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Universidade Federal de Pelotas Ciência dos Materiais Aula 06: Propriedades Mecânicas Profa. Amanda Dantas de Oliveira 1° Semestre/2016 Roteiro da aula Tensão versus deformação; Deformação elástica; Deformação plástica; Dureza. Introdução Muitos materiais quando em serviço, estão sujeitos a forças ou cargas; alguns exemplos são a liga de alumínio a partir da qual a asa de um avião é construída e o aço no eixo de um automóvel. Em tais situações, torna-se necessário avaliar as propriedades mecânicas do material para fazer o “design” da peça, de tal maneira que qualquer deformação resultante não seja excessiva e não ocorra fratura. Esta é a razão principal para o teste mecânico de materiais. Introdução O comportamento mecânico de um material reflete a relação entre a sua resposta ou deformação a uma carga ou força que esteja sendo aplicada. Algumas propriedades mecânicas Resistência mecânica Rigidez Ductilidade Dureza Tenacidade Resiliência Como determinar as propriedades mecânicas? Através de ensaios mecânicos Utiliza-se normalmente corpos de prova Utilização de normas técnicas para o procedimento das medidas e confecção do corpo de prova. Introdução A propriedades mecânica dos materiais são verificadas pela execução de experimentos de laboratório cuidadosamente programados, que reproduzem o mais fielmente possível as condições de serviço Dentre os fatores a serem considerados incluem-se a natureza da carga aplicada e a duração da sua aplicação, bem como as condições ambientais Natureza das cargas Tração Compressão Natureza das cargas Flexão Torção Tensão versus deformação Ensaio de ruptura por tração: Neste ensaio um corpo-de-prova é tracionado a uma velocidade constante; É registrado uma curva tensão versus deformação; Tensão versus deformação Se uma carga é estática ou se ela se altera de uma maneira relativamente lenta ao longo do tempo e é aplicada uniformemente sobre uma seção reta O comportamento mecânico pode ser verificado mediante um simples ensaio de tensão-deformação. Existem duas maneiras principais segundo as quais uma carga pode ser aplicada: tração e compressão. Ensaios de tração Em um ensaio de tração, uma amostra é deformada, geralmente até a sua fratura, mediante uma carga de tração gradativamente crescente que é aplicada uniaxialmente ao longo de um eixo mais comprido de um corpo de prova. A máquina de ensaios de tração é projetada para alongar o corpo de prova a uma taxa constante, além de medir contínua e simultaneamente a carga instantânea aplicada (com uma célula de carga) e os alongamentos resultantes (usando um extensômetro). Equipamento utilizado para realização do ensaio de tração. Representação esquemática do princípio de funcionamento de uma máquina de ensaio de tração. Ensaios de tração - Metais Ensaios de tração - Metais Ensaios de tração - Polímeros Ensaios de tração Ensaios de tração Corpo de prova Durante os ensaios, a deformação fica confinada à região central, mais estreita, do corpo de prova, que possui uma seção reta uniforme ao longo do seu comprimento. O diâmetro padrão é de aproximadamente 12,8 mm (0,5 pol.), enquanto o comprimento da seção reduzida deve ser de pelo menos quatro vezes esse diâmetro (comum ser 60 mm) Características das fratura Características das fratura Ensaio de tração Dependendo do tipo de material, o ensaio de tensão- deformação leva vários minutos para ser executado e é destrutivo, isto é, a amostra testada é deformada de maneira permanente, sendo geralmente fraturada. Ensaios de tração O resultado de um ensaio de tração deste tipo é registrado em um computador, na forma de carga ou força em função do alongamento (tensão x deformação). Curva tensão versus deformação típica de um material hipotético obtida por meio de um ensaio de tração. Ensaio de tração A partir de uma curva de tensão deformação pode-se obter as seguintes propriedades: Módulo de elasticida de em tração; Tensão e deformação no ponto de escoamento Tensão máxima Tensão e deformação na rupture Ductibilidade Resiliência Tenacidade Ensaios de tração Tensão de engenharia: A tensão apresentada no gráfico é chamada de tensão de engenharia, σ, é definida como 𝜎 = 𝐹 𝐴0 Onde F é a carga na amostra e, Ao, é a área da seção reta original do corpo-de-prova antes da aplicação de qualquer carga na amostra Ensaios de tração Ao Carga, P Carga, P 𝜎 = 𝐹 𝐴0 Unidade: Megapascal (MPa) (1 MPa = 106 N/m2) Ensaios de tração Ao A região central do corpo-de-prova do ensaio de tração apresenta uma área de seção transversal menor que nas extremidades? Essa região é conhecida como comprimento útil, experimenta a maior concentração de tensão, de forma que qualquer deformação significativa será localizada nesta região. Ensaios de tração Deformação de engenharia: A deformação de engenharia (ou deformação), ε, é definida como ∈= 𝑙−𝑙0 𝑙0 = ∆𝑙 𝑙0 Onde l0 é o comprimento original antes de qualquer carga ser aplicada (tensão = 0), e l é o comprimento útil em determinada carga; Nota: a deformação é adimensional, mas muitas vezes é expressa em mm/mm ou em percentual (εx100). Ensaios de compressão Os ensaios tensão-deformação de compressão podem ser conduzidas se as forças nas condições de serviço forem desse tipo. Um ensaio de compressão é conduzido de uma maneira semelhante à de um ensaio de tração, exceto pelo fato de que a força é compressiva e o corpo de prova se contrai ao longo da direção da tensão. Ensaios de compressão As mesmas equações são usadas para calcular a tensão e a deformação de compressão. Uma força compressiva é considerada como sendo negativa tensão também é negativa. Uma vez que l0 é maior que l as deformações compressivas também são negativas. 𝜎 = 𝐹 𝐴0 ∈= 𝑙 − 𝑙0 𝑙0 = ∆𝑙 𝑙0 Deformação elástica A deformação elástica é a deformação temporária. O que significa dizer que quando a carga aplicada é liberada, a peça retorna ao seu estado inicial. Corresponde à parte linear da curva tensão deformação. Deformação elástica Para a maioria dos metais que são submetidos a uma tensão de tração em níveis relativamente baixos, a tensão e a deformação são proporcionais entre si, de acordo com a relação: Essa relação é conhecida como lei de Hooke, e a constante de proporcionalidade E (GPa) é o módulo de elasticidade ou módulo de Young 𝜎 = 𝐸 ∈ Módulo de elasticidade A inclinação da curva tensão-deformação na região elástica é o módulo de elasticidade (E). E, da um indicativo da rigidez do material, ou seja, sua resistência à deformação elástica; A região linear da curva σ-ε é uma apresentação gráfica da lei de Hooke; 𝜎 = 𝐸 ∈ 𝐸 = 𝜎 ∈ Módulo de elasticidade Os valores dos módulos de elasticidade para materiais cerâmicos são caracteristicamente maiores do que para os metais; para os polímeros são menores. Módulo de elasticidade Os valores dos módulos de elasticidade para materiais cerâmicos são caracteristicamente maiores do que para os metais; para os polímeros são menores. Por que? Essas diferenças são uma consequência direta dos diferentes tipos de ligação atômica nesses três tipos de materiais. Módulo de elasticidade Os valores dos módulos de elasticidade para materiais cerâmicos são caracteristicamente maiores do que paraos metais; para os polímeros são menores. Relação da força em função da separação interatômica para átomos ligados tanto fracamente como fortemente . A magnitude do módulo de elasticidade é proporcional à inclinação da cada curva. Módulo de elasticidade Comparação entre propriedades Deformação plástica A deformação plástica é a deformação permanente e não recuperável. Corresponde à parte não-linear da curva tensão deformação. Existe a ocorrência de uma curvatura no ponto de surgimento da deformação plástica, a qual aumenta mais rapidamente com o aumento da tensão. Limite de escoamento O limite de escoamento é a tensão que separa as regiões elástica e plástica (ou onde ocorre o fenômeno de escoamento); Muitas vezes é difícil determinar esta região com precisão, neste caso, a tensão limite de escoamento é definida como a interseção da curva de deformação com uma linha reta paralela à parte elástica, deslocada em 0,2%. Limite de escoamento Tensão Limite de escoamento (LE) Algum significado prático???? P: limite de proporcionalidade – Ponto onde ocorre o afastamento inicial da linearidade da curva tensão-deformação. Limite de escoamento Limite de escoamento (LE) O limite de escoamente tem grande significado prático, ele mostra a resistência do metal à deformação permanente e indica a facilidade que o metal pode ser moldado por operações de conformação. Limite de resistência à tração O limite de resistência à tração, LRT, é a tensão máxima registrada na curva tensão-deformação de engenharia; LRT Limite de resistência à tração Se esta tensão for aplicada e mantida, o resultado será uma fratura. Toda deformação até este ponto é uniforme ao longo da região estreita do corpo de prova que se encontra sobre tração. Nesta tensão máxima, uma pequena constrição ou repouso (ou pescoço) começa a se formar em algum ponto determinado, e toda a deformação subsequente fica confinada neste pescoço. Esse fenômeno é conhecido por “empescoçamento”, e a fratura ocorre enfim nesse pescoço. Limite de resistência à tração Empescoçamento Polímeros Ductilidade Representa uma medida da extensão da deformação plástica que ocorre até a fratura Pode ser expressa quantitativamente tanto como alongamento percentual como redução de área percentual. O alongamento percentual (AL%) é a porcentagem da deformação plástica quando do momento da fratura 𝐴𝐿% = 𝐿𝑓 − 𝐿0 𝑙0 𝑥100 Ductilidade Outra definição, menos usada, é a redução percentual na área: Onde A0 é a área original da seção reta e Af é a área da seção reta no ponto de fratura. 𝑅𝐴% = 𝐴0− 𝐴𝑓 𝐴0 𝑥100 Ductilidade Com base no diagrama tensão-deformação da figura, qual material apresenta maior ductilidade? Ductilidade Um material que experimenta uma deformação plástica muito pequena (inferior a ~5%) ou mesmo nenhuma deformação plástica quando da sua fratura é chamado de frágil. Ductilidade Um material que experimenta uma deformação plástica muito pequena ou mesmo nenhuma deformação plástica quando da sua fratura é chamado de frágil. Figura. Curvas de tensão versus deformação para compósitos com matriz de PP. Ductilidade Importância Fornece ao projetista uma indicação do grau segundo o qual uma estrutura irá se deformar plasticamente antes de se fraturar. Especifica o grau de deformação permissível durante operações de fabricação Tenacidade Capacidade de o material absorver energia mecânica até a fratura Ela é a área sob a curva tensão-deformação até o ponto da fratura. Tenacidade Para que um material seja tenaz, ele deve apresentar tanto resistência como ductilidade; e frequentemente materiais dúcteis são mais tenazes do que materiais frágeis Tenacidade Resiliência É a capacidade de um material absorver energia quando ele é deformado elasticamente e depois, com o descarregamento, ter essa energia rercuperada A propriedade associada é o modulo de resiliência Ur, é difinido como a área sob a curva tensão-deformação na região elástica; Coeficiente de Poisson Alguns materiais sofrem uma contração perpendicular à tensão de tração aplicada, esse efeito é caracterizado pelo coeficiente de Poisson, v, onde 𝑣 = − ∈𝑥 ∈𝑧 = − ∈𝑦 ∈𝑧 Tensão-deformação de cisalhamento A tensão de cisalhamento, τ, é definida como 𝜏 = 𝑃𝑠 𝐴𝑠 Onde Ps é a força na amostra e As, é a área da amostra paralela (em vez de perpendicular) à carga aplicada; Tensão-deformação de cisalhamento A tensão de cisalhamento produz um deslizamento angular (α) com a deformação de cisalhamento, γ, sendo definida como 𝛾 = 𝑡𝑎𝑛𝛼 = ∆𝑦/𝑍𝑜 Módulo de cisalhamento O módulo de cisalhamento (ou módulo de rigidez), G, é definido de maneira análoga ao modulo de elasticidade; O modulo de elasticidade, E, e o modulo de rigidez, G, estão relacionados pelo coeficiente de Poisson, v; 𝐺 = 𝜏 𝛾 𝐸 = 2𝐺(1 + 𝑣) Problema exemplo Pela figura abaixo, calcule E, LE, LRT e o alongamento percentual na fratura para um corpo-de-prova de alumínio? 480 MPa 0,0043 410 MPa 300 MPa 0,002 Problema exemplo Pela figura abaixo, calcule E, LE, LRT e o alongamento percentual na fratura para um corpo-de-prova de alumínio? 0,08 𝐿𝐸 = 410𝑀𝑃𝑎 𝐿𝑅𝑇 = 480𝑀𝑃𝑎 ∈𝑓= 0,08 𝑥 100 = 8% 480 MPa 0,0043 410 MPa 300 MPa 0,002 𝐸 = 𝜎 ∈ = 300 𝑥 106 𝑃𝑎 0,0043 = 70𝐺𝑃𝑎 Dureza O ensaio de dureza é uma alternativa ao ensaio de tração, pois é um ensaio não destrutivo; A dureza é a resistência do material à penetração (ou indentação); Dureza Um pequeno penetrador é forçado contra a superfície de um material a ser testado, sob condições controladas de carga e taxa de aplicação. Faz a medida da profundidade ou do tamanho da impressão resultante, a qual por sua vez é relacionada a um número índice de dureza. Quanto mais macio o material, maior e mais profunda é a impressão e menor é o número índice de dureza. Dureza Universidade Federal de Pelotas Ciência dos Materiais Aula 07: Discordâncias e Mecanismos de Aumento de Resistência Profa. Dra. Amanda Dantas de Oliveira 1° Semestre/2016 Roteiro da aula Discordâncias e a deformação plástica Mecanismos do aumento de resistência em metais Recuperação, recristalização e crescimento de grão Introdução Os materiais podem experimentar dois tipos de deformação elástica e plástica. A deformação plástica é permanente, e a resistência e a dureza são medidas da resistência de um material a esta deformação. Em uma escala microscópica a deformação plástica corresponde ao movimento líquido ou global de um grande número de átomos em resposta à aplicação de uma tensão. Introdução Durante este processo, as ligações interatômicas devem ser rompidas e depois formadas novamente. Em sólidos cristalinos, a deformação plástica envolve na maioria das vezes o movimento de discordâncias. Discordâncias Existem dois tipos de discordâncias: discordância aresta e a espiral. Em uma discordância aresta, existe uma distorção localizada da rede cristalina ao longo da extremidade de um semiplano adicional de átomos, que também define a linha da discordância. Linha da discordância aresta As posições atômicas em torno de uma discordância aresta. Os semiplanos atômicos adicionais estão mostrados em perspectiva. Discordâncias e a deformação plástica A deformação plástica corresponde ao movimento de grandesnúmeros de discordâncias. Uma discordância aresta se move em resposta à aplicação de uma tensão de cisalhamento em uma direção perpendicular à sua linha. Rearranjos atômicos que acompanham o movimento de uma discordância aresta à medida que ela se move em resposta à aplicação de uma tensão de cisalhamento. Discordâncias e a deformação plástica Considerando o semipleno adicional de átomos como sendo o plano A. Quando a tensão de cisalhamento é aplicada o plano A é forçado para a direita; isto, por sua vez, empurra as partes superiores dos planos B, C, D, e assim por diante, nessa mesma direção. Se a tensão de cisalhamento aplicada possui magnitude suficiente, as ligações interatômicas do plano B são rompidas ao longo do plano de cisalhamento e a metade superior do plano B se torna o semipleno adicional, à medida que o plano A se liga com a extremidade inferior do plano B. Discordâncias e a deformação plástica Esse processo se repete subsequentemente para outros planos, de tal modo que o semipleno adicional, mediante degraus discretos, se move da esquerda para a direita por meio de sucessivas e repetidas quebras de ligações e deslocamentos de semiplanos superiores através de distâncias interatômicas. Rearranjos atômicos que acompanham o movimento de uma discordância aresta à medida que ela se move em resposta à aplicação de uma tensão de cisalhamento. Discordâncias e a deformação plástica O processo pelo qual a deformação plástica é produzida mediante o movimento de uma discordância é chamado de escorregamento. O plano cristalográfico ao longo do qual a linha da discordância se movimenta é o plano de escorregamento. A deformação plástica macroscópica corresponde simplesmente a uma deformação permanente que resulta do movimento de discordâncias, ou escorregamento, em resposta à aplicação de uma tensão de cisalhamento. Discordâncias e a deformação plástica O movimento da discordância é análogo ao modo de locomoção empregado por uma lagarta. A corcova da lagarta e seu movimento correspondem ao semiplano adicional de átomos no modelo da deformação plástica por discordâncias. Representação da analogia entre os movimentos de uma lagarta e de uma discordância. Discordâncias e a deformação plástica Todos os materiais cristalinos contêm algumas discordâncias que foram introduzidas durante: O processo de solidificação; Deformação plástica; E como consequência das tensões térmicas que resultam de um resfriamento rápido. Discordâncias e a deformação plástica Densidade de discordâncias: Expresso como o comprimento total de discordâncias por unidade de volume que intercepta ou o número de discordâncias que intercepta uma área unitária de uma seção aleatória. Unidades: mm de discordância/mm3 ou discordâncias/mm2. Cristais metálicos cuidadosamente solidificados 103 mm-2; No caso de metais altamente deformados 109 a 1010 mm-2; O tratamento térmico de uma amostra de um metal deformado pode diminuir a densidade de discordâncias para 105 a 106 mm-2; Materiais cerâmicos 102 a 104 mm-2. Discordâncias e a deformação plástica Características das discordâncias Características importantes em relação às propriedades mecânicas dos metais: Campos de deformação que existem ao redor das discordâncias, que são importantes na determinação da mobilidade das discordâncias; habilidade das discordâncias em se multiplicar. Discordâncias e a deformação plástica Metais submetidos a deformação plástica: 5% da energia de deformação é retida internamente; 95% da energia é perdida na forma de calor. A maior parte da energia armazenada consiste em uma energia de deformação que está associadas a discordâncias. Discordância aresta existe alguma distorção do retículo atômico ao redor da linha da discordância devido à presença do semiplano adicional de átomos. Discordâncias e a deformação plástica Discordância aresta: compressão tração Os átomos imediatamente acima e adjacentes à linha da discordância são pressionados uns contra os outros sofrem deformação compressiva em relação aos átomos posicionados no cristal perfeito e localizados distantes das discordâncias. Átomos localizados abaixo suportam uma deformação de tração que lhes é imposta. Essas distorções da rede cristalina podem ser consideradas como sendo campos de deformação que se irradiam da linha da discordância Regiões de compressão (parte superior) e tração (parte inferior) localizadas ao redor de uma discordância aresta. Discordâncias e a deformação plástica Campos de deformação ao redor de discordâncias vizinhas podem interagir de tal forma que sejam impostas forças sobre cada discordância pelas interações combinadas de todas as discordâncias vizinhas. Discordâncias e a deformação plástica Considere duas discordâncias aresta que possuem o mesmo sinal e plano de escorregamento idêntico. Os campos de deformação de compressão e tração para ambas as discordâncias encontram-se no mesmo lado do plano de escorregamento A interação do campo de deformação é tal que existe uma força repulsiva mútua entre essas duas discordâncias isoladas, que tende a afastar uma da outra. Repulsão (a) Duas discordâncias aresta de mesmo sinal e localizadas sobre o mesmo plano de escorregamento exercem uma força repulsiva uma sobre a outra. Discordâncias e a deformação plástica Por outro lado, duas discordâncias com sinais opostos e que possuem o mesmo plano de escorregamento serão atraídas uma para outra. Quando elas se encontram irá ocorrer uma anulação das discordâncias. Isto é, os dois semiplanos adicionais de átomos irão se alinhar e formar um semiplano completo. Atração (b) Discordâncias localizadas sobre o mesmo plano de escorregamento exercem uma força atrativa. Anulação de discordâncias Cristal perfeito Discordâncias e a deformação plástica Durante a deformação plástica número de discordâncias aumenta drasticamente. Fontes importantes de novas discordâncias: Discordâncias existentes que se multiplicam; Contornos de grãos; Defeitos internos e irregularidades da superfície, tais como, riscos e entalhes, que atuam como concentradores de tensão. Sistemas de escorregamento Discordâncias não se movem com o mesmo grau de facilidade sobre todos os planos cristalográficos de átomos e em todas as direções cristalográficas. Existe um plano preferencial, e neste plano existem direções específicas ao longo das quais ocorre o movimento das discordâncias. Sistemas de escorregamento Este plano é chamado plano de escorregamento e a direção do movimento direção de escorregamento. A combinação do plano de escorregamento e da direção de escorregamento Sistema de escorregamento. Sistemas de escorregamento O sistema de escorregamento depende da estrutura cristalina. Para uma dada estrutura cristalina: Plano de escorregamento plano que possui empacotamento atômico mais denso que possui maior densidade planar; Direção de escorregamento direção neste plano de escorregamento que se encontra mais densamente compactada com átomos que possui maior densidade linear. Sistemas de escorregamento Exemplo: Estrutura cristalina CFC Família {111} todos os planos estão densamente compactados. O escorregamento ocorre ao longo da direção <110> no interior dos planos {111} {111} e <110> sistema de escorregamento para estrutura CFC. (a) Um sistema de escorregamento {111} <110> mostrado no interior de uma célula unitária CFC; b) O plano (111) mostrado em (a) e três direções de escorregamento<110> no interior daquele plano compreendem possíveis sistemas de escorregamento. Direções de escorregamento Sistemas de escorregamento Para uma estrutura cristalina podem existir vários sistemas de escorregamento. O número de sistemas de escorregamento independentes representa as diferentes combinações possíveis de planos e direções de escorregamento. Para a estrutura cristalina CFC 12 sistemas de escorregamento: Quatro planos {111} diferentes; Dentro de cada plano, três direções <110> independentes. Sistemas de escorregamento Tab. Sistemas de escorregamento para metais Cúbicos de Faces Centradas, Cúbicos de Corpo Centrado e Hexagonal Compacto. Metais Plano de escorregamento Direção de escorregamento Número de sistemas de escorregamento Sistemas de escorregamento Metais com estruturas cristalinas CFC e CCC Possuem um número relativamente grande de sistemas de escorregamento (pelo menos 12). Esses metais são bastante dúcteis, pois uma extensa deformação plástica é normalmente possível ao longo dos vários sistemas. Metais com estrutura HC, com poucos sistemas de escorregamento ativos, normalmente são bastante frágeis. Deformação plástica de materiais policristalinos Escorregamento complexo. Devido às orientações cristalográficas aleatórias do grande número de grãos, a direção do escorregamento varia de um grão para outro. Deformação plástica de materiais policristalinos A deformação plástica de uma amostra policristalina corresponde à distorção comparável de grãos individuais devido ao escorregamento. Durante a deformação, a integridade mecânica e a coesão são mantidas ao longo dos contornos dos grãos os contornos dos grãos geralmente não se separam ou se abrem. Deformação plástica de materiais policristalinos Alteração da estrutura do grão de um metal policristalino como resultado de uma deformação plástica. (a) Antes da deformação os grãos são equiaxiais, ou seja, possuem aproximadamente a mesma dimensão em todas as direções. (b) A deformação produziu grãos alongados. Os grãos se tornam alongados ao longo da direção na qual a amostra foi estendida. Deformação plástica de materiais policristalinos Materiais policristalinos são mais resistentes do que seus equivalentes monocristalinos maiores tensões são exigidas para dar início ao escorregamento e ao consequente escoamento. Embora um único grão possa estar orientado favoravelmente em relação à tensão aplicada para o escorregamento, ele não pode se deformar até que seus grãos adjacentes também sejam capazes de sofrer escorregamento isso exige um nível mais elevado de tensão aplicada. Mecanismos de Aumento de Resistência Importante para a compreensão dos mecanismos de aumento de resistência é a relação entre o movimento das discordâncias e o comportamento mecânico dos metais. Uma vez que a deformação plástica macroscópica corresponde ao movimento de grandes números de discordâncias A habilidade de um metal para se deformar plasticamente depende da habilidade das discordâncias para se moverem. Mecanismos de Aumento de Resistência Dureza e resistência estão relacionadas com a facilidade com que a deformação pode ser induzida mediante a redução da mobilidade das discordâncias resistência mecânica pode ser melhorada maiores forças mecânicas serão necessárias para dar início à deformação plástica. Mecanismos de Aumento de Resistência Em contraste, quanto menos restringido estiver o movimento das discordâncias maior será a facilidade com a qual um metal poderá se deformar mais macio e mais fraco ele se tornará. Restringir ou impedir o movimento de discordâncias confere maior dureza e mais resistência a um metal Mecanismos de Aumento de Resistência Mecanismos de aumento de resistência para metais: • Redução no tamanho do grão; • Formação de ligas por solução sólida; • Encruamento. Aumento de resistência pela redução no tamanho do grão O tamanho dos grãos influencia as suas propriedades mecânicas. Grãos adjacentes possuem um contorno de grão comum. Durante a deformação plástica o movimento de discordância deve ter lugar através do contorno comum do grão A para o grão B. O movimento de uma discordância à medida que ela encontra um contorno de grão, ilustrando como o contorno atua como uma barreira à continuação do escorregamento. Planos de escorregamento Contorno de grão Grão A Grão B O contorno de grão atua como uma barreira ao movimento das discordâncias pela seguinte razão: • Uma vez que os dois grãos possuem orientações diferentes, ao passar de um grão para o outro a discordância deve mudar sua direção de movimentação (quanto maior a diferença de orientação mais difícil); Aumento de resistência pela redução no tamanho do grão Material com granulação fina (possui grãos pequenos) – é mais duro e mais resistente do que um material que possui granulação grosseira. Por que? Aumento de resistência pela redução no tamanho do grão Material com pequenos grãos possui maior área total de contornos de grãos para dificultar o movimento das discordâncias. Outra técnica utilizada para aumentar a resistência e endurecer metais consiste na formação de ligas com átomos de impurezas que entram em solução sólida substitucional ou intersticial. Metais com pureza elevada são quase sempre mais macios e mais fracos do que as ligas compostas pelo mesmo metal de base. Aumento de resistência por solução sólida O aumento da concentração de impurezas resulta em um consequente aumento no limite de resistência à tração e no limite de escoamento. L im it e d e r e s is tê n c ia a tr a ç ã o ( M p a ) Teor de níquel (%) L im it e d e r e s is tê n c ia a tr a ç ã o ( K s i) Teor de níquel (%) L im it e d e e s c o a m e n to ( M p a ) L im it e d e e s c o a m e n to ( K s i) Variação do (a) limite de resistência a tração, (b) limite de escoamento em função do teor de níquel para ligas cobre-níquel. Aumento de resistência por solução sólida As ligas são mais resistentes do que os metais puros, pois os átomos de impurezas que entram em solução sólida impõem deformações da rede cristalina sobre os átomos hospedeiros vizinhos. Interações dos campos de deformação da rede cristalina entre as discordâncias e esses átomos de impureza resultam do processo e, consequentemente, o movimento das discordâncias é restringido. Aumento de resistência por solução sólida Fenômeno pelo qual um metal dúctil se torna mais duro e mais resistente quando ele é submetido a uma deformação plástica. Também chamado de endurecimento por trabalho. Também chamado de trabalho a frio. %𝐓𝐅 = 𝐀𝟎 −𝐀𝐝 𝐀𝟎 𝐱𝟏𝟎𝟎 A0 – área original da seção reta que experimenta a deformação. Ad – área após a deformação. Aumento de resistência por encruamento Como o aço, latão e o cobre aumentam seu limite de escoamento e seu limite de resistência a tração com o aumento do trabalho a frio. Para o aço 1040, latão e cobre, (a) o aumento no limite de escoamento, (b) o aumento no limite de resistência a tração (%AL) em função do trabalho a frio. L im it e d e e s c o a m e n to ( M p a ) L im it e d e e s c o a m e n to ( K s i) L im it e d e r e s is tê n c ia a t ra ç ã o ( M P a ) L im it e d er e s is tê n c ia a t ra ç ã o ( K s i) Percentual de trabalho a frio Percentual de trabalho a frio Aumento de resistência por encruamento na dureza e na resistência ductilidade do metal Para o aço 1040, latão e cobre, (c) a redução na ductilidade (%AL) em função do trabalho a frio. D u c ti lid a d e ( A L % ) Percentual de trabalho a frio Aumento de resistência por encruamento Encruamento em um diagrama tensão-deformação Diagrama esquemático tensão-deformação em tração mostrando os fenômenos de recuperação da deformação elástica e encruamento. O limite de escoamento inicial é designado por σyo; σ yi é o limite de elasticidade após a liberação da carga no ponto D e depois sob reaplicação da carga. Recuperação da deformação elástica T e n s ã o ( A L % ) Deformação Descarga Reaplicação de carga Aumento de resistência por encruamento O fenômeno de encruamento é explicado com base em Interações entre campos de deformação de discordâncias. A densidade de discordâncias aumenta com a deformação ou com o encruamento, devido a multiplicação ou formação de novas discordâncias. Consequentemente, a distância média de separação entre as discordâncias diminui – as discordâncias são posicionadas mais próximas umas das outras. Aumento de resistência por encruamento Na média, as interações de deformação discordância- discordância são repulsivas. O resultado líquido ou global é tal que o movimento de uma discordância é dificultado pela presença de outras discordâncias. A medida que a densidade de discordância aumenta, essa resistência ao movimento das discordâncias por outras discordâncias se torna mais pronunciada. Dessa forma, a tensão imposta, necessária para deformar um metal, aumenta com o aumento do trabalho a frio. Aumento de resistência por encruamento Recuperação, Recristalização e Crescimento de Grão Deformação plástica de umas amostra metálica policristalina: Alteração na forma do grão; Endurecimento por deformação plástica a frio; Aumento na densidade das discordâncias. Essas propriedades e estruturas podem reverter novamente aos seus estados anteriores ao trabalho a frio mediante um tratamento térmico apropriado (recozimento). Recuperação e recristalização; Crescimento de grão. Uma parte da energia interna de deformação armazenada é liberada em virtude do movimento das discordâncias, como resultado de uma melhor difusão atômica a temperatura mais elevada. Redução no número de discordâncias. Propriedades físicas (condutividade elétrica e térmica) são recuperadas aos seus estados que existiam antes do processo de trabalho a frio. Recuperação Processo de formação de um novo conjunto de grãos livres de deformação e que são equiaxiais, com baixa densidade de discordâncias e que são característicos das condições que existem antes do processo de trabalho a frio. Novos grãos núcleos muito pequenos e que crescem através de processos que envolvem difusão. Recristalização pode ser usada para refinar a estrutura do grão. Recristalização Fotomicrografias mostrando vários estágios da recristalização e do crescimento de grãos de latão. (a) Estrutura de grãos submetidos ao trabalho a frio (33%TF). (b) Estágio inicial de recristalização após aquecimento por 3 s a 580°C. Os grãos muito pequenos são aqueles que foram recristalizados. Recristalização Fotomicrografias mostrando vários estágios da recristalização e do crescimento de grãos de latão. (c) Substituição parcial de grãos trabalhados a frio por grãos recristalizados (4 s a 580°C). (d) Recristalização completa (8 s a 580°C). Recristalização Durante a recristalização, as propriedades mecânicas que foram alteradas em função do trabalho a frio são restauradas aos seus valores existentes antes o metal se torna mais macio, mais resistente, porém mais dúctil. Recristalização depende tanto do tempo quanto da temperatura o grau de recristalização aumenta em função do tempo. Recristalização Influência da temperatura A influência da temperatura de recozimento sobre o limite de resistência a tração e a ductilidade de uma liga de latão. O tamanho de grão está indicado em função da temperatura de recozimento. As estruturas dos grãos durante os estágios de recuperação, recristalização e crescimento de grãos estão mostrados esquematicamente. L im it e d e r e s is tê n c ia a tr a ç ã o ( M p a ) T a m a n h o d o g rã o (m m ) Grãos submetidos ao trabalho a frio e a recuperação Temperatura de recozimento (°C) Recristalização Após a recristalização estar completa, os grãos livres de deformação continuarão a crescer se a amostra do metal for deixada a uma temperatura elevada crescimento de grão. À medida que os grãos aumentam de tamanho, a área total de contornos diminui, produzindo uma consequente redução na energia total força motriz para o crescimento do grão. O crescimento de grão ocorre pela migração de contornos de grão. Grãos maiores crescem à custa dos menores, que encolhem. Crescimento de Grão Fotomicrografias mostrando vários estágios da recristalização e do crescimento de grãos de latão. (e) Crescimento de grão após 15 min a 580°C. (f) Crescimento de grão após 10 min a 700°C. Crescimento de Grão O movimento dos contornos consiste simplesmente na difusão dos átomos em pequena escala de um lado do contorno de um grão para o outro. As direções do movimento do contorno e do movimento atômico são opostas uma à outra. Representação esquemática do crescimento dos grãos através de difusão atômica. Difusão atômica através do contorno Direção do movimento do contorno do grão Crescimento de Grão Dependência do tamanho do grão em relação ao tempo e à temperatura. O logaritmo do diâmetro de grão em função do logaritmo do tempo para crescimento de grão no latão a várias temperaturas. Tempo (min) Escala logarítmica D iâ m e tr o d o g rã o ( m m ) (E s c a la l o g a rí tm ic a ) Crescimento de Grão As propriedades mecânicas à temperatura ambiente de um metal com granulação fina são em geral superiores (maior resistência e tenacidade) do que aquelas dos metais com grãos grosseiros Crescimento de Grão Universidade Federal de Pelotas Ciência dos Materiais Aula 8: Propriedades Térmicas Profa. Dra. Amanda Dantas de Oliveira 1° Semestre/2016 INTRODUÇÃO Propriedade térmica É a resposta do material à aplicação de calor; A medida que um sólido absorve energia na forma de calor sua temperatura e dimensões aumentam; INTRODUÇÃO Propriedades térmicas Quais são? Capacidade Calorífica Expansão térmica Condutividade térmica CAPACIDADE CALORÍFICA Indica a habilidade do material absorver calor da sua vizinhança externa; Representa a quantidade de energia necessária para produzir um aumento unitário de temperatura. C = capacidade térmica (J/molK, cal/molK) dQ = energia necessária (quantidade de calor) para produzir uma mudança dT de temperatura. CAPACIDADE CALORÍFICA Calor específico (c) Representa a capacidade térmica por unidade de massa (J/Kg.K ou cal/g.K); 𝐶 = 𝑄 𝑚. ∆𝑇 Pode ser determinado mantendo-se o volume do material constante (Cv), ou mantendo-se a pressão externa constante (Cp). Cp > Cv; CAPACIDADE CALORÍFICA VIBRACIONAL Na maioria dos sólidos, oprincipal modo de absorver energia térmica é pelo aumento da energia vibracional dos átomos. Em vez de serem independentes umas das outras, as vibrações de átomos adjacentes estão acopladas entre si em virtude das ligações atômicas. As vibrações na rede são coordenadas e propagadas na forma de ondas (curtas e de alta frequência) pela rede cristalina. CAPACIDADE CALORÍFICA VIBRACIONAL Posições normais dos átomos nos retículos Posições deslocadas devido às vibrações Figura. Representação esquemática da geração de ondas reticulares em um cristal por meio de vibrações atômicas. CAPACIDADE CALORÍFICA VIBRACIONAL A energia térmica vibracional para um material consiste em uma série dessas ondas essas ondas vibracionais são chamadas de fônons. CAPACIDADE CALORÍFICA Dependência da temperatura O valor de Cv é de zero para uma temperatura de 0 K. Mas sobe rapidamente em resposta a um aumento de T; Acima do que é chamado a temperatura de Debye (qD), o valor de Cv se estabiliza e torna-se independente da temperatura; Cv ≈ 3R Figura. Dependência da capacidade calorífica em relação a T. Outras contribuições para a Capacidade calorífica Contribuição eletrônica, ou seja, energia absorvida por elétrons pelo aumento de sua energia cinética; Essa contribuição é menor que a contribuição vibracional. Expansão térmica A maioria dos materiais expandem quando aquecidos e contraem quando resfriados; A variação no comprimento em função da T pode ser expressa da seguinte maneira: a é o coeficiente linear de expansão térmica. Propriedade do material indicativa do grau segundo o qual um material de expande quando é aquecido. Expansão térmica O aquecimento ou o resfriamento afeta todas as dimensões de um corpo, causando uma consequente alteração no seu volume. A variação no volume em função da T pode ser expressa da seguinte maneira: a é o coeficiente volumétrico de expansão térmica. CONDUTIVIDADE TÉRMICA Condução térmica é o fenômeno no qual o calor é transportado de uma região de alta temperatura para outra de baixa temperatura; A propriedade que caracteriza a habilidade do material transferir calor é a condutividade térmica. CONDUTIVIDADE TÉRMICA q é o fluxo de calor por unidade de tempo e área, K é a condutividade térmica; dT/dx é o gradiente de temperatura através do material; O sinal negativo indica que a direção do fluxo é da fonte quente para a fonte fria. CONDUTIVIDADE TÉRMICA Mecanismos de condução O calor é transportado em materiais sólidos por fônons e por elétrons livres; Onde kr e ke representam as condutividades térmicas devidas à vibração do retículo e aos elétrons, respectivamente. CONDUTIVIDADE TÉRMICA Mecanismos de condução Os elétrons livres ou condutores participam na condução térmica eletrônica. Aos elétrons livres em uma região quente da amostra é concedido um ganho em energia cinética. Eles então migram para as áreas mais frias, onde uma parte dessa energia cinética é transferida para os próprios átomos (na forma de energia vibracional). A contribuição relativa de Ke para a condutividade térmica total aumenta com o aumento das concentrações de elétrons livres, uma vez que mais elétrons estão disponíveis para participar nesse processo de transferência de calor. CONDUTIVIDADE TÉRMICA Mecanismos de condução - Metais Em metais com alta pureza, a contribuição dos elétrons é muito mais eficiente do que a contribuição dos fônons; Os metais são condutores de calor extremamente bons, pois existem números relativamente grandes de elétrons livres que participam na condução térmica. CONDUTIVIDADE TÉRMICA Mecanismos de condução - Metais A formação de ligas com os metais pela adição de impurezas resulta em uma redução na condutividade térmica. Átomos de impurezas atuam como centro de espalhamento reduzindo a eficiência do movimento dos elétrons. Figura. Condutividade térmica em função da composição para ligas cobre-zinco. CONDUTIVIDADE TÉRMICA Mecanismos de condução Materiais cerâmicos são isolantes térmicos pequena quantidade de elétrons livres. Dessa forma, os fônons são os principais responsáveis pela condutividade térmica. Vidros e outras cerâmicas amorfas possuem menor condutividade que cerâmicas cristalinas fônons espalham com maior facilidade em uma estrutura desordenada. CONDUTIVIDADE TÉRMICA Mecanismos de condução Polímeros são isolantes térmicos; Nos polímeros a transferência de energia ocorre pela vibração e rotação das cadeias poliméricas. A condutividade aumenta com o grau de cristalinidade do polímero (vibração mais coordenada no polímero cristalino). Universidade Federal de Pelotas Ciência dos Materiais Aula 09: Propriedades Elétricas Profa. Dra. Amanda Dantas de Oliveira 1° Semestre/2016 Introdução Propriedades elétricas Resposta dos materiais à aplicação de um campo elétrico. As propriedades elétricas dependem de diversas características dos materiais configuração eletrônica, tipo de ligação química e os tipos de estrutura e microestrutura. Condução Elétrica Lei de Ohm Relaciona a corrente I, à voltagem aplicada V, da seguinte maneira: 𝑉 = 𝐼𝑅 Onde I é a intensidade de corrente elétrica, medida em ampère – A (C/s) , V é a tensão elétrica aplicada, medida em volt – V (J/C) e R a resistência elétrica do circuito, medida em ohm - (V/A). Resistividade É independente da geometria da amostra, mas está relacionada a R: 𝜌 = 𝑅𝐴 𝑙 ou 𝜌 = 𝑉𝐴 𝑰𝑙 l é a distância entre os dois pontos onde é medida a voltagem e A é a área da seção reta perpendicular à direção da corrente e r é expresso em ohm-metro (Ω .m). Amperímetro Resistor variável Bateria AmostraÁrea da seção reta, A Voltímetro Representação esquemática de um sistema usado para medir a resistividade elétrica. Condutividade elétrica É o inverso da resistividade elétrica É um indicative da facilidade como que um material é capaz de conduzir uma corrente elétrica. Unidade: é o inverso de ohm-metro (Ω .m)-1. 𝜎 = 1 𝜌 Condutividade elétrica Outras expressões utilizadas para expressar a Lei de Ohm: J – densidade de corrente, corrente por unidade de área da amostra (I/A). 𝜀 é a intensidade do campo elétrico. 𝐽 = 𝜎𝜀 Condutividade elétrica Outras expressões utilizadas para expressar a Lei de Ohm: 𝜀 é a diferença de voltagem entre dois pontos dividida pela distância que separa estes dois pontos. 𝜀 = 𝑉 𝑙 Classificação Uma forma de classificar os materiais sólidos é de acordo com a facilidade com a qual eles conduzem uma corrente elétrica. Condutores: condutividade da ordem de 107 (Ω .m)-1. Semicondutores: apresentam condutividade intermediária, geralmente entre 10-6 e 104 (Ω .m)-1. Isolantes: condutividade muito baixa, variando entre 10-10 e 10-20 (Ω .m)-1. Condução eletrônica Uma corrente elétrica resulta do movimento de partículas eletricamente carregadas em resposta a forças que atuam sobre elas a partir de um campo elétrico que é aplicado externamente. No interior da maioria dos materiais sólidos, uma corrente tem origem a partir do escoamento de elétrons – Condução eletrônica. Bandas de Energia nos sólidos Em todos os condutores, semicondutores e em muitos materiais isolantes a magnitude da condutividade elétrica é fortemente dependente do número de elétrons que está disponível para participar no processo de condução. Bandas de Energia nos sólidos Um sólidopode ser considerado como consistindo em um grande número de átomos inicialmente separados uns dos outros, Os quais são subsequentemente agrupados e ligados para formar o arranjo atômico ordenado que é encontrado no material cristalinos. À medida que esses átomos chegam próximos uns aos outros, os elétrons sentem a ação dos elétrons e núcleos dos átomos adjacentes ou são perturbados por eles. Bandas de Energia nos sólidos Esta influência é tal que cada estado atômico distinto pode se dividir em uma série de estados eletrônicos proximamente espaçados, para formar o que é conhecido como banda de energia eletrônica. A extensão da divisão depende da separação interatômica e começa com as camadas eletrônicas mais externas, uma vez que elas são as primeiras a serem perturbadas quando os átomos coalescem. Bandas de Energia nos sólidos Figura - Gráfico da energia eletrônica em função da separação interatômica para um agregado de 12 átomos. Com a aproximação, cada um dos estados atômicos 1s e 2s se divide para formar uma banda de energia eletrônica que consiste em 12 estados. Separação interatômica En er gi a Estado eletrônico 1s Estado eletrônico 2s Estados energéticos permitidos individuais Bandas de energia dos elétrons 2s (12 estados) Bandas de energia dos elétrons 1s (12 estados) Bandas de Energia nos sólidos Figura – (a) A representação convencional da estrutura da banda de energia eletrônica para um material sólido na separação interatômica de equilíbrio. (b) Energia eletrônica em função da separação interatômica para um agregado de átomos. Separação interatômica En er gi a Estado eletrônico 1s Estado eletrônico 2s En er gi a En er gi a Separação entre bandas de energia Bandas de Energia nos sólidos Quatro tipos diferentes de estruturas de bandas são possíveis a uma temperatura de 0 K. Condutor metálico Banda mais externa parcialmente preenchida. Ex.: Cu 1e- de valência S Condutor metálico Superposição da banda de valência com a banda de condução vazia. Ex. Mg Isolante Semicondutor Apresentam banda proibida gap isolante > gap semicondutor Bandas de Energia nos sólidos Energia de Fermi É definido como o nível de energia abaixo do qual todos os estados de energia estão ocupados a 0K. Banda de condução banda de energia vazia ou parcialmente preenchida. Banda de valência – banda de energia parcialmente preenchida com elétrons de maiores estados energéticos. Bandas de Energia nos sólidos Apenas os elétrons que possuem energias maiores do que a energia de Fermi podem sentir a ação e serem acelerados na presença de um campo elétrico. Esses são os elétrons que participam no processo de condução, os quais são chamados de elétrons livres. Nos semicondutores e isolantes uma entidade eletrônica conhecida como buraco também participa da condução elétrica e tem energia menor que a energia de Fermi. Estruturas de bandas de energia - Metais Para que um elétron se torne livre, ele deve ser excitado ou promovido para um dos estados de energia vazios e disponíveis acima de Ef. Para os metais (figura) existem os estados de energia vazios adjacentes ao estado preenchido mais alto em Ef. Dessa forma, pouca energia é necessária para promover os elétrons para os estados vazios. Geralmente, a energia fornecida por um campo elétrico é suficiente para excitar grande números de elétrons. Cu Mg Altos valores de condutividade Estruturas de bandas de energia - Metais Estados vazios En er gi a Estados preenchidos Excitação do elétron Figura – Para um metal, a ocupação dos estados eletrônicos (a) antes e (b) depois de uma excitação dos elétrons. Estruturas de bandas de energia – Semicondutores e isolantes A banda de valência que está completamente preenchida está separada da banda de condução vazia entre elas por um espaçamento entre bandas de energia (GAP). Para se tornarem livres, portanto, os elétrons devem ser promovidos através do espaçamento entre bandas de energia e para estados vazios na parte inferior da banda de condução. Isolantes Semicondutores Estruturas de bandas de energia – Semicondutores e isolantes O número de elétrons tecnicamente excitados (através de energia térmica) para a banda de energia depende da largura do espaçamento e da temperatura. Quanto maior o espaçamento entre as bandas, para uma dada temperatura, menor a condutividade elétrica. A distinção entre semicondutores e isolantes reside na largura do espaçamento entre as bandas; nos semicondutores, esse espaçamento é estreito, enquanto nos isolantes esse espaçamento é relativamente grande. Estruturas de bandas de energia – Semicondutores e isolantes A energia necessária para superar o gap de energia pode ser de natureza térmica ou luminosa. Quando um elétron é promovido para a banda de condução, deixa, na banda de valência, um buraco, de carga positiva, que também pode participar da condução. Estruturas de bandas de energia - Metais Figura – Para um isolante ou semicondutor, a ocupação dos estados eletrônicos (a) antes e (b) depois de uma excitação dos elétrons da banda de valência para a banda de condução, onde tanto elétrons livres como buracos são gerados. Mobilidade eletrônica Quando um campo elétrico é aplicado, uma força é colocada para atuar sobre os elétrons livres, como consequência, todos eles experimentam uma aceleração em uma direção oposta àquela do campo, em virtude de suas cargas negativas. Todos os elétrons livres devem acelerar enquanto o campo elétrico é aplicado, o que deve dar origem a uma corrente elétrica que aumenta continuamente ao longo do tempo. No entanto, isto não ocorre, a corrente elétrica atinge um valor constante no instante em que o campo é aplicado, indicando que existem forças que contrapõem esse campo. Mobilidade eletrônica Essas forças resultam do espalhamento dos elétrons pelas imperfeições no retículo cristalino, incluindo os átomos de impurezas, lacunas, átomos intersticiais, discordância e vibrações térmicas, fazendo com que o átomo perca energia cinética e mude de direção. No entanto, existe um movimento líquido dos elétrons na direção oposta ao campo, e esse fluxo de carga consiste na corrente elétrica. Eventos de espalhamento Movimento líquido do elétron. Figura – Diagrama esquemático mostrando a trajetória de um elétron que é defletido por eventos de espalhamento. Mobilidade eletrônica O espalhamento é manifestado como uma resistência à passagem de uma corrente. Para descrevê-lo, usa-se a velocidade de arraste 𝒗 , proporcional ao campo elétrico 𝑬 e a mobilidade eletrônica 𝝁𝒆 - uma constante de proporcionalidade, onde: 𝑣𝑎 = 𝜇𝑒𝐸 Mobilidade eletrônica A constante de proporcionalidade 𝝁𝒆 indica a frequência de eventos de espalhamentos; as suas unidades são em [m2/V-s]. Para a maioria dos materiais a condutividade é proporcional ao número de elétrons e a mobilidade, podendo ser expressa por: 𝜎 = 𝑛 𝑒 𝜇𝑒 Onde n é o número de elétrons livres ou de condução por unidade de volume, e 𝑒 é a magnitude absoluta da carga elétrica de um elétron (1,6x10-19 C). Resistividade elétrica dos metais Em função dos metais possuírem alta condutividade, discute-se esta em termos da resistividade. Defeitos cristalinos servem como centros de espalhamento para os elétrons de condução nos metais. A concentração das imperfeições depende da temperatura, da composição e do grau de deformação a frio. Os mecanismos de espalhamentoatuam de forma independente um do outro, assim, a resistividade é a soma das parcelas que contribuem. Rede cristalina sem defeitos e vibrações (0 K) → r é nula Resistividade elétrica dos metais Em função dos metais possuírem alta condutividade, discute-se esta em termos da resistividade. Defeitos cristalinos servem como centros de espalhamento para os elétrons de condução nos metais, o aumento do número destes também aumenta a resistividade (ou diminui a condutividade). A concentração das imperfeições depende da temperatura, da composição e do grau de deformação a frio. Resistividade elétrica dos metais A resistividade total de um metal é a soma das contribuições das vibrações térmicas, das impurezas e do grau de deformação plástica – Regra de Matthiessen. 𝜌𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝜌𝑡 + 𝜌𝑖 + 𝜌𝑑 Resistividade elétrica dos metais Efeito da T e da estrutura na resistividade do material. ESTRUTURA PERFEITA A BAIXA TEMPERATURA MOVIMENTO DOS ELÉTRONS A MAIS ALTA TEMPERATURA MOVIMENTO DOS ELÉTRONS EM UMA ESTRUTURA COM IMPUREZAS Resistividade elétrica dos metais Efeito da T e da estrutura na resistividade do material. Variação da resistividade elétrica com a temperatura para o Cu puro e três soluções sólidas Cu-Ni. ↑ de T e de átomos de soluto ↑ a resistividade. Obs: O efeito da deformação na resistividade da liga Cu 1,2 Ni também é apresentado. Semicondutores É um material não-metálico que possui uma banda de valência preenchida à 0 K e cujo espaçamento entre as bandas de energia é relativamente estreito. Tem resistividade entre metais e isolantes. A condutividade aumenta com o aumento de temperatura (ao contrário dos metais). As propriedades elétricas destes materiais são extremamente sensíveis à presença de mesmo minúsculas concentrações de impurezas. Os dois semicondutores elementares são o Si e o Ge. Semicondutores Semicondutores intrínsecos – aqueles em que o comportamento elétrico está baseado na estrutura eletrônica inerente ao metal puro. Semicondutores extrínsecos – as características elétricas são devidas aos átomos de impurezas. Utilização: fabricação de dispositivos eletrônicos e optoeletrônicos: Transistor, LEDS, Células solares, Circuito integrado. Semicondutores – Condução intrínseca Nos semicondutores intrínsecos, para cada elétron excitado para a banda de condução é deixado para trás um elétron que fica faltando em uma das ligações covalentes, ou, no esquema de bandas, um estado eletrônico vazio na banda de valência. Semicondutores – Condução intrínseca Sob a influência de um campo elétrico, a posição desse elétron que está faltando (buraco) dentro do retículo cristalino pode ser considerada como se estivesse de movendo pelo movimento de outros elétrons de valência que repetidamente preenchem a ligação incompleta. Na presença de um campo elétrico, os elétrons excitados e os buracos se movem em direções opostas. Semicondutores – Condução intrínseca Condução resultante dos movimentos eletrônicos nos materiais puros; Dois tipos de portadores de carga (elétrons (n) e buracos (p)). Expressão para condução elétrica: 𝜎 = 𝑛 𝑒 𝜇𝑒 + 𝑝𝑒𝜇𝑏 Mobilidade dos buracos é menor que a dos elétrons. Semicondutores – Condução extrínseca O comportamento elétrico é determinado pelas impurezas, as quais, quando presentes em mesmo em concentrações diminutas, introduzem um excesso de elétrons ou de buracos. Os semicondutores extrínsecos podem ser: - Tipo n: com impurezas que proporcionam elétrons extras - Tipo p: com impurezas que proporcionam buracos extras Semicondutores tipo n Ao associarmos um elemento com cinco elétrons na última camada como o Antimônio, o Fósforo, ou Arsênio, ao material semicondutor, os mesmos irão formar ligações covalentes, porém haverá um elétron que poderá mover-se pela estrutura com maior facilidade, está formado o material com carga negativa. Semicondutores tipo n FÓSFORO É UM DOPANTE TIPO N PARA O SILÍCIO PORQUE PROPORCIONA ELÉTRONS EXTRA 1/5 dos elétrons do P encontra-se fracamente ligado (~ 0.01 eV) e pode ser facilmente promovido a banda de condução. Dopantes que produzem elétrons “extra” são chamados de doadores : ND = N(Fósforo) ~ n Semicondutores tipo p Ao realizar a dopagem do material semicondutor (Silício ou Germânio) através da introdução de impurezas com três elétrons na camada de valência como o Alumínio, o Índio, o Boro ou o Gálio, temos a formação de ligação covalente entre o material semicondutor e a impureza. Ao introduzirmos um elemento deste tipo, numa das ligações faltará um elétron, pois o elemento contribuiu com apenas três elétrons. Esta falta de elétrons comporta-se como um buraco apto a receber elétrons de outra união. Semicondutores tipo p Nesse caso, ocorre um excesso de buracos, produzidos pela adição de impurezas com número de valência inferior ao da matriz. Nesse caso, as impurezas são chamadas de receptoras. BORO É UM DOPANTE TIPO P PARA O SILÍCIO PORQUE PROPORCIONA BURACOS EXTRA
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