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Escravizados e o Açúcar processo de produção nos engenhos baianos nos séculos XVII e XVIII

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
WELLESON DA SILVA BASTOS
ESCRAVIZADOS E O AÇÚCAR
Processo de produção nos engenhos baianos nos séculos XVII e XVIII
RIO DE JANEIRO
2014
Introdução
Neste trabalho buscaremos, através das fontes que forem consultadas, estabelecer todo o processo de produção de açúcar na capitania de São Salvador (atual Bahia) e qual foram os impactos causados pelos engenhos na sociedade colonial do século XVII e inicio do XVIII. Isso será feito com base na “Carta Primeira’ de Luís Santos Vilhena e a carta de Miguel Antônio de Mello no ano de 1797 para Rodrigo de Souza Coutinho, até então ministro do ultramar em Portugal, onde ele faz menção à economia da capitania da Bahia no final do século XVIII, especialmente no seguinte trecho:[2: Luís dos Santos Vilhena, “Carta Primeira em que se descreve geralmente a cidade da Bahia situada na América Meridional”, em A Bahia no Século XVIII, Salvador, Itapuã, 1969, V.1, p.34-88 ]
“Quanto agora aos outros assuntos he serto ser esta capitania huma colonia agricola, e assim convem que seja maiormente sendo tam preciosos os frutos da sua cultura a força do seu comercio de exportação consiste principalmente em açucar e tabaco, dos quais ainda em anos escaços como foram os dois últimos passados pode enviar para Portugal 3 a 851 caixas de açucar de 45, a 50 arrobas cada huma (...)” (p.29)
Miguel Antônio de Melo Abreu Soares de Brito Barbosa Palha Vasconcelos Guedes (1766-1836), segundo Guilherme Pereira das Neves em artigo onde faz uma breve biografia do autor da carta que é encontrada como anônima na coleção Linhares da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro com o título: “Informaçam da Bahia de todos os Santos” de 1797. [3: “Miguel Antonio de Melo, Agente do Império ou das luzes? Dilema da Geração de 1790. In: Império de varias faces: relações de poder no Mundo Ibérico da Época Moderna. Ronaldo Vainfas e Rodrigo Bentes Monteiro (orgs.). Editora Alameda 2009, São Paulo.]
“(...) pertencente a um conjunto que, por meio da concessão de títulos, viu-se elevado à categoria dos grandes entre 1789 e 1830. D. Miguel teve alvará de moço fidalgo em 1781, (...) data de 1975 a primeira referencia relevante ao seu respeito: a nomeação para o governo de angola,quando tinha cerca de 30 anos. Após fazer escala em Salvador (onde provavelmente escreveu a carta) e Rio de Janeiro, lá chegou em 1797. (...) Desaparece então novamente até 1806, quando se torna governador dos Açores, onde enfrenta a crise de 1807/1808. (...) D. Miguel volta a ressurgir, em 1825, com a posição de presidente do Real Erário e secretário de estado do ultimo gabinete, dito absolutista de D. João VI.” (p.370)
Segundo Katia Mattoso, Vilhena que era um professor de grego enviado de Portugal “para formar a fina flor da juventude baiana”, não teve muito sucesso. Talvez seja pela falta de interesse dos jovens em aprender o idioma que já não era muito utilizado na sociedade luso-brasileira do período em que ele fora enviado para o Brasil. Para conseguir estabelecer alguma renda para que pudesse permanecer na capitania da Bahia, o professor começou a peregrinar pelas cidades e tendo contato com indivíduos de todas as camadas que constituía a sociedade e assim formular estas cartas que são muito úteis para pesquisar sobre o assunto.
“Vilhena não era, no entanto, nem ave de mau agouro como Cassandra, nem alguém que cultivasse apenas os próprios interesses como Cincinatus. Ao contrario, ele estava mesmo pronto a servir o poder. Sua descrição da Bahia,contida numa longa solicitação ao regente português,é rica em analises e propostas inteligentes visando o incremento da fortuna baiana.” (p.144)[4: A Opulência na Província da Bahia in: História da Vida Privada no Brasil: Império v.2 Fernando A. Novais (dir. da coleção), Luiz Felipe de Alencastro (org. do volume) ]
Atualmente, é inviável pensar na economia açucareira colonial sem considerar uma classe que foi fundamental para consolidação do projeto de exploração das terras da Capitania da Bahia nos séculos XVII e XVIII: os escravizados que foram agentes diretos da produção em todas as suas etapas, vivendo muitas vezes sob condições materiais, como S. Schwartz considerou, precárias.
Brasil visto sobre novas perspectivas 
Não era muito interessante para os portugueses implantar, no Brasil, o processo de cultivo de açúcar já que Portugal tinha uma rede de produção e abastecimento do produto que era suficiente para toda população metropolitana. Para ser mais exato, segundo Roberto C. Simonsen, Portugal em meados do século XV era detentor da supremacia da produção e comércio do produto em relação aos seus vizinhos europeus, principalmente a Espanha que era seu principal concorrente no que tange ao ultramar.
A coroa portuguesa começou, a partir de 1560, dar inicio ao processo de cultivo de açúcar em seus domínios americanos. Simonsen acreditava que, para ter sucesso nessa nova política seria importante a instituição de uma serie de incentivos fiscais que começaram a ser implantados na metrópole para todos aqueles que se propusessem a investir na produção de açúcar e estabelecimento de engenhos em territórios luso americanos. Dentre os incentivos pode ser lembrada a isenção de impostos durante o período de 10 anos para todos os engenhos que fossem construídos na Capitania de São Salvador e também privilégio de nobreza para seus proprietários. Chegando a conclusão que “foi a iniciativa particular que caracterizou o desenvolvimento da indústria” no Brasil Colonial (p.97-8).[5: In: História Econômica do Brasil 1500-1820]
A implantação destes engenhos se deu na costa brasileira. Muito em decorrência das ameaças de ataque dos nativos somado ao alto preço que o transporte tanto de mercadorias, equipamentos e mão de obra poderia custar e também chegar aos portos com maior facilidade e em pequeno período de tempo. Isso segue o modelo de colonização citada por Sergio Buarque de Holanda no livro Raízes do Brasil no seu quarto capitulo onde ele diz que portugueses optaram por, como caranguejos, arranharem a costa brasileira.[6: O Semeador e o Ladrilhador in: Raízes do Brasil]
O trabalho no campo e no engenho
Para este tópico, será usado como base a obra de Stuart B. Schwartz que retrata muito bem a vida e o cotidiano da sociedade açucareira brasileira. É necessário, para entender o processo de manufatura de cana de açúcar, buscar identificar o papel e a importância da mão de obra escrava e como ela veio ser considerada o principal meio para que os senhores de engenhos conseguissem altos lucros e maior prestigio dentro da sociedade luso-brasileira. [7: Segredos Internos: engenhos e escravos na sociedade colonial 1550 – 1835.]
No século XVII, nos engenhos do Brasil, os escravos viviam em condições de extrema precariedade onde não tinham alimento suficiente para seu sustento, lugares propícios para repouso, mesmo que fossem breves, sem contar com uma série de castigos físicos. Alguns senhores de engenho, tornaram-se adeptos da teoria que todo escravizado tinha a necessidade de ppp: pau, pão e pano (p.122). Muitos viajantes que passavam pelo Brasil escreviam sobre os maus tratos pelos quais os escravizados eram submetidos. Primeiramente, por questões políticas, esses relatos não receberam muita atenção da historiografia, porem, quando começaram a serem vistas semelhanças com os relatos de alguns clérigos portugueses foi de fato possível perceber que os senhores não desonravam sua fama de desumanos. “O próprio escravismo criava condições em que era um elemento lógico e, na verdade, essencial do regime o exercício da dominação pela força física ou por punições extremas” p.123 os escravizados não tinham muitas alternativas na esfera judicial para se defenderem destas punições físicas, segundo Schwartz a única maneira de conseguir um dialogo seria se as punições gerassem morte de algum cativo.[8: Segue a definição de Antonil para esta classe: “É titulo que muitos aspiram, porque traz consigo o ser servido,obedecido e respeitado de muitos (...) no Brasil o ser senhor de engenho, quanto proporcionadamente se estimam os títulos entre os fidalgos do reino.”]
O processo de preparação do campo para cultivo fora relatado por Koster onde todos os cativos se posicionavam lado a lado e cavavam a terra que estavam a sua frente formando assim uma pequena trincheira. Após terminarem esta parte do processo davam um passo atrás e recomeçava-o. Era comum que estas atividades fossem feitas a ritmo de canto para dar sincronia à atividade e também suavizar o peso desta tarefa. Nos canaviais não faltavam trabalho. Este trabalho, segundo S. Schwartz, era considerado penoso, ainda mais no solo pesado com o massapê e as altas temperaturas que eram rotineiras na Capitania da Bahia. A mondadura, ou limpeza, era menos pesado, porém constante. Muitos senhores ordenavam que seus cativos após um dia de trabalho, a realizarem a mondadura. Havia a necessidade dos campos sempre estarem limpos para que houvesse uma nova remessa de plantio. As figuras abaixo mostram dois indivíduos realizando o corte da cana e um terreno propicio pra o planto da mesma (p.80). Essa atividade era e um terreno realizada sol a sol(p.127-8).
 [9: Figuras 1 e 2. Retiradas do livro de Stuart B. Schwartz.]
 O trabalho nas fabricas eram diferentes, onde o esforço físico era menos necessário. Os cativos realizavam funções especificas, eram especializados para realizarem funções distintas para assim, sob supervisão de um homem livre ou escravo, desenvolver um mecanismo de produção que visava realizar o processo de refinamento de maneira mais rápida e transformar o produto final o mais qualificado possível para que houvesse maior ganho dos proprietários de engenhos da Bahia. Lembrando que costumeiramente, as atividades nas fábricas ocorriam durante a noite e os do campo durante o dia.
Os engenhos quase não paravam, funcionavam de dezoito a vinte horas durante mais ou menos 270 dias (da primeira semana de agosto ao inicio de maio) parando apenas para realizar a limpeza do maquinário que durava algumas horas (p.97). Porem os dias de santos e os domingos que a igreja obrigava a suspensão das atividades gerava insatisfação da parte senhores que quanto mais tempo ficassem sem produzir, tinham por consequência, menos cabedal a arrecadar. Schwartz diz em seu livro que o Engenho Sergipe já chegou a perder, destes 270 dias, cerca de 78 – cerca de 28% - em consequência do calendário religioso e as condições climáticas que influenciava diretamente a atividade na industrial da época (p.98).
Etapas de produção no engenho
“Esta geralmente era uma grande construção que abrigava os tambores da moenda e o maquinário para impulsioná-la, possuía espaço para grandes quantidades de cana e, no caso de moendas de traçado animal, era vasta o bastante para permitir que os animais se movessem sem empecilhos por sua trilha em torno dos tambores” (p.108)
Esta definição de um engenho usada por S. Schwartz importante para que seja possível caminhar pelo processo de produção do açúcar dentro das indústrias. 
A moenda era o local de onde era retirado o caldo da cana que era esmagada entre os tambores. A quantidade de vezes que uma cana passava entre eles varia de acordo com a eficiência da força motriz. Segundo Schwartz as moendas eram impulsionadas de diversas maneiras dentre elas a água. Os engenhos que assim funcionavam eram chamados de engenhos reais talvez pela sua alta produtividade. A outra forma de fazer funcionar, impulsionar as moendas era o uso do gado como a imagem a seguir mostra com perfeição como que era utilizada a sua força no processo de extração do liquido das canas de açúcar.
[10: Figura 3; Idem]
O liquido extraído deste processo era levado diretamente para as cadeiras onde se daria inicio a etapa seguinte: a clarificação e purificação. Tudo isso acontecia em um local chamado “casa das caldeiras”. Em cada casa usava-se, em media, de cinco a oito caldeiras e seus tamanhos variavam de acordo com o volume de caldo que era necessário para realizar o processo. (p.109) 
Com o aquecimento das caldeiras, as impurezas do caldo vinham para superfície do recipiente, elas eram retiradas e o que sobrava de liquido era aquecido novamente em outra caldeira e as impurezas retiradas desta segunda etapa do processo de purificação era utilizado, segundo Schwartz para fazer garapa e outro tipo de bebida não alcoólica. Na ultima etapa deste processo - sempre lembrando que quem realizava estes procedimentos eram os cativos - o liquido, que nesta etapa tinha o nome de “meladura”, era passado por um novo processo de aquecimento porém as escumas que aqui eram retiradas serviam para produzir açúcar de um qualidade inferior. “Todo processo de clarificação e evaporação dependia da aplicação de calor ao liquido proveniente da cana.” Por esta razão havia um sistema de abastecimento contínuo de lenha, essa se tornou uma das maiores preocupações dos senhores de engenho para Schwartz uma das principais fontes de despesa da época (p.109). 
O melado, seguia para um processo de esfriamento e depois era colocado em recipientes em formato de sinos. Os Engenhos da Bahia em sua predominância produziam açúcar barreado. “Os engenhos pagavam por uma fôrma 60 a 200 réis entre os anos de 1680 a 1710. A falta desses recipientes podia ser um desastre.” (p.110)
A imagem a seguir mostra o sistema de purgação do açúcar barreado.
[11: Figura 4; Idem]
Este sistema, já ocorria fora da casa das caldeiras em um local denominado “casa de purgar”. Onde Schwartz diz que ocorriam os seguintes procedimentos, inclusive estão sendo ilustrados acima:
“Deixava-se o liquido endurecer nas fôrmas por cerca de duas semanas, e então fazia-se um furo no açúcar. A parte superior da fôrma – a cara – era então comprimida e besuntada com um barro especialmente preparado,umedecido com água. Essa água filtrava-se pela fôrma que dava para um tanque. (...) O açúcar que se formava no topo da fôrma era branco;no meio,um pouco mais escuro e no fundo bastante escuro.(...) Passadas Aproximadamente quatro a seis semanas, o açúcar cristalizava-se e ficava pronto para ser tirado das fôrmas. (...) Com uma grande faca ou machadinha, a parte inferior do pão era removida, e o açúcar pardacento do meio era separado do açúcar branco formado da parte de cima do pão. (...) Os pães eram colocados sobre um toldo no balcão de secar e quebrados em torrões cada vez menores para remover toda a umidade restante. Após a secagem, o açúcar estava pronto para ser pesado e encaixotado. (p.112) 
Encaixotar o açúcar era a atividade final do processo de produção nos engenhos. As caixas em que açúcar era armazenado eram feitos da madeira de jequitibá ou Camaçari e, em media, mediam 1,8 por 0,6 metro. O caixeiro era responsável pelo acondicionamento e manter o controle da quantidade de caixas preparadas e descrever a qualidade e o peso de cada uma. Parecia este um sistema simples de controle de mercadorias, porem muitas confusões surgiam por problemas referentes ao peso e a qualidade descritas nas caixas de açúcar no comercio. E esse problema não foi facilmente resolvido. Muitos colocavam pedras no interior das caixas e trocavam, propositadamente, manipulavam as informações referentes à qualidade do produto vendido para que os de qualidade inferior fossem vendidos por um preço mais alto.
Deu-se inicio a uma serie de propostas para que houvesse maior rigor sobre a atividade dos caixeiros e que visavam diminuir fraudes sobre as informações contidas nas caixas de açúcar. Uma delas foi a tentativa de aumentar o tamanho das caixas, porem carregadores não se submeteram a carregar volumes imensos. A coroa, no fim do século XVII (1695) estabeleceu um padrão para estabelecer o limite de peso: 35 arrobas, porem após reclamações dos produtores (que não eram produtores e sim exploradores dos escravizados), esse limite fora aumentado três anos depois. (p.115)
No que se refere à declaração da qualidade do produto. Comerciantes portugueses reclamavam dasdeclarações que não condiziam com o produto das caixas recebidas e diziam que isso traria dificuldade para comercializá-lo com o restante da Europa. Os comerciantes diziam que as diferenças da qualidade em relação à declaração eram conseqüência da exposição do artigo ao ambiente. De 1650 em diante o governo interferiu mais uma vez para tentar resolver o problema: instituindo a padronização da marcação das caixas onde cada proprietário tinha sua própria marca. Como podemos observar na imagem a seguir:
[12: Figura 5;idem]
As casas de inspeção que foram mais uma ferramenta governamental, para que fosse estabelecido maior rigor sobre o processo de qualificação do produto final da produção, foram criadas em 1751. A instituição deste órgão não foi bem aceita pelos portugueses e produtores da colônia que reclamavam dos novos impostos que os senhores de engenhos eram submetidos a pagar e o fato das fraudes continuarem acontecendo também foi fundamental para que houvesse insatisfação dos compradores portugueses. Para Schwartz “o que antes fora uma questão entre senhores de engenho e comerciantes havia-se tornado ao fim da era colonial uma disputa entre dois órgãos governamentais.” (p.116)
Conclusão
Com base nas informações apresentadas no trabalho, chegamos à conclusão que os principais responsáveis, não só pela produção do açúcar na capitania da Bahia, mas do seu enriquecimento, desenvolvimento, inserção no cenário internacional como uma grande produtora agrícola, como diz Miguel Antonio de Mello, foram os cativos que eram escravizados pelos senhores de engenho. Eles que realizavam todas as etapas do processo de produção, eram eles que realizaram as reformas urbanas, eles também faziam o transporte de todas as mercadorias dos engenhos para o porto. Se não fossem os escravizados a capitania da Bahia não seria uma grande exportadora de produtos agrícolas e muito menos se estabeleceria no cenário internacional. 
As atividades exercidas pelos escravos na sociedade baiana causaram grande impacto não só na época, mas até nos dias atuais e despertam a curiosidade de muitos pesquisadores como estes que foram citados neste breve trabalho. Se alguma classe merecesse receber os méritos pela história da capitania da Bahia seria esta a classe dos escravizados que mesmo submetidos a situações extremas continuaram firmes, e como dito antes, foram os principais fundadores da sociedade industrial baiana. 
Bibliografia
ANTONIL, André João. Cultura e Opulência no Brasil, Ed. Italiana da universidade de São Paulo _________________.
HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil Ed.26, José Olympio,__________ 1994
MATTOSO, Katia M. de Queirós: A opulência na província da Bahia. In: História da Vida Privada no Brasil: Império. Coordenador Geral Fernando A. Novais, Organizador do Vol. Luiz Felipe de Alencastro. São Paulo, Companhia das Letras, 1997 vol.2.
MELLO, Miguel Antonio de. Informaçam da Bahia de todos os santos ________________ 1797. 
NEVES, Guilherme Pereira das, Miguel Antonio de Mello, agente do império ou das luzes? Dilema da geração de 1790. In: Império de Varias Faces: Relações de poder no mundo ibérico da época moderna, Ronaldo Vainfas e Rodrigo Bentes Monteiro (orgs.), São Paulo, Ed. Alameda, 2009
SIMONSEN, Roberto C. História econômica do Brasil: 1500/1820 São Paulo, Ed. Nacional, Brasília, INL, 1977.
SCHWARTZ, Stuart B. Segredos Internos: Engenhos e escravos na sociedade colonial 1550-1835, São Paulo, Companhia das Letras, 1988.
VILHENA, Luís dos Santos, “Carta Primeira em que se descreve geralmente a cidade da Bahia situada na América Meridional”, em A Bahia no Século XVIII, Salvador, Itapuã, 1969, V.1, p.34-88.

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