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1 O Cinema brasileiro A região central do Rio se ampliava no início do século XX com a reforma urbanística do Prefeito Pereira Passos. Surgiram as calçadas, o comércio de rua, a luz artificial e o policiamento. O comércio começa a organizar-se, sobretudo ao redor dos locais consagrados ao entretenimento e a cultura. A abertura da Avenida Central em 1904 e a chegada da eletricidade – um ano mais tarde – incentivavam a ampliação de espaços de vida noturna e a criação de locais para a projeção de imagens em movimento. Os cinemas da Praça Floriano – que a maioria vai passar a conhecer como Cinelândia – consolidaram e permitiram a proliferação das salas de exibição por outros bairros do Rio de Janeiro. Segundo João Luiz Vieira e Margareth Pereira, “foi somente com a construção dos novos cinemas da Cinelândia, no início da década de 20, que a exibição cinematográfica, assim como a arquitetura e a engenharia civil em nossa cidade sofreram grandes transformações.” (1986, p. 25) Entre os anos de 1912 e 1930 o cinema brasileiro teve profícuos ciclos regionais em Minas Gerais, na região norte e nordeste. O ciclo mineiro é, em linhas gerais, vai ser comandado por criativos empresários italianos possuidores de técnicas, equipamentos e habilidades diversas. Podemos destacar a empresa P. Benedetti e Cia. A cidade de Cataguases, na zona da mata mineira, constitui-se em um caso a parte. O cineasta, e também ator de suas próprias produções, Humberto Mauro vai ser o responsável pela vitalidade da produção na região. Segundo Paulo Emílio Salles Gomes, “rapaz cheio de talentos, de uma beleza rude como atestam as fotografias e comprovam os filmes de dez anos depois, moço da moda, popular, querido: Humberto Mauro era o playboy de Cataguases.” (: GOMES, Paulo Emílio Salles. Humberto mauro, Cataguases, Cinearte. São Paulo: Perspectiva/EDUSP, 1974. [p. 52]) Mauro vai dirigir um filme por ano e realizar algumas das referências do cinema nacional, tais como: “Primavera da minha vida” (1926), “Tesouro perdido” (1927), “Brasa dormida” (1928), “Sangue mineiro” (1929) e “Lábios sem beijos” (1930. As promessas paisagísticas e econômicas da 2 Amazônia levam o português Silvino Santos a registrar grupos indígenas em seus documentários cinematográficos. Na região nordeste podemos sublinhar a atividade cinematográfico que vai movimentar a cena do Recife. Um grupo composto por aproximadamente trinta jovens dentre jornalistas, comerciários, operários, artesãos, atletas, músicos e atores dividiam-se entre seus ofícios e o cinema. Daí surgiram “Aitaré da praia” (1925), “Dança, amor e ventura” (1927) e “No cenário da vida” (1931). Alguns fatos fundamental marcam o fim do cinema mudo no Brasil: o filme “Barro humano” (1929), a fundação da produtora Cinédia (1930) e a exibição de “Limite” (1930) – do cineasta Mário Peixoto. Segundo o professor João Luiz Vieira ( VIEIRA, João Luiz. A Chanchada e o Cinema carioca. In: RAMOS, Fernão. História do cinema brasileiro. São Paulo: Art Editora, 1990. [p. 131]), “O sonho de alcançar o status de verdadeira indústria era legitimado pela própria Revolução de 1930, que representou para o país a mudança de poder da oligarquia rural para os setores urbanos da classe média, uma burguesia industrial em potencial.” Esse quadro vai marcar o início da intervenção estatal na atividade cinematográfica. Adhemar Gonzaga funda a Cinédia (cinema em dia) e modifica drasticamente o cinema brasileiro. Ele implementa uma companhia nos moldes da indústria norte-americana. Os filmes buscavam retratavam o cotidiano da vida brasileira. A primeira de muitas produções carnavalescas da empresa seria “A voz do carnaval” (1933) com Carmem Miranda. Em “Alô, Alô, Brasil” (1935), grandes nomes da música nacional, como Ari Barroso, atuam com sucesso. Os cantores do rádio que detalharemos na próxima aula foram levados para o cinema e abrilhantaram muitas produções. “A década de 1940 inicia-se com bons e maus presságios. A Cinédia diminui seu ritmo de produção e, em 1941, aluga seus estúdios para a RKO a fim de possibilitar a realização de “It's all true”, a experiência brasileira de Orson Welles.” (: VIEIRA, João Luiz. A Chanchada e o Cinema carioca. In: RAMOS, Fernão. História do cinema brasileiro. São Paulo: Art Editora, 1990. [p. 3 153]) Em 1941, Moacyr Fenelon funda a Atlântida Empresa Cinematográfica do Brasil S.A. por meio do lançamento de ações populares. A Atlântida começou por produzir o cinejornal Atualidades Atlântida. Através de um manifesto que ressaltava, “em tom indisfarçadamente ufanista, a intenção do grupo de contribuir para o desenvolvimento industrial do cinema brasileiro, equacionando uma vez mais o desenvolvimento do cinema como sinônimo do progresso do país” (: VIEIRA, João Luiz. A Chanchada e o Cinema carioca. In: RAMOS, Fernão. História do cinema brasileiro. São Paulo: Art Editora, 1990. [p. 154]) A chanchada mostra-se uma estética de grande apelo popular, com boas doses de comicidade e recheio de números musicais. A Cia. Vera Cruz foi a tentativa paulista de criar uma indústria cinematográfica brasileira. A Vera Cruz vai contar com o interesse e a contribuição da intelectualidade e da elite econômica paulista. Essa aventura industrial tinha por objetivo transformar a cidade de São Paulo na Hollywood brasileira. “Criar empresas cinematografias bem equipadas e com boa infra-estrutura artística e técnica, sem levar em conta as condições de produção, distribuição e exibição, faz parte da tradição do cinema industrial paulista – 'a única novidade é que, com a Vera Cruz, o mito pela primeira vez se concretiza'” (CATANI, Afrânio Mendes. A aventura industrial e o cinema paulista (1930-1955). In: RAMOS, Fernão. História do cinema brasileiro. São Paulo: Art Editora, 1990. [p. 203]) Os filmes da Vera Cruz vão receber inúmeras críticas devido ao seu excesso de fidelidade ao cinema nos moldes hollywoodianos.
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