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VÍRUS MICROBIOLOGIA FLORESTAL Profª LÚCIA DE FATIMA DE CARVALHO CHAVES DCFL/UFRPE VÍRUS (http://pt.wikipedia.org/wiki/V%C3%ADrus) 09/09/2011 1. INTRODUÇÃO Origem do latim virus = “veneno” ou “toxina”; Pequenos agentes infecciosos → 20-300 ηm de diâmetro – SUBMICROSCÓPICAS; Genoma constituído de uma ou várias moléculas de ácido nucléico (DNA ou RNA); não são considerados organismos, pois não possuem organelas ou ribosssomos, e não apresentam todo o potencial bioquímico (enzimas) necessário à produção de sua própria energia metabólica; são considerados parasitas intracelulares obrigatórios → dependem de células para se reproduzirem são incapazes de crescer em tamanho e de se dividir obtêm: aminoácidos e nucleotídeos / maquinaria de síntese de proteínas (ribossomos) e energia metabólica (ATP) da célula hospedeira VÍRUS representam a maior diversidade biológica do planeta, sendo mais diversos que bactérias, plantas, fungos e animais juntos; são capazes de infectar seres vivos de todos os domínios (Eukaria, Archaea e Bacteria); dentro da célula, a capacidade de replicação dos vírus é surpreendente – um único vírus é capaz de produzir, em poucas horas, milhares de novos vírus; Fora do ambiente intracelular, os vírus são inertes. A ORIGEM DOS VÍRUS EVOLUÇÃO QUÍMICA “Os vírus podem representar micróbios extremamente reduzidos, formas primordiais de vida que apareceram separadamente na sopa primordial que deu origem às primeiras células”. Com base nisto, as diferentes variedades de vírus teriam tido origens diversas e independentes. No entanto, esta hipótese tem pouca aceitação. A ORIGEM DOS VÍRUS EVOLUÇÃO RETRÓGRADA “Os vírus teriam se originado a partir de microrganismos parasitas intracelulares que ao longo do tempo perderam partes do genoma responsáveis pela codificação de proteínas envolvidas em processos metabólicos essenciais, mantendo-se apenas os genes que garantiriam aos vírus sua identidade e capacidade de replicação”. A ORIGEM DOS VÍRUS DNA AUTO-REPLICANTE Os vírus originaram-se a partir de sequências de DNA auto-replicantes (plasmídeos e transposons) que assumiram uma função parasita para sobreviverem na natureza. Obs.: Um transposão, também chamado elemento de transposição ou transpóson,1 é uma sequência de ácido desoxirribonucleico capaz de se movimentar de uma região para outra em um genoma de uma célula. A ORIGEM DOS VÍRUS ORIGEM CELULAR Os vírus podem ser derivados de componentes de células de seus próprios hospedeiros que se tornaram autônomos, comportando-se como genes que passaram a existir independentemente da célula. Algumas regiões do genoma de certos vírus se assemelham a sequências de genes celulares que codificam proteínas funcionais. Esta hipótese é apontada como a mais provável para explicar a origem dos vírus. TAXONOMIA VIRAL 2. CLASSIFICAÇÃO TAXONÔMICA DOS VÍRUS Vírus não são agrupados em domínio, reino, filos ou classes; a estrutura geral da taxonomia dos vírus: Ordem (-virales) Família (-viridae) Subfamília (-virinae) Gênero (-virus) Espécie TAXONOMIA VIRAL a nomenclatura de espécies não possui um padrão universal; cada ramo da virologia – vegetal, animal, bacteriana, médica – adota um padrão de nomenclatura específico; Espécies de vírus de plantas normalmente apresentam nomes que fazem referência a planta hospedeira e a característica do sintoma causado pela infecção (Ex. Vírus do mosaico do tabaco); Espécies de vírus de bactérias (bacteriófagos) podem ser denominadas como "fago" seguido de uma letra grega (Ex. Fago λ) ou código alfanumérico (Ex. Fago T7); Vírus que infectam vertebrados podem receber nomes: em alusão à espécie hospedeira de origem: Ex. Papillomavírus Bovino; ao local de origem do vírus (Ex. Vírus Ebola, do rio Ébola, no Congo); à doença causada pelo vírus (Ex. Vírus da Imunodeficiência Humana – HIV) Eletromicrografia de vírions de Influenzavirus (H1N1) (família: Orthomyxoviridae) CLASSIFICAÇÃO DE BALTIMORE criada por David Baltimore; ordena os vírus em sete grupos, com base na característica do genoma viral e na forma como este é transcrito a mRNA: Grupo I: Vírus DNA dupla fita (dsDNA) Grupo II: Vírus DNA fita simples (ssDNA) Grupo III: Vírus RNA dupla fita (dsRNA) Grupo IV: Vírus RNA fita simples senso positivo ((+)ssRNA) Grupo V: Vírus RNA fita simples senso negativo ((-)ssRNA) Grupo VI: Vírus RNA com transcrição reversa (ssRNA-RT) Grupo VII: Vírus DNA com transcrição reversa (dsDNA-RT) Esquema da transcrição do genoma viral dos sete grupos segundo a classificação de Baltimore Senso positivo – atua como mRNA funcional no interior das células infectadas Senso negativo – serve de molde para uma RNA- polimerase transcrevê-lo dando origem a um mRNA funcional GENOMA VIRAL A quantidade de material genético viral é menor que a da maioria das células; O peso molecular do genoma dos vírus de DNA varia de 1,5 × 106 a 200 × 106 Da. O peso molecular do genoma dos vírus de RNA varia de 2 × 106 a 15 × 106 Da. No genoma dos vírus estão contidas todas as informações genéticas necessárias para programar as células hospedeiras, induzindo-as a sintetizar todas as macromoléculas essenciais à replicação do vírus. DIVERSIDADE DOS GENOMAS VIRAIS PROPRIEDADES PARÂMETROS Ácido nucleico DNA RNA DNA/RNA (ambos) Forma Linear Circular Segmentada Estrutura Fita simples Fita dupla Fita dupla com regiões fita simples Sentido Senso positivo (+) Senso negativo (−) Ambisenso (+/−) ESTRUTURA VIRAL PARTÍCULA VIRAL → agregado de moléculas mantidas unidas por forças secundárias, formando uma estrutura de conformação definida. Uma partícula viral completa é denominada vírion → constituído por diversos componentes estruturais: Ácido nucléico: molécula de DNA ou RNA – constitui o genoma viral. Capsídeo: envoltório protéico que envolve o material genético dos vírus. Nucleocapsídeo: estrutura formada pelo capsídeo associado ao ácido nucléico que ele engloba Capsômeros: subunidades proteícas (monômeros) que agregadas constituem o capsídeo. Envelope: membrana rica em lipídios que envolve a partícula viral externamente. Deriva de estruturas celulares, como membrana plasmática e organelas. Peplômeros (espículas): estruturas proeminentes, geralmente constituídas de glicoproteínas e lipídios, que são encontradas ancoradas ao envelope, expostas na superfície. MORFOLOGIAS VIRAIS entre os mais comuns possuem genomas constituídos por dsDNA, ssDNA, dsRNA ou (+)ssRNA capazes de infectar organismos de todos os grupos de seres vivos, com exceção de Archaea possuem diâmetro que varia de 18 a 60 ηm menores vírus conhecidos VÍRUS ICOSAÉDRICO NÃO-ENVELOPADO MORFOLOGIAS VIRAIS VÍRUS ICOSAÉDRICO ENVELOPADO material genético formado por dsDNA, dsRNA, ou (+)ssRNA diâmetro que varia de 42 a 200 ηm são pouco comuns entre os vírus de animais, sendo observados principalmente nas famílias Arteriviridae, Flaviviridae, Herpesviridae ou Togaviridae Nenhum vírus de plantas conhecido possui esta estrutura de partícula viral MORFOLOGIAS VIRAIS são mais comuns entre vírus que infectam plantas possuem genoma de ssRNA morfologia do vírus do mosaico do tabaco (TMV), um dos objetos de estudo mais clássicos da virologia, sendo o primeiro vírus a ser descoberto as famílias Inoviridae (ssDNA) e Rudiviridae (dsDNA), que infectambactérias e archaea, respectivamente, também possuem esta morfologia têm estrutura em forma de bastão rígido ou de filamento sinuoso comprimento varia de 46 ηm (para bastões) a 2200 ηm (em partículas filamentosas) PARTÍCULA VIRAL HELICOIDAL NÃO- ENVELOPADA MORFOLOGIAS VIRAIS encontrada principalmente entre vírus (-)ssRNA muitos agentes etiológicos de doenças humanas conhecidas, como: sarampo (Paramyxoviridae) gripe (Orthomyxoviridae) raiva (Rhabdoviridae) ebola (Filoviridae) Podem conter material genético composto por dsDNA e (+)ssRNA possuem comprimento variando de 60 a 1950 ηm podem apresentar formato esférico, filamentoso ou de "bala de revólver" PARTÍCULA VIRAL HELICOIDAL ENVELOPADA MORFOLOGIAS VIRAIS Composição dos fagos "cabeça" (capsídeo) de simetria icosaédrica, isométrica ou alongada (50 - 110 ηm de diâmetro) uma “cauda” helicoidal, que pode ser: longa e contrátil (Myoviridae: 80 - 455 ηm), longa não-contrátil (Siphoviridae: 65 - 570 ηm) curta não-contrátil (Podoviridae: 17 ηm). Na extremidade da cauda – fibras protéicas que medeiam o contato vírus- célula. Fagos infectam exclusivamente bactérias ou archaea todos possuem genoma constituído por dsDNA VÍRUS BACTERIÓFAGOS OU FAGOS MORFOLOGIAS VIRAIS CICLO DE REPLICAÇÃO VIRAL VÍRUS são parasitas intracelulares obrigatórios; necessitam do ambiente intracelular de um organismo vivo para se reproduzir; ao processo de reprodução de um vírus dá-se o nome de replicação viral; duração do ciclo de replicação viral varia entre as diversas famílias de vírus, podendo levar poucas horas ou até dias; etapas envolvidas num ciclo de replicação viral animais A REPLICAÇÃO pode ser dividida em 7 etapas: Visão geral de um ciclo de replicação viral hipotético: 1. Adsorção; 2. Entrada; 3. Desnudamento; 4. Transcrição e transdução; 5. Replicação do genoma; 6. Montagem; 7. Liberação. ETAPAS DA REPLICAÇÃO VIRAL 1. ADSORÇÃO DO VÍRUS À CÉLULA ligação do vírion a uma célula suscetível interação entre proteínas virais, presentes no envelope ou no capsídeo, e receptores celulares que se encontram ancorados a membrana plasmática, expostos ao ambiente extracelular Receptores → proteínas ou carboidratos presentes em glicoproteínas e glicolipídios. ETAPAS DA REPLICAÇÃO VIRAL 2. ENTRADA NO CITOSOL cada vírus utiliza um mecanismo particular. Endocitose / Fusão / Translocação 2.1. ENDOCITOSE Endocitose e lise da membrana endossomal Endocitose com injeção do genoma no citosol Endocitose seguida por fusão de membranas ETAPAS DA REPLICAÇÃO VIRAL 2.2. FUSÃO Executado apenas por vírus envelopados – o nucleocapsídeo é liberado no interior da célula mediante a fusão entre o envelope viral e a membrana celular. Entrada por fusão de membranas ETAPAS DA REPLICAÇÃO VIRAL 2.3. TRANSLOCAÇÃO por meio da ação de uma proteína receptora, o vírion pode atravessar a membrana por meio de translocação, do ambiente extracelular para o citosol. Mecanismo é raro e pouco entendido. Entrada por translocação ETAPAS DA REPLICAÇÃO VIRAL 3. Desnudamento do ácido nucléico Liberação e exposição do material genético do vírus no ambiente celular Para que o genoma viral possa ser transcrito, traduzido, e replicado O sítio celular de desnudamento é bastante variável entre as diversas famílias de vírus, podendo ocorrer: • no citosol (e.g. Togavírus), • no interior do endossomo (e.g. Picornavírus), • nos poros nucleares (e.g. Adenovírus, Herpesvírus), • no interior do núcleo (e.g. Parvovírus, Polyomavírus), • ou simplesmente pode não ocorrer (e.g. Reovírus, Poxvírus). ETAPAS DA REPLICAÇÃO VIRAL 4. TRANSCRIÇÃO E TRADUÇÃO DA INFORMAÇÃO GENÉTICA 4.1 SÍNTESE DE MRNA o Sistema de Classificação de Baltimore foi criado com base nos diferentes mecanismos de transcrição que os vírus adotam para sintetizar mRNA, a partir de seus variados tipos de informação genética. Diante desta complexidade de características, as estratégias de transcrição do genoma viral são tão variadas quanto os mecanismos de entrada, e podem envolver mais de uma etapa, as quais levam à conversão da informação genética viral em mRNA. ETAPAS DA REPLICAÇÃO VIRAL 4.2. SÍNTESE DE PROTEÍNAS As proteínas virais são sintetizadas pela maquinaria celular (ribossomos, tRNAs). O processo de tradução ocorre no citosol, em ribossomos livres ou associados ao retículo endoplasmático. Algumas das proteínas sintetizadas em ribossomos livres são transportadas para o núcleo. O destino final de muitas destas proteínas é a membrana celular, onde estas se concentram em regiões específicas. Em estágios finais da infecção, estas farão parte do envelope de partículas virais que sairão por brotamento nessas regiões. ETAPAS DA REPLICAÇÃO VIRAL 5. REPLICAÇÃO DO GENOMA VIRAL Na maioria dos casos, o genoma é replicado no mesmo local onde ocorre a transcrição do material genético do vírus, isto é, no citoplasma ou no núcleo. Assim como ocorre na transcrição, o processo de replicação de genomas virais envolve a participação de polimerases. Em geral, moléculas de DNA são sintetizadas a partir de outras moléculas de DNA (DNA → DNA), e o mesmo acontece com moléculas de RNA (RNA → RNA). A exceção a esta regra fica por conta dos vírus que realizam transcrição reversa. Membros do grupo VI (ssRNA-RT) replicam o seu genoma a partir de um intermediário de DNA (RNA → DNA → RNA). Já os membros do grupo VII (dsDNA-RT) replicam o seu genoma a partir de um intermediário de RNA (DNA → RNA → DNA) ETAPAS DA REPLICAÇÃO VIRAL 6. MONTAGEM DO VÍRION • Corresponde ao processo de formação das partículas virais infectivas (vírions). • As proteínas estruturais sintetizadas em etapas anteriores se associam para constituir o capsídeo. • O sítio de montagem dos capsídeos depende do local de replicação viral na célula, e varia entre as diversas famílias de vírus. • O procedimento de montagem de vírus não-envelopados se resume a formação dos nucleocapsídeos, enquanto que para vírus envelopados a montagem só se finaliza depois da aquisição do envelope viral. • A membrana lipídica do envelope se origina a partir de estruturas celulares, como: membrana plasmática e compartimentos membranosos intracelulares (complexo de Golgi, retículo endoplasmático, núcleo). ETAPAS DA REPLICAÇÃO VIRAL 7. LIBERAÇÃO DE NOVAS PARTÍCULAS VIRAIS A liberação dos vírions do citosol pode se dar por lise celular ou brotamento. A liberação por lise celular é mais comum aos vírus não-envelopados, e ocorre quando a membrana plasmática da célula infectada se rompe, levando-a morte celular. O brotamento é um mecanismo de liberação que pode provocar pouco ou nenhum prejuízo à célula. Vírus que obtém envelope a partir da membrana plasmática saem da célula por meio de brotamento direto do nucleocapsídeo em contato com a face interna da membrana, em regiões específicas, onde se localizam as glicoproteínas virais sintetizadas em momentos prévios da infecção. Vírus com envelope originado de compartimentos intracelulares (organelas) são liberados da célula por meio de vesículas que se fundem com a membrana plasmática. Após a liberação, quando os vírions se encontram no meio extracelular, a maioria deles permanece inerte até que outra célula hospedeira seja infectada, reiniciando o ciclo de replicação viral. ETAPAS DA REPLICAÇÃO VIRAL • Eventos finais da replicação viral: 1. Transporte do genoma (DNA ou RNA)para o sítio de processamento (núcleo ou citosol) 2. Transcrição (síntese de mRNA) 3. Síntese de proteínas não estruturais 4. Replicação do material genético 5. Síntese de proteínas estruturais 6. Montagem dos nucleocapsídeos 7. Vesícula com glicoproteínas direcionadas ao complexo de Golgi 8. Transporte das proteínas de envelope à membrana plasmática 9. Liberação de partículas virais por lise (vírus não envelopados), ou por brotamento (vírus envelopados). ETAPAS DA REPLICAÇÃO VIRAL
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