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Início da vida - conceitos

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INÍCIO DA VIDA: CONCEITOS 
INTRODUÇÃO 
o “A curiosidade especulativa e científica tem-se 
interessado por discorrer sobre como se iniciou a 
vida em geral e quais são os mecanismos que se 
encontram no começo da gestação de todos os 
seres vivos, particularmente os da vida humana.” 
(p. 19) 
▪ O tema suscita questões e juízos religiosos, 
científicos, mas todos eles precisam lidar com a 
ética 
▪ Qualquer que seja a perspectiva a respeito da vida, 
isso implica em questões éticas 
o “Tanto o início quanto o fim da vida humana 
requerem conceitos do que são a vida, a vida 
humana e a vida pessoal (...)” (p. 19) 
▪ Não há consenso do início da vida e se coincide 
com o início da vida pessoal 
▪ Quando o viver e o morrer deixam de ser um 
fenômeno natural, ou seja, quando o ser humano 
passou a ser capaz de interferir artificialmente no 
início da vida e no fim da vida a reflexão ética se 
impôs → antes era pura e simplesmente natural, 
seguindo fluxo da natureza, mesmo que muitos 
aspectos sejam um mistério; ser humano passou a 
ter responsabilidade 
▪ Se, formalmente, as reflexões éticas sobre a 
interferência humana na vida datam do início do 
século XX (1927), o juízo ético e moral sobre 
algumas práticas são bastante antigos, em 
particular as sanções relacionadas ao coito 
interrompido. 
▪ “6 Judá escolheu para Her, o primogênito, uma 
mulher chamada Tamar. 7 Mas Her, primogênito 
de Judá, desagradou ao Senhor, e o Senhor o fez 
morrer. 8 Então Judá disse a Onã: “Une-te à mulher 
de teu irmão para cumprir a obrigação de cunhado 
e assegurar uma descendência para teu irmão”. 9 
Mas Onã sabia que o filho não seria seu; por isso, 
quando se juntava com a mulher do irmão, 
derramava o sêmen na terra, para não dar 
descendência ao irmão. 10 O proceder de Onã 
desagradou ao Senhor, que o fez morrer também.” 
(Genesis, 38) 
ABORTO E COMEÇO DA VIDA HUMANA 
▪ O aborto é o tema que mais se liga ao tema do 
início da vida 
▪ Ele foi tratado pela Igreja Católica a partir de 
concepções distintas: a do feto animado ou de 
estar formado à imagem de um ser humano 
▪ Suscita posicionamento em diferentes setores da 
sociedade 
o “Somente a partir de 1869 é que foi decretada pelo 
Papa Pio IX a proibição absoluta de abortar o 
produto da concepção, qualquer que fosse seu 
estado de desenvolvimento. Com isso, gerou-se o 
temor de uma zona cinzenta, em que a gravidez 
poderia haver se iniciado, mas sem ter sido 
confirmada, e em que qualquer manobra para 
evitar a concepção seria apenas presumivelmente 
abortiva, por desconhecer se a fecundação havia 
ocorrido.” (p. 20) 
▪ Isto inibe os métodos contraceptivos e confere à 
sexualidade um aspecto unitivo (implica numa 
vinculação formal e duradoura entre as pessoas) e 
procriadora 
▪ Nas posturas mais dogmáticas a procriação ou a 
não interrupção da gravidez ficava mantida mesmo 
em relações forçadas, como o incesto e o estupro 
▪ ★ “A interrupção só pode ser feita até a 20ª a 22ª 
semanas de gravidez. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 
2012 apud NUNES, 2014).” 
▪ Esta perspectiva esquiva-se de lidar com o início da 
vida presumindo que esta começa no ato sexual 
▪ Felizmente a ampliação dos direitos humanos e da 
proteção à mulher; a mudança nos hábitos sociais; 
a descriminalização do aborto; o estabelecimento 
de programas de saúde de atendimento à mulher; 
a criação de leis específicas para tratar do 
atendimento à mulher vítima de violência, vão 
resistindo às posturas mais dogmáticas, mas não 
encerram os dilemas éticos referentes ao aborto 
o “Os antecedentes históricos, sucintamente 
apresentados, mostram como a determinação do 
começo da vida, na atualidade, tem apenas uma 
importância reduzida para regular as condutas de 
rejeição da gravidez indesejada: ou ela é 
terminantemente proibida, seja qual for o estágio 
de desenvolvimento do produto da concepção, 
incluindo a suspeita de fecundação, ou é permitida, 
dentro de limites estabelecidos por razões alheias 
à formação alcançada pelo embrião/feto.” (p. 21) 
▪ O desenvolvimento da ciência e da tecnologia e a 
capacidade de artificializar o início da vida com 
procedimentos em laboratório (modificação 
genética, seleção de embriões etc.) suscitam a 
permanente reflexão ética 
▪ E um dos modos de enfrentar a questão é a 
determinação sobre o início da vida, posto que o 
problema ético que se põe diz respeito ao direito à 
vida 
CONCEITOS DO INÍCIO DA VIDA HUMANA 
o “A questão de fundo é determinar se os processos 
do início da vida são paralelos e idênticos ao 
aparecimento da vida humana, inclusive, para 
alguns, da vida pessoal.” (p. 22) 
A visão concepcional 
▪ Para esta perspectiva a vida começa quando se dá 
a união entre óvulo e espermatozóide e, por isso 
mesmo, se apresenta como a mais radical 
o “A partir dessa união, começam a recombinação 
genética e a evolução de um novo ser humano, 
que, por ter uma dotação genética completa e 
definitiva, é uma pessoa humana.” (p. 23) 
▪ A ausência de traços humanos não altera o fato de 
que eles estão potencialmente presentes na 
genética decorrente da fecundação e, por isso, o 
elemento ético de respeito à vida humana já se 
aplica 
▪ A potencialidade não é garantia de que algo será 
→ o fato de a árvore estar na semente, não 
significa que a árvore nascerá 
▪ Isto significa que o vir a ser de um embrião não 
depende apenas de suas potencialidades, mas de 
outros elementos 
o “(...) uma gravidez que abriga um embrião ao qual 
se atribui a potencialidade de vir a ser uma pessoa 
desenvolvida, a faixa de potencialidades previsíveis 
se restringe e depende de fatores adicionais que, 
nesse momento, ainda não são conhecidos: 
nutrição, vida familiar, socialização e projetos.” (p. 
24) 
▪ Assim, atribuir condição de humanidade ao que é 
uma potencialidade hipotética é uma abstração 
que não serve que norma universal 
▪ A compreensão de que a fecundação já assegura 
ao zigoto uma “persona”, uma personalidade, que 
se possa ter nele uma pessoa é outro elemento 
frágil desta perspectiva 
− Quase que invariavelmente a condição de 
pessoa se aplica quando há o exercício da 
razão, da liberdade e da responsabilidade (p. 
24) 
− Por isso, por exemplo, uma criança até 
determinada idade não pode ser considerada 
pessoa 
▪ A distinção que aqui se faz é entre pessoa e ser 
humano 
− Todo ser humano requer ser tratado com 
dignidade, mas só as pessoas possuem 
atributos éticos, morais, portanto, liberdade 
para tomar decisões, de encaminhar ações 
▪ Assim, é quando a vida humana começa que 
importa e não quando se torna pessoa 
o “Não é a singamia que marca esse início, afirma-se, 
porque existe formações zigóticas em que não há 
fusão de membranas gaméticas, ou essa fusão é 
artificialmente evitada no método de injeção 
intracitoplasmática de espermatozóide (ICSI). O 
que marcaria o começo do processo de 
individuação vital seria a ativação do ovócito 
desencadeada pela presença do espermatozóide, 
mas também nesse caso alguns elementos dessa 
ativação são rechaçados por serem inespecíficos 
ou ausentes em algumas espécies.” (p. 25) 
▪ No fim das contas a defesa de que a vida começa 
na fecundação mais revela o quão oculto se 
apresenta o processo que permite identificar tal 
início 
A visão evolutiva 
▪ Desta perspectiva, o início da vida se relaciona com 
um momento de um processo de evolução 
o “Um critério recente, mas amplamente 
reconhecido, é o 14º dia de gestação, no qual o 
embrião se implanta e se afirma com boas 
probabilidades de viabilidade. Mas a implantação 
mais parece um critério de gravidez exitosa do que 
de desenvolvimento ontogenético, razão pela qual 
existem diversas opiniões que situam o começo da 
vida humana em etapas posteriores.” (p. 26) 
▪ Se a probabilidade foi uma objeção apresentada 
para a visão anterior, aqui também ela se sustenta 
o “Outro critério de começo da vidaque tem 
antecedentes históricos importantes é a 
viabilidade fetal, mas, quanto a esta, o 
desenvolvimento da medicina tem gerado uma 
situação paradoxal: quanto mais imaturo é o feto, 
mais precário é seu futuro para desenvolver 
plenamente os atributos de um ser humano com 
capacidade de tornar-se uma pessoa.” (p. 26) 
▪ A tentativa de estabelecer outros momentos de 
desenvolvimento (evolução) são arbitrariedades 
que não tem valor geral. Algumas perigosas como 
a que segue 
o “Quando se faz o status moral depender do 
desenvolvimento da capacidade racional, cai-se no 
absurdo de autorizar o infanticídio de crianças pré-
racionais, às quais se negaria o tratamento moral 
devido aos seres humanos.” 
A visão social 
▪ Nesta visão não se reconhece a existência de 
essências que estabeleçam o que é ou deve ser o 
ser humano: os seres humanos se constituem no 
seio da sociedade 
o “(...) a pessoa como um constructo social, cujos 
antecedentes genéticos servem de matriz 
dispositiva.” (p. 27) 
A visão relacional 
o “Para a perspectiva relacional, o reconhecimento 
de um novo ser enraíza-se menos nas 
características ontológicas que ele possua do que 
no estabelecimento de uma relação com ele.” (p. 
27) 
o “(...) a questão é determinar quando o 
desenvolvimento do embrião ou feto é geralmente 
reconhecido como humano e evoca empatia em 
outro ser”. (p. 27) 
o “O reconhecimento do início de uma vida humana 
por aceitação e compromisso, como propõe a visão 
relacional, é uma atitude moralmente louvável e 
superior à acolhida passiva da gravidez como um 
fato consumado e irreversível.” (p. 28) 
▪ O problema ético, a orientação moral se coloca na 
relação dos indivíduos 
REFERÊNCIAS 
▪ KOTTOW, M. A bioética do início da vida. In: 
SCHRAM, FR., and BRAZ, M., orgs. Bioética e saúde: 
novos tempos para mulheres e crianças? [online]. 
Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2005. Criança, 
mulher e saúde collection, pp. 19-38. ISBN: 978-85-
7541-540-5. Available from: doi: 
10.747/9788575415405. Also available in ePUB 
from: 
http://books.scielo.org/id/wnz6g/epub/schramm-
9788575415405.epub

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