendo proibidos de praticar a sua própria religião. A fusão entre os elementos católicos e iorubás deu origem um intenso sincretismo religioso, notório em diversas igrejas.
Esse sincretismo associaria os orixás, de culto iorubá aos santos de devoção católica. Assim, a Iemanjá do candomblé é associada a Nossa Senhora; Iansã, a Santa Barbara; Ogum a São Jorge e assim por diante.
A devoção dos africanos a Nossa Senhora deu origem a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, que começou a construir uma igreja, no Pelourinho, no século XVIII.
Os membros da irmandade doavam seu trabalho, que pode ser observado não só no interior desta igreja, mas também no cemitério de escravos que possui ainda hoje, em seu terreno.
Patrimônios como este são inestimáveis, pois lançam uma nova ótica sobre a escravidão. 
O negro não é somente a mão de obra, o oprimido, mas também parte da sociedade que se formou no Brasil Colonial e elemento indissociável de nossa história e nossa cultura.
Mas por que a utilização do termo civilização?
O escravo era parte integrante daquela que se tornaria a civilização do açúcar. 
O ciclo do açúcar não pode ser considerado apenas sob o ponto de vista econômico. Ele proporcionou o estabelecimento de toda uma sociedade, na qual os indivíduos cumpriam papéis pré-estabelecidos, de acordo com a ordem social por ela imposta. 
Assim, o açúcar foi um dos pontos fundadores da sociedade colonial, pois deu origem a uma organização social e hierárquica.
O engenho era uma estrutura complexa. 
Era composto, além de uma enorme extensão de terra dedicada ao cultivo fundamentalmente, pela: CASA GRANDE, SENZALA, CAPELA, CASA DE ENGENHO.
Os escravos trabalhavam na lavoura ou na Casa Grande e, na prática, estavam encarregados de todo o serviço. A produção do açúcar era árdua desde o cultivo da cana até o produto final, havia várias etapas. 
Os plantéis de escravos de um engenho variavam de acordo com seu tamanho, mas não era incomum que incluíssem centenas de indivíduos. Esse modo de produção não raro causava estranheza aos estrangeiros, em especial os europeus, que não estavam familiarizados com a realidade da escravidão.
O poder de um Senhor de Engenho
Não é por acaso que os senhores de engenho sejam os mais fervorosos defensores da escravidão, e os mais ferrenhos opositores dos abolicionistas. A sociedade açucareira era patriarcal, cabendo à mulher o cuidado da casa e dos filhos.
Os filhos homens eram enviados para estudar na Europa, em especial, em Lisboa, onde se formavam nas profissões liberais, como advogado ou médico. 
As filhas eram educadas para serem esposas, mães e donas de casa. Eram ensinadas a bordar, tocar piano e falar francês, um sinal de sofisticação. O casamento e o compadrio eram estratégias importantes para a manutenção desta sociedade, pois interligava as diversas famílias importantes e perpetuava os privilégios dos latifundiários.
Segundo Antonil, a respeito dos senhores de engenho:
“O ser Senhor de Engenho é título a que muitos aspiram, porque traz consigo o ser servido, obedecido e respeitado de muitos. E se for, qual deve ser, homem de cabedal e governo, bem se pode estimar no Brasil o ser senhor de engenho, quanto proporcionalmente se estimam os títulos entre os fidalgos do Reino”.
Ser senhor de engenho, portanto, significa ser o centro das decisões políticas. A posse de terra implica no domínio do centro produtivo da colônia. Estes senhores formavam verdadeiros feudos, que se perpetuavam em suas relações pessoais. 
Na política, ocupavam cargos importantes ou escolhiam aqueles que os ocupariam. O legado desta estrutura é visível ainda hoje, no regionalismo político e na existência dos currais eleitorais que, na República Velha, constituíam o fenômeno do coronelismo.
Aos elementos fundadores, português, africano e indígena, outros foram agregados no decorrer da história brasileira, com a abolição, a vinda dos imigrantes e as intensas trocas culturais que constituem a riqueza e a diversidade do patrimônio brasileiro. 
Embora tenha predominado a herança europeia – no nosso idioma, por exemplo – as demais contribuições, antes relegadas a segundo plano, têm sido pouco a pouco recuperadas e valorizadas, como demonstram as diversas iniciativas de resgate de patrimônio material e imaterial por todo o Brasil. 
Antes de finalizar, clique aqui para ver as considerações da educadora alemã Ina Von Binzer.
Impressões de uma educadora alemã no Brasil Colonial
No século XIX, a educadora alemã, Ina Von Binzer, esteve no Brasil para trabalhar como professora. Um de seus trabalhos incluiu a educação dos filhos de um senhor de engenho. Ina mantinha uma correspondência constante com uma amiga em sua terra natal e suas cartas revelam o lado do cotidiano de uma sociedade escravista, estranha aos olhos de uma alemã. 
Suas impressões são únicas, pois as cartas são documentos pessoais sem aspirações políticas ou públicas. Sobre o trabalho escravo, eis o que diz a educadora: 
“Neste país, os pretos representam o papel principal; acho que no fundo são mais senhores que escravos dos brasileiros. Todo trabalho é realizado pelos pretos, toda riqueza é adquirida por mãos negras, porque o brasileiro não trabalha, e quando é pobre prefere viver como parasita em casa de parentes e de amigos ricos, em vez de procurar uma ocupação honesta. Todo serviço doméstico é feito por pretos: é um cocheiro preto que nos conduz; uma preta quem nos serve; junto ao fogão o cozinheiro é preto e a escrava amamenta a criança branca; gostaria de saber o que fará esta gente quando for decretada a completa emancipação dos escravos.”i
 Ina escreve, em 1881, poucos anos antes da abolição, que ocorreria em 1888, mas demonstra aquela que seria uma preocupação fundamental: como manter uma estrutura dependente do trabalho escravo. 
 i
 BINZER, Ina Von. Os meus romanos: alegrias e tristezas de uma educadora alemã no 
Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 1994. p. 40

Outros materiais