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Resumo Expandido Criminologia FINAL

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INFLUÊNCIA DA MÍDIA NO DIREITO PENAL BRASILEIRO
KUSTER, Isabel Barros[1: Direito, 2º Semestre, Faculdade Campo Real.]
ROSAS, Rudy Heitor[2: Qualificação do orientador. Professor doutorando, da Faculdade CAMPO REAL.]
RESUMO: Este estudo teve como objetivo citar e analisar os pontos de conflito na exposição midiática dos fatos ligados aos casos penais brasileiros e a preservação dos direitos do suspeito e/ou acusado. A comparação feita através da análise do previsto na Constituição Federal e de trabalhos abordando a liberdade dos meios de comunicação. Analisamos se a influência midiática interfere no andamento dos processos penais, sejam elas através da exposição distorcida, sensacionalista ou precoce dos fatos. Apontamos que embora as decisões dos juízes podem não ser influenciadas ou baseadas no exposto pela mídia, esta alcança e influencia a opinião popular.
Palavras-chave: Influência. Mídia. Direito Penal. 
1 INTRODUÇÃO 
A Constituição Federal prevê a liberdade de expressão e acesso à informação jornalística, livre de censura, porém ela também prevê a presunção de inocência, a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas, sem restrições.
Por isso, aparentemente quando pesquisamos, analisamos ou debatemos sobre o tema proposto neste trabalho, nos deparamos com uma guerra de justificativas e defesas de artigos isolados da Constituição Federal.
Assim, devemos através deste trabalho expor que não há soberania entre artigos ou mesmo contradição entre eles, mas sim uma complementação dos expostos de forma a assegurar o direito de todos; sejam operadores do direito, jornalistas, cidadãos comuns ou os suspeitos/acusados de algum ato ilícito.
Ressaltamos que todos somos sujeitos de direitos, mas não podemos esquecer-nos do dever de preservar os direitos de outrem de forma a assegurar o cumprimento e observação de todo o disposto na nossa Lei Maior.
Este estudo caracteriza-se por utilizar como metodologia a pesquisa exploratória bibliográfica realizada por meio de consulta a trabalhos, artigos e livros dedicados ao tema, além da comparação com o disposto na Constituição Federal. E por fim proporcionar um quadro teórico e analítico sobre os direitos a serem preservados pela abordagem midiática no intervalo de tempo entre a ocorrência do ato ilícito e o trânsito em julgado.
2 DESENVOLVIMENTO 
Seria de opinião unânime a questão que a liberdade é um princípio base da democracia e que deve ser defendida, protegida e difundida. No entanto, quando a violação dos direitos do cidadão se apresenta disfarçada de liberdade de expressão?
É perceptível o interesse público em casos de extrema violência, a mídia sensacionalista conhecendo esse interesse o explora da maneira que bem entende, muitas vezes deturpando os fatos, ferindo a dignidade do possível suspeito/acusado e antecipando o julgamento. Podemos identificar claramente a violação de alguns dispositivos da Constituição Federal:
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;
(...)
Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição. § 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV. (BRASIL, 2018)
Claramente, a liberdade de expressão e a manifestação do pensamento, devem respeitar os direitos previstos no art. 5º.
A Juíza Rosana Ferri através da liminar concedida em um processo que suspendeu temporariamente a transmissão de uma emissora de TV exemplifica a necessidade da mídia observar o disposto no art. 5º durante o exercício de sua atividade:
Tal pedido não implica a interferência na liberdade de expressão da emissora ou dos produtores do referido programa, uma vez que as liberdades individuais devem ser exercidas por cada um de modo a não interferir na esfera de liberdade do outro. São como linhas paralelas, que devem seguir sem se atingirem. A partir do momento em que uma fere a outra, ou seja, que um indivíduo usa sua liberdade de modo que interfira na esfera dos direitos dos outros, havendo provocação, o Estado Juiz deve interferir.” A juíza afirma ainda que “difere a interferência do Estado de modo a reconduzir a atuação de um indivíduo de volta à sua esfera de atividade que não agrida a sociedade, da censura, que é a atuação estatal que fere a liberdade do indivíduo que atua dentro de sua esfera, sem atingir a de outrem.” (INTERVOZES, 2007, p. 23).
Conforme Araújo e Zanini (2016) a mídia tendenciosa e o jornalismo justiceiro aproveitam a oportunidade dos fatos e ultrapassam os limites legais, do respeito aos direitos humanos, expondo os fatos como instituições que a lei não pode alcançar, e, muitas vezes, agem como se fossem a lei, para denunciar, julgar e condenar. Sendo que através de uma ‘justiça criminosa’ o povo fica responsável pela execução.
Acerca da abordagem jornalística intitulada “Tragédia de Castelo do Piauí” que vitimaram quatro meninas, resultando na morte de uma delas ocorrida em 27 de maio de 2015, Trevisan (2015) afirma se tratar de “uma cobertura sensacionalista para casos que envolvem adolescentes como agentes de violência funciona à favor da audiência sem limites e contra a compreensão dos fatos que levaram ao evento”. E assegura que “a apressada punição dos supostos autores do crime seria um desfecho aceitável caso os procedimentos de investigação e justiça tivessem sido observados, especialmente no que se refere aos direitos humanos”, mas infelizmente não foi o que aconteceu. Tanto que a Defensoria Pública após ‘reviravoltas’ no caso solicitou a absolvição de todos os acusados.
Segundo Budó (2006, p.12) “se percebe nos dias atuais uma forma não institucionalizada de executar penas sem processo”, a população através da influência da mídia mal intencionada veste a toga e profere a sentença. Visto que o simples “fato de haver um sujeito passivo em um processo criminal passa a ser considerado pelos meios de comunicação como uma sentença condenatória transitada em julgado”.
“A violação dos direitos humanos noticiada pelos jornais não abre espaço para a autocrítica da violação praticada pelos agentes que a noticiam” (BUDÓ, 2006, p. 12).
 Intervozes (2007) afirmam que devemos “passar a compreender a comunicação como um direito público e social da mídia como também a tratar a comunicação como objeto de ações de exigibilidade”. Tais ações de exigibilidade significam a existência da “possibilidade de os titulares de um direito demandarem e cobrarem efetivamente as responsabilidades do Estado sobre determinado direito”, que podem ser relacionados ao seu respeito, proteção, promoção e provimento (Intervozes, 2007, p.24).
Ferreira expõe de forma clara:
Uma visão romântica da mídia – principalmente da imprensa – no papel de aliada da democracia, é que prevalece na sociedade. Embora, em muitas situações, de fato atue em sintonia com os Direitos Humanos, é preciso entender que são empresas, fazem negócios e visam o lucro. Como dependem da aceitação do público, investem em ações que proporcionam a construção de boa imagem. A construção de uma cultura de Direitos Humanos no Brasil passa pela formação do senso crítico do público para a leitura dos discursos midiáticos. A audiência não pode nem tem que serpassiva, pois a tecnologia lhe disponibilizou não apenas novas palavras para definir antigas ações, mas também as ferramentas para as novas atitudes. (FERREIRA, 2003, p. 13)
De forma resumida Mello (2010) afirma que “a liberdade de informação jornalística da mídia, no entanto, só existe e se justifica na medida em que os indivíduos têm o direito ao acesso e a informação correta e imparcial”. Além da necessidade de cultivar um senso crítico no público para o ‘recebimento’ dessas informações.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 “Uma imprensa controlada significa ditadura e ausência de democracia, mas uma imprensa sem limites, às avessas da afirmação dos direitos e garantias individuais também significa tirania” (Braga, 2014).
Assim, podemos concluir que os meios de comunicação não podem confundir a liberdade de informação prevista na Constituição Federal com a liberdade para publicar noticias e fatos que possam violar direitos fundamentais de outrem. O que poderíamos entender como sendo uma ‘colisão de direitos fundamentais’ é, na verdade, a distorção, manipulação e evidente violação do disposto em nossa Lei Maior. 
Mello (2010) defende que “os direitos em conflito não podem ser hierarquizados, o caso concreto dirá qual deles deve recuar”. O esforço maior deve ser empregado no intuito de aumentar a qualidade da educação elevando o nível cultural para redução do interesse da população em matérias sensacionalistas e cultivando o senso crítico do cidadão para que seja possível a preservação do direito individual e coletivo. Deixando o papel passivo para de forma ativa buscar as informações necessárias para desempenhar seu papel como cidadão. 
Podemos concluir que a mídia deve ter responsabilidade no exercício de suas atividades e deve obedecer a premissas fundamentais de respeito à Constituição Federal e aos Direitos Humanos e tratar a informação com a ética que um Estado Democrático de Direito exige.
4 REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Vinícius Bindé Arbo de; ZANINI Danielli. A influência da mídia no comportamento social. In: Canal Ciências Criminais, 2016. Disponível em: <https://canalcienciascriminais.com.br/a-influencia-da-midia-no-comportamento-social/>. Acesso em: 12 fev. 2018.
BRAGA, Lorena Corrêa. O poder da mídia e seus reflexos na ordem jurídica penal. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVII, n. 121, fev 2014.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 12 fev. 2018
BUDÓ, Marília Denardin. Mídia e crime: a contribuição do jornalismo para a legitimação do sistema penal. In. UNIrevista – Vol.1, n°3, 2006.
FERREIRA, Carmélio Reynaldo. Mídia e direitos humanos. s/a. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/edh/redh/03/03_carmelio_midia_dh.pdf>. Acesso em: 12 fev. 2018.
INTERVOZES. A Sociedade ocupa a TV: o caso Direitos de Resposta e o controle público da mídia. São Paulo: Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social, 2007.
MELLO, Carla Gomes de. Mídia e Crime: Liberdade de Informação Jornalística e Presunção de Inocência. Revista de Direito Público, Londrina, v. 5, n. 2, p. 106- 122, ago. 2010
TREVISAN, Maria Carolina. O jornalismo justiceiro faz mais vítimas. In: Jornalistas Livres, 2015. Disponível em: https://medium.com/jornalistas-livres/o-jornalismo-justiceiro-faz-mais-vítimas-661b6e5e82d9. Acesso em: 12 fev. 2018.

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