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Bioética e Biodireito

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195
Acta Bioethica 2002; a–o VIII, n° 2
BIOƒTICA E BIODIREITO:
AS IMPLICA‚˝ES DE UM REENCONTRO
Reinaldo Pereira e Silva*
Resumo: Este estudo tem por objeto de investiga‹o o estatuto da vida humana desde a concep‹o, encontrando
justifica‹o na complexa crise pol’tico-jur’dica atual, documentada de forma particularmente emblem‡tica pela atitude
omissa das legisla›es, inclusive a brasileira, em face das inova›es tecnol—gicas no ‰mbito biomŽdico. O objetivo
geral Ž demonstrar que, muito embora os conhecimentos nas ‡reas da embriologia cl’nica e da genŽtica mŽdica dissipem
quaisquer dœvidas sobre o in’cio da individualidade humana, as reflex›es Žtica e jur’dica, quando assentadas em premissas
discordantes com a Ònatureza humanaÓ, obscurecem a qualidade de pessoa que o ser humano expressa desde sua
concep‹o. Em outras palavras, o objetivo geral se envolve com a demonstra‹o de que somente se pode falar em
direito e em Žtica, para muito alŽm das abordagens vazias de conteœdo, quando se orienta a proje‹o reflexiva em
conformidade com a natureza humana.
Palavras chave: BioŽtica, biodireito, estatuto da vida, teoria da cariogamia, princ’pio da dignidade da pessoa humana
BIOƒTICA Y BIODERECHO: LAS IMPLICACIONES DE UN REENCUENTRO
Resumen: Este estudio tiene por objeto de investigaci—n el estatuto de la vida humana desde la concepci—n, encontran-
do justificaci—n en la compleja crisis pol’tico-jur’dica actual, representada de manera particularmente emblem‡tica por
la actitud omisiva de las legislaciones, incluida la brasile–a, en relaci—n con las innovaciones tecnol—gicas en el ‡mbito
biomŽdico. El objetivo general es demostrar que, aunque los conocimientos en las ‡reas de embriolog’a cl’nica y de
genŽtica mŽdica disipan cualquier duda sobre el inicio de la individualidad humana, las reflexiones Žtica y jur’dica,
cuando se basan en premisas discordantes con la Ònaturaleza humanaÓ, oscurecen la calidad de persona que el ser
humano posee desde la concepci—n. En otras palabras, el objetivo general dice relaci—n con la demostraci—n de que s—lo
se puede hablar en derecho y en Žtica, m‡s all‡ de aproximaciones carentes de contenido, cuando la reflexi—n se orienta
en un sentido concordante con la naturaleza humana.
Palabras clave: BioŽtica, bioderecho, estatuto de la vida, teor’a de la cariogamia, principio de dignidad de la perso-
na humana
BIOETHICS AND BIOLAW: IMPLICATIONS OF A REENCOUNTER
Abstract: The purpose of this study is to investigate the statute of human life from conception on, finding a justification
in the current complex political-juridical crisis, documented in a particularly emblematic way in the negligent attitude
of legislation, including Brasilian legislation, in view of the technological innovations in the biomedical domain. The
general aim is to demonstrate that, even though knowledge in the areas of clinical embryology and medical genetics
dispel any doubts regarding the beginning of human individuality, ethical and juridical reflections, when based on
premises that are discordant with Òhuman natureÓ, darkening obscure the personal quality the human being expresses
from the time of his conception. In other words, the general aim is related with the demonstration that one can only talk
about law and ethics, going beyond approaches devoid of content, when he is oriented towards a reflective attitude in
accordance with human nature.
Key words: Bioethic, biolaw, statute of life, theory of karygamy, principle of human dignity
* Doutor em Direito. Professor de Direito Constitucional e Teoria Geral do Direito Civil na Universidade Federal de Santa Catarina.
Membro Efetivo da Comiss‹o Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil - CNDH -
e da Sociedade Brasileira de BioŽtica - SBB.
Correspondencia: reinaldopereiraesilva@uol.com.br
196
1. Introdu‹o
A an‡lise das implica›es do reencontro do
direito com a Žtica pretende demonstrar a
possibilidade de compreens‹o do fen™meno
humano ainda que num contexto em que a
tecnocincia - que nada mais Ž do que o
conhecimento de car‡ter positivista levado a seu
extremo - n‹o mais permite distinguir a cincia
(conhecimento puro) da tecnologia
(conhecimento aplicado)1 . A transforma‹o
despudorada da sociedade em um grande
laborat—rio, a sujei‹o atual de todos os homens
ˆ condi‹o de consumidores/cobaias dos im-
plementos tecnocient’ficos, ocorre porque a
tecnocincia n‹o consegue diferenciar pessoas
de coisas, haja vista que ela n‹o conhece sen‹o
as coisas, que s‹o objetos por ela mesma
constitu’dos2 . Respaldada pelos interesses de
um mercado econ™mico globalizado, ela n‹o
ascende ao ser dos fen™menos porque n‹o lhe
interessa apreender sen‹o os fen™menos do ser.
No entanto, a tecnocincia imp›e sua
compreens‹o mecanicista n‹o apenas aos
fen™menos do ser, mas tambŽm ao ser dos
fen™menos, notadamente do fen™meno huma-
no, o que resulta considerar a vida, ao revŽs de
um valor fundamental, uma soma dos valores
de utilidade de seus —rg‹os. Ora, a vida, para
n‹o perder o status de fundamento da dignidade
da pessoa humana3 , n‹o pode ser explicada pela
—tica do mecanicismo, porque a causalidade
mec‰nica n‹o obtŽm outro efeito que n‹o seja
um reagrupamento de elementos que n‹o se
modificam, muito embora se modifique o
espao. A vida, ao contr‡rio, cria o espao, por-
que n‹o recebe simplesmente seu conteœdo do
espao, mas nele insere, com o tempo, algo
ainda n‹o presente(1-3). Nesse sentido, para que
se possa falar seriamente de uma Žtica e de um
direito da vida, o fen™meno humano deve ser
entendido como uma forma especial de
temporalidade, que Ž a dura‹o, j‡ que trans-
forma a sucess‹o cronol—gica de seu
desenvolvimento natural em sucess‹o
existencial de eventos dotados de sentido. O
respeito que Ž devido ˆ dignidade humana,
como a mais conseqŸente implica‹o do
reencontro do direito com a Žtica, ampara-se
ent‹o em dois desdobramentos da idŽia de
dura‹o: 1) todos os integrantes da espŽcie hu-
mana devem ser igualmente respeitados; e 2) o
respeito deve ser assegurado indepen-
dentemente do grau de desenvolvimento indi-
vidual das potencialidades humanas, isto Ž,
desde a concep‹o, ainda que extra-uterina, atŽ
a fase adulta. Somente afastando-se das
limita›es mecanicistas da tecnocincia Ž
poss’vel afirmar que todo ser humano Ž pessoa
e possui direitos que emanam de sua pr—pria
natureza.
2. A vida como fundamento da dignidade
Assim como a responsabilidade pela pr—pria
vida, o dever de ajudar a viver quando o outro
ainda n‹o tem, ou n‹o mais tem, capacidade de
faz-lo por si mesmo, n‹o Ž uma imposi‹o
heter™noma, um dever imposto de fora, mas
uma resposta a algo que diz respeito ˆ natureza
de cada homem e de todos os homens4 . Escla-
rece Erich Fromm que responsabilidade e
1 Para aprofundar o conceito de tecnocincia, consultar Pessini
L, Barchifontaine CdeP. Problemas atuais de bioŽtica. S‹o
Paulo: Loyola & Centro Universit‡rio S‹o Camilo; 2000: 65-
9. TambiŽn Silva RP. Reflex›es ecol—gico-jur’dicas sobre o
biodireito. Revista dos Tribunais 2001. S‹o Paulo: 90 (791):
99-102.
2 ƒ o impŽrio da Òirresponsabilidade organizadaÓ de que fala
Ulrich Beck, lembrando que, na sociedade de risco (sociŽtŽ
du risque), substituta moderna da sociedade industrial e de
sua l—gica, a espŽcie humana se torna cobaia em um laborat—rio
onde ninguŽm se responsabilidade pelo resultado das
experincias. Cf. entrevista concedida a Reverchon A. Allo la
Terre? Ici la nouvelle plante des risques. Le Monde
Economie. Paris, 20 nov. 2001.
3 Se Ž verdade que a vida f’sica, pela qual tem in’cio a caminhada
humana no mundo, n‹o representa um bem supremo, ela Ž
sem dœvida alguma um valor fundamental porque garante o
desenvolvimento dos demais valores que conferem dignidade
ˆ pessoa humana.
4 ÒUm indiv’duo fechado, isolado do outro, n‹o realiza sua
autonomia, fica alienado. PorŽm,um excesso de v’nculo com
o outro, uma rela‹o com o outro sem movimento pr—prio,
tambŽm conduz ˆ aliena‹o. A autonomia Ž um v’nculo com
o outro em que ambos tm movimento pr—prioÓ (Warat LA. A
cincia jur’dica e seus dois maridos. Santa Cruz do Sul:
Edunisc; 2000: 125).
BioŽtica e biodireito: as implica›es de um reencontro - R. Pereira e Silva
197
Acta Bioethica 2002; a–o VIII, n° 2
resposta tm a mesma raiz, respondere. Ser
respons‡vel significa, portanto, estar disposto
a responder5 . Em termos de pensamento forte,
a vida Ž considera o fundamento da dignidade
da pessoa humana na exata medida em que cada
homem est‡ disposto a responder ˆs demandas
de sua natureza6 . O avesso disto Ž a
irresponsabilidade, a justifica‹o de tudo por
parte de todos, o chamado Òpensamento fracoÓ
(pensiero debole)(1, p. 78-80). No amplo
dom’nio do que se denomina reflex‹o bioŽtica,
h‡ variadas formas de manifesta‹o do
pensamento fraco. Basta analisar as diversas
teorias que discorrem sobre o alvorecer da vida
para constatar a debilidade de suas premissas,
j‡ que muitas delas n‹o possuem qualquer
compromisso com a natureza humana. Com
efeito, diversas s‹o as teorias, com pretens‹o
de cientificidade, que defendem critŽrios para
a identifica‹o do in’cio da vida humana sem
qualquer respaldo ontol—gico. Em outras
palavras, s‹o teorias que n‹o ascendem ao ser
dos fen™menos porque se lhes bastam os
fen™menos do ser. As teorias dotadas dos argu-
mentos mais fr‡geis, porque estranhas ao con-
fronto de suas premissas com as novas
descobertas biomŽdicas, s‹o a da natalidade e
da gesta‹o. A primeira advoga que a existncia
humana se firma a partir do nascimento com
vida (somando-se, ou n‹o, constata›es como
a viabilidade e a conforma‹o humana) e a se-
gunda postula que a existncia humana se fir-
ma gradualmente, relacionando sua completude
ao tempo gestacional7 .
A teoria da natalidade Ž express‹o de certa
doutrina romana segundo a qual o concepto,
nas entranhas maternas, n‹o possui
individualidade alguma, sendo apenas uma par-
te da mulher (partus enim antequam edatur,
mulieris portio est vel viscerum)8 . Esta teoria,
apesar de rechaada pelas descobertas no cam-
po da embriologia humana, ainda Ž
culturalmente muito influente. Muitos te—ricos
vinculados ˆ chamada Òmoralidade secularÓ a
ela recorrem freqŸentemente, posto que n‹o a
explicitem; outros tantos, quando a explicitam,
argumentam para muito alŽm de suas premissas.
H. Tristram Engelhardt Jr., exemplo desta se-
gunda orienta‹o no manuseio da teoria da
natalidade, defende que os zigotos, os embri›es
e os fetos, da mesma forma que Òas crianas
pequenasÓ, porque Òprodutos da engenhosidade
e das energias das pessoas, podem ser conside-
rados possesÓ; em conseqŸncia, Òpodem ser
comprados e vendidos como se n‹o passassem
de coisasÓ9 . A argumenta‹o de H. Tristram
Engelhardt Jr. Ž bastante representativa das
implica›es da teoria da natalidade, mormente
quando pontua que o mais importante na
investiga‹o Žtica n‹o Ž a pertinncia do homem
ˆ espŽcie homo sapiens e sim o fato de se tor-
nar pessoa, o que ocorre mediante o ingresso
na chamada Òcomunidade moralÓ. Antes disso,
os zigotos, os embri›es e os fetos (alŽm dos
bebs, dos deficientes mentais e daqueles que
5 Fromm E. ƒtica y psicoan‡lisis. MŽxico: Fondo de Cultura
Econ—mica; 1998: 113. ÒO conceito de pessoa em sentido Žtico
inclui a idŽia de responsabilidade. Trata-se de um fen™meno b‡sico
da existncia humana que Ž indiscut’vel como fato experiment‡vel
da conscincia, qualquer que seja a interpreta‹o metaf’sica que
se possa dar. Ter responsabilidade Ž um privilŽgio e uma carga
da pessoaÓ (Larenz K. Derecho civil. Parte general. Madrid:
Edersa; 1978: 50).
6 ÒO servio a favor da vida deve ser unit‡rio: n‹o pode tolerar
discrimina›es, j‡ que a vida humana Ž inviol‡vel em todas as
suas fases e situa›es; Ž um bem indivis’vel. Trata-se de cuidar
da vida toda e da vida de todosÓ (Jo‹o Paulo II. Evangelium
Vitae, 87).
7 A respeito da teoria que relaciona a aquisi‹o da individualidade
humana ao tempo gestacional, Mori M. A moralidade do aborto.
Bras’lia: UnB; 1997: 55-6.
8 Em defesa da teoria natalista no direito romano, Cretella Jœnior
J. Curso de direito romano. Rio de Janeiro: Forense; 2000:
62. Trabucchi A. Instituciones de derecho civil. Madrid:
Editorial Revista del Derecho Privado; 1967: 79. Salvat RM.
Tratado de derecho civil argentino.Tomo I Buenos Aires:
Editora Argentina; 1954: 244-5. Da Silva Pereira CM.
Institui›es de direito civil Tomo I. Rio de Janeiro: Forense;
1996: 144. Dias JA. Procria‹o assistida e responsabilidade
mŽdica. Coimbra: Coimbra Editora; 1996: 177-80. Messina
de Estrella GutiŽrrez GN. Bioderecho. Buenos Aires: Abeledo-
Perrot; 1998: 46. Em defesa da teoria concepcionista no direito
romano, com fundamento nas pesquisas, dentre outros, de
Almeida SCh e. Tutela civil do nascituro. S‹o Paulo: Saraiva,
2000: 41-7.
9 Engelhardt HT. Fundamentos da bioŽtica. S‹o Paulo: Loyola;
1998: 199, 310. ÒZigotos, embri›es e fetos produzidos em
particular s‹o considerados propriedade particular; seriam
propriedade da sociedade apenas se cooperativas os
produzissemÓ.
198
sofrem do mal de Alzheimer, por exemplo) n‹o
s‹o sen‹o Òobjeto de beneficnciaÓ. Nesse sen-
tido, Òsomente aquelas entidades que podem
consentir em algo, que podem transmitir
autoridade moral em rela‹o a elas mesmas e a
suas posses s‹o denominadas pessoasÓ. Em
conseqŸncia dessa concep‹o discriminat—ria,
existem dois tipos de seres humanos, o
indiv’duo humano/pessoa (ser reflexivo e ma-
nipulador) e o indiv’duo humano/n‹o pessoa
(objeto de reflex‹o e manipula‹o). F‡cil cons-
tatar que o grande erro da teoria de H. Tristram
Engelhardt Jr. consiste em n‹o reconhecer va-
lor intr’nseco ao homem, mas apenas um valor
convencionado pela Òcomunidade moralÓ. Ora,
a conven‹o concernente ao Òindiv’duo huma-
no/n‹o pessoaÓ repousa na confus‹o entre
igualdade e identidade. Dizer que os homens
s‹o iguais n‹o significa dizer que sejam
idnticos. Quando se fala de igualdade se quer
afirmar que todos os homens tm o mesmo va-
lor, a mesma dignidade em raz‹o de sua
qualidade de pessoa. Todavia, a pr—pria idŽia
de pessoa implica a idŽia de singularidade, de
diferena. Se se reconhece a igualdade entre os
homens, isto significa que, sejam quais forem
as diferenas f’sicas ou intelectuais que se
observem, todos tm o mesmo valor e s‹o iguais
em dignidade. Na verdade, Òas pessoas tm o
direito a ser iguais quando a diferena as
inferioriza, e o direito a ser diferentes quando a
igualdade as descaracterizaÓ(4).
TambŽm goza de grande prest’gio cultural,
apesar de cientificamente dŽbil, a teoria da
gesta‹o. Um exemplo de consagra‹o hist—ri-
ca da teoria da Ògesta‹oÓ Ž o caso ÒRoe versus
WadeÓ, decidido em 22 de janeiro de 1973 pela
Suprema Corte norte-americana, oportunidade
em que se declarou a inconstitucionalidade de
uma lei texana que descrevia, de maneira ampla,
o crime de abortamento. Fundada na 14a
Emenda, que tutela a intimidade (privacy), a
decis‹o suprema reconheceu ˆ m‹e o direto in-
condicional de optar entre o abortamento e a
gesta‹o nos primeiros trs meses, posto que
resguardando o critŽrio da saœde materna,
tambŽm para efeito de abortamento, atŽ o sex-
to ms. Nesse contexto, a preocupa‹o com a
existncia do concepto, autorizando a
interven‹o estatal para sua tutela, somente se
admitiu ap—s os seis meses de gesta‹o(5), sob
a justificativa da ÒviabilidadeÓ, pois, desde
ent‹o, Òsup›e-se que o feto tenha a capacidade
de levar uma vida significativa fora do œtero
maternoÓ(6). A teoria da gesta‹o, quando
assume pretensos rigores cient’ficos, ora se fun-
damenta em argumentos monofatoriais, ora se
alicera em argumentos multifatoriais.
Exemplos do primeiro caso s‹o os critŽrios da
atividade unificante do sistema nervoso central,
dapresena do aspecto humano ou da
capacidade de sentir a dor f’sica, que fracionam
a gesta‹o, bem como a existncia do ser hu-
mano, em per’odos temporais fechados. No
segundo caso, todos os critŽrios aludidos devem
se fazer presentes simultaneamente, em dado
tempo gestacional, n‹o se identificando antes
disso o in’cio da existncia humana. Nesta pers-
pectiva a existncia humana deixa de ser uma
constata‹o de natureza substancial e assume
o car‡ter de um c‡lculo matem‡tico: o indiv’duo
humano se identifica com uma soma de
atividades e caracter’sticas. O valor igual de
cada existncia humana, independente do
est‡gio de seu desenvolvimento, perde sentido
e os acentos acidentais e qualidades secund‡rias
s‹o alados ao status de critŽrios capazes de
identificar a individualidade, a despeito da
essncia do ser humano10 . As perigosas
implica›es da teoria da gesta‹o s‹o bastante
evidentes, porque, se a existncia humana se
reduz ˆ verifica‹o de uma espec’fica atividade
ou caracter’stica humana, ou de diversas
atividades/caracter’sticas, torna-se justificada a
discrimina‹o dos seres humanos com base na
verifica‹o ou n‹o destas mesmas atividades
ou caracter’sticas humanas(7).
10 ÒEm tudo aquilo que Ž resultado da natureza humana, adquire-
se primeiro a capacidade e depois produz-se a opera‹o (por
exemplo, no caso dos sentidos, os homens n‹o adquirem os
sentidos por ver ou ouvir muitas vezes, sen‹o o inverso: os
homens os usam porque os tm, n‹o os tm por us‡-los)Ó
(Arit—teles. ƒtica a Nic—maco. Madrid: Centro de estudios
pol’ticos y constitucionales; 1999: 19).
BioŽtica e biodireito: as implica›es de um reencontro - R. Pereira e Silva
199
Acta Bioethica 2002; a–o VIII, n° 2
Outras teorias que discorrem sobre o
alvorecer da vida humana s‹o a da singamia, a
da cariogamia e a do prŽ-embri‹o. Para escla-
recer as duas primeiras11 , Ž importante
relembrar que entre a fertiliza‹o do —vulo e a
concep‹o costuma decorrer um per’odo de
tempo de aproximadamente 12 (doze) horas.
Em defesa da teoria da singamia, Roberto
Andorno entende que alguns estudiosos,
socorrendo-se de argumentos que ele conside-
ra inadequados, tm pretendido retardar o
conceito de Ôconcep‹oÕ ao momento em que
ocorre a fus‹o dos pronœcleos dos gametas
masculino e feminino (cariogamia). Da’ por-
que advoga que desde o momento da penetra‹o
do espermatoz—ide no —vulo se inicia o
Òprocesso irrevers’velÓ de concep‹o de um
novo ser humano, isto Ž, desde a fus‹o das
membranas dos gametas masculino e feminino.
Para a teoria da singamia, antes mesmo da
cariogamia, uma sŽrie de rea›es em cadeia
garante o que se pode denominar de processo
de individualiza‹o/personaliza‹o do
homem(8-15). Assim, a teoria da singamia dis-
tingue-se da teoria da cariogamia na medida em
que admite o prim—rdio da individualidade hu-
mana antes da concep‹o, isto Ž, no exato mo-
mento da fertiliza‹o, que ocorre quando ape-
nas um, de aproximadamente duzentos a
seiscentos milh›es de espermatoz—ides libera-
dos na ejacula‹o, consegue atravessar a zona
pelœcida do —vulo, ap—s passar atravŽs da co-
rona radiata, constitu’da por camadas de cŽlu-
las foliculares que igualmente circundam o
—vulo. Muito embora a teoria da singamia
tambŽm participe das chamadas doutrinas
ÒconcepcionistasÓ, na teoria da cariogamia o
conceito de Òconcep‹oÓ Ž bem mais espec’fi-
co, j‡ que apenas reconhece o in’cio da
existncia humana ap—s a fus‹o dos pronœcleos
masculino e feminino no interior do ovo. Dessa
maneira, a teoria da cariogamia defende que
desde a concep‹o, entendida como a fus‹o dos
pronœcleos dos gametas masculino e feminino,
o que j‡ existe Ž uma vida humana em ato, isto
Ž, um indiv’duo humano dotado de
potencialidade. Rechaa-se, assim, a f—rmula
do Comit Consultivo Francs de ƒtica (Comi-
tŽ Consultatif dՃthique Franais) segundo a
qual o zigoto Ž um indiv’duo humano poten-
cial, ou pura potncia de humanidade(16). Ao
final, Ž necess‡rio alertar para o fato de a teoria
do prŽ-embri‹o distinguir-se das duas anterio-
res na medida em que compreende, a exemplo
da teoria da gesta‹o, a existncia humana
artificialmente fracionada, escorando-se em
argumentos monofatoriais para justific‡-la ape-
nas a partir do 14o dia ap—s a concep‹o.
Diferentemente da teoria da gesta‹o, a teoria
do prŽ-embri‹o prescinde da ocorrncia da
gesta‹o para fundar suas implica›es.
3. A teoria do prŽ-embri‹o
O chamado critŽrio do 14o dia, contido, ori-
ginalmente, em um documento intitulado In-
forme Warnock sobre Fertiliza‹o e
Embriologia (Inquiry Warnock into Human
Fertilisation and Embryology)(17), publicado
no Reino Unido em 1984, no ‰mbito do
chamado Warnock Committee, e depois presen-
te em outros documentos governamentais,
como o relat—rio Waller, do estado de Vit—ria,
na Austr‡lia, tambŽm de 1984(17, p 128-9), e o
Informe Palacios, publicado na Espanha em
198612 , est‡ embasado na teoria do prŽ-embri‹o
ou do Òembri‹o precoceÓ, sendo que suas
motiva›es n‹o comparecem em nenhum tra-
tado de biologia, mas na literatura dedicada ˆs
tecnologias da infertilidade. A principal tese
11 A singamia, tambŽm denominada anfimixia, Ž o evento que
corresponde ˆ uni‹o dos gametas masculino e feminino. A
cariogamia, evento sucessivo, corresponde ˆ fus‹o dos
cariogametas, isto Ž, os pronœcleos masculino e feminino.
Consultar, para maior aprofundamento, Pietro MLdi. Estatuto
ontol—gico do embri‹o humano. In: Cinˆ G, et alli, org.
Dicion‡rio interdisciplinar da Pastoral da Saœde. S‹o Paulo:
Paulus; 1999: 427-9.
12 O Informe Palacios, de 6 de maro de 1986, foi elaborada
pela Comiss‹o Especial de Estudos da Fertiliza‹o in vitro e
da Insemina‹o Artificial Humanas, presidida por Marcelo
Palacios Alons. A respeito, Mateo RM. BioŽtica y derecho.
Barcelona: Ariel; 1987: 145.
200
dessa teoria Ž que o zigoto humano, ainda que
express‹o da natureza humana, n‹o Ž um
indiv’duo humano em ato, mas apenas uma
cŽlula progenitora humana dotada da
potencialidade para gerar um ou mais
indiv’duos da espŽcie humana. Sujeito ˆs de-
mandas do mercado econ™mico globalizado, o
estatuto da vida Ž ent‹o relativizado. Trata-se
de uma postura manifestamente ideol—gica, haja
vista que promove a subordina‹o inconfessa
de uma posi‹o te—rica a uma postura pr‡tica,
n‹o tendo outro objetivo sen‹o legitimar a
manipula‹o de seres humanos(18-21). Mary
Warnock, em manifesta defesa da manipula‹o
de seres humanos, chega a argumentar que,
Òuma vez que n‹o h‡ qualquer indiv’duo sendo
sacrificado, a utiliza‹o de Ôembri›es precocesÕ
para pesquisa Ž pass’vel de ser justificadaÓ(22).
A idŽia de dura‹o, exposta na introdu‹o deste
estudo, Ž tambŽm expressamente rechaada
pela teoria do prŽ-embri‹o. Recorrendo-se ˆ
doutrina de Pierre Teilhard de Chardin, pode-
se classificar tal teoria de prŽ-moderna, porque
Òo que faz um homem ÔmodernoÕ, e como tal o
classifica (e, nesse sentido, uma multid‹o de
contempor‰neos n‹o s‹o ainda modernos), Ž ter-
se tornado capaz de ver, n‹o s— no espao, n‹o
s— no tempo, mas igualmente na dura‹o13 ; e Ž
tambŽm, alŽm disso, achar-se incapaz de nada
ver de outra maneira - nada - a comear por ele
pr—prioÓ(23). Em sendo Òa dura‹o um fluido
cont’nuo sem partes separ‡veisÓ, imposs’vel
segmentar no ciclo vital do homem est‡gios que
n‹o participem da mesma natureza humana.
Desse modo, a defini‹o de prŽ-embri‹o, cuja
defesa por Mary Warnock motiva a obje‹o ˆ
idŽia de dura‹o, repousa no pressuposto de que
antes do advento do humano existe uma
realidade prŽ-humana no universo de Òuma
sŽrie sucessiva de maneiras de ser de um ser
œnicoÓ. Se Òa vida n‹o opera por intermitncias,
ela empurra para diante toda sua trama ao
mesmo tempoÓ(23, p.176). Muitas, entretanto,
s‹o as motiva›es que visam a justificar o
critŽrio do 14o dia, que alguns tambŽm
identificam com o critŽrio da nida‹o(24).
Dentre elas, destacam-se:a) ap—s o 14o dia n‹o
Ž mais poss’vel a forma‹o de gmeos
monozig—ticos; b) somente ap—s o 14o dia o
concepto perde a qualidade de totipotncia; e
c) em torno do 14o dia aparece a linha primiti-
va no concepto, como que o signo de um novo
ser humano(22, p.35-52)(25-27). Expor-se-‹o
todas as motiva›es, na seqŸncia apresentada,
com as correspondentes argumenta›es, para
somente ap—s, de maneira conclusiva, critic‡-
las.
No que diz respeito ˆ gera‹o de gmeos
monozig—ticos (a), Ž importante ressaltar que
ainda n‹o s‹o conhecidas as causas naturais da
cis‹o gemelar. Ora se defende a predisposi‹o
genŽtica, ora apontam-se os fatores ambientais.
Artificialmente, a cis‹o gemelar pode ser reali-
zada por micromanipula‹o no zigoto e nas
primeiras cŽlulas decorrentes de sua clivagem.
Dessa forma, para a teoria do prŽ-embri‹o,
enquanto for poss’vel a gera‹o de gmeos
monozig—ticos, n‹o h‡ que se falar em
individualidade humana. Norman Ford
exemplifica a tese: suponha-se que o zigoto
origin‡rio, de nome Jo‹o, tenha conservado a
pr—pria individualidade no curso do processo
de gera‹o de um outro indiv’duo
geneticamente idntico, de nome Pedro. Com
a cis‹o gemelar, Jo‹o se reduz pela metade,
ficando Jo‹o e Pedro com a mesma identidade
genŽtica. O problema que se apresenta est‡ na
impossibilidade de estabelecer critŽrios objeti-
vos que permitam, ap—s a cis‹o gemelar, dizer
qual dos dois Ž Jo‹o. Assim, para a teoria do
prŽ-embri‹o, antes do 14o dia ap—s a concep‹o
n‹o se pode falar em continuidade ininterrupta
de uma mesma vida humana. A possibilidade
da cis‹o gemelar representa uma fratura na alu-
dida continuidade, impondo a conclus‹o que
Òo zigoto Ž um indiv’duo humano em potncia,
mas n‹o um indiv’duo humano em atoÓ(6,
p.166-7)(25, p.184-90). AlŽm disso, somente
ap—s o 14o dia, a contar da concep‹o humana,
h‡ perda da qualidade celular de totipotncia13 ÒOu, o que vem a dar no mesmo, no espao-tempo biol—gicoÓ.
BioŽtica e biodireito: as implica›es de um reencontro - R. Pereira e Silva
201
Acta Bioethica 2002; a–o VIII, n° 2
(b). Escorada neste dado, a teoria do prŽ-
embri‹o tambŽm entende que n‹o se pode falar
em individualidade genŽtica enquanto a
totipotncia, que caracteriza o zigoto e as
primeiras cŽlulas decorrentes de sua clivagem,
n‹o for superada pela especializa‹o. Isto por-
que, antes de definidas as cŽlulas que formar‹o
o embri‹o propriamente dito, ou os embri›es
monozig—ticos, e as cŽlulas que se destinar‹o
ˆs estruturas extra-embrion‡rias, que servem ˆs
necessidades de seu desenvolvimento, n‹o Ž
poss’vel falar em vida humana em ato. Para a
teoria do prŽ-embri‹o, somado ˆ possibilidade
da cis‹o gemelar, o per’odo de indiferencia‹o
celular veda o reconhecimento da
individualidade humana. Nesse sentido, Ž
necess‡ria significativa multiplica‹o celular e
v‡rios dias ap—s a concep‹o para que a
individualidade biol—gica seja determinada. A
perda da totipotncia assinala que a
potencialidade se torna restrita precisamente
porque intervŽm a individualiza‹o espŽcie-
espec’fica, isto Ž, porque j‡ est‡ formado um
indiv’duo pluricelular distinto. Uma vez forma-
do o indiv’duo humano em ato, n‹o h‡ mais
raz‹o para a potencialidade para gerar um ou
mais indiv’duos(25, p.241-2). Por fim, tambŽm
Ž mister lembrar que a partir da fertiliza‹o pode
ocorrer a n‹o potencializa‹o de um indiv’duo
humano, mas uma forma‹o tumoral como o
coriocarcinoma. Desta maneira, somente a par-
tir do 14o dia ap—s a concep‹o, com o
aparecimento da linha primitiva (c) que
assegura a organiza‹o espacial da simetria
humana, a teoria do prŽ-embri‹o considera
poss’vel afirmar o in’cio de uma vida biol—gica
em desenvolvimento(28). Em outras palavras,
quando as cŽlulas do epiblasto, graas ˆ linha
primitiva, organizam uma estrutura corp—rea de
simetria bilateral definitiva, h‡ a forma‹o de
um indiv’duo humano, j‡ que este n‹o pode
existir sem um corpo humano definitivo. Depois
do est‡gio da linha primitiva, a possibilidade
da cis‹o gemelar Ž praticamente nula, em raz‹o
da gera‹o de um indiv’duo em ato e porque
n‹o h‡ mais cŽlulas capazes de gerar outros
indiv’duos. Para a teoria do prŽ-embri‹o, Ònas
vicissitudes das duas primeiras semanas que se
seguem ˆ concep‹o se deve ver n‹o o
desenvolvimento do ser humano, mas um
processo de s’ntese da individualidade, pois, atŽ
o aparecimento da linha primitiva, as cŽlulas,
multiplicando-se, n‹o fazem outra coisa sen‹o
sintetizar um indiv’duo humanoÓ(25, p.250-65).
4. A teoria da cariogamia
Para este estudo, a teoria que melhor escla-
rece o alvorecer da vida humana Ž a da
cariogamia14 . Com efeito, a concep‹o, que Ž
o in’cio do desenrolar de toda a jornada do
homem, Ž precedida pela fertiliza‹o, que
ocorre quando apenas um, de aproximadamen-
te duzentos a seiscentos milh›es de
espermatoz—ides liberados na ejacula‹o,
consegue atravessar a zona pelœcida do —vu-
lo15 . N‹o se sabe ao certo quanto tempo os
14 A maior parte da doutrina especializada utiliza erroneamente
o conceito de singamia para definir o fen™meno da cariogamia.
O relat—rio 15/CNECV/95, do Conselho Portugus de ƒtica
para as Cincias da Vida, por exemplo, assevera, no seu item
10, que Òo princ’pio de uma nova vida humana Ž a singamia,
ou seja, a fus‹o dos dois pronœcleos (de origem materna e de
origem paterna), e n‹o a penetraˆo do espermatoz—ide no
—vuloÓ. No mesmo err™neo sentido, Zegers Hochschild F.
Reflexiones sobre los inicios del individuo humano [Sitio en
Internet] Disponible en: http://www.uchile.cl/bioetica/doc/
refini.htm Acceso en out 2002. Honnefelder L. Naturaleza y
status del embri—n. Aspectos filosoficos. Cuadernos de
bioetica Madrid 1997; VIII; 31: 1045-6. Lobato A. Os direitos
humanos e o direito ˆ vida: por uma carta dos direitos do
embri‹o. In: Ladus‹ns S, org. Quest›es atuais de bioŽtica.
S‹o Paulo: Loyola; 1990: 353. Monge F. Persona humana y
procreaci—n artificial. Madrid: MC; 1988: 43. PŽrez B.
Personalidad del nasciturus extracorporis. Peri—dico Salte–o
Independente [Sitio en nternet] Disponible en: http://
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Rager G. Embrion-hombre-persona. Acerca de la cuestion del
comienzo de la vida personal. Cuadernos de bioetica Madrid
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umano? I dati della scienza. In: Sgreccia E, Pietro Mldi, org.
Bioetica ed educazione. Milano: Editrice La Scuola; 1997:
140-2. Siqueira Mde. O in’cio da vida e a medicina atual. In:
Penteado JdeC et alli, org. A vida dos direitos humanos.
BioŽtica mŽdica e bioŽtica jur’dica. Porto Alegre: SŽrgio
Fabris Editor; 1999: 337-45. Testart J. O ovo transparente.
S‹o Paulo: Edusp; 1995: 76.
15 Antes de o espermatoz—ide penetrar na zona pelœcida,
conforme acima descrito, ele passa atravŽs da corona radiata,
constitu’da por camadas de cŽlulas foliculares que circundam
o —vulo.
202
espermatoz—ides levam para atingir o s’tio de
fertiliza‹o. Calcula-se que o tempo de trans-
porte varie entre 5 (cinco) e 45 (quarenta e cin-
co) minutos. No —vulo, que passa a se chamar
ovo ap—s a fertiliza‹o, desencadeiam-se duas
importantes rea›es: uma imediata, na zona
pelœcida, que impede a penetra‹o de mais de
um espermatoz—ide; e outra mediata, na
estrutura metab—lica do ovo, constituindo o
ponto de partida da embriognese16 . Ao mesmo
tempo em que a rea‹o de zona se desdobra,
ocorre a fus‹o das membranas plasm‡ticas do
—vulo e do espermatoz—ide, assegurando que a
cabea, o colo e a cauda deste, liberados de sua
membrana, ingressem no citoplasma daquele.
Em seguida, no centro do ovo, o dote genŽtico
materno organiza-se em uma etapa denomina-
da pronœcleo. TambŽm o dote genŽtico paterno
constante da cabea do espermatoz—ide, ap—s
desembaraar-se de seus colo e cauda, que se
degeneram no citoplasma do ovo, migra para o
centro deste, organizando-se em pronœcleo. Ali
os pronœcleosficam lado a lado, cada qual cir-
cundado por uma membrana nuclear, e o pater-
no incha atŽ alcanar o tamanho do materno.
Os gametas masculino e feminino, porque s‹o
cŽlulas da linhagem germinativa, possuem o
complemento hapl—ide ou n (23 cromossomos).
Quando os pronœcleos materno e paterno se
aproximam, perdem suas membranas e se
fundem, compondo o complemento dipl—ide ou
2n (46 cromossomos) do zigoto, Ž que se deve
falar da concep‹o de um novo ser humano(21,
p.7)(29,30). Sabendo-se que do momento do
encontro do espermatoz—ide com o —vulo atŽ a
gera‹o do zigoto transcorre um per’odo de
tempo de aproximadamente 12 (doze) horas,
apenas ap—s esse per’odo Ž que se deve falar da
concep‹o de uma vida humana geneticamente
distinta da dos genitores(5, p. 371-2). Eis aqui
a grande diferena em rela‹o ˆ teoria da
singamia. Em suma, a cariogamia consiste na
dissolu‹o das membranas que cobrem os
pronœcleos, permitindo a fus‹o da informa‹o
genŽtica contida em duas parcialidades com
identidades diferentes para formar um todo
novo17 .
Angelo Serra fundamenta a teoria da
cariogamia em quatro argumentos
cientificamente comprovados: a) a fus‹o dos
pronœcleos materno e paterno inicia a existncia
uma nova cŽlula som‡tica dotada de uma tal
estrutura que lhe confere identidade espec’fica
e individual; b) essa nova cŽlula humana
comea imediatamente a agir como uma
unidade individual, a qual, dadas as condi›es
necess‡rias e suficientes, tende ˆ gradual e com-
pleta express‹o do plano organizado inscrito no
seu pr—prio dote genŽtico, mediante um
complexo, cont’nuo e altamente coordenado
processo de desenvolvimento; c) essa express‹o
se manifesta numa totalidade corp—rea que se
organiza autonomamente, isto Ž, por foras in-
tr’nsecas, atŽ a forma‹o de um organismo com-
pleto; e d) assim, a nova cŽlula humana que se
constitui na fus‹o dos pronœcleos materno e
paterno representa a estrutura original de um
novo homem, com o que comea seu pr—prio
ciclo vital(31,32). Os gametas masculino e
feminino e os cromossomos presentes em seus
pronœcleos, que s‹o apenas agentes do processo
reprodutivo, devem morrer enquanto tais para
dar origem a um todo novo e completo, capaz
16 ÒA fertiliza‹o causa a ativa‹o metab—lica do —vulo, necess‡ria
para que ocorra a clivagem e o desenvolvimento embrion‡rio
subseqŸenteÓ. (Carlson BM. Embriologia humana e biologia
do desenvolvimento. S‹o Paulo: Guanabara Koogan; 1996: 29).
Cf. tambŽm, Testart J. O ovo transparente. S‹o Paulo: Edusp;
1995: 85.
17 Zegers Hochschild F. Consideraciones mŽdicas e implicancias
Žtico legales de la reproducci—n asistida en Chile [Sitio en
Internet] Disponible en: http://www.uchile.cl/bioetica/doc/
repasis.htm Acceso em out. 2002. Chor‹o MB. Concep‹o
realista da personalidade jur’dica e estatuto do nascituro.
Revista brasileira de direito comparado 1999; Rio de Janeiro,
Instituto de Direito Comparado Luso-Brasileiro; 17: 282. Em
reuni‹o plen‡ria, realizada em 22 de fevereiro de 1987, a
Congrega‹o para a Doutrina da FŽ, da Igreja Cat—lica
Apost—lica Romana, aprovou instru‹o em que afirma que
no zigoto, logo ap—s a fertiliza‹o, j‡ est‡ constitu’da a
identidade biol—gica de um novo indiv’duo humano, definindo
o zigoto como Òa cŽlula resultante da fus‹o dos nœcleos dos
dois gametasÓ (Ratzinger J. Congrega‹o para a doutrina da
fŽ. Instru‹o sobre o respeito ˆ vida nascente e a dignidade
da procria‹o. S‹o Paulo: Paulinas; 1987: 21.)
BioŽtica e biodireito: as implica›es de um reencontro - R. Pereira e Silva
203
Acta Bioethica 2002; a–o VIII, n° 2
de converter-se em um homem ou em uma
mulher. Em outras palavras, a cariogamia pode
ser identificada com o processo de morte de
dois genomas incompletos e de gera‹o de um
genoma completo. Trs propriedades
fundamentais decorrem do genoma formado
com a cariogamia: a) a identidade
especificamente humana do concepto, uma vez
que seu genoma n‹o deriva sen‹o da fus‹o de
dois genomas humanos; b) a identidade indivi-
dual do concepto, porque seu genoma o distin-
gue de todos os outros zigotos humanos; e c) a
dota‹o de um plano-programa que garante ao
concepto a plena potencialidade (n‹o pura
possibilidade) para a realiza‹o gradual de sua
humanidade(32, p.130). O Conselho Portugus
de ƒtica para as Cincias da Vida tambŽm deli-
mita as fronteiras da teoria da cariogamia, acen-
tuando que Òcerto Ž o princ’pio de que uma nova
vida humana Ž marcada pela concep‹o,
devendo entender-se por esta a (cariogamia),
ou seja, a fus‹o dos dois pronœcleos (de origem
materna e paterna) e n‹o a penetra‹o do
espermatoz—ide no —vuloÓ. E lembra que essa
Òdistin‹o n‹o Ž irrelevante, antes tem
import‰ncia pr‡tica, porque, se aceita, permite
a realiza‹o de experincias no —vulo, mesmo
que penetrado pelo espermatoz—ide (p. ex., ap—s
a micromanipula‹o), dado que, na ausncia de
fus‹o dos pronœcleos, n‹o se pode falar em
desenvolvimento de um ser humanoÓ18 .
5. Trs teses que fundamentam a fragilidade
da teoria do prŽ-embri‹o
5.1. O genoma humano Ž especificamente
individual desde a concep‹o
A teoria do prŽ-embri‹o defende que atŽ o
14o dia ap—s a concep‹o humana n‹o existe
individualidade, considerando-se que o termo
latino individuus Ž a tradu‹o do termo grego
atomos, que significa indivis’vel. Assim,
indiv’duo Ž aquele que n‹o Ž pass’vel de divis‹o
e que, se dividido, morre ou se dissolve. Nesse
sentido, havendo a potencialidade gemelar na
concep‹o humana, n‹o seria correto afirmar
que desde ent‹o o homem disp›e de um genoma
humano especificamente individual(33). A
teoria da cariogamia, por seu turno, comprova
que tal obje‹o somente teria valor cient’fico
caso se demonstrasse que a divis‹o do zigoto
dissolve ou, de algum modo, aniquila sua
unidade org‰nica original; o que, como Ž sabi-
do, n‹o ocorre. Os dados da embriologia
esclarecem que a separa‹o dos blast™meros ou
a divis‹o do embri‹o, desde que acontea entre
60 horas e 15 dias ap—s a fertiliza‹o, possibilita
a forma‹o de gmeos monozig—ticos19 . No
entanto, segundo Angelo Serra, em havendo a
gemelidade monozig—tica, h‡ sempre um
primeiro (primo) do qual se origina um segun-
do (secondo). N‹o se trata, ao invŽs, de um
(uno) n‹o definido que encerra em si, de modo
confuso, um outro (un altro), tornado-se, em
dado momento, dois (due)20 . Na mesma linha
de racioc’nio Ž de todo cab’vel perguntar: Òse
no futuro pr—ximo for poss’vel clonar um ser
humano adulto a partir de suas cŽlulas
som‡ticas, significar‡ isto a necessidade de se
reconsiderar sua individualidade?Ó(13, p.1069)
18 ÒA vida humana Ž inviol‡vel, estatui exemplarmente a
Constitui‹o da Repœblica Portuguesa no seu artigo 24. Sendo
assim, e se se afigura imposs’vel negar a existncia de uma
nova vida humana desde a (cariogamia), o concepto n‹o
poder‡ ser objeto de qualquer experimenta‹o que conduza,
ou possa conduzir, ˆ sua destrui‹oÓ (Relat—rio sobre a
experimenta‹o no embri‹o - 15/CNECV/95. Conselho
Portugus de ƒtica para as Cincias da Vida. 4 out. 1995).
19 ƒ bem verdade que a gemelidade ocorre mais comumente entre
o terceiro e o oitavo dias depois da concep‹o e que as
caracter’sticas do fen™meno deixam claro, tambŽm, que Ž
poss’vel ocorrer mais de uma subdivis‹o p—s-zig—tica,
originando mais de dois indiv’duos.
20 Serra A. Chi o che cosa  lÕembrione umano? I dati della
scienza. In: Sgreccia E, Pietro Mldi, org. Bioetica ed
educazione. Milano: Editrice La Scuola; 1997: 141. ÒExibem-
se partes de uma lombriga, cada qual regenerando a sua cabea
e vivendo da’ or diante como outros tantos indiv’duos
independentes; uma hidra cujos pedaos tornam-se outras
tantas hidras novas; um ovo de ourio do mar cujos fragmentos
desenvolvem embri›es completos: onde pois estava a
individualidade do ovo? E da hidra ou do verme? ƒ o que se
costuma perguntar. Mas pelo fato de que haja agora v‡rias
individualidades n‹o se segue quen‹o tenha havido uma
individualidade peculiar pouco antesÓ (Bergson H. A evolu‹o
criadora. Rio de Janeiro: Zahar; 1979: 23).
204
Em outro contexto, a teoria do prŽ-embri‹o
alinha argumentos tambŽm para negar ao con-
cepto a qualidade de indiv’duo em ato:
Òquando se afirma que uma coisa X Ž poten-
cialmente uma coisa Y, entende-se que X n‹o
Ž Y, mesmo se possui a capacidade intr’nseca
de se tornar YÓ(33, p.43). Ora, a tese acerca
da ausncia de individualidade no concepto Ž
contraditada pelos seus pr—prios argumentos.
Esclarea-se: se o genoma humano
especificamente individual (X) possui a
potencialidade da divis‹o (Y), entende-se que
a individualidade (X) n‹o Ž divisibilidade (Y),
mesmo se possui a capacidade intr’nseca de
se dividir. O fato de que o zigoto contŽm a
informa‹o genŽtica necess‡ria e suficiente
para determinar - durante o per’odo de
totipotncia das cŽlulas decorrentes de sua
clivagem - o desenvolvimento n‹o apenas de
uma mas, eventualmente, de individualidades
gmeas, significa que a cada um dos gmeos
monozig—ticos deve ser reconhecida a plena
individualidade desde sua constitui‹o
genŽtica: o primeiro deles no momento mesmo
da concep‹o e o outro, ou os demais, no mo-
mento da cis‹o gemelar21 .
Para a teoria da cariogamia, a perda da
totipotncia no curso das primeiras fases do
desenvolvimento humano n‹o fornece ao
zigoto a qualidade de autntico indiv’duo.
Analogamente, a fus‹o de dois zigotos na fase
de totipotncia, da qual pode derivar uma s—
individualidade, Ž interpretada como a morte
de um zigoto, terminado seu brev’ssimo ciclo
vital, sem que isto altere a individualidade j‡
subsistente do outro zigoto22 . Os adeptos da
teoria do prŽ-embri‹o, por seu turno, tambŽm
defendem que, antes de definidas as cŽlulas que
formar‹o o embri‹o propriamente dito, ou os
embri›es monozig—ticos, e as cŽlulas que se
destinar‹o ˆs estruturas extra-embrion‡rias, que
servem ˆs necessidades de seu
desenvolvimento, n‹o Ž poss’vel falar em
indiv’duo humano em ato. Ora, o
desenvolvimento embrion‡rio Ž essencialmente
um processo de crescimento e de progressiva
complexidade de estrutura e de fun‹o. O
crescimento, realizando-se atravŽs de mitoses
juntamente com a produ‹o de matrizes extra-
embrion‡rias, e a complexidade, resultando da
morfognese e da diferencia‹o, fazem desse
conjunto celular um sistema org‰nico. Um sis-
tema org‰nico, segundo GŸnter Rager, Òpreci-
samente se caracteriza porque o todo Ž mais do
que a soma de suas partesÓ(34). Da’ porque,
conforme demonstra a teoria da cariogamia,
despropositada Ž a inten‹o de querer apreender
a individualidade humana dando-se nfase a
uma l—gica meramente anal’tica (como o
aparecimento da linha primitiva), j‡ que seus
resultados n‹o denotam sen‹o o
descompromisso com a compreens‹o da
totalidade e a ignor‰ncia da divis‹o biol—gica
do trabalho23 . Max Scheler, cuja doutrina
alicera o chamado pensamento forte, acentua
que n‹o Ž necess‡rio um ser permanente que se
conserve o mesmo na sucess‹o do tempo para
assegurar Òa identidade da pessoa individualÓ.
A identidade reside exclusivamente na dire‹o
qualitativa desse Òpuro tornar-se outroÓ na vida
de um mesmo indiv’duo. Desta maneira, care-
21 ÒPode ser certo que n‹o necessariamente haja uma pessoa
humana a partir da forma‹o do genoma. No entanto, disto
n‹o se segue que n‹o haja pessoa humana, j‡ que poderia n‹o
existir apenas uma, mas duas pessoas humanas, com o que o
estatuto do concepto antes das duas primeiras semanas ap—s
a concep‹o daria lugar a um duplo respeito. Assim, a
existncia de gmeos monozig—ticos refora o critŽrio da
forma‹o do genoma como o ponto de partida biol—gico da
pessoa humanaÓ (Mart’nez Barrera J. Los fundamentos de la
bioŽtica de H. Tristram Engelhardt. Sapientia 1997; 202: 314).
22 Barberio Corsetti L, et alli. Per noi lÕembrione  giˆ un
uomo. Associazione Medici Cattolici Italiani — Sezione di
Ferrara [Sitio en Internet] Disponible en: http://
www.comune.ferrara.it/mm/amci/orizz01.htm. Acceso em
out. 2002.
23 Ora, Òo sistema nervoso nasce, como os demais sistemas, de
uma divis‹o do trabalho. Ele n‹o cria a fun‹o; ele apenas a
eleva a grau mais alto de intensidade e precis‹o ao lhe dar a
dupla forma de atividade reflexa e de atividade volunt‡riaÓ.
Comparativamente, n‹o se pode declarar um animal incapaz
de nutrir-se por n‹o ter est™mago. Cf. Bergson H. A evolu‹o
criadora. Rio de Janeiro: Zahar; 1979: 103.
BioŽtica e biodireito: as implica›es de um reencontro - R. Pereira e Silva
205
Acta Bioethica 2002; a–o VIII, n° 2
ce de sentido pretender apreender a Òpessoa
individualÓ em suas vivncias isoladas, porque
ela realiza sua existncia precisamente vivendo
suas poss’veis vivncias(35).
5.2. O genoma humano Ž unit‡rio desde a
concep‹o
O genoma humano, em sua forma dipl—ide,
consiste em aproximadamente trs bilh›es de
pares de bases nitrogenadas organizados
linearmente em 23 pares de cromossomos. Pe-
las estimativas atuais, o genoma humano
contŽm 30.000 (trinta mil) a 40.000 (quarenta
mil) genes. Desde a concep‹o o ser humano
disp›e de um genoma humano unit‡rio, isto Ž,
que Ž idntico ao do adulto que h‡ de ser. N‹o
existem diferenas na composi‹o genŽtica do
concepto e do indiv’duo adulto. Nenhuma outra
informa‹o genŽtica Ž adicionada, nem
subtra’da, para que o concepto se desenvolva
atŽ a fase adulta. Porque toda a informa‹o
genŽtica necess‡ria para autocomandar o
desenvolvimento do zigoto, do embri‹o, do
feto, do recŽm-nascido, da criana, do adoles-
cente e do adulto, est‡ presente desde a
concep‹o do ser humano (genoma humano),
Ž poss’vel afirmar que: a) existe identidade
genŽtica absoluta em todas as cŽlulas som‡ticas
do organismo humano e entre estas e a cŽlula
som‡tica inicial, o zigoto; e b) o zigoto tem o
projeto e a auto-suficincia para, interagindo
com o ambiente, constituir um ser humano adul-
to24 . N‹o se deve esquecer, a este respeito, que
o pr—prio relat—rio final do Warnock Committee,
a que muitos se referem como o substrato cien-
t’fico da teoria do prŽ-embri‹o, expressamente
afirma em seu cap’tulo 11 que a divis‹o do
processo de desenvolvimento humano em
espaos temporais Ž bastante cr’tica, j‡ que, uma
vez iniciado tal processo, n‹o existe um est‡gio
particular que seja mais importante que o outro;
todos s‹o parte de um processo cont’nuo e, se
algum n‹o se realiza em seu justo tempo e na
seqŸncia exata, o desenvolvimento ulterior
cessa. Logo, de um ponto de vista biol—gico,
n‹o se pode identificar um œnico est‡gio do
desenvolvimento em que a vida humana n‹o
merea prote‹o25 . Da’ porque, para a teoria
da cariogamia, o concepto n‹o Ž um ser huma-
no em potncia, em potncia Ž apenas o
desenvolvimento humano. Nesse particular,
convŽm esclarecer a diferena substancial en-
tre a mera possibilidade de converter-se em um
ser humano e a capacidade atual de desenvol-
ver-se, relativa a um ser humano que j‡ existe e
cujo potencial de desenvolvimento Ž intr’nse-
co a ele mesmo. Em verdade, o potencial que
pertence a um indiv’duo humano em
desenvolvimento est‡ determinado pela sua
pr—pria natureza de indiv’duo humano. Em
outras palavras, Òum ser humano, nas diversas
etapas de seu desenvolvimento, n‹o Ž, por sua
natureza, um algo que se converte em alguŽm,
sen‹o que Ž alguŽm desde o in’cio de seu
desenvolvimentoÓ(36).
O processo de desenvolvimento humano,
que se inicia no est‡gio de zigoto, apresenta trs
caracter’sticas fundamentais: a) a coordena‹o,
que se manifesta num processo integrado de
atividades nos planos molecular e celular; b) a
continuidade, que permite compreender a vida
como uma unidade que se desdobra de um
est‡gio mais simples para outro mais complexo
num mesmo ciclo ininterrupto, pois qualquer
interrup‹o caracteriza a patologia ou a morte;
e c) a gradualidade, que evidencia a existncia
de uma regula‹o intr’nseca,inscrita no pr—prio
genoma, assegurando ao ser humano a
aquisi‹o de sua forma final(32, p.138-9). Ora,
se a inser‹o de um indiv’duo em uma dada
24 Cf. De Souza e Azevdo EE. Aborto. In: Garrafa V, Ibiapina
Ferreira Costa S, org. A bioŽtica no sŽculo XXI. Bras’lia: UNB,
2000: 87-8. No mesmo sentido, Rager G. Embrion-hombre-
persona. Acerca de la cuestion del comienzo de la vida
personal. Cuadernos de bioetica Madrid 1997; VIII; 31: 1052.
25 Department of Health and Social Security, 1984. Cf. Serra A.
Chi o che cosa  lÕembrione umano? I dati della scienza. In:
Sgreccia E, Pietro Mldi, org. Bioetica ed educazione. Milano:
Editrice La Scuola; 1997: 140.
206
espŽcie Ž determinada precisamente pela
informa‹o genŽtica contida em suas cŽlulas,
em se tratando da espŽcie humana o conjunto
dessas informa›es firma-se no exato momen-
to da fus‹o dos pronœcleos materno e paterno.
Assim, a convic‹o de que o ser humano disp›e
de um genoma unit‡rio desde a concep‹o ape-
nas reafirma a compreens‹o do ciclo vital como
o desdobrar cont’nuo e gradual de uma
totalidade coordenada. Com efeito, na idŽia de
dura‹o fica evidente que Ž desprovida de sen-
tido a distin‹o entre o ÒantesÓ e o ÒdepoisÓ,
pressuposta pela teoria do prŽ-embri‹o, j‡ que
em cada etapa da existncia humana o todo se
faz expressar potencialmente. Em passagens
primorosas de sua obra filos—fica, Henri
Bergson ensina que Òas propriedades vitais
jamais est‹o inteiramente realizadas, mas
sempre em vias de realiza‹o; s‹o menos esta-
dos do que tendncias. E uma tendncia s—
obtŽm tudo a que visa se n‹o for contrariada
por outra tendncia qualquerÓ. Na an‡lise da
vida humana antes do nascimento pode-se cons-
tatar o rigor da li‹o acima declinada j‡ que Òo
desenvolvimento do embri‹o Ž uma perpŽtua
mudana de forma e quem queira observar to-
dos os seus aspectos sucessivos h‡ de perder-
se num infinito, como acontece quando se lida
com uma continuidadeÓ(2, p.22-85).
5.3. A autonomia biol—gica existe desde a
concep‹o
Esta terceira tese est‡ para alŽm das obje›es
pontuais da teoria do prŽ-embri‹o. No entanto,
Ž importante explicit‡-la em apoio ˆ teoria da
cariogamia. Costuma-se afirmar que o concep-
to, nas entranhas maternas, n‹o possui
individualidade alguma, sendo apenas uma par-
te da mulher. Trata-se, em verdade, de ila‹o
doutrin‡ria decorrente da n‹o compreens‹o da
autonomia em sentido biol—gico. Robert
Spaemann esclarece que, desde a concep‹o,
existe um indiv’duo da espŽcie humana, distin-
to do organismo da m‹e, recorrendo ao processo
cont’nuo de seu pr—prio desenvolvimento(37).
A intimidade entre a m‹e e o filho n‹o implica
perda da autonomia de um ou de outro26 . Dada
sua autonomia biol—gica para prover o pr—prio
desenvolvimento, o concepto pode inclusive
desencadear uma resposta ant’geno-anticorpo
no organismo materno. Um dos melhores
exemplos desse fen™meno Ž a enfermidade
hemol’tica perinatal por incompatibilidade do
grupo sangŸ’neo Rh, quando a concep‹o de
um indiv’duo Rh positivo induz a forma‹o de
anticorpos na m‹e Rh negativa, produzindo
naquele uma subst‰ncia qu’mica chamada
bilirrubina(38). Ademais, n‹o se deve esquecer
que as tŽcnicas de fertiliza‹o extracorp—rea
igualmente demonstram que o concepto tem
autonomia para engendrar sua placenta e prover
seu desenvolvimento atŽ mesmo em œteros
emprestados, isto Ž, tem autonomia de
desenvolvimento independentemente da
maternidade biol—gica. N‹o tem sentido algum
distinguir, em um mesmo ser humano, a vida
org‰nica da vida humana, porque, desde quando
h‡ vida em sentido individual e unit‡rio, se tra-
ta da vida de um homem(7, p.43). Nada se tor-
na humano se j‡ n‹o o Ž desde ent‹o(39).
Embora necessite do ventre materno para o
desenvolvimento das primeiras etapas do seu
ciclo vital, n‹o se deve subestimar que a
necessidade da m‹e para o novo ser humano, e
n‹o apenas dela, permanece com grande
intensidade ainda nos primeiros anos ap—s o
nascimento e, de maneiras muito diversas, ao
longo de toda a vida. Ao contr‡rio de outros
mam’feros, o homem nasce necessitando dos
cuidados constantes de outro homem para n‹o
sucumbir(40). Nesse sentido, Òo homem Ž o
animal que nasce com menor autonomia na es-
cala zool—gicaÓ(38, p.220). As rela›es com
26 ÒO amor Ž interdependncia. N‹o se pode amar na dependncia,
nem na independncia. O amor de dependncia Ž mesquinho,
dominador, reduz-se a uma letal comodidade. Amar
independentemente Ž ignorar o outro, Ž ficar alienado no
pr—prio desejo. Uma independncia que termina em
indiferena. O amor de interdependncia Ž o amor de
plenitude, medular com todas as letras. A sincronia que permite
conviver com o outro para produzir juntos a diferena, increver
o novo na temporalidadeÓ (Warat LA. A cincia jur’dica e
seus dois maridos. Santa Cruz do Sul: Edunisc; 2000: 116).
BioŽtica e biodireito: as implica›es de um reencontro - R. Pereira e Silva
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Acta Bioethica 2002; a–o VIII, n° 2
outras pessoas alŽm da m‹e, que ganha espao
da primeira inf‰ncia em diante, mediante uma
variedade de formas, tambŽm ajudam o ser
humano a exprimir mais completamente suas
potencialidades. Tudo isto, entretanto,
pressup›e a presena de uma individualidade
humana - n‹o a constitui enquanto tal.
6. Considera›es finais
Importante implica‹o do reencontro do
direito com a Žtica, que favorece a compreens‹o
do fen™meno humano, Ž a convic‹o de que,
entre indiv’duo e pessoa, n‹o cabe a distinctio
per oppositionem, pois ambos se acham reuni-
dos no mesmo homem, como duas
qualifica›es, como duas foras. Com efeito, a
unidade original entre os conhecimentos sobre
o in’cio da existncia humana e a compreens‹o
Žtica da qualidade de pessoa encontra funda-
mento em duas raz›es interdependentes: 1a) o
indiv’duo humano, inserido no ‰mbito da
humanidade, somente possui significado vital
na realidade ontol—gica da pessoa; e 2a) a pessoa
humana, em sua singularidade existencial e
enquanto ser em rela‹o, n‹o existe sen‹o
imersa em uma individualidade biol—gica. Cada
indiv’duo humano Ž express‹o simult‰nea de
si mesmo e da humanidade, raz‹o pela qual a
pessoa, que se encontra na essncia de toda
individualidade humana, traz consigo esse
chamado que aparentemente se encontra para
alŽm de suas fronteiras: o abrir-se para os outros
indiv’duos humanos. Outra importante
implica‹o do reencontro do direito com a Žti-
ca diz respeito ˆ constata‹o da incapacidade
da tecnocincia para a compreens‹o do
fen™meno humano. Como o conhecimento vul-
gar, a tecnocincia cisma em reter do que in-
vestiga somente o aspecto repeti‹o. Se o todo
Ž pura cria‹o, ela encontra meios de torn‡-lo
artificial, decompondo-o em aspectos que sejam
quase a reprodu‹o do passado. A essncia
desse tipo de explica‹o, inicialmente denomi-
nada mecanicista, consiste em considerar o fu-
turo e o passado como calcul‡veis em fun‹o
do presente. Nega-se a dura‹o enquanto trao
de uni‹o. Segundo Henri Bergson, necess‡ria
ent‹o se faz a compreens‹o de que vida impli-
ca uma continua‹o real do passado pelo pre-
sente, isto Ž, uma dura‹o em que o passado,
sempre em marcha, se enche sem cessar de um
presente absolutamente novo. Em outras
palavras, o conhecimento da vida
necessariamente recai sobre o pr—prio interva-
lo de dura‹o, sendo a tecnocincia, preocupa-
da apenas com as extremidades, adequada para
o conhecimento de sistemas artificiais. Logo, a
explica‹o mecanicista Ž impr—pria para tratar
do fen™meno humano porque Òa vida n‹o pro-
cede por associa‹o e adi‹o de elementos, mas
por dissocia‹o e desdobramentoÓ(2, p.22-85).
Pode-se fechar este estudo asseverando que as
implica›es do reencontro do direito com a Žti-
ca, desde que alicercem um pensamento forte
no ‰mbito bioŽtico, legitimam um uso
respons‡vel da express‹o biodireito, para iden-
tificar a maneira mais igualit‡ria de entender e
empregar o jur’dico.Se o direito existe para a
prote‹o e promo‹o da dignidade da pessoa
humana, e se todo indiv’duo humano Ž pessoa,
conforme as diretrizes bioŽticas assinaladas,
inadmiss’vel Ž o uso da express‹o biodireito
sen‹o para a tutela integral da vida, desde a
concep‹o, ainda que extra-uterina, atŽ a fase
adulta. Caso assim n‹o seja, o que muito se las-
tima, o uso da express‹o biodireito n‹o passar‡
de um modismo, um r—tulo para mais uma va-
riante do pensamento fraco.
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