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rascunho da avaliação de História Medieval - modulo II

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA DE CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
ALUNO: ANDRÉ JUNIOR SOUZA FERREIRA
DISCIPLINA: HISTÓRIA MEDIEVAL
PROFESSORA: MARÍLIA DE AZAMBUJA RIBEIRO
 As expressões contemporâneas da Europa feudo-medieval submetem-se essencialmente de interpretações produzidas sobre o processo de transição e de transformação das relações de vassalagem instituídas em meados do século VII, para a formação de um grande senhorio feudal detentor de terras, que se torna independente do poderio real. A nossa visão de feudalismo é baseada a partir da construção de um produto do qual resultou um novo quadro de referência das relações sociais, dentro dessa concepção, esse texto tem como intenção, entender o processo que a historiografia chama de mutação feudal. Com o fim do Império Romano antiga elite senatorial romana, que antes assentava seu poder nos centros urbanos, se volta para o campo, ou seja, inicia-se um processo de valorização das terras, onde o poder e a riqueza estão ligados á quem tem a posse da terra. Nesse período há uma retração populacional, o afastamento das elites das cidades para o campo e a transformação do comércio de âmbito maior para o comércio no âmbito local.
 O sistema de terras era inicialmente constituído por uma prática bastante comum na época, que era o aluguel da terra por parte de um senhor para um camponês, onde uma relação patrão-senhor se instituía. Porém, um novo sistema se desenha a partir do século VII, dele surge uma nova economia rural. No início da Idade Média, entre os séculos VII –VIII, o Reino Franco se tornava cada vez mais uma força dominante na Europa Ocidental instituindo um modelo que se estabeleceria durante esse período. Diferentemente do Período Merovíngio, onde as relações de vassalagem eram constituídas por um entendimento de supremacia étnica, o Período Carolíngio apresenta-se composto pela atração dos grandes senhores proprietários de terras para um tipo de vassalagem real, esse sistema compõe-se numa configuração em que o rei passa a ser considerado o senhor dos senhores. O Império carolíngio cria um sistema de recrutamento militar a partir da formação de uma elite aristocrática, os grandes senhores se constituem assim, o que Dominique Barthélemy chama de “elite carolíngia”. A expansão carolíngia representou um ressurgimento da burocracia estatal. A sua administração local era protagonizada pelos condes e duques, que a principio os tinham como cargos administrativos, acabam por se tornar títulos. Esses nobres nomeados, cujo os poderes abrangiam aspectos judiciais e militares, tratavam-se de uma delegação de autoridade pública. Esse tipo de nomeação vinha atrelado à concessão de posses fundiárias, o domínio era entregue ao grande senhor como forma de “honor”, ou seja, eram terras concedidas a essas pessoas por exercerem determinado “cargo”.
Como os primeiros merovíngios, os primeiros carolíngios tinham comportado o seu poder num vasto domínio composto de grandes e numerosos fiscos. Dispersos por todo o território, se constituíram fonte de grande riqueza e principal fonte de sustentação da corte franca. A criação de reservas de benefícios consagrou novas fidelidades e consolidou os antigos laços vassálicos. O que acontece no Período Carolíngio, é que se tenta criar uma hierarquia a partir das relações privadas, trazendo para dentro do estado os grandes senhores. Os soberanos favoreceram de forma consciente a vassalagem, eles integraram-na nos quadros dos organismos de “estado”, eles quiseram fazer da vassalagem um instrumento de controle do governo.
 A difusão da vassalidade e o desgaste do modelo da vassalagem real do estado se configuram durante esse período, eles se dão de forma espontânea, assim como a sua criação, aparecem agora, alguns fatores que culminaram com o distanciamento dos compromissos e obrigações vassálicas para com o rei. Segundo F. L. Ganschof, a multiplicidade dos compromissos vassálicos, a hereditariedade do benefício e por consequente a perpetuação dos “cargos” administrativos e a assimilação da “honor”, como propriedade de posse do grande senhor são apontadas como as principais causas desse afastamento da vassalidade real. 
 A vassalagem conduziu à desagregação do Império e do “estado” carolíngio, dessa forma, a vassalagem, foi um meio encontrado pelos reis francos para melhor governar o estado, isto é, manter a ordem e dispor de força militar. A aristocracia fundiária era muito importante para o rei, fazendo com ela uma aliança, impôs uma autoridade real ao conjunto de aristocratas. A sociedade aristocrática ficaria assim encaixada num quadro hierárquico de vários níveis, o rei, os vassi dominici e os vassalos destes. Ligando-se estes em níveis, uns com os outros, por cadeias de vassalagem, de que o soberano detinha a ponta, e que esperava utilizar para aumentar o controle sobre os seus súditos. Na área política, todas as relações de grande importância foram designadas por meio da vassalagem. Na área militar, o controle real era tido através da convocação do exercito, o recrutamento carolíngio, era composto por uma vassalagem advinda da elite fundiária. Tais relações foram instauradas, de livre vontade ou não, pelos soberanos posteriores a Carlos Magno, política essa que se volta contra o poder real. Durante todo século VIII, as práticas da vassalagem, homenagem pessoal e o benefício (concessão de terras) gradualmente fundiram-se.
 Durante o século IX, o benefício foi assimilado à honra (ofício e jurisdição pública). Assim, as concessões governamentais de terras deixaram de ser benefícios e passaram a ser arrendamentos condicionais, sustentados por serviços de fidelidade. Os duques e condes, estando longe de uma fiscalização, se libertam da tutela real, perpetuando-se nas suas funções. Quanto aos vassalos privados, cujo o recrutamento os carolíngios haviam tentado controlar e que inicialmente tinham o direito a uma apelação para a realeza contra o seu senhor, se tornaram dependentes de uma relação com um senhorio mais poderoso, poder esse, que se instala dentro de um espaço geográfico delimitado. No processo de transformação da vassalagem ao senhorio feudal, Jérôme Baschet nos mostra que, as terras do estado que estavam imunes aos impostos, ou seja, o “fisco”, portanto essas terras encontravam-se isentas de todo o imposto direto ou indireto. Seus habitantes agora estavam submetidos ao poder de um senhor, que administrava uma terra, cobrando todos os impostos e rendimentos que antes diziam respeito ao rei, exercendo também o poder de justiça. Assim, os habitantes, subtraídos aos tribunais públicos, ficavam unicamente submetidos aos poderes coercitivos do seu senhor. 
 Essas pessoas começaram a ter de fato, muitas terras “imunes” ao controle real, elas passaram da condição de simples intermediários entre senhores reais e camponeses para a condição de grandes posseiros de terras. F. S. Ganschof, afirma que ocorre um processo de patrimonialização e apropriação da terra (feudo), esse processo vai dar origem ao senhorio feudal. No século IX, os vassalos recebiam um benefício vitalício como premio pelos serviços militares prestados. Com o tempo, esse benefício se torna um “feudo”, de fato hereditário. Coloca-se na imunidade da função de um vassalo, à principal das causas que provocaram a passagem de um sistema de vassalagem real para um sistema de senhorio feudal, ocasionado principalmente pela extensão em grandes proporções, desse tipo de prática. É importante resaltar, que o processo de mutação feudal, o poder começa se transportar de cima para baixo. O que é perceptível, é que esse processo de ascensão social permitia a determinada classe vassálica, que antes se via em condições inferiores no estrato social, ter a possibilidade de se sobressair, de acumular terras e poder sendo um número substancial nos mecanismos de recrutamento militar. 
 Um problema levantado na historiografia concerne mais precisamente, à questão da estratificação das forças fundiárias. A passagemda vassalagem à feudalidade se apresenta dentro de uma série aspectos complexos. Nessa transição a base do poder sobre os homens permanece na posse de terras. Encontrando-se a vassalagem múltipla já bem instaurada. Quase todos os aristocratas eram senhores ou vassalos. Jérôme Baschet aborda um conceito muito importante, a reorganização espacial do poder dentro do conceito de mutação feudal. A sociedade vassálica, que antes se dispunha em vários núcleos, pois a maior parte dos vassalos reais prestavam poucos serviços vassálicos, estes estavam mais ligados ao “feudo” e a sua importância e cada vez menos a prestação de um serviço ao rei. Os duques e condes eram chefes militares dos “homens livres”, estes, por sua vez, tornaram-se os seus soldados e já não do rei. Os ducados e condados foram elementos cruciais para o fortalecimento do estado carolíngio, agora, tomam os poderes para si, esfacelando o Império em vários pequenos estados.
 Tendo-se apresentado um contexto marcado pela fragmentação de poder e pela importância da terra e a sua produção, a mutação feudal é um processo crucial para entendermos os aspectos sociais, políticos e militares da sociedade medieval. Ele se apresenta dentro de um recorte específico que detém suas particularidades, que foram construídas em meio a uma sociedade essencialmente militar, fazendo parte do processo da discussão historiográfica acerca da configuração do estado moderno. O imaginário social da Idade Média se desenha em meio a complexas redes sociais que se instituem dentro de uma paisagem política e econômica. Os historiadores têm ainda mais dificuldade em evitar o anacronismo na medida em que a sociedade contemporânea interpreta o termo “feudalismo” e a Idade Média, dando a estes características generalizantes. Para compreendermos melhor o termo feudalismo e suas complexidades, devemos inserir esse conceito dentro de um contexto de revisão historiográfica. Em suma, todo esse processo de “mutação feudal”, é parte integrante de uma dinâmica que foi modificada desde os períodos dos reis francos e a criação de um sistema que favorecia uma vassalagem militar real, até o aumento de poder de um senhorio, detentor de terras que ganha uma maior autonomia. A análise historiográfica mostra a necessidade de recuperar o pleno uso das noções das relações sociais e políticas desse período, inseridas dentro de um contexto bastante complexo, permitindo desta forma, obter uma imagem explicativa que rompa com uma visão estigmatizada, colocando-se assim como uma fratura e ao mesmo tempo, traduzindo uma historia radicalmente “revista”. Esse processo de mutação feudal conclui com o surgimento de um novo elemento de representação das relações sociais, de uma forma e uma prática social, de um conjunto específico de instituições e de atividades.

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