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"[...] porque sem mim nada podeis fazer." João 15:5 Deus seja louvado. Guerreiro, Helder Eu odeio Fenômenos de Transporte III. / Helder Guerreiro – Manaus, 2018. Bibliografia Livro não catalogado e não institucional, o mesmo é amador. Sumário Apresentação .......................................................................................................................... 7 Observações ............................................................................................................................. 8 1. Revisão ..................................................................................................................................... 9 1.1 Analisando Casos - Dois copos, nada mais ...................................................................................................................... 9 1.2 Princípio dos Processos Químicos - Tudo que entra, sai ............................................................................................... 12 1.3 Equações Diferenciais Ordinárias - Demônios .............................................................................................................. 14 1.4 Fenômenos de Transportes I - O irmão mais velho. ..................................................................................................... 14 1.5 Fenômenos de Transportes II - O irmão do meio ......................................................................................................... 15 2. Similaridades .................................................................................................................... 16 2.1 Fenômenos - Como defini-los? ...................................................................................................................................... 16 2.2 Analogias - Como seria a transferência de massa? ......................................................................................................... 18 2.3 Entendimento - O objetivo é olhar e entender ............................................................................................................... 19 2.4 Similaridades - Mundos conectados ............................................................................................................................... 20 3. Introdução a Difusão ................................................................................................. 23 3.1 Fenômenos de Transporte - Todos partiram do mesmo princípio ................................................................................ 23 3.2 Lei de Fick - Agora sim, começou FT3 .......................................................................................................................... 25 3.3 Sistemas - Importante saber identificar .......................................................................................................................... 27 3.4 Exemplo - Uma simples poça de água. .......................................................................................................................... 30 4. Mecanismo de Transferência de Massa .............................................................. 35 4.1 Análise de Situação - Açúcar e um copo com água. ....................................................................................................... 35 4.2 Transferência de Massa - E suas variedades. .................................................................................................................. 36 4.3 Difusão em Gases - A primeira parte da difusão ............................................................................................................ 38 5. Difusividade em Meios Fluidos e Biológicos .................................................... 41 5.1 Variação de Dados e Equações - Outras situações ......................................................................................................... 41 5.2 Difusão em Líquidos - Novos meios .............................................................................................................................. 45 5.3 Difusão em Soluções Biológicas - Analisando a complexidade de um sistema biológico. .............................................. 46 6. Difusividade em Meios Sólidos ................................................................................ 48 6.1 Sólidos Cristalinos - Você já estudou Ciência dos Materiais? ......................................................................................... 48 6.2 Sólidos Porosos - Agora chegou a vez de Cinética e Reatores... ..................................................................................... 52 6.3 Difusão de Knudsen - Essa agora... ................................................................................................................................ 55 7. Modelagem de sistemas de transferência de massa .................................... 58 7.1 Modelagem de Sistemas - Aprendendo a moldar equações ........................................................................................... 58 7.2 Pressões parciais - Outro jeito de modelar ..................................................................................................................... 68 8. Características da Modelagem ............................................................................. 69 8.1 Obtenção da equação da continuidade - Em coordenadas retangulares ........................................................................ 69 8.2 Estratégias de modelagem - Você não pode ter dúvidas! ................................................................................................ 76 8.3 Exemplo 1 - Treinar, é necessário ................................................................................................................................. 78 8.4 Exemplo 2 - Mais treino ................................................................................................................................................. 82 9. Difusão em coordenadas Esféricas e Cilíndricas ........................................ 86 9.1 Coordenadas Esféricas - O Satanás bateu na sua porta .................................................................................................. 86 9.2 Coordenadas Cilíndricas - E agora quer possuir sua vida ............................................................................................... 90 9.3 Entendimento - Depois do inferno, vem o céu .............................................................................................................. 92 Exercícios em Regime Permanente ............................................................................. 94 Primeira Questão - Fármaco ................................................................................................................................................ 94 Segunda Questão - Etanol no capilar ................................................................................................................................... 99 10. Transferência de massa com reação química ........................................... 106 10.1 Reação Química - Detalhando esse assunto... ............................................................................................................ 106 10.2 Perfil de concentração - Necessário? .......................................................................................................................... 106 10.3 Caso simples com reação química - Novo nível de estudo ......................................................................................... 107 10.4 Casoenvolvendo reação química homogênea - Evoluindo... ..................................................................................... 117 10.5 Caso envolvendo reação química Pseudo-homogênea - Abriu-se as portas do inferno .............................................. 128 10.6 Fator de Efetividade - E saiu o Satanás... .................................................................................................................... 137 11. Transferência de massa em regime transiente ........................................... 148 11.1 Placa Infinita - Lembra de transporte de energia? ...................................................................................................... 148 11.2 Caso envolvendo regime transiente sem reação química - Tudo é transiente, até a prova ......................................... 151 11.3 Difusão gasosa em um capilar - Dessa vez não será tão simples... .............................................................................. 161 12. Análise gráfica de perfis de concentração e do fator de efetividade .................................................................................................................................................. 171 12.1 Perfis de Concentração - O céu é azul, mas porquê? ................................................................................................. 171 12.2 Perfis de Concentração de um caso envolvendo reação heterogênea em regime permanente - ................................. 172 12.3 Perfis de Concentração de um caso envolvendo reação Pseudo-homogênea em uma esfera catalítica porosa .......... 173 12.4 Análise de perfil do fator de efetividade ..................................................................................................................... 179 12.5 Análise de perfis em regime transiente com 3 termos na série de Fourier ................................................................. 180 12.6 Análise de perfis em regime transiente de 8 a 20 termos na série de Fourier ............................................................ 195 13. Reação química de 2ª ordem em Regime Permanente .............................. 204 13.1 O que muda? - Não vamos ficar enrolando, né? ....................................................................................................... 204 13.2 Equações químicas - O que fazer com elas? .............................................................................................................. 204 13.3 Ordem da reação - Será mesmo uma preocupação? ................................................................................................. 205 13.4 Condições de contorno em casos envolvendo reação química - Muda muita coisa, tenha isso me mente ................. 206 14. Convecção ................................................................................................................... 209 14.1 Introdução a Convecção - O entendimento da coisa. ................................................................................................ 209 14.2 Os primórdios da convecção - Tudo tem o seu estopim ............................................................................................ 210 14.3 O princípio da absorção - Vejo uma terra distante chamada Operações Unitárias .................................................... 212 14.4 O caso da parede molhada - O primeiro exemplo a gente nunca esquece ................................................................ 216 14.5 O cilindro molhado - O que muda? .......................................................................................................................... 227 14.6 A esfera molhada - Fechando com chave de ouro. .................................................................................................... 229 15. Adimensionais e Camada Limite .......................................................................... 233 15. 1 Adimensionais - Números significativos .................................................................................................................... 233 15.2 Camada Limite - O nosso último suspiro juntos ........................................................................................................ 236 Adeus ...................................................................................................................................... 240 Referências ......................................................................................................................... 241 7 Apresentação Olá meu nome é Helder Guerreiro, aluno do curso de Engenharia Química da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Este material foi criado integralmente por mim com o objetivo de salvar muita gente que enfrenta uma das disciplinas mais difíceis do curso. Então chegamos na disciplina mais difícil de todas? Na verdade, essa história de disciplina mais difícil não existe muito, o que acontece é que chegamos muita das vezes despreparados, porque não tivemos um bom embasamento, ou porque o professor é carrasco e não ajuda nem um pouco ou pode ser até mesmo por questões de afinidade do aluno com a disciplina, mas uma disciplina que por si só é “difícil” não existe, tudo depende de nós, dos nossos professores e de nossa instituição de ensino. Transporte de massa é uma disciplina que exige bastante, você não pode querer cursa-la e deixa-la de lado como uma qualquer, negativo, é exigido esforço, organização, pontualidade e bastante persistência. O fato é que muitos dos conhecimentos adquiridos ao longo da faculdade serão exigidos agora, logo, se você não fez as disciplinas decentemente, enfrentará dificuldades. Mas aqui estou eu para auxiliá-lo, espero que este material venha ajudar a esclarecer todas as suas dúvidas e lhe dar uma visão melhor do que é o transporte de massa e para que ele serve, claro que não vou conseguir abordar 100 % do assunto aqui, mas para isso serve os livros, o professor e os monitores, para que as suas dúvidas venham ser sanadas e você venha dominar o assunto. Desejo a você boa sorte nos seus estudos e vamos juntos, até o fim. 8 Observações • Este material é baseado no livro: Fundamentos de Transferência de Massa - Cremasco e nas aulas do professor do autor. • Referências constadas no final deste livro que não foram citadas no meio deste, foram responsáveis pela formulação do pensamento do autor, sendo assim contribuições indiretas. • As questões abordadas aqui serão as mesmas que foram utilizadas pelo professor, mesmo que sejam de outros livros. • Todas as imagens não pertencentes ao autor foram devidamente referenciadas na imagem e no final deste livro, as que não contem referência são de autoria do próprio autor deste livro. • Este livro é amador e não obteve ajuda de terceiros, ou seja, o autor pensou, escreveu, editou e publicou este livro sozinho, o que faz deste passível de certos erros pequenos nesta edição, o que não comprometerá o seu estudo, dessa forma peço sua compreensão caso encontre algum erro neste livro. • Para dúvidas, sugestões, aviso de erros, elogios ou algo que necessite contato, envie um e-mail para: heldermeloguerreiro@gmail.com . • Este livro é gratuito e não deve, de forma alguma, ser vendido por nenhuma pessoa física ou jurídica, o autor deliberou de boa vontade este livro como livre para todo aquele que queira possuí-lo. 9 1. Revisão 1.1 Analisando Casos - Dois copos, nada mais Veja o que acontece nessa sequência de imagens, aonde corantes são adicionados à um fluido incolor: O que se observa? Ora, veja que dois corantes diferentes são adicionados aos copos com fluidos incolores. O que ocorreem seguida é que o corante azul se dispersa com mais dificuldade enquanto o laranja tem uma grande facilidade. A priori, nenhum dos dois são dissolvidos. Como explicar? Não conhecemos o fluido, o corante, suas composições e seus detalhes, resta-nos especulações. Supondo o mesmo tipo de fluido e vendo que são tintas comuns, ou seja, não são indicadores, vale ressaltar pontos importantes como, pH, temperatura e o meio orgânico ou inorgânico. A 10 temperatura é um fator importantíssimo, pois a tinta que cai sobre o fluido no copo, atinge uma velocidade ao se alastrar, gerando transferência de calor por convecção por causa da camada limite entre o fluido do copo e a tinta. O movimento das placas internas do fluido transfere calor rapidamente, o que pode ocasionar a turbulência, ora a turbulência é aleatória e difusa, ela é tridimensional e gera um grande caos dentro do fluido, com certeza é uma ótima forma de difusão da tinta. A difusão que estou falando é basicamente o fato da tinta se afastar do caminho que ela normalmente percorreria quando jogada no copo, ou seja, se você jogar a tinta no ar (que é um fluido também) a tinta irá cair reto, mas se jogar no copo ela começa a se espalhar em certos pontos ou em todas as direções, portanto ocorreu difusão. Porque o meio orgânico ou inorgânico é importante? Porque naturalmente o meio orgânico é mais “pesado” do que o inorgânico, se você fez laboratório de Química Orgânica vai lembrar que o sobrenadante das suas experiências era inorgânico, enquanto que o que ficava no fundo era orgânico, isso não é uma regra é só um exemplo. O fato do solvente orgânico ser muito carregado, pode acabar por dificultar a locomoção da tinta em seu meio, mas isso depende muito da tinta, isso não é uma regra. Por exemplo, uma tinta geralmente é inorgânica, em meio orgânico as moléculas da tinta não encontrarão facilidade para se desligar de seu grande corpo, porque haveria “uma barreira” química produzida pelas grandes cadeias orgânicas do solvente. Isso é só um exemplo, de muitas coisas que podem acontecer. 11 Veja o que acontece nessa sequência de imagens, aonde corantes são adicionados à um fluido incolor. Nada muito diferente do que foi visto antes, o adendo é que há dissolução por parte de um dos solventes. Como explicar isso? Não sei se dá para perceber, mas a mesma tinta é usada em ambos os copos, o que mostra claramente que temos duas situações diferentes nos copos. É errado afirmar que são fluidos diferentes, não tem como você saber. Podemos supor que a tinta usada seja uma tinta, dessa vez, solúvel no solvente que está no copo, isso faríamos supor que o mesmo fluido está em ambos os copos. Logo, aquilo que poderia configurar a dissolução dessa tinta é a temperatura, claro que há outros fatores, mas estamos trabalhando com hipóteses, não temos muita coisa para querer julgar. A temperatura aumenta a solubilidade de um solvente, assim como você deve saber de suas aulas de Química Orgânica. As moléculas se agitam, a energia é transferira para a tinta que atravessa o copo, a tinta atinge a turbulência e a difusão ajuda na dissolução, fazendo o mesmo efeito de você 12 colocar uma colher no copo e agita-lo. É a mesma coisa que ocorre em um reator PFR. E se não houver mudança de temperatura? Então podemos supor fluidos com polaridades diferentes. Ora, uma tinta geralmente é inorgânica, adquirindo grande atividade apolar, assim como foi visto em Química Orgânica I, isso fará com que ela se dissolva em solventes apolares inorgânicos. Você lembra o que acontece se você lavar roupa colorida com água sanitária? 1.2 Princípio dos Processos Químicos - Tudo que entra, sai O basicão da engenharia química começa com essa formula: Acúmulo no sistema = Entrada através da fronteira − Saída através da fronteira + Produção no sistema − Consumo no sistema A = E − S + P − C Obs.: Acúmulo no sistema = Variação no tempo da massa ou mols dentro do sistema Isso é PPQ, o que vem depois, é resultado disso. Vamos relembrar conceitos: ✣ Sistema Aberto com Reação 𝐴 = 𝐸 − 𝑆 + 𝑃 − 𝐶 ✣ Sistema Aberto sem Reação 𝐴 = 𝐸 − 𝑆 ✣ Sistema Fechado com Reação 𝐴 = 𝑃 − 𝐶 ✣ Sistema Fechado sem Reação 13 𝐴 = 0 ✣ Sistema Permanente com Reação 𝐸 − 𝑆 + 𝑃 − 𝐶 = 0 ✣ Sistema Transiente com Reação 𝐴 = 𝐸 − 𝑆 + 𝑃 − 𝐶 ✣ Sistema Transiente sem Reação 𝐴 = 𝐸 − 𝑆 ✣ Balanço Diferencial - Indica o que está acontecendo num dado instante; - Cada termo representa uma taxa de fluxo de massa; - Usualmente aplicado a processos contínuos. ✣ Balança Integral - Indica o que acontece em um intervalo de tempo (∆t); - Cada termo representa uma quantidade balanceada com sua unidade; - Usualmente aplicado a processos descontínuos. Temos também o balanço de energia, que a Termodinâmica se encarregou muito bem de nos ensinar a usar essa beleza de có e salteado: ∆𝑈 = 𝑄 + 𝑊 É óbvio que isso está mil vezes simplificado, quem parou para ler toda a dedução que Smith e Van Ness fizeram entende que essa beleza é uma viagem só. A energia interna também costuma ser representada de outra forma: ∆𝐸𝑐 + ∆𝐻 + ∆𝐸𝑝 = 𝑄 + 𝑊 14 Cinética, potencial e entalpia, se você fez termodinâmica, isso é um ABC para você (assim eu espero....). Mas relaxa que ainda não vamos usar isso agora, vamos focar primeiramente na parte do estudo da massa mesmo. 1.3 Equações Diferenciais Ordinárias - Demônios EDO’s podem ser usadas para muitas coisas, você nem imagina o que dá para modelar com isso, o pessoal de Controle pira. Existem muitas, mas muitas mesmas, EDO’s e várias técnicas de resolução. Eu aconselho a começar a relembra-las a partir do momento que você perceber o tipo de EDO que você vai usar. Porque eu não vou ficar chutando para tentar adivinhar se a EDO que vai ter no assunto é um PVI, de variáveis separáveis, variação de parâmetros, constantes variáveis (Deus me livre) ou La Place. Quando aparecer uma EDO vamos ver qual é o tipo dela e então revisamos e aplicamos. O que importa é que você sabe derivar e integrar, se sabe fazer isso saber resolver uma EDO. 1.4 Fenômenos de Transportes I - O irmão mais velho. O mais importante aqui para todos nós é se conseguimos fixar conceitos e teorias importantes em nossa mente, vamos a elas: ✣ Lei de Newton (comportamento por placas ou camadas nos fluidos); ✣ Princípio da Aderência (partículas com velocidade nula no fluido); ✣ Viscosidade (atrito interno do fluido, dificuldade de escoamento); ✣ Reynolds (adimensional que remete o tipo escoamento do fluido); 15 ✣ Turbulência (escoamento difuso, aleatório e caótico do fluido); ✣ Análise Dimensional (modelagens matemáticas); ✣ Camada Limite (queda drástica de velocidade até zero); ✣ Pressão e energia (Pascal e Bernoulli). Lembra de cada um desses assuntos e sabe relaciona-los? Você está pronto! 1.5 Fenômenos de Transportes II - O irmão do meio O irmão mais esquentado dos fenômenos. Essa disciplina tem os conceitos mais importantes de todos os fenômenos, é importante que você tenha em mente os ensinamentos da transferência de calor. Vamos aos conceitos mais importantes: ✣ Transferência de calor (condução, convecção e radiação); ✣ Camada Limite Térmica (o mesmo caso de FT1 só que para calor); ✣ Equação da Difusão (o berço da transferência em regime transiente); ✣ Modelo da Capacitância (𝐵𝑖 ≤ 0,1, Mudança súbita de temperatura). Os outros casos são muito específicos da transferência de calor, caso necessário abordar outro assunto,discutiremos com mais calma. 16 2. Similaridades 2.1 Fenômenos - Como defini-los? Vamos começar do básico, se estamos trabalhando com fenômenos de transporte temos que ter em mente o que exatamente isso quer dizer. Ora, Cremasco, 2002, diz que: “O fenômeno nasce da diferença.” Como assim? Na química aprendemos que a natureza é “preguiçosa”, ou podemos dizer “engenhosa”? A natureza faz de tudo para gastar o mínimo de energia possível. As moléculas encontradas pela natureza são moléculas simples que estão estáveis e sua formação exigiu pouca energia. Quando um meio se torna instável para a natureza ela automaticamente se forçará a corrigir essa instabilidade. Por exemplo, em um lago, se o seu lado esquerdo está quente e o lado direito frio, há uma diferença de temperatura ocorrendo. Essa situação não é estável para a natureza, como alternativa ocorrerá uma transferência do calor que está no lado esquerdo para o lado direito. A diferença de temperatura no meio causou o fenômeno. Mas então, o que é mesmo o fenômeno? Cremasco deixa explícito que o fenômeno é uma certa mudança de configuração na natureza. Fenômeno de transporte, no caso, é uma mudança de movimento ou posição de algo dentro do meio. Para o fenômeno ocorrer é necessária uma causa: 17 “A causa gera o fenômeno, provoca a sua transformação, ocasionando o movimento.” (CREMASCO, 2002) Essa causa é chamada de força motriz. Veja que a força motriz da transferência de calor é a diferença de temperatura. Por causa dela ocorreu a troca de energia. Então basicamente a força motriz vem do desequilíbrio, veja que um copo quente encostado num copo frio desequilibra o sistema, fazendo com que a natureza venha reagir instantaneamente trocando calor entre os copos para que ambos atinjam o equilíbrio. A vida é assim, a natura é isso: equilíbrio. Mas o que pode dizer se o sistema está em equilíbrio ou não? A termodinâmica. É lá na termodinâmica que aprendemos a seguinte regra: “Aquilo que está no mais concentrado tende a ir para o menos concentrado.”. Isso se aplica para energia, no caso do calor, e também para matéria. Então chegou a hora de definir o Fenômeno de Transferência de Massa, eu tenho duas para você: “Transferência de massa é um fenômeno ocasionado pela diferença de concentração, maior para menor, de um determinado soluto em um certo meio.”. (CREMASCO, 2002) “Transferência de massa é massa em trânsito como o resultado de uma diferença de concentrações de uma espécie em uma mistura.”. (INCROPERA, 2008) 18 2.2 Analogias - Como seria a transferência de massa? Imagine que você tenha que ficar numa sala de espera, porém nela não há cadeiras e nem nada, é só uma sala de espera vazia. Nela há muitas pessoas. Se essas pessoas se juntarem num canto da sala elas se sentirão como num show da Fergie no Rock in Rio. Mas se elas se espalharem pela sala, o clima e a sensação de conforto será bem maior. Imagine que essa sala fique totalmente lotada, então logo depois aparece um funcionário e diz: “temos mais uma sala para espera”. Você acha que as pessoas vão preferir ficar no aperto ou se dividir entre as duas salas? O meio são as duas salas, a massa são as pessoas, com a oportunidade de se espalhar para um local com menor concentração as pessoas irão sair da primeira sala e se dividir igualmente em busca do conforto. Imagine uma avenida com um engarrafamento. Há uma segunda avenida ao lado, mas ela está interditada por causa de um bloqueio no trânsito. Após um certo tempo alguém desobstrui a avenida e libera a entrada de veículos. Você acha que os motoristas irão preferir ficar no engarrafamento ou pegar uma avenida livre? Imagine que você está numa fila do supermercado, ela está muito grande, mas logo depois um funcionário chega e abre outro caixa. Você acha que as pessoas da fila escolheriam permanecer ou entrar numa fila bem menor? A mesma coisa acontece no Fenômenos de Transporte de Massa. A dificuldade que as vezes possamos encontrar é identificar o que realmente está acontecendo naquela situação. 19 Para isso nós devemos treinar e aprimorar nossas habilidades de análise. Veja que nos exemplos anteriores houve causa (força motriz) e fenômeno: ✣ No caso da sala lotada, a sala extra foi a causa para a transladação de pessoas; ✣ No caso do trânsito engarrafado, a abertura de outra avenida foi a causa para o tráfego de carros; ✣ No caso da fila do supermercado, um outro caixa foi a causa para as pessoas mudarem de fila. 2.3 Entendimento - O objetivo é olhar e entender Veja esses dois casos: Vamos a diferenças óbvias: - No caso do chá, temos um sólido (as folhas) e um líquido; - No caso do Permanganato de Potássio, temos dois líquidos. Veja a diferença de difusão entre os dois. Lembrando que difusão é o quão algo se espalha no meio. No caso do permanganato, a difusão é mais fácil de ocorrer, porque naturalmente ele se difunde na água, mas para o saquinho do chá se difundir 20 com maior eficácia na água é necessário agitação ou um aumento da temperatura. Veja que o chá está sendo transferido do saquinho para a água, ocorreu transferência de massa. E o permanganato saiu de sua concentração no fundo do recipiente para todos os lados, ocorreu um movimento de um local de maior concentração para outro de menor. As propriedades do soluto (chá e permanganato, por exemplo) e as do solvente (água, por exemplo) afetam a transferência de massa, assim como a temperatura também. Veja, o saquinho do chá colocado no ar, ocorre transferência de massa? Sim. Se você chegar perto, sentirá o cheiro do char no ar. Ora o ar é um fluido e se ele possui o cheiro do chá é porque está carregando partículas do chá dentro de si, logo, ocorreu transferência de massa. Porém, essa transferência não é eficaz como ocorre na água. As moléculas afastadas do ar não conseguem carregar as grandes partículas do chá, mas as moléculas da água são mais unidas para poderem carregar e arrastar essas partículas para si. 2.4 Similaridades - Mundos conectados O mundo das exatas é mais interligado do que pensamos. A força motriz atua no fenômeno de tal forma que pode ser equacionada assim: 𝑇𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠𝑓𝑒𝑟ê𝑛𝑐𝑖𝑎 = 𝑓𝑜𝑟ç𝑎 𝑚𝑜𝑡𝑟𝑖𝑧 𝑅𝑒𝑠𝑖𝑠𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 Veja que isso acontece em outros casos, como por exemplo a Lei de Ohm: ∆𝑉 = 𝑅𝑖 → 𝑖 = ∆𝑉 𝑅 21 A força motriz do movimento de elétrons é a diferença de potencial (ddp), a famosa voltagem. A resistência vem da natureza do meio à qual os elétrons percorrem. Também vemos isso no Fenômenos de Transporte de Energia, lembra da Lei de Fourier? �̇� = −𝑘 ∆𝑇 ∆𝑥 𝐴 𝑞𝑛 = −𝑘 ∆𝑇 ∆𝑥 Temos a taxa de calor e o fluxo de calor, onde o fluxo de calor é a medida em que uma taxa de calor percorre uma certa área, tanto que podemos fazer isso: 𝑞𝑛 = �̇� 𝐴 Veja que a força motriz do calor é a diferença de temperatura e a sua resistência é a espessura juntamente com a área e a condutividade do material. Veja que a área e a condutividade são inversamente proporcionais a espessura. Se a condutividade nos mostra a facilidade de o calor ser conduzido no material a área também deve representar algo parecido. Por isso, quanto maior a área do material, mais fácil será a condução de calor. Esse jogo de força motriz, resistência e taxa de transferência aparecerá de novo para você aqui em fenômenos de transporte de massa, mas é importante você entender, que tudo o que você verá, é algo da natureza, sempreesteve lá, e se você estudou bem os outros fenômenos use isso a seu favor. 22 23 3. Introdução a Difusão 3.1 Fenômenos de Transporte - Todos partiram do mesmo princípio Imagine uma sala cheia de alunos. Toda sala de aula tem uma porta. Se essa porta fosse uma porta muito grande, digamos o triplo de uma porta comum, certamente seria mais fácil a saída dos alunos. Agora imagine um ônibus ou um metrô lotado, aquela portinha do veículo se torna uma área de guerra, a cada 10 pessoas que passam 1 cai no chão. Porque na sala de aula é mais fácil a saída das pessoas do que num veículo lotado? Certamente por causa da porta, e qual é a propriedade da porta que estão variando de um caso para outro? A área. Nos fenômenos de transporte aprenda uma regra geral: “O aumento da área do meio à qual a entidade de estudo está facilita o fenômeno de transporte.”. Essa entidade é o objeto de estudo dos fenômenos de transporte, no caso podem ser fluidos, energia ou matéria. Veja isso explícito nas equações dos fenômenos de transporte que você já viu: 𝜏 = −𝜇 𝑑𝑣 𝑑𝑦 �̇� = −𝑘𝐴 𝑑𝑇 𝑑𝑥 A área está mais explícita na Lei de Fourier, mas na Lei de Newton do escoamento também há uma referência dela. Veja que na equação há o 24 termo 𝑑𝑦, ou seja, é a relação do tamanho do corpo do fluido na vertical, isso é importante analisar por causa da velocidade, camada limite e da pressão. Será que você vai me dizer que não existe diferença entre você usar uma mangueira mais grossa do que uma mais fina para limpar o quintal? Na Lei de Fourier a área é diretamente proporcional a constante de condutividade do material, ou seja, ela está ajudando ao calor se propagar. Na Lei de Newton do escoamento a relação do eixo y está inversamente proporcional à viscosidade do fluido, sendo que a viscosidade representa a dificuldade do fluido se deslocar, portanto o eixo y está ajudando o fluido no escoamento. A mesma coisa que acontece nesses dois fenômenos de transporte também acontece aqui, em transporte de massa, relembre o exemplo da sala de aula e do veículo apertado para você ter uma ideia de como a área facilita o transporte de matéria. Todos os fenômenos de transporte nasceram da seguinte relação: 𝛹𝑧 = −𝛿 𝑑𝛾 𝑑𝑧 Temos que o delta (𝛿) é a constante de proporcionalidade da lei que reflete a natureza ou o comportamento do meio estudado; O gama (𝑑𝛾) é a força motriz do fenômeno, a causa, o desequilíbrio; O eixo z (𝑑𝑧) é uma mera representação, que na verdade quer dizer que o nosso estudo deve ter um sentido, seja lá qual for esse sentido, mas tem que ter. Veja que tem um negativo ali. Esse negativo tem relação com a direção do fenômeno, na Lei de Fourier o sinal pode nos indicar de onde o calor vem e para onde vai, na Lei de Newton o sinal nos mostra de onde o fluido vem e para onde vai. 25 Vamos entender melhor nas leis dos outros fenômenos: 𝜏 = −𝜇 𝑑𝑣 𝑑𝑦 �̇� = −𝑘𝐴 𝑑𝑇 𝑑𝑥 Veja que a viscosidade (𝜇) e a constante de condutividade (𝑘) são as constantes de proporcionalidade de suas respectivas leis. A viscosidade fala da natureza do fluido e a condutividade térmica fala do meio em que a energia está se dissipando; A velocidade (𝑑𝑣) é a força motriz do transporte de fluidos, mas não é a pressão? Sim, claro que é, mas o que é mais fácil de trabalhar, com pressão ou com a velocidade? A velocidade causada no fluido veio da pressão exercida sobre ele, é como se falássemos que o queijo veio do leite. E não preciso falar mais nada quanto a diferença de temperatura ser a força motriz da troca de calor né? 3.2 Lei de Fick - Agora sim, começou FT3 A beleza que irá ser a lei do transporte de matéria por difusão em escala molecular se chama Lei de Fick: 𝐽𝐴𝑧 = −𝐷𝐴𝐵 𝑑𝐶𝐴 𝑑𝑧 Não me pergunte porque tem um “J” ali, esse pessoal é todo estranho. A nossa constante de proporcionalidade (𝐷𝐴𝐵) se chama difusividade ou coeficiente de difusão. Essas letras aí embaixo tem um significado: a letra da sua esquerda (A) é a substância que está se difundindo, já a letra da sua direita (B) é o meio em que a substância está. Então basicamente: 𝐴 = 𝑆𝑢𝑏𝑠𝑡â𝑛𝑐𝑖𝑎 𝐵 = 𝑀𝑒𝑖𝑜 A nossa força motriz é a diferença de concentração (𝑑𝐶𝐴) de A no sistema, onde você já sabe que “A” é a nossa substância de estudo. 26 E por fim, você já sabe que “𝑑𝑧” é o sentido em que a transferência irá ocorrer, se é para cima ou para baixo, para o lado ou para o outro. Como estamos trabalhando com matéria (massa) a nossa unidade S.I. fica: 𝑘𝑔/𝑚2𝑠 𝑜𝑢 𝑚𝑜𝑙/𝑚2𝑠 A difusividade possui unidade no S.I. como: 𝑚2/𝑠 A difusividade significa a facilidade que a substância A possui em se dissipar no meio em relação a área e o tempo em estudo. Você pode não lembrar, mas a difusividade também vem dos primórdios do fenômeno de transporte, ela está presente nos três fenômenos, veja como: No transporte de fluidos há uma propriedade chamada viscosidade cinemática: 𝜈 = 𝜇/𝜌 Essa viscosidade possui sua unidade representando moment𝑢𝑚/𝑠, momentum é uma forma mais chique de dizer “movimento de massa”. Se essa propriedade nos mostra o movimento de massa por segundo, então ela nos faz entender a facilidade com que um fluido se desloca por segundo. No transporte de energia há uma propriedade chamada de difusividade térmica: 𝛼 = 𝑘 𝜌𝐶𝑝 A sua unidade também é representada por 𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎/𝑠. Ora, também vemos aqui o caso da propriedade nos mostrar o quanto de energia é transportada por segundo, portanto também é uma medida da facilidade de transporte como nos outros casos. 27 3.3 Sistemas - Importante saber identificar Você sabe identificar um sistema? Bom, deveria ter aprendido em Termodinâmica, mas caso não tenha aprendido, ou ainda não fez essa disciplina, fique tranquilo. “No contexto da termodinâmica, calor e trabalho representam energia em trânsito através da fronteira que separa o sistema de sua vizinhança, e nunca estão armazenados ou contidos no sistema. Por outro lado, as energias potencial, cinética e interna encontram-se no interior do sistema, estando armazenadas com a matéria.” (SMITH, 2013) Estou usando a termodinâmica como base para lhe ensinar isso porque ela é importante para nós e um engenheiro químico deve saber termodinâmica, pelo menos. Eu sei que Smith e Van Ness estão falando só em energia, mas veja, os conceitos do sistema podem ser facilmente aplicados a outros casos também. Na descrição de Smith e Van Ness nasce os termos como: sistema, fronteira e vizinhança. Aprenda: todo sistema tem fronteira e vizinhança. Vamos primeiro entender esse conceito para depois aplicarmos na termodinâmica descrita pelos autores. Imagine uma sala climatizada por um condicionador de ar, o sistema é a sala, mas o que determina isso? Veja que quando nós expomos que a sala é climatizada, o nosso objetivo é dizer que o clima na sala é frio por causa de um aparelho, então o lugar aonde isso está acontecendo é na sala, por isso ela é o sistema. 28 Quais são as fronteiras da sala? Naturalmente são as quatro paredes dela. Veja que Smith e Van Ness falam que a energia em trânsito na fronteira separa sistema de vizinhança, o que está em trânsito nessa sala? Sim, o ar. O ar que vem de fora para dentro, isso faz dos quatro cantos da sala uma fronteira, porque é ela que separa o lado de fora, aonde o ar está quente, do lado de dentro, aonde o ar está mais frio. Veja que o lado de fora é a vizinhança da sala climatizada, que é o nosso sistema, afronteira são as quatro paredes dessa sala, porque o ar vem de fora para dentro através do condicionador de ar, das janelas e das portas, que estão nas paredes. Então vamos fixar o seguinte: o que determina o sistema, a vizinhança e a fronteira é o que você está estudando. No exemplo que dei estávamos estudando o ar climatizado, ele estava dentro da sala, portanto é o meio que devemos focar (sistema) esse ar está em trânsito nas portas, janelas e no condicionador de ar que estão nas paredes da sala (fronteira) que separam o ar frio da sala do ar quente de fora. Você já deve ter em mente mais ou menos como detectar um sistema né? Veja essa imagem abaixo para ajudar: Pronto, depois disso você já está ciente do que é um sistema e como identifica-lo. 29 Agora trazendo para o lado da termodinâmica, Smith e Van Ness disseram que calor e trabalho estão em trânsito na fronteira e as energias potencial, cinética e interna estão no sistema armazenados na massa. Bom, vamos usar uma jogada de mestre para entendermos melhor toda essa situação, veja a equação abaixo: 𝐸 = 𝑚𝑐2 Isso mesmo, a equação de Einstein nos mostra que a energia pode ser igual a matéria e vice-versa, logo, podemos mudar esse discurso de Smith e Van Ness para a transferência de massa: “massa transita através da fronteira e a massa se armazena no sistema.”. Entendendo melhor essa frase, a matéria pode transitar através da fronteira do sistema sem problemas, matéria entra matéria sai, e a matéria também pode ser armazenada no sistema. Então isso seria um sistema para o estudo da Termodinâmica e de movimento de matéria, mas como seria um sistema para o transporte de massa? Para isso temos que partir das primícias do transporte de massa: lembra o que forma um fenômeno? Sim, o fenômeno vem do desequilíbrio, vem de uma causa, a causa do transporte de massa, ou seja, a força motriz é a variação de concentração, logo o nosso interesse é a variação de concentração no meio, ele é o nosso estudo, sem a variação de concentração não há transporte de massa. Mas não é só porque estamos nos focando na variação de concentração que temos de trabalhar unicamente com ela, veja que a Lei de Fick tem outras atribuições também. Lembre-se que a primícia original é que matéria entra e sai pela fronteira e matéria se armazena no sistema, então o mais importante disso é que no 30 sistema haja matéria, depois deve haver variação de concentração no sistema. Como um primeiro estudo, vamos deixar de lado o fato de matéria entrar pela fronteira, só vamos considerar que há matéria no sistema e que há uma variação de concentração nesse sistema. Após definirmos o sistema da transferência de massa, iremos especificar fatores que atuem nesse sistema e que estão dentro dele. Finalmente, podemos definir um sistema de transferência de massa como: “é o sistema aonde possui massa armazenada e em trânsito (fronteira) e ocorre variação de concentração dessa massa.”. Eu especifiquei como “dessa massa” pois além de identificar o sistema, temos que escolher qual é a nossa massa ou matéria em estudo. 3.4 Exemplo - Uma simples poça de água. Imagine uma poça de água no chão, mais ou menos que nem os buracos que você encontra pelas ruas da cidade, nela encontramos o ar atmosférico, água e o buraco. 31 Vamos encontrar o sistema para depois analisar o Fenômeno de Transporte de matéria. Aonde tem transporte de massa aí? - Veja que a água que está na poça aos poucos vai evaporando, isso é natural, por causa da temperatura. Água é uma matéria, é massa, e ela está presente tanto no ar quanto na água propriamente dita, porque também existe água no ar, é a chamada umidade. Existe uma diferença entre a concentração de água no ar e na poça então é natural que haja um movimento de partículas de água para o ar através da evaporação da água. Então já temos especificado a nossa massa em estudo no sistema: água. Então basicamente o nosso sistema deve ter água armazenada e diferença de concentração dessa água. Olhe para a poça de água, existe alguma forma de variação de concentração de água nela? Acho que não, porque a água é o próprio corpo do fluido, então não tem como haver variação de concentração, por isso, é errado colocarmos a poça de água inteira dentro do sistema. Outra, aonde você acha que ocorre a saída da água da poça para o ar? Veja, dentro de um festival de moléculas existe a ação de inúmeras forças: atração, repulsão, Van der Waals, ponte de hidrogênio e assim vai... Quando uma molécula está rodeada de várias outras as forças que atuam nela são tantas que acontece o que a álgebra chama de resultante igual a zero, ou seja, as forças vem de todos os lados de tal forma que elas se cancelam, logo essa molécula que está no meio de várias outras não vai sair do lugar. 32 Portanto, resta as moléculas da superfície, essas moléculas não possuem ação de outras moléculas de um dos lados, logo elas ficam sujeitas ação de fatores como a temperatura por exemplo. A temperatura aumenta o grau de agitação das moléculas da superfície e como não há outras moléculas ao redor para cancelar as forças de repulsão causadas pela agitação, ocorre que as moléculas agitam de tal forma que se desprendem da grande massa de água e são arrastas pelo ar. Veja que a transferência de massa está ocorrendo na superfície da água, então é ela que devemos colocar no sistema e não a poça inteira. E o ar? Tem diferença de concentração de água? - Sim, com certeza. Veja que quando você está perto de uma piscina você sente na sua respiração um ar mais molhado, aquele cheiro de água, mas se você se afastar isso vai sumir, é a concentração de água no ar que está diminuindo ao passo que você se afasta da piscina. Então, como proceder para o caso da poça? - Basicamente seria uma informação que teríamos de encontrar, nós deveríamos observar até que ponto está ocorrendo variação da concentração de água. Perto da poça com certeza a umidade do ar está maior do que a 1 metro acima e depois se subirmos mais 10 cm veremos outra mudança de umidade. O sistema acaba a partir do momento em que não se percebe mais variação de concentração, quando a poça já não faz mais efeito no ar. Então, vamos supor que 2 metros acima da poça a concentração de água no ar já permaneçam constante, temos a “parede” da nossa sala. Nosso sistema será formado pela superfície da poça e por 2 metros acima. O resultado da nossa análise fica assim: 33 Agora vamos ao segundo passo da nossa análise. Qual os fatores que afetam a transferência de massa no nosso sistema? - Temperatura: com certeza, a temperatura aumenta o nível de agitação das moléculas, o que propicia a maior transferência ou não de água (difusão). - Área superficial: é a área em que ocorre a transferência de massa, a superfície da poça, lembra do que eu falei sobre a importância da área no fenômeno de transporte lá no início? - Umidade do ar: ou seja, a concentração de água no ar, o mais importante fator, na verdade a força motriz do nosso fenômeno. - Substâncias no ar ou na poça: a presença de outras moléculas, objetos ou substâncias afetam o comportamento físico químico do ar ou da água, por exemplo um plástico na poça vai diminuir a área superficial de transferência de massa. - Pressão de vapor: é uma propriedade dos fluidos estudada no fenômeno de transporte de fluidos, basicamente indica o quão propício o fluido está em evaporar. - Pressão atmosférica: importante porque age diretamente na pressão de vapor do fluido. Existe uma experiência em que umquímico coloca água em um Kitasato e depois fecha-o e conecta-o a uma bomba de 34 sucção, conforme a bomba vai sugando o ar no local a pressão aumenta e com isso a água dentro do Kitasato começa a entrar em ebulição, logo, o aumento da pressão aumenta o ponto de ebulição do fluido que tem ligação direta com a pressão de vapor. - Geometria: é uma variável da área superficial, porque ao passo que a poça vai secando a área superficial muda por causa da irregularidade na geometria da poça. A variação não nos importa agora, como variação de temperatura, pressão etc. Isso porque estamos analisando tudo ainda em regime permanente, não importa o que aconteceu antes ou depois, o nosso objetivo é analisar o agora. Em todos os fenômenos de transporte existe uma hora que tem que acabar. Mas então, quando essa poça vai parar de transferir massa para o ar? - Quando ocorrer o equilíbrio no sistema. O equilíbrio pode ser basicamente que o ar está carregado com bastante umidade, então a quantidade de moléculas que sai da poça se torna constante ou até nula, ou seja, não sai mais água da poça para o ar porque o ar já está muito carregado, como não há mais transferência de massa no local que determinamos como sistema, então é o fim do nosso estudo. 35 4. Mecanismo de Transferência de Massa 4.1 Análise de Situação - Açúcar e um copo com água. Temos um cubo de açúcar colocado dentro de um copo com água, analise e identifique o sistema e as propriedades mais evidentes que atuem na transferência de massa. Para essa situação, vamos seguir uma sequência de perguntas que irá nos guiar nessa análise: 1 Qual é o meu objeto de estudo? - O açúcar. 2 Onde está ocorrendo a variação de concentração? - Na água dentro do copo. 3 Qual é o sistema e sua fronteira? - O copo com água e açúcar são o sistema, as paredes do copo e a área superficial da água no copo são as fronteiras do sistema. 4 O que está acontecendo na água? - Ao passo que nos afastamos do cubo menor a concentração de açúcar na água. 5 Como está ocorrendo a difusão? 36 - Pelos lados x, y e z, pois o açúcar em questão é um cubo. 6 Aonde está ocorrendo a difusão? - Na área superficial interna e externa do cubo de açúcar, digo área interna pois o cubo possui poros e água irá entrar por ele. 7 Propriedades que afetam a difusão: - Temperatura: aumento da solubilidade da água; - Área superficial interna e externa: se os poros do cubo permitirem uma maior interação da água com o açúcar internamente teremos uma maior facilidade na difusão, o mesmo ocorrerá com o aumento da área externa do açúcar; - Geometria: influi na disposição da água no recipiente, o que muda as configurações de transferência de massa. Imagine que o copo seja muito estreito, a difusão iria ocorrer em y, ou seja, subindo até a boca do copo, mas se o copo for espaçoso, a difusão iria ocorrer em x, y e z, portanto maior oportunidade de difusão; - Outras substâncias na água: mudança de propriedades físico químicas; - Mudar o tipo do fluido. 4.2 Transferência de Massa - E suas variedades. Nessa fase inicial dos nossos estudos devemos entender que há dois mecanismos para o transporte de massa: por difusão e por convecção. Na difusão é dito que ocorre um movimento “randômico” de moléculas em um fluido em repouso, ou seja, é como o exemplo da poça de água, a água dentro da poça estava visivelmente parada, mas microscopicamente estava ocorrendo o movimento de suas moléculas para o ar atmosférico. Já na convecção as moléculas do soluto são arrastadas pelo movimento do fluido. 37 Vamos ver o exemplo que Cremasco usa para entendermos melhor: temos um surfista e o mar, o surfista é o soluto no meio do mar que é o solvente. Se o surfista remar com as suas mãos em cima da prancha, podemos dizer que o soluto se transportou no meio solvente espontaneamente, isso é a chamada contribuição difusiva. Agora se o surfista em cima da prancha for arrastado pelas ondas do mar, temos uma contribuição convectiva, aonde o soluto se moveu no meio por causa do movimento do fluido. Também pode acontecer de os dois casos serem realizados no meio, por exemplo o surfista pode se remar com suas mãos em cima da prancha ao mesmo tempo que o mar está o arrastando. A Lei de Fick também pode ser representada pela fração molar: 𝐽𝐴𝑧 = −𝐶𝐷𝐴𝐵 𝑑𝑥𝐴 𝑑𝑧 Dessa vez a concentração está posta como constante, ela representa a concentração total do meio com A e B misturados enquanto que 𝑥𝐴 representa é a fração molar do elemento em estudo. Podemos representa-la em termos mássicos também: 𝐽𝐴𝑧 = −𝜌𝐷𝐴𝐵 𝑑𝑤𝐴 𝑑𝑧 𝑜𝑢 𝐽𝐴𝑧 = −𝐷𝐴𝐵 𝑑𝜌𝐴 𝑑𝑧 Cada equação deve ser utilizada para a ocasião certa. Quando ocorre reação química no meio estudado a equação utilizada normalmente é em termos molares, pois é mais fácil trabalhar com reações utilizando dados molares do que mássicos. 38 4.3 Difusão em Gases - A primeira parte da difusão Entrando no estudo dos gases, vamos deixar algo bem explícito aqui: nós vamos sempre trabalhar com gases ideias. Portanto, todas aquelas equações da termodinâmica nos serão úteis novamente. Nesse primeiro momento vamos entender a importância de se determinar o coeficiente de difusão da substância em estudo. Ela faz parte da modelagem que temos de fazer para entender o comportamento dos gases no meio em que estão. Para isso, vamos utilizar a equação de Chapman-Enskog para baixas pressões e gases apolares: 𝐷𝐴𝐵 = 1,8583 × 10−7𝑇 3 2 𝑃𝜎𝐴𝐵 2 𝛺𝐷,𝐴𝐵 ( 1 𝑀𝐴 + 1 𝑀𝐵 ) 1/2 Através dessa equação podemos observar as variáveis mais importantes que podem afetar um sistema: Temperatura – diretamente proporcional a difusão, o aumento de temperatura causa o aumento de energia na molécula, logo sua energia cinética aumentará acelerando a sua difusão. Pressão – inversamente proporcional a difusão, o aumento da pressão faz com que as moléculas estejam mais próximas entre si, portanto acaba por ocorrer uma maior interação molecular entre as moléculas do soluto e as moléculas do solvente. Isso atrapalha a difusão porque as colisões aumentam, e elas causam perda de energia nas moléculas diminuindo sua velocidade, além dos espaços vazios entre as moléculas serem preenchidos, dificultando a mobilidade dos gases. Massa – inversamente proporcional a difusão, quanto maior a quantidade de massa do soluto, maior a dificuldade da difusão. Uma grande quantidade de massa de gás irá dificultar o seu movimento, pois será um gás mais pesado e carregado, além de apresentar mais interações moleculares e 39 menos espaços vazios. A dificuldade também existe quando uma espécie tem pouca quantidade de matéria e a outra tem muita, o corpo da matéria de grande quantidade faz com que a de menor encontre uma grande dificuldade em se locomover no meio, ainda mais por causa das interações moleculares e falta de espaços vazios. Diâmetro de colisões (𝜎𝐴𝐵) – É uma constante que demonstra a distância entre o limite de proximidade de uma molécula A até outra molécula B, por causa da repulsão eletrostática. As moléculas se aproximam até que elas não podem se tocar por causa das forças de repulsão, a distância entre elas nessa situação é o diâmetro de colisões. Integral de colisão (𝛺𝐷,𝐴𝐵) – É uma função que nos mostra em detalhes o efeito da temperatura no sistema, como ela afeta as moléculas e como elas estão se comportando. Basicamente é uma correção na modelagem, já tem uma variável de temperatura na equação, mas aí vem a pergunta:a temperatura afeta a difusão, mas como medir isso? Foi aí que nasceu essa função, totalmente empírica, ela e o diâmetro de colisão podem ser encontrados das seguintes formas: 40 𝜎𝐴𝐵 = 𝜎𝐴 + 𝜎𝐵 2 𝜎𝑖 = 2,44 ( 𝑇𝑐𝑖 𝑃𝑐𝑖 ) 1/3 𝛺𝐷,𝐴𝐵 = 𝑓 ( 𝑘𝑇 𝜀𝐴𝐵 ) 𝜀𝐴𝐵 𝑘 = √( 𝜀𝐴 𝑘 . 𝜀𝐵 𝑘 ) 𝑇𝑐 e 𝑃𝑐 significam temperatura e pressão críticas, 𝑘 é a constante de Boltzmann e 𝜀 é a energia de interação molecular. Esses dados são normalmente tabelados para substâncias conhecidas, então, caso não saiba a difusividade de algum gás utilize essa alternativa. 41 5. Difusividade em Meios Fluidos e Biológicos 5.1 Variação de Dados e Equações - Outras situações A equação que usamos para encontrar a difusividade nos gases utiliza as temperaturas e pressões como base de cálculo, mas e se quisermos estudar o mesmo gás a temperaturas e pressões diferentes? Para isso nós podemos fazer uma relação entre as difusividades de variáveis diferentes: 𝐷𝐴𝐵,2 𝐷𝐴𝐵,1 Para isso devemos relacionar somente as variáveis, quem são elas? Obviamente você vai pensar em temperatura e pressão, mas tem alguma outra? Vejamos, a massa é constante e o diâmetro de colisão também. A integral de colisões é variável, porque ela depende da temperatura, então ela também vai mudar. Assim nasce essa função: 𝐷𝐴𝐵,1 = 𝐷𝐴𝐵,2 ( 𝑃1 𝑃2 ) ( 𝑇2 𝑇1 ) 3/2 𝛺𝐷1,𝐴𝐵 𝛺𝐷2,𝐴𝐵 42 Vale ressaltar que esse método é utilizado somente para a equação de difusão que vimos anteriormente, isso porque há outras formas de cálculo para difusão encontrados na literatura, mas só porque podemos fazer essa estimativa para essa equação que irá funcionar para as outras, fique atento. Aqui vai uma nova forma de calcular a difusão no meio gasoso, mas dessa vez podemos aplicar tanto em gases apolares ou misturas polar e apolar, o Método de Fuller et. al.: 𝐷𝐴𝐵 = 1,00 × 10−7𝑇1,75 𝑃 [(∑ 𝜈𝐴) 1 3 + (∑𝜈𝐵) 1 3] 2 ( 1 𝑀𝐴 + 1 𝑀𝐵 ) 1/2 A única novidade aqui é que temo esse ∑𝜈𝐴, o que é isso? - Isso é o chamado de volume de difusão ou também pode ser chamado de volume atômico. Ele compreende o volume de contribuição de todos os átomos presente na molécula. Que? - Explicando de novo: cada átomo tem a sua força de repulsão e atração, os átomos não podem se encostar e isso afeta o volume, então é função de ∑𝜈𝐴 nos mostrar a contribuição do átomo. Todos esses dados são tabelados para átomos e substâncias conhecidas, mas quando nos deparamos com uma molécula complexa nós teremos que somar a contribuição de cada átomo no meio: 43 Exemplo: 𝐵𝑒𝑛𝑧𝑒𝑛𝑜 − 𝐶6𝐻6 ∑𝑣 = 6(16,5) + 6(1,98) − 20,2 = 90,68 𝑐𝑚3/𝑚𝑜𝑙 Veja que na tabela há números negativos para anéis aromáticos e heterocíclicos, porque? - Átomos em cadeia que formam ciclos tendem a diminuir o volume da molécula. Mas como assim? Imagine um ciclo de seis carbonos, se você abrir uma ponta e esticar toda a cadeia quem ocupará menos espaço, o ciclo ou a cadeia aberta? Essa é a única diferença entre esse método e o anterior, os volumes que cada átomo ocupa devido as suas interações eletrostáticas. Em seguida temos a Equação de Wilke para meio estagnado: 𝐷1,𝑀 = (1 − 𝑦1) ∑ 𝑦1 𝐷1,𝑖 𝑛 𝑖=2, 𝑖≠1 Mas o que seria esse “meio estagnado”? Bom o nome diz muita coisa, mas não explica, veja que um meio gasoso pode estar em movimento tranquilamente, vimos isso na mecânica dos fluidos, então se isso ocorrer não podemos usar essa equação. Então qual é a vantagem dela? Podemos usa-la para um meio com várias substâncias. Vamos entender algumas nomenclaturas: 𝐷1,𝑀 é a difusão do componente 1 numa mistura de componentes; 𝐷1,𝑖 é a difusão do componente 1 na substância “i”. Explicando melhor, nós vamos encontrar a difusão de 1 na mistura toda analisando seu comportamento de substância em substância, por isso o somatório. 44 Esse 𝑦1 que tá na equação é a fração molar do componente 1, ou seja, a concentração de 1 sobre a concentração total, isso não é novidade, mas novidade mesmo é o 1 − 𝑦1, o que é isso? - Basicamente é uma análise de proporção da concentração do componente 1 em relação as outras substâncias. Se minha substância tem baixa concentração em relação as outras haverá dificuldade na difusão da mesma. Por um motivo que eu já expliquei antes: um corpo grande de concentração gasosa irá atrapalhar a outra de fluir, menos espaço, maior lentidão etc. Explicando melhor, nós vamos encontrar a difusão de 1 na mistura toda analisando seu comportamento de substância em substância, por isso o somatório. Esse 𝑦1 que tá na equação é a fração molar do componente 1, ou seja, a concentração de 1 sobre a concentração total, isso não é novidade, mas novidade mesmo é o 1 − 𝑦1, o que é isso? - Basicamente é uma análise de proporção da concentração do componente 1 em relação as outras substâncias. Se minha substância tem baixa concentração em relação as outras haverá dificuldade na difusão da mesma. Por um motivo que eu já expliquei antes: um corpo grande de concentração gasosa irá atrapalhar a outra de fluir, menos espaço, maior lentidão etc. Temos n = número de espécies presentes na mistura, por exemplo se temos 3 espécies então a equação fica: 𝐷1,𝑀 = (1 − 𝑦1) 𝑦1 𝐷1,2 + 𝑦1 𝐷1,3 Temos que na primeira parcela do denominador o componente 1 está sendo analisado na substância 2 e na parcela ao lado já está sendo analisado 45 na substância 3, a análise de proporção da concentração (1 − 𝑦1) dividido pelo somatório nos dará a difusão total de 1 na mistura. 5.2 Difusão em Líquidos - Novos meios No meio gasoso é mais fácil de as moléculas se difundirem, pois, o meio está mais espaçoso, as moléculas estão mais solas pelo ambiente. Já no caso de líquidos, com a proximidade das moléculas a interação é maior e isso acarreta em mudanças de propriedades físico químicas do solvente e do soluto. As moléculas com essa proximidade mostrarão resistência a difusão, mas com o aumento da temperatura as moléculas do líquido se tornam mais espaçosas, se tornando mais maleáveis, maior facilidade para o soluto. A concentração de substâncias pode afetar o meio, a viscosidade do fluido por exemplo, um líquido pode se tornar em gel. A primeira equação que tenho para lhe mostrar é a equação de Stokes- Einstein para moléculas de soluto com elevado volume molar: 𝐷𝐴𝐵 = 9,96 × 10−16𝑇 𝜇𝑉𝐴 1/3 Temos a temperatura, viscosidade e volume molar nessa equação, nenhuma novidade, você conhece esses parâmetros. Veja que não tem pressão porque a pressão atua de forma desprezível nos fluidos líquidos, então aquela história de a pressão afetar a difusão já não ocorre mais aqui. Como foi dito lá em cima, essa equação é somente para um número de volume molar grande, então tem um volume mínimo estabelecido de: 𝑉𝐴 > 0,5 𝑚 3/𝑘𝑚𝑜𝑙 46 Seguindo nosso estudo no caso dos fluidos, apresento-lhe mais uma equação, a equação de Wilke-Chang, dessa vez para soluto com pequeno volume molar: 𝐷𝐴𝐵 = 1,173 × 10−16(∅𝑀𝐵) 1/2𝑇 𝜇𝐵𝑉𝐴 0,6 A única novidade adicionada a essa equação é o “∅”, que é um parâmetro de associação do solvente. Como assim? - É uma correção da massa molar do fluido (por isso que está em produto com ela), isso é necessário porque 2 L de água não é a mesma coisa que 2 L de etanol, fluidos diferentes afetam o soluto de formas diferentes. Ou seja, cada fluido possui suas propriedades físico químicas que podem alterar adifusão, isso deve ser levado em conta. ∅ é um número adimensional. 5.3 Difusão em Soluções Biológicas - Analisando a complexidade de um sistema biológico. Esses estudos podem envolver dois casos diferentes. Um deles é a difusão de pequenas moléculas de soluto e macromoléculas em solução aquosa, como por exemplo proteínas. Isso é um caso que pode ser estudado em microrganismos, animais e plantas. O outro caso são os processos fermentativos, que é basicamente aonde estudamos a difusão de nutrientes, açúcares, oxigênio e outros casos parecidos, também podemos estudar esse caso em microrganismos e podemos utilizar isso para estudar outros meios e até processos químicos. Ainda não vamos aprofundar nisso, isso é somente uma introdução a esse assunto igual ao que estou fazendo com os líquidos e gases. Não estudamos nada pra valer, tudo isso é uma introdução básica para você se ferrar só depois. 47 As equações usadas para estudar esse meio são as mesmas do caso dos líquidos, a única coisa que irá modificar é o nosso ponto de vista em como isso está acontecendo, as análises biológicas serão cruciais nesses momentos. 𝐷𝐴𝐵 = 9,96 × 10−16𝑇 𝜇𝑉𝐴 1/3 𝐷𝐴𝐵 = 1,173 × 10−16(∅𝑀𝐵) 1/2𝑇 𝜇𝐵𝑉𝐴 0,6 O que pode acontecer de diferente é que na hora de determinar alguns parâmetros presentes nessas equações o meio biológico influa no modelo matemático, mas no fim, o cálculo da difusão é o mesmo para os fluidos líquidos. 48 6. Difusividade em Meios Sólidos 6.1 Sólidos Cristalinos - Você já estudou Ciência dos Materiais? Porque um átomo se alojaria em um sólido? Acho que ele não deve ter nada melhor para fazer, não é? Na verdade, é meio estranho entender como essas coisas acontecem, mas você sabia que se você conseguir entender a chave da questão você domina todo fenômeno de transporte? Primeiro: porque ocorre difusão? Basicamente pelo mesmo motivo que você não gosta de estar num ônibus lotado. Quer uma polêmica? Ouve essa: tudo tende a se difundir. Estranho né? Porque diabos uma pedra vai se difundir? - Meu caro leitor, você é ingênuo. Mal sabia você que quando se sente o cheiro de fezes elas já estão dentro do seu nariz. Isso mesmo, você tem nojo da merda, mas ela já está em você. Então vamos lá, quando as fezes (merda mesmo) começam a feder é porque elas começaram a se difundir no meio, difusão gasosa, é claro que você não vai ver uma merda flutuando por aí né? Não estamos falando de praia pública. As moléculas nunca estão perfeitamente fixas entre si, existem interações que as unem e não um durepoxi, basicamente é um grupo de pessoas que estão de mãos dadas, num sólido elas estão tão juntas quanto numa manifestação da época da ditadura, mas no gasoso elas estão como no carnaval, se ouvir um tiro corre todo mundo. 49 As moléculas da merda estão se desgrudando aos poucos e indo depositar em seu nariz. Duvida? Veja só, um perfume, enquanto ele está no vidro não podemos senti-lo né? Então, quando você espirra o perfume percebe as partículas saindo do vidro e se difundindo no ar, porque com a merda é diferente? Tá, então quer dizer que uma pedra pode se difundir agora? Ora, se uma pedra vira areia por causa da ação da água, o que impede dela se difundir? É claro que esse tipo de pensamento é como aquelas teorias de viajem no tempo do Stephen Hawking, é verdade... É, mas acontecer que é o problema. A mecânica quântica nos falou muito bem que os átomos não podem se tocar, há espaço entre eles, então se há espaço é possível haver rompimento. Você já sentiu cheiro de argila molhada? Então, argila é uma pedra (só que mole) não deixa de validar nosso entendimento. A difusão está presente em tudo meu caro leitor, se toca! Você entende o que eu acabei de explicar? Se o nosso olfato detecta a presença de uma difusão no meio gasoso do ar, então tudo se difunde! Como explicar, por exemplo, um livro novo, quando ele sai da gráfica tá cheiroso que nem um porco perfumado, mas depois de um bom tempo esse cheiro vai embora, e aí? Se ainda duvida que tudo se difunde, pense no próprio ar que você respira, ele tem uma variedade muito grande de átomos, como hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, argônio e aí vai, então como você quer me dizer que quando sente um cheiro diferente não tem nada modificado nessa composição do ar? O livro novo acabou de receber tinta e participar de outros processos gráficos, esses materiais se unem para formar o livro, quando ele sai da gráfica ou quando não é muito usado esses materiais ficam depositados sobre o livro e demoram muito tempo para se difundir, mas de acordo com 50 que você vai usando, esses materiais se desgastam, suas moléculas ficam agitadas e se difundem rapidamente. Então, entre um sólido e um gás, quem se difunde melhor? O gás com certeza. Então a difusão vai ocorrer do gás para o sólido. Vamos entender como isso acontece? Lá em Ciência dos Materiais você aprendeu que os sólidos podem ser cristalinos, aonde isso influi no arranjo dos átomos no espaço formando uma rede organizada geometricamente, parece mágica. Então, esse arranjo influencia em como os átomos se comportarão dentro dele, esse comportamento deixa brechas entre os átomos, as chamadas lacunas ou interstícios, daí nasce a probabilidade de um outro átomo qualquer se alojar nesse espaço, safadinho. Uau é tão simples assim? Claro, comigo é tudo simples meu bem. Agora temos que entender um pouco mais a difusão no meio gás solido, claro porque temos que modelar equações para nossos estudos né? O pai Cremasco fala que quando pensamos numa situação que tem só o sólido e um gás de densidade baixa o que influi na sua difusão é a sua energia vibracional. Estamos entrando nesse assunto porque temos que falar de uma teoria, a teoria do salto energético. Um átomo se difunde numa certa energia vibracional, se uma temperatura interferir no sistema o átomo pode acabar por atingir um outro equilíbrio termodinâmico mudando essa energia vibracional. Essa energia é a responsável pelo movimento dos átomos então ela é responsável pela sua difusão. Para atingir outro equilíbrio o átomo tem que vencer uma barreira energética denominada Q (energia de ativação). Essa barreira pode ter vários comportamentos e tamanho dependendo dos seguintes fatores: 51 - Tamanho do átomo, quanto maior ele for, maior a barreira. O que é mais fácil pular de uma rampa? Um carro ou uma moto? - Ligação entre átomos, quanto mais forte, maior a barreira. O que é mais fácil de separar? Um papel grudado com cola isopor ou aquele grudado com durepoxi? - Local do movimento, se o átomo entrar em um interstício (buraco apertado) terá maior dificuldade em seu movimento do que em um lugar vazio (lacuna, buraco grande). Daí nasce a equação: 𝐷𝐴𝐵 = 𝐷0𝑒 − 𝑄 𝑅𝑇 Tem ali uma constante dos gases, nossa... Claro né, estamos em condições ideais, Alice no país das maravilhas. Esse 𝐷0 é o coeficiente de difusão sem que houvesse a necessidade de salto energético ele junto com a energia de ativação é tabelado para casos conhecidos. Aqui no nosso estudo de sólidos é válido lembrar que a notação da difusividade A e B devem seguir uma ordem: 𝐷𝐴𝐵 𝐷𝑖𝑓𝑢𝑠ã𝑜 𝑑𝑒 𝐴 𝑒𝑚 𝐵 𝐷𝐵𝐴 𝐷𝑖𝑓𝑢𝑠ã𝑜 𝑑𝑒 𝐵 𝑒𝑚 𝐴 Neste caso, já que estamos tratando de sólidos e gases, a difusão de A em B não é igual a difusão de B em A. Pois analisar a água se difundindo num sólido é diferente de analisar o sólido se difundindo na água. Não é o mesmo que acontece no caso dos gases, porque os gases possuem propriedades similares em questãode difusão, ou seja, possuem bastante espaço para a difusão, logo a ordem de difusão acaba não importando. Já no caso de gás líquido também há diferença, existe mais resistência para um gás se difundir num líquido do 52 que um líquido para um gás, ora o que é mais fácil, o gás sair ou ficar no refrigerante? 6.2 Sólidos Porosos - Agora chegou a vez de Cinética e Reatores... “Existem diversos processos industriais que envolvem reações catalíticas, cujas cinéticas globais são controladas pela difusão intra-articular. Outros processos exigem a purificação de gases utilizando-se sólidos que apresentam poro seletivos a um determinado gás, atuando como peneiras moleculares. Seja qual for a operação, percebe-se que o soluto, gasoso ou líquido, difunde por uma matriz cuja configuração geométrica é determinante para o fenômeno difusivo.” CREMASCO, 2002. Esse texto acima serve de motivação para o nosso estudo da difusão de gases em sólidos porosos, já ouviu falar em carvão ativado? Então, chegou a hora de entender o que está acontecendo de verdade com a reação química. Cremasco tenta exemplificar dois gases se difundindo numa sala, ele diz que o meio não importa muito, pois uma sala grande que efeito pode fazer nos gases? Mas se diminuirmos muito o tamanho dessa sala para o tamanho de uma cabeça de palito de fósforo o lugar já vai passar a alterar o comportamento desses gases no meio. Porque estamos falando disso? - Veja que o assunto aqui é sólidos porosos, então o objetivo do átomo do gás aqui será entrar no poro do sólido caminha por dentro desse poro até encontrar algo que possa reagir, então basicamente o gás saiu de uma sala muito ampla para um lugar apertadíssimo que é um poro de um sólido. A tortuosidade do sólido pode ser encontrada, ou seja, é o quão torto é o caminho que o gás terá que percorrer. Basicamente é representado pela constante 𝜏. 53 O que é a porosidade (𝜀) de um material? Basicamente é o volume da quantidade de espaços vazios existentes dentro do material, através desse volume é possível descobrir o diâmetro dos poros desse material. Essa informação pode ser usada ao nosso favor, sabendo o diâmetro do poro podemos saber se os átomos de um certo gás podem ou não entrar no material, analisando o diâmetro dos átomos. É importante entender que nem sempre a quantidade de vazios pode ser uma coisa boa. Pense só, você está numa praça de alimentação procurando uma pessoa, quanto tempo você vai perder procurando-a? Será que não seria melhor procurar essa pessoa dentro de uma casa? É isso que acontece, muito espaço, mas pouca efetividade. O melhor a se acontecer é que o material tenha vários espaços vazios só que distribuídos e interligados entre si, porque interligados? Aposto que você ia ficar muito feliz se descobrisse que a rua que você meteu seu carro é sem saída né? Ok, estamos falando de espaços vazios, corredores e átomos, mas aonde é que acontece mesmo essa reação? A reação ocorre num lugar chamado de sítio ativo, é muito bem estudado pela Cinética, esse sítio ativo é o lugar de interesse do átomo do gás, aonde ele pode realizar uma reação nesse lugar, toda transferência de massa pelos poros do sólido acontece por causa disso. Aí vem aquela pergunta básica: como melhorar essa difusão dos átomos pelos poros do sólido? Como estamos falando de átomos que se arrastam até um sítio ativo de um sólido, devemos levar em consideração que quanto mais rápido esse átomo se movimentar melhor será. Você deve pensar: é só aumentar a temperatura. Eu tenho que lhe dizer que esse pensamento é errado. Porque pense comigo, aonde eu quero que ocorra a difusão? No sólido, então, devemos ter cuidado para não aumentar a difusão no meio gasoso em vez de ser no sólido, como? 54 Se você aumenta a temperatura as colisões entre os átomos do gás aumentam também, muitas colisões entre si fazem com que os átomos não entrem nos poros, é como tiro ao alvo: você deve parar e se concentrar e não ficar agitado. As colisões têm que aumentar dentro do sólido, aí sim é vantajoso, mas a temperatura não nos ajuda nisso, porque ela agita todo sistema e aumentar a pressão também não ajuda. A solução para isso é diminuir a pressão, os átomos do gás terão um sentido mais ordenado no seu movimento e o choque irá ocorrer mais entre as paredes do sólido do que entre si. Então se você quer melhorar a difusão num sólido poroso, diminua a pressão. Para a difusividade de um fluido seja líquido ou gasoso num sólido poroso temos a seguinte equação: 𝐷𝐴,𝑒𝑓 = 𝜀 𝜏 D𝐴𝐵 Temos a porosidade sobre a tortuosidade do material sólido vezes a difusão do gás no meio. Um conceito de caminho livre é apresentado a nós pela seguinte equação: 𝜆 = 3,2𝜇 𝑃 √ 𝑅𝑇 2𝜋𝑀 Esse caminho é dado em metros, ali temos a viscosidade, massa molar, temperatura, pressão e constante dos gases. Basicamente ela é a distância média que a molécula de gás percorre antes de colidir com outra molécula de gás. Como eu tinha falado antes, aqui quando você abaixa a pressão o caminho livre aumenta, pelo mesmo motivo que eu expliquei antes, menos colisões entre si. 55 6.3 Difusão de Knudsen - Essa agora... Quando o caminho livre de um átomo é muito maior, em questão de proporcionalidade, do que o diâmetro do poro ocorre colisões do átomo com as paredes desse poro. Aí entra em jogo um novo tipo de difusão, uma difusão causada pelas colisões dos átomos nas paredes do poro. A sua diferença com a Lei de Fick está em que nesse caso o meio não interfere no impacto da molécula, ou seja, a “sala” aonde está ocorrendo a difusão não vai atrapalha-la. Para esse tipo de difusão temos duas equações: 𝐷𝐾𝐴 = 2 3 �̅� 𝑣𝐴̅̅ ̅ 𝐷𝐾𝐴 = 97,0 �̅� ( 𝑇 𝑀𝐴 ) 1/2 Temos duas novidades aí, o raio médio do poro (�̅�) dado em metros e a velocidade média molecular do componente A (𝑣𝐴̅̅ ̅) em m/s. Veja que a difusão de Knudsen é uma consequência do aumento de colisões no poro, mas antes de se tornar difusão de Knudsen essa colisão era pequena e tudo era regido pela Lei de Fick. Você consegue enxergar que há um intermédio entre os dois? Existe uma transição entre o sistema regido por Fick e o regido por Knudsen porque um é consequência do outro. Fonte: Cremasco 56 Por isso há um estudo da difusão de transição que é o que acontece quando a colisão não é tanta, mas também não é pouquinha. Veja o gráfico ao lado: Na é o fluxo difusivo, percebeu que conforme a pressão aumento maior a difusão também aumenta? Atenção: essa é a pressão dentro do poro do sólido. Veja que há duas retas de linearização no gráfico, a primeira é referente a Lei de Fick, veja que até um certo ponto ela pode modelar a situação e interpreta-la, mas depois de um certo ponto a discrepância é muito grande e não dá para usa-la mais. Depois dessa transição tem outra reta, essa é a reta que rege a Difusão de Knudsen. Se essas duas retas não conseguem modelar o estado de transição como faremos para calcular isso? Para isso devemos relacionar as resistências de ambos os casos de difusão, lembre-se que: 𝑅𝑒𝑠𝑖𝑠𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 = 𝐹𝑜𝑟ç𝑎 𝑚𝑜𝑡𝑟𝑖𝑧 𝑇𝑎𝑥𝑎 Pela Lei de Fick temos: 𝐽𝐴𝑧 = −𝐷𝐴𝐵 𝑑𝐶𝐴 𝑑𝑧 Então a sua resistência fica: 𝑑𝑧 𝐷𝐴𝐵 = 𝑑𝐶𝐴 𝐽𝐴𝑧 Temos que integrar isso: 𝑅𝐹 = 𝛥𝑧 𝐷𝐴𝐵𝐴 O mesmo se faz para a resistência na difusividade de Knudsen: 57 𝑅𝐾 = 𝛥𝑧 𝐷𝐾𝐴𝐴 Para encontrar a difusividade de transição devemos realizar uma soma entre as resistências de cada tipo de difusão:
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