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A profecia de Isaias - A. R. Grabtree - v.1

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Prévia do material em texto

A PROFECIA DE ISAIAS
C A P Í T U L O S 1-39 
TEXTO, EXEGESE E EXPOSIÇÃO 
VOLUME I
A. R. CRABTREE, A. B., D. B-, Th. D.
1.“ EDIÇÃO
1967
C A S A P U B L I C A D O R A B A T I S T A 
Caixa Posta! 320 - Z C - O O 
Rio de Janeiro — Gb.
CAPA DE PAULO DAMAZIO
Impresso em Gráficas Próprias
T iragem 3.000 Data 30-03-1967
IN MEMORIAM
Estava êste livro para sair do prelo quando nos veio 
a triste notícia do falecimento do seu ilustre autor, nosso 
saudoso irmão, Dr. A . R . Crabtree, que, aposentado, resi­
dia ultimamente em sua terra natal, os Estados Unidos 
ia América do N orte. Ilustre e mui competente catedrático 
no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, e também 
Reitor, Crabtree ensinou hebraico, Velho Testamento,
6 A. R. C R A B T R E E
Teologia do V .T ., Filosofia da Religião Cristã, Apologética 
e ainda outras disciplinas.
Dos seus livros podemos mencionar no momento os 
seguintes : «História dos Batistas no Brasil», Vol. I, «Ar­
queologia Bíblica», «Introdução ao Nôvo Testamento», 
«Sintaxe do Hebraico do Velho Testamento», «Esperança 
Messiânica», «O Livro de Amós», «O Livro de Oséias», «A 
Profecia de Isaías» em 2 volumes (o 2" volume no prelo), «A 
Profecia de Jeremias» (a sair), «Dicionário Hebraico-Por- 
tuguês», «Baptists in Brazil» (em inglês), e muitas outras 
publicações menos volumosas.
O seu passamento deu-se em Roanoke, V a., E .U .A ., 
no dia 15 de abril de 1965.
Pretendemos publicar uma biografia mais extensa 
quando da divulgação do 2? Volume de «A Profecia de 
Isaías», atualmente no prelo.
Ao saudoso Irmão, a homenagem dos batistas do Bra­
sil e da Casa Publicadora Batista.
Maio de 1965.
Alrair S. Gonçalves
Èste Comentário sôbre a Mensagem do 
Príncipe dos Profetas representa um meio século 
de estudo agradável da Bíblia, trinta e cinco 
anos de ensino de Hebraico e do Velho Testa­
mento, com muito tempo dedicado ao preparo de 
quinze livros em português. Sem qualquer re­
muneração financeira, o único motwo na pro­
dução desta obra é o amor ao trabalho e o desejo 
de contribuir à literatura evangélica na língua 
portuguêsa para os pastores e obreiros que es­
tão servindo galhardamente na extensão do 
reino de Deus no mundo.
Êste é um estudo crítico e exegético da 
Profecia de 1 saias, com a exposição cuidadosa 
dos problemas do texto hebraico e da sua inter­
pretação. Apesar de o texto original do Velho 
Testamento ter sido evidentemente transmitido 
com cuidado escrwpuloso atrm és dos séculos, 
ainda há vários problemas textuais da Bíblia 
Hebraica. Há numerosos manuscritos e muitos 
outros documentos que ajudam no estudo críti­
co do Nôvo Testamento. Mas até recentemente 
havia apenas três manuscritos antigos do He­
braico Bíblico, e o mais antigo dêstes, conheci­
do como o Texto Massorético, é datado de 895
a .C ., muitos séculos depois do tempo de IsaJvas.
A. R. C R A B T R E E
Em 1947 foram descobertos numa caver­
nat perto do Mar Morto, um manuscrito quase 
completo do Livro de Isaías, e outro que tem 
apenas a têrça parte da obra. Êstes documen­
tos são dlatados por F. W . Albright e outros 
arqueólogos no último século antes de Cristo, 
Ou no primeiro século cristão. Êstes dois ma­
nuscritos concordam notavelmente com o Tex­
to Massorético. O primeiro contém variações 
que esclarecem algumas dificuldades dos três 
textos do século nono. As versões, como a 
Septuagmta ou LXX, a Aramaica e outras, têm 
valor no estudo do Hebraico Bíblico . 0 leitor 
notará no Comentário a discussão destas ver­
sões, e a preferência em alguns casos do texto 
na edição da Bíblia Hebraica de Ruã. Kittel da 
American Bible Society.
No preparo dêste Comentário, o autor vi- 
sm a não somente aos estudantes do Hebraico, 
mas também aos muitos pastores estudiosos que 
fizeram o seu curso teológico sem incluir o es­
tudo da língua de Sião. Êstes podem entender 
clardmente, e aproveitar-se das explicações do 
texto original do grande profeta.
No estudo desta profecia, surge o proble­
ma de algumas interpolações na obra origmal 
de Isaías. Mas, segundo os nossos estudos, al­
guns comentaristas exageram o número destas 
interpolações, e assim atribuem várias passa­
gens escritas por Isaías a outros escritores do 
tempo do cativeiro babilónico, e até ãe depois 
dessa época. Alguns destes não qiuerem enten­
der a larga visão do remo de Deus, e a profun­
deza das mensagens do profeta, e assim insis­
tem em que as profecias sobre a Nova Êpoca
A P R O F E C I A D E I SAÍAS
foram escritas muitos anos depois do tempo de 
Ismas. Mas alguns eruditos modernos reco­
nhecem a autenticidade destas passagens.
O autor apresenta a sua própria tradução 
do hebraico, cjue varia freqüentemente das ver­
sões em português e inglês, na esperança de 
que a versão mais literal possa ajudar no es­
clarecimento do sentido original da linguagem 
poética do livro. A maior parte da profecia foi 
escrita em poesia, e o reconhecimento dêste 
fato ajuda no entendimento mais claro da men­
sagem .
Além das obras mencionadas na Bibliogra­
fia, o autor reconhece que ele é devedor a mui­
tos estudos, e a muitas experiências da provi­
dência de Deus, como pastor, e como professor 
no Seminário Teológico do Rio de Janeiro.
A minha senhora, Dona Mattel, tem enri­
quecido a minha vida espiritual como compa­
nheira no serviço do Senhor. Além do seu 
trabalho mcansável de esposa e mãe, ela se 
aprofundou no estudo de português. Tem lido 
todos os méus manuscritos, corrigindo os erros 
tipográficos, e oferecendo sugestões importan­
tes sobre a linguagem de várias declarações.
Ê o desejo êo autor que esta obra seja útil 
aos pastores do Brasil e de Portugal no aumen­
to do seu conhecimento das verdades eternas 
apresentadas por êste nobre Mensageiro da Re­
velação Divina.
A . E. Crabtree
11 de agôsto de 1963
ÍNDICE
P refácio ...................................................................................... 7
Introdução................................................................................. 17
Análise dos Capítulos 1 -3 9 ...................................................... 51
A Profecia de Isaías — Texto, Exegese e Exposição............ 59
I. A Infidelidade de Judá e Jerusalém.............................. 59
A. O Sobrescrito.................................................................. 59
B. A Controvérsia do Senhor com o Seu P o v o ............. 60
1. A Ingratidão do Povo de Isra e l............................. 61
2. A Nação Pecaminosa............................................... 64
3. A Palavra do Senhor sôbre a Religião e a Vida 69
4. “Arrependei-vos” ....................................................... 75
5. Lamento sôbre Jerusalém........................................ 77
6. O Julgamento do S enhor........................................ 78
7. A Operação da Justiça Divina na Vida de Israel 79
8. A Vinda dos Povos ao Senhor de S iã o ............. 83
C. O Castigo da Idolatria e do Orgulho Humano no 
Dia do S en h or................................................................ 90
D. O Julgamento Divino de Jerusalém e de Judá . . . . 98
1. A Anarquia S o c ia l.................................................... 99
2. O Povo Arruinado..................................................... 103
3. Os Esmagadores do P o v o ........................................ 106
E. As Mulheres Altivas de Jerusalém............................. 107
F. A Beleza, e a Glória de Sião Purificada...................... 112
G. Um Cântico da Vinha do Senhor................................ 117
H. Ais Contra os Perversos............................................... 123
II. “Resguarda o Testemunho” 134
A. A Visão Inaugural de Isa ía s........................................ 134
B. Isaías e a Guerra Siríaco-Efraimita.........................146
1. O Sinal de Sear-Jasube............................................ 148
2. Sinal de Em anuel.................................................... 154
P ág in a
12 A. R. C R A B T R E E
3. A Invasão de Judá pelos Assírios e os Egípcios 165
4. O Sinal de Maher-Shalal-Has-Baz........................ 168
5. Os Dois Rios Simbólicos ......................................... 170
6. A Fé do Profeta no Senhor Emanu E l .................. 172
7. O Temor do Homem e o Temor de D eu s............ 173
C. Isaías Cessa as Atividades Proféticas........................ 175
III. Superstições dos Vacilantes na F é .............................. 177
A. Admoestações Contra o Espiritismo.......................... 177
B. À Lei e ao Testemunho................................................. 178
C. O Reino Messiânico........................................................ 180
D. O Julgamento de Efraim como Lição para Judá .. 186
IV. Não Temas a Assíria....................................................... 191
A. A Ameaça Arrogante da Assíria.................................. 192
1. A Jactância da Assíria............................................. 192
2. A Labareda do Senhor Consumirá as Florestas
da Assíria................................................................... 193
3. Um Restante de Israel e Judá Voltará ao Senhor 199
4. Sião Será Liberto do Jugo da A ssíria.................. 201
5. A Aproximação do Invasor...................................... 202
6. A Humilhação dos Invasores Orgulhosos............. 204
B. O Reino Pacífico e Justo do M essias........................ 205
1. O Rebento de Jessé .................................................. 206
2. O Messias e a Nova Glória de Is ra e l.................. 212
C. O Culto de Louvor pela Restauração de Israel .. .. 217
V. O Julgamento de Reinos e de P ov os............................. 220
A. O Destino da Babilônia................................................. 221
B. A Queda do Tirano das N ações.................................. 231
C. O Propósito do Senhor na Destruição da Assíria .. 242
D. A Alegria Prematura dos Filisteus............................. 244
E. Oráculo Concernente a M oabe .................................... 247
F. Oráculo sôbre a Aliança de Israel e a S ír ia ............. 258
1. Oráculo Concernente a D am asco......................... 259
2. O Abandono dos Íd o lo s ............................................ 261
3. O Culto de Adonis, uma Segurança Falsa .. .. 262
G. O Poder Mundial Se Levanta, e C a i ............................ 264
H. Profecia Concernente ao E g ito ................................... 266
1. Resposta do Profeta aos Emissários da Etiópia 267
2. Profecia Contra o E g ito ......................................... 272
Pág in a
A P R O F E C I A D E I SA íA S 13
3. Judá e Javé dos Exércitos, um Terror para os
\ Egípcios....................................................................... 279
\ 4. Os Egípcios e os Assírios Adorarão ao Senhor .. 280
' 5. Evitar Alianças Políticas com Estrangeiros .. .. 285
i. Uma Visão da Queda da Babilônia............................. 289
j . Oráculo Concernente a D um á...................................... 294
KL Oráculo Concernente à A rábia ................................... 296
Lj. A Leviandade Religiosa dos Habitantes de Jerusalém 298
M. A Degradação de Sebna, o Mordomo do R e i ............ 306
íí. A Profecia Contra T ir o ................................................. 311
1. Oráculo Concernente a Tiro e S id om .................. 311
2. A Restauração de Tiro Depois de Setenta Anos .. 316
. “Despertai e Cantai, os Que Habitais no Pó” ............. 318
A. O Bom Efeito do Castigo de Israe l............................. 321
1. A Terra Ficará Desolada por Causa do Pecado dos 
Seus Habitantes........................................................ 321
2. Um Clamor de Confiança....................................... 325
3. A Grande Catástrofe............................................. 327
4. O Julgamento e a Nova E r a .................................. 328
B. Maravilhas das Atividades do S en h or .................... 330
1. Salmo de Gratidão ao Senhor pelo Livramento do 
Seu P o v o .................................................................... 330
2. Uma Profecia da Idade M essiânica.................... 332
3. Outro Hino de Louvor Relacionado com a Hu­
milhação de M oa b e .................................................. 335
C. Um Pedido de Salvação Mais Perfeita ....................... 337
1. Hino de Gratidão pela V itória ................................ 338
2. O Povo Espera Ansiosamente os Juízos Retos do 
S en h or ........................................................................ 340
3. As Bênçãos da Disciplina e da Orientação Divina 342
4. Experiências Tristes Que o Povo Sofreu antes da 
Sua Redenção .. ..................................................... 344
5. Os Teus Mortos Viverão, os Seus Corpos Res­
suscitarão ............................................................. •• 345
D. Conclusão desta Mensagem de Aspirações e Espe­
ranças ............................................................................... 347
1. O Povo Deve Esconder-se até Que Passe o Jul­
gamento D iv in o ........................................................ 347
Pág ina
2. A Punição dos Podêres Cruéis do M undo............ ...348
3. Cântico do Senhor Concernente à Sua Vinha .. 349
4. A Significação da Disciplina Divina de Israel .. 351
5. Uma Profecia da Restauração dos Desterrados..jí 
de Israe l..................................................................... ...353
VII. Não Escarneçais para Fazer Mais Fortes os Vossos
Grilhões...............................................................................354
A. O Castigo Certo dos Impenitentes de Efraim e Judá 356
1. A Queda de Samaria, a Capital de Israel .. .. 356
2. Jerusalém, Bem como Samaria, Tem os Seus Bê­
bados, Incluindo Sacerdotes e P rofetas.................359
3. A Aliança com a Morte e com S h e o l.................. ...362
B. A Justificação das Atividades Providenciais do Se­
nhor em Relação com o Seu P o v o ............................. ...366
C. A Obra Maravilhosa do S enhor.................................. ...369
1. A Humilhação Iminente e a Libertação de Je­
rusalém ..........................................................................369
2. A Cegueira e a .Hipocrisia do P o v o ....................... ...371
3. A Religião Meramente Convencional Perecerá .. 373
D. A Rejeição da Segurança da Fé no S enhor................374
1. A Repreensão dos Conspiradores......................... ...374
2. A Redenção de Is ra e l.............................................. ...376
3. A Infidelidade na Aliança Política com o Egito 378
4. No Sossêgo e na Confiança Estará a Vossa Pôrça 381
E. O Poder do Deus Invisível............................................ ...386
1. Promessa para o Povo Sofredor de S iã o ............. ...386
2. Será Destruído o Inimigo do Povo de Deus .. .. 389
3. A Fôrça de Cavalos ou o Poder do Espírito do 
S en h or........................................................................ ...392
4. O Senhor dos Exércitos É o Defensor de Jerusalém 394
F. A Comunidade Ideal na Idade Messiânica............. ...397
1. O Estabelecimento do Govêmo Messiânico .. .. 398
2. A Transformação Espiritual do Povo na Nova Era 399
3. O Contraste entre os Característicos do Fraudu­
lento e os do N obre.....................................................400
4. Advertência Contra as Mulheres de Jerusalém 402
5. O Poder Transformador do Espírito na Idade 
Vindoura.................................................................... ...404
14 A. R. CRABTREE
Pág ina '
Página
VIU. “A Recompensa de Deus” ...........................................406
Al A Aflição e o Livramento de Jerusalém................... 407
1. O Apêlo do Profeta ao Senhor Contra os Opres­
sores dos Judeus....................................................... 407
2. Efeitos da Manifestação da Presença do Senhor 412
B . IA Indignação do Senhor Contra Tôdas as Nações .. 417
C. J Á Felicidade de Sião no Futuro.................................. 423
IX. A Influência de Isaías em Três Situações no Reino
de Ezequias................................................................ 427
A. Senaqueribe Exige a Capitulação de Jerusalém .. .. 429
B. O Rei Ezequias Recebe o Conselho de Isa ías............ 439
C. A Carta do Rei da Assíria............................................ 440
D. A Oração de Ezequias................................................... 442
E. O Profeta Conforta a Ezequias................................... 446
F. Sinal para os Sobreviventes......................................... 448
G. Mensagem sôbre a Retirada de Senaqueribe............ 449
H. O Desastre dos Assírios e a Morte de Senaqueribe 450
I. A Doença de Ezequias e a Sua Cura Maravilhosa 452 
J. A Embaixada de Merodaque-Baladã......................... 459
A PROFECIA DE ISAÍAS 15
\
\
I S A ! A S
INTRODUÇÃO, CAPÍTULOS 1 - 39
I. A História do Tempo de Isaías, 742-601
Não há outra obra do Velho Testamento que interesse 
tão profundamente aos estudantes bíblicos como o Livro 
de Isaías. O livro inteiro relaciona-se com mais de du­
zentos anos da história dramática da religião do povo de 
Israel. Neste período o reino do sul, ou de Judá, na pro­
vidência de Deus, sobreviveu à subjugação política pela 
Assíria, e, mais de cem anos depois, a pequena nação caiu 
no poder da Babilônia. A cidade capital, juntamente com 
o Templo do Senhor, foi completamente destruída; e o 
seu povo mais importante foi levado em cativeiro. Assim 
Judá escapou ao destino da morte nacional que Israel ti­
nha sofrido, para conservar o restante dos fiéis do povo 
do Senhor no Império da Babilônia. Êstes judeus passa­
ram longos anos no cativeiro, mas tinham o privilégio de 
habitar, ou viver como colônia, e assim manter em grande 
parte os seus costumes nacionais e a sua própria religião. 
Depois de setenta anos no cativeiro, êste grupo do povo 
escolhido do Senhor Javé, na providência divina, foi liber­
tado e restaurado para a sua terra, disciplinado e prepa­
rado pelo Senhor, para cumprir a sua missão dé trans­
mitir, através da sua própria história, a revelação do amor 
e do propósito do Senhor Deus para tôdas as nações do 
mundo.
O profeta Isaías de Jerusalém, com os seus ensinos' 
proféticos, imprimiu a sua influência pessoal no livro in­
teiro, mas as próprias mensagens dêle, segundo as evidên­
cias intèrnàs, são incluídas nos primeiros 39 capítulos da 
obra.
18 A. R. CRABTREE
0 profeta recebeu a sua visão inaugural no ano da 
morte do rei Uzias ou Azarias, e exerceu o seu ministério 
profético nos últimos 40 anos do século oitavo, no período 
dos reinos de Jotão, Acaz e Ezequias. É difícil determi­
nar a data exata dos respectivos governos dêsses reis, 
mas as conclusões dos estudantes modernos, à luz dos no­
vos conhecimentos arqueológicos, variam dentro de pou­
cos anos. Muitos concordam no ano de 742 a.C. como a 
data da visão inaugural do profeta.
Uzias começou o seu reino em 783; Jotão governou 
como regente de 750-742, e como rei de 742-735. Acaz rei­
nou de 735-715, e Ezequias de 715-687. Isaías exerceu o 
seu ministério profético entre os anos 742 e 701, e possi­
velmente por mais alguns poucos anos. Não há certeza 
de que tivesse proferido qualquer mensagem antes de ter 
recebido a visão da majestade do Senhor, no Templo.
Israel e Judá no Reinado de Uzias, 783-742
Por muitos anos depois da morte de Salomão e a di­
visão do Reino de Israel, havia contendas e lutas políticas 
entre os dois reinos, de significação local, especialmente 
na influência da religião e da ética do povo. Mas quando 
o Reino de Israel tornou-se mais poderoso sob o govêm o 
de Onri e Acabe, os dois reinos dos israelitas, no desen­
volvimento do comércio internacional, chegaram a reco­
nhecer a insensatez das contendas locais perante o desen­
volvimento do Império da Assíria.
Isaías nasceu e passou os primeiros anos da mocidade 
no período mais próspero na história de Israel e Judá des­
de o tempo de Salomão. Mas houve um período crítico 
na história dé Israel quando Salmanaser III começou a cam­
panha militar, com o propósito de aumentar o domínio da 
Assíria pela conquista das pequenas nações ao oeste e su­
doeste. Êle foi detido pela coalizão de Israel, Síria, Ha-
A P R O F E C I A D E 1SAÍAS 19
mate e outros pequenos aliados na batalha de Karkar ou 
Carcar, c. 853. Mais tarde, Jeú, rei de Israel, pagou tri­
buto à Assíria, c. 842. Por alguns anos depois, Israel 
manteve guerras com os arameus da Síria, II Reis 13:3. 
Judá também sofreu dessas lutas, II Reis 12:17-18. Mas 
por alguns anos, depois destas lutas, quando os ara­
meus ficaram impotentes e os assírios se preocupavam 
com problemas internos, Israel e Judá experimentaram o 
maior período de prosperidade na sua história.
Jeroboão II de Israel restabeleceu domínio sôbre a 
maior parte dos países governados por Salomão, II Reis 
14:25, 28. Do saque dêsses estados, e do tributo que dêles 
recebeu, ganhou Israel enormes riquezas.
Judá era menos poderoso, mas tornou-se próspero 
nessa mesma época, sob o governo de Uzias ou Azarias. 
A conquista de Edom e o pôrto de Elate do Mar Ver­
melho, II Reis 14:7, 22, lhe deu domínio sôbre o comér­
cio das caravanas entre o pôrto do Mediterrâneo e o les­
te. Uzias usou a renda dessas conquistas para desenvol­
ver a economia de Judá, e para fortalecer as suas defesas 
militares, II Crôn. 26:1-15. Quando Isaías começou o seu 
ministério público, Judá se achava no auge de sua pros­
peridade (Cp. Is. 2 :7 ).
Com o grande aumento dos tesouros de prata e ouro, 
de cavalos e carros, os ricos adoravam cada vez mais o 
luxo, e os privilegiados se regozijavam na prosperidade 
e na libertinagem, Is. 3:16-23; 5:11-22; 28:1; 32:9. Os 
ricos abusavam do poder para perverter a justiça e rou­
bar os indefesos, 1:23; 3:14, 15; 5 :23; 10:1,2. Os ava­
rentos ajuntavam casa a casa até que não houvesse mais 
lugar. Assim êles ficaram como os únicos moradores no 
meio da terra, 5 :8 . Nesta terrível desordem social, 
acompanhada pela hipocrisia religiosa, 1:11, o jovem pro­
feta proclamou a justiça do Santo de Israel, e o dia imi­
nente do julgamento do Senhor.
20 A . R. C R A B T R E E
Nessas condições econômicas, os políticos de Sama- 
ria e de Jerusalém nada queriam saber dos perigos pro­
clamados pelos profetas. Como Amós tinha dito: «Êles 
viviam sossegados em Sião, e sentiam-se seguros no mon­
te de Samaria», Am. 6:1. Os políticos, e até o povo em 
geral, não tinham o discernimento moral para reconhecer 
a gravidade da sua infidelidade para com o Senhor Javé, 
o Santo de Israel. Nem podiam entender que a sua pros­
peridade material tinha sido o resultado, em grande par­
te, do descanso político, enquanto que a Assíria estava 
preocupada com a subjugação dos vizinhos de Judá, com 
o preparo para estender a sua campanha militar na con­
quista das pequenas nações vizinhas, e até do seu grande 
rival, o Egito.
Antes da morte de Uzias, o Império da Assíria, sob 
o govêrno do nôvo imperador, Tiglate-Pileser, já come­
çara a campanha de 18 anos de conquista dos países vizi­
nhos ao oeste. Dentro de poucos anos êle subjugou Ar- 
pade, Damasco e Tiro, estendendo o seu domínio até Ha- 
mate no Orontes. Cêrca de 738, Menaém, de Israel, pa­
gou tributo enorme ao conquistador, II Reis 15:19-20. 
Não obstante o fato de que Judá se achava no caminho 
da marcha do poderoso exército da Assíria, não há qual­
quer indicação de que as autoridades de Jerusalémtives­
sem qualquer noção do perigo do conquistador.
A Confederação de Rezim, Rei da Síria, e Peca, 
de Israel
Alguns anos depois da subjugação de Israel por Ti­
glate-Pileser, Peca, assassino e usurpador do trono de 
Israel, fêz aliança com Rezim de Damasco, em revolta 
contra o domínio da Assíria. Cêrca de 735, êstes dois 
reis planejaram atacar a Judá, e obrigá-lo a entrar numa 
aliança política contra o domínio da Assíria, II Reis 15:
A P R O F E C I A D E I SAIAS 21
37; 16:5; Is. 7:1-2. É possível que o rei Acaz e os seus 
conselheiros de Jerusalém já haviam adotado a política 
de pedir o socorro da Assíria contra a aliança de Peca 
e Rezim.
Nos capítulos 7 e 8 de Isaías temos um relató­
rio resumido da entrevista do profeta com o rei Acaz. O 
mensageiro do Senhor revela claramente, nesta hora crí­
tica da história de Judá, o espírito profético no conselho 
ao rei na sua grande perturbação. Procura animar o rei 
com a mensagem do Senhor. O rei, da casa de Davi, deve 
acautelar-se e ficar calmo, e não deve ter mêdo, nem fi­
car desanimado «por causa destes dois tocos de tições fu- 
megantes». Êstes dois homens fracos e barulhentos es- 
gotar-se-ão sem poder executar o seu plano contra Judá. 
Isaías reconheceu que a Assíria se tornaria inimigo mais 
perigoso de Judá do que a aliança de Rezim e Peca. A 
aliança de Acaz com a Assíria mostra a falta de fé no 
Senhor Deus, e o perigo crescente para a religião do povo 
de Judá. Veja II Reis 16:7. Isaías aconselhou, em vão, 
que o rei de Judá se libertasse de alianças políticas e con­
fiasse no Senhor.
É difícil entender, à luz dos eventos subseqüentes, 
por que alguns escritores justificam esta submissão vo­
luntária à Assíria da parte do covarde Acaz. Êle aban­
donou a fé no Senhor Javé, o Deus do seu povo, fêz pas­
sar o seu filho pelo fogo, e entregou-se completamente 
à idolatria, II Reis 16:10-18. Assim, precipitou o envol­
vimento de Judá no seu declínio político e religioso. Não 
há nada na história dêsse homem para indicar que êle 
demonstrou no seu govêrno quaisquer qualidades de esta­
dista. Quando o rei Acaz recusou definitivamente a men­
sagem do Senhor e entregou-se ao domínio da Assíria, o 
profeta ficou quase inativo durante a maior parte do go­
vêrno dêsse rei infiel.
22 A. R. CRABTREE
Todavia, Isaías apresentou o seu apêlo ao povo numa 
série de breves mensagens, encontradas no capítulo 8. 
Por meio de um ato simbólico, êle ilustrou a destruição 
da Síria e de Israel. Com formalidade legal o mensagei­
ro do Senhor colocou uma placa num lugar público com a 
inscrição A Maher-shalal-hash-baz, o nome de um dos seus 
filhos, Rápido-despôja-prêsa-segura. Declarou, na ocasião, 
«Antes que o menino saiba dizer meu pai ou minha mãe, 
serão levadas as riquezas de Damasco, e os despojos de 
Samaria, diante do rei da Assíria» — Is. 8 :4. Mas o povo 
em geral, bem como as autoridades públicas mostraram 
a mesma insensibilidade espiritual e incredulidade religio­
sa. A pregação do profeta produziu apenas a cegueira 
mental e a dureza de coração, justamente de acôrdo com 
o significado da visão inaugural.
Quando o povo em geral chegou a desprezar a men­
sagem divina, o profeta cessou por algum tempo o seu 
ministério público, e marcou a ocasião por um ato signi­
ficativo. «Liga o testemunho, sela a lei entre os meus 
discípulos» — 8:16. A expressão fica obscura, mas tal­
vez se refira às mensagens proferidas durante a crise com 
Acaz, e que o profeta selou na presença de seus poucos 
discípulos como protesto contra a incredulidade nacional. 
É quase certo que havia, neste tempo de incredulidade 
geral, um grupo de discípulos do profeta, instruído e de­
senvolvido mais tarde como o restante fiel.
O Significado da Queda de Samaria, 721
Tiglate-Pileser aceitou com alegria o tributo de Acaz, 
matou o rei da Síria, conquistou a cidade de Damasco e 
levou cativa uma grande parte do seu povo. Colocou um 
títere no trono de Samaria, e assim fêz de Israel uma 
província da Assíria. Quando Tiglate morreu, em 727, o 
seu filho Salmanaser V ocupou o trono da Assíria, de 727-
A PROFECIA DE ISAÍAS 23
722. Oséias, rei de Israel, pagou tributo a Salmanaser 
por pouco tempo, e então conspirou com o rei do Egito 
contra a Assíria, II Reis 18:4, no esforço de ganhar a sua 
independência. Salmanaser respondeu logo com uma for­
te invasão de Israel. Sitiou a cidade de Samaria por mais 
de três anos, II Reis 17:2-6, e a cidade caiu finalmente no 
poder de Sargão II, sucessor de Salmanaser, no princípio 
do ano 721. Assim terminou o Reino de Israel. As Dez 
Tribos ficaram perdidas para sempre. Foi um caso de 
genocídio, ou a destruição nacional. Uma grande parte 
dos moradores da cidade, 27.290, foi deportada para a 
Mesopotâmia e Média. Samaria passou a ser habitada por 
uma população mista, e Judá limitava-se em parte com 
uma província do Império da Assíria, exterminador de 
nações.
Eventos no Reinado de Sargão 11, 721-705
No primeiro ano do seu govêrno Sargão sofreu uma 
derrota que lhe foi infligida pelo rei de Elão. Então sur­
giu logo entre as províncias do oeste, incluindo a Filístia 
e o Egito, uma revolta contra a Assíria, mas Sargão es­
magou os revoltosos na batalha de Ráfia. Devido pro­
vavelmente à influência de Isaías, Judá não tomou parte 
nesta batalha contra a Assíria. Na mensagem de 14:28- 
32, proferida talvez no último ano de Acaz, Isaías adver­
tiu aos filisteus de que o poder da Assíria ainda não fôra 
enfraquecido.
Surgiu entre os judeus, influenciados pelo Egito, mas 
sem o apoio de Isaías, um movimento revoltoso contra a 
Assíria, nos princípios do reinado de Ezequias. Numa 
inscrição de 711 Sargão menciona Filístia, Éden, Moabe 
e Judá, como os países obrigados a trazer tributo à Assí­
ria. Declara também que estas províncias tinham envia­
do sinais de homenagem a Faraó, príncipe sem poder de 
ajudá-las. Sargão despachou uma expedição militar con­
24 A . R. C R A B T R E E
tra Asdode, e com a queda do foco da conspiração, a re­
volta fracassou. Judá estava pagando tributo à Assíria, 
mas não há evidência de que tomasse parte nesta cons­
piração .
A invasão de Judá por Senaqueribe, 701
Com o assassínio de Sargão e o estabelecimento de 
Senaqueribe no trono da Assíria, em 705, surgiu entre 
as províncias do grande império o desejo e a esperan­
ça de libertarem-se do domínio cruel do seu opressor. 
Por alguns anos, 721-709, Merodaque-Baladã, o caldeu, ti­
nha oferecido resistência obstinada contra Sargão, e foi 
subjugado com dificuldade. Revoltou-se também contra 
Senaqueribe, e foi subjugado com duas campanhas do 
exército assírio. No seu poder crescente, o Egito ambi­
cioso aproveitou-se das perturbações políticas para fo ­
mentar a insurreição contra a Assíria. Nestas circuns­
tâncias, as províncias da Palestina e Fenícia uniram-se na 
revolta. Contra o conselho de Isaías, Ezequias, de Judá, 
tomou parte na conspiração.
De 705 a 701 o profeta Isaías dirigiu as suas mensa­
gens contra os conselheiros políticos que confiavam no 
socorro do Egito, 28:7-13; 28:14-22; 29:15-16; 30:1-7; 
31:1-3. Durante o govêrno de Ezequias, o grande mensa- 
géiro do Senhor exerceu o seu ministério profético vigo­
rosamente, mas aparentemente com poucos resultados até 
à crise na história de Jerusalém, quando aconselhou e per- 
súádiü ao rei Ezequias a recusar a entrega da cidade de 
Jerusalém ao poder de Senaqueribe, Is. 37.
, Nota-se uma certa mudança na pregação do profeta 
no período do govêrno de Ezequias. No princípio do seu 
ministério, o profeta denunciou em têrmos fortes o or­
gulho, a iniqüidade e a infidelidade religiosa do povo., 
Condenou severamente a. corrupção e a injustiça dos ricos
A P R O F E C I A D E I SA ÍA S 25
e das autoridades políticas. No período do govêrno de 
Ezequias o profeta olhou mais para o futuro, e discutiua operação do propósito do Senhor na história, e especial­
mente na história do povo do Senhor. Ao mesmo tempo 
êle denunciou severamente as intrigas políticas e a injus­
tiça social. Veja 28:14-15; 29:15-16; 31:1-3; 22:15-25; 
28:1-21; 29:9-14. Quando Ezequias pediu o socorro do 
Egito, o profeta denunciou «esta aliança com a morte», 
28:15.
Quando o rei e o povo confiavam no poder militar 
e nas alianças políticas, o conselheiro espiritual do seu 
povo declarou que a fé no Senhor Javé, o Santo de Israel, 
o Deus da história, era a única esperança segura para 
Judá. Ao mesmo tempo, o profeta reconheceu que a Assí­
ria era instrumento na mão de Deus para castigar o povo 
infiel de Judá. Mas declara firmemente que o arrogan­
te conquistador será humilhado, 10:5-16; 37:22-25.
Como um dos conspiradores contra o Império da 
Assíria, Ezequias aguardava a fúria da vingança de Se- 
naqueribe. Na sua terceira campanha militar o terrí­
vel conquistador invadiu as províncias no oeste. Êle des­
creve as vitórias e as conquistas dramáticas daquela ex­
pedição no «Taylor-Prism», agora no Museu Britânico 
(Veja a Arqueologia Bíblica do autor, p. 269). A sua 
narrativa não concorda perfeitamente nos pormenores 
com a da Bíblia, II Reis 18:13-16. Nota-se logo na sua 
narrativa a arrogância e o exagêro costumário dos fatos 
em favor da grandeza das vitórias militares, em contras­
te com a história clara e humilhante na Bíblia, II Reis 
18:17-37. Senaqueribe não oferece qualquer explicação 
porque abandonou o sítio de Jerusalém, mas dá a entender 
que foi por causa do grande tributo que tinha recebido 
de Ezequias.
Lembrando-se da sorte funesta de Israel, Ezequias, 
por motivos de patriotismo e da religião, recusou-se a en­
26 A. R. C R A B T R E E
tregar a cidade ao poder cruel da Assíria. Mas que podia 
fazer nessa situação extrema? Virou-se ao homem de 
Deus. Isaías tinha pregado corajosamente contra a polí­
tica de Ezequias na revolta contra a Assíria, mas nunca 
tinha perdido a fé no propósito do Senhor de salvar a ci­
dade de Sião do poder de Senaqueribe. Não obstante o 
fato de que o rei Ezequias havia seguido a política popu­
lar, contra o conselho do profeta Isaías, nesta grande 
crise êle recebe e segue o conselho do mensageiro do Se­
nhor, e recusa submeter-se às exigências arrogantes de 
Senaqueribe. O discernimento espiritual do mensageiro 
do Senhor fo i completamente verificado. De repente, 
uma pestilência terrível atacou o acampamento dos assí­
rios, e matou 185.000 homens do exército assírio, Is. 37 : 
36. Assim, Senaqueribe retirou-se repentinamente de 
Judá, voltou para a sua terra, e nunca mais voltou contra 
Judá e a cidade de Jerusalém. A sua política foi comple­
tamente alterada pelo desastre que sofreu na campanha 
contra Jerusalém. Quando consideramos o significado 
da salvação de Jerusalém do poder do exército cruel da 
Assíria, é difícil exagerar a importância dêsse evento do 
qual dependia o futuro da religião de Judá.
A inspiração divina que guiou o ministério profético 
de Isaías e a bênção da providência de Deus que honrou 
e conseguiu a realização das suas esperanças proféticas 
constituem a mais linda história, e o mais profundo en­
tendimento da religião do povo do Velho Testamento. 
Esta vitória da fé, juntamente com os eventos históricos 
de 701, termina apropriadamente a carreira pública dês- 
te nobre mensageiro do Santo de Israel.
II. A vida e o Ministério Profético de Isaías
Fora dos seus próprios escritos temos pouca infor­
mação sôbre a vida do profeta Isaías. Nasceu nos fins 
do período da prosperidade econômica, e do declínio reli-
A P R O F E C I A D E I S A Í A S 27
gioso de Israel e Judá. A poderosa nação da Assíria já 
começara a campanha militar contra o ocidente, com o 
propósito de conquistar o mundo. Isaías era menino quan­
do Amós, o primeiro profeta canônico, dirigiu ao reino de 
Israel a mensagem do julgamento divino sôbre a infideli­
dade daquela nação. Amós e Oséias já tinham iniciado 
o nôvo movimento profético, com novas revelações do 
caráter de Deus e novas interpretações dos princípios 
fundamentais do reino de Deus, quando Isaías recebeu a 
visão da santidade e da majestade do Senhor Javé, e res­
pondeu voluntàriamente à voz de Deus: «Eis-me aqui, en­
via-me a mim.»
Era filho de Amoz, distinguido claramente do pro­
feta Amós. Segundo uma tradição persistente entre os 
judeus, Amoz era de família nobre, irmão de Amazias, 
rei de Judá, II Reis 14:1. No seu espírito como profeta 
e como estadista, Isaías era mais nobre do que os reis de 
Israel e Judá. O profeta geralmente ocupava uma posi­
ção social nos círculos^ políticos e sacerdotais. A sua 
mentalidade aristocrática indicava a nobreza da família.
Em 8:3 a espôsa de Isaías é mencionada como pro­
fetisa, e alguns supõem que ela tivesse o dom e o espí­
rito de profecia. Mas é mais provável que as esposas dos 
profetas eram chamadas profetisas por cortesia, do mes­
mo modo como as mulheres dos sacerdotes eram deno­
minadas sacerdotisas. Isaías teve dois filhos e êle lhes deu 
nomes simbólicos: Sear-Jasube (Um-Restante-Yoltará); 
Maher-shalal-hash-baz (Rápido-despôjo-prêsa-segura).
Isaías exerceu o seu ministério profético nos últimos 
40 anos do século oitavo, e possivelmente por mais um 
pouco de tempo, mas não temos referência a qualquer 
mensagem dêle depois do ano 701. De u’a maneira es­
pecial êste homem de Deus tomou parte proeminente nas 
crises políticas e religiosas de Judá durante o seu mi­
nistério, e assim ganhou fama bem merecida como o
28 A . R. C R A B T R E E
maior estadista da época, se não do Velho Testamento. 
É certamente o mais poderoso profeta do Velho Testa­
mento. É claro que o Senhor levantou êste homem no 
período da apostasia do seu povo, e no tempo da expan­
são do Império da Assíria, que ameaçou a destruição do 
povo escolhido do Senhor. De acôrdo com a tradição, 
êle sofreu martírio às ordens do rei Manassés, e fo i pro- 
vàvelmente serrado ao meio (Cp. Heb. 11:37).
Em espírito aristocrático, Isaías comportou-se como 
príncipe entre os homens, falando sempre com a auto­
ridade do embaixador do Santo de Israel. Nas prega­
ções, bem como nas obras e nas atividades proféticas, 
êle sempre se apresenta como o mais alto exemplo da 
cultura de Judá. Sempre demonstra a capacidade inte­
lectual de analisar os problemas políticos e sociais do 
seu povo, e a habilidade profética de entender e interpre­
tar a mensagem do Senhor Javé, o Santo de Israel, de 
acôrdo com as necessidades religiosas dos seus patrí­
cios. Sempre demonstra a firmeza de caráter para pre­
gar as verdades da revelação divina como a única solu­
ção dos problemas políticos, éticos, sociais e religiosos 
de Judá. Observam-se, no estudo cuidadoso das suas 
mensagens, não somente os seus maravilhosos talentos, 
como também a perfeita harmonia no uso de seus dons 
no esforço de orientar as autoridades políticas, e a socie­
dade nacional nos deveres e nas responsabilidades mo­
rais de acôrdo com a vontade revelada do Senhor.
Como Amós e os outros profetas, Isaías era homem 
do seu tempo, influenciado pela história do seu povo, e 
pelas crises históricas da época. Mas a fôrça da sua 
personalidade, e seu discernimento espiritual dos sinais 
do tempo, e sua transmissão das verdades eternas da 
revelação divina para as gerações do futuro, elevaram 
êste mensageiro do Senhor acima da época transitória, 
e fizeram dêle um mensageiro de Deus para tôdas as ge­
A P R O F E C I A D E I S A ÍA S 29
rações subseqüentes. As verdades fundamentais que 
Isaías proclamou vivem ainda, e viverão eternamente. 
Não tinha, nem poderia ter, a última palavra da revela­
ção divina sôbre a glória e a graça de Deus, mas contri­
buiu muito para esclarecer as operações do Criador na 
história humana, e o propósito e poder do Controladordas atividades dos povos e das nações do mundo. A gló­
ria do Senhor enche o mundo inteiro, mas, na sua ma­
jestade maravilhosa, o Deus de Israel comunica-se com 
os seus profetas, e com todos os seus servos fiéis.
Nas meditações sôbre a morte do seu rei Uzias, o 
jovem experimentou a presença e o poder da santidade, 
da majestade e da glória de Deus. E naquela sublime 
visão, Isaías recebeu a incumbência de entregar-se nas 
mãos do Senhor, e dedicar a vida completamente ao ser­
viço do Senhor. O velho monarca tinha governado o 
reino de Judá no período da maior prosperidade nacio­
nal, mas estava nos últimos dias de sua vida, ou já ti­
nha morrido. É provável que Isaías já começara a en­
tender que a morte dêste poderoso rei do seu povo es­
tava marcando o fim de uma época na história de Judá, 
e o princípio do período de anarquia e confusão (Cp. 
3 :18 ). Assim, na visão foi permitido ao jovem pro­
feta entender, à luz da revelação da santidade e da ma­
jestade do Senhor, o pecado da infidelidade do povo e 
os sofrimentos que haviam de enfrentar por causa da 
sua infidelidade e dos seus pecados, 6:9-13. A revelação 
da Pessoa do verdadeiro Rei preparou Isaías para en­
frentar as responsabilidades e as obrigações morais de 
receber e transmitir ao seu povo obstinado e rebelde os 
seus ensinos, com coragem, confiança e persistência, 
na dependência do socorro divino.
As verdades eternas imprimidas no espírito de Isaías 
por essa experiência memorável são confirmadas pelos 
resultados do seu ministério profético. Desempenhou-se
30 A. R. CRABTREE
fielmente da incumbência que aceitou voluntariamente 
em resposta ao Senhor, «A quem enviarei, e quem há de 
ir por nós?» Manifestaram-se os resultados da pregação 
da mensagem de Deus na vida e na história dos insensí­
veis e incrédulos, bem como no espírito e na missão do 
restante fiel, o núcleo do povo regenerado pela graça de 
Deus.
Convém reconhecer os quatro períodos do ministé­
rio dêsse profeta, e a adaptação da mensagem profética 
às circunstâncias históricas da vida nacional. O pri­
meiro se estende desde a morte de Uzias em 742 até os 
princípios do reino de Acaz em 734. O segundo é o pe­
ríodo de conflito do profeta com o rei Acaz, nos princí­
pios do seu reino de 734-715. O terceiro se centraliza 
contra a política de aliança com o Egito contra o Impé­
rio da Assíria de 715-705. Na quarta divisão a profecia 
relaciona-se principalmente com a invasão de Judá por 
Senaqueribe, e a libertação de Jerusalém de 705-701.
1. As Profecias do Primeiro Período
É difícil determinar as ocasiões e as datas quando 
foram proferidas muitas das mensagens de Isaías. Essas 
questões serão discutidas mais elaboradamente no co­
mentário próprio. As pregações «a respeito de Judá e 
Jerusalém» nos capítulos 1-5 foram proclamadas provà- 
velmente no reino de Jotão.
As condições sociais e religiosas de Judá eram se­
melhantes às de Israel nos dias de Amós. Mas, devido 
às maiores relações políticas de Israel com outras na­
ções, e especialmente devido ao casamento de Acabe com 
Jezabel, o reino do norte foi mais influenciado pela re­
ligião dos fenícios do que o de Judá. Ao mesmo tempo, 
na ingratidão para com o Senhor, na religião de cerimo- 
nialismo, na infidelidade ao Senhor, e no fracasso mo­
ral, Judá não era superior ao Reino de Israel. O profeta
tm la dos pecados de Judá no espírito e no entendimen­
to do seu predecessor, Amós. O povo se mostra mais 
insensível aos favores de Deus do que o boi e a jumenta 
aos cuidados de seus donos, 1:3. A idolatria, a supers­
tição e a confiança nas riquezas são característicos da 
vida nacional, cp. 2. Os males sociais, a opressão e a 
injustiça praticadas contra os pobres e fracos pelos ri­
cos e poderosos, 3 :9 ,14,15, e o luxo e a vaidade das 
mulheres de Jerusalém, 3:16, são condenados com a 
mesma severidade do profeta Amós. Nesse período do 
seu ministério o profeta se apresenta como pregador da 
justiça e do juízo vindouro. Os dois assuntos mais acen­
tuados nas pregações dêsse tempo são o pecado do povo, 
especialmente dos ricos, e a certeza do desastre nacional, 
5:8-24. As passagens 9:8-21; 10:22-23; 32:9-14, e pro- 
vàvelmeinte outras, foram proferidas nesse período.
O povo de Judá em geral, como o de Israel, influen­
ciado, sem dúvida, pela religião mais fácil e mais agra­
dável dos cananeus, julgava que podia ganhar os favo­
res do Senhor Javé pelos serviços rituais e os sacrifícios 
custosos, apesar dos pecados e da infidelidade dos ofertan- 
tes, 1:10-17. A Parábola da Vinha, 5:1-7, proclama em 
têrmos claros que o Senhor esperava da casa de Israel, 
e dos homens de Judá, o juízo em vez de opressão, e a 
justiça em vez do clamor dos oprimidos.
Isaías proclama também o julgamento vindouro em 
têrmos claros e cintilantes. O dia do Senhor não será o 
dia de vitória e honra para o povo de Judá, como se es­
perava. Será antes o dia quando todo o soberbo e al­
tivo será humilhado perante a exaltada majestade e a 
glória do Senhor, 2:9-22. O Senhor mesmo virá em pes­
soa para julgar os anciãos e os príncipes do povo, 3:14. 
Em 1:24-26 o profeta olha para o futuro quando Judá 
será purificada, como era dantes. Então Jerusalém se 
chamará «idade de justiça, cidade fiel. Há dois lindos 
quadros da Idade Messiânica do futuro, 2:2-4 e 4:2-6.
A PROFECIA DE ISAÍAS 31
32 A . R. C R A B T R E E
2. O Conflito do Profeta com o Rei Acaz
No esforço de persuadir o rei Acaz a confiar no au­
xílio do Senhor, e não fazer aliança com a Assíria, o pro­
feta fracassou. Os profetas em geral sempre se mos­
travam contra alianças políticas das pequenas nações de 
Israel e Judá com as nações poderosas. Opuseram-se 
igualmente à violação de tais alianças que pudessem re­
sultar na sua subjugação, ou na sua ruína final. Apre­
sentam-se nos capítulos 7 e 8 a história do confli­
to de Isaías com o rei Acaz, e algumas mensagens sim­
bólicas dirigidas ao povo. Nesta segunda parte do seu 
ministério, o profeta se apresenta como conselheiro po­
lítico, e, segundo a opinião de muitos estudantes, como 
verdadeiro estadista. Instava com tôda autoridade pro­
fética para que Acaz renunciasse à confiança no auxí­
lio político, e confiasse no socorro do Senhor. «Se não 
crerdes, certamente não sereis estabelecidos.» Isaías en­
tendeu claramente a insensatez do rei Acaz em subme­
ter-se voluntàriamente ao domínio da Assíria, pagando 
tributo a Tiglate-Pileser para livrá-lo da ameaça da Sí­
ria e Efraim quando êle já havia começado o seu plano 
de conquistar os pequenos países ao oeste.
Com a rejeição da sua mensagem pelo rei e pelo 
povo em geral, o profeta interrompeu a sua atividade 
profética até à morte do rei Acaz. Houve, porém, um 
pequeno grupo de homens que ouviu com interesse as 
pregações do profeta. Entre êstes que se destacaram de 
entre a geração incrédula e insensível, e receberam com 
alegria os ensinos do mensageiro do Senhor, havia aquê- 
le restante fiel de que dependia o futuro do reino de 
Deus.
3. À Operação do Propósito de Deus na História
Com a morte do rei Acaz e a inauguração do rei 
Ezequias, Isaías reassumiu o seu ministério profético.
A PROFECIA DE ISAÍAS 33
A profecia contra os filisteus foi proferida neste perío­
do, 14:28-32. Durante êste período o profeta pregou 
freqüentemente, dirigindo as suas mensagens ao rei 
Ezequias, às autoridades políticas, no esforço de orien­
tar a vida nacional de acôrdo com a vontade do Senhor.
No ministério dêsse período (18:1-7; 19:1-15; 20: 
1-6; 22:1-25), nota-se uma certa mudança no interêsse 
e nas mensagens do profeta. Na primeira parte do seu 
ministério êle denunciou severamente o orgulho, a ini­
qüidade e a infidelidade religiosa do povo. Condenou 
igualmente a corrupção e a opressão do povo pelos ho­
mens ricos e poderosos. No reino de Ezequias o profe­
ta pensava mais profundamentena operação do propó­
sito de Deus na História. Continuou a censurar as in­
trigas políticas das autoridades, 28:14-15; 29:15-16; 
30:1-5; 31:1-3. Nos anos de 715 a 711 êle fala menos 
na injustiça e opressão, e trata do problema da queda de 
Samaria, e a extinção do reino das Dez Tribos. Fala 
mais claramente sôbre o problema que perturba os pen­
sadores de tôdas as gerações. O Império da Assíria era 
mais cruel do que a nação de Israel que êle tinha des­
truído. Vangloriou-se no sítio de Jerusalém, dizendo: 
«Porventura como fiz a Samaria e aos seus ídolos, não 
o faria igualmente a Jerusalém e aos seus ídolos?» Com 
clareza crescente o profeta anunciava a aniquilação da­
quele império envolvido no plano divino para o estabe­
lecimento do verdadeiro reino de Deus no mundo. É di­
fícil para alguns teólogos de hoje entender o ensino de 
Isaías, de que Deus pudesse usar o poder cruel da Assí­
ria na realização do seu propósito na direção da histó­
ria humana (10 :5 ). Depois de ser usada como instru­
mento na mão de Deus no castigo de Judá, a Assíria se­
ria destruída pelo poder supremo do Senhor, 10:5-17.
34 A. R. CRABTREE
4. A Invasão de Judá por Senaqueribe, e a Salvação 
de Jerusalém
Aparentemente, Ezequias não prometeu a Meroda- 
que-Baladã auxílio na revolta contra a Assíria. É cer­
to, todavia, que os países pequenos, vizinhos de Judá, en­
traram na conspiração contra o poderoso império, en­
corajados aparentemente pelo revoltoso Merodaque-Ba- 
ladã da província da Babilônia. Logo que subjugou êste 
persistente revoltoso da Babilônia, Senaqueribe, o nôvo 
rei da Assíria, iniciou a campanha militar contra as pro­
víncias revoltosas do oeste. Embora Judá não tomasse 
parte na aliança contra a Assíria, Ezequias, com o seu 
povo, ficou amedrontado perante a pavorosa campa­
nha militar de Senaqueribe. Seguindo o conselho dos 
políticos, Ezequias pediu a ajuda do Egito (28:7-13, 
14:22; 29:15-16; 30:1-7; 31:1-3). O mensageiro do Se­
nhor denunciou vigorosamente esta aliança com a morte, 
28:15, e a esperança falsa de achar segurança política 
por meio de alianças militares.
Isaías entendeu claramente a ambição e a política pe­
rigosa da Assíria, bem como a futilidade de qualquer 
aliança de Judá contra ela. A única fôrça de Judá con­
tra a agressão arrogante da Assíria não seria militar, mas 
sim o propósito do Santo de Israel, o Controlador da Histó­
ria. O rei Ezequias e os políticos aparentemente tinham dú­
vidas quanto ao valor do auxílio militar do Egito, e ten­
taram esconder do profeta os seus desígnios, 29 :15; 30:1. 
Mas o profeta acompanhava as atividades e os planos 
dêsses homens, e freqüentemente usava de linguagem 
irônica sôbre os seus esforços sutis de enganar o Todo- 
Poderoso (29:15; 30:1-12; 31:1-2). Nessa situação pe­
rigosa, Isaías usou métodos ainda mais drásticos para 
influenciar a opinião pública contra a rebelião. Por três 
anos êle andou «nu e descalço», 20:1-6, como sinal da
A PROFECIA DE ISAÍAS 35
humilhação que o Egito havia de sofrer às mãos da 
Assíria.
O profeta reconheceu que Judã também tinha que 
sofrer a invasão da Assíria, e que isto seria o julgamen­
to inevitável do Senhor. Assim, nas suas pregações, o 
mensageiro do Senhor procurou desenvolver o espírito 
religioso das autoridades e do povo, e prepará-los para 
enfrentar a tragédia sem perder a fé no Senhor da His­
tória, o Deus de Israel. Como tinha procurado persuadir 
o rei Acaz a não fazer aliança com a Assíria, agora êle 
se esforça para mostrar às autoridades a tolice de fazer 
aliança com o Egito em revolta contra a Assíria.
Na orientação divina, Isaí^s entendeu claramente 
os limites do poder da Assíria no eterno propósito de 
Deus. Releva notar, todavia, que o profeta nunca iden­
tificou a política da Assíria com o propósito moral do 
Todo-Poderoso. Veja 10:32 e 10:33. A crise na vida de 
Jerusalém ofereceu ao Senhor dos céus e da terra a oca­
sião de demonstrar a sua majestade, a sua glória e o 
seu poder no transtorno do poder arrogante da Assíria. 
A libertação de Jerusalém do poderoso exército militar 
de Senaqueribe é um exemplo supremo na história in­
teira da redenção poderosa do Deus Altíssimo. Foi a 
inauguração do reino de santidade, justiça e paz, reser­
vado para o restante purificado do povo escolhido.
A orientação e o encorajamento do rei Ezequias pelo 
profeta nessa ocasião, com os seus resultados de eterna 
significação para o reino de Deus no mundo foi uma 
conclusão apropriada do ministério dêsse grande homem 
de Deus. «Com os pés na terra firme, a cabeça nas nu­
vens e o coração nas verdades eternas do Deus verdadei­
ro», êste servo de Deus entendeu claramente a injustiça 
política e a infidelidade religiosa do seu povo. Homem de 
convicções inabaláveis, êle pregava fielmente as verdades 
eternamente operativas na vida dos homens e das nações.
36 A. R. CRABTREE
Na comunhão entranhável com o Espírito do Senhor Oni­
potente, êste pregador da justiça divina tinha a autori­
dade e o poder de apresentar a mensagem de esperança 
ao seu povo na hora da angústia, e assim salvou o reino 
enfraquecido de Judá da tragédia nacional que ocorrera 
com o Reino de Israel.
III. A Teologia de Isaías
Não há diferença especial entre os ensinos teológicos 
de Isaías e os outros profetas da época. Êles concordam 
nos ensinos sôbre a natureza e o caráter do Senhor Javé, 
o Deus de Israel; a controvérsia divina com o povo de Is­
rael e Judá; o julgamento vindouro de Israel e Judá pela 
agência da Assíria; e o estabelecimento final do reino de 
Deus no mundo. Isaías, porém, entendeu mais claramen­
te do que os outros profetas os fatos políticos da história 
humana. Como resultado da visão inaugural, êle enten­
deu mais claramente a santidade, a majestade e a glória 
eterna de Deus, a missão de Israel, e o futuro do Reino 
Messiânico do Senhor dos céus e da terra.
Pois na experiência religiosa de Isaías, Deus era o 
Soberano, o Exaltado, o Senhor Javé dos Exércitos, o 
Santo cuja glória enchia tôda a terra. No seu alto e su­
blime trono o Senhor Javé é o Rei, não somente de Israel, 
mas o Soberano absoluto e universal do mundo inteiro. 
As criaturas resplandecentes, os serafins, que refletem e 
proclamam a glória divina, são cônscios das suas imper­
feições em comparação com a majestade do Senhor, e co­
brem o rosto e os pés na presença do seu Criador.
O profeta contemplava profundamente o mistério so­
lene da visão que recebera do Senhor; o fogo simbólico 
da expiação; a severidade da mensagem divina dirigida ao 
povo de Israel; e acima de tudo a santidade inacessível do 
Senhor Javé. A significação radical de santidade é sepa­
ração, mas o que separa o Senhor do universo que Êle
A PROFECIA DE ISAÍAS 37
criou é a bondade e a justiça do seu propósito nas ativi­
dades de preservar e dirigir as obras da criação. A san­
tidade ou a divindade descreve a superioridade infinita do 
Senhor em relação às criaturas do mundo. A santidade 
não descreve qualquer atributo especial da natureza di­
vina, mas declara apenas a noção da divindade, na sua 
distinção de tôdas as outras formas de existência.
O têrmo santidade, per si, não especifica qualquer 
atributo de Deus, mas toma a sua qualidade da natureza 
e do propósito de todos os atributos do Senhor, como a 
bondade e a justiça, 5:16. A bondade, a justiça e o amor 
de Deus são absolutos. Tôdas as virtudes humanas são 
relativas. A justiça soberana é pessoal nas relações com 
o homem criado à imagem de Deus. No seu amor e na 
sua justiça Deus fala à consciência do homem, exigindo 
dêle a submissão e a obediência. Mas é na revelação pró­
pria do Senhor que o homem conhece a vontade e o pro­
pósito de Deus para a sua vida na sociedade humana. O 
Santo de Israel é o Rei soberano na história de tôdas as 
nações. Não obstante o fato de que os homens não enten­
dem perfeitamentea significação das obras divinas, é o 
Senhor Javé quem governa a História de acôrdo com o 
seu eterno propósito na criação do homem (Cp. 5:12,19; 
28: 23-29; 29:14).
O Santo de Israel é inteiramente diferente de outros 
santos: na sua natureza, na soberania, no propósito das 
suas atividades, e na exigência de obediência universal 
à sua vontade.
A glória do Senhor relaciona-se com o universo in­
teiro. «Tôda a terra está cheia da sua glória.» Santo, 
santo, santo é o Senhor dos Exércitos. Esta afirmação 
dos serafins declara o que Deus é em si mesmo. Tôda a 
terra está cheia da sua glória. Esta declaração descreve 
o que Deus é na revelação. Assim o cântico dos serafins 
declara que a plenitude da terra inteira é a glória de 
Deus.
38 A. R. CRABTREE
0 Senhor Javé na História
A doutrina da soberania de Deus, acentuada nos 
ensinos de Isaías, levou o profeta a pensar na revelação 
do propósito do Senhor na História. No propósito do seu 
reino, o Soberano pergunta na visão quem há de repre­
sentá-lo na terra. Desde então, Isaías pensava no pro­
pósito do Senhor que se realiza progressivamente no go- 
vêmo providencial do mundo, 5:12; 10:12,23; 14:24,26,27; 
28:21-24. A obra do Senhor significa para o profeta o 
estabelecimento do seu Reino de Justiça no mundo. É 
o ato final e decisivo que o Senhor executará na grande 
consumação da História.
As autoridades irreligiosas não podiam entender as 
obras e as atividades do Senhor na direção da História, 
5:12. Permaneciam cegas quanto à operação da provi­
dência de Deus na vida dos homens e das nações. O gênio 
de Isaías, em comunhão com o Espírito do Senhor, per­
cebeu que o reino do Senhor é supremo, não somente 
na esfera da natureza física, como também no govêmo 
da história humana. Como a glória do Senhor enche tôda a 
terra, assim também a atividade do Criador penetra tôda 
a história humana. Como os homens eram cegos quanto 
à glória do Senhor, assim também os irreligiosos zomba­
vam das atividades de Deus no controle da história dos 
homens e das nações.
Isaías, como Amós, acentuava os atributos austeros 
do Senhor. Fala freqüentemente sôbre a sabedoria, o 
zêlo e a ira do Senhor, 28:29; 31:2; 9 :7 ; 9:19; 10:6. A 
justiça divina liga-se diretamente com a santidade do 
Senhor, 5:16. Embora Isaías, de Jerusalém, não fale do 
amor como atributo do Senhor Javé, o Santo de Israel, 
êle reconhece claramente o propósito da graça de Deus 
em tôdas as suas relações com Israel, 30:18. No senti­
mento vigoroso de Isaías, Deus se apresenta como o So-
A P R O F E C I A D E I SA ÍA S 39
berano absoluto, de majestade suprema e de glória infi­
nita. Deus fala aos homens por intermédio do profeta 
Isaías como o Senhor Javé dos Exércitos, com a autori­
dade do Criador e do Rei dos céus e da terra.
O Senhor Javé e Israel
O concêrto do Senhor com o povo de Israel deter­
minou o desenvolvimento das escrituras do Velho Tes­
tamento. Mas neste sentido temos que entender a signi­
ficação do concêrto, Giên. 12:3 e Êx. 19:1-6. Isaías, como 
os outros profetas, baseou a sua mensagem ao povo nesta 
relação especial entre o Senhor e a nação de Israel. De 
acôrdo com o concêrto, o Senhor Javé é o Deus de Israel, 
e Israel é o povo de Deus. É evidente em todos os escri­
tos proféticos que o povo em geral não entendeu clara­
mente a verdadeira significação do concêrto. Israel se 
ufanava da sua relação peculiar com o Senhor, mas não 
quis entender ou aceitar a responsabilidade religiosa que 
o concêrto lhe impunha. Javé é o Deus de Israel num 
sentido especial. E, correlativamente, Israel é o povo do 
Senhor num sentido especial.
Porquanto a sua religião fôsse nacional, segundo os 
profetas, Israel tinha a incumbência de servir ao Senhor 
como nação sacerdotal. Por intermédio dos profetas, o 
Senhor trata com o povo de Israel no seu conjunto. O 
pecado do israelita é reconhecido como delito nacional. 
Todos os israelitas tinham que reconhecer e honrar ao 
Senhor Javé na vida pessoal, mas sempre como membro 
do conjunto nacional. Em virtude da solidariedade nacio­
nal, todos os israelitas, em tôdas as esferas da vida, 
eram responsáveis perante o Senhor pelos pecados ou 
pela fé e obediência do grupo.
Deus como Soberano universal, em virtude do seu 
propósito na escolha de Israel, era Rei, num sentido es­
40 A . R. C R A B T R E E
pecial, dêste povo. Israel, por sua parte, representava o 
reino de Deus na terra. Isaías era o mensageiro do Rei, 
comissionado para falar ao povo e orientá-lo de acôrdo 
com a revelação do Senhor Soberano. Portanto, Isaías, 
como os outros profetas, se esforçava para estabelecer 
as relações de harmonia espiritual entre o Rei e o povo 
do seu reino. Para êste profeta a religião nacional resu­
mia-se na frase a santificação do Senhor dos Exércitos 
(8:13; 29:33).
O julgamento do estado moral de Israel pelo profeta 
era simplesmente a aplicação dêstes princípios às con­
dições sociais é religiosas do povo da época. Experimen­
tando a visão da Santidade do Senhor, o jovem Isaías 
sentiu-se perdido, separado de Deus pela sua impureza. 
Logo em seguida, êle reconheceu a condição pecaminosa 
da vida inteira de Israel como nação. O seu próprio pe­
cado foi purificado pelo contato com o fogo divino, o 
símbolo da santidade do Senhor. Mas aprendeu na mesma 
ocasião que o único fogo que poderia purificar a nação 
mergulhada na iniqüidade era o fogo do julgamento su­
premo, que podia queimar ou destruir os elementos peca­
minosos de Israel, deixando apenas o restante indestru­
tível, a santa semente, 6:13.
A visão da Santidade do Senhor, na sua majestade 
e justiça, preparou o jovem para entender e interpretar 
a insensibilidade, a impureza, e a corrupção do povo em 
geral, bem como a tirania, a injustiça e a hipocrisia das 
autoridades políticas, ricas e poderosas, 29:13; 1:10-17; 
1:4.
Nas circunstâncias religiosas da época, Isaías enten­
deu que a sua pregação teria o efeito de afastar o povo 
hipócrita ainda para mais longe do Deus Santo. Israel 
como nação tinha abandonado ao Senhor, e o Senhor o 
rejeitara.
A PROFECIA DE ISAÍAS 41
Uma das doutrinas básicas e fundamentais dêste 
mensageiro do Senhor é que a fé tem que ser o motivo 
e a fôrça da orientação de Israel na sua vida política, 
bem como na vida religiosa, 7 :9 . Aquêle que crer não se 
apressará, 28:16. Na tranqüilidade e na confiança será a 
vossa fôrça, 30:15. Estas declarações nos oferecem a 
chave para abrir o entendimento desta grande profecia. 
Quando o destino do povo em geral foi determinado pela 
incredulidade e a infidelidade, os que se separaram dos 
pecaminosos e incrédulos da época eram orientados e 
abençoados de acôrdo com a sua fé no Santo de Israel. 
Portanto, o julgamento iminente de Israel não apresenta 
quaisquer terrores para aquêles que crêem na palavra 
certa da Revelação.
Os Ensinos Escatológicos de Isaías
Os escritores do Velho Testamento são os primeiros 
entre todos os povos antigos do mundo que apresentam 
um conceito distintivo, definitivo e coerente do signifi­
cado da História. A origem histórica da religião bíblica 
forneceu aos escritores a chave para a interpretação da 
História. Os mensageiros da revelação de Deus sabiam 
interpretar as atividades do Senhor na sua vida nacional. 
Entenderam não somente o propósito do Senhor, na sua 
própria história, como também na criação do mundo para 
o serviço e o desenvolvimento da humanidade inteira. 
O Criador dos céus e da terra está dirigindo a história do 
mundo para o alvo que êle mesmo predeterminou.
Mas, como os outros profetas, Isaías reconheceu a 
desarmonia, a incoerência e as imperfeições religiosas do 
povo de Israel, em comparação com o reino ideal do fu­
turo que pela fé no Deus Santo e Justo esperava. Aparen­
temente, os profetas do século oitavo esperavam uma 
catástrofe física e social,seguida por uma nova ordem 
do reino de Deus na terra, no qual tôdas as fôrças da
42 A . R. C R A B T R E E
natureza se tornariam subservientes às necessidades da 
humanidade completamente renovada.
Há quatro elementos nos ensinos de Isaías sôbre o 
futuro do reino de Deus: O Dia do Senhor, O Restante, O 
Reino Messiânico e A Inviolabilidade de Sião. Alguns 
dizem que há contradições nestes ensinos. É verdade que 
as circunstâncias históricas e religiosas determinavam a 
variação da ênfase em cada um dêles, mas isto certa­
mente não significa contradições. Significa antes a har­
monia no julgamento divino da massa do infiéis e do Res­
tante Fiel.
O Dia do Senhor
Isaías, 2:12-21, como Amós, 5:18, descreve o Dia 
do Senhor como o dia que será contra todo soberbo e altivo, 
e contra todo o que se exalta, para que seja abatido, 2:12. 
No conceito do Dia do Senhor, os dois profetas explicam 
as conseqüências da rebelião e da infidelidade de Israel 
e Judá. Naquele dia o Senhor se apresentará no esplen­
dor da sua glória e da sua majestade para julgar os po­
vos, a soberba, a autoridade e o poder dos homens infiéis. 
Todos êstes serão abatidos, e lançarão às toupeiras e aos 
morcegos os seus ídolos de prata e os seus ídolos de ouro 
que fizeram para adorar, 2:20.
Isaías não limitou a significação do Dia do Senhor 
ao desastre da invasão de Judá pelos assírios. Reconheceu 
que o Senhor usou a Assíria como instrumento para o 
castigo de Judá, e ensinou também que o propósito de 
Deus visava à destruição do cruel Império da Assíria. 
Depois da retirada do exército de Senaqueribe que infli­
giu um desastre terrível contra Judá e Jerusalém, Isaías 
reconheceu que o Dia do Senhor, o Santo de Israel, seria 
o alvo da história humana quando o reino da justiça di­
vina fôsse estabelecido na terra.
A PROFECIA DE ISAÍAS 43
O Restante Fiel do Senhor
Por meio do nome de um dos seus filhos o profeta 
proclama esta doutrina do Restante fiel: Sear-Jasube 
(Um-Restante-Voltará). O ensino do significado dêste 
nome do filho indica que Isaías, bem cedo, talvez desde 
a visão inaugural, 6:13, nutria a esperança, se não a cer­
teza, de que um restante do povo de Israel seria salvo do 
desastre vindouro. Não há qualquer contradição neste 
ensino do arrependimento e salvação de um grupo fiel 
ao Senhor, e a infidelidade persistente da massa que as­
sim traria sôbre si a destruição completa. O fogo do 
julgamento, como a brasa viva da visão, pode destruir, 
5:24; 9:19, ou pode purificar, 1:25,26. O Senhor não 
podia abandonar Israel, o seu povo, enquanto houvesse 
alguns sobreviventes da Filha de Sião, 1 :9 . O propósito 
divino no castigo de Israel é a disciplina para que o povo 
reconheça a sua infidelidade, se arrependa da iniqüidade 
e se volte ao Senhor, 9 :13; 10:12. Mas para os revolto­
sos persistentes contra o Senhor a destruição final é ine­
vitável, 28:22. Deus pode perdoar, purificar e salvar os 
pecadores que se arrependem e se voltam com fé ao 
Santo de Israel. A ameaça para os infiéis toma-se uma 
gloriosa promessa para os fiés. Um-Restante-Voltará. 
Naquele dia o restante de Israel e os sobreviventes da 
casa de Jacó nunca mais se estribarão naquele que os feriu, 
mas se estribarão no Senhor, o Santo de Israel, 10:20.
Quanto ao Reino de Israel, Isaías não esperava mais 
do que um pequeno número de sobreviventes, 17:5,6, por­
que aquela nação como tal tinha que sofrer o extermínio. 
Quanto a Judá, a promessa de salvação foi limitada ac 
número das pessoas que receberiam a mensagem do pro 
feta e se arrependeriam, depositando a fé na graça sal 
vadora do Senhor. Em 10:20-23 o restante é constituído 
dos escapados de Jacó. Mas é provável que Isaías pensava 
em formar, ensinar e treinar o grupo de seus discípulos.
44 A . R. C R A B T R E E
8:16-18, como o grupo fiel ou o núcleo do reino futuro 
do Senhor. Êste resto indestrutível dos israelitas, ou da 
casa de Jacó, levou o profeta Isaías, desanimado com os 
resultados da pregação da Palavra de Deus, a reconhecer 
que o seu serviço como mensageiro do Santo de Israel 
tinha valor inestimável e permanente para a religião do 
futuro.
O Reino Messiânico
O têrmo Messias originou-se do costume de ungir
com óleo, 5 pessoas ou cousas, e assim separá-las
- T
para um serviço especial do Senhor. O têrmo Messias, 
ungido, usa-se no Velho Testamento para designar o Rei 
Ideal da casa de Davi, sempre com a esperança de que êle 
estabeleceria o reino ideal de justiça. Teórica e simboli­
camente todos os reis eram ungidos do Senhor, represen­
tantes do reino de Deus na terra. Mas na prática muitos 
dos reis contribuíram para a corrupção do govêrno, e o 
desvio do povo para a infidelidade e a idolatria.
Não há outro profeta que tenha entendido tão clara­
mente o fracasso religioso do povo escolhido como aquêle 
que havia experimentado a visão da santidade do Senhor. 
Mas êste mensageiro zeloso do Senhor nos apresenta tam­
bém o Rei Ideal do futuro, o Rei Messiânico da casa de Davi. 
A figura dêste Rei e do seu reino apresenta-se freqüente­
mente na obra de Isaías, 7:14-17; 9:2-7; 11:1-9; 32:1-5.
Opiniões variam quanto à ordem cronológica destas 
passagens, e também quanto à interpretação do seu signi­
ficado. Não há razão suficiente para se duvidar de que 
êstes trechos são profecias genuínas de Isaías. O con­
traste entre os ensinos destas passagens e o teor da pro­
fecia que trata da infidelidade da massa do povo concor­
dam perfeitamente com a visão inaugural e as experiên­
cias subseqüentes do profeta. Não há razões suficientes 
para se rejeitar a interpretação messiânica do oráculo
A PROFECIA DE ISAÍAS 45
de 7:14-17. A passagem evidentemente se relaciona com 
9:2-7. Nestes dois oráculos o destino nacional depende 
do nascimento da Criança. Êste fato indica que Emanu EI 
ó idêntico à Criança Maravilhosa de 9:6,7. Em 7:14 a 
criança é Deus Conosco, e em 9:6 é Deus Forte, Pai da 
Eternidade, Príncipe da Paz. A criança nascida da virgem, 
Mat. 1:23, é o Messias, o herdeiro maravilhoso do trono 
de Davi. Isto não é declarado na passagem, mas o pro­
feta reconhece que a incredulidade de Acaz determina o 
destino trágico para a nação, e desde então o profeta de­
posita sua confiança no restante fiel. Êle declara aqui 
como o Rei Messiânico há de nascer . Em 9:1-7 êle men­
ciona os atributos divinos do Messias que lhe deram a 
habilidade de inspirar e guiar o restante que tinha andado 
nas trevas, para ver e andar na luz resplandecente do Se­
nhor. Em 11:1-9 o Messias é um rebento do tronco de 
Jessé, dotado com o Espírito do Senhor, o espírito de sa­
bedoria e entendimento, o espírito de conselho e de forta­
leza, o espírito de conhecimento e do temor do Senhor. Os 
atributos conferidos ao Rebento pelo Espírito do Senhor 
significam, como as outras passagens, a divindade do Ungi­
do do Senhor. O Espírito do Senhor confere ao Rei Messiâ­
nico o discernimento e a energia devocional para executar 
o govêrno perfeito do seu reino eterno de justiça e paz.
Os versículos 1-8 e 15-18 do capítulo 32 descrevem o 
reino justo e reto do Messias. 0 profeta não fala, nestas 
passagens, nos atributos divinos do Rei ideal, menciona­
dos nos capítulos 9 e 11, mas descreve a perfeição do go­
vêrno do Messias vindouro.
A Inviolabilidade de Sião
Portanto, assim diz o Senhor Javé:
Eis que estou assentando em Sião, uma pedra, 
uma pedra já provada, 
pedra preciosa de esquina, de fundação segura; 
aquêle que crê não se apresse, 28:16.
46 A. R. CRABTREE
Nos dias de Ezequias os assírios ameaçaram Jerusa­
lém, e no sítio da cidade pelo exército poderoso de Senâ- 
queribe, a destruição do monte do Senhor parecia inevi­
tável. Mas o Senhor tinha revelado ao profeta o propó­
sito de salvar Jerusalém, mostrando-lhe embora, também, 
a necessidade imperiosa de castigar e disciplinar o povoantes que o reino divino pudesse ser aperfeiçoado. Em vá­
rias declarações o profeta reconheceu a Sião como o centro 
do reino futuro do Senhor, 1:26,27; 2:2-4; 8:18; 14:32; 
18:7; 28:16; 29:1; 30:19,29; 37:32.
Isaías viu a glória do Senhor no Templo, o lugar da 
habitação divina na terra. Nos últimos dias o reino de 
Deus será estabelecido no monte da casa do Senhor, 2 :1 . 
No tempo do maior perigo o Senhor assentou-se no Monte 
Sião, e defendeu a cidade contra os inimigos. Assim ma­
nifestou o seu poder perante tôdas as nações. Sião como 
o Santuário do Senhor é inviolável. Será salvo na crise 
do julgamento, e será o refúgio dos salvos da calamidade 
nacional. A santidade de Sião, como o resto fiel da casa 
de Davi, é o penhor divino da indestrutibilidade da cidade 
dos servos fiéis do Senhor.
Alguns pensam que esta convicção inabalável do 
profeta a respeito da inviolabilidade de Sião firmou-se 
nos últimos dias do seu ministério. Há, porém, numero­
sas referências ao Monte Sião, como a habitação do Se­
nhor, em várias partes da profecia. E estas referências a 
Sião como a habitação do Senhor indicam que esta cer­
teza do profeta a respeito de Jerusalém como o centro do 
reino eterno do Senhor era um dos princípios básicos nos 
ensinos de Isaías.
IV . Característicos Literários do Profeta Isaías
A maior parte da sua profecia foi escrita em forma 
de poesia. É muito semelhante à estrutura da poesia 
dos Salmos, de Provérbios e de outras profecias. Os co­
A P R O F E C I A D E I SA ÍA S 47
mentaristas modernos geralmente reconhecem três ou 
quatro espécies de composição na profecia. Os oráculos 
são as declarações ou as mensagens que o profeta recebe 
diretamente do Senhor, com a incumbência de transmi- 
ti-los ao povo como a Palavra de Deus. As memórias são 
as narrativas autobiográficas que o profeta conta ao povo. 
São geralmente explicações da chamada ao ministério 
profético, ou de outras experiências pessoais com Deus. 
A biografia profética distingue-se das memórias, porque 
são narrativas a respeito do profeta contadas por outras 
pessoas, e não pelo profeta mesmo, como no caso de 7 :1-17.
Oráculos
O elemento de suprema importância da profecia é 
o Oráculo, ou a mensagem que o profeta recebe direta­
mente do Senhor com a vocação de transmiti-la ao seu 
povo. O oráculo é geralmente proclamado como a Pala­
vra de Deus. Ao mesmo tempo o profeta podia sentir-se 
incumbido de publicar em forma permanente a mensagem 
recebida do Senhor, Jer. 36:1-4. Isaías, como Jeremias, re­
conheceu a incumbência pessoal de apresentar uma série 
de seus oráculos na forma escrita, 8:16-18; 30:1. Quando 
o profeta declara: Assim diz o Senhor, 10:24;37:6, êle 
é o portador da mensagem da autoridade do Senhor, o 
Deus Soberano.
O oráculo podia tomar a forma de repreensão, ameaça, 
exortação ou promessa. Estas formas aparecem, às vêzes, 
em combinação, como repreensão e ameaça, ou como exor­
tação e promessa, 5 :8 ; 5:24; 10:1-4; 10:20; 7:4-6. O 
profeta verdadeiro não falava da sua própria volição, por­
que sempre se sentia constrangido pela vontade do Se­
nhor, Jer. 20:7-9.
Quando o profeta tinha a certeza de que havia sido 
comissionado pelo Senhor, a experiência da chamada e da
48 A. R. C R A B T R E E
comunicação espiritual com Deus influenciou profunda­
mente o seu ministério profético e fortaleceu a mensa­
gem para com os ouvintes (Cp. Jer. 20 :9 ).
Memórias
Estas narrativas autobiográficas aparecem na for­
ma de prosa, mas encontram-se nelas, de vez em quando, 
alguns breves oráculos pessoais, 6:8-13; 8:1,5-8, 12-15. 
No capítulo 6 Isaías conta uma das mais importantes 
narrativas autobiográficas em tôda a literatura profética. 
É a história da experiência pessoal com o Senhor quando, 
por meio da visão inaugural, o jovem sentiu-se vocacio­
nado e comissionado como mensageiro do Santo de Israel.
Biografia Profética
Esta forma da literatura profética consta de narra­
tivas escritas sôbre as atividades do profeta por outra 
pessoa, como 7:1-17; 20:1-6; 36:1-39:8. Mas há opiniões 
diferentes a respeito dos capítulos 36-39. Alguns escrito­
res pensam que a primeira passagem, 7:1-17, foi origi­
nalmente autobiográfica, e foi mudada em biográfica por 
algumas pequenas mudanças do texto, dando a entender 
que é a mensagem de Isaías, mas escrita por outra pessoa, 
Mas o profeta certamente podia escrever na terceira pes­
soa sôbre as suas próprias experiências. Encontram-se 
também oráculos em algumas destas narrativas biográ­
ficas, como 37:22-29; 38:10-20. Algumas destas passa­
gens biográficas apresentam problemas críticos que serão 
discutidos no comentário.
V . O Texto Massorético e o Rôlo do Mar Morto
O nosso comentário baseia-se quase que inteiramente 
no hebraico do Texto Massorético datado em 895, e guar­
dado atualmente no Cairo. Seguimos, de vez em quando,
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o texto sugerido na margem da Bíblia Hebraica, editada 
por Rud. Kittel da American Bible Society, ou outras 
versões aprovadas por alguns dos mais eruditos comen­
taristas. Não temos exemplares dos outros dois manus­
critos antigos guardados em Alepo e Leninegrado, mas 
apenas algumas referências dos mesmos em outras obras. 
Temos um exemplo dos LXX que consultamos freqüen­
temente .
Passaram-se quinze séculos desde o tempo do profeta 
Isaías até à publicação do Texto Massorético da sua pro­
fecia. Êste texto foi transmitido através dos anos com 
muito cuidado e fidelidade. Mas no correr dos anos o 
texto original inevitàvelmente sofreu algumas pequenas 
modificações na transmissão, devido aos erros dos copis­
tas, e talvez, em raros casos, devido ao esforço de escla­
recer textos difíceis ou duvidosos. Mas são poucos os 
exemplos dos textos cujo sentido é duvidoso ou inexpli­
cável .
As versões do grego, latim, siríaco e aramaico podem 
oferecer um pouco de auxílio no estudo do texto hebraico, 
quando o sentido do texto não fôr bem claro, mas devem 
ser usadas com cuidado.
Entre a descoberta de manuscritos bíblicos na caverna 
de Ain Feshca, perto do Mar Morto, em 1947, havia um 
manuscrito de Isaías quase completo, e outro que pre­
serva mais ou menos a têrça parte da profecia. O pri­
meiro dêstes é geralmente conhecido como O Rôlo de 
Isaías do Mosteiro d,e São Marcos, de Jerusalém, mas agora 
pertence ao govêrno de Israel. Êste manuscrito concorda, 
em geral, com o Texto Massorético. Mas apresenta al­
gumas poucas variações, importantes no estudo do texto . 
Os tradutores da Revised Standard Version preferiram 
treze destas variações em lugar do Texto Massorético. 
O manuscrito incompleto de Isaías segue mais de perto
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o Texto Massorético, e tem pouco valor no estudo de pas­
sagens difíceis do hebraico.
Mas êstes manuscritos, datados agora na última parte 
do segundo século, ou na primeira parte do primeiro sé­
culo antes de Cristo, são os mais antigos exemplos do 
texto da profecia, e concordam notàvelmente com o texto 
tradicional.
Análise dos Capítulos 1-39
Há quatro divisões principais dêstes capítulos: I. 
Capítulos 1-12; II. 13-27; III. 28-35; IV. 36-39.
ESBÔÇO MAIS COMPLETO DÊSTES CAPÍTULOS, 1 :1-39:»
I. A Infidelidade de Judá e Jerusalém, 1:1-5:29
A . O Sobrescrito, 1 :1
B. A Controvérsia do Senhor com o Seu povo,
1 :2-31
1. A Ingratidão do Povo de Israel, 1:2-3
2. A Nação Pecaminosa, 2:4-9
3. A Palavra do Senhor sôbre a Religião 
e a Vida, 1:10-17
4. Arrependei-vos, 1:18-20
5. Lamento sôbre Jerusalém, 1:21-23
6. O Julgamento da Parte do Senhor,
1 :24-26
7. A Operação da Justiça Divina na Vida 
de Israel, 1:27-31
8. A Vinda dos Povos ao Senhor de Sião, 
2:1-5
C. O Castigo da Idolatria e do Orgulho Humano 
no Dia do Senhor, 2:6-22
D . O Julgamento Divino de Jerusalém e de Judá,
3:1-15
1. A Anarquia Social, 3 :l-7
2. O Povo

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