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A adesão à arbitragem como instrumento de governança corporativa nos segmentos especiais de listagem da B3

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A adesão à arbitragem como instrumento de governança 
corporativa nos segmentos especiais de listagem da B3 
 
Leonardo Kozlowski - Graduando em Direito pela Universidade Federal do 
Rio de Janeiro- UFRJ, membro da Equipe de Estudos e Competições em 
Arbitragem – ECEArb, da UFRJ e membro do Comitê de Jovens Arbitralistas 
– CJA, do CBMA 
 
Roberto Schirmer – Graduando em Direito pela Universidade Federal do 
Rio de Janeiro- UFRJ, membro da Equipe de Estudos e Competições em 
Arbitragem – ECEArb, da UFRJ e membro do Comitê de Jovens Arbitralistas 
– CJA, do CBMA 
 
No panorama societário atual, acionistas e companhias buscam 
gerar valor às suas ações por meio da adesão a segmentos especiais 
de listagem da B3 (antiga BMF&Bovespa). Por isso, estão sujeitos a 
uma série de regras e exigências que visam o desenvolvimento da 
Governança Corporativa nas respectivas companhias. No entanto, o 
emérito Luiz Leonardo Cantidiano, idealizador do Novo Mercado e 
falecido neste ano, afirmava que, ainda que existam regras e condições 
rígidas para a implementação da Governança Corporativa nos 
segmentos especiais da bolsa de valores, elas só teriam eficácia se as 
companhias adotassem a arbitragem como forma de resolução de seus 
conflitos internos.1 Portanto, a inclusão de cláusula compromissória no 
estatuto social seria uma forma de, não apenas aplicar os preceitos de 
Governança Corporativa, mas também uma das expressões do seu 
desenvolvimento. 
 
Por meio dessa reflexão, o presente artigo tem como objetivo 
central abordar a obrigatoriedade de adesão à arbitragem como forma 
de Governança Corporativa nos segmentos especiais da B3. 
 
Em primeiro lugar, cabe ressaltar que segmentos especiais de 
listagem da B3 surgiram, inicialmente, no ano 2000 com a criação de 
três níveis especiais, quais sejam: o Nível 1, o Nível 2, e o Novo 
Mercado. A criação destes segmentos tinha como objetivos principais 
desenvolver o tardio mercado de capitais nacional e evitar a emissão 
 
1
 CANTIDIANO, Luiz Leonardo. Arbitragem: Por que mudar o que funciona bem 
no mercado? Capital Aberto. Disponível em: 
<https://capitalaberto.com.br/temas/legislacao-e-regulamentacao/arbitragem-por-
que-mudar-o-que-funciona-bem-no-mercado/#.WgHUpltSyUl.> Acesso em: 6 de 
novembro de 2017. 
de American Depositary Receipt (“ADRs”) de companhias brasileiras no 
exterior, por meio da adequação da bolsa de valores aos diversos perfis 
de companhias existentes no país. Posteriormente, foram incluídos 
nesse rol especial de listagem, em 2005, o Bovespa Mais e, em 2014, 
o segmento Nível 2 do Bovespa Mais, ambos criados a fim de que as 
companhias se preparassem para acessar, gradualmente e de forma 
adequada, o mercado de bolsa2. 
 
Salienta-se que cada segmento possui normas e regulamentos 
específicos que variam de acordo com as regras de Governança 
Corporativa exigidas para a adesão no respectivo segmento. Dentre 
eles, destaca-se o Novo Mercado, segmento que possui as disposições 
mais rígidas, uma vez que se define como o segmento mais 
desenvolvido em termo de transparência e governança da Bolsa3. 
 
 No entanto, apesar de diferentes características para cada 
segmento especial, a adesão à cláusula compromissória é obrigatória 
para as companhias listadas no Nível 2, Novo Mercado, Bovespa Mais 
e Bovespa Mais Nível 2. Assim, litígios oriundos da relação entre 
acionistas, administradores, membros do Conselho Fiscal e a B3 serão, 
impreterivelmente, resolvidos por meio da arbitragem, regida pelo 
regulamento da Câmara de Arbitragem do Mercado (“CAM”)4. 
 
 Por sua vez, a Governança Corporativa é um ativo fundamental 
para toda e qualquer sociedade empresária. Além disso, sua 
implementação é, também, uma exigência de todas as sociedades dos 
segmentos especiais de listagem da B3, seja em maior ou menor nível. 
Em linhas gerais, Governança Corporativa se traduz no sistema pelo 
qual as sociedades e organizações são dirigidas, monitoradas e 
incentivadas, abarcando o relacionamento dela com os demais agentes 
sociais do mercado5. 
 
2 Disponível em: 
<http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/listagem/acoes/segmentos-de-
listagem/sobre-segmentos-de-listagem/evolucao-dos-segmentos-especiais/>. 
Acesso em 1 de outubro de 2017. 
3 Regulamento do Novo Mercado. Disponível em:< 
http://www.bmfbovespa.com.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?fileId=8A828D2
94F270E45014FEFE4D1A57219>. Acesso em 1 de novembro de 2017. 
4Regulamento da Câmara de Arbitragem do Mercado. Disponível 
em:<http://www.bmfbovespa.com.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?fileId=8A8
28D294E6F7F51014E734202294677>. Acesso em 30 de outubro de 2017 
5 Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do Instituto Brasileiro de 
Governança Corporativa (IBCG). Disponível em: 
 
 Nesse âmbito e, em resumo, a Governança Corporativa orienta 
as sociedades à aplicação das melhores práticas do mercado por meio 
da conversão de princípios básicos, como transparência, equidade, 
accountability e responsabilidade corporativa, por meio de 
recomendações objetivas6. 
 
A resolução de conflitos por meio da arbitragem para sociedades 
anônimas foi prevista pela primeira vez na reforma da Lei nº 6.404/76 
(Lei das S.A.) ocorrida em 2001 com a inclusão do artigo 109, § 3º. O 
referido artigo possibilita a inclusão de cláusula compromissória 
estatutária para dirimir os eventuais conflitos societários em uma 
sociedade anônima. Adicionalmente, com a edição da Lei nº 
13.129/15, houve a inclusão do artigo 136-A na Lei das S.A. com a 
concessão do direito de retirada, previsto no artigo 137 da mesma lei, 
para o acionista que não concordasse com a inclusão da cláusula 
compromissória no estatuto social. 
 
Não obstante, esse direito de retirada não é absoluto, uma vez 
que a referida lei prevê hipóteses de exceção em que a retirada não é 
aplicada no §1º do artigo 137, que dispõe sobre o caso da ação possuir 
liquidez e dispersão acionária no mercado e no §2º, se a cláusula 
compromissória for uma condição para a emissão e negociação das 
ações da companhia em segmento de listagem de bolsa de valores ou 
de balcão organizado que exige dispersão acionária de 25% de cada 
espécie ou classe, situação justamente exigida no caso dos segmentos 
em tela da B37. Portanto, resta claro que não há conflito entre o direito 
de retirada e a exigência de adesão à resolução de controvérsias por 
arbitragem requerida pelos regulamentos dos segmentos especiais. 
Pelo contrário, a Lei das S.A. protege a companhia que busca 
desenvolver sua Governança Corporativa com a adesão a um segmento 
de listagem especial. 
 
A arbitragem como meio adequado de resolução de litígios não é 
apenas uma forma de implementar a Governança Corporativa em uma 
 
<http://www.ibgc.org.br/userfiles/files/2014/files/CMPGPT.pdf>. Acesso em 28 de 
outubro de 2017. 
6 JUNIOR, Bergamini Sebastião. Controles Internos como Instrumento de 
Governança Corporativa. Revista do BNDES, Rio de Janeiro, V.12, N.24, p.149-
188, Dezembro, 2005. 
7 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S.A. Comentada. Volume II – 2ª Edição Revista e 
Ampliada – Artigos 80 a 137. São Paulo: Quartier Latin, 2015. P.501-503. 
companhia por meio de uma resposta contra ações, decisões ou 
omissões que vão em sentido contrário ao referido princípio, mas 
também se traduz como expressão dela própria. 
 
Como dito na introdução, de nada adiantam mecanismos 
sofisticados e rígidos de Governança Corporativa sem que haja um 
meio igualmente adequadopara exigi-los. Isso porque, como se sabe, 
o procedimento arbitral é o meio de resolução de litígios mais célere, 
específico e, por conseguinte, adequado, especialmente na complexa 
seara societária. Isso porque (i) contra a sentença arbitral não cabe 
recurso – logo as companhias não veriam suas demandas submetidas 
a numerosos e repetitivos recursos no Poder Judiciário8, e (ii) a 
arbitragem permite a escolha de profissionais altamente capazes e 
especializados que conhecem profundamente o mercado de capitais e 
demais matérias correlatas, havendo, em regra, decisões mais bem 
fundamentadas. 
 
Para fins exemplificativos da eficácia e importância da cláusula 
arbitral nestes segmentos, em setembro deste ano, o BNDES ingressou 
com uma arbitragem contra a FB Participações, holding detida pelos 
irmãos Joesley e Wesley Batista, para discutir um suposto conflito de 
interesses na deliberação da JBS S.A. - companhia listada no Novo 
Mercado - sobre a instauração de processo contra os administradores 
da companhia, i.e. os próprios irmãos9. Assim, esse é apenas um 
exemplo, dentre muito outros, em que acionistas, frente às ações 
contrárias às diretrizes da Governança Corporativa, ingressaram com 
uma arbitragem para salvaguardar os seus direitos e os da sociedade. 
Sendo a arbitragem, portanto, ferramenta fundamental nesses casos. 
 
Isso posto, é indubitável a importância da resolução de litígios, 
por meio da arbitragem, nos segmentos especiais da B3 como 
mecanismo de garantir, manter e implementar a Governança 
Corporativa. 
 
8 CANTIDIANO, Luiz Leonardo. Arbitragem: Por que mudar o que funciona bem 
no mercado? Capital Aberto. Disponível em: 
<https://capitalaberto.com.br/temas/legislacao-e-regulamentacao/arbitragem-por-
que-mudar-o-que-funciona-bem-no-mercado/#.WgHUpltSyUl.> Acesso em: 6 de 
novembro de 2017. 
9 Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/09/1918960-
assembleia-da-jbs-seguira-suspensa-ate-arbitragem-privada-decide-juiz.shtml>. 
Acesso em 29 de outubro de 2017.

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