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Matéria Civil II (Direito das Obrigações) Parte 3 Autor: René Antunes Moreira Neto Obrigações • Obrigações de dar coisa certa: principal pessoa é o devedor ➔ Entregar ➔ Restituir Se o devedor tem obrigação de dar ou entregar alguma coisa, sem tela que fazer previamente, a obrigação é de dar, Todavia, se previamente a ele tiver que confeccionar para depois entregar-lhe é uma obrigação de fazer. Nas obrigações de dar o interesse do credor se concentra na tradição (entrega), enquanto nas obrigações de fazer o interesse se concentra nas características pessoais ou nas qualidades do devedor. A classificação tripartite (ou tricotômica) divide as obrigações em dar, fazer ou não fazer é a mais antiga no Direito Obrigacional. Obrigação de dar é espécie de obrigação positiva por meio da qual o devedor tem o dever de entregar uma coisa (bem) ao credor. O verbo dar aqui assume acepção bastante ampla: pode significar entregar a posse ou a detenção de um bem, restituir ou transferir a propriedade. Há obrigação de dar (obligatio dandi). Exemplo, no contrato de locação, em que o locador tem o dever de entregar a posse do imóvel ao locatário; Também no contrato de depósito, em que o depositário tem o dever de restituir ao depositante o bem depositado; No contrato de compra e venda, em que vendedor tem o dever de transferir a propriedade do bem ao comprador. O universo das obrigações de dar é bastante amplo! Tradição: "a) entrega ou a transferência da coisa, entrega ao adquirente; com a intenção de lhe transferir o domínio. Dar coisa certa: é uma modalidade em que o devedor se compromete a entregar ou a restituir um objeto perfeitamente determinado, que se considera em sua individualidade. A individualidade é importante para o Direito, tem que ser aquele objeto, não pode ser outro. Na chamada obrigação de dar coisa certa (é uma obrigação personalizada) o credor não é obrigado a aceitar coisa diversa daquela que lhe é devida. Na obrigação de dar coisa certa, portanto, o interesse do credor está voltado à prestação de entrega, restituição ou transferência de bem individuado, de existência atual (Ex: compra de uma água de coco na praia) Ou futura (ex: compra da próxima safra de um produtor de grãos). Dessa afirmação é possível fazer uma importante conclusão que permeia toda a teoria do pagamento das obrigações: o credor não está obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa (art. 313, CC). As obrigações de dar coisa certa estão disciplinadas nos artigos 233 a 242, CC. ➔ Obrigação de Entregar previstas nos artigos 233 a 237, CC. São as obrigações em que a coisa pertence ao devedor que por meio da tradição (entrega) o devedor transferirá a entrega ao credor. Teoria do risco (4 hipóteses) Suponha que você comprou uma tela de um famoso pintor, mas somente poderia levá-la para casa após 3 (três) semanas, quando terminasse a exposição. Poucos dias antes da data marcada para a entrega da obra, porém um incêndio tomou conta da galeria e todas as obras que estavam em exposição, inclusive a que você havia adquirido, foram destruídas. Nesse caso, o que ocorre com a obrigação? Os artigos 234 a 236, CC, disciplinam a responsabilidade pela perda e pela deterioração da coisa. Perda é a destruição ou inutilização completa do bem, enquanto deterioração consiste na "danificação da coisa, afetando o seu valor econômico”. Por ser obrigação de dar coisa certa, o objeto da prestação não pode ser substituído por outro, pelo que a primeira conclusão que pode ser tomada é a de que a obrigação deverá ser resolvida. As regras atinentes à responsabilidade pela perda e pela deterioração da coisa levam em consideração dois critérios: a) o momento em que ocorreu a perda ou a deterioração (se antes ou depois da tradição) e; b) a culpa do devedor (tomada a culpa aqui em seu sentido amplo, abrangendo tanto o dolo quanto a culpa em sentido estrito). Já sabemos que até a tradição a coisa pertence ao devedor e que isso é determinante para identificar a quem pertence os frutos gerados pelo bem. Como outra face da mesma moeda, podemos inferir que, se o devedor lucra com os frutos colhidos, os melhoramentos e acrescidos, ele também assume os prejuízos decorrentes da perda e da deterioração. Por outro lado, a concepção da obrigação como uma relação complexa impõe ao devedor o dever anexo de guarda e conservação da coisa até o momento da tradição. Assim é que existe um princípio geral de Direito que diz que a coisa perece para o seu dono (res perit domino). O credor ainda não tem direito sobre a coisa (jus in re), mas tão apenas o direito de vir a ter a coisa (jus ad rem), não podendo, portanto, suportar a perda ou a deterioração. Com base nessa premissa e nas variáveis apontadas acima (momento da tradição e culpa do devedor), é possível compreender as regras constantes dos artigos de 234 a 236, CC, conforme o quadro abaixo: 1 – Se a coisa perecer (perda total) art. 234, CC: ANTES DA TRADIÇÃO DEPOIS DA TRADIÇÃO SEM CULPA DO DEVEDOR 1 – Resolve-se a tradição, essa hipótese chama-se ¨Res perit domino” A coisa perece para o seu dono. Como antes da tradição o dono é o devedor, ele suportará os ônus da perda. Nesse caso, a obrigação é resolvida e as partes retornam ao estado anterior (status quo ante), com a restituição do valor eventualmente já pago pelo credor. A coisa perece para o seu dono. Tendo ocorrido a tradição, a coisa passou a pertencer ao credor, que nada pode reclamar. Vale referir que, se a perda decorrer de vícios ou defeitos ocultos, a solução é a encartada no art. 441, CC (se a obrigação for decorrente de contrato comutativo ou doação onerosa). COM CULPA DO DEVEDOR 2 – O devedor vai responder pelo equivalente mais perdas e danos. O art. 234, CC, não disciplina especificamente essa hipótese, mas o princípio da boa-fé objetiva impõe ao Além da resolução da obrigação e do restabelecimento do status quo ante, o devedor, que descumpriu culposamente o dever de manter a coisa íntegra, responderá também pelos prejuízos patrimoniais (danos emergentes e lucros cessantes) e extrapatrimoniais, que o credor tiver suportado. devedor a responsabilidade integral por todos os prejuízos sofridos pelo credor. Não se fala em resolução da obrigação porque esta foi extinta com o pagamento; fala-se em reparação dos danos, que, por óbvio, incluem o valor que o credor pagou pelo bem. Se, todavia, nos contratos civis comutativos ou doações onerosas a perda decorrer de vício ou defeito oculto conhecido pelo devedor, o credor poderá exigir, além da resolução do contrato, o ressarcimento das perdas e danos (art. 443, CC). 2 – Se a coisa deteriorar (perda parcial) art. 235 e 236, CC: ANTES DA TRADIÇÃO DEPOIS DA TRADIÇÃO SEM CULPA DO DEVEDOR (ART. 235, CC) 3 – O credor tem duas opções ou ele resolve a obrigação e as dá por satisfeito ou abate-se do preço o valor que foi perdido Novamente a regra res perit domino é determinante. O credor terá a alternativa de aceitar a coisa no estado em que se encontra, com abatimento do preço proporcional à deterioração; ou resolver a obrigação, com retorno ao estado anterior e consequente devolução, pelo devedor, do valor eventualmente já pago. Embora o art. 235, CC, não cogite esta hipótese, a regra geral de que a coisa perece para o seu dono permite solucionar a questão. Com a tradição, a coisa passa a pertencer ao credor e, por isso, ele terá de suportar a deterioração, sem poder imputar qualquer responsabilidade ao devedor. Se, porém, a deterioração decorrer de vício ou defeito oculto e a obrigação tiver por origem contratocomutativo ou doação onerosa, o art. 442, CC, faculta ao credor permanecer com a coisa, exigindo do devedor o abatimento proporcional do preço. COM CULPA DO DEVEDOR (ART. 236, CC) 4 – O credor poderá exigir o equivalente ou aceitar a coisa no estado em que ela se encontrar, mais em ambas as citações ele poderá solicitar indenização por perdas e danos. Permanece ao credor a opção de escolher entre a resolução da obrigação ou a aceitação da coisa com abatimento proporcional do preço. Todavia, o devedor terá de reparar todos os prejuízos patrimoniais (danos emergentes e lucros cessantes) e extrapatrimoniais suportados pelo credor. O art. 236, CC, também não trata especificamente esta hipótese, mas novamente a boa-fé objetiva permite concluir que o devedor terá que responder por todos os prejuízos causados ao credor. Aqui também podem ser aplicados os art. 441 CC. 442 e 443, CC, já comentados anteriormente. Nota: fortuito X força maior Fortuito: É o evento proveniente de ato humano, imprevisível e inevitável, que impede o cumprimento de uma obrigação, tais como: a greve, a guerra etc. Não se confunde com: Força maior, que é um evento previsível ou imprevisível, porém inevitável, decorrente das forças da natureza, como o raio, a tempestade etc. O art. 237, caput, CC, utiliza as expressões melhoramentos e acrescidos para se referir respectivamente a "tudo quanto opera mudança para melhor, valorizando a coisa, dando-lhe mais utilidade, emprestando-lhe maior comodidade, atribuindo-lhe maior beleza ou, por qualquer forma, melhorando suas condições e estado físico5" e "tudo quanto se ajunta, acrescenta, aumenta a Melhoramentos em relação a obrigação de entregar coisa certa 1- Enquanto não ocorrer a tradição, continuará pertencendo ao credor a coisa com o seu melhoramento acrescido. 2 – Pelos melhoramentos e acréscimos o devedor poderá requerer um aumento proporcional. 3 – Caso o credor não queira complementar o preço, poderá o devedor resolver a obrigação por quebra do negócio jurídico. 4 – Os frutos percebidos pertencem ao devedor até a tradição 5 – Os frutos percebidos pertencem ao credor após a tradição. Obrigações de dar coisa certa e restituir a coisa: A data da entrega tem papel importante, papel de destaque do credor. ➔ Obrigação de Restituir: (Art. 238 a 242 cc.) São obrigações em que a coisa pertence ao CREDOR, sendo que a tradição apenas transmite temporariamente a posse. Impõe ao devedor a obrigação de devolver a finalidade. Por isso o devedor tem o dever de conservação e zelo pela coisa. A obrigação de restituir é uma espécie de obrigação de dar coisa certa por meio da qual o devedor se obriga a devolver ao credor o bem que está em seu poder. Exemplo, no contrato de locação, o locatário tem o dever de restituir o imóvel ao locador no término do prazo; no contrato de depósito, o depositário deve devolver o bem que está sob sua guarda. O Código Civil reserva os artigos 238 a 242 para tratar das obrigações de restituir. Atualmente considera-se: -> Situação de adimplemento (pagamento) como a realização do conteúdo da obrigação pelo devedor. Para tanto, faz-se necessário a atividade solutória do devedor, ou seja, os atos materiais previstos no contrato, bem como a satisfação dos interesses do credor, analisados de maneira objetiva, de acordo com a tipicidade da obrigação. -> Situação de inadimplemento: é “a situação objetiva de não realização da prestação debitória”. (Tinha que pagar paguei) 1 – Se a coisa perecer sem culpa do devedor, antes da tradição, resolve-se a obrigação ressalvando os direitos do credor até o dia da perda. 2 – Se a coisa perecer com a culpa do devedor, o devedor respondera pelo equivalente mais perdas e danos. 3 – Se a coisa se deteriorar sem culpa do devedor, o credor recebê-la-á no estado em que se encontra. 4 – Se a coisa se deteriorar com culpa do devedor ele terá que responder pelo equivalente mais perdas e danos. -> situação de melhoramentos: é tudo quanto opera mudança para melhor, em valor, em utilidade, em comodidade, na condição e no estado físico da coisa. (CC - art. 237) Necessárias Úteis Voluptuárias São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore. Exemplos: reparo no telhado; substituição da rede elétrica ou hidráulica danificada; retirada de infiltrações nas paredes. São úteis as que aumentam ou facilitam o uso do bem. Exemplo: construção de garagem; instalação de grades protetoras numa varanda. São voluptuárias as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor. Exemplos: construção de uma piscina; colocação de chafariz, obras de jardinagem. 1 – O devedor de boa-fé tem direitos aos frutos percebidos, mas não terá direito aos frutos percebidos antecipadamente. 2 – O devedor de má fé responderá por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como, por sua culpa, deixou o credor de receber. 3 – Quantos aos melhoramentos e acrescidos em que houver um trabalho do devedor se ele estiver de boa-fé, terá direito a indenização e a retenção quanto aos elementos uteis e necessários. 4 – No caso de melhoramento em que não tenha havido trabalho por parte do devedor estando ele de má fé, só vai ter direitos aos elementos necessários. 5 – Quando ao melhoramento em que não houve dispêndio (gastos) ou trabalho do devedor, lucra o credor sem o dever de indenizar. “Princípio da Simetria”
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