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Tipos de Sentença no Direito Processual Civil

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SENTENÇA
Conceito de sentença:
Sentença é o ato decisório prolatado do juiz que é investido de poder jurisdicional que pode extinguir o processo dando sua sentença com o mérito resolvido ou não.
De acordo com o artigo 203, § 1º, do Código de Processo Civil, "sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com findamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução". Assim, a sentença é o ato do juiz que extingue o processo com ou sem resolução de mérito, ou que rejeita ou acolhe os pedidos do autor. Sentença é a decisão do juiz sobre os pedidos formulados na petição inicial, ainda que o processo prossiga.
“[...] a sentença é ato que carrega em si, em potência, a eficácia de extinguir a relação processual. Ela, sentença, por ela mesma, não tem esse condão; somente a coisa julgada que dela vier, no futuro, a eclodir trará consigo a força de pôr fim à relação processual. [...] Ocorre, então, de a sentença, por si só, não liberar aquela potência, sendo necessário, para tal mister, que a ela se somem outros acontecimentos que lhe sucedem no tempo.”
João Monteiro escreveu: “Êsse decreto, por cuja força o juiz resolve a demanda e declara definitivamente de quem é, se do autor ou se do réu, a relação de direito litigiosa, é o que se chama sentença definitiva”. E mais adiante, que “é a decisão final da causa”.
Tipos de sentença
Sentença terminativa 
As sentenças terminativas têm por conseqüência a finalização do processo sem a resolução do mérito e se atuam pelas razões associadas no art. 485 do Código de Processo Civil. Assim, a causa de pedir, composta na presunção do autor — as causas de fato e de direito cujo ele procurou a tutela jurisdicional —, meramente não será enfrentada pelo magistrado.
Enfatiza sobressair que este tipo de saída quanto ao processo se dá em que momento é averiguado um erro processual que proíbe que o feito possua continuação regular.
Sobre o tema, convém trazer o escólio de Misael Montenegro Filho, em sua obra “Curso de Direito Processual Civil”:
A sentença que extingue o processo sem a resolução do mérito frustra o propósito maior do magistrado, que era o de resolver o conflito de interesses que acarretou a formação do processo. Essa sentença, também denominada terminativa, demonstra que o magistrado esbarrou em uma questão processual, não se encontrando o processo em perfeitas condições para o julgamento do mérito. (FILHO, 2016. Versão Digital)												4
O efeito de uma sentença terminativa é que será diferenciada de uma sentença de mérito, já que ela não concebe coisa julgada material, mas apenas formal. Em distintas palavras, os resultados desse tipo de sentença são preclusivos, atuam somente em correspondência ao processo em questão.
Neste viés, caso ocorra, demandante tenha seu processo extinto nesses moldes, ele conseguirá ajuizar nova ação, já que persiste seu direito em ver a resolução do mérito da causa, prejudicada no passado por questão simplesmente processual.
Sentença definitiva 
Sentença definitiva é aquela em que o mérito é resolvido. Por meio desse ato, chamado de sentença, o juiz aplica o Direito objetivo, de caráter geral, ao caso apresentado. Em outras palavras, o juiz cria norma especial para dirimir o litígio entre as partes, baseada no Direito objetivo.
Sentença definitiva não significa sentença perpétua, imutável, mas, sim, que é o provimento final, definidor do litígio, no juízo de primeiro grau. A imutabilidade só advirá com o esgotamento de todos os recursos possíveis, ou seja, com a coisa julgada material.
A sentença definidora da situação jurídica dos litigantes (definitiva) pode ser proferida após o esgotamento de todos os atos do procedimento, quando então o juiz, sopesando os fatos, as provas e o ordenamento jurídico, acolhe ou rejeita o pedido do autor (art. 487, I, CPC/2015).
Sentença definitiva é aquela que resolve o litígio e que, uma vez transitada em julgado, torna imutável a relação de direito material, não permitindo a discussão do direito controvertido, por força da coisa julgada material.
* Requisitos da sentença: 
-Fundamentação: 
 Interlocutória ou não, a fundamentação da sentença, é o momento em que o juiz espelha sua reflexão nos motivos da decisão tomada diante o processo, de acordo com a lei.
													Vale lembrar que a falta de fundamentação pode acabar com a sentença anulada, pela falta de fundamentos, podemos observar esse roteiro no art. 489, § 1º e seus incisos, do NCPC.
Art. 489. São elementos essenciais da sentença:
I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a identificação do caso, com a suma do pedido e da contestação, e o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo;
II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito;
III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que as partes 5	 lhe submeterem.
§ 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.
§ 2º No caso de colisão entre normas, o juiz deve justificar o objeto e os critérios gerais da ponderação efetuada, enunciando as razões que autorizam a interferência na norma afastada e as premissas fáticas que fundamentam a conclusão. 
§ 3º A decisão judicial deve ser interpretada a partir da conjugação de todos os seus elementos e em conformidade com o princípio da boa-fé.
A fundamentação da sentença é sem dúvida uma grande garantia de justiça, quando consegue reproduzir exatamente, como num levantamento topográfico, o itinerário lógico que o juiz percorreu para chegar à sua conclusão, pois, se esta é errada, pode facilmente encontrar-se, através dos fundamentos, em que altura do caminho o magistrado desorientou.
-Relatório:
Relatório e é o resumo do que contém nos autos do processo, como qualificação, pedidos, dos fatos. A sentença pode ser anulada também por falta de relatório. 
-Dispositivo:
O dispositivo é o decisum, parte mais importante da sentença, pois adquire força de coisa julgada. Nele, o juiz resolverá as questões que as partes lhe submeterem, através de proposições que delimitem a prestação jurisdicional. O princípio jura novit curia significa que as partes não são obrigadas a dar os fundamentos jurídicos do pedido. Tampouco se por elas oferecidos, o juiz a eles se deve ater. Mas o magistrado não pode julgar questões não propostas. Da decisão deverão constar o nome das partes, o resumo do pedido e da defesa (o relatório); a apreciação das provas, os fundamentos da decisão (os fundamentos) e a respectiva conclusão (o dispositivo).						
Pedro Baptista Martins, citando Chiovenda, escreveu: Há entre o pedido e a sentença uma tão íntima relação de correspondência, que o grande Chiovenda julgou acertado defini-la como o provimento do juiz que, acolhendo ou repelindo o pedido do autor, afirma a existência ou a inexistência de uma vontade concreta de lei que lhe garanta um bem ou, respectivamente, a inexistência ou a existência de uma vontade de lei que assegure um bem ao réu.
Classificação das sentenças:
Sentença declaratória: 
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Assim eram chamadas as sentenças que conheciam, reconheciame declaravam a existência ou inexistência de uma relação jurídica, pondo fim a algo incerto que se podia analisar relativamente a certas relações de direito. 
Pontes de Miranda afirma:
Há ação declarativa para declarar-se, positiva ou negativamente, a existência da relação jurídica, quer de direito privado, quer de direito público, quer de direito de propriedade, quer de direito de personalidade, quer de direito de família, das coisas, das obrigações ou das sucessões, civis ou comerciais.
Sentença Constitutiva:
As sentenças constitutivas são aquelas que se associam aos direitos potestativos. Além de declarar o direito, constitui ou desconstitui novo estado jurídico, podendo também modificar ou criar relação jurídica, portanto, gera efeitos ex nunc, podendo ser positivas ou negativas. Por serem os direitos potestativos, estão sujeitos à decadência. É exemplo de sentença constitutiva positiva a sentença que decreta a interdição de um indivíduo, e de sentença constitutiva negativa a que decreta divórcio, a que extingue pessoa jurídica, a que rescinde contrato e a que exonera servidor público.
Sentença condenatória:
Além de declarar o direito, a sentença declaratória submetem o vencido a prestação de algo que pode ser cobrado por execução, prestação de dar, fazer ou entregar.
Para Liebman, "a sentença condenatória tem duplo conteúdo e dupla função: em primeiro lugar, declara o direito existente - e nisto ela não difere de todas as outras sentenças (função declaratória); e, em segundo lugar faz vigorar para o caso concreto as forças coativas latentes na ordem jurídica, mediante aplicação da sanção adequada ao caso examinado e nisto reside a sua função específica, que a diferencia das outras sentenças." Fazer vigorar a força coativa da sanção não constitui, propriamente, função da sentença condenatória, mas sim da ação executiva que a ela posteriormente segue. Pois bem, conforme observou Barbosa Moreira, "se não é de efetivar a sanção que se trata na sentença condenatória, então só uma coisa é concebível que se trate: de declarar a sanção a que se sujeita o vencido." É assim, aliás, que Camelutti via a sentença condenatória: uma sentença de dupla declaração, a declaração de certeza do que foi e do que devia ser.
Sentença Mandamental:
As mandamentais seriam aquelas que trazem mandos, além de declarar o direito, sendo autoexecutáveis, tais como: mandado de segurança, ordem para expedição de certidão, ordem de pagamento pela fazenda pública, interdito proibitório e nunciação de obra nova.
Diante disto, deixando de lado o mandado de segurança, as ações mandamentais em processo de conhecimento de jurisdição contenciosa ficam reduzidas, na lista de 7	PONTES DE MIRANDA, às ações possessórias e ao interdito proibitório tão somente, cuja característica comum reside no fato de que, a despeito de não serem constitutivas nem meramente declaratórias, julgada procedente qualquer delas, a função do juiz se esgota com a expedição do mandado e sua entrega ao oficial de justiça para que o execute, com auxílio de força policial se necessário. São casos em que se aplica o que está disposto no CPC: o juiz determinará os atos executivos e os oficiais de justiça os cumprirão.
Sentença executiva:
Sentença Executiva “lato sensu”: é aquela que independe de processo autônomo de execução para a obtenção da pretendida alteração no mundo dos fatos (a sentença é exeqüível no mesmo processo em que foi proferida).
Neste caso, a sentença, além de reconhecer a existência de violação atual ou potencial ao direito, determina a prática de atos executivos tendentes a reparar a lesão, ou a evitar que a mesma ocorra. É o que ocorre, por exemplo, nos casos referidos nos artigos 461 e 461-A do CPC.
Ainda existem as três classificações da sentença em relação à amplitude de análise do pedido da parte:
a) Sentença extra petita: o juiz concede algo distinto do que foi pedido na petição inicial. Ex.: Há o requerimento de indenização por danos materiais, e na sentença é concedido somente indenização por danos morais.
Neste caso, o recurso cabível para sentença extra petita é a apelação, requerendo a anulação da sentença.
Vale ressaltar que “não há decisão extra petita quando o juiz examina o pedido e aplica o direito com fundamentos diversos dos fornecidos na petição inicial ou mesmo na apelação, desde que baseados em fatos ligados ao fato-base.” (STJ, Resp 700.206/MG, Rel. Min. Luiz Fux, DJe 19/03/2010)
Não configura, por outro lado, violação aos limites objetivos da sentença a análise, pelo magistrado de fatos supervenientes, porquanto o próprio CPC autoriza tal análise ao estabelecer, em seu art. 493, que “se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo do direito influir no julgamento do mérito, 		
 caberá ao juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a requerimento da parte, no momento de proferir a decisão”.
Além disso, há, ainda, exceção nos pedidos implícitos (arts. 322, § 1º e 323 do CPC/2015), na aplicação da fungibilidade e nas obrigações de fazer, nas quais o juiz pode conceder resultado prático equivalente.
Caso haja recurso contra uma decisão extra petita, não pode o Tribunal julgar diretamente a questão correta, sob pena de supressão de instância, devendo “anular” a decisão e determinar que uma nova seja proferida, observando-se os limites do pedido.
É o que ocorreu recentemente em julgamento no Superior Tribunal de Justiça, em que aquela Corte anulou acórdão do Tribunal de Justiça do Piauí por entender que 8
houve violação aos princípios da adstrição (julgamento extra petita) e do contraditório no julgamento da apelação.
O caso envolvia duas empresas que discutiam se a continuidade das atividades pela contratada, após o prazo contratual, significaria a renovação por tempo indeterminado de um contrato de prestação de serviços. No julgamento da apelação, o tribunal de origem entendeu que o contrato firmado entre as partes seria um contrato de agência ou representação (questão não debatida no processo), e não de prestação de serviços, e aplicou a Lei 4.886/65, que regula a atividade dos representantes comerciais, arbitrando para a contratada indenização que não havia sido requerida.
No STJ, a Turma entendeu que houve afronta ao princípio da adstrição, previsto no artigo 492 do Código de Processo Civil, porquanto “é certo que o magistrado não está limitado à fundamentação jurídica apresentada pelas partes, cumprindo-lhe aplicar o direito à espécie. Porém, segundo o princípio da adstrição, não pode surpreender as partes de modo a prejudicar seu direito de defesa”.
b) Sentença ultra petita: é aquela que o juiz ultrapassa o que foi pedido, ou seja, vai além dos limites do pedido. Ex.: Há o requerimento de indenização por danos materiais e o magistrado, em sentença, concede além dos danos materias, danos morais.
No presente caso, o recurso contra a sentença é a apelação, que não gera a anulação total da sentença, mas tão somente da parte em que o juiz extrapolou do pedido.
Na sentença ultra petita o juiz analisa o pedido e seus respectivos fundamentos fáticos e jurídicos, mas se excede, concedendo mais do que foi pleiteado, ou seja, concede-se a tutela e o bem pretendido pelo demandante, extrapolando, no entanto, a quantidade inicialmente perseguida.
c)Sentença infra ou citra petita: A sentença citra petita é a que será analisada com mais afinco nesse trabalho, e, segundo doutrinadores, violaria o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional.
Tal sentença se configura por ausência de manifestação sobre os pedidos ou algum pedido, sobre os fundamentos de fato ou de direito exarados pelas partes, sendo uma sentença omissa, pois o magistrado se oculta de analisar algo. Entretanto, há dois tipos de decisões omissas, quais sejam: aquela que não examinou o pedido da questão principal, e, aquela que não examinou algum fundamento que poderia influenciar na decisão. As decisões judiciais em que o juiz desconsideraparte do pedido ou um dos pedidos integrantes da pretensão podem ocorrer na cumulação de pedidos, sendo um pedido uno, mas que formalmente se desdobra em tantos pedidos quantos a causa de pedir. E a cumulação simples de pedidos em que cada pedido deve ser acolhido ou rejeitado na sentença, independente do outro, ambos os casos são exemplos de sentenças citra petita.
 Contudo, quando a sentença for omissa em algum ponto, há doutrinadores como Nery e Junior, que entendem que o vício pode ser sanado com embargos de declaração ou em sede de recurso de apelação, mas se tal omissão for sobre ponto fundamental da demanda, seria o caso de nulidade da sentença, causando uma divergência na maneira de sanar o vício.
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Tipos de sentenças que violam o princípio da congruência.
(Imagem retirada do site Direito Simplificado)
					COISA JULGADA
Conceito
O conceito de coisa julgada está previsto no artigo 502 do Código de Processo Civil, que a descreve como sendo uma autoridade que impede a modificação ou discussão de decisão de mérito da qual não cabe mais recursos.
A coisa julgada decorre diretamente do esgotamento ou dispensa das vias recursais, tornando definitiva a decisão que enfrentou a questão principal do processo.  
Em todo o texto da Constituição Federal de 1988, o termo "coisa julgada" só é mencionado no artigo 5º, inciso XXXVI, que o descreve como garantia fundamental e prevê que a lei não pode prejudicar a coisa julgada. 						
													
Código de Processo Civil - Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. 10
Da Coisa Julgada
Art. 502.  Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso.
Art. 503.  A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites da questão principal expressamente decidida.
§ 1o O disposto no caput aplica-se à resolução de questão prejudicial, decidida expressa e incidentemente no processo, se:
I - dessa resolução depender o julgamento do mérito;
II - a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no caso de revelia;
III - o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como questão principal.
§ 2o A hipótese do § 1o não se aplica se no processo houver restrições probatórias ou limitações à cognição que impeçam o aprofundamento da análise da questão prejudicial.
Art. 504.  Não fazem coisa julgada:
I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença;
II - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença.
Art. 505.  Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas relativas à mesma lide, salvo:
I - se, tratando-se de relação jurídica de trato continuado, sobreveio modificação no estado de fato ou de direito, caso em que poderá a parte pedir a revisão do que foi estatuído na sentença;
II - nos demais casos prescritos em lei.
Art. 506.  A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros.
Art. 507.  É vedado à parte discutir no curso do processo as questões já decididas a cujo respeito se operou a preclusão.
Art. 508.  Transitada em julgado a decisão de mérito, considerar-se-ão deduzidas e repelidas todas as alegações e as defesas que a parte poderia opor tanto ao acolhimento quanto à rejeição do pedido.
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Ocorre quando a sentença judicial se torna irrecorrível, ou seja, não admite mais a interposição de qualquer recurso. Tem como objetivo dar segurança jurídica às decisões judiciais e evitar que os conflitos se perpetuem no tempo. A coisa julgada pode ser formal, quando a sentença não pode ser alterada dentro do mesmo processo, porém poderá ser discutida em outra ação, ou material, quando a sentença não pode ser alterada em nenhum outro processo.
Coisa julgada formal
Diz-se que a coisa julgada é formal quando ela decorre, simplesmente, da imutabilidade da sentença, seja pela impossibilidade de interposição de recursos, quer porque a lei não mais os admite, quer por decurso do prazo, quer por desistência ou renúncia à sua interposição.
Nesse sentido, de certo que a coisa julgada estaria relacionada ao esgotamento das vias recursais previstas pelo Código, ou pelo resultado desvantajoso do recurso conhecido e julgado, tornando preclusa a possibilidade de se realizarem quaisquer outros atos processuais tendentes à alteração da decisão de mérito na mesma relação processual.
Alguns autores a identificariam como uma espécie de preclusão e a denominariam de preclusão máxima, deixando claro que nenhum outro ato processual poderia ser realizado dentro daquela determinada relação jurídico-processual, porque a sentença de mérito tornou-se imutável. Numa palavra, a coisa julgada formal constituiria evento interno de determinado processo, dizendo respeito exclusivamente às partes e ao juiz, ou seja, uma forma de preclusão, que não se confundiria com a coisa julgada material.
Coisa julgada material 
A coisa julgada material, a seu turno, só se produz quando se trata de sentença de mérito. Faz nascer a imutabilidade daquilo que tenha sido decidido para além dos limites daquele processo em que se produziu, ou seja, quando sobre determinada decisão judicial passa a pesar autoridade de coisa julgada, não se pode mais discutir sobre aquilo que foi decidido em nenhum outro processo.
A coisa julgada material é qualidade tão-só dos efeitos de julgamentos que decidem a lide, pois aqueles que declaram inadmissível a tutela jurisdicional, por não resolverem o mérito, não se revestem da imutabilidade fora da relação processual, que promana da res iudicata material.
Aduz Nelson Nery  que para que se forme a auctoritas rei iudicatae (coisa julgada material) são necessários os seguintes requisitos: i) que o processo exista, isto é,	 12
que estejam presentes os pressupostos de constituição do processo, nos termos do art. 267, IV, do CPC; ii) que a sentença seja de mérito (art. 269, do CPC); iii) que a sentença de mérito não mais seja impugnável por recurso ordinário ou extraordinário ou reexaminável pela remessa necessária.
Rebus Sic Stantibus
Rebus sic stantibus pode ser lido como "estando assim as coisas" ou "enquanto as coisas estão assim". Em termos contratuais significa dizer que o contrato será cumprido rebus sic stantibus (estando as coisas como estão).
 Presunção, nos contratos comutativos, de trato sucessivo e de execução diferida, da existência implícita de cláusula em que a obrigatoriedade do cumprimento do contrato pressupõe inalterabilidade da situação de fato. Quando ocorre uma modificação na situação de fato, em razão de acontecimento extraordinário (imprevisível) que torne excessivamente oneroso para o devedor o seu adimplemento, poderá este requerer ao juiz a isenção da obrigação, parcial ou totalmente. Esta cláusula dá ensejo a Teoria da Imprevisão, que serve de argumento para uma revisão judicial do contrato. A exemplo de acontecimento extraordinário e imprevisível: ocorrência de uma guerra.
Secundum eventum litis
A coisa julgada secundum eventum litis é a que se verifica a depender do resultado do processo.
 
Para melhor compreensão, necessário analisar o tratamento quando direito naturalmente coletivo e direito acidentalmente coletivo.
 
Nos primeiros, a coisa julgada é essencialmente secundum eventum litis, apenas ocorrendo na hipótese de decisão coletiva favorável, pois, resultado positivo da ação civil pública é erga omines, alcançando a todos que, de alguma forma, se beneficiem com a decisão judicial.
 
A finalidade buscada com esse regramento é que o resultado da ação coletiva, quando negativo, não prejudique os interesses individuais dos integrantes do grupo, categoria ou classe que buscou, inicialmente, a defesa dos seus interesses no processo coletivo.
 
Sobre o tema, indispensável a leitura do art. 103, II e § 1º doCDC.
 
Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este Código, a sentença fará coisa julgada
III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do artigo 81.
 
§ 1º - Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão interesses e direitos individuais dos integrantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe.	
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Diferente é o tratamento conferido aos direitos individuais homogêneos (acidentalmente coletivos), pois, os titulares que não tiver intervindo no processo coletivo como litisconsortes poderão propor ação de indenização a título individual (artigo 103, § 2º, do Código do Consumidor). Assim, fala-se em coisa julgada secundum eventum litis e in utilibus.
 
Tal hipótese é regulada pelo mesmo art. 103, em seu § 3º: os efeitos da coisa julgada de que cuida o Art. 16, combinado com o Art. 13 da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste Código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder à liquidação e à execução, nos termos dos artigos 96 a 99.
						CONCLUSÃO
Podemos chegar as seguintes conclusões:
 Os requisitos da sentença, conforme disposto no art. 458 da codificação processual civil, em regra, são obrigatórios, e a inobservância por parte do magistrado pode ocasionar nulidade da sentença ou até mesmo a inexistência, no último caso faltando o dispositivo;
Os efeitos da sentença, em regra afetam as partes e os interessados diretamente no processo. Contudo, há casos em que esse efeito se prolonga para além dos limites do processo;
A distinção entre coisa julgada formal e material, a primeira apesar de imutável nos limites do processo em que foi proferida pode ser rediscutida em outro processo, e na segunda seus efeitos ultrapassam os limites do processo em que foi proferida.
 
 
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