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Aula 05 – O Referencial Teórico-Metrológico numa Pesquisa

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Pesquisa e Prática em Educação V
Aula 5 – O Referencial Teórico-Metrológico numa Pesquisa
Objetivos da aula: 1. Compreender o significado e o papel do referencial teórico-metodológico de uma pesquisa; 2. Analisar alguns conceitos básicos e a evolução da pesquisa em Educação; 
3. Identificar as vantagens da integração entre diferentes abordagens; 
4. Iniciar reflexão envolvendo as primeiras etapas do SEU projeto de pesquisa: a) a elaboração do SEU tema/problema; b) a identificação preliminar de SEUS autores de referência e opções teórico-metodológicas (teorias, conceitos, métodos, fontes de pesquisa). 
O Referencial Teórico-Metodológico numa Pesquisa
“O estudo dos paradigmas (...) é o que prepara basicamente o estudante para ser membro da comunidade científica determinada na qual atuará mais tarde”. (Thomas Khun). A ciência é um tipo de conhecimento que se diferencia dos demais por se constituir a partir de procedimentos intelectuais e técnicos próprios e por buscar “mais do que a mera descrição dos fenômenos... explicar os fatos, estabelecendo relações e predizendo a ocorrência de relações e a conhecimentos ainda não observados”. (SANTAELLA, 2001) Por isso, de alguma forma, toda pesquisa científica se articula com, quando não desenvolve, alguma teoria. 
Mas porque precisamos da Teoria para fazer Pesquisa? 
Como falávamos, toda pesquisa procura descrever, identificar relações entre seus elementos constituintes e entre esse fenômeno e seu contexto de modo a poder explicar a sua estrutura, funcionamento, suas contradições e desenvolvimento. Todo esse procedimento envolve, mais que a observação do fenômeno e sua descrição restrita, certa abstração, ou seja, certa capacidade de distanciar-se dele para produzir generalizações. O que isso quer dizer... Por exemplo, não basta para a ciência dizer que os cachorros tem quatro patas, porque isso é uma descrição pouco precisa sobre os cachorros. Uma criança pequena sabe disso, ela define um cachorro como um animal de quatro patas. E o problema começa aí. Uma descrição como essa não tem um bom poder explicativo. Porque, qualquer animal de quatro patas pode ser definido como cachorro (as crianças pequenas fazem isso, não é?). Bem... Para elaborarmos um conhecimento mais preciso sobre um objeto/ser - o cachorro, por exemplo - vamos precisar detalhar melhor essa descrição (tem pelos, focinho, mama quando pequeno, late etc.), muitas vezes comparando-o com outros animais (a pata do cachorro é igual a do cavalo, que também tem pelo e mama quando pequeno ?). Assim, sucessivamente vamos observando, registrando nossas observações, comparando-as com outras pesquisas, relacionando com outros objetos. Dessa forma, progressivamente vamos aprimorando nossas descrições/análises sobre o objeto, “nosso cachorro”, e formulando algumas ideias mais precisas sobre ele.
Mas, imagina quanto tempo levaríamos nesse movimento para construir uma teoria sobre as espécies animais? Muito tempo, não? Mas, será que é preciso tudo isso? Claro que não... Essa teoria já foi elaborada a partir de muitas pesquisas/estudos na Biologia. Hoje, qualquer biólogo pode usar esse conhecimento quando vai estudar os cachorros, não precisa começar do zero. 
Por isso, é importante tomarmos contato com a teoria no campo em que pretendemos desenvolver nossos estudos. Para não olharmos o fenômeno educacional como uma criança pequena vê um cachorro, ou seja, um olhar pouco informado e, portanto, ingênuo, a teoria nos ajuda a tomar contato com os desenvolvimentos das pesquisas e estudos em determinado campo científico. A revisão teórica é um movimento intelectual importante porque permite que nos situemos e situemos nosso objeto no campo de estudos onde ele se insere. Mas, o que isso significa? O que é propriamente uma teoria? Todo pesquisador, antes mesmo de formular um problema de pesquisa, tem algumas ideias em torno de seu objeto de estudo. Mas, mesmo que ele já tenha lido algumas coisas a respeito e conversando com colegas, muitas vezes, essas ideias são apenas um punhado de primeiras impressões, pensamentos, confabulações que o pesquisador faz em torno de um tema. Á medida que ele começa a fazer de fato uma revisão da literatura sobre o assunto de seu interesse, vai tomando contato com resultados de pesquisas e conceitos de estudo que vão ampliando sua abordagem sobre seu objeto de estudo. É que esses pesquisadores, refletindo sobre o resultado de suas pesquisas, construíram formulações mais precisas acerca das origens, características, a estrutura e o modo de funcionamento dos fenômenos, enfim, puderam formular proposições e conceitos que permitissem delimitar, explicar melhor e até fazer objetos de estudo. Podemos dizer assim que as teorias se constituíram a partir de uma rede de proposições e conceitos, logicamente organizados, que de modo mais abrangente, profundo e eficaz é capaz de explicar um conjunto de fenômenos. 
Vamos ver como isso se aplica. Um exemplo sobre esse processo é o estudo sobre a violência na escola. Durante muito tempo não houve interesse em estudar a violência praticada na escola, até porque muitos eventos como agressões físicas ou psicológicas não eram compreendidas como violência. Especialmente a partir do avanço dos estudos nas ciências sociais e na psicologia, muitos educadores começaram a recomeçar a refletir sobre o comportamento de alunos e professores e a reconhecer que a violência que existia “fora da escola” estava presente também dentro dela. Iniciaram-se então alguns estudos acerca das diferentes formas de manifestação da violência na escola. Eles puderam observar que alunos depredavam escola, que se agrediam fisicamente, mas que também havia uma forma de agressão nem sempre física mas igualmente perversa expressa na forma como alunos relacionavam-se entre si e com os professores. Nesses estudos os educadores/pesquisadores percebem diferenças/especificidades na forma como a violência se manifesta na escola. Essas especificidades tinham a ver com elementos próprios do universo escolar com os sistemas de avaliação, o sistema de valores, os papeis sociais etc. Eles perceberam que havia um tipo de violência onde agressores e vítimas estabeleciam uma relação de conflito a partir das condições com as quais se posicionavam na estrutura escolar. Nesse processo de investigação foi se delineando o reconhecimento e a determinação de uma forma própria de violência, destinada daqueles que já haviam sido estudadas que denominou-se de bullying. Assim o desenvolvimento de uma “teoria sobre a violência na escola” ainda não está acabado, mas começa a se constituir a partir da identificação de certos elementos, categorias de fatos que se articulam de modo próprio, evidenciados e analisados por diferentes pesquisadores. Essa construção teórica só foi possível pelo esforço e diálogo entre diferentes pesquisadores, mas hoje já é tão reconhecida que está sendo aplicada a outros universos/organizações. Quanto maior o poder explicativo de uma teoria, ou seja, quanto melhor ela é capaz de descrever as características e explicar as origens e a dinâmica de um fenômeno ou conjunto de fenômenos, tanto mais ela tem força e é reconhecida pelos estudiosos em seu campo. Quando uma teoria é tão consistente e eficaz, que resiste às críticas e permanece como uma referência para os pesquisadores nesse campo, dizemos que ela é um “PARADIGMA” (Teoria de referencia em um campo de estudos num determinado momento histórico de sua evolução) no seu campo de estudos. Quando uma teoria é um paradigma, seja para concordar com ela, para complementá-la ou refutá-la, os pesquisadores não podem ignorá-la e isso é fato. Uma teoria só deixa de ser paradigma quando outra teoria supera sua capacidade explicativa. Um exemplo disso é que durante muito tempo, os médicos acreditavam que as doenças eram transmitidas por certos odores ou secreções. Por isso, uma medida sanitária importante na prevenção de doenças erma construir casas com muito bom arejamento, para permitir que o ar circulasse levandoos “maus odores” para longe. Com a criação de microscópios, foi possível observar a constituição das células e identificar agentes que antes não eram considerados (vírus e bactérias). Essa descoberta mudou toda a teoria sobre a causa de muitas doenças e, por desdobramento, sobre seu tratamento. Mas não são apenas novos instrumentos e descobertas que promovem mudanças nas teorias. O avanço no desenvolvimento das teorias em um determinado campo de conhecimento tem a ver também com a influência que elas sofrem do avanço em outros campos. Um exemplo disso são as teorias sobre o fracasso escolar. Durante muito tempo o fracasso escolar foi explicado com resultado de deficiências dos alunos. Essas ideias estavam ancoradas numa concepção de aprendizagem que considerava especialmente os estudos sobre o desenvolvimento cognitivo. No entanto, com o avanço das pesquisas nas ciências sociais, o campo educacional começou a considerar também os processos econômicos, sociais e culturais como fatores determinantes na aprendizagem. Dessa forma, as dificuldades de aprendizagem dos alunos deixaram de ser vistas como mera consequência de suas deficiências cognitivas para ser também resultado das suas carências econômicas e culturais. 
Com o avanço dos estudos pedagógicos e da análise sobre o papel do professor e as condições em que se dão o ensino e a aprendizagem, a teoria sobre o fracasso escolar avançou incorporando os fatores interescolares. Nessa nova perspectiva, o fracasso passa a ser visto como resultado de uma multiplicidade de fatores, onde a competência e responsabilidade da escola em lidar com a diversidade de realidades e características de seus alunos é o fato preponderante. Assim, o fracasso do aluno passou a ser visto como o fracasso da escola. Como visto, todo pesquisador iniciante deve apropriar-se das teorias em sem campo. Esse é o modo de poder formular ideias e problematizações consistentes sobre seu objeto de interesse. E quais são os paradigmas da pesquisa em Educação? Diante da complexidade dos fenômenos sociais. Várias forma/são as respostas epistemológicas, mas algumas teorias tem se colocado como referencia, como paradigmas, para os cientistas nesse campo. Durante muito tempo a pesquisa em Educação tomou como referencia o modelo científico do positivismo. Neste modelo, acreditava-se que a decomposição dos fenômenos em suas variáveis básicas, através da observação e seu estudo analítico, permitiria verificar a validade de hipóteses e chegar a resultados generalizáveis. Essa perspectiva. Ancorando nos modelos das Ciências Naturais, funda-se na crença da pesquisa (o pesquisador) e o objeto do investigação, de modo a garantir a objetividade e a neutralidade científica. Tomava o conhecimento científico como “a verdade” sobre a realidade. No entanto, esse modelo atraiu muitas críticas. 
Será que todos os fenômenos que interessam ao cientista social são passíveis de observação e mensuração? Considerando a multiplicidade de dimensões constitutivas, é possível isolar e controlar todas as variáveis que atuam nos fenômenos sociais? O cientista está completamente desprovido de seus valores no exercício da pesquisa? A neutralidade e objetividade são possíveis? Até que ponto é possível? Outras correntes filosóficas denunciavam o mito da objetividade e da neutralidade científicas e reclamavam a redução da pesquisa ao que é observável e mensurável, a uma abordagem quantitativa da realidade. Elas apontam a complexidade, a multidimensionalidade e as contradições inerentes aos fenômenos sociais e a necessidade, portanto, de uma abordagem qualitativa da realidade. Para a Fenomenologia, nossos sentidos são informados por nossa consciência, ou seja, nossa visão e compreensão da realidade se fazem a partir dos nossos sentimentos, valores, crenças. Dessa forma, não importa o mundo que existe, mas sim o modo como representamos o mundo em nossa consciência. Assim, nessa perspectiva, a pesquisa deveria se preocupar menos com o controle de variáveis e estar voltada mais para a compreensão dos sentimentos, percepções e representações que os sujeitos constroem acerca da realidade, pois são eles que dão sentido e orientam nossas ações. Mas, de que vale saber sobre os sentimentos e ideias dos sujeitos? De que sujeitos estamos falando? Os contextos onde se inserem têm influência sobre suas produções discursivas, suas percepções/intensões? Se o cientista não está completamente desprovido de seus valores, então a ciência é necessariamente ideológica? Frente a esses questionamentos, a Teoria Crítica enfatiza que os fenômenos sociais, e neles os educacionais, devem ser analisados numa perspectiva histórica, ou seja, da análise dinâmica “das relações históricas e sociais desses sujeitos com o contexto, com suas contradições e possibilidades” (CANEN, mimeo). Isso implica em reconhecer os processos de denominação e exclusão social e é dessa forma que a pesquisa é um ato político, envolvendo um compromisso com a conservação ou transformação da realidade. Para essa corrente, o valor de uma teoria, de uma pesquisa científica depende de sua relação com os problemas, as questões colocadas em um dado momento histórico, em uma perspectiva emancipatória. Numa crítica, a “ciência tradicional”, que teria se tornado alienada e afastada da realidade, “o pensamento crítico, ao contrário, procura a superação das dicotomias entre o saber e o agir, sujeito e objeto, ciência e sociedade, enfatizando os determinantes históricos da produção do conhecimento científico”. Mas, será que não é pretensão/ilusão considerar que a pesquisa científica pode levar à transformação social? Ela não estaria necessariamente ligada aos interesses e concepções de mundo dos pesquisadores e dos organismos de fomento? Não seria impor, de outro modo, também “uma verdade” acerca do que deveria ser a sociedade? Fortemente influenciada pela Fenomenologia, o Construtivismo ou Construcionismo Social emerge como uma resposta a esses questionamentos em busca de uma abordagem mais plural da realidade. Nessa perspectiva, o pesquisador não deve tomar uma teoria a priori porque isso poderia induzir o pesquisador a considerar alguns elementos e desconsiderar outros em sua análise da realidade. Não obstante as significativas diferenças entre essas correntes de pensamento, de um modo ou de outro, hoje, parece consenso no campo científico reconhecer os limites e a provisoriedade do conhecimento científico. Em relação a pesquisa nas Ciência Sociais e em Educação, o que se pretende antes de tudo é encontrar critérios racionais para a elaboração de um conhecimento confiável. Nesse sentido, coloca-se o desafio da acomodação de diferentes contribuições para a compreensão da realidade.
É preciso superar a falsa oposição entre a abordagem quantitativa e qualitativa e, ao contrário, integrar essas duas abordagens tanto quanto possível. Afinal, as pesquisas quantitativas podem nos oferecer um quadro mais amplo do fenômeno estudado, levantando dados e gerando hipóteses tomados como ponto de partida para uma investigação em profundidade, num estudo qualitativo, assim como resultados de uma pesquisa qualitativa podem ser aclarados quando situados a partir de um conjunto de dados mais amplo. Por exemplo: os dados sobre a relação positiva entre nível de escolaridade da mãe e condições de saúde da família (quanto mais alto o nível de escolaridade da mãe, melhores as condições de saúde da família), podem nos levar a buscar compreender o papel da mãe na estrutura familiar e o significado que ela atribui aos cuidados à saúde dos filhos e marido. Ou, a compreensão sobre os valores e comportamentos dos professores em relação a seus alunos em uma escola pública, em uma investigação qualitativa, pode ser ampliada/aclarada por dados quantitativos acerca das condições de trabalho (salário, tempo de serviço, nível de formação etc.). Como você pode ver, ao desenvolver uma pesquisa todo pesquisador tem como pressuposto uma determinada concepção do que é a realidade e o conhecimento científico que diz como essepesquisador irá formular sua problematização e delimitar seu objeto de investigação. Em consonância com essa visão de mundo e de ciência, quando o pesquisador vai estruturar seu trabalho, ele faz opções teórico-metodológicas para sua abordagem da realidade. A pesquisa, como atividade básica da ciência vincula, portanto, pensamento e ação. Nesse processo, mais que mera reunião de técnicas de coleta e análise de dados, a metodologia da pesquisa se coloca intrinsecamente inseparável do aporte teórico escolhido. Você já pensou? Embora seja expressão do conhecimento, da competência e criatividade do pesquisador, deve atender a rigorosidade que o conhecimento científico exige que não engessa, mas dá mais precisão ao processo. Deve permitir a superação da mera descrição das coisas e levar à elaboração de uma explicação para os fenômenos estudados, a partir de um discurso claro e coerente, que envolva um esforço reflexivo. Dessa forma, o referencial teórico-metodológico da pesquisa constitui-se como parâmetro fundamental para a ação do pesquisador.
Síntese da aula 
Compreendeu o significado e o papel do referencial teórico-metodológico de uma pesquisa; 
Analisou alguns conceitos básicos e a evolução da pesquisa em Educação; 
Discutiu sobre as vantagens da integração entre diferentes abordagens; 
Começou a refletir sobre EU projeto de pesquisa: a) a elaborar o SEU tema/problema; b) a identificar SEUS autores de referência e SUAS opções teórico-metodológicas (teorias, conceitos, métodos, fontes de pesquisa).

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