Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
31 Publicidade e Propaganda – 1º sem. Leitura e Produção de Textos Prof. Lêda Ribeiro Módulo 5 5. NARRAÇÃO E NARRATIVAS Contar e ouvir histórias são atividades das mais antigas do ser humano. Pessoas de todas as condições socioculturais têm prazer em ouvir e de contar histórias. As pessoas, geralmente manifestam um grande interesse pelo desenrolar de uma história bem contada (novelas, livros, filmes, músicas, notícias, histórias infantis, contos, piadas, fatos, causos etc.). Narração é a exposição de um fato mediante relato de circunstâncias que o precederam, acompanharam ou seguiram. Não importando se reais ou fictícias. Sobre a narração, SILVEIRA (1980:27) estabelece as seguintes definições: “Narrar compreende relatar os movimentos de um ser- referente no tempo e no espaço, dando a eles uma seqüência temporal. A narrativa é um texto referencial com temporalidade representada e de suas relações resultam os valores de personagens. A narração é o discurso de um emissor que se refere a fatos reais ou imaginários, porém sempre marcados pela ordem da sucessão no tempo, do fatos evocados. O fato narrado compreende o movimento de um ser- referente que pode estar ligado ou não a outros seres- referentes. Os seres-referentes das mensagens são animados e inanimados; ambos podem se movimentar e ser sujeitos.” Platão e Fiorin (1990:289) afirmam que o texto narrativo “Relata as mudanças progressivas que vão ocorrendo com as pessoas e as coisas através do tempo. Nesse tipo de texto, os episódios e os textos estão organizados numa disposição tal que entre eles existe sempre uma relação de anterioridade ou posterioridade. Essa relação de anterioridade ou posterioridade é sempre pertinente num texto narrativo, mesmo quando ela venha alterada na sua seqüência linear por uma razão ou por outra”. 32 Para criar certos efeitos, pode-se alterar a seqüência narrativa dos fatos. Um dos recursos mais utilizados na organização da narrativa é o flashback. O escritor parte do presente e recua até o passado, e, em zigue-zague vai alternando fatos de uma época e outra. Ao ler o texto, o leitor percebe que há fatos anteriores e fatos posteriores e que não pode mudar a ordem do texto (os enunciados) sem interferir em seu sentido. 5.1 A ORGANIZAÇÃO DA NARRATIVA No texto narrativo, o autor procura contar uma história em que aparecem personagens e transformação temporal. A estrutura fraseológica utilizada inclui verbos que proporcionam ação e movimento ao texto. Na maior parte dos casos, a narração engloba as seguintes questões: • Quem? Personagens • O quê? O acontecimento • Onde? Lugar em que se desenrolam os fatos • Quando? Momento em que ocorrem os fatos • Como? A maneira como aconteceram os fatos • Por quê? A causa dos fatos. O quê e quem constituem elementos essenciais de uma narração. De modo geral, uma narrativa estrutura-se em quatro fases: 1. Criação da expectativa: busca explicitar o espaço e o tempo em que ocorrem a ação; apresenta os personagens e declara os acontecimentos do enredo que exercem influência sobre o desfecho. Esta fase da narrativa, em geral, é curta, rápida e clara. 2. Quebra da expectativa: é a conseqüência da ação ou movimentação das personagens, formando um conjunto de acontecimentos que compõem a narrativa e que devem ser organizados de tal modo que estimulem a atenção do leitor. O enredo da narrativa é constituído pelo desenvolvimento dos fatos, pela entrada de personagens em cena, pela complicação da trama, ou conflito. Numa narrativa, o conflito é a mola propulsora dos acontecimentos e pode acontecer entre pessoas; entre pessoas e coletividade; entre pessoas e objetos, entre homem e natureza; entre desejos e paixões, entre emoções e desejos, entre sentimentos e deveres etc. Para que uma narrativa não seja um simples relato de acontecimentos, é fundamental que ela tenha um conflito. 3. Tentativa de resolução do conflito: compreende o desenlace da narrativa, o esclarecimento do desfecho dos acontecimentos. A ausência de um desfecho em uma narrativa causa desagrado e frustração no leitor. 33 4. Avaliação: toda narrativa apresenta uma moral, levam a uma conclusão, a uma lição, um exemplo de vida (Chapeuzinho Vermelho: Obediência; Os Três Porquinhos: cooperação; Branca de Neve: a maldade não compensa). 5.2 ENUNCIADOS NARRATIVOS Os enunciados, ou seja, os tipos de abordagem descritiva que ocorrem numa estrutura narrativa são: 1. Enunciados de estado: estabelecem relação de posse ou de privação entre um sujeito e um objeto. Ex: Antonio era o motorista mais antigo da empresa José tem barba cerrada e intensos olhos azuis. 2. Enunciados de ação: informam sobre a passagem de um estado para outro em virtude da participação de um agente. Ex: Um dia, ele chegou na empresa e disse... 5.3 ELEMENTOS DA NARRATIVA 1. Personagens: são as “pessoas” que participam dos acontecimentos. Também podem ser animais, objetos, plantas e outros que exercem ações personificadas. Podem ser das seguintes categorias de acordo com o grau de importância que ocupam na narrativa: • Protagonista: é a figura de maior projeção dentro da narração (o herói, o exemplo, o autor da ação principal). • Antagonista: aquele que contracena com o protagonista. • Narrador: aquele que expõe os fatos, que apresenta o desenrolar dos acontecimentos. Pode ser em primeira pessoa gramatical (o narrador protagonista), uma das personagens da história, ou uma pessoa que não pertence à história. • Personagens secundárias: participantes dos acontecimentos, de pouco relevo na história. Fazem parte da história como elementos esclarecedores dos acontecimentos. 2. Espaço: o local (onde) e o tempo (quando) são elementos relevantes numa narração. O ambiente é o local em que se passa a ação, onde vivem os personagens. O ambiente pode exercer influências sobre os personagens ou ser utilizado apenas como palco da ação. 3. Tempo: é o ingrediente fundamental numa narrativa. Ele pode ser externo ou interno; natural, cronológico (histórico), psicológico. A aceleração de uma história ou seu retardamento dependem da habilidade do escritor. O flashback é um dos principais recursos utilizados pelos escritores. Em relação ao tempo, o verbo desempenha função fundamental numa narrativa, quer devido à movimentação, quer 34 porque a noção de tempo é transmitida por ele. É do jogo de presente, passado e futuro que advém a consistência narrativa. Ex: Começou a chover Continua governando Tornou a ler o artigo que o incomodara Terminou de chegar a um resultado inesperado 4. Foco narrativo: quem vai relatar os fatos. Pode ser a personagem que vive os fatos, uma testemunha que presenciou o acontecimento ou uma personagem secundária na narração. Se quem vai contar a história também é participante dela, contará os fatos de dentro para fora, carregará o texto de subjetividade e o fará em primeira pessoa, sob um ponto de vista limitado. Se for uma personagem secundária, seu ângulo de visão será maior. No caso de narração em terceira pessoa, o narrador está à parte dos acontecimentos e é responsável pela narrativa, conhecendo tudo a respeito das personagens da história. A narrativa em primeira pessoa não significa que o narrador seja a personagem principal dos acontecimentos. Porém, como ele participa da história, é possível perceber que ele leva o leitor a ver os fatos sob o seu ponto de vista pessoal (subjetividade). Quando o escritor narra em terceira pessoa, ele se constitui numa espécie de narrador onisciente, uma testemunha ocular que sabe tudo o que aconteceu e penetra até na consciência das pessoas, revelando o quepensam e o que sentem. 5.4 DISCURSO DIRETO, INDIRETO E INDIRETO LIVRE Na construção de uma narrativa, o escritor pode optar por duas modalidades de expor as idéias de seus personagens: o solilóquio e o diálogo. O solilóquio é um monólogo em que se fala para si mesmo, é uma modalidade de expressão verbal sem o objetivo de comunicação com outra pessoa. Já o diálogo é um processo de expressão verbal em que o escritor, mediante várias modalidades de discurso (direto, indireto e indireto livre), apresenta personagens expondo idéias, conceitos, narrando, argumentando, descrevendo. Em uma narrativa, as falas das personagens devem estar de acordo com seu caráter, condição social e conhecimentos. Colocar um analfabeto falando um português correto, por exemplo, seria uma incoerência. Dentro da narrativa, o diálogo deve revelar uma estrutura fraseológica diferente: frases curtas, incisivas, espontâneas, naturais. Como em qualquer conversa entre duas pessoas, personagens que não replicam não favorecem o diálogo. Na literatura, encontram-se dois tipos básicos de diálogo: um arquitetado, trabalhado, outro espontâneo, que busca retratar a realidade do falante. Seja que tipo de diálogo for, a frase deve ser espontânea, oportuna, para que soe de forma natural. 35 5.4.1 DISCURSO DIRETO É o discurso onde a própria personagem expressa seus pensamentos. O autor reproduz textualmente suas palavras. O discurso direto reproduz literalmente a fala das personagens, ou das pessoas envolvidas num fato. O discurso direto é uma modalidade estilística de composição em que o autor reconstrói o passado, produzindo uma sensação de presente e transmitindo mais credibilidade ao texto. O discurso direto normalmente é separado do discurso do narrador por dois pontos, vírgula e aspas ou travessão e, normalmente, inserido ou caracterizado por um verbo dicendi, também conhecidos como verbos de elocução ou declarandi, que ajudam a caracterizar o personagem da narrativa (dizer, argumentar, concluir, informar, declarar, indagar, replicar, retrucar, negar, aconselhar, determinar, solicitar, pedir, blasfemar, balbuciar, gritar, murmurar, vociferar etc.). Além dos verbos mais usuais considerados caracterizadores da fala, de acordo com o sentido e o “clima” que se pretende atribuir à fala de uma personagem, pode-se também, com criatividade, fazer uso de verbos inusitados, que se mostram bastante apropriados a caracterizar uma determinada situação (espetar, cozinhar, cutucar, rebater, disparar, tropeçar, explodir, suspirar, gemer etc.). Esses verbos são denominados verbos sentiendi. Com habilidade, é possível se utilizar verbos dicendi e sentiendi em uma mesma oração (Joaquim perguntou metendo a cabeça pela porta). No discurso direto, o verbo dicendi pode ser usado antes, no meio, ou depois da frase de uma personagem, como também pode ser omitido em falas curtas, quando do diálogo participam apenas duas personagens, utilizando-se, então, o parágrafo precedido de travessão. Exemplos: • - Bem, disse ela, se vocês não vão, eu vou! • - Eu já esperava por isso, espetou o amigo. • O menino, então gaguejou: - Está lá dentro. O uso da pontuação na colocação do verbo dicendi no discurso direto: a) Travessão: após interrogação e exclamação, é preferível o uso de travessão para a introdução de verbos dicendi. Ex: Por que você não me chama? – murmurou numa voz carinhosa. b) Aspas: são colocadas quando a fala vem sem parágrafo e não seguida de réplica. Ex: “Isso não é possível!”, gritava o chefe inconformado. c) Vírgula: no passado, a oração do verbo dicendi era cercada de vírgula. Hoje, é mais comum o uso de travessões para separar a fala da narrativa: 36 Ex: Até que enfim, exclamou a mãe; já pensava que você não viria mais. d) Dois-pontos: se a oração do verbo dicendi precede a fala, deve ser seguida de dois pontos. Ex: No meio da festa um colega perguntou-me: - Você a conhece? Modernamente, alguns autores têm se destacado na apresentação de novas formas do discurso direto, rompendo com os padrões da pontuação tradicional, como se pode observar na transcrição de um trecho do livro de José Saramago, História do cerco de Lisboa (1991:111-112): “O telefone tocou. (...) Atendeu, perguntou, Quem fala, e reconheceu logo a voz da telefonista da editora, Vou ligar à doutora Maria Sara, disse ela. Enquanto esperava, olhou o relógio, dez minutos para as seis horas, Como o tempo passou depressa, era verdade que o tempo tinha passado depressa, mas pensá-lo não tinha outra utilidade que servir- lhe de precária proteção, assim como uma cortina de delgado fumo que a brisa espalha e varre, (...) Então a telefonista disse, incorrigível, Está ligada senhora doutora, Raimundo Silva cerrou o punho, o tempo tornou- se turvo, confuso, depois espraiou-se, fluiu na sua corrente natural, Boas tardes, senhor Raimundo Silva, Boas tardes, senhora doutora, Como tem passado, Eu, bem, e a senhora doutora, como está, Muito bem obrigada, continuo a organizar o trabalho aqui, e precisamente vinha saber do andamento das provas desse livro de poesia que aí tem, Terminei a revisão agora mesmo, estive todo o dia a trabalhar nele, posso leva-lo à editora amanhã, Ah, esteve todo o dia a trabalhar nele, Não exatamente todo o dia, dediquei umas duas horas à leitura do romance que o senhor Costa me tinha entregue, Aproveitou bem o seu tempo, Não tenho mais nada para aproveitar, A frase é interessante, Será, mas dita sem intenção, saiu-me sem pensar”. 5.4.2 DISCURSO INDIRETO É o enunciado que reproduz apenas o sentido do pensamento da personagem ou de alguém, sem preocupação de repetir as palavras utilizadas no discurso. É constituído de orações substantivas. A fala dos personagens são adaptadas e incorporadas pelo narrador, com a proposta de transmitir o sentido intelectual e não a forma lingüística. Dessa forma, conta-se mais do que se mostra. Exemplo: “Pelo caminho, falava-me de Titi, que a trouxera, havia seis anos, da Misericórdia. Assim, eu fui sabendo que ela padecia do fígado; tinha muito dinheiro em ouro numa bolsa de seda verde; e o comendador Godinho, tio dela e da minha mãe, deixara-lhe duzentos contos em prédios, em papéis, e a Quinta do Mosteiro ao pé de Viana, e pratos, e louças da Índia...” (trecho do livro A Relíquia, de Eça de Queiroz) 37 5.4.3 DISCURSO INDIRETO LIVRE É uma combinação dos discursos direto e indireto, confundindo as intervenções do narrador com as das personagens. Forma-se um elo psíquico entre narrador e personagem. Frequentemente, traduz reflexões e emoções do narrador através da personagem. O discurso indireto livre é uma modalidade de discurso que conserva a frase citada da forma original, sem a necessidade de sua transcrição em nome da personagem. É uma forma de expressão que apresenta a personagem com sua voz própria (discurso direto), informa objetivamente o leitor sobre o que ela teria dito (discurso indireto), aproxima narrador e personagem, proporcionando a impressão de que passam a falar em uníssono. O discurso indireto livre conserva as interrogações sob a forma originária, diferentemente do discurso indireto puro que reduz as interrogações e exclamações a uma afirmação. O discurso indireto livre caracteriza-se portanto como recurso de reprodução de enunciados, resultante da conciliação dos discursos direto e indireto. Serve para quebrar a monotonia do discurso indireto. Uma forma de narrar econômica e dinâmica, pois permite mostrar e contar os fatos a um só tempo. Características do discurso indireto livre: • É hibrido: a fala de uma personagem insere-se discretamente no discurso indireto. • No discurso direto o processo sintático éo da justaposição, com verbo dicendi claro ou oculto. No discurso indireto, o processo sintático é o da dependência por conectivo integrante. No indireto livre, as orações de fala são interdependentes, sem verbo dicendi, mas com transposições do tempo (pretérito imperfeito) e dos pronomes (3ª pessoa). • No indireto livre, a ambigüidade (de quem é a fala) é mais freqüente quando a narração se faz na primeira pessoa. • Fusão do narrador e personagem: interlocutor híbrido. • Evita acúmulos de quês do discurso indireto. • Permite narrativa fluente, ritmo e tom artisticamente elaborados. • Sutileza na passagem do que seja relato do narrador e enunciado real da personagem. • Sua riqueza expressiva maior ocorre quando se relacionam num mesmo parágrafo discurso direto, indireto e indireto livre. 38 Funções do discurso indireto livre: • Exteriorizar fragmentos do fluxo de consciência de uma personagem. • Eliminar os diálogos intermediários. • Impregnar as palavras de certa afetividade, própria do discurso direto. • Traduzir estados mentais das personagens, em vez de palavras de um diálogo. EXEMPLO COMPARATIVO: Discurso direto: Lavador de carros, Juarez de Castro, 28 anos, ficou desolado, apontando para os entulhos: “Alá minha frigideira, alá meu escorredor de arroz. Minha lata de pegar água era aquela. Ali meu outro tênis”. Discurso indireto: Juarez, desolado, dizia que não tinha tido tempo de apanhar suas coisas e que agora não possuía mais nada. Discurso indireto livre: O desolado Juarez tinha perdido tudo. E agora, cadê dinheiro para comprar tudo de novo? 39 5.5 EXEMPLOS DE TEXTOS NARRATIVOS MÚSICA Eduardo e Mônica Legião Urbana Quem um dia irá dizer que existe razão Nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer Que não existe razão? Eduardo abriu os olhos mas não quis se levantar Ficou deitado e viu que horas eram Enquanto Mônica tomava um conhaque Noutro canto da cidade Como eles disseram Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer carinha do cursinho do Eduardo que disse - Tem uma festa legal e a gente quer se divertir Festa estranha, com gente esquisita - Eu não tou legal, não agüento mais birita E a Mônica riu e quis saber um pouco mais Sobre o boyzinho que tentava impressionar E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa - É quase duas, eu vou me ferrar Eduardo e Mônica trocaram telefone Depois telefonaram e decidiram se encontrar O Eduardo sugeriu uma lanchonete Mas a Mônica queria ver o filme do Godard Se encontraram então no parque da cidade A Mônica de moto e o Eduardo de camelo O Eduardo achou estranho e melhor não comentar Mas a menina tinha tinta no cabelo Eduardo e Mônica eram nada parecidos Ela era de Leão e ele tinha dezesseis Ela fazia Medicina e falava alemão E ele ainda nas aulinhas de inglês Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus De Van Gogh e dos Mutantes Do Caetano e de Rimbaud E o Eduardo gostava de novela E jogava futebol-de-botão com seu avô Ela falava coisas sobre o Planalto Central Também magia e meditação E o Eduardo ainda estava No esquema "escola, cinema, clube, televisão" E, mesmo com tudo diferente Veio neles, de repente 40 Uma vontade de se ver E os dois se encontravam todo dia E a vontade crescia Como tinha de ser Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia Teatro e artesanato e foram viajar A Mônica explicava pro Eduardo Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer E decidiu trabalhar E ela se formou no mesmo mês Em que ele passou no vestibular E os dois comemoraram juntos E também brigaram juntos, muitas vezes depois E todo mundo diz que ele completa ela e vice-versa Que nem feijão com arroz Construíram uma casa uns dois anos atrás Mais ou menos quando os gêmeos vieram Batalharam grana e seguraram legal A barra mais pesada que tiveram Eduardo e Mônica voltaram pra Brasília E a nossa amizade dá saudade no verão Só que nessas férias não vão viajar Porque o filhinho do Eduardo Tá de recuperação E quem um dia irá dizer que nao existe razão Nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer Que não existe razão? Outros exemplos de músicas narrativas: • Pé de Cedro (Zacarias Mourão) • Menino da Porteira (Ted Vieira e Luizinho) • Chico Mineiro (Tonico e Tinoco) • João e Maria (Oswaldo Montenegro) • Comitiva Esperança (Almir Sater e Paulo Simões) • Minha História (Chico Buarque) • Era Um Garorto Que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones (M. Luzini e F. Migliacci, versão de Brancato Júnior) 41 PROPAGANDA Anúncios Whisky J&B: 42 Anúncio Folha de São Paulo (W/Brasil): Texto: “Tinha um presidente que antes havia sido ditador,mas depois foi eleito. Só que um negão amigo dele arrumou uma encrenca na rua, e o presidente deu um tiro no peito. No peito dele, não do negão. Foi um bafafá. Mas assumiu o vice. Depois veio um presidente que construiu uma cidade no meio do nada, e mudou a capital pra lá. Aí veio o outro que falava esquisito, tinha mania de vassoura, e que de repente renunciou, ninguém entendeu bem por que, e aí deu outra confusão danada. Mas acabou assumindo um outro vice que começou a ter umas idéias, e foi derrubado pelos militares que botaram um general na presidência. Aliás, um não: vários, um atrás do outro. E teve aquele baixinho, depois aquele outro que teve um treco e assumiu uma junta militar. Aí vieram mais três que não gostavam muito de ser presidente e, quando ninguém mais agüentava generais, eles deixaram entrar um civil. Que tinha sido ministro daquele que deu o tiro no peito. Mas ele também teve um treco bem no dia da posse, e aí entrou esse outro que seria vice, que tinha um bigode estranho, se dizia poeta, que fez uma lei proibindo os preços de subir e deu com os burros n´água. Foi quando voltou a eleição direta. Aí ganhou o almofadinha que confiscou o dinheiro da população, construiu uma cascata em casa e quase foi pra cadeia junto com o tesoureiro, que depois foi morto em circunstâncias misteriosas. 43 Mas, quando o almofadinha dançou, entrou um vice, aquele de topete, amante do pão de queijo, que relançou o Fusca, e lançou um novo dinheiro bolado por um ministro, que, por isso, virou presidente, e tá aí querendo ficar mais um pouquinho, talvez disputando a eleição com o do bigode, o do topete e, se deixarem, com o da cascata. Bom, é basicamente isso”. BIBLIOGRAFIA DE APOIO: ANDRADE, Maria Margarida, MEDEIROS, João Bosco. Curso de língua portuguesa para a área de humanas – Enfoque no uso da linguagem jornalística, literária, publicitária. São Paulo: Atlas, 1997. FIORIN, José Luiz, PLATÃO, Francisco. Para entender o texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 1990. INFANTE, Ulisses. Do texto ao texto – Curso prático de leitura e redação. São Paulo: Scipione, 1998. SILVEIRA, Regina Célia. A gramática portuguesa na pesquisa e no ensino: ensino de gramática a partir do texto. São Paulo: Cortez, 1990.
Compartilhar