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Agindo sobre o medo de dirigir

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10Rev. Educ., v.18, n.24, p.10-15, 2015
SIQUEIRA, V.R.
Vinicius Reis de Siqueiraa*
Resumo
Dado as limitações e repercussões negativas causadas pelo medo de dirigir, novas formas de tratamento contra este medo especifico são 
constantemente buscadas. Este artigo apresenta dados preliminares do tratamento desta fobia utilizando-se da Terapia de Aceitação e 
Comprometimento (ACT), visto que tal abordagem tem alcançado resultados positivos no tratamento de ansiedades. A população deste estudo 
se constituiu de oito mulheres de idades entre 21 a 66 anos da cidade de Cascavel/PR. Foram realizados cinco encontros de uma hora de 
duração, utilizado-se do AAQ (Acceptance and Action Questionnaire) para verificar a flexibilidade psicológica antes e depois dos encontros. 
Os resultados demonstraram um aumento de 34,2 para 41,4 da flexibilidade psicológica dos participantes bem como feedbacks positivos 
no engajamento no comportamento de dirigir por parte de todas as participantes. Sugere-se a realização de outras pesquisas, com um maior 
número de participantes a fim corroborar os resultados obtidos por este estudo.
Palavras-chave: Terapia de Aceitação e Comprometimento. Medo de Dirigir. Mindfulness.
Abstract
Given the limitations and negative repercussions caused by the fear of driving, new forms of treatment against this specific fear are searched 
constantly. This article presents preliminary data on the treatment of this phobia utilizing Acceptance and Commitment Therapy (ACT), since 
this approach has reached positive results in the treatment of anxieties. The population of this study was comprised of eight women aged 21 to 
66 years old from the city of Cascavel/PR. It was performed five sessions, one hour each, using the Acceptance and Action Questionnaire (AAQ) 
to verify the psychological flexibility before and after the sessions. The results showed an increase of psychological flexibility from 34.2 to 41.4 
from the participants, as well as positive feedbacks regarding the active involvement in driving behaviors by all participants. It is suggested 
that further research be conducted, with a greater number of participants searching for corroborating with the results obtained.
Keywords: Acceptance and Commitment Therapy. Driving Fear. Mindfulness.
Agindo Sobre o Medo de Dirigir: um Tratamento ao Medo de Dirigir
Acting on the Driving Fear: a Treatment for the Driving Fear
aFaculdade de Ciências Aplicadas de Cascavel, PR, Brasil
*E-mail: vinicius.r.siqueira@anhanguera.com
1 Introdução 
O medo de dirigir atinge um número considerável de 
pessoas, sendo que muitas destas não procuram tratamento 
e acabam por levar uma vida de dependência e privações 
relacionadas à sua locomoção (CORASSA, 2006). Tais 
indivíduos podem sofrer de algum grau de ansiedade e/ou 
fobia de dirigir, o que pode vir a interferir em sua qualidade de 
vida. Deve-se notar ainda, que tal problemática pode atingir 
pessoas de ambos os sexos (não sendo este medo restrito a 
mulheres, como é preconceituosamente propagado) de todas 
as camadas sociais, econômicas e culturais, demonstrando 
assim sua relevância e abrangência (BELLINA, 2003).
Observando-se a perda na qualidade de vida de 
tantas pessoas, a presente pesquisa buscou obter dados 
preliminares a respeito da utilização da Terapia de Aceitação 
e Comprometimento ACT (Acceptance and Commitment 
Therapy) uma abordagem pertencente à chamada “terceira 
onda do behaviorismo” no tratamento específico do medo de 
dirigir (CULLEN, 2008).
Diversas abordagens são utilizadas no tratamento do medo 
de dirigir, tais como psicanálise (GURFINKEL, 2001), terapia 
cognitivo-comportamental (BECK; EMERY; GREENBERG, 
1985), entre outras. Na contínua busca por métodos e 
técnicas mais eficazes e eficientes para lidar com o medo 
de dirigir, nota-se que a ACT tem demonstrado resultados 
iniciais promissores no tratamento de diversos transtornos 
de ansiedade (EIFERT; FORSYTH, 2005; HAYES, 1987; 
ORSILLO et al., 2005), notando-se que a diferença entre fobia 
e ansiedade é basicamente quantitativa (FALCONE, 1995).
2 Material e Métodos 
2.1 Amostra
Oito mulheres (idades entre 21 a 66 anos) foram 
recrutadas na cidade de Cascavel, PR. Não houve restrição 
quanto à situação, origem ou forma do medo de dirigir. 
Desta forma, existiam no grupo, mulheres que não tinham 
a Carteira Nacional de Habilitação - CNH, mas buscavam 
ultrapassar tal medo para conseguir a CNH, enquanto outras 
já tinham a CNH a mais de dez anos, porém não dirigiam. 
Os motivos que trouxe as mulheres ao grupo também eram 
bem diversificados. Algumas participaram de algum tipo de 
acidente automobilístico, outras presenciaram algum acidente, 
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enquanto outras tinham “medo de errar”.
2.2 Instrumentos
Hayes et al. (2004) desenvolveram o Questionário de 
Ação e Aceitação - AAQ como forma de avaliar a esquiva 
experiencial e a aceitação psicológica, dois importantes 
constructos que estão no cerne da ACT. Este instrumento 
tem se mostrado eficaz na observação destes dois fenômenos 
psicológicos. As versões em sueco, holandês, espanhol e 
japonês foram validadas. Também tem sido usado como base 
para medidas mais especificas de aceitação e desfusão, como 
os desenvolvidos na área do tabagismo e dor. A consistência 
interna para o AAQ é α=81.
O AAQ está associado com variáveis às quais é 
teoricamente vinculado, e não está associada com variáveis 
às quais é teoricamente desconectado. Por exemplo, maiores 
níveis de flexibilidade psicológica, como medido pelo 
AAQ, estão associados com menores índices de depressão, 
ansiedade, estresse e sofrimento psíquico em geral. Além da 
mera associação, no entanto, os resultados indicam que níveis 
baixos de flexibilidade psicológica podem servir como fator 
de risco para doenças mentais (HAYES et al., 2004).
2.3 Procedimentos
Foram postados anúncios do grupo em todas as autoescolas 
da cidade de Cascavel, PR, nos jornais e televisão locais, bem 
como internamente na Faculdade de Ciências Aplicadas de 
Cascavel. Os participantes se inscreveram pelo telefone da 
Clínica de Psicologia Aplicada - CPA da Faculdade de Ciências 
Aplicadas de Cascavel, onde foram realizados os encontros. 
Nestes telefonemas foi explicada aos participantes a natureza 
do grupo, dia, local e horário em que seria realizado, sendo 
que foram realizados no total cinco sessões de uma hora, nos 
sábados dos meses de setembro a outubro de 2011.
O primeiro encontro foi focado na apresentação dos 
membros do grupo, bem como no estabelecimento das regras 
(como “privacidade” do que é dito no grupo; não julgar 
outros membros ou fala dos mesmos; entre outras questões). 
A sessão também introduziu os clientes para a forma ativa e 
participativa do tratamento com a utilização de exercícios/
metáforas1, e sua ênfase em viver uma vida significativa ao 
invés de se focar na ansiedade – já se discutindo a noção de 
comportamentos baseados em “valores” como uma alternativa 
à ansiedade.
Nesta primeira sessão também foi discutido o que é 
ansiedade, a concepção da ACT sobre psicopatologias e a 
origem da ansiedade. No final do encontro, foi pedido a todos 
os participantes que respondessem ao AAQ, sendo que este 
mesmo teste foi novamente respondido no último encontro a 
fim de alcançar uma linha de base para verificar a flexibilidade 
psicológica antes e depois do projeto de pesquisa. 
Junto à apresentação do teste no primeiro encontro, 
foi pedido aos participantes que assinassem um termo de 
consentimento livre e esclarecido que clarificava o que o teste 
medira e sua forma de aplicação, constando neste os nomes 
dos pesquisadores e alguma forma de entrar em contato com 
este caso surgisse alguma necessidade. Neste termo, foram 
tratadas questões de confidencialidadee voluntariedade, 
esclarecendo que os dados teriam fins de publicação.
A segunda sessão buscou rever e avaliar as estratégias que 
os clientes usaram no passado a fim de lidar com a ansiedade. 
O objetivo deste encontro foi o de acabar com a “agenda” 
de controlar a ansiedade e criar um tratamento baseado 
em valores, deixando os clientes experienciarem a baixa 
funcionalidade de tentar evitar e controlar a ansiedade, bem 
como demonstrar que para ocorrer à mudança, é necessário 
que se faça algo diferente e haja uma real modificação em 
seu comportamento – continuando a ofertar uma forma de se 
comportar baseado em valores.
A fim de alcançar os objetivos traçados no segundo 
encontro, foram-se utilizadas as metáforas: do fogão; homem 
no buraco; e passageiros em um ônibus.
A terceira sessão se focou em aceitação e mindfulness 
como meios de aprender a observar respostas corporais 
relacionadas à ansiedade de forma total (sem julgamentos). 
O objetivo foi prover aos clientes opções para lidarem com a 
ansiedade ao invés de tentar escapar, evitar, etc., tornando as 
respostas frente à ansiedade mais flexíveis, e fazendo com que 
os participantes notem o que eles podem e o que não podem 
controlar.
A fim de alcançar os objetivos traçados no terceiro 
encontro, foram-se utilizadas as metáforas: cabo de guerra; 
e duas escalas; bem como um exercício de mindfulness 
enquanto sentado. 
A quarta sessão empregou exercícios de mindfulness, 
desfusão, ação baseada em valores pessoais, e 
comprometimento a agir de acordo com as direções baseadas 
nestes valores. O objetivo do encontro era demonstrar 
uma possibilidade de lidar com as reações psicológicas à 
ansiedade baseadas em ações valorizadas, não pregando que 
tal perspectiva levasse a diminuição da ansiedade, mas que, 
no entanto, tal resultado pudesse ocorrer.
Para se alcançar os objetivos do quarto encontro, foram 
realizados exercícios de mindfulness como: rodovia cheia de 
carros; e observador self-como-contexto; a fim de demonstrar 
aos participantes uma prática de observação mindfully, 
aceitação e desfusão cognitiva na presença de reações 
psicológicas à ansiedade. Em seguida foram realizadas técnicas 
de desfusão, como: metáfora do tabuleiro de xadrez; metáfora 
das relações enlameadas; e deliteração2 de pensamentos 
e sentimentos – que não buscam modificar o conteúdo ou 
validade das avaliações negativas, somente o processo de 
1 Todos os exercícios e metáforas que serão mencionados poderão ser encontrados no site ACBS em maiores detalhes.
2 Rotulação de pensamentos como pensamentos e sentimentos como sentimentos.
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avaliar em si. Finalmente utilizou-se da metáfora: “não há 
caminhos sem pedras” para instigar o comprometimento 
que pode surgir ao agir de acordo com direções baseadas em 
valores.
Na última sessão realizou-se um procedimento de 
exposição imaginária da situação de dirigir, utilizando-se 
de todas as habilidades e práticas aprendidas nos encontros 
anteriores. Por fim, ouve uma discussão sobre a ativação 
comportamental de tais habilidades e práticas na vida dos 
participantes.
Neste último encontro, novamente foi requisitado que os 
participantes respondessem ao AAQ e algumas orientações 
para o fechamento do projeto de pesquisa foram realizadas: 
expondo a estes que o que foi aprendido no grupo foi 
somente um começo, que cada um deles deveria continuar 
por si próprio; relembrando-os que “lapsos” são normais; que 
deveriam continuar a praticar mindfullness mesmo depois 
de se sentirem “curados”, pois tais sintomas podem voltar a 
ocorrer; notando aos participantes que o que foi aprendido 
ali pode ser generalizado para todas as partes da vida dos 
participantes, não somente ao medo de dirigir.
3 Resultados e Discussão 
3.1 Terapia de aceitação e comprometimento 
A ACT tem uma sólida base empírica construída a partir 
de uma concepção da natureza da cognição e linguagem 
humana (HAYES; BARNES-HOLMES; ROCHE, 2001) e 
uma coerente concepção filosófica (HAYES, 1987). Ambas 
estas perspectivas (RFT e Contextualismo Funcional) são 
altamente integradas, e têm demonstrado resultado em uma 
tecnologia aplicável. Pesquisas com resultados a respeito 
dos processos de ACT têm se desenvolvido rapidamente, 
alcançando avanços tanto em aspectos teóricos como práticos, 
demonstrando se tratar de uma perspectiva de modificação de 
comportamento que traz bons resultados, não somente para 
focos ansiolíticos, mas podendo-se generalizar tais resultados 
em vários aspectos da vida (HAYES et al., 2006).
Segundo Hayes et al. (2004), a terceira onda do 
behaviorismo pode ser caracterizada por ser particularmente 
sensível ao contexto e funções do fenômeno psicológico, 
não se limitando à forma deste fenômeno, e, portanto, 
tende a enfatizar estratégias de mudança contextuais e 
experimentais de formas mais diretas e didáticas. Estes 
tratamentos tendem a buscar a construção de repertórios 
comportamentais mais amplos, flexíveis e eficazes ao invés 
de tentar eliminar problemas bem definidos. A terceira onda 
da terapia comportamental busca assim reformular e sintetizar 
as gerações anteriores (radical e cognitiva) e as levar adiante 
para questões, assuntos, e domínios previamente lidados por 
outras tradições (BROWN; RYAN, 2003), na esperança de 
melhorar tanto a compreensão como os resultados destes.
A ACT utiliza-se de mindfulness3 e ativação 
comportamental4 a fim de aumentar a flexibilidade 
psicológica5 de seus clientes, pois considera que o sofrimento 
psicológico normalmente é causado pela interface entre 
linguagem/cognição, e o controle do comportamento pela 
experiência direta (HAYES; STROSAHL; WILSON, 
1999). A ACT toma a perspectiva de que a tentativa de 
modificar pensamentos e sentimentos difíceis é uma forma 
contraprodutiva de lidar com estes estados, focando-se então 
em seis processos, descritos por Hayes, Strosahl e Wilson 
(1999), que são envolvidos com psicopatologias e sua 
melhora:
 9 Aceitação de experiências internas (i.e., aceitar 
experimentar pensamentos, sentimentos ou sensações 
físicas desconfortáveis a fim de alcançar uma resposta 
mais flexível).
 9 Desfusão cognitiva ou separação/distanciamento 
emocional (i.e., observar pensamentos desconfortáveis 
sem automaticamente tomá-los literalmente ou 
anexando qualquer valor particular a eles).
 9 Estar presente (i.e., ser capaz de direcionar a atenção de 
forma flexível e voluntariamente para eventos externos 
e internos presentes ao invés de automaticamente se 
focar no passado ou futuro).
 9 Uma perspectiva/senso de self como contexto 
(i.e., estar em contato com um sentido de continua 
conscientização).
 9 Identificação de valores que são importantes para o 
indivíduo.
 9 Comprometimento em ações dirigidas a valores 
identificados.
A ACT lida com varias formas de transtorno de ansiedade 
(ORSILLO et al., 2005), entre elas, fobias especificas, como é 
o caso do medo de dirigir.
Rafailov (2003) define a fobia como um medo específico 
intenso mórbido e/ou irracional perante certa situação, 
idéia, coisa (animadas ou inanimadas), algum tipo de 
comportamento, pessoa ou grupo, que frequentemente 
provoca uma fuga através do pânico.
O medo de dirigir é uma forma de fobia especifica também 
conhecida por amaxofobia, isto é, o medo de: 1) dirigir carro 
ou outro meio de transporte; 2) causar acidentes; e 3) viajar 
no assento dianteiro; que leva a uma inquietação permanente 
e desproporcional que surge antes, durante e após o ato de 
dirigir (RAFAILOV, 2003). 
3 Forma especifica de atenção plena – concentração no momento, intencionalmente, e sem julgamento.
4 Ativação comportamental é uma forma de terapia estruturada que tem um objetivo claro: promover a ativação de atividades positivas e recompensadoras, 
frequentementereduzindo padrões de evitação (MARTELL; ADDIS; JACOBSON, 2001).
5 Flexibilidade psicológica é a habilidade de se engajar em comportamentos positivos baseado em valores enquanto experienciam pensamentos, 
emoções ou sensações difíceis (HAYES; STROSAHL; WILSON, 1999).
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Ross (1995) descreve que muitas vezes a própria pessoa 
poderia ter capacidade de constatar que seus medos, no caso, 
em relação à direção, são irracionais e que realmente não 
influenciam em nada para uma ameaça efetiva ou perigo real. 
Corassa (2006) sobressalta ainda que o medo nada mais seja 
do que uma emoção, e que sua função seria de um sinalizador 
que nos faria precatar contra perigos de fato reais. A fobia, 
no entanto, “é uma espécie de medo acentuado, excessivo, 
desmedido, de tal forma que, na presença ou previsão de 
encontro com o objeto ou situação que causa o medo, surge à 
ansiedade, num grau elevadíssimo” (CORASSA, 2006, p.16).
O medo, segundo Bellina (2003), é muito útil para 
a sobrevivência das espécies, pois sem ele, organismos 
poderiam se engajar em comportamentos que poderiam ir 
contra sua autoproteção e autopreservação, diminuindo assim 
as chances de sobrevivência e propagação da espécie.
Para Hayes, Strosahl e Wilson (1999), o ser humano é o 
único organismo que tem “fobia”, pois só ele tem a capacidade 
de utilizar suas habilidades cognitivas para remoer os erros e 
infortúnios do passado, julgar exageradamente o presente, e 
temer incertezas do futuro, enquanto que outros organismos 
simplesmente vivem no presente, reagindo a seu ambiente.
Essa descrição é corroborada pelo perfil das pessoas que 
apresentam medo de dirigir, pois são indivíduos que têm 
medo de errar, ressentem-se com as críticas e exigem de si 
e dos outros, observaram sempre as falhas do outro, sofrem 
antecipadamente pelo erro que podem cometer ou ainda não 
cometeram, e frequentemente possuem alguma comorbidade, 
como um nível elevado de ansiedade generalizada, fobia social, 
transtorno do pânico, TEPT, TOC entre outros (CORASSA, 
2006; BELLINA, 2003; EIFERT; FORSYTH, 2005).
Outro termo conhecido ao se falar sobre medo de dirigir, é 
a conhecida Síndrome do Carro na Garagem - SCG, o qual se 
justifica por se tratar de indivíduos que tem veículo próprio e 
carteira de habilitação, porém, evitam de todas as formas o ato 
de dirigir, ficando assim, o carro estacionado em sua garagem 
(MESTRE; CORASSA, 2001). 
As autoras relatam que essas pessoas
quando pensam em fazê-lo, passam a sentir tremores nas pernas e 
mãos, perdem o fôlego, ficam com placas vermelhas pelo corpo, 
suas mãos ficam geladas e pegajosas de suor, dormem mal na 
noite anterior a dirigir e, mesmo sendo pessoas muito honestas, 
se obrigam a ‘inventar’ desculpas que justifiquem o não dirigir, 
sofrem por não fazê-lo e sofrem mais ainda se tentam fazê-lo 
(MESTRE; CORASSA, 2001, p.5).
Fonseca (1998) comenta que existem vários níveis e 
situações quando se trata do medo de dirigir. Há pessoas que 
não conseguem sequer aprender a dirigir, e que, mesmo sem 
ao menos ter tentado aprender, já criam uma sugestão do 
medo, devida talvez a noticiários de jornais, rádios, televisão, 
ou de algum acidente conhecido. Essas sugestões podem 
ser tão fortes, a ponto de o indivíduo só pensar no ato de se 
assentar no banco do motorista leva-o a passar mal. Outras 
ainda quando estão viajando de carro, ficam exageradamente 
tensas, entre várias outras possibilidades.
O medo de dirigir acarreta numa importante limitação no 
desenvolvimento do dia-a-dia das pessoas, bem como pode 
ter repercussões negativas nos âmbitos pessoal e social, como 
baixa autoestima, dependência de outras pessoas e dificuldades 
de enfrentamento de situações no cotidiano (CARVALHO et 
al. 2011).
Pensando nos malefícios mencionados acima devido a 
medos específicos, diversos tratamentos a ansiedade foram 
desenvolvidos, sendo um deles a ACT.
A teoria de ACT sobre psicopatologias sugere que 
a evitação experiencial6 e fusão cognitiva7 contribuem 
e mantém várias formas de psicopatologias, incluindo 
desordens de ansiedade (HAYES et al., 1996). Deve-se notar, 
no entanto, que estes processos não são em si nocivos, mas 
que podem se tornar destrutivos quando se tornam uma forma 
rígida de operar na vida, e estão relacionados à evitação de 
atividades importantes e significativas (HAYES; STROSAHL; 
WILSON, 1999).
Um procedimento que tem produzido resultados clínicos 
significantes no tratamento de transtornos de ansiedade, em 
especial nos medos específicos, é o tratamento por exposição 
(OST, 1989). Segundo Orsillo et al. (2005), a ACT é uma 
terapia que de muitas maneiras é consistente com esta forma 
de tratamento, e que, além disso, lida diretamente com as 
questões de comorbidade, medo e evitação relacionado à 
exposição, bem como qualidade de vida.
Diferentemente de outras formas de tratamento, ACT não 
se foca na luta pela diminuição de sintomas, como aqueles 
descritos pelo DSM-IV, pois considera que este processo de 
luta é muitas vezes contra produtivo. A ACT é uma terapia 
baseada em aceitação8, se focando nos valores e qualidade de 
vida de seus clientes, notando-se que a utilização conjunta de 
aceitação e técnicas de exposição tem demonstrado um menor 
risco de abandono de tratamento (EIFERT; FORSYTH, 2005).
De acordo com Orsillo et al. (2005), indivíduos que tem 
medo especifico não estão dispostos a experienciar sintomas 
de ansiedade que surgem quando são expostas as situações 
ou objetos que temem. Apesar de não ser difícil para algumas 
pessoas evitar situações ou objetos que temem, muitas vezes, 
as vidas destas pessoas são limitadas por estes medos, o 
6 Evitação experiencial pode ser definida como um fenômeno que ocorre quando uma pessoa não está disposta a manter contato com experiências 
privadas e toma ações a fim de alterar a forma ou frequência destes eventos e os contextos que ocasionam eles (HAYES et al., 1996).
7 Fusão cognitiva se refere a fundir com ou ligar um conteúdo literal de experiências privadas nas quais nós respondemos a um pensamento ou 
sentimento não como um pensamento ou sentimento, mas como um evento real que o pensamento ou sentimento descreve (HAYES et al., 1996).
8 Aceitação não deve ser visto como tolerância passiva ou resignação, mas como uma capacidade de abraçar ativamente experiências internas na medida 
em que ocorrem (HAYES et al.,1996).
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que pode preveni-los de viver uma vida de acordo com seus 
valores.
Deve-se notar que o terapeuta dentro de uma perspectiva da 
ACT se preocupa muito com a relação terapêutica que constrói, 
colocando-se numa posição de igualdade e se mostrando de 
forma genuína, até mesmo vulnerável, buscando não criticar, 
julgar ou “pregar” a forma mindful de viver, considerando o 
objetivo final da terapia como uma oportunidade do cliente 
aprender e praticar novas formas mais flexíveis de responder 
frente à ansiedade, não a considerando como um obstáculo 
para fazer o que consideram como importante para alcançar 
uma vida rica e significativa (EIFERT; FORSYTH, 2005).
3.2 Discussão 
Os participantes tiveram um resultado em média de 34,2 no 
AAQ na primeira testagem – o que representa baixo nível de 
flexibilidade psicológica. Na segunda testagem os resultados 
alcançados foram em média de 41,4 - representa nível médio 
de flexibilidade psicológica. Por meio destes resultados pode 
ser observada melhora no nível de aceitação psicológica e 
consequentemente diminuição da evitação experiencial, que 
pode ser possivelmente atribuída aos encontros realizados.
Como mencionado sobre o AAQ (HAYES et al., 2004), 
o aumento na capacidade de flexibilidade psicológica está 
relacionado a menores índicesde sofrimento psíquico em 
geral, assim resultando na melhora da qualidade de vida dos 
participantes envolvidos. 
Além dos resultados empíricos alcançados pelo teste 
e reteste do AAQ, três participantes relataram estarem 
ativamente dirigindo, enquanto que o restante disse ter 
conseguido dirigir em algumas situações (ex.: em ‘estradas 
de chão’, sem outros carros; em situações na qual o marido 
ou familiares não estavam vendo; com o apoio da filha; etc.), 
e que estavam se sentindo progressivamente mais relaxadas 
com o ato de dirigir.
Nas primeiras sessões, no entanto, todas as participantes 
demonstravam ansiedade no simples ato de falar a respeito 
do medo de dirigir, muitas vezes tentando “racionalizar” a 
origem de tais medos. O mediador das sessões abriu espaço 
durante os encontros para que as participantes falassem sobre 
seus sentimentos. No entanto, tentou diminuir a frequência 
das “racionalizações”, pois foi colocado a estas que o 
importante não era como a ansiedade surgiu, mas sim que 
todas compartilhavam um medo em comum, mesmo tendo 
historias de vidas diferentes, direcionando o foco para além 
da ansiedade, mas sim para uma vida valorosa.
Por se tratar de uma terapia em grupo, este formato 
trouxe outros benefícios (YALOM; LESZCZ, 2005) a seus 
participantes, como: 1) muitas expuseram se sentirem sozinhas, 
isoladas e diferentes, mas no grupo puderam perceber que não 
são as únicas passando por aquela situação; 2) os membros 
do grupo também relataram aprender muito com a fala das 
outras participantes; 3) aqueles membros que (segundo elas 
mesmas) não tinham tanto medo de dirigir, disseram se sentir 
bem ao servir de modelo para outros participantes do grupo; e 
4) as participantes ao observarem a melhora rápida de alguns 
membros expressaram sentir esperança quanto a agir em 
relação a seu medo de dirigir.
Um dos maiores benefícios que o grupo relatou ter 
alcançado por meio do projeto foi à aplicação de mindfulness 
em suas vidas. Segundo elas, o maior problema que tinham 
(apesar de não terem consciência até participarem do grupo) 
em relação ao medo específico de dirigir, era que elas 
“pensavam demais” antes, durante e após o ato de dirigir, 
sendo que no projeto puderam então lidar melhor com as 
contingências reais/atuais de suas vidas (ao invés das passadas 
- muitas vezes traumáticas; o presente repleto de julgamentos; 
ou as futuras - onde poderiam ocorrer erros e/ou acidentes).
Um comportamento considerado digno de nota foi que 
as participantes fizeram grandes esforços para participar dos 
encontros, pois no período de três das sessões (do total de 
cinco) a cidade de Cascavel, PR estava passando por uma 
estação de ventos e chuvas fortes (bem como alagamentos) 
que não as impediu de participarem. A hipótese levanta para 
tal comportamento, e confirmada verbalmente no ultimo 
encontro, foi que um tratamento que se foca na qualidade e 
valores de vida de seus participantes, motiva estes em seu 
tratamento. 
No ultimo encontro, além das participantes relatarem seu 
interesse e gratidão pelo projeto, expressaram pretensões 
de utilizar as técnicas e práticas aprendidas nos encontros, 
com outros medos e situações de vida (pois notaram seus 
resultados positivos), observando-se assim um processo de 
generalização das habilidades aprendidas para outras áreas 
da vida das participantes, demonstrando o potencial da ACT 
de não somente tratar sintomas ansiolíticos específicos, 
mas possivelmente servindo para várias áreas da vida das 
participantes, podendo ter efeitos mesmo após o fim do 
tratamento formal.
4 Conclusão 
É importante notar que este é um trabalho exploratório, 
e que apesar de demonstrar o potencial positivo da ACT 
no tratamento do medo de dirigir, não é representativo o 
bastante (devido ao número de participantes) para generalizar 
indiscriminadamente seus resultados a uma população maior. 
Desta forma, é recomendado que outras pesquisas, utilizando-
se de grupos maiores, randômicos, sejam realizados a fim 
verificar e/ou validar os benefícios de um tratamento ACT 
junto ao medo de dirigir.
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