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0 Critérios de avaliação da leitura oral Por Alexandre Paulo Manjate 1 0.0 Introdução Segundo MINED-Moçambique (2010: 10), um dos objectivos gerais do ensino-aprendizagem da língua portuguesa é de desenvolver as habilidades de leitura, tendo em vista a consolidação da capacidade de compreensão escrita, de forma autónoma e livre, sabendo reconhecer as regras de construção dos vários tipos de texto. Assim, com este objectivo, percebemos que se põe em foco a recepção do material linguístico (através da leitura) e a posterior produção (através da fala e escrita). A recepção do material linguístico é feita através da leitura e da audição, e, por sua vez, a produção é feita por intermédio da fala e escrita. A qualidade da escrita e da fala é, de certa forma, influenciada pela qualidade da leitura e da audição. Com base neste postulado, é necessário que os professores trabalhem arduamente de modo a garantirem que os alunos tenham uma capacidade aguçada de receber material linguístico, o que vai permitir que estes falem e escrevam com qualidade, mas a tão almejada qualidade só é possível através de um acompanhamento dos alunos pelo professor, através da avaliação. A avaliação é um processo que garante, acima de tudo, que os professores percebam o nível de aperfeiçoamento das habilidades dos alunos, com base no que ensinaram durante as aulas. Facto é que, nas escolas, percebemos que os professores não estabelecem critérios claros para avaliar a leitura oral que os alunos fazem durante as aulas, fazendo com que esta não seja produtiva e não tenha objectivos claros. Desta forma, desenhamos o presente trabalho reflexivo, visando propor critérios de avaliação da leitura oral, para garantir que esta seja valorizada nas aulas de língua portuguesa e que seja, consequentemente, mais produtiva. Este trabalho enquadra-se na área de Didáctica do português e é uma proposta pedagógico-didáctica de intervenção que visa contribuir com estratégias de avaliação da leitura oral no ESG. 1 Docente de Língua Portuguesa na Escola Secundária de Incadine, Licenciado em Ensino de Português com Habilitações em Inglês pela Universidade Pedagógica de Moçambique, Delegação de Gaza. 1 De um modo geral, o trabalho objectiva estabelecer critérios de avaliação da leitura oral e, de forma específica, (i) discutir as acepções de leitura oral e (ii) propor critérios da avaliação da leitura oral na aula de língua portuguesa na 8ª classe do SNE. No decurso da nossa actividade docente, como professores da língua Portuguesa, notamos que a leitura oral não tem sido muito privilegiada, tem se dado mais espaço à leitura silenciosa e esta, por sua vez, é avaliada através do questionário escrito. A leitura oral tem sido colocada no 2º plano, e quando esta é feita, não há critérios básicos de sua avaliação. Os alunos, na sala de aulas são convidados a fazer leitura expressiva, sobretudo para desenvolver e aferir competências linguísticas relacionadas com a decodificação e a dicção. Onde a interpretação costuma ser mais importante que a correcção, sendo mais valorizada a expressividade que a fluência. O que devia ser contrário. Dando origem, deste modo à questão: Que critérios observar na leitura oral dos alunos o Ensino Secundário Geral? A abordagem deste tema é justificada pelo facto de se ter constatado que, em nenhum momento os professores estabelecem critérios claros para a avaliação da leitura oral e quando os estabelecem, tendem a avaliar muitos ao mesmo tempo, o que faz com que não tenham um foco estabelecido. É importante também realçar que este trabalho pretende ajudar o professor a olhar a leitura oral como um instrumento fundamental no desenvolvimento do intelecto e da competência comunicativa do estudante, assim como, a estabelecer critérios de avaliação da leitura oral de modo a incutir nos estudantes parâmetros admissíveis quando se trata da leitura. No que se refere ao percurso metodológico, a pesquisa é qualitativa, pois busca contribuir com estratégias novas para a avaliação da leitura oral no ESG, seleccionamos este tipo de pesquisa considerando o postulado de PRODANOV & FREITAS; (2013: 70) de que “há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objectivo e a subjectividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. Como método de abordagem, seleccionamos o método dedutivo, que, na perspectiva de GIL (2008: 9) apud PRODANOV & FREITAS (2013:27), parte de princípios reconhecidos como verdadeiros e indiscutíveis e possibilita chegar a conclusões de maneira puramente formal, isto é, em virtude unicamente de sua lógica. Os métodos de procedimento, também chamados de específicos ou discretos, estão relacionados com os procedimentos técnicos a serem seguidos pelo pesquisador dentro de determinada área de conhecimento. Visam fornecer a orientação necessária à realização da 2 pesquisa social, em especial no que diz respeito à obtenção, ao processamento e à validação dos dados pertinentes ao problema da investigação realizada. (PRODANOV & FREITAS; 2013: 36) Para o presente estudo, seleccionamos o método monográfico ou estudo de caso, que visa examinar o tema seleccionado de modo a observar todos os factores que o influenciam, analisando-o nos seus aspectos mais relevantes, para, por fim, propor estratégias de avaliação da leitura oral na classe específica. Para a recolha de dados recorremos à pesquisa bibliográfica, que consiste, segundo MARKONI & LAKATOS (2003:158), num apanhado geral sobre os principais trabalhos já realizados, revestidos de importância, por serem capazes de fornecer dados actuais e relevantes relacionados ao tema. 3 1.0 Discussão de conceitos 1.1 Leitura Durante muito tempo a leitura foi vista como o reconhecimento e decifração dos códigos de comunicação, que são estabelecidos socialmente. Olhava-se para a leitura como a construção do significado, assimilação robótica do significado que diz respeito ao texto. Esta visão é, de acordo com AMOR (1996), muito restritiva, pois deixa de fora a essência da leitura, que cinge sobre a interpretação. A leitura não só se restringe no escrito, mas também no não-escrito. A leitura vernácula releva o texto, o leitor e o contexto, releva as leituras anteriores do leitor (conhecimentos adquiridos em outras experiencias). GONSALVES et al (1991), olham para a leitura como sendo um trabalho de participação na construção de um texto, e de assimilação de alguma mensagem que o autor queira transmitir. Tendo se alargado o entendimento do termo leitura, Gonçalves et al, estabelecem níveis de proficiência na leitura: Leitura imagética: observa-se em crianças ou em indivíduos que ainda não adquiriram os mecanismos de leitura. Neste nível, as imagens que acompanham o texto escrito é que suscitam o interesse do leitor, servem de referência para uma leitura imaginária através da qual, influenciados por outros elementos do texto, construírem um texto muito seu. Leitura literal: para leitores que já saibam decifrar os caracteres escritos. Neste nível, o leitor descodifica os caracteres gráficos e recodifica-os em sons; apreende globalmente o significado do texto; analisa as unidades fundamentais do texto; correlaciona a mensagem com situações vividas; domina os esquemas de entoação e respiração dos textos marcados pelos sinais de pontuação; memoriza e pratica. (nesta fase, a prática constante da leitura pode trazer ao leitor maior capacidade de apreensãoda mensagem). Leitura participada: neste nível, o leitor capta a mensagem em função da sua vivência e do seu contexto sociocultural, os factores mencionados (vivencia e contexto sociocultural) vão influenciar na construção da versão do leitor do texto. Desta forma, o leitor vai encontrando menos dificuldades de funcionamento da língua, 4 Leitura esvoaçante: neste nível, o leitor apresenta a capacidade de esvoaçar por sobre o texto, captando logo a prior os pontos cruciais, as palavras-chave e por fim reconstruindo o seu texto. 1.1.1 Factores da leitura Para GONSALVES et al (1991), o facto de um leitor dominar a descodificação dos signos escritos, não implica que o mesmo apreenda com precisão a mensagem transmitida pelo texto. Se assim fosse, todos os leitores apreenderiam a mensagem de um texto taxativamente da mesma forma; por vezes, o mesmo leitor pode fazer duas leituras diferentes do mesmo texto. A diversidade de leituras do mesmo texto esta ligada a maneira livre de escrever do autor, podendo por vezes não usar sinais de pontuação; eliminar as maiúsculas e outras estratégias. Desta forma, podemos alistar os seguintes elementos da leitura: O texto: estrutura gráfica, com uma mensagem construída em determinadas condições e com determinados objectivos. O leitor: este vai, influenciado pela sua vivencia, pelo contexto sociocultural, pelos objectivos implícitos no uso do texto, pelas técnicas e condicionantes na apreensão do texto, construir, reconstruir e captar a mensagem do texto. As condições de transmissão e de recepção do texto: olha-se para o local de apresentação do texto (quadro, folha A4.), para o enquadramento humano (leitura individual, em grupo), para a técnica de leitura (leitura em voz alta, silenciosa ou leitura em coro). 1.1.2 Técnicas de leitura Olhando para a sonoridade e para a expressividade, GONSALVES et al (1991) consideraram os seguintes tipos de leitura: a) Leitura oral ou em voz alta Feita individualmente, é considerada a primeira leitura que os leitores praticam, pois está associada a aquisição dos mecanismos de leitura, pode suscitar nos leitores principiantes emoções, dado que a velocidade de reconhecimento visual das palavras é superior a recodificação das mesmas em sons. 5 Pennell e Cusack (s.d.) apud OLIVEIRA (2003), apontam quatro vantagens da leitura em voz alta: compartilhar ideias; expressar com mais estilo e beleza certos tipos de material de leitura; fixar novos termos com mais facilidade; treinar a voz, educando-a. Segundo Galvão 2 A leitura em voz alta, como a própria expressão indica, é aquela que se faz oralmente. Até a Idade Média, era praticamente o único tipo de leitura existente. Segundo Roger Chartier, a leitura silenciosa e visual estava restrita aos copistas monásticos e somente em torno do século XII foi que chegou às escolas e às universidades. O próprio modo como as frases eram escritas, sem separação entre as palavras, é uma expressão de que somente pela vocalização do texto se poderia compreender o que se estava lendo. De modo geral e ainda por muitos séculos, a leitura em voz alta era realizada colectivamente, em situações de sociabilidade, o que permitia a participação de indivíduos analfabetos e semialfabetizados. Em um momento histórico em que havia poucos materiais de leitura disponíveis e o público alfabetizado era relativamente pequeno, ler oralmente era, muitas vezes, ler de modo intensivo. Muitas pessoas se tornaram leitoras por meio da voz de um outro, que lhes fazia entrar no mundo do último folhetim, da Bíblia, de poemas, de folhetos de cordel, de romances, de cartas, de jornais. Por meio da oralidade e da mediação de alguém, aproximavam-se de um universo a que estavam pouco familiarizados e que possivelmente lhes trazia tensões: o da cultura escrita. Mesmo nos meios eruditos, eram muito comuns reuniões – os chamados serões – em que as pessoas liam em voz alta, recitavam poesias, ouviam música, conversavam e até mesmo costuravam alianças políticas. Nas práticas escolares quotidianas, a leitura em voz alta foi predominante até recentemente, apesar das prescrições do movimento da Escola Nova favoráveis à leitura silenciosa. Aprender a ler para ler em público fazia (e ainda faz) parte de algumas práticas sociais e exigia (exige) preparação. Ler com uma boa performance fazia (faz) parte de vários rituais escolares, como sessões de auditórios e outras cerimónias. Acreditava-se, ainda, que, além de exercitar (e dar elementos para que o professor avaliasse) a dicção, a imposição da voz, a entonação, a pontuação e a fluência – em um período em que o bem falar era tão ou mais importante do que o bem escrever – ela seria o melhor meio para controlar o sentido da leitura. 2 http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/leitura-em-voz-alta 6 Actualmente, a leitura em voz alta pode ser um importante instrumento para aproximar as crianças pequenas e os adultos em processo de alfabetização das lógicas do escrito, fazendo- os apreender a sua estrutura e algumas de suas características, como a estabilidade, antes mesmo de se alfabetizarem. É interessante, nesse sentido, que alunos de outras turmas leiam para aqueles que ainda não sabem. Além disso, e talvez o mais importante, a leitura em voz alta pode ensinar-lhes que ler é também partilhar sentidos e emoções de forma colectiva. Esta leitura: Aguça o domínio da ortografia, Apoia o domínio da entoação e da pronúncia, Prepara o leitor para uma prática social corrente através da leitura de notícias a um grupo, de textos de homenagem e outros. b) Leitura expressiva É também uma leitura individual que, através da expressão e entoação, marcadas pelo olhar e pela fisionomia, procura fazer compreender os pensamentos, os sentimentos ou os propósitos apresentados por um texto e a verdadeira importância das palavras. Três factores se mostram interligados na realização da leitura expressiva, merecendo atenção especial e estratégias específicas para sua compreensão: O texto, escrito ou memorizado, que é percebido como uma espécie de partitura, alguns aspectos se destacam: o tipo, o género (cada um se expressa de maneira diferente, especialmente o literário), os sinais gráficos (til, cedilha, apóstrofos, acentos), a pontuação, os campos semânticos (palavras-chaves), a sonoridade das palavras, a diagramação (fonte, cor, espaços), a sintaxe, entre outros. O corpo, com destaque para a voz; temos, principalmente: o movimento (rápido, moderado, lento), os gestos (suaves, intensos), a postura (graus de tensão, equilíbrio), o ritmo (alternância de elementos e pausas), a entoação (modulação dos segmentos frásicos), a dicção (clareza de pronúncia), o tom (coloquial, formal, elevado), a fluência (espontaneidade), o volume (baixo, moderado, alto). 7 A situação de leitura. Devemos considerar: o ouvinte (comunidade escolar, amigos, colegas, pais, desconhecidos), o ambiente (doméstico, escolar, público), o propósito (avaliação, fruição estética, apresentação artística) e os níveis de interacção (intimista, objectiva). Cada um desses elementos participa activamente para o sucesso da leitura expressiva. Para cada um deles, a escola pode e deve desenvolver actividades de iniciação e aprimoramento. Um caso muito especial da leitura expressiva na escola, com destaque no processo de alfabetização e letramento, é a leitura de textos poético-literários, na qual a criatividade da criança dialoga com a criatividade do escritor. Tal diálogo não só possibilita a ampliação das habilidadesde compreensão, interpretação e produção de sentidos de textos, como também alcançar o prazer da leitura, através do exercício dos recursos criativos da linguagem, favorecendo a formação da proficiência leitora. c) Leitura coral É uma leitura oral colectiva, muito usada na fase de aquisição da leitura literal; a prática do grupo tem como base uma leitura modelo. . Para além disso, ela apoia aos indivíduos lentos e tímidos ou introvertidos na descodificação mecânica das mensagens; cria mais oportunidades de prática da leitura, contribui para um nivelamento do tom da leitura. Tem também algumas desvantagens pois minimiza o esforço individual, cria uma entoação artificial. d) Leitura silenciosa É uma leitura individual e silenciosamente, é relativamente mais rápida e menos fatigante. Tem como vantagens: a rapidez na leitura, maior grau de compreensão do texto lido, aplica- se com mais facilidade a leitura ascendente (boton-up) e descendente (top-down); interiorização plena, grande concentração. Olhando para a finalidade, pode-se considerar os seguintes tipos de leitura: a) Leitura integral 8 É uma leitura completa, que olha para todos os elementos internos do texto na sua globalidade, é mais usada para os textos literários. Tem como vantagens as seguintes: Maior aproximação do conteúdo real do texto; garante a fidelidade da mensagem recebida e maior apreensão de dados de domínio da língua. b) Leitura selectiva Esta procura captar, de imediato, os elementos mais essenciais do texto. Esta não é feita de forma linear, nem horizontal, mas sim num sentido vertical, fazendo o cruzamento das linhas. Vantagens: possibilita a leitura de maior número de textos, de maior número de informações. Esta leitura implica menor fidelidade da mensagem do texto e perda da capacidade de apreciação dos valores da linguagem. c) Leitura de equipa É uma leitura grupal, que suscita praticas sociais de animação, proporciona múltiplas oportunidades de contacto com os autores diversos. A equipa é que escolhe os textos a ler, faz a divisão das partes por elementos. Nesta leitura ponderam se os seguintes aspectos: Os alunos decidem o tipo e a demissão do texto que lerão; Durante a leitura verificam-se as dificuldades enfrentadas pelo leitor. Após a leitura da equipa o coordenador analisa o nível de entendimento ou de dificuldades. A turma pergunta e a equipa responde quanto aos diversos aspectos 1.1.3 A leitura como actividade transversal ao currículo Como instrumento transversal ao currículo, a leitura ocupa uma parte considerável do tempo lectivo global, quando o aluno é colocado perante a uma necessidade de resolver um problema ou perante um desafio à sua capacidade de criar e para tal ele dispõe de recursos que lhe ajudam na leitura facilmente se reúnem as condições para que a leitura, por si, se justifique e se realize em termos e ritmos pessoais ou em grupo. (GOMES et al; 1991). 1.1.4 Dinâmicas de promoção da leitura extra lectiva GOMES et al 1991, afirmam que, todos os espaços que promovem o encontro do aluno com o livro são oportunidades de promoção da leitura. Quanto ao professor de língua portuguesa se espera uma atenção especial a este facto que deve se resumir em iniciativas, 9 aproveitamento das datas especiais, lugares ligados a promoção da leitura (bibliotecas, museu da historia...), que proporcionam o convívio do aluno juntos à obras como: Semana do livro\do escritor: exposições bibliográficas, visita de autores às escolas, factos ligados as obras etc. Feira do livro: exposição e venda de livros a preços acessíveis, debates, colóquios com especialistas, etc. Concursos: por temas, conteúdo de obras, géneros, obras, autores, épocas, etc. Visionamento de programas: passagem de gravações (em áudio ou vídeo), sobre temáticas previstas para o programa, mesa redondas, etc. Montagem de programas: elaboração de filmes em forma de vídeos, adaptação de obras, guiões para filmes, dramatizações de autores, etc. Imprensa escolar: produção do jornal da escola, jornal da biblioteca com colaboração diversificada de obras, autores, teorias, etc. Ateliers de vídeo e informática: destinados a produção de trabalhos pessoais, que poderão assegurar a colaboração em revistas especializadas, o intercâmbio escolar, etc. Visitas guiadas: Está iniciativa está virada as visitas de bibliotecas locais, arquivos, editoras, livrarias, com objectivo de se informar ou pesquisar assuntos relacionados com a elaboração, edição, distribuição e circulação de livros. Enquanto as instituições escolares e os seus agentes não fizerem esforço contínuo para a renovação das suas estruturas e esquemas funcionais para responder os desafios do presente tão pouco o leitor poderá desenvolver resultados positivos através de estímulos das iniciativas extra lectivas. J.C Abrantes (1992:28) apud Amor, afirma que há necessidade de “unir a escrita, a leitura, a fala, aos audiovisuais e adequar, mídia. É uma estratégia de sobrevivência para dar alma e humanidade aos audiovisuais e aos mídia, de modo a dar significado aos mesmos assim como dar alento á escrita, a leitura, a fala, a partir das imagens e dos sons vividos pelos jovens de hoje” 10 A biblioteca escolar é um local que necessita de mudanças estratégicas de fundo isto é o depósito de livros, disponibilidade de aceder ao local a um maior intervalo por dia (uma biblioteca que está disponível 20hrs por dia) 1.1.5 A leitura na aula O processo de leitura numa perspectiva geral, vai se diferir do processo de leitura numa sala de aulas, no que diz respeito aos objectivos pois, no caso da sala de aulas, temos em conta o papel do professor que serve de motivador, facilitador, exemplo e gestor. (GOMES, et al; 1991) O professor como motivador Como motivador, o professor desenvolve as seguintes actividades: Fazer sentir o interesse pela leitura Evitar a monotonia, diversificando as estratégias de contacto com o texto. Proporcionar aos alunos textos que retratem temas escolares e de outras áreas. Provocar situações em que a leitura se torne necessária, tanto como elemento de trabalho, como para situações de lazer. Estimular o espírito crítico em relação ao texto por parte dos alunos O professor como facilitador da leitura Como facilitador, o professor desenvolve as seguintes actividades; Definir claramente as tarefas e os objectivos da leitura Ajudar os alunos a usarem o seu conhecimento prévio para a interpretação de um texto novo. Usar estratégias que se adeqúem aos seus alunos e aos objectivos da leitura. Organizar o máximo de recursos úteis para a leitura. O professor como exemplo Na perspectica de GOMES et al (1991: 115), o professor actuará, directa ou indirectamente, como exemplo ao desenvolver as seguintes actividades: Recorrer a material de suporte (dicionários, portuário, gramática.) sempre que oportuno, ainda que não tenha dificuldade; Adoptar estratégias de leitura que evidenciem a interacção do leitor com o autor; Exemplificar a sua atitude de leitura habitual por prazer. 11 Pronunciar bem as palavras nos textos; Demonstrar o espírito de trabalho em equipa. O professor como gestor Segundo GOMES et al (1991:116), como gestor da leitura, o professor deve: Orientar toda a dinâmica da leitura e propor estratégias; Decidir a sequência do processo da leitura através da planificação; Objectivar os trabalhos a realizar Manter a dinâmica de interacção com os alunos Saber pedir e saber discordar Apoiar a resolução dos problemas que possam eventualmente ocorrerna leitura; Gerir a comunicação nos grupos ou na classe, prestando atenção às individualidades dos alunos. 1.2 Avaliação Luckesi (1998, p. 69), define avaliação “como um juízo de qualidade sobre dados relevantes, tendo em vista uma tomada de decisão. O autor expressa, através desta definição, a possibilidade de uma avaliação qualitativa em educação, na qual o professor tem condições de acompanhar e conhecer seus alunos, identificar o seu desempenho e suas dificuldades e principalmente melhorar, sempre que necessário, o processo ensino-aprendizagem, através da adequação de conteúdos, procedimentos de ensino e de avaliação e outros aspectos importantes desse processo. Para SILVA & MENEGASSI (2010: 270), a avaliação é um instrumento na prática educacional, que tem por função verificar se os procedimentos para aquisição de determinado conhecimento estão alcançando seus objectivos. Avaliar é um exercício de aprendizagem, no entanto, raramente é concebido como tal, haja vista que as notas e os resultados finais ainda são as únicas razões de avaliação. Em decorrência da concepção pedagógica assumida, ocorre a aderência, ainda, de uma dimensão mais ampla de conflitos e de conceitos de avaliação que se pratica. A avaliação é uma componente da prática educativa que permite uma recolha Sistemática de informações que, uma vez analisadas retro-alimentam o processo de Ensino-aprendizagem promovendo assim, a qualidade da educação. 12 A avaliação tem como objectivos: Permitir ao professor tirar conclusões dos resultados obtidos para o trabalho pedagógico subsequente; Apoiar o processo educativo de modo a sustentar o sucesso, permitindo o reajuste curricular da escola e de turma, nomeadamente quanto à selecção de metodologias e recursos em função das necessidades educativas; Contribuir para a melhoria da qualidade do sistema educativo, possibilitando a tomada de decisões para o seu aperfeiçoamento e promovendo uma confiança social no seu funcionamento; e Certificar as diversas competências adquiridas pelo aluno, no final de cada ciclo e unidade lectiva. 1.2.1 Avaliação da leitura na aula de Língua Portuguesa De acordo com COLOMER & CAMPS (2002) apud SILVA & MENEGASSI (2010: 270), as avaliações mais frequentes sobre leitura na escola centram-se nas provas de velocidade leitora e nos questionários fechados de perguntas de compreensão sobre um texto. As provas de velocidade são provavelmente o instrumento que se percebe com mais clareza como estritamente avaliador por parte dos professores. Algumas delas, baseadas na velocidade de leitura em voz alta, ofereceram a vantagem de obter com facilidade dados claros e objectivos que respondiam, além disso, ao aspecto leitor que a escola sempre entendeu como índice importante de progresso na leitura a partir da aprendizagem do código. Segundo MENEGASSI (2008), saber a finalidade de se avaliar a leitura de um aluno é tão necessário quanto saber em qual tipo de avaliação a prática de ensino se enquadra, porque uma é quase complementação da outra. São elementos de avaliação da leitura oral ou em voz alta: A dicção ou articulação: refere-se à maneira de dizer ou de pronunciar, tem de haver clareza (devemos ler respeitando a maneira de dizer, de articular bem as palavras; é preferível ler devagar e articulando bem do que ler depressa sem articular devidamente). Assim, o professor deve prestar atenção ao modo como os alunos pronunciam as palavras durante a leitura e convidar os outros alunos a prestarem atenção na leitura do colega. 13 A imposição ou tom da voz: deve-se garantir que a voz do leitor seja audível, de acordo com o local onde lê. O tom não deve ser nem muito alto, nem muito baixo. A entoação: é a variação da altura utilizada na fala, que incide sobre uma palavra ou oração, e não de fonemas ou sílabas. A pontuação: é o recurso que permite expressar na língua escrita um espectro de matrizes rítmico e melódico, características da língua falada, pelo uso de um conjunto sistematizado de sinais. Usamos os sinais de pontuação, no geral, para representar pausas na fala, no caso do ponto, da vírgula, do ponto e vírgula; ou entonações, no caso do ponto de exclamação e de interrogação, por exemplo. Além de pausa na fala e entonação da voz, os sinais de pontuação reproduzem, na escrita, nossas emoções, intenções e anseios. A fluência: esta refere-se a Facilidade de expressão; espontaneidade. Este critério tem a ver com a expressividade com que se lê, a leitura deve ter vivacidade, ser enérgica; não se deve ler com um tom monocórdico, monótono. Segundo GONSALVES (2013), monitorizar a fluência da leitura oral permite: observar como evolui ao longo do tempo a leitura de um aluno ou de um grupo de alunos (grupo-turma) possibilitando a construção de curvas de aprendizagem e a determinação de normas internas a cada escola; identificar precocemente dificuldades; planear a intervenção educacional; promover e estimular a leitura de todos; prevenir o insucesso pelo agravamento das dificuldades ao longo do tempo. Contribui deste modo para um conjunto de objectivos ainda mais vasto, no âmbito dos princípios de uma educação para todos. Os elementos acima arrolados, devem ser avaliados pelo professor, de modo a garantir que o aluno desenvolva a sua leitura de forma integral e que garanta, consequentemente, uma fala mais fluente. Apresentados os elementos a avaliar, vamos desenhar critérios aplicáveis na 8ª classe do ESG, baseando-nos no programa e nos objectivos propostos pelo programa de português desta classe. 14 2.0 Critérios de avaliação da leitura oral na aula de língua portuguesa no ESG Esta é a parte prática do trabalho, na qual nos propomos a apresentar, de forma clara, os critérios de avaliação da leitura oral ou em voz alta na 8ª classe do ESG. Como foi definido no referencial teórico, a avaliação visa, essencialmente, verificar se os procedimentos para aquisição de determinado conhecimento estão alcançando seus objectivos traçados ou não. Assim avaliamos de acordo com os objectivos traçados para a classe, o trimestre, a unidade temática ou a aula específica. O que se verifica na prática educacional em Moçambique, com base na experiencia do estágio e das práticas pedagógicas, é que os professores tendem a avaliar todos os elementos da leitura de uma só vez, ou seja, avaliam a dicção, o tom da voz, a entoação, o respeito pelos sinais de pontuação e a fluência de uma só vez. Isso faz com que a avaliação não seja especificamente definida e que não garanta o controlo sobre a situação por parte do professor. A nossa proposta é baseada num dos princípios da avaliação, proposto por INDE que considera que se deve dar primazia ao modelo da avaliação formativa, com valorização dos processos de auto-avaliarão regulada, e sua articulação com os momentos de avaliação. Com isto, percebemos que para um aluno ter determinadas competências, de leitura, escrita, fala ou audição, é necessário um trabalho contínuo que merece o devido acompanhamento e avaliação gradativa, ou seja, não se podem avaliar todos os elementos da leitura num aluno em uma fase inicial de aprendizagem. Na oitava classe, o professor deve cingir-se em avaliar os aspectos da leitura de forma gradual, dando ênfase, em cada avaliação a um elemento particular, podendo ser a pontuação, a articulação, etc. Isso não significa, necessariamente, o abandono dos outros elementos, mas deve-se definir, de antemão, em coordenação com a turma, os elementos aos quais se vai dar ênfase na aula. Considerando que um critério é relativo ao carácter, norma ou modelo que servepara a apreciação de um objecto (DICIONÁRIO AURÉLIO). A avaliação da leitura oral na 8ª classe deve respeitar dois critérios principais, o primeiro vai ser de avaliação de todos os elementos simultaneamente (para alunos com uma leitura eficiente), o segundo vai ser de avaliação de um elemento específico (mais formativa, para alunos numa fase inicial de aprendizagem). 15 2.1 Avaliação simultânea dos elementos da leitura Como se avançou previamente, este critério é útil para alunos numa fase avançada de aperfeiçoamento da leitura, mas pode também ser útil para fazer uma avaliação diagnostica do nível em que os alunos estão no inicio do ano. Em ambos casos (nos alunos com grau elevado de aperfeiçoamento e para a avaliação diagnóstica) o professor deve avaliar, simultaneamente a dicção ou articulação, a fluência, a pontuação, a entoação e a imposição ou tom da voz. Para tal, pode-se criar uma grelha de avaliação que facilite o controlo do nível de leitura de cada aluno e o respeito por cada elemento. Grelha de avaliação Nome do aluno Critério a avaliar Dicção/articul ação Voz (tom e colocação) Fluência Entoaçã o Ritmo Pontu ação X Y Z Tabela 1: grelha de avaliação simultânea dos elementos da leitura Fonte: Autora, 2017 Com base na grelha acima apresentada, o professor pode avaliar, de forma eficiente e simultânea, os elementos da leitura oral dos seus alunos, dando a seguinte pontuação: 1: Não satisfatório, para alunos com desempenho muito abaixo do nível esperado para o elemento de avaliação em causa. 2: Satisfatório, para alunos com desempenho abaixo do nível esperado para o elemento de avaliação em causa. 3: Bom, numa situação em que o aluno apresente um desempenho dentro do nível esperado; 4: muito bom: numa situação em que o aluno apresente um desempenho acima do nível esperado; 5: Excelente, numa situação em que o aluno apresente um desempenho acima do nível esperado, excedendo os níveis de qualidade nesse elemento. 16 2.2 Avaliação de um elemento específico Este critério aplica-se para alunos com um nível baixo de proficiência de leitura, neste caso, depois de fazer uma avaliação diagnóstica a partir do primeiro critério descrito 3 e identificar fragilidades em alguns alunos em alguns elementos (a dicção, o respeito pelos sinais de pontuação ou outro), o professor pode aplicar este critério de modo a melhorar o aspecto em que se observou a fragilidade. Para este critério, o acompanhamento do professor deve ser personalizado e a avaliação deve ser formativa, de modo a garantir que as dificuldades observadas possam ser ultrapassadas. De realçar que os alunos em geral devem estar sempre a par do elemento ao qual se dá ênfase na leitura do colega avaliado e o professor pode indicar um ou mais alunos para apresentarem o seu parecer em relação á leitura feita pelo seu colega. 3 Avaliação simultânea dos elementos da leitura 17 3.0 Considerações finais Depois de várias obras revistas e analisado o conteúdo proposto, concluímos que a leitura oral é, deveras, um importante instrumento para aproximar o aluno das lógicas do escrito, fazendo-o apreender a sua estrutura e algumas de suas características, como a estabilidade. Esta leitura faz perceber que ler é também partilhar sentidos e emoções de forma colectiva. Confirmamos a hipótese de que, para avaliar a leitura oral, o professor deve apresentar, de antemão, os aspectos a avaliar nessa aula específica, sendo que há muitos aspectos a avaliar e não podem ser avaliados na mesma aula. Dessa forma, são dois critérios principais a partir dos quais se pode avaliar a leitura oral, dependendo do nível de proficiência da leitura do aluno e do objectivo do professor. O primeiro critério é o de avaliação de todos os elementos simultaneamente, que é aplicado para alunos com boa performance na leitura ou para proceder com uma avaliação diagnóstica e identificar as possíveis fragilidades dos alunos. O segundo é de avaliação de um elemento específico, feita com o objectivo de afinar alguns elementos nos quais o aluno não seja proficiente, neste caso, o professor deve prestar mais atenção ou focar nos itens que precisam de ser afinados. Percebemos também, que é igualmente importante a participação da turma na avaliação da leitura, pois enquanto um aluno avalia o outro, este aperfeiçoa a sua leitura e melhora nos aspectos discutidos. Em função das constatações havidas, recomendamos aos professores que adoptem os critérios de avaliação da leitura oral por nós propostos, de modo a valorizá-la na aula de português. Aos gestores da educação, e demais parceiros, recomendamos que desenhem concursos de leitura oral que possam valoriza-la e criar maior gosto pela leitura por parte dos alunos. Aos professores em formação e demais formadores, que desenhem outros estudos que visam melhorar as estratégias didácticas de abordagem e avaliação das demais matérias. 18 Referências bibliográficas 1. AMOR, Emília. Didáctica do Português - Fundamentos e Metodologia. Lisboa, Texto editora, 1996. 2. CONTENTE, Madalena. A leitura e a escrita – estratégias de ensino para todas as disciplinas. Lisboa, 2ª edição, 2000. 3. GOMES et al. O livro do professor. 1º vol, Fundação Calouste Gulbendian,1991. 4. GONCALVES, Perpétua e DINIZ, Maria João (org). Português no ensino primário: Estratégias e Exercícios. Maputo, INDE, 2004. 5. GONÇALVES, Dulce. Avaliação da fluência da leitura oral e dificuldades na aprendizagem: aplicações clínicas e educacionais. Faculdade de Psicologia, Universidade de Lisboa. Portugal. 2013 6. PRODANOV, C. C & FREITAS, E. Cesarde. Metodologia do trabalho científico: Métodos e Técnicas da Pesquisa e do Trabalho Académico. 3ª Edição. Universidade Feevale. Rio Grande do Sul. 2013. 7. SILVA E. Lúcia da & MENEZES, E. Muszkat. Metodologia da Pesquisa e Elaboração de Dissertação. 3ª Edição revisada e actualizada. Florianópolis. 2001. 8. NERICI, Imídio Giuseppe. Introdução a Didáctica Geral. Volume 2. Editora Cientifica. Rio de Janeiro. 9. 10.PAULO ABRANTES et al. Avaliação das aprendizagens – Das concepções as práticas – Ministério da Educação. 2012 10. INDE/MINED – Moçambique, Português, Programa da 8ª Classe, INDE-MINED. Maputo. 2010.
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