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Assuntos da Rodada DIREITO EMPRESARIAL: Empresário Individual. Microempresa e empresa de pequeno porte (Lei Complementar n. 123, de 2006). Prepostos. Teoria da empresa. Atividades econômicas civis: cooperativas e profissional intelectual. Atos do registro de empresa. Empresário irregular. Estabelecimento empresarial. Nome empresarial. Teoria Geral do Direito Societário: conceito de sociedade empresária. Personalização da sociedade empresária. Classificação das sociedades empresárias. Desconsideração da pessoa jurídica. Constituição das sociedades contratuais: natureza do ato constitutivo da sociedade contratual; requisitos de validade do contrato social; cláusulas contratuais; forma do contrato social; alteração do contrato social. Sociedade limitada: responsabilidade dos sócios, deliberação dos sócios; administração; conselho fiscal. Dissolução da sociedade contratual: espécies e causas de dissolução total e parcial; dissolução de fato. Sociedades por ações: características gerais da sociedade anônima; classificação, constituição; valores mobiliários; ações; capital social; órgãos sociais; administração da sociedade; poder de controle; lucros, reservas e dividendos; dissolução e liquidação; transformação, incorporação e fusão; sociedade de economia mista; sociedade em comandita por ações. Teoria Geral do Direito Cambiário. Nota promissória. Cheque. Duplicata. Cédula de crédito bancário. Recuperação judicial e extrajudicial. Falência. Rodada #9 Direito Empresarial (Comercial) Professor Carlos Antônio Bandeira DIREITO EMPRESARIAL 2 Recados importantes! Ø ATENÇÃO: NÃO AUTORIZAMOS a venda de nosso material em qualquer outro site. Não apoiamos, nem temos contrato com qualquer prática ou site de rateio. Ø A reprodução indevida, não autorizada, deste material ou de qualquer parte dele sujeitará o infrator a multa de até 3 mil vezes o valor do curso, à responsabilidade reparatória civil e à persecução criminal, nos termos dos arts. 102 e seguintes da Lei n. 9.610, de 1998. Ø Tente cumprir as metas na ordem que determinamos. É fundamental para o perfeito aproveitamento do treinamento. Ø Lembre-se que você poderá fazer mais questões desta disciplina no teste semanal online. Ø Qualquer problema com a meta, envie uma mensagem para o WhatsApp oficial da Turma de Elite (35) 9106 5456. Abraços e excelentes estudos! Carlos Antônio Bandeira DIREITO EMPRESARIAL 3 a. Teoria Disposições Gerais dos Títulos de Crédito (Código Civil) 1. Disposições Gerais dos Títulos de Crédito – Nesta parte da aula, trataremos das regras dos títulos de crédito segundo o Código Civil. 1.1. Código Civil x Legislação Específica de Títulos de Crédito - Antes de mais nada, a primeira coisa que devemos chamar a atenção, nesse estudo sobre títulos de crédito, é a respeito da existência de outras normas especiais, além das previstas no Código Civil, que disciplinam as regras de determinados títulos de crédito (exs.: nota promissória, duplicata, cheque, etc.). ATENÇÃO: no caso de haver legislação específica sobre determinado título de crédito, a legislação específica prevalecerá sobre as regras descritas no Código Civil! Código Civil: “Art. 903. Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste Código.” Princípios Cambiários no Código Civil 2. Princípio da Cartularidade - Pelo princípio da cartularidade, o título de crédito é o documento físico necessário para o exercício nele mencionado. O termo “Cártula” advém de “papel”, “documento”. 2.1. Por isso, o credor deve estar com o título “em mãos”, para ser apto para cobrar do devedor o valor nele inscrito. Então, ao ser paga a dívida, o devedor deve receber o título em suas mãos, Se por acaso o devedor já DIREITO EMPRESARIAL 4 estiver na posse do título, presume-se que a dívida nele representada já está devidamente paga (quitada). Código Civil: “Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.” 2.2. Desmaterialização do título: é possível a desmaterialização do título, casos em que “O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente|”, observados os requisitos mínimos previstos no art. 889, do Código Civil. Código Civil: “Art. 889. ..................................................................................... ...................................... § 3o O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente, observados os requisitos mínimos previstos neste artigo.” 3. Princípio da Literalidade - Por esse princípio, todos os indicativos do título de crédito devem estar descritos na própria cártula (documento). 3.1. Negociabilidade: o objeto econômico dos títulos de crédito e todas as demais características cambiais referentes ao título são identificáveis no próprio documento. É por isso que eles podem ser negociados com certa facilidade. Por isso, basta uma simples leitura do teor do título para saber o seu valor; a data de vencimento; se foi endossado ou não (forma de transferência do DIREITO EMPRESARIAL 5 crédito); quem é o avalista, se houver (pessoa que assume a dívida junto com o devedor), etc. 4. Autonomia (Abstração e Inopobilidade das Exceções Pessoais) - O título de crédito é desvinculado da relação jurídica que lhe deu origem. Dessa forma, quem receber um título de crédito em sua mão, não precisa questionar as relações jurídicas anteriores. Ex.: “A” vende um determinado bem a “B”. Por essa compra, “B” fica devendo o valor de R$ 1.000,00, e emite uma nota promissória (promessa de pagamento) com esse valor, para vencer em um ano. A nota promissória que ficou em poder de “A”, que a endossou (transferiu seu crédito) em favor de “C”. E vamos supor que a venda seja anulável, por algum defeito apresentado no bem! Resultado: Ao ser cobrado pelo valor da nota promissória “B” não poderá alegar contra “C” a existência do defeito do bem que comprou de “A”, pelo princípio da autonomia das relações cambiárias (autonomia dos títulos de crédito). Por isso, “B” deverá pagar a nota promissória ao novo credor: “C”. Mas, “B” poderá exigir o seu direito, por outras formas, diretamente contra “A”. Por outro lado, mesmo que o título de crédito venha a ser anulado, por qualquer motivo, a relação entre “A” e “B” permanece válida (art. 888, do Código Civil)! 4.1. Princípio da abstração: a doutrina também associa essa característica de abstração, que significa a completa desvinculação do título em relação ao negócio jurídico que o deu causa, o que possibilita a circulação do título. DIREITO EMPRESARIAL 6 4.2. Inoponibilidade das exceções pessoais: erra regra é um subprincípio relacionado com o princípio da autonomia dos títulos de créditos, a qual constitui uma verdadeira limitação para o devedor do título em juízo. Por essa regra, o devedor não pode discutir com o terceiro que estiver portando o título os seguintes temas: a) questões relacionadas com o negócio que originou o título; b) questões relacionados com portadores anteriores. Código Civil: “Art. 915. O devedor, além das exceções fundadas nas relações pessoais que tiver com o portador,só poderá opor a este as exceções relativas à forma do título e ao seu conteúdo literal, à falsidade da própria assinatura, a defeito de capacidade ou de representação no momento da subscrição, e à falta de requisito necessário ao exercício da ação.” 4.2.1. Explico mais: em consequência dessa característica, o devedor de um título de crédito somente poderá discutir as relações que tiver unicamente com esse terceiro, que será o portador do título. Por isso, ficam muito limitadas as possibilidades de defesa por parte do devedor. 4.2.2. EXCEÇÃO: se alguém passou a ser portador de um título, estando ciente das condições que podiam ser levantadas contra algum portador anterior, não poderá ele se beneficiar com esse “escudo legal”, porque a lei não beneficia a má-fé. Código Civil: “Art. 916. As exceções, fundadas em relação do devedor com os portadores precedentes, somente poderão ser por ele opostas ao portador, se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé.” DIREITO EMPRESARIAL 7 4.3. Direitos do portador de título representativo de mercadoria: memorize a regra do art. 894, do Código Civil, que diz que é direito do portador de título representativo de mercadoria, de acordo com as regras que regulam sua circulação: a) transferir o título; ou b) receber a mercadoria, independentemente de formalidades, além da entrega do título devidamente quitado! Código Civil: “Art. 894. O portador de título representativo de mercadoria tem o direito de transferi-lo, de conformidade com as normas que regulam a sua circulação, ou de receber aquela independentemente de quaisquer formalidades, além da entrega do título devidamente quitado.” 4.4. Garantia: confirmando a autonomia cambiária (a palavra cambiária é referente aos títulos de crédito!), prevê o art. 894, do Código Civil, que, enquanto o título de crédito estiver em circulação, só ele poderá ser dado em garantia, ou ser objeto de medidas judiciais, e não, separadamente, os direitos ou mercadorias que representa. 4.5. Boa-fé de terceiro: o título de crédito não pode ser reivindicado do portador que o adquiriu de boa-fé e na conformidade das normas que disciplinam a sua circulação (art. 896, do Código Civil)! Código Civil: “Art. 895. Enquanto o título de crédito estiver em circulação, só ele poderá ser dado em garantia, ou ser objeto de medidas judiciais, e não, separadamente, os direitos ou mercadorias que representa. Art. 896. O título de crédito não pode ser reivindicado do portador que o adquiriu de boa-fé e na conformidade das normas que disciplinam a sua circulação.” DIREITO EMPRESARIAL 8 4.6. Em resumo: o que ocorre, pelo princípio da autonomia, é que ele gera algumas consequências práticas e limitações dele derivadas: a) Princípio da abstração: por essa regra, há possibilidade de livre circulação do título, ou seja, o crédito nele representado não fica restrito à relação jurídica que o originou; e b) Princípio da inopobilidade das exceções pessoais: acarretam-se limitações em juízo para o devedor em relação ao portador do título (art. 915 do Código Civil)! 4.7. MUITO CUIDADO: nem todos os títulos de crédito são abstratos, característica exclusiva dos títulos não causais: a) Títulos causais (imperfeitos ou impróprios): sua emissão somente pode ser feita nas hipóteses estritamente previstas em lei, como é o caso da duplicata utilizável na compra e venda mercantil, devendo ser comprovada a existência da fatura e a respectiva entrega da mercadoria; b) Títulos de créditos não causais (abstratos ou perfeitos): sua emissão não está vinculada a nenhuma causa preestabelecida em lei, como é o caso do cheque e da nota promissória. 4.8. Causas de extinção da autonomia do título de crédito: a) Transferência do título por cessão civil de crédito: a melhor forma de transferir um título para outra pessoa é por endosso (falaremos sobre o assunto mais à frente), mas o crédito nele previsto também pode ser transferido por cessão civil de crédito (que é diferente do endosso), casos em que se perderão as características que DIREITO EMPRESARIAL 9 mencionamos no tópico anterior (autonomia do título e inopobilidade de exceções pessoais); b) Endosso com cláusula “não à ordem”: se determinado título de crédito for transferido por endosso com a cláusula “não à ordem”, o título não poderá ser transferido por novo endosso, somente por cessão civil de crédito! Vejamos as consequências do endosso com a cláusula “não à ordem”: i. Nova transferência apenas por cessão civil: nesse caso, se o portador quiser transferir novamente o documento, somente poderá fazê-lo por intermédio de nova cessão civil do crédito para terceiro (já não pode mais endossar o título); ii. Cessionário: esse terceiro que receber passará a ser o novo portador do título (cessionário)! iii. Se houver a cessão de crédito: o devedor do título já poderá levantar questões relacionadas com a origem da dívida e as relações jurídicas possíveis com os credores do título podem ser excepcionadas contra o cessionário; c) Prescrição: se o prazo de prescrição do título de crédito se consumar, sem que o portador tenha adotado das medidas cabíveis (cobrança ou protesto), a dívida somente poderá ser cobrada como uma dívida qualquer, pois o título perderá as suas características cambiais de autonomia e inoponibilidade de exceções pessoais. Requisitos do Título de Crédito DIREITO EMPRESARIAL 10 5. Requisitos do Título de Crédito - Para ser regulamente emitido, o título deve conter os seguintes elementos: a) data da emissão; b) indicação precisa dos direitos que confere; e c) assinatura do emitente. 5.1. Regras de preenchimento que podem ser cobradas em concurso: a) Título à vista: será à vista, o título de crédito que não contenha indicação de vencimento; b) Lugar de pagamento: o domicílio do emitente considera-se lugar de emissão e de pagamento, quando não indicado no título o lugar do pagamento; Código Civil: “Art. 889. Deve o título de crédito conter a data da emissão, a indicação precisa dos direitos que confere, e a assinatura do emitente. § 1o É à vista o título de crédito que não contenha indicação de vencimento. § 2o Considera-se lugar de emissão e de pagamento, quando não indicado no título, o domicílio do emitente.” c) Cláusulas proibidas: não podem ser escritas no título, sob pena de serem consideras como não escritas: i. cláusula de juros; ii. a proibitiva de endosso; DIREITO EMPRESARIAL 11 iii. a excludente de responsabilidade pelo pagamento ou por despesas; iv. a que dispense a observância de termos e formalidade prescritas; e v. a que, além dos limites fixados em lei, exclua ou restrinja direitos e obrigações. Código Civil: “Art. 890. Consideram-se não escritas no título a cláusula de juros, a proibitiva de endosso, a excludente de responsabilidade pelo pagamento ou por despesas, a que dispense a observância de termos e formalidade prescritas, e a que, além dos limites fixados em lei, exclua ou restrinja direitos e obrigações.” d) Preenchimento incompleto: veja bem que, em momento posterior à emissão, o título se ache de forma incompleta, poderá ser preenchido, em conformidade com os ajustes realizados! e) Ajustes preenchidos posteriormente: o descumprimento pelas pessoas que participaram dos ajustes não pode ser oposto ao terceiro portador do título de boa-fé, salvo a comprovação de má-fé do terceiro,ao adquirir o título; Código Civil:` “Art. 891. O título de crédito, incompleto ao tempo da emissão, deve ser preenchido de conformidade com os ajustes realizados. Parágrafo único. O descumprimento dos ajustes previstos neste artigo pelos que deles participaram, não constitui motivo de oposição ao terceiro portador, salvo se este, ao adquirir o título, tiver agido de má- fé.” f) Emissão por mandatário ou representante sem poderes suficientes: se o emissor do título (a pessoa que assina o título ao ser emitido) não possuir DIREITO EMPRESARIAL 12 poderes, ou se ir além dos poderes que tem, lança a sua assinatura em título de crédito, como mandatário ou representante de outrem, fica pessoalmente obrigado, e, pagando o título, tem ele os mesmos direitos que teria o suposto mandante ou representado. Juridicamente, é como se próprio subscritor tivesse emitido o título. Código Civil: “Art. 892. Aquele que, sem ter poderes, ou excedendo os que tem, lança a sua assinatura em título de crédito, como mandatário ou representante de outrem, fica pessoalmente obrigado, e, pagando o título, tem ele os mesmos direitos que teria o suposto mandante ou representado.” ATENÇÃO: a omissão de requisito legal, que retire a sua validade como título de crédito, não retira a validade do negócio jurídico que deu causa. Código Civil: “Art. 888. A omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a sua validade como título de crédito, não implica a invalidade do negócio jurídico que lhe deu origem.” Aval 6. Garantia do Aval - A garantia do aval é o ato pelo qual terceira pessoa se responsabiliza pela obrigação de pagamento constante do título. 6.1. O que você precisa saber a respeito de aval: a) Avalista: é quem presta a garantia do aval e se torna responsável da mesma forma que o devedor avalizado. DIREITO EMPRESARIAL 13 b) Avalizado: quem recebeu a garantia do aval (obs.: não precisa ser necessariamente o emissor do título, pois pode ser avalizado alguém tenha recebido o título e transferido para terceiro, pela figura do endosso!). c) Ação de regresso: alguém paga algo e depois procura se ressarcir de outra pessoa que possuía a obrigação de ter feito o pagamento dessa dívida. d) Aval no anverso (na frente do título): com a mera assinatura; e) Aval no verso (atrás do título): assinatura e menção expressa de que se trata de um aval (“por aval”); DICAS PARA GUARDAR: • Aval, Avalista, Anverso e Assinatura, começam com “A”, que é a primeira letra do alfabeto de nosso idioma! • Regra para o anverso do título: basta a Assinatura do Avalista no Anverso! • Regra para o verso do título: nesse caso é mais complexo, pois deve conter a assinatura e, também, a expressão “por aval”, para se comprovar de que se trata de um aval. f) Aval “em preto”: em favor de determinada pessoa especificada no título (pode ser em favor do devedor originário, ou de algum dos endossantes); g) Aval “em branco”: presume-se que foi feito em favor do emitente do devedor originário; h) Aval parcial: não é permitido pelo Código Civil; DIREITO EMPRESARIAL 14 i) Aval cancelado: considera-se não escrito. Código Civil: “Art. 897. O pagamento de título de crédito, que contenha obrigação de pagar soma determinada, pode ser garantido por aval. Parágrafo único. É vedado o aval parcial. (vedação) Art. 898. O aval deve ser dado no verso ou no anverso do próprio título. § 1o Para a validade do aval, dado no anverso do título, é suficiente a simples assinatura do avalista. (aval no anverso) § 2o Considera-se não escrito o aval cancelado. (aval não escrito/cancelado) Art. 899. O avalista equipara-se àquele cujo nome indicar; na falta de indicação, ao emitente ou devedor final. (aval “em preto” ou “em branco”) j) Avais simultâneos (ou “coaval”): acontecem quando duas ou mais pessoas avalizam o mesmo título conjuntamente, garantindo a mesma obrigação cambial. Nesse caso, os avalistas serão solidários entre si (se um pagar a dívida, pode cobrar do outro a parte proporcionalmente que caiba ao outro avalista); k) Avais sucessivos (ou “aval de aval”): nesse caso, um avalista avaliza outro avalista. P. ex.: um avalista que tiver pago a dívida poderá cobrá-la integralmente de seu “avalista avalizado”. Nesse caso, podemos dizer que o avalista que pagou possui direito de ação de regresso contra o que não pagou. l) Aval fora do título (em documento separado): guarde bem essa, porque é nulo. IMPORTANTE: DIREITO EMPRESARIAL 15 • Pagamento do título pelo avalista: após pagar a dívida, possuirá o direito de ajuizar ação de regresso contra o seu avalizado e demais coobrigados anteriores; • Nulidade formal: subsiste a responsabilidade do avalista, ainda que nula a obrigação do avalizado, a menos que a nulidade decorra de vício de forma; Código Civil: “Art. 899. ............................................................................................................ .............................. § 1o Pagando o título, tem o avalista ação de regresso contra o seu avalizado e demais coobrigados anteriores. § 2o Subsiste a responsabilidade do avalista, ainda que nula a obrigação daquele a quem se equipara, a menos que a nulidade decorra de vício de forma.” k) Aval posterior ao vencimento: é possível, e produz os mesmos efeitos do anteriormente conferido. Código Civil: “Art. 900. O aval posterior ao vencimento produz os mesmos efeitos do anteriormente dado.” SÚMULA STJ 26: “O avalista do título de crédito vinculado a contrato de mútuo também responde pelas obrigações pactuadas, quando no contrato figurar como devedor solidário.” 6.1.1. Diferenças entre aval e fiança: a) Princípio da autonomia dos títulos de crédito: não podem ser discutidas as matérias relacionadas com a origem da dívida: DIREITO EMPRESARIAL 16 i. No aval: é uma obrigação cambial autônoma; se a obrigação que deu origem a dívida for desfeita, não se anula a dívida do avalista, pois o título de crédito é abstrato em relação as demais relações jurídicas anteriores à emissão do título objeto do aval; ii. Na fiança: a nulidade da obrigação principal alcança a obrigação do fiador, para desfazê-la também, pois é um contrato acessório. b) Benefício de ordem: primeiro se cobra do devedor principal, somente após verificar que não há bens suficientes para quitação da dívida, é que podem ser executados os bens do garantidor: i. No aval: essa possibilidade não existe para o aval, POR ISSO, o credor pode ir direto em seus bens para executá-los. Depois de pagar a dívida, o avalista pode cobrar do devedor principal, em ação de regresso; ii. Na fiança: essa possibilidade existe, ou seja, primeiro executam-se bens do devedor principal). Título ao Portador 7. Título ao portador - Para compreender a respeito do título ao portador, também disciplinado pelo Código Civil, pense que a sua transferência da “cártula” (documento) pode ocorrer mediante a mera tradição, que é a transferência da posse física do título de uma pessoa para outra! Código Civil: DIREITO EMPRESARIAL 17 “Art. 904. A transferência de título ao portador se faz por simples tradição.” ATENÇÃO: é nula a emissão de título de crédito ao portador, sem autorização de lei especial! Código Civil: “Art. 907. É nulo o título ao portador emitido sem autorização de lei especial.” Lei n. 8.021, de1990: “Art. 2o A partir da data de publicação desta lei fica vedada: ......................................... II - a emissão de títulos e a captação de depósitos ou aplicações ao portador ou nominativos-endossáveis;” Código Civil: “Art. 907. É nulo o título ao portador emitido sem autorização de lei especial.” Lei n. 9.069, de 1995: “Art. 69. A partir de 1o de julho de 1994, fica vedada a emissão, pagamento e compensação de cheque de valor superior a R$ 100,00 (cem REAIS), sem identificação do beneficiário. Parágrafo único. O Conselho Monetário Nacional regulamentará o disposto neste artigo.” 7.1. Características do título ao portador: a) Direito do portador de receber o valor do título: o possuidor de título ao portador tem direito à prestação nele indicada, mediante a sua simples apresentação ao devedor; DIREITO EMPRESARIAL 18 b) Circulação contra a vontade do emitente: a prestação é devida ainda que o título tenha entrado em circulação contra a vontade do emitente; Código Civil: “Art. 905. O possuidor de título ao portador tem direito à prestação nele indicada, mediante a sua simples apresentação ao devedor. Parágrafo único. A prestação é devida ainda que o título tenha entrado em circulação contra a vontade do emitente.” c) Matéria de defesa do devedor: o devedor só poderá opor ao portador exceção fundada em direito pessoal, ou em nulidade de sua obrigação; Código Civil: Art. 906. O devedor só poderá opor ao portador exceção fundada em direito pessoal, ou em nulidade de sua obrigação.” d) Título dilacerado, porém identificável: seu possuidor tem direito a obter do emitente a SUBSTITUIÇÃO DO ANTERIOR, mediante a restituição do primeiro e o pagamento das despesas; Código Civil: “Art. 908. O possuidor de título dilacerado, porém identificável, tem direito a obter do emitente a substituição do anterior, mediante a restituição do primeiro e o pagamento das despesas.” e) Perda, extravio do título ou injustamente desapossado do título: seu proprietário poderá obter novo título em juízo, bem como impedir sejam pagos a outrem capital e rendimentos. Mas, o pagamento, feito antes de ter ciência dessa ação, exonera o devedor, salvo for comprovado que ele tinha conhecimento do fato. DIREITO EMPRESARIAL 19 Código Civil: “Art. 909. O proprietário, que perder ou extraviar título, ou for injustamente desapossado dele, poderá obter novo título em juízo, bem como impedir sejam pagos a outrem capital e rendimentos. Parágrafo único. O pagamento, feito antes de ter ciência da ação referida neste artigo, exonera o devedor, salvo se se provar que ele tinha conhecimento do fato.” Título à Ordem 8. Título à Ordem - A expressão título à ordem está ligada à possibilidade ou não de endosso do título. 8.1. Endosso: é o ato pelo qual o credor transfere o título de crédito para outra pessoa! Veja bem que, com esse ato, o transferidor para a ser também devedor do título. 8.2. Conceitos relacionados com a figura do endosso: a) Endossante: é a pessoa que endossa o título e o transfere para outra pessoa. b) Endossatário: é o beneficiado pelo endosso, que passa a ser o novo credor do título, e vai ficar com a posse da cártula; Código Civil: “Art. 910. ............................................................................................................ .................... § 2o A transferência por endosso completa-se com a tradição do título.” c) Endosso no verso (atrás do título): com a mera assinatura; DIREITO EMPRESARIAL 20 d) Endosso no anverso (na frente): necessidade de assinatura e menção expressa de que se trata de um endosso (“por endosso”); ATENÇÃO: preste bem a atenção que essa regra para o endosso é exatamente inversa em relação ao aval. Código Civil: “Art. 910. O endosso deve ser lançado pelo endossante no verso ou anverso do próprio título. § 1o Pode o endossante designar o endossatário, e para validade do endosso, dado no verso do título, é suficiente a simples assinatura do endossante. § 2o A transferência por endosso completa-se com a tradição do título. § 3o Considera-se não escrito o endosso cancelado, total ou parcialmente.” e) Endosso em preto: aquele que identifica o seu beneficiário (endossatário); f) Endosso em branco: aquele que não identifica o seu beneficiário. Isso é interessante pois gera três possibilidades ao endossatário: i. transformá-lo em “endosso em preto”, inserindo o seu nome; ii. endossar novamente o título, “em branco” ou “em preto”; ou iii. transferir o título sem aplicar novo endosso, com a mera entrega (tradição) do título a outra pessoa (art. 913, do Código Civil); nessa situação, o transferidor não guardará para si nenhuma responsabilidade no título (lembre-se do princípio da literalidade!); DIREITO EMPRESARIAL 21 Código Civil: “Art. 913. O endossatário de endosso em branco pode mudá-lo para endosso em preto, completando-o com o seu nome ou de terceiro; pode endossar novamente o título, em branco ou em preto; ou pode transferi-lo sem novo endosso.” g) Série de endossos: é possível! Mas, o que for pagar o título é obrigado a verificar a regularidade da série de endossos, mas não a autenticidade das assinaturas. Código Civil: “Art. 911. Considera-se legítimo possuidor o portador do título à ordem com série regular e ininterrupta de endossos, ainda que o último seja em branco. Parágrafo único. Aquele que paga o título está obrigado a verificar a regularidade da série de endossos, mas não a autenticidade das assinaturas.” h) Endosso limitado ou parcial: considera-se não escrita no endosso qualquer condição a que o subordine o endossante, bem como é nulo o endosso parcial (da mesma forma que é o aval parcial, de acordo com o Código Civil!); Código Civil: “Art. 912. Considera-se não escrita no endosso qualquer condição a que o subordine o endossante. Parágrafo único. É nulo o endosso parcial.” i) Responsabilidade solidária do endossante: pode ou não assumir essa responsabilidade ao transmitir o título, mas, sob as regras do Código Civil, em caso de ASSUMI-LA, ESSA CONDIÇÃO DEVE FICAR DIREITO EMPRESARIAL 22 EXPRESSA NO TÍTULO! E, se o endossante pagar o título, pode ajuizar AÇÃO DE REGRESSO contra os coobrigados anteriores! j) Cláusula de “não garantia”: exclui o endossante da responsabilidade pelo pagamento do título (sob as regras do Código Civil, ela é presumida no título ao ser endossado); ATENÇÃO: lembre-se que as regras do Código Civil não se aplicam quando a legislação especial tratar de forma diferente. Código Civil: “Art. 914. Ressalvada cláusula expressa em contrário, constante do endosso, não responde o endossante pelo cumprimento da prestação constante do título. § 1o Assumindo responsabilidade pelo pagamento, o endossante se torna devedor solidário. § 2o Pagando o título, tem o endossante ação de regresso contra os coobrigados anteriores.” k) Cláusula “não à ordem”: impede endosso do título, dali para a frente. Consequência, o título poderá ser negociado (“passado para a frente”), mas apenas sob a forma do instituto da cessão civil de crédito, que não gera os mesmos efeitos de um ato cambiário. Explico mais: para cobrar um título de crédito em juízo, pode ser utilizada a execução, em que não se discute a origem da dívida, via de regra. Essa é uma característica cambial. Se houver a cessão de crédito, o credor deverá comprovar a origem dadívida para cobrá-la em juízo (ou seja, não basta ter a posse do tíitulo!) e estará sujeito a discutir com o devedor as suas exceções pessoais (o que não poderia ocorrer se o título fosse transferido por endosso!); DIREITO EMPRESARIAL 23 Código Civil: “Art. 919. A aquisição de título à ordem, por meio diverso do endosso, tem efeito de cessão civil.” l) Endosso-penhor (ou endosso-caução, ou endosso-pignoratício, ou endosso-garantia): não transfere os créditos, apenas legitima a posse do título (cártula) de outra pessoa. É um dos chamados endossos impróprios, que é utilizado para garantia de uma dívida (“valor em garantia”, “valor em penhor”). Caso essa dívida não for honrada, o possuidor passará a ser pleno titular dos direitos relacionados com o título de crédito. O devedor não pode apresentar exceções contra o endossante, salvo se o endossante tenha agido de má-fé. Código Civil: “Art. 918. A cláusula constitutiva de penhor, lançada no endosso, confere ao endossatário o exercício dos direitos inerentes ao título. § 1o O endossatário de endosso-penhor só pode endossar novamente o título na qualidade de procurador. § 2o Não pode o devedor opor ao endossatário de endosso-penhor as exceções que tinha contra o endossante, salvo se aquele tiver agido de má-fé.” m) Endosso-mandato (ou endosso-procuração): é outro endosso impróprio, utilizado para conferir poderes para o possuidor cobrar a dívida em nome do endossante (“para cobrança”, “valor a cobrar”, “por procuração”). Nessa hipótese, é possível novo endosso, mas com os mesmos poderes que recebeu. A morte ou incapacidade do endossante não retira a eficácia do endosso-mandato! O devedor do título somente pode apresentar as exceções que tiver contra o DIREITO EMPRESARIAL 24 endossante, já que o endossatário não atua em nome próprio, mas em nome do endossante! Código Civil: “Art. 917. A cláusula constitutiva de mandato, lançada no endosso, confere ao endossatário o exercício dos direitos inerentes ao título, salvo restrição expressamente estatuída. § 1o O endossatário de endosso-mandato só pode endossar novamente o título na qualidade de procurador, com os mesmos poderes que recebeu. § 2o Com a morte ou a superveniente incapacidade do endossante, não perde eficácia o endosso-mandato. § 3o Pode o devedor opor ao endossatário de endosso-mandato somente as exceções que tiver contra o endossante.” n) Endosso póstumo ou tardio: é feito após o vencimento do título, e produz os efeitos normais do endosso anterior ao vencimento. Código Civil: “Art. 920. O endosso posterior ao vencimento produz os mesmos efeitos do anterior.” RECAPITULANDO: Ø AVAL: • no anverso: basta a assinatura do avalista! • no verso: deve ter a indicação expressa de que se trata de aval! Ø ENDOSSO: DIREITO EMPRESARIAL 25 • no anverso: deve ter a indicação expressa de que se trata de endosso! • no verso: basta a assinatura do endossante! Código Civil: "Art. 898. O aval deve ser dado no verso ou no anverso do próprio título. § 1o Para a validade do aval, dado no anverso do título, é suficiente a simples assinatura do avalista. § 2o Considera-se não escrito o aval cancelado. .......................... Art. 910. O endosso deve ser lançado pelo endossante no verso ou anverso do próprio título. § 1o Pode o endossante designar o endossatário, e para validade do endosso, dado no verso do título, é suficiente a simples assinatura do endossante. § 2o A transferência por endosso completa-se com a tradição do título. § 3o Considera-se não escrito o endosso cancelado, total ou parcialmente." Título Nominativo 9. Título Nominativo - Como o próprio nome já diz, essa é uma característica dos títulos de crédito em que o nome do favorecido pelo título deve estar registrado no título. Código Civil: “Art. 921. É título nominativo o emitido em favor de pessoa cujo nome conste no registro do emitente.” DIREITO EMPRESARIAL 26 9.1. Essa espécie de título, segundo o Código Civil, possui uma característica especial, relacionada com as formalidades ligadas à sua TRANSFERÊNCIA. No caso, não basta a tradição do documento, mas devem ser observadas as seguintes formalidades, nas seguintes modalidades de transferência: a) Transferência por termo: em registro do emitente, assinado pelo proprietário do título e pelo adquirente; ou b) Endosso: deve conter o nome do endossatário, com autenticidade de sua assinatura (não se admite endosso “em branco” de títulos nominativos), e deve ser averbado no registro do emitente! No caso de endosso, ainda há duas particularidades: i. Série regular e ininterrupta de endossos: nessas condições, o proprietário do título pode obter a averbação depois de comprovar a autenticidade das assinaturas de todos os endossantes; ii. Título com o nome do primitivo proprietário: caso o título original contenha o nome do primitivo proprietário, tem direito o adquirente a obter do emitente novo título, em seu nome, devendo a emissão do novo título constar no registro do emitente. Código Civil: “Art. 922. Transfere-se o título nominativo mediante termo, em registro do emitente, assinado pelo proprietário e pelo adquirente. Art. 923. O título nominativo também pode ser transferido por endosso que contenha o nome do endossatário. § 1o A transferência mediante endosso só tem eficácia perante o emitente, uma vez feita a competente averbação em seu registro, DIREITO EMPRESARIAL 27 podendo o emitente exigir do endossatário que comprove a autenticidade da assinatura do endossante. § 2o O endossatário, legitimado por série regular e ininterrupta de endossos, tem o direito de obter a averbação no registro do emitente, comprovada a autenticidade das assinaturas de todos os endossantes. § 3o Caso o título original contenha o nome do primitivo proprietário, tem direito o adquirente a obter do emitente novo título, em seu nome, devendo a emissão do novo título constar no registro do emitente.” 9.2. Transformação de título nominativo em à ordem ou ao portador: salvo expressa proibição legal, é possível, de acordo com o art. 924, do Código Civil. Código Civil: “Art. 924. Ressalvada proibição legal, pode o título nominativo ser transformado em à ordem ou ao portador, a pedido do proprietário e à sua custa.” ATENÇÃO: o emitente de título nominativo que o transferir de boa-fé, na forma dos arts. 922 e 923, do Código Civil, fica desonerado de responsabilidade. Código Civil: “Art. 925. Fica desonerado de responsabilidade o emitente que de boa- fé fizer a transferência pelos modos indicados nos artigos antecedentes.” Importante também é lembrar que os negócios ou medidas judiciais relacionados com o título nominativo, para valer contra o emitente ou terceiros, DEVE O TÍTULO SER AVERBADO NO REGISTRO DO EMITENTE! Código Civil: DIREITO EMPRESARIAL 28 “Art. 926. Qualquer negócio ou medida judicial, que tenha por objeto o título, só produz efeito perante o emitente ou terceiros, uma vez feita a competente averbação no registro do emitente.” Protesto 10. Protesto - Juntamente com o aval (que é uma garantia) e o endosso (que é uma forma de transferência e circulação do título de crédito), temos a figura do protesto, caracterizados como atos cambiários. 10.1. Protesto: trata-se da formalização de ato que atesta a ocorrência de um fato relevante para a relação cambiária.10.2. Motivos para protesto: a) Falta de aceite do título: o devedor se nega a aceitar o título (aceite é o ato pelo qual o devedor faz um registro na duplicata, p. ex., admitindo que deve o valor discriminado no título); b) Falta de devolução do título (p. ex., a duplicata é enviada para aceite do devedor e não é devolvida ao credor); c) Falta de pagamento do título (vencimento do título sem pagamento pelo devedor). 10.3. Protesto necessário: contra o devedor principal, avalistas e endossantes. Essa é uma condição necessária para que o credor cobre a dívida judicialmente, em processo de execução, contra esses. 10.4. Protesto facultativo: contra o devedor principal e seu avalista. Contra esses é desnecessário o protesto, para a execução judicial. DIREITO EMPRESARIAL 29 10.5. Interrupção da prescrição: o protesto interrompe a prescrição (art. 202, III, do Código Civil). Nota Promissória 11. Nota Promissória - É título de crédito considerado como promessa de pagamento, regulada pela Lei Uniforme de Genebra, decorrente de acordo internacional realizado em Genebra, em 1930, que foi incorporado ao ordenamento jurídico brasileiro pelo Decreto n. 57.663, de 24 de janeiro de 1976. Aplicam-se às notas promissórias, também, o Decreto n. 2.044, de 31 de dezembro de 1908. 11.1. Sacador (ou emitente): é a pessoa que emite a nota e faz a promessa de pagamento a outra pessoa. 11.2. Tomador: a nota promissória é emitida em favor do tomador, para quem se promete pagar. 11.3. Requisitos essenciais: a) Utilização da expressão “nota promissória”; b) uma promessa incondicional de pagamento de determinada quantia; c) nome do tomador; d) data do saque (data em que foi emitida); e) a assinatura do emitente; f) o lugar do saque ou menção de um lugar junto do nome do subscritor. DIREITO EMPRESARIAL 30 11.4. Características a) modelo livre: quanto ao modelo, a nota promissória é livre, embora deve conter algumas expressões obrigatórias. Logo, as notas promissórias podem ser criadas em uma simples folha de papel, desde que apresente os requisitos essenciais; b) emissão em branco ou incompleta: é possível de ser completada pelo credor de boa-fé, antes da cobrança, de acordo com a Súmula 387 do STF: “A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto”; c) cláusula à ordem: é implícita, não precisa vir escrita; d) cláusula não à ordem: é possível, deve ser expressa (impede o endosso, mas não impede a cessão civil de crédito); e) exigência de identificação do devedor principal: deve ser feita com menção ao número da identidade, CPF, título de eleitor ou carteira de trabalho (impede a emissão ao portador); f) promessa incondicional: é inadmissível qualquer tipo de condição (suspensiva ou resolutiva); g) sem data de pagamento: é possível a ausência de menção de data de vencimento, caso em que a nota promissória seja considerada à vista; h) nota promissória a certo termo da vista: é possível (art. 78, da Lei Uniforme), caso em que o emissor possui até 1 ano, contado do DIREITO EMPRESARIAL 31 saque, para levar ao tomador para obter o visto, a partir do qual começará a correr o prazo para pagamento. 11.5. Prescrição: o prazo de prescrição da nota promissória é uma limitação temporal para a execução judicial contra o emitente, avalistas e endossantes: a) a prescrição ocorrerá em 3 anos, contados do vencimento, contra o devedor principal (sacado) e seus avalistas; b) em 1 ano, contado do protesto, ou da data do vencimento (se a nota promissória tiver a cláusula “sem despesas”), contra os endossantes e seus avalistas; c) em 6 meses, contados do dia em que os endossantes ou seus avalistas foram judicialmente acionados ou pagaram a dívida, uns contra os outros. 11.6. Vinculação a contrato: no caso de nota promissória vinculada a contrato (na emissão, fica previsto que ela é vinculada a um determinado contrato), destacam- se as seguintes orientações jurisprudenciais: a) Nota promissória vinculada a contrato: o STJ entende que “o fato de achar-se a nota promissória vinculada a contrato não a desnatura como título de executivo extrajudicial” (REsp 259.819-PR); b) Nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito é diferente: o STJ entende que “a nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou” (REsp 262.623-RS); c) Cláusula-mandato: constitui a instituição financeira mandatária para emitir nota promissória em nome do devedor, só que em seu próprio DIREITO EMPRESARIAL 32 favor; pela Súmula 60 do STJ “é nula a obrigação cambial assumida por procurador do mutuário vinculado ao mutuante, no exclusivo interesse deste”. Nesse caso, o STJ aplicou o art. 51, inciso VIII, do Código de Defesa do Consumidor que considera nulas de pleno direito as cláusulas contratuais que “imponham representante para concluir ou realizar outro negocio jurídico pelo consumidor; d) Nota promissória “pro solvendo”: quanto emitidas com essa característica, não dão quitação ao negócio principal e dele não se desligam. Ex.: a vinculação de notas promissórias a uma escritura de compra e venda com o caráter “pro solvendo” significa que os títulos não se tornam autônomos, não se desligam da alienação do bem e o preço só se considera real e definitivamente pago depois de saldada a última das notas promissórias. Se as notas promissórias não forem pagas, o vendedor poderá atacar a própria compra e venda e desfazer o contrato. e) Nota promissória “pro soluto”: tornam-se autônomas em relação ao negócio principal e dão a ele quitação. Ex.: notas promissórias no valor de uma compra e venda com o caráter “pro soluto” são emitidas como pagamento, a título de solução, dando quitação. Esse fato torna a compra e venda irrevogável e irretratável, perfeita e acabada, mesmo se as notas promissórias não forem pagas. Ou seja, a compra e venda não pode ser desfeita pelo vencimento das notas promissórias, sem o devido pagamento. Caberá ao DIREITO EMPRESARIAL 33 vendedor, de posse das notas promissórias, recorrer à Justiça, e promover a execução por falta de pagamento. Cheque 12. Cheque - É título de crédito considerado como ordem de pagamento à vista, regulado pela Lei Uniforme do Cheque (Decreto n. 57.595, de 4 de janeiro de 1966) e pela Lei n. 7.357, de 1985, de 2 de setembro de 1985 (Lei do Cheque). 12.1. Sacador (ou emitente): é a pessoa que emite o cheque contra a instituição financeira, onde possui fundos em seu nome. 12.2. Sacado: é a instituição financeira que deve pagar o cheque, havendo fundos. 12.3. Requisitos essenciais a) uso da expressão “cheque”; b) deve conter uma ordem incondicional de pagamento de quantia determinada, a ser descrita tanto em algarismos como por extenso (havendo divergência, prevalecerá o valor redigido por extenso); c) o nome do sacado (banco) contra quem o cheque foi emitido; d) a data do saque (emissão); e) o lugar do saque ou a menção de um lugar junto ao nome do emitente; f) a assinatura do próprio emitente (sacador), a qual será conferida pelo sacado (banco), na hora do pagamento. 12.4. Características: DIREITO EMPRESARIAL 34 a) Modelo vinculado: quanto ao modelo, o cheque é um título decrédito vinculado, deve ser emitido pelo banco (sacado) e suas formas precisam obedecer às regras do Banco Central. b) Cheque ao portador: sem menção ao favorecido (credor), no máximo até R$ 100,00; c) Cheque nominal: com expressa menção ao favorecido (obrigatória acima de R$ 100,00); ATENÇÃO: regras sobre a possibilidade ou não de emissão de títulos de crédito ao portador. • A Lei n. 8.021, de 12 de abril de 1990, proibiu a emissão de títulos ao portador; • Pelo Código Civil de 2002, lei especial pode autorizar a emissão de título ao portador. • A Lei n. 9.069, de 29 de junho de 1995 (Lei do Plano Real), admite a emissão de cheque ao portador em valor inferior a R$ 100,00. d) Cheque endossado: transferência do cheque pela assinatura do favorecido, no verso (pode ser “em branco” ou “em preto”; e) Admite a cláusula “não à ordem”: essa cláusula impede o endosso (mas o título pode circular por cessão civil do crédito); CUIDADO: a circulação de título de crédito ao portador é possível, o que ocorre quando há o endosso “em branco”. • Com o endosso “em branco”, o título adquire a característica “ao portador”. DIREITO EMPRESARIAL 35 f) Cheque cruzado “em branco”: aposição de dois traços paralelos no anverso do título (impede o desconto na “boca do caixa”, podendo ser apenas creditado em conta); g) Cheque cruzado “em preto”: aposição dos dois traços e do nome do banco onde poderá ser depositado, entre as linhas paralelas; h) Cheque visado: o título recebe a confirmação de fundos pelo banco sacado, por aposição de afirmação nesse sentido no título (só pode ser visado pelo banco o cheque que ainda não estiver endossado); nesse caso, o banco assegura o pagamento durante o prazo de apresentação do cheque; i) Cheque administrativo: é o cheque emitido pelo próprio banco, para ser liquidado (pago) em uma de suas agências (nesse caso, o banco é o emitente e o sacado, ao mesmo tempo!), gerando uma certeza muito maior de que haverá pagamento; j) Cheque para ser creditado em conta: somente pode ser creditado em conta, mediante a expressão “para ser creditado em conta” (como determina a lei) ou a menção do número da conta do beneficiário entre os traços do cruzamento (como é feito na prática); k) Sustação do cheque: i. por revogação ou contraordem (art. 35, da Lei do Cheque): é feita pelo emissor do cheque (por carta, via judicial ou extrajudicial), e só pode produzir efeitos após o prazo de apresentação; ii. por oposição (art. 36, da Lei do Cheque): pode ser feita durante o prazo de apresentação do cheque, pelo emitente DIREITO EMPRESARIAL 36 ou pelo portador legitimado, manifestando ao banco (sacado), oposição fundada em relevante razão de direito (nesse caso, não cabe ao banco julgar as razões da oposição, deve simplesmente acatar o pedido de sustação, mesmo sem o boletim de ocorrência, conforme interpretação do art. 36, § 2o, da Lei do Cheque). 12.5. Prazo de apresentação: é o prazo que possui o portador para apresentar o cheque perante a instituição financeira para liquidação (pagamento), o qual é regido pelas seguintes regras: a) na mesma praça (cheque emitido na mesma praça que o banco): 30 dias, contados da emissão; b) em praças diferentes: 60 dias, contados da emissão; c) utilidade do prazo de apresentação: se o cheque for apresentado fora do prazo, o portador perde o direito de cobrar o cheque dos endossatários (essa regra não alcança os avalistas nem o emitente!); d) Súmula 600 do STF: “cabe ação executiva contra o emitente do cheque e seus avalistas, ainda que não apresentado o cheque ao sacado no prazo legal, desde que não prescrita a ação cambiária”; e) situação excepcional (art. 47, § 3o, da Lei do Cheque): o portador que não apresentar o cheque em tempo hábil, ou não comprovar a recusa de pagamento, perde o direito de execução contra o emitente, se este tinha fundos disponíveis durante o prazo de apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que não lhe seja imputável; 12.6. Prescrição: trata-se de limitação temporal para a execução judicial contra o emitente, avalista e endossante: DIREITO EMPRESARIAL 37 a) a prescrição ocorrerá 6 meses após o vencimento do prazo de apresentação: a prescrição ocorre nesse prazo, independentemente de quando o cheque for apresentado, se no primeiro ou no último do prazo de apresentação; b) situação especial: se um cheque pré-datado for apresentado antes da “data do vencimento”, computam-se 30 (mesma praça) ou 60 dias (praça diferentes), e mais 6 meses, para a contagem da prescrição; c) cheque prescrito: o cheque perde sua executividade, prevista no art. 585, inciso I, do Código de Processo Civil, devendo ser cobrado apenas pelas chamadas vias ordinárias. ATENÇÃO: os títulos de crédito são títulos executivos (art. 585, I, do CPC), os quais podem ser objeto de execução judicial, que é um processo no qual somente se discute o valor da dívida constante do título, sem precisar recorrer às razões que deram origem à dívida. 12.7. Cheque “pré-datado” ou “pós-datado”: o cheque é uma ordem de pagamento à vista. De acordo com o art. 32 da Lei do Cheque, qualquer disposição em contrário deve ser considerada não escrita. No entanto, sabemos que, na prática, é diferente, pois é aceita emissão de cheque com data futura de vencimento. Destaco as seguintes entendimentos do STJ a respeito: “(...). a emissão do cheque pós-datado, popularmente conhecido como cheque pré-datado, não o desnatura como título de crédito, e traz como consequência a ampliação do prazo de apresentação’’ (REsp, 612.423-DF). “A apresentação do cheque pré-datado antes do prazo estipulado gera o dever de indenizar, presente, como no caso, a devolução do título por ausência de provisão de fundos” (REsp 707.272-PB). DIREITO EMPRESARIAL 38 12.8. Autonomia relativa do cheque: como título de crédito, o cheque é autônomo em relação à obrigação que lhe deu origem, salvo se for emitido em garantia. 12.8.1. Todavia, o STJ entende que a autonomia se perde quando o cheque foi dado em garantia de cumprimento de uma obrigação, casos em que podem ser investigados os motivos da emissão do cheque e, se não estiverem de acordo com a legislação, o pagamento do título poderá ser evitado: “se o cheque for dado em garantia, deve ser admitida a investigação da causa debendi” (REsp 659.327-MG); 12.8.2. Esclareço: nos demais casos, não se investiga a causa da emissão do cheque, basta que o credor utilize a execução judicial, em caso de falta de pagamento, sem que seja necessário justificar a origem da dívida. Duplicata 13. Duplicata – Esse título de crédito é considerada como ordem de pagamento, e é regulada pela Lei n. 5.474, de 1968, de 18 de julho de 1968 (Lei da Duplicata) e pelo Decreto-Lei n. 436, de 27 de janeiro de 1969. 13.1. Sacador (ou emitente): é a pessoa que emite a duplicata e faz a ordem de pagamento que deve ser cumprida pelo sacado. 13.2. Sacado: adquirente de mercadoria ou serviço que originou a emissão da duplicata. 13.3. Requisitos essenciais: a) deve conter a expressão “duplicata”; b) cláusula “à ordem”: autoriza a circulação por endosso; DIREITO EMPRESARIAL 39 c) data da emissão, coincidente com a data da fatura; d) data do vencimento, quando não for à vista; e) nome e domicílio do vendedor (sacador); f) nome, domicílio e inscrição no cadastro de contribuintes do comprador (sacado);g) o valor a ser pago, por extenso e em algarismos; h) o local do pagamento; i) o local para aceite do sacado (comprador); j) a assinatura do sacador. 13.4. Características a) Modelo vinculado: quanto ao modelo, a duplicata é um título de crédito vinculada, que deve obedecer ao padrão do Conselho Monetário Nacional (CMN). b) Título de crédito causal: somente pode ser emitido nas hipóteses fáticas autorizadas por lei, que são: i. duplicata em razão de compra e venda mercantil, e ii. duplicata em razão de contrato de prestação de serviços; STJ: “Ainda que a duplicata mercantil tenha por característica o vínculo à compra e venda mercantil ou prestação de serviços realizada, ocorrendo o aceite (...), desaparece a causalidade, passando o título a ostentar autonomia bastante para obrigar a recorrida ao pagamento da quantia devida DIREITO EMPRESARIAL 40 independentemente do negócio jurídico que lhe tenha dado causa” (STJ, REsp 668.682-MG); c) Aceite: é obrigatório para o sacado aceitar a duplicata, que assumirá as obrigações nela constantes, ainda que não assine o título; b) Prazo para remessa da duplicata: em até 30 dias contados da emissão, o sacador deverá enviar a duplicata ao sacado para aceite, e se for feita por intermédio de instituições financeiras, procuradores ou correspondentes, deverão apresentar o título ao sacado em 10 dias, contados do recebimento na praça de pagamento; c) Prazo para devolução da duplicata: o sacado deverá restituir a duplicata com o aceite em 10 dias, contados da data de sua apresentação, ou juntar declaração com os motivos para a falta de aceite; d) Motivos possíveis para a recusa do aceite: i. avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por conta e risco do sacado (comprador); ii. vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias, devidamente comprovados; iii. divergência nos prazos ou nos preços ajustados; e) Aceite expresso (ordinário): é o aceite representado pela assinatura do sacado no título, que se torna um título perfeito e acabado com o aceite; DIREITO EMPRESARIAL 41 f) Aceite presumido (por presunção): ocorre com a devolução da duplicata sem expressa recusa do sacado (comprador); nesse caso, o sacado se obriga ao pagamento da duplicata, mesmo que não tenha aceitado expressamente; para ser executada judicialmente uma duplicata nessas condições, é preciso fazer o protesto e a apresentação do comprovante da entrega das mercadorias; STJ: “A cobrança de duplicata não aceita e protestada só torna necessária a comprovação da entrega e recebimento de entrega da mercadoria em relação ao sacado, devedor do vendedor, e não quanto ao sacador, endossantes e respectivos avalistas” (REsp 250.568-MS); g) motivos de protesto de duplicata: i. por falta de aceite; ii. por falta de devolução; iii. por falta de pagamento; h) prazo para protesto por falta de pagamento: 30 dias contados da data do vencimento, sob pena de perder o direito de executar os endossantes e avalistas; i) protesto por indicações: quando o sacado não restitui a duplicata, o sacador pode efetuar o protesto por indicações retiradas da fatura e do Livro de Registro de Duplicatas (é um livro obrigatório!); j) triplicata: pode ser emitida quando houver extravio da duplicata. 13.5. Prescrição: a prescrição da duplicata obedece às seguintes normas: DIREITO EMPRESARIAL 42 a. a prescrição ocorrerá em 3 anos, contados do vencimento, contra o devedor principal (sacado) e seus avalistas; b. em 1 ano, contado do protesto, contra o endossante e seus avalistas; c. em 1 ano, contado do pagamento, para qualquer dos endossantes e avalistas, uns contra os outros. Cédula de Crédito Bancário 14. Cédula de Crédito Bancário – Trata-se de espécie de título de crédito definida na Lei n. 10.931, de 2004. 14.1. Características: a) Hipótese de emissão: é título de crédito emitido, que representa promessa de pagamento em dinheiro, decorrente de operação de crédito, de qualquer modalidade; b) Quem pode emitir: a Cédula de crédito bancário pode ser emitida por pessoa física ou jurídica, em favor de instituição financeira ou de entidade a esta equiparada; c) Quem pode ser credora: a instituição credora deve integrar o Sistema Financeiro Nacional, sendo admitida a emissão da Cédula de crédito bancário em favor de instituição domiciliada no exterior, desde que a obrigação esteja sujeita exclusivamente à lei e ao foro brasileiros; DIREITO EMPRESARIAL 43 d) Emissão em moeda estrangeira: o título emitido em favor de instituição domiciliada no exterior poderá ser emitida em moeda estrangeira; e) Garantia: pode ser emitida, com ou sem garantia, real ou fidejussória, cedularmente constituída. A garantia será especificada no título, observadas as disposições da Lei n. 10.931, de 2004, e, no que não forem com elas conflitantes, as da legislação comum ou especial aplicável; f) Título de crédito extrajudicial: a Cédula de crédito bancário é título executivo extrajudicial e representa dívida em dinheiro, certa, líquida e exigível, seja pela soma nela indicada, seja pelo saldo devedor demonstrado em planilha de cálculo, ou nos extratos da conta corrente, elaborados conforme previsto no § 2o. g) Obrigações do título: na Cédula de crédito bancário poderão ser pactuadas as seguintes obrigações: i. Juros e outros encargos: os juros sobre a dívida, capitalizados ou não, os critérios de sua incidência e, se for o caso, a periodicidade de sua capitalização, bem como as despesas e os demais encargos decorrentes da obrigação; ii. Atualização monetária e variação cambial: os critérios de atualização monetária ou de variação cambial como permitido em lei; iii. Configuração e consequências da mora: os casos de ocorrência de mora e de incidência das multas e penalidades DIREITO EMPRESARIAL 44 contratuais, bem como as hipóteses de vencimento antecipado da dívida; iv. Ressarcimento com custos de cobrança: os critérios de apuração e de ressarcimento, pelo emitente ou por terceiro garantidor, das despesas de cobrança da dívida e dos honorários advocatícios, judiciais ou extrajudiciais, sendo que os honorários advocatícios extrajudiciais não poderão superar o limite de dez por cento do valor total devido; v. Condições da garantia: quando for o caso, a modalidade de garantia da dívida, sua extensão e as hipóteses de substituição de tal garantia; vi. Obrigações do credor: as obrigações a serem cumpridas pelo credor, inclusive as de emitir extratos da conta corrente ou planilhas de cálculo da dívida, ou de seu saldo devedor, de acordo com os critérios estabelecidos na própria Cédula de crédito bancário; e vii. Outras condições de concessão do crédito: suas garantias ou liquidação, obrigações adicionais do emitente ou do terceiro garantidor da obrigação, desde que não contrariem a lei. h) Apuração do valor da obrigação e do saldo devedor: sempre que necessário, a apuração do valor exato da obrigação, ou de seu saldo devedor, representado pela Cédula de crédito bancário, será feita pelo credor, por meio de planilha de cálculo e, quando for o caso, de extrato emitido pela instituição financeira, em favor da qual a Cédula de crédito bancário foi originalmente emitida, documentos esses que integrarão a Cédula, observadas as seguintes regras:DIREITO EMPRESARIAL 45 i. Clareza e discriminações: os cálculos realizados deverão evidenciar de modo claro, preciso e de fácil entendimento e compreensão, o valor principal da dívida, seus encargos e despesas contratuais devidos, a parcela de juros e os critérios de sua incidência, a parcela de atualização monetária ou cambial, a parcela correspondente a multas e demais penalidades contratuais, as despesas de cobrança e de honorários advocatícios devidos até a data do cálculo e, por fim, o valor total da dívida; e ii. Valor total, parcelas e histórico da dívida: a Cédula de crédito bancário representativa de dívida oriunda de contrato de abertura de crédito bancário em conta corrente será emitida pelo valor total do crédito posto à disposição do emitente, competindo ao credor, discriminar nos extratos da conta corrente ou nas planilhas de cálculo, que serão anexados à Cédula, as parcelas utilizadas do crédito aberto, os aumentos do limite do crédito inicialmente concedido, as eventuais amortizações da dívida e a incidência dos encargos nos vários períodos de utilização do crédito aberto. i) Cobrança indevida: a lei previu que credor que, em ação judicial, cobrar o valor do crédito exequendo em desacordo com o expresso na cédula de crédito bancário, fica obrigado a pagar ao devedor o dobro do cobrado a maior, que poderá ser compensado na própria ação, sem prejuízo da responsabilidade por perdas e danos; j) Requisitos essenciais da cédula de crédito bancário: a cédula de crédito bancário deve conter os seguintes requisitos essenciais: DIREITO EMPRESARIAL 46 i. Denominação: "Cédula de Crédito Bancário"; ii. Promessa de pagamento: a promessa do emitente de pagar a dívida em dinheiro, certa, líquida e exigível no seu vencimento ou, no caso de dívida oriunda de contrato de abertura de crédito bancário, a promessa do emitente de pagar a dívida em dinheiro, certa, líquida e exigível, correspondente ao crédito utilizado; iii. Condições de pagamento: a data e o lugar do pagamento da dívida e, no caso de pagamento parcelado, as datas e os valores de cada prestação, ou os critérios para essa determinação; iv. Identificação da instituição financeira credora: o nome da instituição credora, podendo conter cláusula à ordem; v. Dados da emissão: a data e o lugar de sua emissão; e vi. Assinaturas: • do emitente, ou de seu respectivo mandatário; • do terceiro garantidor da obrigação (se for o caso), ou de seu respectivo mandatário; k) Cláusula à ordem (possibilidade de endosso em preto): a cédula de crédito bancário será transferível mediante endosso em preto, ao qual se aplicarão, no que couberem, as normas do direito cambiário; ATENÇÃO: mesmo que o endossatário não seja instituição financeira ou entidade a ela equiparada, poderá exercer todos os direitos por ela conferidos, inclusive cobrar os DIREITO EMPRESARIAL 47 juros e demais encargos na forma pactuada na Cédula de crédito bancário. l) Forma de emissão: a Cédula de crédito bancário será emitida por escrito, em tantas vias quantas forem as partes que nela intervierem, assinadas pelo emitente e pelo terceiro garantidor, se houver, ou por seus respectivos mandatários, devendo cada parte receber uma via; m) Via negociável: somente a via do credor será negociável, devendo constar nas demais vias a expressão "não negociável"; n) Aditamento, retificação e ratificação: a cédula de crédito bancário pode ser aditada, retificada e ratificada mediante documento escrito, datado, passando esse documento a integrar a Cédula para todos os fins. 14.2. Garantia: a constituição de garantia da obrigação representada pela cédula de crédito bancário é regida pela Lei n. 10.931, de 2004, sendo aplicáveis as disposições da legislação comum ou especial que não forem com ela conflitantes. 14.2.1. Espécies de garantia: a) Fidejussória; ou b) Real: nesse caso, a garantia será constituída por bem patrimonial de qualquer espécie, disponível e alienável, móvel ou imóvel, material ou imaterial, presente ou futuro, fungível ou infungível, consumível ou não, cuja titularidade pertença: i. ao próprio emitente; ou ii. a terceiro garantidor da obrigação principal. DIREITO EMPRESARIAL 48 14.2.2. Forma de constituição: a constituição da garantia poderá ser feita na própria cédula de crédito bancário ou em documento separado, neste caso fazendo-se, na cédula, menção a tal circunstância. 14.2.3. Descrição do bem: o bem constitutivo da garantia deverá ser descrito e individualizado de modo que permita sua fácil identificação. Essa descrição e a individualização do bem constitutivo da garantia poderá ser substituída pela remissão a documento ou certidão expedida por entidade competente, que integrará a Cédula de crédito bancário para todos os fins. 14.2.4. Objeto da garantia: a garantia da obrigação abrangerá: a) o bem principal constitutivo da garantia; e b) todos os seus acessórios, benfeitorias de qualquer espécie, valorizações a qualquer título, frutos e qualquer bem vinculado ao bem principal por acessão física, intelectual, industrial ou natural; 14.2.5. Averbação: o credor poderá averbar, no órgão competente para o registro do bem constitutivo da garantia, a existência de qualquer outro bem por ela abrangido; 14.2.6. Proteção legal da garantia: até a efetiva liquidação da obrigação garantida, os bens abrangidos pela garantia não poderão, sem prévia autorização escrita do credor, ser alterados, retirados, deslocados ou destruídos, nem poderão ter sua destinação modificada, exceto quando a garantia for constituída por semoventes ou por veículos, automotores ou não, e a remoção ou o deslocamento desses bens for inerente à DIREITO EMPRESARIAL 49 atividade do emitente da Cédula de crédito bancário, ou do terceiro prestador da garantia; 14.2.7. Posse do bem constitutivo da garantia: os bens constitutivos de garantia pignoratícia ou objeto de alienação fiduciária poderão, a critério do credor, permanecer sob a posse direta (cláusula constituto possessório): a) do emitente; ou b) do terceiro prestador da garantia; 14.2.8. Constituto possessório: nesse caso, as partes deverão especificar o local em que o bem será guardado e conservado até a efetiva liquidação da obrigação garantida. 14.2.9. Solidariedade: o emitente e, se for o caso, o terceiro prestador da garantia responderão solidariamente pela guarda e conservação do bem constitutivo da garantia. 14.2.10. Representante de pessoa jurídica: quando a garantia for prestada por pessoa jurídica, esta indicará representante pela guarda e conservação da garantia. 14.2.11. Seguro: o credor poderá exigir que o bem constitutivo da garantia seja coberto por seguro até a efetiva liquidação da obrigação garantida, em que o credor será indicado como exclusivo beneficiário da apólice securitária e estará autorizado a receber a indenização para liquidar ou amortizar a obrigação garantida; 14.2.12. Desapropriação, danificação ou perecimento do bem constitutivo da garantia: se o bem constitutivo da garantia for desapropriado, ou DIREITO EMPRESARIAL 50 se for danificado ou perecer por fato imputável a terceiro, o CREDOR SUB-ROGAR-SE-Á NO DIREITO À INDENIZAÇÃO DEVIDA pelo expropriante ou pelo terceiro causador do dano, até o montante necessário para liquidar ou amortizar a obrigação garantida; 14.2.13. Substituiçãoou reforço de garantia: o credor poderá exigir a substituição ou o reforço da garantia, em caso de: a) perda; b) deterioração; ou c) diminuição de seu valor. Obs.: o credor notificará por escrito o emitente e, se for o caso, o terceiro garantidor, para que substituam ou reforcem a garantia no prazo de quinze dias, sob pena de vencimento antecipado da dívida garantida. 14.2.14. Renúncia à indenização: é facultado ao credor exigir a substituição da garantia, ou o seu reforço, renunciando ao direito à percepção do valor relativo à indenização. 14.3. Limite de crédito: nas operações de crédito rotativo, o limite de crédito concedido será recomposto, automaticamente e durante o prazo de vigência da Cédula de crédito bancário, sempre que o devedor, não estando em mora ou inadimplente, amortizar ou liquidar a dívida. 14.4. Protesto por indicação: a cédula de crédito bancário poderá ser protestada por indicação, desde que o credor apresente declaração de posse da sua única via negociável, inclusive no caso de protesto parcial. DIREITO EMPRESARIAL 51 14.5. Validade e eficácia: a validade e eficácia da cédula de crédito bancário não dependem de registro, mas as garantias reais, por ela constituídas, ficam sujeitas, para valer contra terceiros, aos registros ou averbações previstos na legislação aplicável, com as alterações introduzidas pela Lei n. 10.931, de 2004. 14.6. Título representativo de cédula de crédito bancário: as instituições financeiras, nas condições estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), podem emitir título representativo das cédula de crédito bancário por elas mantidas em depósito. 14.6.1. Elementos do depósito: dele constarão: i. o local e a data da emissão; ii. o nome e a qualificação do depositante das Cédula de crédito bancário; iii. a denominação "Certificado de Cédulas de Crédito Bancário"; iv. a especificação das cédulas depositadas, o nome dos seus emitentes e o valor, o lugar e a data do pagamento do crédito por elas incorporado; v. o nome da instituição emitente; vi. a declaração de que a instituição financeira, na qualidade e com as responsabilidades de depositária e mandatária do titular do certificado, promoverá a cobrança das Cédula de crédito bancário, e de que as cédulas depositadas, assim como o produto da cobrança do seu principal e encargos, DIREITO EMPRESARIAL 52 somente serão entregues ao titular do certificado, contra apresentação deste; vii. o lugar da entrega do objeto do depósito; e viii. a remuneração devida à instituição financeira pelo depósito das cédulas objeto da emissão do certificado, se convencionada. 14.6.2. Responsabilidade da instituição financeira: no caso, a instituição financeira responde pela origem e autenticidade das cédula de crédito bancário depositadas. 14.6.3. Certificado: vejamos as seguintes regras: a) Emitido o certificado: após a emissão do certificado, as cédulas de crédito bancário e as importâncias recebidas pela instituição financeira a título de pagamento do principal e de encargos não poderão ser objeto de penhora, arresto, sequestro, busca e apreensão, ou qualquer outro embaraço que impeça a sua entrega ao titular do certificado, mas este poderá ser objeto de penhora, ou de qualquer medida cautelar por obrigação do seu titular; b) Forma de emissão: o certificado poderá ser emitido sob a forma escritural, sendo regido, no que for aplicável, pelos arts. 34 e 35 da Lei n. 6.404, de 1976 (Lei de Sociedade por Ações); c) Transferência do certificado: o certificado poderá ser transferido mediante endosso ou termo de transferência (nesse caso, o certificado deve ser escritural), devendo, em qualquer caso, a transferência ser datada e assinada pelo seu titular ou mandatário DIREITO EMPRESARIAL 53 com poderes especiais e averbada junto à instituição financeira emitente, no prazo máximo de dois dias; d) Despesas e encargos: as despesas e os encargos decorrentes da transferência e averbação do certificado serão suportados pelo endossatário ou cessionário, salvo convenção em contrário. 14.7. Legislação cambial e dispensa de protesto: aplica-se às cédulas de crédito bancário, no que não contrariar o disposto na Lei n. 10.931, de 2004, a legislação cambial. Está prevista, outrossim, a dispensa do protesto para garantir o direito de cobrança contra endossantes, seus avalistas e terceiros garantidores. 14.8. Desconto e redesconto: os títulos de crédito e direitos creditórios, representados sob a forma escritural ou física, que tenham sido objeto de desconto, poderão ser admitidos a redesconto junto ao Banco Central do Brasil (BACEN), observando-se as normas e instruções baixadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), conforme as seguintes regras: a) Transferência para o banco central do brasil: a Cédula de crédito bancário e os direitos creditórios considerar-se-ão transferidos, para fins de redesconto, à propriedade do Banco Central do Brasil, desde que inscritos em termo de tradição eletrônico constante do Sistema de Informações do Banco Central (SISBACEN), ou, ainda, por termo de tradição (nesse caso, devem ser observados os requisitos, os critérios e as formas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional); b) Inscrição: a inscrição produzirá os mesmos efeitos jurídicos do endosso, somente se aperfeiçoando com o recebimento, pela instituição financeira proponente do redesconto, de: DIREITO EMPRESARIAL 54 i. mensagem de aceitação do Banco Central do Brasil; ou ii. termo de tradição, após a assinatura das partes (não sendo eletrônico o redesconto); c) Posse direta da instituição financeira beneficiária do redesconto: os títulos de crédito e documentos representativos de direitos creditórios, inscritos nos termos de tradição, poderão, a critério do Banco Central do Brasil, permanecer na posse direta da instituição financeira beneficiária do redesconto, que os guardará e conservará em depósito, devendo proceder, como comissária del credere, à sua cobrança judicial ou extrajudicial. DIREITO EMPRESARIAL 55 b. Mapas mentais DIREITO EMPRESARIAL 56 DIREITO EMPRESARIAL 57 DIREITO EMPRESARIAL 58 DIREITO EMPRESARIAL 59 c. Revisão 1 QUESTÃO 1 - FGV - AUDITOR-FISCAL TRIBUTÁRIO - SEFAZ-MT - 2014 Rosário emitiu um cheque no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais) em favor de Aquino no dia 11 de setembro de 2012, pagável no mesmo lugar de emissão, em Sinop/MT. No dia 13 de outubro de 2013, o beneficiário endossou o cheque para Carlinda, sem menção na cártula à data do endosso. De conformidade com as disposições da Lei n. 7.357/85, que dispõe sobre o cheque, assinale a afirmativa correta. a) O endosso em favor de Carlinda tem efeito de cessão de crédito, haja vista ter sido realizado após o prazo de apresentação a pagamento. b) O endosso em favor de Carlinda tem efeito de endosso, haja vista ter sido realizado antes do decurso do prazo de seis meses após o término do prazo de apresentação. c) O endosso em favor de Carlinda tem efeito de endosso, haja vista ter sido realizado dentro do prazo de apresentação a pagamento. d) O endosso em favor de Carlinda tem efeito de cessão de crédito, haja vista ter
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