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A incorporação de Tratados de Direitos Humanos no Brasil Pontos relevantes • O que são Tratados? • Processo de Formação dos tratados internacionais • Mecanismos de incorporação • Grau hierárquico no direito interno O que são Tratados? Forma convencional de instrumentalização jurídica das relações entre os sujeitos de direito internacional público. (atos, pactos, convenções, acordos, ajustes, protocolos, regulamentos, convênios, memorandos, cartas, e tratados, em sentido estrito). “São modos de expressão de acertos ou ajustes, de manifestações de vontade, entre pessoas de direito internacional, os quais geram direitos e obrigações para as partes signatárias, com força de lei e obrigatoriedade de cumprimento, segundo a máxima principiológica internacional do pacta sunt servanda.” (BONIFÁCIO, 2008, p. 182) Segundo a Convenção de Viena sobre Direitos dos Tratados, de 23.05.1969: “tratado” significa um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica (art. 2, item 1, a) Convenção de Viena 69 Artigo 6 Capacidade dos Estados para Concluir Tratados Todo Estado tem capacidade para concluir tratados. Artigo 27 Direito Interno e Observância de Tratados Uma parte não pode invocar as disposições de seu direito interno para justificar o inadimplemento de um tratado. Artigo 52 Coação de um Estado pela Ameaça ou Emprego da Força É nulo um tratado cuja conclusão foi obtida pela ameaça ou o emprego da força em violação dos princípios de Direito Internacional incorporados na Carta das Nações Unidas. Artigo 19 Formulação de Reservas Um Estado pode, ao assinar, ratificar, aceitar ou aprovar um tratado, ou a ele aderir, formular uma reserva, a não ser que: a)a reserva seja proibida pelo tratado; b)o tratado disponha que só possam ser formuladas determinadas reservas, entre as quais não figure a reserva em questão; ou c)nos casos não previstos nas alíneas a e b, a reserva seja incompatível com o objeto e a finalidade do tratado. Processo de Formação dos tratados internacionais • Negociação • Conclusão • Assinatura – efeito vinculante (autêntico e definitivo). • Apreciação • Aprovação • Ratificação – efeitos plano internacional Poder Executivo Poder Legislativo Poder Executivo Mecanismos de incorporação CF: Art. 21. Compete à União: I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais; Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: V - autorizar operações externas de natureza financeira, de interesse da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios; Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos; VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional; Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional; Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus membros. Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de: VI - decretos legislativos; Art. 5º, CF § 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) Grau hierárquico no direito interno – vertentes (4) 1. a vertente que reconhece a natureza supraconstitucional dos tratados e convenções em matéria de direitos humanos; 2. o posicionamento que atribui caráter constitucional a esses diplomas internacionais; 3. a tendência que reconhece o status de lei ordinária a esse tipo de documento internacional; 4. por fim, a interpretação que atribui caráter supralegal aos tratados e convenções sobre direitos humanos. Da vertente que reconhece a natureza supraconstitucional dos tratados e convenções em matéria de direitos humanos; 1. Normas constitucionais não teriam poderes revogatórios em relação às normas internacionais; 2. A intenção é otimizar os direitos humanos; Problema? 1. Princípio da supremacia formal e material da Constituição sobre todo o ordenamento 2. Controle de constitucionalidade de tratado pelo STF (art. 102, III, b, CF) 3. Risco de normatizações camufladas “direitos humanos” Argumenta Hildebrando Accioly: “(...) Realmente, se é verdade que uma lei interna revoga outra ou outras anteriores, contrárias à primeira, o mesmo não se pode dizer quando a lei anterior representa direito convencional transformado em direito interno, porque o Estado tem o dever de respeitar suas obrigações contratuais e não as pode revogar unilateralmente. Daí poder dizer-se que, na legislação interna, os tratados ou convenções a ela incorporados formam um direito especial que a lei interna, comum, não pode revogar.” in Manual de direito internacional público, p. 5-6 Do posicionamento que atribui caráter constitucional a esses diplomas internacionais; • Concebe o art. 5º, § 2º, CF, como cláusula aberta de recepção de outros direitos previstos em tratados internacionais de DH, com aplicabilidade imediata, a partir do ato de ratificação (§ 1º). “bloco de constitucionalidade” • Eventuais conflitos entre tratado e a Constituição deveriam ser resolvidos pela aplicação da norma mais favorável à vítima. Problema? • Promulgação da Emenda Constitucional nº 45/2004 (acrescentou o § 3º no art. 5º, CF) – no tocante aos tratados já ratificados pelo Brasil. Da tendência que reconhece o status de lei ordinária a esse tipo de documento internacional; • Os tratados não possuem a devida legitimidade para confrontar, nem para complementar a CF em matéria de direitos fundamentais. (Tese do STF desde 1977 – RE nº 80.004/SE e mantido em 1995 – HC nº 72.131/RJ) • Eventuais conflitos resolveriam-se pela regra lex posterior derrogat legi priori. Da interpretação que atribui caráter supralegal aos tratados e convenções sobre direitos humanos Há uma abertura constitucional ao direito internacional, ao direito supranacional, a partir da leitura: 1. Art. 4º, parágrafo único, CF: “A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.” § 2º do art. 5º, CF: “Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.” § 3º do art. 5º, CF: “Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa doCongresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.” § 4º do art. 5º, CF: “O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão.” Para essa corrente: • As constituições apresentam maiores possibilidades de concretização de sua eficácia normativa; • Passam a ser concebidas em uma abordagem que aproxime o Direito Internacional do Direito Constitucional; • Entender diversamente seria violar o art. 27 da Convenção de Viena de 69, que determina que “Uma parte não pode invocar as disposições de seu direito interno para justificar o inadimplemento de um tratado.” • Os tratados e convenções sobre DH seriam infraconstitucionais, porém, dotados de um atributo de supralegalidade. Evolução jurisprudencial no STF a) O entendimento até 1977, que consagrava o primado do Direito Internacional; b) A decisão do RE nº 80.004 , em 1977, que equiparou juridicamente tratado e lei federal; c) A decisão do HC nº 72.131, em 2005, que manteve, à luz da CF/88, a teoria de paridade hierárquica entre tratado e lei federal; d) A decisão do RE nº 349.703, em 2008, que conferiu aos tratados de DH uma hierarquia especial e privilegiada , com realce às teses da supralegalidade e da constitucionalidade desses tratados, sendo a primeira a majoritária. PRISÃO CIVIL DO DEPOSITÁRIO INFIEL EM FACE DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS. INTERPRETAÇÃO DA PARTE FINAL DO INCISO LXVII DO ART. 5O DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988. POSIÇÃO HIERÁRQUICO-NORMATIVA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO. Desde a adesão do Brasil, sem qualquer reserva, ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (art. 11) e à Convenção Americana sobre Direitos Humanos - Pacto de San José da Costa Rica (art. 7º, 7), ambos no ano de 1992, não há mais base legal para prisão civil do depositário infiel, pois o caráter especial desses diplomas internacionais sobre direitos humanos lhes reserva lugar específico no ordenamento jurídico, estando abaixo da Constituição, porém acima da legislação interna. O status normativo supralegal dos tratados internacionais de direitos humanos subscritos pelo Brasil torna inaplicável a legislação infraconstitucional com ele conflitante, seja ela anterior ou posterior ao ato de adesão. Assim ocorreu com o art. 1.287 do Código Civil de 1916 e com o Decreto-Lei n° 911/69, assim como em relação ao art. 652 do Novo Código Civil (Lei n° 10.406/2002). ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. DECRETO-LEI N° 911/69. EQUIPAÇÃO DO DEVEDOR-FIDUCIANTE AO DEPOSITÁRIO. PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR-FIDUCIANTE EM FACE DO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. A prisão civil do devedor-fiduciante no âmbito do contrato de alienação fiduciária em garantia viola o princípio da proporcionalidade, visto que: a) o ordenamento jurídico prevê outros meios processuais-executórios postos à disposição do credor-fiduciário para a garantia do crédito, de forma que a prisão civil, como medida extrema de coerção do devedor inadimplente, não passa no exame da proporcionalidade como proibição de excesso, em sua tríplice configuração: adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito; e b) o Decreto-Lei n° 911/69, ao instituir uma ficção jurídica, equiparando o devedor-fiduciante ao depositário, para todos os efeitos previstos nas leis civis e penais, criou uma figura atípica de depósito, transbordando os limites do conteúdo semântico da expressão "depositário infiel" insculpida no art. 5º, inciso LXVII, da Constituição e, dessa forma, desfigurando o instituto do depósito em sua conformação constitucional, o que perfaz a violação ao princípio da reserva legal proporcional. RECURSO EXTRAORDINÁRIO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (RE 349703, Relator(a): Min. CARLOS BRITTO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 03/12/2008, DJe-104 DIVULG 04-06-2009 PUBLIC 05-06-2009 EMENT VOL- 02363-04 PP-00675)
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