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Gênero (em Direito Internacional)

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Adolphe, Jane, and Robert L. Fastiggi. "Gender (in International Law)." New Catholic Encyclopedia Supplement 
2012-2013: Ethics and Philosophy. Ed. Robert L. Fastiggi. Vol. 2. Detroit: Gale, 2013. 612-614. 
Tradução - Ana Vitória Vanzin Mendes 
 
Gênero (em Direito Internacional) 
Jane Adolphe 
Professora adjunta de Direito na Ave Maria School 
of Law - Naples, Flórida 
Robert L. Fastiggi 
Professor de Teologia sistemática na Sacred Heart 
Major Seminary - Detroit, Michigan 
 
O termo gênero foi gradualmente introduzido em documentos internacionais não 
vinculantes sobre a temática das mulheres no início dos anos 90. Uma revisão histórica do 
desenvolvimento dos Direitos Humanos relacionados às mulheres revela três pontos 
importantes: (1) que o gênero tem sido comumente usado para identificar o sexo da pessoa 
como homem ou mulher; (2) que a redefinição radical do gênero como uma construção 
social para promover uma visão sexualmente polimorfa da pessoa humana (cf. Casco 1995, 
16-17) foi consistentemente rejeitada pela comunidade internacional; e (3) que a primeira 
definição de gênero foi incluída no Estatuto do Tribunal Penal Internacional e vincula as 
partes a este acordo. 
No período de 1945 a 1962, a principal preocupação era a “igualdade entre mulheres 
e homens”, reflexo da Carta das Nações Unidas de 1945 (cf. Preâmbulo, parágrafo 2). A 
promoção de tal igualdade tornou-se o principal trabalho da Comissão sobre o Status da 
Mulher (CSW), estabelecida em 1946, sob a supervisão do Conselho Econômico e Social 
da ONU (ECOSOC). O CSW ainda desempenhou um papel na elaboração da Declaração 
Universal dos Direitos Humanos de 1948. 
O período de 1945 a 1962 também contou com agências internacionais que ajudaram 
mulheres em países em desenvolvimento, como as nações que fizeram a transição entre 
regimes coloniais para a democracia. Na década de 1960, preocupações com o 
crescimento populacional começaram a surgir, juntamente com os esforços para promover o 
uso de contraceptivos e controle populacional, o que recebeu oposição dos países de 
herança católica e muçulmana. O período entre 1963 e 1975 se concentrou mais no 
crescimento socioeconômico, sendo a principal marca o movimento “Mulheres em 
Desenvolvimento ”(WID). 
Esta última questão foi destacada pela Assembléia Geral da ONU, que declarou o ano 
de 1975 como Ano Internacional das Mulheres e de 1976 a 1985 como a Década 
Internacional das Mulheres. O ano 1975 também marca a primeira Conferência Mundial 
sobre a Mulher no México como parte do Ano das Mulheres. A discriminação contra as 
mulheres com base no sexo foi uma das principais preocupações e a Conferência do 
México ordenou a elaboração de uma Comitê para a Eliminação de todas as Formas de 
Discriminação contra a Mulher (CEDAW). 
O período de dez anos mencionado acima, 1976-1985, foi designado como a Década 
das Mulheres da ONU: Igualdade, Desenvolvimento e Paz, e a própria ideia de 
desenvolvimento veio a estar intimamente relacionada à participação plena e igualitária das 
mulheres, o desenvolvimento das mulheres sendo considerado crucial para “o bem-estar de 
todos.” Em 1979, a Assembléia Geral da ONU adotou o CEDAW, que proibia “sexo ” como 
discriminante, e criou um comitê para monitorar a implementação nacional por meio de 
recomendações aos Estados-parte;s Durante este período, conferências globais 
subsequentes sobre mulheres foram realizadas em Copenhague (1980) e Nairobi (1985). 
Estas reuniões delinearam diretrizes para promoção da igualdade das mulheres em relação 
ao “gênero” (Adams-Alwine 2009, 12). Apesar de algumas feministas terem atribuído a 
conferência de Nairobi como a inauguração do "gênero" como uma "construção social", a 
verdade é que se utilizou o termo gênero apenas dezesseis vezes sem o definir. 
No período seguinte, de 1986 a 1995, a maior preocupação era a violência contra as 
mulheres, o que leva a Declaração para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres 
(DEVAW) de 1993. Além disso, um relator especial dedicado à violência contra as mulheres 
foi designado e o Tribunal Penal Internacional para a antiga Jugoslávia (TPIJ) e para o 
Ruanda (TPIR) foram fundados. Esses tribunais têm o poder de processar pessoas 
responsáveis ​​por crimes contra a humanidade, inclusive o crime de estupro (ICTY, art. 5; 
ICTR, art. 3; CF. art. 4). As Nações Unidas também patrocinaram conferências com 
documentos conclusivos não vinculativos sobre várias questões internacionais no Rio de 
Janeiro (1992), Viena (1993), Cairo (1994), Copenhague (1995), Istambul (1996) e Roma 
(1996). O documento resultado da Conferência Mundial de Direitos Humanos, em Viena, 
usou o termo gênero cinco vezes claramente, em referência a meninas ou mulheres (arts. 
18, 38, 42). O documento produzido durante a Conferência Internacional sobre População e 
Desenvolvimento, no Cairo, dedicou uma seção a “Igualdade de Gênero, equidade e 
empoderamento das mulheres ”(Capítulo IV) - novamente, claramente em relação às 
mulheres. Por fim, a Cúpula Mundial da Alimentação, em Roma, produziu uma declaração 
que usa “gênero” uma vez e uma “Plataforma de Ação” que inclui o termo oito vezes, e 
novamente em referência às mulheres (ver, por exemplo, arts. 16, 34, 35 59). Em suma, 
uma questão importante levantada em algumas das citadas conferências era a igualdade da 
mulher ao homem, expressa também como “igualdade de gênero”. 
Somente na Quarta Conferência Mundial sobre as Mulheres em Pequim, em 1995, o 
termo gênero assumiu proeminência, sendo usado 233 vezes no documento final, mas, 
novamente, permaneceu indefinido (UNDPI, fevereiro de 1997). Durante esta conferência 
foram feitas tentativas de redefinir o gênero como uma construção social em consonância 
com o pensamento de Judith Butler (1956-). Em seu livro de 1990, “Problemas de Gênero - 
Feminismo e Subversão da Identidade”, Butler descreve “gênero” como um “status 
construído… radicalmente independente do sexo,… um artifício flutuante livre, com a 
consequência de que homem e masculino poderiam facilmente significar um corpo feminino 
como um homem, e um Mulher e feminino num corpo masculino tão facilmente como uma 
mulher” (88; cf. de Casco 1995, 16). Ambos Martha Lorena de Casco e Dale O'Leary 
desafiaram a visão de “gênero” de Butler como uma construção social. Eles associaram 
essa posição à promoção do aborto como um direito legal, bem como a um “Mundo sem 
sexo, no qual o lesbianismo e a homossexualidade estão em pé de igualdade com o 
casamento” (de Casco 1995, 16). Para acabar com a controvérsia, um grupo de trabalho 
composto por sessenta representantes estatais reuniram-se para considerar o significado 
de gênero nos documentos finais de Pequim. Sua opinião está definida no Anexo IV do 
Relatório da Quarta Conferência Mundial sobre a Mulher, em que se afirma que “gênero” 
deve “ser interpretado e entendido como era no uso comum e geralmente aceito”. 
A Santa Sé formulou várias reservas e uma declaração interpretativa sobreo 
significado do termo gênero. Neste último aspecto, a aceitação do uso do termo deve ser 
entendida de acordo com o uso comum no contexto das Nações Unidas, ao passo que a 
Santa Sé se associa ao significado comum da palavra, nas linguagens onde este exista. O 
termo “gênero” é entendido pela Santa Sé como fundamentado na identidade sexual 
biológica, masculina ou feminina. Além disso, a Plataforma para Ação em si (cf. n. 193, c) 
usa claramente o termo “ambos os sexos”. A Santa Sé exclui assim interpretações 
duvidosas baseadas em visões de mundo que afirmam que a identidade pode ser adaptada 
indefinidamente para atender propósitos novos e diferentes. Também dissocia-se da noção 
biológica determinista de que todos os papéis e relações dos dois sexos são fixados em um 
padrão único e estático. O Papa João Paulo II (1920 a 2005) insiste na distinção e 
complementaridade de mulheres e homens. Ao mesmo tempo, ele exaltou a conjectura de 
novos papéis femininos, enfatizou o grau em que o condicionamento cultural tem 
funcionado como um obstáculo para o progresso e incentivou os homens a ajudarem no 
“grande processo de libertação das mulheres” (“Carta ao Mulheres, n. 6). Na “Carta às 
Mulheres” de 1995, o Papa explicou a visão diferenciada da Igreja da seguinte maneira: 
“Pode-se também perceber que a presença de uma certa diversidade de papéis não é de 
forma alguma prejudicial às mulheres, desde que essa diversidade não resulte de uma 
imposição arbitrária, mas antes seja uma expressão do que é específico em ser homem e 
mulher ”(n. 11). 
Baseando-se na perspectiva de João Paulo II e outros, a Santa Sé, em várias 
intervenções internacionais, confirmou a visão de gênero acima mencionada como 
enraizada na visão biológica, sexual e distintiva entre machos e fêmeas. Embora nem todos 
os papéis masculinos e femininos sejam fixados em um padrão, a Santa Sé acredita que as 
diferenças entre homens e mulheres são importantes, à exemplo da maternidade e 
paternidade. Além disso, as diferenças biológicas entre homens e mulheres são expressões 
da complementaridade masculino-feminina desejada por Deus, especialmente para fins 
unitivos e procriativos do casamento (cf. Congregação para a Doutrina da Fé, Carta, 31 de 
maio de 2004). À nível internacional, o entendimento de gênero pela Santa Sé, portanto, 
permanece na oposição, por um lado, daquelas visões que promovem o determinismo 
biológico e, por por outro lado, daqueles que minimizam as diferenças biológicas dos sexos 
e reduzem o “gênero” a um elemento cultural mutável ou uma construção social. 
Cinco principais agências internacionais foram eventualmente desenvolvidas para o 
avanço das mulheres: DAW (Divisão para o Avanço das Mulheres); INSTRAW (Pesquisa 
Internacional e Treinamento Instituto para o Avanço das Mulheres); UNIFEM (Fundo de 
Desenvolvimento das Nações Unidas para Mulheres); IANWGE (Rede Inter-Institucional 
para Mulheres e Problemas de Gênero); e OSAGI (Escritório da Conselheira Especial das 
Nações Unidas para Assuntos de Gênero e o Avanço da Mulher). Embora a descrição do 
gênero como uma construção social pode ser encontrada nas publicações não vinculativas 
destas agências, não é este o caso em documentos negociados por Estados-partes em que 
o termo gênero é empregado. A palavra gênero também é utilizada nas estatísticas sobre 
as relações entre homens e mulheres (cf. Charlesworth 2005, 6–18). De fato, embora 
muitas agências da ONU descrevam “gênero” como uma “construção social”, esse 
entendimento não foi definitivamente incorporado no Direito Internacional. 
No período de 1996 a 2006, o termo igualdade de gênero passou a ser mais utilizado 
pela CSW e outras agências da ONU. No entanto, o Estatuto de Roma de 1998 do Tribunal 
Penal Internacional, que entrou em vigor em 2002, apresenta a única definição 
juridicamente vinculativa de gênero: ambos os sexos, masculino e feminino, no âmbito da 
sociedade. Em 2006, a Assembléia Geral da Nações Unidas criou o Conselho de Direitos 
Humanos para substituir a Comissão de Direitos Humanos e este Conselho age na 
integração plena da perspectiva de gênero em busca da equidade. Os órgãos acima 
mencionados dedicados às mulheres (DAW, INSTRAW, OSAGI e UNIFEM) foram unidos 
para formar uma só entidade em 2010, quando a Assembléia Geral da ONU estabeleceu o 
Entidade das Nações Unidas para Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres, 
também conhecida ONU Mulheres. No que diz respeito à ONU Mulheres e à Comissão 
sobre a Situação da Mulher (CSW), a antiga agência fornece apoio essencial ao órgão e 
facilita a participação de organizações não-governamentais na sessão anual da CSW. A 
ONU Mulheres preside o IANWGE e atua como secretariado dessa rede de mais de 40 
escritórios, departamentos, comissões, programas e agências especializadas da ONU. 
Hoje, a única definição vinculativa de gênero no Direito Internacional dos tratados 
continua a ser a o Estatuto de Roma de 1998 do Tribunal Penal Internacional (Estatuto do 
TPI), que entrou em vigor em 2002. Esta definição diz: “Para os fins deste Estatuto, 
entende-se que o termo 'gênero' refere-se aos dois sexos, masculino e feminino, dentro do 
contexto da sociedade. O termo 'gênero' não indica qualquer significado diferente do acima 
mencionado” (Artigo 7, 3). Esforços, no entanto, continuam a serem feitos para que se 
vincule o “gênero” como uma “construção social” ao invés de uma realidade enraizada na 
biologia humana e na lei natural. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BIBLIOGRAFIA 
 
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Resource Guide, and Agenda for the Future. Washington, DC: Georgetown University 
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Adolphe, Jane. “The Meaning of Gender within the United Nations System.” In 
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Charlesworth, Hilary. “Not Waving but Drowning: Gender Mainstreaming and Human 
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