Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
GOVERNANÇA CORPORATIVA Giancarlo Giacomelli Componentes e práticas da governança Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Conduzir e administrar o processo estratégico. � Reconhecer práticas de governança. � Propor formas de atuação dos órgãos de governança. Introdução Estruturar e implementar uma cultura organizacional direcionada pela governança não é uma tarefa fácil. Várias estruturas e lideranças orga- nizacionais são impactadas, a autonomia e a forma de trabalho da lide- rança sofrem alterações, e as pessoas precisam ser mais transparentes em diversas relações. Isso faz com que o processo de implantação da governança leve algum tempo e que alguns ganhos e avanços só sejam possíveis após o alcance de determinados estágios. Neste texto, você vai estudar os componentes da governança que auxiliam na gestão do processo estratégico, conhecer as principais prá- ticas que viabilizam uma boa governança e identificar as formas mais apropriadas para atuação dos órgãos de governança. Governança como sustentação da estratégia empresarial Uma das principais características da economia de mercado e do ambiente corporativo globalizado é seu dinamismo. As empresas estão sistematica- mente buscando oferecer novos produtos e serviços, melhorar suas ofertas e conquistar uma fatia maior do mercado. Isso exige que uma empresa que alcançou relativo sucesso não se acomode. Todo negócio deve estar constan- temente focado no futuro. Existem vários exemplos que validam essa última afirmação. Um caso emblemático é o da Kodak, empresa que em 1995 faturou US$ 15 bilhões e teve mais de US$ 1 bilhão de lucro e cerca de 20 anos depois estava abrindo um processo de falência por ter deixado de atender à demanda de atualização constante do negócio (LUCROS, 1996). Então, a estratégia empresarial deve ser, antes de mais nada, o conjunto de ferramentas de gestão que faz com que a empresa esteja sistematicamente atenta ao seu mercado, entendendo seu público, avaliando o futuro do negócio e promovendo as ações e projetos no presente para garantir a sobrevivência da organização no futuro. Essa introdução ajuda a estabelecer alguns requisitos: se a estratégia tem todo esse escopo, ela não pode se limitar a táticas para superação de concor- rentes – falha recorrente em mercados muito competitivos –, tampouco deve ficar restrita ao seu “sonho” futuro, focando nos próximos 5 ou 20 anos sem operar no momento atual. Pelo contrário, a visão do negócio no futuro deve impactar as rotinas e decisões do presente da organização. Retornando ao exemplo da Kodak: uma empresa com faturamento anual de US$ 15 bilhões certamente contava com uma equipe de profissionais, incluindo gerentes, executivos, engenheiros e diretores, todos extremamente qualificados. Isto não impediu o fracasso do negócio. O que aciona um alerta: “estar atento ao futuro e responder às mudanças não é uma tarefa fácil”. É nesse ponto que entra a participação da governança, sob a forma do conselho de administração e seus demais agentes. A organização não existe como uma entidade autônoma; a empresa é a soma dos profissionais que a constituem. Assim, é impossível dissociar o que acontece em uma organização das ações que seus colaboradores realizam – são as decisões das pessoas que ditarão os rumos do negócio. Porém, as pessoas têm algumas características que, por vezes, não favo- recem a mudança. Uma delas é a tendência a defender aquilo que conhecem e que já rendeu frutos no passado: é o caso dos executivos da Kodak, insis- tindo em vender filmes fotográficos enquanto todo o mercado migrava para o contexto digital. Isto acontece por diversas razões. Executivos que ganham poder e experiência em um mercado tendem a colocar barreiras que forcem a empresa a se manter nesse mercado. Pense nos líderes, engenheiros, gerentes e operários da Kodak, todos experts em filmes fotográficos, com um total desconhecimento da fotografia digital, que provavelmente impuseram barreiras aos novatos e exerceram uma grande pressão implícita para aquele mercado ser considerado como um modismo irrelevante. Componentes e práticas da governança340 Todas as relações da empresa exercem uma grande pressão para o presente e uma resistência para o futuro. Esses aspectos estão presentes em absolu- tamente todos os mercados. O futuro e a mudança sempre desacomodarão e gerarão desconforto, e as pessoas que estão na operação atual do negócio possivelmente serão as primeiras a desestimular a mudança organizacional. É justamente por essas razões que o conselho de administração, como elemento fundamental das práticas de governança, é tão importante para a estratégia da empresa. O conselho de administração é um grupo normalmente formado por profissionais com grande experiência de mercado, tendo entre 7 e 20 participantes que representam os interesses dos acionistas e são os “guardiões” da estratégia da organização. Os conselheiros normalmente não são funcionários da empresa e não estão na sua operação de rotina. Eles se reúnem mensal ou trimestralmente, ou de acordo com o estatuto, para avaliar a gestão e monitorar e aconselhar o CEO (do inglês Chief Executive Officer, ou Diretor Executivo), que é a pessoa com maior autoridade na hierarquia operacional de uma organização. Esta é a grande vantagem do conselho de administração. Como não parti- cipam da operação e têm visão clara da estratégia do negócio, os conselheiros são menos sensíveis às pressões da operação atual e estão mais atentos ao que está ocorrendo no mercado e às tendências de futuro do segmento. Enquanto o CEO e a equipe de direção estão mergulhados na operação, preocupados com a performance atual e os resultados do trimestre, por exemplo, os conselheiros não têm essa pressão e têm sua visão focada em um horizonte de tempo significativamente mais longo. A Figura 1 ajuda a visualizar melhor essa relação. Figura 1. A relação entre as atuações da governança e da gestão em uma organização. Fonte: Treasy (2016). GOVERNANÇA GESTÃO av ali ar direcionar executar monitorar Accountability Estratégia pla ne jar co nt rol aragir 341Componentes e práticas da governança Deste modo, a governança tem a missão de monitorar o que está sendo feito, avaliar a performance e ditar novos direcionamentos para a gestão, que então irá ajustar seu planejamento, executar as ações, avaliar os resultados e promover melhorias. A seguir, você conhecerá alguns dos componentes da governança que contribuem nesse sistema. Para conhecer mais sobre a relação entre a governança e o planejamento estratégico, acesse o artigo “Gestão estra- tégica como ferramenta para a governança corporativa: um estudo de caso” (EISSMANN; STEFENON; ARRUDA, 2017), disponível no link ou código a seguir. https://goo.gl/KRB4B7 Principais órgãos da estrutura de governança Guerra (2017) afirma que “a governança corporativa refere-se às regras que governam a estrutura e o exercício de poder e de controle na companhia”. Esse conceito não faz referência ao objetivo da governança, mas é muito claro quanto ao escopo. De acordo com essa definição, a governança regulamenta as relações de poder e controle na organização. É possível inferir que o obje- tivo dessa regulamentação é melhorar a qualidade da tomada de decisão por parte dos órgãos decisores, levando em conta os interesses dos acionistas e a sustentabilidade do negócio. Usualmente os sistemas de governança são compostos por diversos órgãos, como a assembleia geral dos acionistas, o conselho de administração, a dire- toria, a auditoria independente e o conselho fiscal. Dependendo do grau de maturidade em governança em que a empresa se encontra, podem inexistir alguns destes órgãos ou existir estruturas além destas. Componentes e práticas da governança342 Os diferentes órgãos que compõem os sistemas de governança podem ser divididos em três categorias: � deliberativos; � executivos;� controladores. A função deliberativa é normalmente realizada pela assembleia geral, que expressa a vontade da organização. A função executiva é responsável pela operação necessária para realizar esta vontade, normalmente ficando a cargo da administração e da direção operacional. Por fim, os controladores costumam ser representados pelo conselho fiscal e pelos auditores, responsáveis por fiscalizar a execução do que foi expresso pela assembleia. Os objetivos de cada uma das áreas são inter-relacionados, o que pode gerar conflitos. Uma boa governança visa criar um ambiente onde todas as partes possam cumprir suas atribuições com o menor nível de conflitos possível entre as áreas, afinal, conflitos podem paralisar uma organização. Podemos interpretar o papel dos diferentes órgãos como as instituições necessárias para a construção de uma espécie de democracia representativa na organização, de forma que nenhuma das partes interessadas fique totalmente excluída, ou detenha posse exclusiva, das decisões estratégicas do negócio. A seguir você poderá conhecer em mais detalhes alguns desses papéis. Órgãos deliberativos Assembleia geral de acionistas A assembleia geral tem o poder de: reformar o estatuto social da companhia; contratar ou demitir, a qualquer tempo, os administradores, auditores ou fiscais da organização; cobrar e deliberar sobre as demonstrações financeiras apresentadas pelos administradores; autorizar a emissão de debêntures e outras 343Componentes e práticas da governança contratações de crédito; suspender o exercício de direito dos acionistas; e fazer quaisquer alterações no arranjo societário, como fusões, aquisições, emissão de novas ações, dissolução e liquidação da empresa, bem como autorizar falência para pedidos de concordata. Fica assim evidente que a assembleia geral é a autoridade máxima de uma sociedade de ações, por isso considerada a instância deliberativa superior. Ela tem os poderes legais de decidir todos os negócios relativos ao objeto da companhia. Portanto, é a assembleia geral que definirá as diretrizes que servirão de base para o trabalho da governança. Pela legislação brasileira, a assembleia geral pode ser ordinária (AGO) ou extraordinária (AGE). Nas AGOs são deliberados pontos como: aprovação das demonstrações financeiras, destinação dos lucros do exercício, distribuição de dividendos, eleição e contas dos administradores e membros do conselho fiscal. Todas as outras questões são tratadas nas AGEs. Conselho de administração Ainda que a assembleia geral de acionistas – quando existir – seja o órgão máximo da organização, ela tem caráter temporal. Ou seja, ela não tem uma constância de atividades que permita uma maior participação e acompanha- mento da operação do negócio. Esse distanciamento é natural, afinal não é de se esperar que um investidor ou um fundo de investimentos com participação em diversos negócios queira se envolver diretamente na tomada de decisão de um negócio de um setor do qual, por vezes, não seja um profundo conhecedor. Para isso, a assembleia escolhe o conselho de administração, que será o responsável pelas decisões estratégicas do negócio. Essa delegação de respon- sabilidade – dos acionistas para os conselheiros – é fundamental para dar a velocidade necessária para que uma organização consiga manter-se competitiva. Assim, conforme a Lei das Sociedades Anônimas – 6.404/1976, “a admi- nistração da companhia competirá, conforme dispuser o estatuto, ao conselho de administração e à diretoria, ou somente à diretoria. O conselho de adminis- tração somente será obrigatório em três tipos de sociedades: nas sociedades de capital aberto, de economia mista e de capital autorizado. O conselho de administração é órgão de deliberação colegiada composto por no mínimo, três membros, eleitos pela assembleia geral e destituíveis por ela a qualquer tempo” (BRASIL, 1976). Componentes e práticas da governança344 As atribuições do conselho de administração são: � fixar a orientação geral dos negócios da companhia; � eleger e destituir os diretores da companhia; � fixar as atribuições da direção; � fiscalizar a gestão dos diretores; � convocar a assembleia geral; � manifestar-se sobre o relatório de administração e as contas da diretoria; � emitir parecer prévio sobre atos ou contratos quando previsto em estatuto; � entre outras atividades, conforme previsão estatutária. Confira a Lei das Sociedades Anônimas – 6.404/1976 no link ou código a seguir. https://goo.gl/k9L1R O estatuto social, por sua vez, deve estabelecer o número de conselhei- ros, ou o máximo e mínimo permitidos. Também deve prever o processo de escolha e de substituição do presidente do conselho – se pela assembleia ou pelo próprio conselho –; o modo de substituição dos conselheiros; o prazo de gestão – não pode ser superior a três anos –; e as normas para convocação, instalação e funcionamento do conselho. Órgãos executivos Diretoria A diretoria estabelece a interface direta entre o conselho de administração e a operação do negócio. Em conjunto com o conselho, a diretoria forma o órgão de administração da companhia. Nas empresas em que não há 345Componentes e práticas da governança conselho de administração, caberá à diretoria todas as funções executivas; já nas empresas com conselho, a diretoria administra a empresa segundo as orientações deste conselho. A diretoria deve ser composta por dois ou mais diretores, eleitos e desti- tuíveis, e, assim como no conselho, o estatuto deve prever as variáveis quanto ao número de diretores e os processos de eleição, substituição e desligamento. Enquanto respeitarem o estatuto e a lei, os diretores e conselheiros não respondem civilmente por qualquer obrigação da companhia. No entanto, caso ocorra o desrespeito à lei ou ao estatuto, essa proteção legal não terá validade. Órgãos controladores Conselho fiscal O conselho fiscal é obrigatório em todas as sociedades de ações, no entanto, seu funcionamento é facultativo. Na prática, o estatuto deve dispor se a atu- ação do conselho será permanente ou se será instalado nos exercícios sociais conforme solicitação dos acionistas. A principal função deste conselho é fiscalizar a gestão da empresa e das contas dos administradores, com o objetivo principal de proteger os acionistas, principalmente os minoritários. Para isso, o conselho deve: � fiscalizar os atos dos administradores e verificar o cumprimento dos seus deveres legais e estatutários; � emitir pareceres sobre as propostas dos órgãos da administração a serem submetidas à assembleia geral; � emitir parecer sobre o relatório anual de administração; � denunciar aos órgãos de administração e à assembleia geral os erros, as fraudes e os crimes descobertos, sugerindo ações corretivas; � convocar assembleias gerais, entre outras atividades com fins de fis- calização e controle. Auditores independentes Por fim, existe a figura dos auditores independentes. O papel principal destes auditores é a validação e certificação de veracidade das informações apresen- tadas pela empresa ao mercado. Componentes e práticas da governança346 Os auditores independentes certificam que os relatórios financeiros, balan- ços e outras informações apresentadas são verdadeiros. No Brasil, os auditores devem ser credenciados juntos à CVM – Comissão de Valores Mobiliários. A Lei Anticorrupção acabou fortalecendo a atuação dos auditores in- dependentes, com clara inspiração na Lei Sarbanes-Oxley, outorgada nos Estados Unidos com reflexos importantes na atuação dos auditores, inclusive aumentando a responsabilidade legal das auditorias. Veja mais sobre esse assunto no box a seguir. Com a promulgação da Lei Anticorrupção, as empresas devem aprimorar seus controles internos contra fraudes, compliance, dentre outras funções da estrutura de governança. Isso porque, com a nova legislação, a investigação e a consequente punição aos envolvidos em atos ilícitos passama ter regras mais rigorosas. A existência de controles internos bem estruturados pode, inclusive, atenuar penas. A Instrução 552 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que entrou em vigor em 2016, também contribui para esse processo, ao exigir, por exemplo, um maior nível de detalhe para os processos de gestão de riscos e uma estrutura de controles internos. Neste cenário, a auditoria interna ganha uma função estratégica dentro da empresa, contribuindo para a preservação e geração de valor na companhia ao auxiliar as ações de gestão de riscos, controle interno e conformidade dos processos. Ou seja, a auditoria interna é de grande utilidade para a estrutura de governança de uma empresa (IBRACON, 2015). Boas práticas de governança Com a ocorrência de casos de corrupção e desvios em organizações que possuíam práticas de governanças, iniciou-se um movimento global para refinar e disseminar boas práticas em diferentes países. O Código Hampel, originado em Londres, a Lei Sarbanes-Oxley, dos Estados Unidos, e a Lei das Sociedades Anônimas, do Brasil, são iniciativas que refinam as práticas de governança instituídas e oferecem um padrão de desempenho transparente, que permite a qualquer organização adotar as práticas citadas. Algumas das práticas elencadas por estas iniciativas dizem respeito aos aspectos citados a seguir. 347Componentes e práticas da governança Uma ação = um voto Isso significa que todos os sócios têm direito a voto, independentemente do tipo de ação. Portanto, as sociedades devem emitir apenas ações ordinárias (que dão direito a voto), e as ações preferenciais (que dão preferência no recebimento de dividendos) já emitidas devem ser transformadas em ordinárias. Caso não seja possível, deve ser concedido direito de voto às ações preferenciais. Essa prática é uma exigência para as empresas que pretendem estar classificadas no Novo Mercado, o mais alto índice de governança da bolsa brasileira. Transações com valores mobiliários Os acionistas controladores, administradores, membros do conselho fiscal, assim como os seus respectivos cônjuges, companheiros e dependentes, devem comunicar às bolsas de valores a quantidade e as características dos títulos mobiliários de que são proprietários, inclusive dos derivativos (desdobramento dos ativos negociados, como a “opção de compra” de ações, uma espécie de seguro que garante ao comprador adquirir determinada ação por um preço pré-fixado durante um ou dois meses, por exemplo). Essa medida tem como finalidade assegurar a isonomia de informação e fomentar a transparência no mercado. Assembleia geral Como já mencionado, a assembleia geral consiste em um importante instru- mento deliberativo, que se constitui na autoridade máxima em uma sociedade de ações. Desse modo, ainda que a assembleia em si corresponda a um evento, acaba sendo também considerada como um importante órgão da estrutura de governança. A convocação para as assembleias segue normas e prazos específicos, de acordo com o tipo de assembleia (AGO e AGE) e as características societárias da empresa (por exemplo, sociedades anônimas, companhias de capital fechado ou aberto. Neste último caso, as empresas podem ainda ter títulos no exterior). As assembleias devem usar o princípio da boa-fé e fazer o mínimo de exi- gências de ordem burocrática. Além disso, em caso de conflito de interesses, o sócio envolvido deve se abster de votar. Componentes e práticas da governança348 Arbitragem Os conflitos entre os sócios, e entre eles e a sociedade, devem ser resolvidos, preferencialmente, por meio da arbitragem (busca da resolução do conflito sem a via jurídica, por meio de órgãos independentes de arbitragem), evitando morosos e caros processos judiciais. A adesão à arbitragem deve ser formal, ou seja, precisa estar prevista em estatuto e assinada pelos acionistas, contro- ladores, administradores e membros do conselho fiscal. Informação privilegiada A organização deve ter uma política de divulgação das informações relevan- tes, além de regras claras para que pessoas, em razão de seus cargos, não se beneficiem de informações privilegiadas. Presidente do conselho – chairman O chairman é responsável pela definição de objetivos e de programas visando o bom desempenho do conselho de administração. É recomendável que o presidente do conselho e o CEO não sejam a mesma pessoa. Conselheiros independentes A maioria do conselho deve ser formada por membros independentes, ou seja, sem qualquer vínculo com a sociedade, nem mesmo com ex-diretores, ex-funcionários ou sócios de empresas que tenham relação com o negócio. Comitês A utilização de comitês especializados como de auditoria, remuneração, nomeação, governança e outros assuntos, deve ser estimulada. A coordenação dos comitês deve ser feita por conselheiros independentes, podendo consultar profissionais externos como advogados, auditores e consultores. 349Componentes e práticas da governança Remuneração A remuneração dos gestores, diretores e conselheiros deve refletir o tempo, esforço, experiência e retorno gerado para a organização. Além disso, esses dados devem estar disponíveis para os demais sócios. Transparência – disclosure A organização deve disponibilizar informações de forma clara e objetiva para todos os stakeholders. As informações que possam afetar decisões de negócio devem ser comunicadas de forma imediata e simultânea a todos os interessados. Código de conduta A empresa deve implantar e disseminar um código de conduta próprio, ali- nhando as ações de seus integrantes e envolvidos aos valores do negócio, de modo que seja um norteador da atuação dos colaboradores e das principais lideranças. Conselho fiscal independente Os participantes do conselho fiscal devem ter liberdade e acesso às informações para que possam realizar avaliações consistentes da realidade do negócio. Para isso, o conselho fiscal deve ser composto por profissionais independentes (sem vínculo com a companhia), assim como é recomendado no caso dos conselheiros. As práticas aqui relacionadas correspondem a algumas das alternativas utilizadas como incentivo ao estabelecimento de uma cultura de excelência em governança. Nesse mesmo propósito, um dos órgãos mais atuantes é o IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, que publica periodicamente um guia de melhores práticas de governança. Além disso, a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) criou a segmentação intitulada Novo Mercado, que representa o mais alto grau de governança e pode ser utilizada como referência para boas práticas. No Quadro 1 você pode comparar as características e exigências para que uma empresa possa participar do Novo Mercado ou de outras segmentações propostas pela Bovespa. Componentes e práticas da governança350 Fonte: BM&FBOVESPA (2016). Novo Mercado Nível 2 Nível 1 Bovespa Mais (a partir de 23/5/2014) Tradicional Características das Ações Emitidas Permite a existência somente de ações ON Permite a existência de ações ON e PN (com direitos adicionais) Permite a existência de ações ON e PN (conforme legislação) Permite a existência somente de ações ON Permite a existência de ações ON e PN (conforme legislação) Percentual Mínimo de Ações em Circulação (Free Float) No mínimo 25% de free float 25% de free float até o 7º ano de listagem Não há regra Composição do Conselho de Administração Mínimo de 5 membros, dos quais pelo menos 20% devem ser independentes com mandato unificado de até 2 anos Mínimo de 3 membros (conforme legislação) Vedação à acumulação de cargos (a partir de 10/05/2011) Presidente do conselho e diretor presidente ou principal executivo pela mesma pessoa (carência de 3 anos a partir da adesão) Não há regra Obrigação do Conselho de Administração (a partir de 10/05/2011) Manifestação sobre qualquer oferta pública de aquisição de ações da companhia Não há regra Demonstrações FinanceirasTraduzidas para o inglês Conforme legislação Adesão à Câmara de Arbitragem do Mercado Obrigatório Facultativo Obrigatório Facultativo Quadro 1. Classificações de níveis de governança conforme a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo). 351Componentes e práticas da governança Componentes e práticas da governança352 BM&FBOVESPA. Segmentos de listagem. São Paulo, 2016. Disponível em: <http:// www.bmfbovespa.com.br/pt_br/listagem/acoes/segmentos-de-listagem/sobre- -segmentos-de-listagem/>. Acesso em: 18 out. 2017. BRASIL. Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Brasília, DF, 1976. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ L6404compilada.htm>. Acesso em: 18 out. 2017. EISSMANN, J. C.; STEFENON, S. F.; ARRUDA, P. A. Gestão Estratégica como Ferramenta para a Governança Corporativa: um Estudo de Caso. Espacios, Caracas, v. 38, n. 16, p. 22, 2017. Disponível em: <http://www.revistaespacios.com/a17v38n16/a17v38n16p23. pdf>. Acesso em: 18 out. 2017. GUERRA, S. A Caixa preta da governança. Rio de Janeiro: Best Business, 2017. IBRACON. A importância da auditoria independente para empresas. São Paulo, 2015. Disponível em: <http://ftp.ibracon.com.br/ibracon/Portugues/detNoticia. php?cod=2995>. Acesso em: 18 out. 2017. LUCROS disparam nos EUA. Folha de São Paulo, São Paulo, 1996. Disponível em: <http:// www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/1/19/dinheiro/7.html>. Acesso em: 18 out. 2017. TREASY. Gestão da governança corporativa. Joinville, 2016. Disponível em: <https://me- dia.treasy.com.br/media/2016/07/gest%C3%A3o-da-governan%C3%A7a-corporativa. png>. Acesso em: 18 out. 2017. Leitura recomendada SILVA, A. L. C. Governança corporativa e sucesso empresarial: melhores práticas para aumentar o valor da Firma. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
Compartilhar