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5 Narração e narrativa

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31 
Publicidade e Propaganda – 1º sem. 
Leitura e Produção de Textos 
Prof. Lêda Ribeiro 
Módulo 5 
 
 
 
5. NARRAÇÃO E NARRATIVAS 
 
 
Contar e ouvir histórias são atividades das mais antigas do ser 
humano. Pessoas de todas as condições socioculturais têm prazer em 
ouvir e de contar histórias. As pessoas, geralmente manifestam um 
grande interesse pelo desenrolar de uma história bem contada (novelas, 
livros, filmes, músicas, notícias, histórias infantis, contos, piadas, fatos, 
causos etc.). 
Narração é a exposição de um fato mediante relato de circunstâncias 
que o precederam, acompanharam ou seguiram. Não importando se reais 
ou fictícias. 
 
Sobre a narração, SILVEIRA (1980:27) estabelece as seguintes 
definições: 
 
“Narrar compreende relatar os movimentos de um ser- 
referente no tempo e no espaço, dando a eles uma 
seqüência temporal. 
A narrativa é um texto referencial com temporalidade 
representada e de suas relações resultam os valores de 
personagens. 
A narração é o discurso de um emissor que se refere a 
fatos reais ou imaginários, porém sempre marcados 
pela ordem da sucessão no tempo, do fatos evocados. 
O fato narrado compreende o movimento de um ser-
referente que pode estar ligado ou não a outros seres-
referentes. 
Os seres-referentes das mensagens são animados e 
inanimados; ambos podem se movimentar e ser 
sujeitos.” 
 
 Platão e Fiorin (1990:289) afirmam que o texto narrativo 
 
“Relata as mudanças progressivas que vão ocorrendo 
com as pessoas e as coisas através do tempo. Nesse 
tipo de texto, os episódios e os textos estão 
organizados numa disposição tal que entre eles existe 
sempre uma relação de anterioridade ou 
posterioridade. Essa relação de anterioridade ou 
posterioridade é sempre pertinente num texto 
narrativo, mesmo quando ela venha alterada na sua 
seqüência linear por uma razão ou por outra”. 
 
 32 
 Para criar certos efeitos, pode-se alterar a seqüência narrativa dos 
fatos. Um dos recursos mais utilizados na organização da narrativa é o 
flashback. O escritor parte do presente e recua até o passado, e, em 
zigue-zague vai alternando fatos de uma época e outra. Ao ler o texto, o 
leitor percebe que há fatos anteriores e fatos posteriores e que não pode 
mudar a ordem do texto (os enunciados) sem interferir em seu sentido. 
 
 
5.1 A ORGANIZAÇÃO DA NARRATIVA 
 
 No texto narrativo, o autor procura contar uma história em que 
aparecem personagens e transformação temporal. A estrutura fraseológica 
utilizada inclui verbos que proporcionam ação e movimento ao texto. 
 Na maior parte dos casos, a narração engloba as seguintes 
questões: 
 
• Quem? Personagens 
• O quê? O acontecimento 
• Onde? Lugar em que se desenrolam os fatos 
• Quando? Momento em que ocorrem os fatos 
• Como? A maneira como aconteceram os fatos 
• Por quê? A causa dos fatos. 
 
O quê e quem constituem elementos essenciais de uma narração. 
De modo geral, uma narrativa estrutura-se em quatro fases: 
 
1. Criação da expectativa: busca explicitar o espaço e o tempo 
em que ocorrem a ação; apresenta os personagens e declara os 
acontecimentos do enredo que exercem influência sobre o 
desfecho. Esta fase da narrativa, em geral, é curta, rápida e 
clara. 
2. Quebra da expectativa: é a conseqüência da ação ou 
movimentação das personagens, formando um conjunto de 
acontecimentos que compõem a narrativa e que devem ser 
organizados de tal modo que estimulem a atenção do leitor. 
O enredo da narrativa é constituído pelo desenvolvimento dos 
fatos, pela entrada de personagens em cena, pela complicação da 
trama, ou conflito. 
Numa narrativa, o conflito é a mola propulsora dos 
acontecimentos e pode acontecer entre pessoas; entre pessoas e 
coletividade; entre pessoas e objetos, entre homem e natureza; 
entre desejos e paixões, entre emoções e desejos, entre 
sentimentos e deveres etc. Para que uma narrativa não seja um 
simples relato de acontecimentos, é fundamental que ela tenha 
um conflito. 
3. Tentativa de resolução do conflito: compreende o desenlace 
da narrativa, o esclarecimento do desfecho dos acontecimentos. A 
ausência de um desfecho em uma narrativa causa desagrado e 
frustração no leitor. 
 33 
4. Avaliação: toda narrativa apresenta uma moral, levam a uma 
conclusão, a uma lição, um exemplo de vida (Chapeuzinho 
Vermelho: Obediência; Os Três Porquinhos: cooperação; Branca 
de Neve: a maldade não compensa). 
 
 
5.2 ENUNCIADOS NARRATIVOS 
 
 Os enunciados, ou seja, os tipos de abordagem descritiva que 
ocorrem numa estrutura narrativa são: 
 
1. Enunciados de estado: estabelecem relação de posse ou de 
privação entre um sujeito e um objeto. 
Ex: Antonio era o motorista mais antigo da empresa 
 José tem barba cerrada e intensos olhos azuis. 
 
2. Enunciados de ação: informam sobre a passagem de um estado 
para outro em virtude da participação de um agente. 
Ex: Um dia, ele chegou na empresa e disse... 
 
 
5.3 ELEMENTOS DA NARRATIVA 
 
1. Personagens: são as “pessoas” que participam dos acontecimentos. 
Também podem ser animais, objetos, plantas e outros que exercem 
ações personificadas. Podem ser das seguintes categorias de acordo 
com o grau de importância que ocupam na narrativa: 
 
• Protagonista: é a figura de maior projeção dentro da narração 
(o herói, o exemplo, o autor da ação principal). 
• Antagonista: aquele que contracena com o protagonista. 
• Narrador: aquele que expõe os fatos, que apresenta o 
desenrolar dos acontecimentos. Pode ser em primeira pessoa 
gramatical (o narrador protagonista), uma das personagens da 
história, ou uma pessoa que não pertence à história. 
• Personagens secundárias: participantes dos acontecimentos, 
de pouco relevo na história. Fazem parte da história como 
elementos esclarecedores dos acontecimentos. 
 
2. Espaço: o local (onde) e o tempo (quando) são elementos relevantes 
numa narração. O ambiente é o local em que se passa a ação, onde 
vivem os personagens. O ambiente pode exercer influências sobre os 
personagens ou ser utilizado apenas como palco da ação. 
 
3. Tempo: é o ingrediente fundamental numa narrativa. Ele pode ser 
externo ou interno; natural, cronológico (histórico), psicológico. A 
aceleração de uma história ou seu retardamento dependem da 
habilidade do escritor. O flashback é um dos principais recursos 
utilizados pelos escritores. Em relação ao tempo, o verbo desempenha 
função fundamental numa narrativa, quer devido à movimentação, quer 
 34 
porque a noção de tempo é transmitida por ele. É do jogo de presente, 
passado e futuro que advém a consistência narrativa. 
Ex: Começou a chover 
 Continua governando 
 Tornou a ler o artigo que o incomodara 
 Terminou de chegar a um resultado inesperado 
 
4. Foco narrativo: quem vai relatar os fatos. Pode ser a personagem que 
vive os fatos, uma testemunha que presenciou o acontecimento ou uma 
personagem secundária na narração. Se quem vai contar a história 
também é participante dela, contará os fatos de dentro para fora, 
carregará o texto de subjetividade e o fará em primeira pessoa, sob 
um ponto de vista limitado. Se for uma personagem secundária, seu 
ângulo de visão será maior. No caso de narração em terceira pessoa, 
o narrador está à parte dos acontecimentos e é responsável pela 
narrativa, conhecendo tudo a respeito das personagens da história. A 
narrativa em primeira pessoa não significa que o narrador seja a 
personagem principal dos acontecimentos. Porém, como ele participa 
da história, é possível perceber que ele leva o leitor a ver os fatos sob o 
seu ponto de vista pessoal (subjetividade). Quando o escritor narra em 
terceira pessoa, ele se constitui numa espécie de narrador onisciente, 
uma testemunha ocular que sabe tudo o que aconteceu e penetra até 
na consciência das pessoas, revelando o quepensam e o que sentem. 
 
 
 
5.4 DISCURSO DIRETO, INDIRETO E INDIRETO LIVRE 
 
 Na construção de uma narrativa, o escritor pode optar por duas 
modalidades de expor as idéias de seus personagens: o solilóquio e o 
diálogo. O solilóquio é um monólogo em que se fala para si mesmo, é 
uma modalidade de expressão verbal sem o objetivo de comunicação com 
outra pessoa. Já o diálogo é um processo de expressão verbal em que o 
escritor, mediante várias modalidades de discurso (direto, indireto e 
indireto livre), apresenta personagens expondo idéias, conceitos, 
narrando, argumentando, descrevendo. 
 Em uma narrativa, as falas das personagens devem estar de acordo 
com seu caráter, condição social e conhecimentos. Colocar um analfabeto 
falando um português correto, por exemplo, seria uma incoerência. Dentro 
da narrativa, o diálogo deve revelar uma estrutura fraseológica diferente: 
frases curtas, incisivas, espontâneas, naturais. Como em qualquer 
conversa entre duas pessoas, personagens que não replicam não 
favorecem o diálogo. 
 Na literatura, encontram-se dois tipos básicos de diálogo: um 
arquitetado, trabalhado, outro espontâneo, que busca retratar a realidade 
do falante. Seja que tipo de diálogo for, a frase deve ser espontânea, 
oportuna, para que soe de forma natural. 
 
 
 
 35 
5.4.1 DISCURSO DIRETO 
 
 É o discurso onde a própria personagem expressa seus 
pensamentos. O autor reproduz textualmente suas palavras. O discurso 
direto reproduz literalmente a fala das personagens, ou das pessoas 
envolvidas num fato. O discurso direto é uma modalidade estilística de 
composição em que o autor reconstrói o passado, produzindo uma 
sensação de presente e transmitindo mais credibilidade ao texto. 
 O discurso direto normalmente é separado do discurso do narrador 
por dois pontos, vírgula e aspas ou travessão e, normalmente, inserido ou 
caracterizado por um verbo dicendi, também conhecidos como verbos de 
elocução ou declarandi, que ajudam a caracterizar o personagem da 
narrativa (dizer, argumentar, concluir, informar, declarar, indagar, 
replicar, retrucar, negar, aconselhar, determinar, solicitar, pedir, 
blasfemar, balbuciar, gritar, murmurar, vociferar etc.). Além dos verbos 
mais usuais considerados caracterizadores da fala, de acordo com o 
sentido e o “clima” que se pretende atribuir à fala de uma personagem, 
pode-se também, com criatividade, fazer uso de verbos inusitados, que se 
mostram bastante apropriados a caracterizar uma determinada situação 
(espetar, cozinhar, cutucar, rebater, disparar, tropeçar, explodir, suspirar, 
gemer etc.). Esses verbos são denominados verbos sentiendi. Com 
habilidade, é possível se utilizar verbos dicendi e sentiendi em uma 
mesma oração (Joaquim perguntou metendo a cabeça pela porta). 
 No discurso direto, o verbo dicendi pode ser usado antes, no meio, 
ou depois da frase de uma personagem, como também pode ser omitido 
em falas curtas, quando do diálogo participam apenas duas personagens, 
utilizando-se, então, o parágrafo precedido de travessão. 
 
Exemplos: 
 
• - Bem, disse ela, se vocês não vão, eu vou! 
• - Eu já esperava por isso, espetou o amigo. 
• O menino, então gaguejou: - Está lá dentro. 
 
 
O uso da pontuação na colocação do verbo dicendi no discurso 
direto: 
 
a) Travessão: após interrogação e exclamação, é preferível o uso de 
travessão para a introdução de verbos dicendi. 
Ex: Por que você não me chama? – murmurou numa voz carinhosa. 
 
b) Aspas: são colocadas quando a fala vem sem parágrafo e não 
seguida de réplica. 
Ex: “Isso não é possível!”, gritava o chefe inconformado. 
 
c) Vírgula: no passado, a oração do verbo dicendi era cercada de 
vírgula. Hoje, é mais comum o uso de travessões para separar a fala 
da narrativa: 
 36 
Ex: Até que enfim, exclamou a mãe; já pensava que você não viria 
mais. 
 
d) Dois-pontos: se a oração do verbo dicendi precede a fala, deve ser 
seguida de dois pontos. 
Ex: No meio da festa um colega perguntou-me: - Você a conhece? 
 
Modernamente, alguns autores têm se destacado na apresentação 
de novas formas do discurso direto, rompendo com os padrões da 
pontuação tradicional, como se pode observar na transcrição de um trecho 
do livro de José Saramago, História do cerco de Lisboa (1991:111-112): 
 
“O telefone tocou. (...) Atendeu, perguntou, Quem fala, e 
reconheceu logo a voz da telefonista da editora, Vou ligar à doutora Maria 
Sara, disse ela. Enquanto esperava, olhou o relógio, dez minutos para as 
seis horas, Como o tempo passou depressa, era verdade que o tempo 
tinha passado depressa, mas pensá-lo não tinha outra utilidade que servir-
lhe de precária proteção, assim como uma cortina de delgado fumo que a 
brisa espalha e varre, (...) Então a telefonista disse, incorrigível, Está 
ligada senhora doutora, Raimundo Silva cerrou o punho, o tempo tornou-
se turvo, confuso, depois espraiou-se, fluiu na sua corrente natural, Boas 
tardes, senhor Raimundo Silva, Boas tardes, senhora doutora, Como tem 
passado, Eu, bem, e a senhora doutora, como está, Muito bem obrigada, 
continuo a organizar o trabalho aqui, e precisamente vinha saber do 
andamento das provas desse livro de poesia que aí tem, Terminei a 
revisão agora mesmo, estive todo o dia a trabalhar nele, posso leva-lo à 
editora amanhã, Ah, esteve todo o dia a trabalhar nele, Não exatamente 
todo o dia, dediquei umas duas horas à leitura do romance que o senhor 
Costa me tinha entregue, Aproveitou bem o seu tempo, Não tenho mais 
nada para aproveitar, A frase é interessante, Será, mas dita sem intenção, 
saiu-me sem pensar”. 
 
 
5.4.2 DISCURSO INDIRETO 
 
 É o enunciado que reproduz apenas o sentido do pensamento da 
personagem ou de alguém, sem preocupação de repetir as palavras 
utilizadas no discurso. É constituído de orações substantivas. A fala dos 
personagens são adaptadas e incorporadas pelo narrador, com a proposta 
de transmitir o sentido intelectual e não a forma lingüística. Dessa forma, 
conta-se mais do que se mostra. 
 
Exemplo: 
 
“Pelo caminho, falava-me de Titi, que a trouxera, havia seis anos, da 
Misericórdia. Assim, eu fui sabendo que ela padecia do fígado; tinha muito 
dinheiro em ouro numa bolsa de seda verde; e o comendador Godinho, tio 
dela e da minha mãe, deixara-lhe duzentos contos em prédios, em papéis, 
e a Quinta do Mosteiro ao pé de Viana, e pratos, e louças da Índia...” 
(trecho do livro A Relíquia, de Eça de Queiroz) 
 
 37 
 
 
5.4.3 DISCURSO INDIRETO LIVRE 
 
 É uma combinação dos discursos direto e indireto, confundindo as 
intervenções do narrador com as das personagens. Forma-se um elo 
psíquico entre narrador e personagem. Frequentemente, traduz reflexões 
e emoções do narrador através da personagem. O discurso indireto livre é 
uma modalidade de discurso que conserva a frase citada da forma 
original, sem a necessidade de sua transcrição em nome da personagem. 
É uma forma de expressão que apresenta a personagem com sua voz 
própria (discurso direto), informa objetivamente o leitor sobre o que ela 
teria dito (discurso indireto), aproxima narrador e personagem, 
proporcionando a impressão de que passam a falar em uníssono. 
 
O discurso indireto livre conserva as interrogações sob a forma 
originária, diferentemente do discurso indireto puro que reduz as 
interrogações e exclamações a uma afirmação. 
O discurso indireto livre caracteriza-se portanto como recurso de 
reprodução de enunciados, resultante da conciliação dos discursos direto e 
indireto. Serve para quebrar a monotonia do discurso indireto. Uma forma 
de narrar econômica e dinâmica, pois permite mostrar e contar os fatos a 
um só tempo. 
 
Características do discurso indireto livre: 
 
• É hibrido: a fala de uma personagem insere-se discretamente no 
discurso indireto. 
 
• No discurso direto o processo sintático éo da justaposição, com 
verbo dicendi claro ou oculto. No discurso indireto, o processo 
sintático é o da dependência por conectivo integrante. No indireto 
livre, as orações de fala são interdependentes, sem verbo dicendi, 
mas com transposições do tempo (pretérito imperfeito) e dos 
pronomes (3ª pessoa). 
 
• No indireto livre, a ambigüidade (de quem é a fala) é mais freqüente 
quando a narração se faz na primeira pessoa. 
 
• Fusão do narrador e personagem: interlocutor híbrido. 
 
• Evita acúmulos de quês do discurso indireto. 
 
• Permite narrativa fluente, ritmo e tom artisticamente elaborados. 
 
• Sutileza na passagem do que seja relato do narrador e enunciado 
real da personagem. 
 
• Sua riqueza expressiva maior ocorre quando se relacionam num 
mesmo parágrafo discurso direto, indireto e indireto livre. 
 38 
 
 
Funções do discurso indireto livre: 
 
• Exteriorizar fragmentos do fluxo de consciência de uma personagem. 
 
• Eliminar os diálogos intermediários. 
 
• Impregnar as palavras de certa afetividade, própria do discurso 
direto. 
 
• Traduzir estados mentais das personagens, em vez de palavras de 
um diálogo. 
 
 
EXEMPLO COMPARATIVO: 
 
Discurso direto: 
 
Lavador de carros, Juarez de Castro, 28 anos, ficou desolado, 
apontando para os entulhos: “Alá minha frigideira, alá meu escorredor 
de arroz. Minha lata de pegar água era aquela. Ali meu outro tênis”. 
 
Discurso indireto: 
 
Juarez, desolado, dizia que não tinha tido tempo de apanhar suas 
coisas e que agora não possuía mais nada. 
 
Discurso indireto livre: 
 
O desolado Juarez tinha perdido tudo. E agora, cadê dinheiro para 
comprar tudo de novo? 
 39 
5.5 EXEMPLOS DE TEXTOS NARRATIVOS 
 
 
MÚSICA 
 
Eduardo e Mônica 
Legião Urbana 
 
Quem um dia irá dizer que existe razão 
Nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer 
Que não existe razão? 
 
Eduardo abriu os olhos mas não quis se levantar 
Ficou deitado e viu que horas eram 
Enquanto Mônica tomava um conhaque 
Noutro canto da cidade 
Como eles disseram 
 
Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer 
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer 
carinha do cursinho do Eduardo que disse 
- Tem uma festa legal e a gente quer se divertir 
Festa estranha, com gente esquisita 
- Eu não tou legal, não agüento mais birita 
E a Mônica riu e quis saber um pouco mais 
Sobre o boyzinho que tentava impressionar 
E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa 
- É quase duas, eu vou me ferrar 
 
Eduardo e Mônica trocaram telefone 
Depois telefonaram e decidiram se encontrar 
O Eduardo sugeriu uma lanchonete 
Mas a Mônica queria ver o filme do Godard 
Se encontraram então no parque da cidade 
A Mônica de moto e o Eduardo de camelo 
O Eduardo achou estranho e melhor não comentar 
Mas a menina tinha tinta no cabelo 
 
Eduardo e Mônica eram nada parecidos 
Ela era de Leão e ele tinha dezesseis 
Ela fazia Medicina e falava alemão 
E ele ainda nas aulinhas de inglês 
Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus 
De Van Gogh e dos Mutantes 
Do Caetano e de Rimbaud 
E o Eduardo gostava de novela 
E jogava futebol-de-botão com seu avô 
Ela falava coisas sobre o Planalto Central 
Também magia e meditação 
E o Eduardo ainda estava 
No esquema "escola, cinema, clube, televisão" 
 
E, mesmo com tudo diferente 
Veio neles, de repente 
 40 
Uma vontade de se ver 
E os dois se encontravam todo dia 
E a vontade crescia 
Como tinha de ser 
 
Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia 
Teatro e artesanato e foram viajar 
A Mônica explicava pro Eduardo 
Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar 
Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer 
E decidiu trabalhar 
E ela se formou no mesmo mês 
Em que ele passou no vestibular 
E os dois comemoraram juntos 
E também brigaram juntos, muitas vezes depois 
E todo mundo diz que ele completa ela e vice-versa 
Que nem feijão com arroz 
 
Construíram uma casa uns dois anos atrás 
Mais ou menos quando os gêmeos vieram 
Batalharam grana e seguraram legal 
A barra mais pesada que tiveram 
 
Eduardo e Mônica voltaram pra Brasília 
E a nossa amizade dá saudade no verão 
Só que nessas férias não vão viajar 
Porque o filhinho do Eduardo 
Tá de recuperação 
 
E quem um dia irá dizer que nao existe razão 
Nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer 
Que não existe razão? 
 
 
Outros exemplos de músicas narrativas: 
 
 
• Pé de Cedro (Zacarias Mourão) 
 
• Menino da Porteira (Ted Vieira e Luizinho) 
 
• Chico Mineiro (Tonico e Tinoco) 
 
• João e Maria (Oswaldo Montenegro) 
 
• Comitiva Esperança (Almir Sater e Paulo Simões) 
 
• Minha História (Chico Buarque) 
 
• Era Um Garorto Que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones 
(M. Luzini e F. Migliacci, versão de Brancato Júnior) 
 
 41 
PROPAGANDA 
 
Anúncios Whisky J&B: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 42 
Anúncio Folha de São Paulo (W/Brasil): 
 
 
 
 
Texto: 
 
“Tinha um presidente que antes havia sido ditador,mas depois foi eleito. 
Só que um negão amigo dele arrumou uma encrenca na rua, e o presidente deu 
um tiro no peito. No peito dele, não do negão. Foi um bafafá. Mas assumiu o 
vice. 
Depois veio um presidente que construiu uma cidade no meio do nada, e 
mudou a capital pra lá. Aí veio o outro que falava esquisito, tinha mania de 
vassoura, e que de repente renunciou, ninguém entendeu bem por que, e aí deu 
outra confusão danada. Mas acabou assumindo um outro vice que começou a ter 
umas idéias, e foi derrubado pelos militares que botaram um general na 
presidência. Aliás, um não: vários, um atrás do outro. 
E teve aquele baixinho, depois aquele outro que teve um treco e assumiu 
uma junta militar. Aí vieram mais três que não gostavam muito de ser presidente 
e, quando ninguém mais agüentava generais, eles deixaram entrar um civil. Que 
tinha sido ministro daquele que deu o tiro no peito. Mas ele também teve um 
treco bem no dia da posse, e aí entrou esse outro que seria vice, que tinha um 
bigode estranho, se dizia poeta, que fez uma lei proibindo os preços de subir e 
deu com os burros n´água. 
Foi quando voltou a eleição direta. Aí ganhou o almofadinha que confiscou 
o dinheiro da população, construiu uma cascata em casa e quase foi pra cadeia 
junto com o tesoureiro, que depois foi morto em circunstâncias misteriosas. 
 43 
Mas, quando o almofadinha dançou, entrou um vice, aquele de topete, 
amante do pão de queijo, que relançou o Fusca, e lançou um novo dinheiro 
bolado por um ministro, que, por isso, virou presidente, e tá aí querendo ficar 
mais um pouquinho, talvez disputando a eleição com o do bigode, o do topete e, 
se deixarem, com o da cascata. 
Bom, é basicamente isso”. 
 
 
BIBLIOGRAFIA DE APOIO: 
 
 
ANDRADE, Maria Margarida, MEDEIROS, João Bosco. Curso de língua 
portuguesa para a área de humanas – Enfoque no uso da linguagem 
jornalística, literária, publicitária. São Paulo: Atlas, 1997. 
 
FIORIN, José Luiz, PLATÃO, Francisco. Para entender o texto: leitura e 
redação. São Paulo: Ática, 1990. 
 
INFANTE, Ulisses. Do texto ao texto – Curso prático de leitura e redação. 
São Paulo: Scipione, 1998. 
 
SILVEIRA, Regina Célia. A gramática portuguesa na pesquisa e no ensino: 
ensino de gramática a partir do texto. São Paulo: Cortez, 1990.

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