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Nulidades no Processo Penal Conceito As nulidades no processo penal, positivadas nos Arts. 563 a 573, Código de Processo Penal, são sanções ou vícios para os atos processuais que não atendam o requisito mínimo exigido por lei. Como vício, ela torna o ato imperfeito, se inserindo no próprio cerne ou conteúdo do ato. Já como sanção, considera o ato como não realizado, impondo uma pena por infringência da lei processual. A nulidade funciona como instrumento de atendimento à lei processual penal e, principalmente, à Constituição Federal. O ato processual deve ser realizado conforme o preceito legal. O reconhecimento das nulidades não decorre automaticamente da prática do ato, sendo necessária uma decisão judicial. A decisão de se anular ou não um ato depende essencialmente da jurisprudência, originária dos Estados (Tribunais de Justiça) ou de regiões (Tribunais Regionais Federais) e, principalmente, dos tribunais superiores (STF e STJ). Natureza Jurídica A doutrina diverge em como definir a natureza jurídica da nulidade, criando três correntes: 1) A doutrina clássica, inspirada no Direito Civil, conceitua nulidade como um vício ou defeito jurídico, que torna sem valor ou pode invalidar o ato ou o processo, ou é efeito específico da falta de cumprimento das disposições legais; 2) A doutrina processual moderna considera nulidade como uma sanção, tratando-se de sanção à irregularidade, que o legislador impõe, segundo o critério da oportunidade; George Richardson – Bacharelando em Direito – 2018 3) Parte da doutrina processualista considera nulidade como vício, e também como sanção, visto que o sistema processual exige o pronunciamento judicial para admitir a irregularidade. Classificação dos Atos Processuais O ato processual pode ser classificado como: a. Inexistente: é o ato que contém tamanha atipicidade ao ponto de ser considerado um não ato. Há ausência de elementos essenciais para adentrarem no ordenamento jurídico. Ex.: sentença proferida por não juiz, ou sem sua assinatura; b. Nulo: é aquele que nasce sem eficácia alguma. Possui uma atipicidade que compromete ou pode comprometer a validade do ato. Porém, somente será considerado como tal após declaração do juiz ou do tribunal, produzindo efeitos até ser declarado nulo. Dividem-se em nulidades absolutas e relativas: Absolutas: quando é impossível a consolidação do ato por omitir requisito ou termo expressamente declarado e exigido por lei como imprescindível, podendo ser sanada ou não. O prejuízo é presumido, e devem ser arguidas de ofício pelo magistrado, a qualquer momento; Relativas: o ato é sempre sanável, devendo o prejuízo ser comprovado. Somente podem ser arguidas em momento oportuno, e não há manifestação de ofício pelo magistrado; c. Anulável: é aquele que produz efeito até ser invalidado, tendo sua eficácia sujeita à condição resolutiva; d. Irregular: é aquele que não afeta a validade do ato, não exercendo influência negativa na solução da lide. George Richardson – Bacharelando em Direito – 2018 George Richardson – Bacharelando em Direito – 2018 Princípios Incidentes sobre as Nulidades a. Princípio da Legalidade: para se arguir uma nulidade, a mesma deve estar prevista no ordenamento jurídico. Em não havendo previsão no Art. 564, CPP (rol taxativo, exaustivo), ou na Constituição Federal, o ato torna-se ilegal; b. Princípio do Prejuízo: em consonância com o Art. 563, CPP, a nulidade deve resultar em prejuízo para a defesa ou para a acusação, porém, em se tratando de nulidade absoluta, o prejuízo é presumido dado a sua gravidade. Trata-se do princípio pas de nullité sans grief, originário do ordenamento francês; c. Princípio da Instrumentalidade das Formas: fundamentado pelos Arts. 566 e 572, II, CPP, não se declarará a nulidade de ato que não influiu na apuração da verdade e na decisão da causa, e também de ato que, mesmo praticado de forma diversa da qual prevista, atingiu sua finalidade; d. Princípio da Causalidade ou Sequencialidade: a norma do Art. 573, §§ 1º e 2º, CPP, prevê que a nulidade de um ato, uma vez declarada, causará a dos atos que dele diretamente dependam ou dele sejam consequência. Ou seja, se um ato é nulo, os demais ligados a ele também o serão; e. Princípio do Interesse: a norma do Art. 565, CPP, aduz que a parte que deu causa à nulidade não pode pleitear a decretação da anulação do ato; f. Princípio da Convalidação: pelo princípio da convalidação, se o ato for sanável, sendo possível suprir seu defeito, não será George Richardson – Bacharelando em Direito – 2018 declarado nulo. Pelo exposto, somente é aplicável às nulidades relativas; g. Princípio da não preclusão e do pronunciamento ex officio: segundo esse princípio, as nulidades não precluem e podem ser reconhecidas independentemente de arguição pela outra parte. É aplicado às nulidades absolutas, que poderão ser reconhecidas de ofício, pelo juiz ou Tribunal, a qualquer tempo enquanto a decisão não transitar em julgado. h. Inadmissibilidade da revisio pro societate: proíbe o Tribunal de reconhecer ex officio as nulidades absolutas ou relativas em prejuízo do réu, ressalvados os casos de recurso de ofício. Essa norma encontra-se prevista na Súmula 160, STF. Momento de Arguição e Preclusão A nulidade relativa deve ser arguida oportune tempore, sob pena de preclusão, pois estarão sanadas se não forem arguidas no momento oportuno (art. 572, I, CPP). Já a nulidade absoluta, por conter vício que atinge o interesse público na correta aplicação do direito, pode ser arguida a qualquer momento, mesmo após trânsito em julgado de sentença condenatória, se em favor da defesa, por meio de habeas corpus ou da revisão criminal. Em seu Art. 571, o Código de Processo Penal enumera o momento da arguição de nulidade processual, conforme segue: As da instrução criminal dos processos da competência do júri, nos prazos a que se refere o art. 406; As da instrução criminal dos processos de competência do juiz singular e dos processos especiais, salvo os dos Capítulos V e Vll do Título II do Livro II, nos prazos a que se refere o art. 500; George Richardson – Bacharelando em Direito – 2018 As do processo sumário, no prazo a que se refere o art. 537, ou, se verificadas depois desse prazo, logo depois de aberta a audiência e apregoadas as partes; As do processo regulado no Capítulo VII do Título II do Livro II, logo depois de aberta a audiência; As ocorridas posteriormente à pronúncia, logo depois de anunciado o julgamento e apregoadas as partes (art. 447); As de instrução criminal dos processos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais de Apelação, nos prazos a que se refere o art. 500; Se verificadas após a decisão da primeira instância, nas razões de recurso ou logo depois de anunciado o julgamento do recurso e apregoadas as partes; as do julgamento em plenário, em audiência ou em sessão do tribunal, logo depois de ocorrerem. Nulidades em Espécie O Art. 564, CPP, prevê as nulidades em espécie, de forma que primeiro as elenca caso a caso e, em seu inciso IV, menciona a hipótese genérica de falta de formalidade constituinte de essência elementar do ato. a. Incompetência, suspeição ou suborno do juiz – Art. 564, I, CPP. Se o juiz é incompetente, o mesmo compromete a relação processual. Trata-se de ato inexistente, por violação ao mandamento constitucional. A incompetência relativa (incompetência de foro, por exemplo)anula somente os atos decisórios, devendo o processo ser remetido ao juiz competente (Art. 567, CPP). A incompetência absoluta (em razão da matéria e de foro privilegiado) atinge os atos instrutórios e probatórios. George Richardson – Bacharelando em Direito – 2018 Sobre a suspeição ou suborno do juiz, temos uma nulidade absoluta, pois o juiz suspeito ou subornado compromete a relação processual e não fornece garantia de segurança às partes; b. Ilegitimidade das partes – Art. 564, II, CPP. Se a parte for ilegítima, trata-se de nulidade absoluta, não sanável, podendo e devendo ser reconhecida de ofício. Ad causam: o autor não é titular da ação, gerando nulidade absoluta e insanável; Ad processum: falta de capacidade postulatória, gerando nulidade relativa, sanável, conforme Art. 568, CPP, com a ratificação do ato; c. Falta de fórmulas ou de termos – Art. 564, III, CPP. A denúncia ou a queixa e a representação e, nos processos de contravenções penais, a portaria ou o auto de prisão em flagrante: nulidade absoluta, pois são requisitos essenciais ao processo a existência da denúncia, queixa ou representação, alcançando também os requisitos que compõem a denúncia (ausência da indicação do acusado, por exemplo); O exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, quando não supridos por depoimento testemunhal: cuida-se de nulidade absoluta. Seu intuito é de evitar acusações levianas contra o indiciado; A nomeação de defensor ao réu presente, que não o tiver, ou ao ausente, e de curador ao menor de 21 anos: não há possibilidade de que o réu prossiga no processo sem defesa técnica, gerando nulidade absoluta se houver prejuízo ao réu. A nomeação de curador ao menor de 21 anos fora revogada pela lei nº 10.792/2003; George Richardson – Bacharelando em Direito – 2018 A intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação por ele intentada e nos da intentada pela parte ofendida, quando se tratar de crime de ação pública: trata-se da indisponibilidade do MP em todos os termos da ação por ele intentada, acarretando nulidade relativa. Se não forem arguidas no tempo oportuno, serão consideradas sanadas; A citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e os prazos concedidos à acusação e à defesa: se não houver citação, ou não preencher os parâmetros legais, ocorrerá nulidade absoluta. Alguns doutrinadores sustentam que se trata de nulidade relativa, por força do Art. 570, CPP; A sentença de pronúncia, o libelo e a entrega da respectiva cópia, com o rol de testemunhas, nos processos perante o Tribunal do Júri: no procedimento do júri, quando houver a inexistência da pronúncia ou a falta de motivação desta, haverá nulidade absoluta. O libelo acusatório foi revogado pela lei nº 11.689/2008, não mais competindo ao juiz o envio da sentença de pronúncia ao MP para que se manifeste; A intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal do Júri, quando a lei não permitir o julgamento à revelia: caso o réu não seja intimado, haverá nulidade absoluta, pois contraria o princípio constitucional da ampla defesa; A intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos estabelecidos pela lei: segundo norma do Art. 422, CPP, as testemunhas arroladas devem ser devidamente intimadas sob pena de nulidade relativa; George Richardson – Bacharelando em Direito – 2018 A presença de pelo menos 15 (quinze) jurados para a constituição do júri: como o legislador fixou quórum mínimo, em havendo descumprimento haverá nulidade absoluta; O sorteio dos jurados do conselho de sentença em número legal, e sua incomunicabilidade: a ausência do sorteio dos jurados e a incomunicabilidade acarretam em nulidade absoluta; Os quesitos e as respectivas respostas: são essenciais os quesitos formulados e as respectivas respostas dos jurados, sob pena de nulidade absoluta; A acusação e a defesa, na sessão de julgamento: a falta de defesa das partes no Tribunal do Júri é passível de nulidade absoluta; A sentença: não somente a falta de sentença, mas a falta de seus elementos essenciais acarreta em nulidade absoluta; O recurso de ofício, nos casos em que a lei o tenha estabelecido: nos casos estabelecidos em lei o juiz, de ofício, deve recorrer não gerando nulidade, mas impedimento do trânsito em julgado; A intimação, nas condições estabelecidas pela lei, para ciência de sentenças e despachos de que caiba recurso: causa de nulidade relativa, caso as partes não sejam informadas da sentença e outras decisões recorríveis; No Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais de Apelação, o quórum legal para o julgamento: é causa de nulidade absoluta, pois fere o interesse da administração da Justiça; d. Omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato – Art. 564, IV, CPP. George Richardson – Bacharelando em Direito – 2018 Sempre que a desobediência à formula legal provocar desequilíbrio na relação processual, deverá incidir nulidade relativa, conforme corrente dominante. Sanatórias A nulidade relativa pode ser sanada, conforme Art. 573, CPP, pela observância dos artigos anteriores a ele. Contudo, se o vício não for sanado, faz-se necessário que o juiz ou os tribunais considerem nulo o ato realizado e determinem sua renovação, com nova prática do ato, ou sua retificação, com correção da falha apontada. No caso de inquérito policial, por se tratar de procedimento administrativo, não cabe alegação de nulidade de ato produzido. Em havendo irregularidade em sua produção, deverá o magistrado ordenar a renovação ou o seu desentranhamento dos autos. George Richardson – Bacharelando em Direito – 2018
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