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ESCRITOS EM BANHEIROS DE ESCOLA
 Ana Andrea de Oliveira Alves-UFS
 Ana Paula de Jesus-UFS
 José Anadelson Santos-UFS
 Maria Célia Silva Góis-UFS
RESUMO:
Este artigo tem como objetivo, analisar expressões escritas encontradas em espaços significativos nas relações e interações cotidianas: Os Banheiros das Escolas. Para isso recorre-se a rabiscos representativos encontrados nestes locais, expressões essas com diferentes significados, prevalecendo à abordagem temática aos palavrões. O banheiro, é um local de cenas em que as pessoas atingem o auge da liberdade de expressão, onde será preservado o anonimato, estando seus escritos livres de censura, possibilitando um tipo de comunicação acessível à todos. Mas que desagrada a muitos. 
 
Palavras-chave: banheiros de escola, escritos, expressões, anonimato.
	
1-Introdução
	Numa sociedade como a brasileira que, por sua dinâmica econômica e politica, divide e individualiza as pessoas, isolando-as em grupos. Os homens em pleno século XXI, ainda utiliza-se de mecanismos não pouco convencionais para expressar sentimentos, que muitas vezes não se é bem aceito pela sociedade. Essas expressões encontram-se frequentemente escritos em espaços públicos, lugar onde as pessoas procuram para escrever, logo, pensar nesses escritos como discurso, significa pensar na ideologia histórica que o instituiu, devido à relação do individuo com o meio social. A escolha de um ambiente privado que confere a quem escreve o anonimato, reforçando a ideia de que o banheiro público é o lugar ideal para expor seus pensamentos que se encontram muitas vezes presos, e acaba encontrando nesses espaços a forma de demonstrar as reações provocadas, sentidas no mais íntimo do seu ser. Como destaca Barbosa (1984, p. 195):
“[...] a privacidade parece garantir a pessoas anônimas um dialogo livre de censura [...]”.
	Tornando-se uma das impressões importantes, que contextualizam os banheiros como locais significativos. Como afirmam Santos e Toledo:
“O que é o banheiro senão um local de impressões paradoxais? Lugar de pureza e impureza, permissividade e repressão, privacidade e exposição...Por ser um espaço simbólico, suas representações impactam na arquitetura, nas expressões artísticas, nas relações pessoais”.
	
	O objetivo deste trabalho tem como fator determinante a análise em escritos de banheiros de escolas, observando os sentidos produzidos neles, os temas predominantes e como será refletido no meio social. Foi feita uma detalhada descrição do que foi coletado dentro da tipologia textual selecionada para essa pesquisa.
	Analisaremos principalmente as formas de expressão escritas nas paredes dos banheiros, tanto masculino quanto feminino das duas escolas públicas selecionadas para pesquisa, fazendo uma busca minuciosa dos textos descritos, produzidos por cada indivíduo, como porta voz de uma coletividade que talvez não seja ouvida e não uma livre expressão. 
	A pesquisa feita sobre escritos em banheiros de escola, foi realizada na Escola Municipal “ Professora Neilde Pimentel Santos, localizada na rua Tenysson Melo de Oliveira, nº 50, na cidade de Itabaiana/SE e no Colégio Estadual “Lourival Fontes”, situado na praça João Lucas de Santana, snº, na cidade de Pedra Mole/SE.
	Para que fosse possível a realização desta pesquisa e coletar os escritos, foi necessária a autorização dos responsáveis, que felizmente concederam, e assim podemos adentrar nos respectivos banheiros das duas escolas, onde foram visitados quatro banheiros (2 em cada escola), tanto masculino quanto feminino, com o auxilio apenas de caneta e caderno. Na Escola Municipal Neilde Pimentel, não foi permitido o uso de aparelho fotográfico, para manter a privacidade dos alunos. Entretanto, no Colégio Estadual ”Lourival Fontes”, foi possível o uso do aparelho. Para essa coleta de corpus foi necessários dois dias consecutivos para a execução, devido às escolas serem em munícipios diferentes.
	Nos banheiros pesquisados, foram coletados grafitos de caráter sexual, sentimental e de apologia às drogas.
2-Fundamentação Teórica: 
	Os gêneros textuais compartilham determinados parâmetros contextuais, tais como os proposito comunicativos, os papeis do emissor e do receptor, os tipos de interação (oral ou escrita), no âmbito social, o fato de serem reconhecidos socialmente além dos recursos e estruturas linguísticas que se aproximam, pois em cada âmbito de atividade (laboral, científico, familiar), comunidade ou esfera, sejam requeridos determinados gêneros (CASSANY, 2008, p.921). Como também atesta Charaudeau:“representamos o ato de comunicação como um dispositivo cujo centro é ocupado pelo sujeito falante (o locutor, ao falar ou escrever), em relação com o outro (o interlocutor)” (CHARAUDEAU, 2009, p.67, grifo do autor).
É importante recordar que os tipos textuais, por sua vez, como bem os define Marcushi (2008, p.154 e 159), refere-se à estrutura e a sua organização interna, ou seja, aos elementos que os compõem.
“Os gêneros são, pois complexos, envolvem aspectos linguísticos, discursivos, históricos, pragmáticos e sócios- interacionais, entre outros”. Como afirma Marcushi (2006, p65).
	Podemos constatar que produzir textos em conformidade com os distintos domínios e interpretá-los de maneira adequada, não é tarefa fácil para o leitor. Mas com tudo, tira-se uma interpretação pessoal daquilo que se lê. 
Bakhtin defende uma relação estreita entre as várias maneiras e formas dos gêneros textuais e as ações humanas, tanto individuais como coletivas.
	A análise do discurso preocupa-se em analisar e entender o que se está transmitido. Analisar um discurso requerer algumas observações em suas características, como afirma (ORLANDI e LAGAZZI-RODRIGUES, 2006, p.28), “Ouvir no que é dito, o que não é dito e o que deve ser ouvido por sua ausência necessária”.
	No momento da escolha do gênero discursivo, a finalidade do discurso, o papel dos interlocutores e o contexto devem ser considerados, é preciso que haja um entendimento por ambas as partes no diálogo, sendo de suma importância no contexto, pois ele fala para alguém. E esse alguém deve compreender a intenção do texto. Por isso, deve-se usar de palavras informais.
3- Apresentação e análise do corpus
	Nos banheiros circulam todos os tipos de escritos, com diferentes enunciados, tanto no sentido sexual, quanto no sentido ofensivo. Não há pudores, pois os textos não contêm assinaturas, logo, pode-se escrever livre de censura, possibilitando escrever tudo que estiver em mente.
Nosso corpus se constitui em três tipos básicos: os de cunho sexual e ofensivo; sentimental e um caso isolado de apologia às drogas. Baseado nisso, nossa análise será feita a partir dessas três divisões distintas, mas ligadas entre si, trata- se de uma continuidade sem começo, nem fim definidos. 
	Os textos coletados na Escola Municipal Professora Neilde Pimentel, são de cunho e caráter obsceno e sentimental. Os escritos são na sua maioria do tipo: “vou comer sua buceta”. Assim nossa análise será feita nesses respectivos e distintos corpus. Nessa escola foram coletados um total de treze (13) corpus, sendo que no banheiro masculino do Neide Pimentel coletamos 06 corpus e no feminino 07. Já no colégio Estadual “Lourival Fontes” foram coletados sete (07), no banheiro masculino encontramos 05 e no feminino 02. Somando um total de vinte (20 ) corpus com diferentes classificações. 
 
3.1-CORPUS 1- Cunho sexual e ofensivo
	No corpus 1, encontramos palavras pouco convencionais (baixo nível), sendo composto por um conteúdo explicito de caráter sexual, causando desconforto para leitores mais“moralistas”. Essa prática de escrita foi e observada tanto nos banheiros masculinos como feminino das duas escolas. Como estes descritos abaixo: 
“Mateus mi ligue ou chupe”
“vou comer seu cú”
“uma pica bem grossa pra quem lê”
“Eu quero chupar, ligue pra mim- 190
“chupa pica”
“cu e pica, adoro!!!
 “tta fio do caraio”
“puta, gostosa, corno Fernando”
“Viado, caralho, filha da puta”
“Paulo Leticia manhã é puta”
“você não presta”
“tome no seu cu”
“gaieira safata”
“Flavia 100% puta, safada e fuleira”
“Tais buceta grande”
“Putona, furona”
“Leo é viado” 
3.3- CORPUS 2- Cunho sentimental
	No corpus 2, as palavras usadas expressam sentimentos e o desejo de ser compreendido por alguém, com o desejo de ser amado e compreendido. As frases abaixo foram coletadas no banheiro feminino do Colégio Estadual “Lourival Fontes”- Pedra Mole/SE.
“Marilia Lima” te adoro d+”
“Amor ti amo”
3.4- CORPUS 3- Apologia às drogas 
	No corpus 3, o enunciado dá a entender que o uso da maconha é de fato uma coisa boa e atrativa, chegando a ser até um convite, tentando persuadir o leitor que vale a pena usar e podendo até contribuir para a proliferação. 
“Maconha é bom”
4- Conclusão 
	Verificamos que a escolha dos banheiros públicos como espaços para esses escritos, não se trata apenas de preservar a identidade, ou da liberdade de expressão sem censura, mas na sociedade moralista em que vivemos, tais assuntos são considerados tabus, isso faz com que os indivíduos reprimam suas opiniões, buscando outras formas na qual possam se expressar. Nos banheiros analisados em nossa pesquisa, encontramos mensagens consideradas obscenas, ligadas ao corpo. Ainda não é sabido se o uso dessa linguagem que se apresenta em forma de vandalismo, haja uma intenção ou insatisfação pessoal de quem os escreveu, pois não compreendemos de onde vem a necessidade desse tipo de expressão, repressão social talvez? Deduzimos então que se faz necessário outras pesquisas nesse âmbito, para obter respostas para essas questões. 
Referências bibliográficas
BARBOSA, Gustavo. Grafitos de banheiro. São Paulo, Brasiliense, 1984.
BETH, Brait (org.). Bakhtin: Conceitos- Chave. 4ª edição. 4ª reimpressão- São Paulo: Editora Contexto, 2010.
CHARAUDEAU, Patrick. Linguagem e Discurso: modos de organização [coordenação da equipe de tradução Ângela M. S. Corrêa e Ida Lúcia Machado]- 1ª edição. 1ª impressão- São Paulo: Editora Contexto, 2009.
GERALDI, João Wanderley (org.). O Texto na Sala de Aula. 1ª edição. 1ª impressão- São Paulo: Editora Anglo, 2012.
PEREIRA, Pedro H. C; SILVA, Tiago E. da; VILAR, Fernanda S. Análise dos discursos dos escritos de banheiro na universidade. Campinas: UNICAMP.
SANTOS, Ludmila Helena Rodrigues. TOLEDO, Luiz Henrique de. O banheiro no cinema: sexo, drogas e algum odor.[1: Mestranda do curso de Pós-Graduação em antropologia Social da Universidade de São Carlos, Bolsista da Fundação de Aparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) E-mail: ludhrsantos@yahoo.com.br][2: Professor Doutor da Universidade Federal de São Carlos E-mail: kike@ufscar.br]
Disponível em: http://www.periodicos.ufes.br/SNPGCS/article/viewfile/1555/1145.htm. Acessado em: 05/08/2014.
Disponível em: http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicações/textos/a00009.htm. Acessado em: 01/08/2014.

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