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Adoção: Conceito, Requisitos e Procedimento

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Adoção
Conceito, requisitos, quem pode adotar e quem pode ser adotado, procedimento e efeitos.
A adoção é negócio bilateral e solene, pelo qual alguém estabelece um vínculo jurídico de filiação, trazendo para sua família, na condição de filho, pessoa que geralmente lhe é estranha. Todavia, a partir da Constituição Federal de 1988, passou a constituir-se por ato complexo, exigindo a sentença judicial e destacando o ato de vontade e o nítido caráter institucional.
Quando a adoção for de criança menor de 18 anos, o procedimento a ser observado é o previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O Código Civil, por sua vez, manteve a competência exclusiva do Juiz da Infância e Juventude para conceder a adoção.
Em uma definição mais natural, podemos dizer que a adoção concede um lar a crianças necessitadas e desamparadas, tendo como finalidade satisfazer o direito da criança e do adolescente à convivência familiar sadia, dando filhos a quem não pode tê-los e pais às crianças desamparadas. Para que o Juiz decida acerca do cabimento da adoção, é relevante que ele analise se ela de fato trará reais vantagens para o desenvolvimento físico, educacional e moral do adotando.
Foram concedidas, às mães adotivas, a licença maternidade e o salário maternidade, de acordo o art. 392-A, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). O período de licença, nesse caso, será proporcional a idade do menor. A licença paternidade também é concedida aos pais adotivos no período de 05 dias corridos.
Quem pode adotar e quem pode ser adotado
Segundo disciplina o art. 42, do Estatuto da Criança e do Adolescente, com a redação que lhe foi dada pela Lei 12.010, de 2009, podem adotar os maiores de 18 anos, independentemente do estado civil, devendo o adotante ser pelo menos 16 anos mais velho que o adotando. Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-companheiros podem adotar conjuntamente, desde que acordem sobre a guarda e regime de visitas e desde que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância do período de convivência e que seja comprovada a existência de vínculos de afinidade e afetividade com aquele não detentor da guarda. Nesse caso, demonstrado efetivo benefício ao adotando, lhe será assegurada a guarda compartilhada.
Ainda, prevê o § 6º, deste mesmo art. 42, que a adoção poderá ser deferida ao adotante que, após inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso do procedimento, antes de prolatada a sentença.
O tutor e o curador não podem adotar o pupilo ou o curatelado enquanto não derem conta de sua administração ou não saldarem o seu alcance.
E podem ser adotados crianças ou adolescentes com até 18 anos de idade, cujos pais sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos do poder familiar ou concordarem com a adoção do filho, sendo necessário, nesse último caso, o consentimentos dos pais ou de seus representantes legais. Se o adotando for maior de 12 anos é necessária a concordância deste.
Requisitos
Os artigos do CC que dispunham sobre os requisitos para adoção foram todos revogados pela Lei nº 12.010/09, que remeteu toda a matéria ao Estatuto da Criança e do Adolescente.
De acordo com o disposto no art. 43, do ECA, só é admitida a adoção que constituir efetivo benefício para o adotando. Tal exigência apoia-se no princípio do "melhor interesse da criança", disposto na cláusula 3.1 da Convenção Internacional dos Direitos da Criança. Após, verificado os requisitos legais e as pessoas serem aptas para adotar ou para serem adotadas, inicia-se o devido processo.
Efeitos
Disciplina o art. 47, § 7º, do ECA, que os efeitos da adoção começam a partir do trânsito em julgado da sentença constitutiva, exceto se o adotante vier a falecer no curso do procedimento, caso em que terá força retroativa à data do óbito. As relações de parentesco se estabelecem não só entre o adotante e o adotado, como também entre aqueles e os descendentes deste  e entre o adotado e todos os parentes do adotante.
Os efeitos da adoção podem ser divididos em: (i) de ordem pessoal, que são os que dizem respeito ao parentesco, ao poder familiar e ao nome; e (ii) de ordem patrimonial, concernentes aos alimentos e ao direito sucessório.
Procedimento
As autoridades judiciárias deverão manter em cada comarca ou foro regional um registro de crianças e adolescentes em condições de serem adotadas e outro de pessoas interessadas em adotar.
Determinou a Lei 12.010/09 que deverão ser criados e implementados cadastros estaduais e nacional de crianças e adolescentes em condições de serem adotados e de pessoas ou casais já habilitados para adoção, sendo que deverá haver um cadastro especial para casais residentes fora do País. As autoridades estaduais e federais terão acesso integral a esses cadastros, podendo trocar informações entre si, cooperando mutuamente para agilizar as adoções no melhor interesse do menor.
Constatando a existência de uma criança ou adolescente em condição de ser adotada, a autoridade judiciária providenciará, em 48 horas, sua inscrição nos cadastros. O mesmo procedimento será observado para a inscrição dos casais habilitados para adoção. Se esse prazo não for observado, a autoridade poderá ser responsabilizada.
Estando regularizados os cadastros, competirá a Autoridade Central Estadual zelar pela sua correta manutenção, comunicando, sempre que possível, a Autoridade Central Federal das alterações. A fiscalização desses cadastros será de competência do Ministério Público.
Ressaltando a tendência da preferência das adoções por casais nacionais, instituiu o §10, do art. 50, do ECA, que a adoção internacional somente será possível se, após consulta aos cadastros municipais, estaduais e federais não for encontrado qualquer interessado na adoção com residência no Brasil. Se ainda assim (entre nacionais e estrangeiros) não for encontrado nenhum casal ou nenhuma pessoa, residente ou não no país, interessada na adoção, a criança ou o adolescente deve, sempre que possível e recomendável, ser colocada sob a guarda de alguma família cadastrada no programa de acolhimento familiar.
Excepcionalmente será deferida a adoção em favor de adotantes domiciliados no Brasil, mas sem cadastro. Suas hipóteses de cabimento estão previstas no §13, do art. 50, do ECA. São elas: “I - se tratar de pedido de adoção unilateral; II - formulada por parente com o qual a criança ou adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade; III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde que o lapso de tempo de convivência comprove a fixação de laços de afinidade e afetividade, e não seja constatada a ocorrência de má-fé ou qualquer das situações previstas nos arts. 237 ou 238 desta Lei". Nestes casos, porém, deverá o adotante demonstrar que preenche os requisitos legais da adoção.
A etapa mais longa da adoção é a da aprovação dos adotantes. Depois das entrevistas, da visita às residências dos supostos adotantes, e que todas as dúvidas dos técnicos do juizado forem esclarecidas, o processo seguirá para o Promotor de Justiça, que se manifestará sobre a habilitação. Após, passará para o Juiz e, encontrando o processo regularmente instruído, este deferirá ou não a habilitação dos adotantes.
Depois de obter a habilitação para adotar, poderá instituir o devido processo, devendo o Autor apresentar a petição com o pedido de adoção e também todos os documentos que comprovem sua integridade física e mental.
O Juiz autorizará o estágio de convivência, por um período estabelecido por ele, que servirá para adaptação do menor ao novo lar, observadas as peculiaridades do caso. Ele poderá ser dispensado se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do adotante durante um tempo que se demonstre suficiente para que se possa perceber que a convivência constituiu um vínculo entre eles. Cumpre ressaltar que a simples guarda de fato, porém, não autoriza, por si só, a dispensa do estágio de convivência.
Como sua finalidade é acompanhar o entrosamento do menor nanova família, o estágio deverá ser acompanhado por uma equipe Inter profissional que funcione junto a Vara da Infância e da Juventude. Referida equipe deverá, preferencialmente, contar com o apoio de técnicos que deverão apresentar um minucioso relatório acerca desse período, sugerindo, ao final, o deferimento ou não da adoção.
Se houver real adaptação da criança com a nova família é concedida a adoção. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será inscrita no registro civil mediante mandado do qual não se fornecerá certidão, sendo este arquivado, cancelando o registro original do adotando. Da nova inscrição constará o nome dos adotantes como pais, bem como o nome de seus ascendentes, sendo que nenhuma informação sobre a origem dos pais biológicos poderá constar no registro.
Caso seja da vontade dos adotantes, eles poderão alterar o prenome do adotando, caso este concorde, conferindo a ele o mesmo sobrenome deles, e poderá requerer, ainda, que o novo registro se dê no Cartório do Registro Civil de sua residência.
Inovando no ordenamento jurídico pátrio, a Lei 12.010/09 afirmou que o adotado, após completar 18 anos de idade, tem o direito de conhecer sua origem biológica e ter acesso ao processo de adoção. Este acesso poderá, inclusive, ser deferido ao menor de 18 anos, desde que seja assegurada sua orientação, assistência jurídica e psicológica.
Por fim cumpre ressaltar que a morte dos adotantes não restabelece, de forma alguma, o poder familiar dos pais naturais.
Referências bibliográficas
GONÇALVES, Carlos Roberto. Sinopses Jurídicas - Direito de Família. 11ª ed. v. II. São Paulo: Editora Saraiva, 2007.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil - Direito de Família. 6ª ed. v. VI. São Paulo: Editora Atlas, 2007.
Atualização: 2017

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