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Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital Autor: Vanessa Brito Arns Aula 08 24 de Fevereiro de 2021 92844218458 - Diego Souza Novaes Sumário Considerações Iniciais ........................................................................................................................... 2 1. Direitos Humanos na Constituição de 1988 .................................................................................. 3 2. Tratados: Hierarquia no Brasil ...................................................................................................... 4 3. Declaração Universal dos Direitos Humanos ................................................................................ 7 Resumo ............................................................................................................................................... 11 Considerações Finais ........................................................................................................................... 18 Questões Comentadas ........................................................................................................................ 19 Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 2 DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO CONSIDERAÇÕES INICIAIS Na aula de hoje vamos continuar os estudos da disciplina de Direito Internacional, com foco em Direitos Humanos. Vejamos os tópicos específicos do edital que serão abordados em aula: Hierarquia dos tratados de direitos humanos no Direito Brasileiro. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Estou à disposição se surgirem dúvidas! Boa aula! Instagram: https://www.instagram.com/vanessa.arns Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 3 1. DIREITOS HUMANOS NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 Segundo Mazzuoli, a Constituição de 1988, dentro dessa ótica internacional marcadamente humanizante e protetiva, erigiu a dignidade da pessoa humana (art. 1º, inc. III) e a prevalência dos direitos humanos (art. 4º, inc. II) a princípios fundamentais da República Federativa do Brasil. Este último passou a ser, inclusive, princípio pelo qual o Brasil deve reger-se no cenário internacional; assim, ao falar em “prevalência dos direitos humanos” está a Constituição – pela utilização da própria terminologia “direitos humanos” – ordenando à jurisdição brasileira que respeite as decisões ou recomendações (quando mais benéficas) provindas da ordem internacional, em especial das instâncias judiciais de proteção, como a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Segundo o qual, respectivamente, compete aos juízes federais processar e julgar “as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo”, dispondo este último, por sua vez, que: “Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal”. Para Mazzuoli: “Com base nesse dispositivo, que segue a tendência do constitucionalismo contemporâneo, sempre defendemos que os tratados internacionais de direitos humanos ratificados pelo Brasil têm índole e nível constitucionais, além de aplicação imediata, não podendo ser revogados por lei ordinária posterior. E a nossa interpretação sempre foi a seguinte: se a Constituição estabelece que os direitos e garantias nela elencados “não excluem” outros provenientes dos tratados internacionais “em que a República Federativa do Brasil seja parte”, é porque ela própria está a autorizar que esses direitos e garantias internacionais constantes dos tratados de direitos humanos ratificados pelo Brasil “se incluem” no nosso ordenamento jurídico interno, passando a ser considerados como se escritos na Constituição estivessem” Da análise do § 2º do art. 5º da Carta brasileira de 1988, percebe-se que três são as vertentes, no texto constitucional brasileiro, dos direitos e garantias individuais: a) direitos e garantias expressos na Constituição, a exemplo dos elencados nos incisos I ao LXXVIII do seu art. 5º, bem como outros fora do rol de direitos, mas dentro da Constituição Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 4 (como, v.ġ., a garantia da anterioridade tributária, prevista no art. 150, inc. III, alínea b, do Texto Magno); b) direitos e garantias implícitos, subentendidos nas regras de garantias, bem como os decorrentes do regime e dos princípios pela Constituição adotados, e c) direitos e garantias inscritos nos tratados internacionais de direitos humanos em que a República Federativa do Brasil seja parte d) A Carta de 1988, com a disposição do § 2º do seu art. 5º, de forma inédita, passou a reconhecer claramente, no que tange ao seu sistema de direitos e garantias, uma dupla fonte normativa: e) aquela advinda do Direito interno (direitos expressos e implícitos na Constituição, estes últimos subentendidos nas regras de garantias ou decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados), e; f) aquela outra advinda do Direito Internacional (decorrente dos tratados internacionais de direitos humanos em que a República Federativa do Brasil seja parte). De forma expressa, a Carta de 1988 atribuiu aos tratados internacionais de proteção dos direitos humanos devidamente ratificados pelo Estado brasileiro (e em vigor) a condição de fontes do sistema constitucional de proteção de direitos Conforme Marcelo Novelino (2007), o Supremo Tribunal Federal adotava o entendimento de que todo e qualquer tratado internacional, independentemente de seu conteúdo, tinha o status de lei ordinária (CF, artigo 102, III, b). No entanto, consolidava-se a tese defendida, no Estado brasileiro, por Antônio Augusto Cançado Trindade e da professora Flávia Piovesan, de que os tratados internacionais de Direitos Humanos teriam a mesma hierarquia das normas constitucionais, por força do disposto no parágrafo 2° artigo 5° da Carta Política de 1988. A Emenda Constitucional 45, de 8 de dezembro de 2004, na tentativa de por fim à controvérsia, acrescentou um terceiro parágrafo ao artigo 5°. Tal dispositivo estabelece que se o tratado ou convenção sobre direitos humanos for aprovado pelo Congresso Nacional com o mesmo procedimento previsto para as emendas, serão equivalentes a elas. 2. TRATADOS: HIERARQUIA NO BRASIL O Texto da CF/88 não estabelece com clareza qual a hierarquia entre tratados e normas internas. Coube, assim, à jurisprudência e à doutrina definir a hierarquia entre normas internas e internacionais no ordenamento jurídico brasileiro. Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 5 Até 1977, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerava que os tratados internacionais sempre prevaleciam sobre o direito interno. Entretanto, naquele ano, foi julgado o RE 80.004, que trouxe novo entendimento jurisprudencial da Corte Constitucional. STF: tratados internacionais e as leis ordinárias possuem paridade normativa e que o conflito entre eles deve ser resolvido pela aplicação dos critérios cronológico (lex posterior derogat priori) e da especialidade (lexspecialis derogat generali). Essa é a posição que prevalece até hoje. A partir desse entendimento do STF, é possível verificar que no Brasil a orientação jurisprudencial não é a de primazia absoluta do direito internacional sobre o direito interno, tampouco o contrário. Apesar de o STF considerar que o Brasil adota a tese do “monismo moderado”, salta aos olhos o fato de que, em nosso país, os tratados internacionais somente possuem validade no plano interno após sua regular internalização. Hildebrando Accioly explica a questão. “O monismo moderado, tal como se aplica no Brasil, representa o segundo momento do dualismo, quando a norma já incorporada poderá ou não colidir com a norma interna”. Mazzuoli e Flávia Piovesan: o referido dispositivo já era suficiente para permitir o ingresso dos tratados internacionais de direitos humanos no ordenamento jurídico com status de norma constitucional. As manifestações doutrinárias não ecoaram no STF, que entendia que os tratados internacionais de direitos humanos guardavam paridade normativa com as leis ordinárias. Até a edição da Emenda Constitucional nº 45/2004. Quando um tratado versar sobre direitos humanos e for aprovado em 2 (dois) turnos por 3/5 dos membros das 2 Casas Legislativas, ele terá status de emenda constitucional e ingressará no chamado “bloco de constitucionalidade”. Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 6 Em 2008, no RE 466.343-1 / SP, o STF manifestou seu entendimento sobre o assunto, que representou uma enorme revolução na jurisprudência pátria acerca do direito internacional. Na oportunidade, o STF julgou controvérsia envolvendo a prisão do depositário infiel. A questão girava em torno de aparente antinomia entre o Pacto de San Jose da Costa Rica (Convenção Interamericana de Direitos Humanos) e a CF/88 O Pacto de San Jose da Costa Rica foi ratificado pelo Brasil em 1992, sem quaisquer reservas, estabelecendo como única possibilidade de prisão civil por dívida o inadimplemento de obrigação alimentícia. Ocorre que a CF/88 (art.5º, inciso LXVII) autoriza a prisão civil por dívida em duas situações: em razão do inadimplemento de obrigação alimentícia ou no caso do depositário infiel. No exame do caso concreto, o STF entendeu que o Pacto de San Jose da Costa Rica possui status supralegal (acima das leis e abaixo da CF/88). Nesse sentido, o referido tratado tornou inaplicável a legislação infraconstitucional que tratava do assunto, seja ela anterior ou posterior. As normas infraconstitucionais que ordenavam a prisão do depositário infiel, restaram, portanto, inaplicáveis. Da mesma forma, a previsão constitucional da prisão do depositário infiel (art. 5º, inciso LXVII) teve sua aplicabilidade afastada, tudo em razão de um “efeito paralisante” promovido pelo Pacto de São José da Costa Rica. Desde então, a prisão civil por dívida no Brasil somente é possível em razão do inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia. Foi, inclusive, editada a Súmula Vinculante nº 25, que estabelece que: "É ilícita a prisão civil do depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito." Com o julgamento do RE 466.343-1/SP, passou a entender o STF que os tratados internacionais de direitos humanos que não forem aprovados pelo procedimento próprio das emendas constitucionais (em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros) terão status supralegal. Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 7 Em contrapartida, os tratados internacionais de direitos humanos que forem aprovados pelo rito próprio das emendas constitucionais terão equivalência de emenda constitucional. Percebe-se que, com seu novo entendimento, o STF inovou a pirâmide jurídica kelseniana, criando a possibilidade de que existam normas situadas em patamar acima das leis, mas abaixo da Constituição – normas com status supralegal. 3. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS Sobre a Comunidade Internacional de Nações, a que deram o nome de Organização das Nações Unidas, no bojo da qual haveria de nascer um conjunto de normas e organismos voltados à construção e preservação daqueles direitos inerentes aos seres humanos. De acordo com o SISTEMA UNIVERSAL de Direitos Humanos, a CARTA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS é composta pelos seguintes instrumentos: Tratados Internacionais Comuns Paridade normativa com a lei ordinária Tratados Internacionais de Direitos Humanos Aprovados pelo rito próprio das emendas constitucionais Equivalência de emenda constitucional Tratados Internacionais de Direitos Humanos Aprovados pelo rito ordinário Status supralegal Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 8 a) Declaração Universal dos Direitos Humanos; b) Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e seus dois Protocolos Opcionais; c) Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e seu Protocolo Facultativo. • No preambulo da Declaração Universal, de 1948, encontra-se a motivação para aelaboração de um documento universal sobre os direitos humanos, sendo a mesma motivação que levou a criação da ONU.: Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo A Assembleia Geral proclama A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seur conhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição. Aliado a isso, havia a necessidade de dar concretude aos direitos humanos e liberdades fundamentais referidos na Carta da ONU5(art. 1ª, 3). Artigo 1. Os propósitos das Nações unidas são: 1. Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar, coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma perturbação da paz; 2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal; 3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 9 respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião;e 4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos comuns. De acordo com Mazzuoli, afirma-se que o significado da DUDH decorredos próprios objetivos da criação das Nações Unidas, relacionados com a reconstrução da ordem mundial fundada em novos conceitos de direito internacional, contrários à doutrina da soberania nacional absoluta e à exacerbação do positivismo jurídico. Pretendia-se formular um rol atualizado dos direitos humanos, com a criação de obrigações para os Estados em decorrência da normativa internacional. Carlos Weis, citando Dalmo Abreu Dallari, afirma que o exame dos artigos da Declaração revela que ela consagrou três objetivos fundamentais: 1 . A certeza dos direitos, exigindo que haja uma fixação prévia e clara dos direitos e deveres, para que os indivíduos possam gozar dos direitos ou sofrer imposições; 2 . A segurança dos direitos, impondo uma série de normas tendentes a garantir que, em qualquer circunstância, os direitos fundamentais serão respeitados; 3 . A possibilidade dos direitos, exigindo que se procure assegurara todos os indivíduos os meios necessários à fruição dos direitos, não se permanecendo no formalismo cínico e mentiroso da afirmação de igualdade de direitos aonde grande parte do povo vive em condições subumanas. Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 10 A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi o primeiro documento internacional a tratar dos direitos humanos, tanto civis e políticos quanto econômicos, sociais e culturais, de maneira indivisível, ainda que tenha reconhecido sua distinta natureza jurídica. Apresentou como novidade: a proibição à escravidão e à tortura; o reconhecimento da personalidadejurídica; o direito ao asilo e à nacionalidade. Além disso, fez menção ao direito de propriedade, seja com titularidade individual, seja coletiva. Artigo IV-Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas. Artigo V-Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. Artigo VI-Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a lei. Artigo XIV- 1.Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países. 2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas. Artigo XV-1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade. Artigo XVII- 1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade • Pontos Importantes! • Ano: 1948 • Primeiro documento que tratou das duas gerações de Direitos Humanos (1ª e 2ª) Universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos civis, políticos, econômicos e sociais. • Direito de propriedade: reconhecido tanto em caráter individual quanto coletivo; Implementação progressiva, de acordo com as possibilidades, dos direitos econômicos, sociais e culturais; Família é o núcleo natural e fundamental da sociedade Novidades Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 11 •Proibição à escravidão e à tortura •Reconhecimento da personalidade jurídica •Direito ao asilo •Direito à nacionalidade RESUMO 1. DIREITOS HUMANOS NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 Segundo Mazzuoli, a Constituição de 1988, dentro dessa ótica internacional marcadamente humanizante e protetiva, erigiu a dignidade da pessoa humana (art. 1º, inc. III) e a prevalência dos direitos humanos (art. 4º, inc. II) a princípios fundamentais da República Federativa do Brasil. Este último passou a ser, inclusive, princípio pelo qual o Brasil deve reger-se no cenário internacional; assim, ao falar em “prevalência dos direitos humanos” está a Constituição – pela utilização da própria terminologia “direitos humanos” – ordenando à jurisdição brasileira que respeite as decisões ou recomendações (quando mais benéficas) provindas da ordem internacional, em especial das instâncias judiciais de proteção, como a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Segundo o qual, respectivamente, compete aos juízes federais processar e julgar “as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo”, dispondo este último, por sua vez, que: “Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal”. Para Mazzuoli: Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 12 “Com base nesse dispositivo, que segue a tendência do constitucionalismo contemporâneo, sempre defendemos que os tratados internacionais de direitos humanos ratificados pelo Brasil têm índole e nível constitucionais, além de aplicação imediata, não podendo ser revogados por lei ordinária posterior. E a nossa interpretação sempre foi a seguinte: se a Constituição estabelece que os direitos e garantias nela elencados “não excluem” outros provenientes dos tratados internacionais “em que a República Federativa do Brasil seja parte”, é porque ela própria está a autorizar que esses direitos e garantias internacionais constantes dos tratados de direitos humanos ratificados pelo Brasil “se incluem” no nosso ordenamento jurídico interno, passando a ser considerados como se escritos na Constituição estivessem” Da análise do § 2º do art. 5º da Carta brasileira de 1988, percebe-se que três são as vertentes, no texto constitucional brasileiro, dos direitos e garantias individuais: a) direitos e garantias expressos na Constituição, a exemplo dos elencados nos incisos I ao LXXVIII do seu art. 5º, bem como outros fora do rol de direitos, mas dentro da Constituição (como, v.ġ., a garantia da anterioridade tributária, prevista no art. 150, inc. III, alínea b, do Texto Magno); b) direitos e garantias implícitos, subentendidos nas regras de garantias, bem como os decorrentes do regime e dos princípios pela Constituição adotados, e c) direitos e garantias inscritos nos tratados internacionais de direitos humanos em que a República Federativa do Brasil seja parte d) A Carta de 1988, com a disposição do § 2º do seu art. 5º, de forma inédita, passou a reconhecer claramente, no que tange ao seu sistema de direitos e garantias, uma dupla fonte normativa: e) aquela advinda do Direito interno (direitos expressos e implícitos na Constituição, estes últimos subentendidos nas regras de garantias ou decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados), e; f) aquela outra advinda do Direito Internacional (decorrente dos tratados internacionais de direitos humanos em que a República Federativa do Brasil seja parte). De forma expressa, a Carta de 1988 atribuiu aos tratados internacionais de proteção dos direitos humanos devidamente ratificados pelo Estado brasileiro (e em vigor) a condição de fontes do sistema constitucional de proteção de direitos Conforme Marcelo Novelino (2007), o Supremo Tribunal Federal adotava o entendimento de que todo e qualquer tratado internacional, independentemente de seu conteúdo, tinha o status de lei ordinária (CF, artigo 102, III, b). Vanessa BritoArns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 13 No entanto, consolidava-se a tese defendida, no Estado brasileiro, por Antônio Augusto Cançado Trindade e da professora Flávia Piovesan, de que os tratados internacionais de Direitos Humanos teriam a mesma hierarquia das normas constitucionais, por força do disposto no parágrafo 2° artigo 5° da Carta Política de 1988. A Emenda Constitucional 45, de 8 de dezembro de 2004, na tentativa de por fim à controvérsia, acrescentou um terceiro parágrafo ao artigo 5°. Tal dispositivo estabelece que se o tratado ou convenção sobre direitos humanos for aprovado pelo Congresso Nacional com o mesmo procedimento previsto para as emendas, serão equivalentes a elas. 2. TRATADOS: HIERARQUIA NO BRASIL O Texto da CF/88 não estabelece com clareza qual a hierarquia entre tratados e normas internas. Coube, assim, à jurisprudência e à doutrina definir a hierarquia entre normas internas e internacionais no ordenamento jurídico brasileiro. Até 1977, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerava que os tratados internacionais sempre prevaleciam sobre o direito interno. Entretanto, naquele ano, foi julgado o RE 80.004, que trouxe novo entendimento jurisprudencial da Corte Constitucional. STF: tratados internacionais e as leis ordinárias possuem paridade normativa e que o conflito entre eles deve ser resolvido pela aplicação dos critérios cronológico (lex posterior derogat priori) e da especialidade (lex specialis derogat generali). Essa é a posição que prevalece até hoje. A partir desse entendimento do STF, é possível verificar que no Brasil a orientação jurisprudencial não é a de primazia absoluta do direito internacional sobre o direito interno, tampouco o contrário. Apesar de o STF considerar que o Brasil adota a tese do “monismo moderado”, salta aos olhos o fato de que, em nosso país, os tratados internacionais somente possuem validade no plano interno após sua regular internalização. Hildebrando Accioly explica a questão. “O monismo moderado, tal como se aplica no Brasil, representa o segundo momento do dualismo, quando a norma já incorporada poderá ou não colidir com a norma interna”. Mazzuoli e Flávia Piovesan: o referido dispositivo já era suficiente para permitir o ingresso dos tratados internacionais de direitos humanos no ordenamento jurídico com status de norma constitucional. Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 14 As manifestações doutrinárias não ecoaram no STF, que entendia que os tratados internacionais de direitos humanos guardavam paridade normativa com as leis ordinárias. Até a edição da Emenda Constitucional nº 45/2004. Quando um tratado versar sobre direitos humanos e for aprovado em 2 (dois) turnos por 3/5 dos membros das 2 Casas Legislativas, ele terá status de emenda constitucional e ingressará no chamado “bloco de constitucionalidade”. Em 2008, no RE 466.343-1 / SP, o STF manifestou seu entendimento sobre o assunto, que representou uma enorme revolução na jurisprudência pátria acerca do direito internacional. Na oportunidade, o STF julgou controvérsia envolvendo a prisão do depositário infiel. A questão girava em torno de aparente antinomia entre o Pacto de San Jose da Costa Rica (Convenção Interamericana de Direitos Humanos) e a CF/88 O Pacto de San Jose da Costa Rica foi ratificado pelo Brasil em 1992, sem quaisquer reservas, estabelecendo como única possibilidade de prisão civil por dívida o inadimplemento de obrigação alimentícia. Ocorre que a CF/88 (art.5º, inciso LXVII) autoriza a prisão civil por dívida em duas situações: em razão do inadimplemento de obrigação alimentícia ou no caso do depositário infiel. No exame do caso concreto, o STF entendeu que o Pacto de San Jose da Costa Rica possui status supralegal (acima das leis e abaixo da CF/88). Nesse sentido, o referido tratado tornou inaplicável a legislação infraconstitucional que tratava do assunto, seja ela anterior ou posterior. As normas infraconstitucionais que ordenavam a prisão do depositário infiel, restaram, portanto, inaplicáveis. Da mesma forma, a previsão constitucional da prisão do depositário infiel (art. 5º, inciso LXVII) teve sua aplicabilidade afastada, tudo em razão de um “efeito paralisante” promovido pelo Pacto de São José da Costa Rica. Desde então, a prisão civil por dívida no Brasil somente é possível em razão do inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia. Foi, inclusive, editada a Súmula Vinculante nº 25, que estabelece que: "É ilícita a prisão civil do depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito." Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 15 Com o julgamento do RE 466.343-1/SP, passou a entender o STF que os tratados internacionais de direitos humanos que não forem aprovados pelo procedimento próprio das emendas constitucionais (em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros) terão status supralegal. Em contrapartida, os tratados internacionais de direitos humanos que forem aprovados pelo rito próprio das emendas constitucionais terão equivalência de emenda constitucional. Percebe-se que, com seu novo entendimento, o STF inovou a pirâmide jurídica kelseniana, criando a possibilidade de que existam normas situadas em patamar acima das leis, mas abaixo da Constituição – normas com status supralegal. 3. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS Sobre a Comunidade Internacional de Nações, a que deram o nome de Organização das Nações Unidas, no bojo da qual haveria de nascer um conjunto de normas e organismos voltados à construção e preservação daqueles direitos inerentes aos seres humanos. De acordo com o SISTEMA UNIVERSAL de Direitos Humanos, a CARTA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS é composta pelos seguintes instrumentos: a) Declaração Universal dos Direitos Humanos; b) Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e seus dois Protocolos Opcionais; c) Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e seu Protocolo Facultativo. Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 16 • No preambulo da Declaração Universal, de 1948, encontra-se a motivação para aelaboração de um documento universal sobre os direitos humanos, sendo a mesma motivação que levou a criação da ONU.: Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo A Assembleia Geral proclama A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seur conhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição. Aliado a isso, havia a necessidade de dar concretude aos direitos humanos e liberdades fundamentais referidos na Carta da ONU5(art. 1ª, 3). Artigo 1. Os propósitos das Nações unidas são:1. Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar, coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma perturbação da paz; 2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal; 3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião;e 4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos comuns. Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 17 De acordo com Mazzuoli, afirma-se que o significado da DUDH decorre dos próprios objetivos da criação das Nações Unidas, relacionados com a reconstrução da ordem mundial fundada em novos conceitos de direito internacional, contrários à doutrina da soberania nacional absoluta e à exacerbação do positivismo jurídico. Pretendia-se formular um rol atualizado dos direitos humanos, com a criação de obrigações para os Estados em decorrência da normativa internacional. Carlos Weis, citando Dalmo Abreu Dallari, afirma que o exame dos artigos da Declaração revela que ela consagrou três objetivos fundamentais: A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi o primeiro documento internacional a tratar dos direitos humanos, tanto civis e políticos quanto econômicos, sociais e culturais, de maneira indivisível, ainda que tenha reconhecido sua distinta natureza jurídica. Apresentou como novidade: a proibição à escravidão e à tortura; o reconhecimento da personalidadejurídica; o direito ao asilo e à nacionalidade. Além disso, fez menção ao direito de propriedade, seja com titularidade individual, seja coletiva. Artigo IV-Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas. Artigo V-Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. Artigo VI-Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a lei. Artigo XIV- 1.Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países. 2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas. Artigo XV-1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade. Artigo XVII- Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes ==1b755f== 18 1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade • Pontos Importantes! • Ano: 1948 • Primeiro documento que tratou das duas gerações de Direitos Humanos (1ª e 2ª) Universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos civis, políticos, econômicos e sociais. • Direito de propriedade: reconhecido tanto em caráter individual quanto coletivo; Implementação progressiva, de acordo com as possibilidades, dos direitos econômicos, sociais e culturais; Família é o núcleo natural e fundamental da sociedade Novidades •Proibição à escravidão e à tortura •Reconhecimento da personalidade jurídica •Direito ao asilo •Direito à nacionalidade CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao final da nossa aula! Continuaremos observando pontos muito importantes da matéria e essenciais para a compreensão da disciplina como um todo. Quaisquer dúvidas, sugestões ou críticas entrem em contato comigo. Estou disponível no fórum no Curso, por e-mail e pelo Instagram. Aguardo vocês na próxima aula. Até lá! Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 19 Vanessa Arns QUESTÕES COMENTADAS 1. (CESPE-CEBRASPE/ANCINE – 2013) Em relação aos direitos fundamentais, aos remédios constitucionais e à organização político- administrativa do Estado, julgue os itens subsecutivos. Constituem os chamados direitos de primeira geração os direitos civis e sociais, caracterizados pelo valor da liberdade, enquanto os denominados direitos de segunda geração são aqueles relacionados aos direitos econômicos, políticos e culturais, decorrentes do ideal da igualdade, e os chamados direitos de terceira geração são representados pelos direitos correlacionados ao valor da solidariedade ou fraternidade. Comentários: A alternativa está incorreta. Tradicionalmente a doutrina classifica os direitos fundamentais como de primeira, segunda e terceira gerações. Os direitos de primeira geração seriam os direitos relacionados às liberdades individuais e direitos civis; os direitos de segunda geração englobariam direitos econômicos, sociais e culturais e os direitos de terceira geração protegeriam direitos difusos. Portanto, incorreta a afirmativa. 2. (FCC/Defensor Público – DPE-MA/2018) profvanessabrito@gmail.com @vanessa.arns Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 20 Podem ser considerados exemplos de direitos humanos de terceira geração o direito A) à imigração e refúgio, à participação na economia globalizada e à segurança. B) ao trabalho, à paz mundial e à indivisibilidade entre os direitos. C) à propriedade imaterial, à privacidade e ao pluralismo. D) à bioética, o direito do consumidor e os direitos culturais E) ao meio ambiente, ao desenvolvimento e à autodeterminação dos povos. Comentários: A Letra E está correta e é o gabarito da questão. Os direitos fundamentais de primeira dimensão são os ligados ao valor liberdade, são os direitos civis e políticos. São direitos individuais com caráter negativo por exigirem diretamente uma abstenção do Estado, seu principal destinatário. Ligados ao valor igualdade, os direitos fundamentais de segunda dimensão são os direitos sociais, econômicos e culturais. São direitos de titularidade coletiva e com caráter positivo, pois exigem atuações do Estado. Os direitos fundamentais de terceira geração, ligados ao valor fraternidade ou solidariedade, são os relacionados ao desenvolvimento ou progresso, ao meio ambiente, à autodeterminação dos povos, bem como ao direito de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade e ao direito de comunicação. São direitos transindividuais, em rol exemplificativo, destinados à proteção do gênero humano. Por fim, introduzidos no âmbito jurídico pela globalização política, os direitos de quarta geração compreendem os direitos à democracia, informação e pluralismo. 1. (XIX Concurso Público para Provimento de Cargos de Juiz Federal Substituto da 3ª Região – Aplicação 2018). Considere as seguintes assertivas e assinale a INCORRETA: a) Sobre as fontes do Direito Internacional Público, a doutrina clássica afirma que tratado e costume possuem o mesmo valor sem que um tenha primaziasobre o outro; por isso, um pode derrogar ou modificar o outro. b) O ato unilateral tem sido considerado pela doutrina como fonte do Direito Internacional, apesar de não constar expressamente do rol previsto no artigo 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, tendo, como exemplo, as resoluções das organizações internacionais. c) Dentre os princípios gerais de direito no âmbito interno, os seguintes foram consagrados na jurisprudência internacional, segundo doutrina: (i) proibição ao abuso de direito; (ii) Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 21 responsabilidade internacional decorrente de atos ilícitos e restituição do que foi adquirido por enriquecimento ilícito; (iii) exceção da prescrição liberatória; (iv) obrigação de reparar os danos emergentes e lucros cessantes. d) O recurso à equidade prescinde da concordância das partes para ser validamente utilizado pelo juiz internacional ao proferir sua decisão. Comentários: A alternativa A está correta, pois menciona que a doutrina clássica possui o entendimento de ausência de hierarquia entre as fontes do direito internacional, notadamente conforme o entendimento de Celso Mello. Tal entendimento deriva, sobretudo, do Estatuto da Corte Internacional de Justiça - estabelecida pela Carta das Nações Unidas como o principal órgão judiciário das Nações Unidas – e que apresenta em seu artigo 38 rol não taxativo de fontes do direito internacional, tais como as convenções internacionais e o costume internacional. Todavia, é importante destacar que a doutrina contemporânea e, em especial, no âmbito dos Direitos Humanos, preceitua a prevalência dos tratados em prol da efetivação dos direitos humanos, o que ocorre, por exemplo, no Pacto de Direitos Civis e Políticos, o qual proíbe, de modo expresso, qualquer restrição ou derrogação aos direitos humanos reconhecidos ou vigentes em qualquer Estado Parte, em virtude de outras convenções, ou de leis, regulamentos ou costumes, “sob pretexto de que o presente Pacto não os reconheça ou os reconheça em menor grau” (artigo 5 item 2) . A alternativa B está correta. Conforme exposto, o rol do artigo 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça não é considerado pela doutrina como taxativo. Assim, os atos unilaterais encontram a sua fonte nos costumes, e são dotados de algumas condições para o reconhecimento de sua validade, tais como: ter origem es Estado soberano ou outro sujeito de Direito Internacional Público, o seu conteúdo ser admissível no direito, a vontade de ser livre de vícios. Segundo Celso de Mello “Ele pode ser definido como “o ato por meio do qual um sujeito de direito internacional aceita uma determinada situação de fato ou de direito e, eventualmente, declara considerá-la legítima”. A Alternativa C está correta. Alguns princípios gerais são reconhecidos internacionalmente: proibição do uso ou ameaça de força; solução pacífica das controvérsias; não intervenção nos assuntos internos dos Estados; dever de cooperação internacional; igualdade de direitos e autodeterminação dos povos; igualdade soberana dos Estados; boa-fé no cumprimento das obrigações internacionais. A assertiva traz, contudo, princípios gerais mais contemporâneos, como aqueles que envolvem a responsabilidade internacional. A responsabilização dos Estados no âmbito do Direito Internacional é tema tratado pela doutrina contemporânea, vez que a negação da incidência do princípio geral da responsabilidade representa a retirada dos Estados do dever de comportarem-se em consonância com os compromissos internacionais, em especial no âmbito das violações aos Direitos Humanos. A Alternativa D está incorreta e é o gabarito da questão, haja vista que foi solicitada a assertiva incorreta. A equidade é recurso que não dispensa a concordância das partes para ser validamente utilizado pelo juiz internacional ao proferir sua decisão. Com efeito, a utilização da equidade deve Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 22 ser expressamente prevista pelas partes para que possa a sua utilização ser considerada válida. O artigo 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça estipula que “A presente disposição não prejudicará a faculdade da Corte de decidir uma questão ex aequo et bono, se as partes com isto concordarem”. 2. Ano: 2017 Banca: TRF – 2ª Região Órgão: TRF – 2ª REGIÃO - 2017 - Juiz Federal Substituto. Quanto à internalização de tratados ao ordenamento nacional, assinale a opção correta: A) O sistema de recepção de tratados internacionais previsto na Constituição Federal não acolhe o chamado princípio do efeito direto e imediato dos tratados ou convenções internacionais sobre Direitos Humanos. B) A extradição solicitada por Estado estrangeiro para Fins de cumprimento de pena somente poderá ser deferida depois de internalizado o tratado de extradição firmado entre o Brasil e o respectivo Estado estrangeiro. C) Somente após ser aprovado em duplo turno de votação, nas duas casas do Congresso Nacional, seguido de publicação de Decreto Presidencial, poderá o Tratado Internacional adquirir validade no Direito brasileiro. D) Tratado internacional que verse sobre matéria que a Constituição brasileira reserva ao domínio da Lei Complementar poderá ter aplicabilidade interna, bastando que no ato de internalização seja observado o quórum de maioria absoluta previsto no artigo 69 da Constituição. E) Tratados que versem sobre concretização de Direitos Humanos no plano interno não podem ser objeto de denúncia pelo Estado Brasileiro, sob pena de violação ao postulado da proibição de retrocesso. Comentários: A alternativa A está correta. A constituição Federal prevê processo específico para a incorporação de tratados ou convenções internacionais sobre direitos humanos, de forma que, segundo a doutrina clássica do direito internacional, não há que se falar em aplicabilidade imediata destes atos internacionais. Essa é a interpretação do artigo 5º, LXXVIII, parágrafo 3º da Constituição Federal. A alternativa B está incorreta. De fato, poderá ocorrer a extradição se existir tratado bi ou multilateral que vincule os Estados envolvidos. Todavia, na ausência de vinculação das partes, o Brasil poderá conceder a extradição mediante declaração de reciprocidade, segundo a qual, se houver crime análogo no país que solicitado, o outro solicitante se compromete a conceder a extradição solicitada. Cabe lembrar que a Constituição Federal estabelece limites quanto à matéria: nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei e não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião (artigo 5º LI, LII da CF). Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 23 A alternativa C está incorreta. O procedimento narrado se refere àquele específico para a incorporação de tratados que versem sobre direitos humanos. A incorporação dos demais tratados seguem o rito previsto no artigo 47 da Constituição Federal, segundo o qual, “salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus membros”. A alternativa D está incorreta. O STF já decidiu que, os tratados internacionais, quando não tratarem de direitos humanos, encontram-se no plano das leis ordinárias em posição inferior à Constituição Federal(ADI 1.480 e na CR 8.279). Assim, após a incorporação ao ordenamento pátrio, os tratados internacionais que não versem sobre direitos humanos possuem o patamar hierárquico em igualdade de condições com às demais leis ordinárias. A alternativa E está incorreta. A possibilidade de denúncia está prevista no artigo 62 da Convenção de Viena e pode ocorrer diante da mudança fundamental de circunstâncias. A denúncia constitui uma das formas de extinção do tratado e a regra geral é que os tratados somente podem ser denunciados quando é prevista expressamente esta possibilidade. Ademais, a convenção de Viena prevê em seu artigo 56, 2 que “Uma parte deverá notificar, com pelo menos doze meses de antecedência, a sua intenção de denunciar ou de se retirar de um tratado, nos termos do parágrafo 1”. 3. Ano: 2014 Banca: TRF - 4ª REGIÃO Órgão: TRF - 4ª REGIÃO Prova: TRF - 4ª REGIÃO - 2014 - TRF - 4ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto. Dadas as assertivas abaixo, assinale a alternativa correta. Considerando-se a relação de hierarquia existente entre os tratados internacionais e a Constituição Brasileira vigente: I. No sistema jurídico brasileiro, os tratados ou as convenções internacionais estão hierarquicamente subordinados à autoridade normativa da Constituição da República. Em consequência, nenhum valor jurídico terão os tratados internacionais que, incorporados ao sistema de direito positivo interno, transgredirem, formal ou materialmente, o texto da Carta Política. II. O Poder Judiciário dispõe de competência para, quer em sede de fiscalização abstrata, quer no âmbito do controle difuso, efetuar o exame de constitucionalidade dos tratados ou das convenções internacionais, salvo se já incorporados ao sistema de direito positivo interno. III. Os tratados ou as convenções internacionais, uma vez regularmente incorporados ao direito interno, situam-se, no sistema jurídico brasileiro, nos mesmos planos de validade, de eficácia e de autoridade em que se posicionam as leis ordinárias, havendo, em consequência, entre estas e os atos de direito internacional público, mera relação de paridade normativa. IV. O primado da Constituição, no sistema jurídico brasileiro, é oponível ao princípio pacta sunt servanda, inexistindo, por isso mesmo, no direito positivo nacional, o problema da concorrência entre tratados internacionais e a Lei Fundamental da República, cuja suprema autoridade normativa deverá sempre prevalecer sobre os atos de direito internacional público. V. Os tratados internacionais celebrados pelo Brasil – ou aos quais o Brasil venha a aderir – não podem versar matéria posta sob reserva constitucional de lei complementar. É que, em tal situação, a própria Carta Política subordina o tratamento legislativo de determinado tema ao exclusivo Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 24 domínio normativo da lei complementar, que não pode ser substituída por qualquer outra espécie normativa infraconstitucional, exceto quanto aos atos internacionais já incorporados ao direito brasileiro. A) Estão corretas apenas as assertivas I e III. B) Estão corretas apenas as assertivas IV e V. C) Estão corretas apenas as assertivas I, III e IV. D) Estão corretas apenas as assertivas II, III e IV. E) Estão corretas todas as assertivas. 4. Ano: 2015 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: AGU Prova: CESPE - 2015 - AGU - Advogado da União. Julgue o item a seguir, relativo às fontes do direito internacional. Os tratados incorporados ao sistema jurídico brasileiro, dependendo da matéria a que se refiram e do rito observado no Congresso Nacional para a sua aprovação, podem ocupar três diferentes níveis hierárquicos: hierarquia equivalente à das leis ordinárias federais; hierarquia supralegal; ou hierarquia equivalente à das emendas constitucionais. Certo Errado Comentários: O item está correto. Após a incorporação ao ordenamento pátrio, o tratado encontra-se em igualdade de condições às demais leis ordinárias, com exceção dos tratados de direitos humanos que, após a Emenda Constitucional n. 45/2004, possuem o patamar hierárquico de emendas constitucionais, depois da necessária aprovação no Congresso Nacional: Art. 5º, § 3º, da CF/88: Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. Ainda, há os tratados sobre direitos humanos que não foram internalizados pelo trâmite do art. 5º, § 3º, da CF/88 e que são considerados, hoje, segundo o entendimento dominante no STF, normas supralegais. 5. Ano: 2015 Banca: FUNDATEC Órgão: PGE-RS Prova: FUNDATEC - 2015 - PGE-RS - Procurador do Estado. A respeito da cláusula de abertura constitucional consagrada no artigo 5º, § 2º, da Constituição Federal de 1988, e considerando a hierarquia dos tratados internacionais, sustenta a atual jurisprudência do Supremo Tribunal Federal - STF que: A) Os tratados internacionais, independentemente de seu objeto, têm paridade hierárquica com a lei federal por serem juridicamente vinculantes. Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 25 B) Os tratados internacionais têm hierarquia inferior à lei federal por serem promulgados por decreto presidencial. C) Os tratados internacionais têm hierarquia supraconstitucional por serem expressão do jus cogens internacional. D) Os tratados internacionais, independentemente de seu objeto, têm hierarquia constitucional por expandirem o “bloco de constitucionalidade”. E) Os tratados internacionais de proteção dos direitos humanos têm hierarquia superior à legalidade ordinária, permitindo o controle de convencionalidade das leis. Comentários: A alternativa A está incorreta. Os tratados internacionais, a depender de seu objeto e finalidade, possuem nível hierárquico diverso em nosso ordenamento jurídico. Após a incorporação ao ordenamento pátrio, o tratado encontra-se em igualdade de condições às demais leis ordinárias, com exceção dos tratados de direitos humanos que, após a Emenda Constitucional n. 45/2004, possuem o patamar hierárquico de emendas constitucionais, depois da necessária aprovação no Congresso Nacional: Art. 5º, § 3º, da CF/88: Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. Ainda, há os tratados sobre direitos humanos que não foram internalizados pelo trâmite do art. 5º, § 3º, da CF/88 e que são considerados, hoje, segundo o entendimento dominante no STF, normas supralegais. A alternativa B está incorreta, pelo mesmo fundamento da assertiva anterior. A alternativa C está incorreta, pelo mesmo fundamento da assertiva anterior. A alternativa D está incorreta, pelo mesmo fundamento da assertiva anterior. A alternativa E está correta. Após a Emenda Constitucional n.º 45/2004, os tratados de proteção dos direitos humanos possuem o patamar hierárquico de emendas constitucionais, depois da necessária aprovação no Congresso Nacional: Art. 5º, § 3º, da CF/88: Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. Por essa razão, permitem o controle de convencionalidade das leis consistente, em síntese, no exame de compatibilidade entre uma norma interna e um tratado internacional. 6. Ano: 2013 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TRF - 5ª REGIÃOProva: CESPE - 2013 - TRF - 5ª REGIÃO - Juiz Federal. A respeito da incorporação do direito internacional ao direito brasileiro, assinale a opção correta. A) A casa iniciadora, no que diz respeito a projetos de decreto legislativo de aprovação de tratados, é o Senado Federal. B) A ratificação de tratado pelo presidente da República é ato discricionário. Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 26 C) Diferentemente dos tratados-lei, tratados-contrato não necessitam de aprovação do Congresso Nacional para passar a integrar o ordenamento jurídico nacional. D) Tratados de direitos humanos ratificados antes ou depois da CF incorporam-se ao direito pátrio com força de emenda constitucional. E) É proibido ao Congresso Nacional aprovar os tratados com ressalvas. Comentários: A alternativa A está incorreta, pois a casa iniciadora no caso em comento é a Câmara dos Deputados, ante o disposto no artigo 64 da Constituição Federal. A alternativa B está correta. Trata-se da interpretação do artigo 84, inciso VII da CF: “Compete privativamente ao Presidente da República: VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional. A alternativa C está incorreta, vez que, conforme preceitua o artigo 49 da Constituição Federal, é de competência exclusiva do Congresso Nacional não somente resolver definitivamente sobre tratados, mas também, sobre acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional (artigo 49m da CF). A alternativa D está incorreta. Os tratados de direitos humanos, após a Emenda Constitucional n. 45/2004, possuem o patamar hierárquico de emendas constitucionais, depois da aprovação no Congresso Nacional: Art. 5º, § 3º, da CF/88: Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. Ainda, há os tratados sobre direitos humanos que não foram internalizados pelo trâmite do art. 5º, § 3º, da CF/88 e que são considerados, hoje, segundo o entendimento dominante no STF, normas supralegais. A alternativa E está incorreta. Cabe repisar que é competência privativa do Presidente da República celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional, conforme artigo 84, VIII da CF. a convenção de Viena denomina de“reserva”uma declaração unilateral, qualquer que seja a sua redação ou denominação, feita por um Estado ao assinar, ratificar, aceitar ou aprovar um tratado, ou a ele aderir, com o objetivo de excluir ou modificar o efeito jurídico de certas disposições do tratado em sua aplicação a esse Estado. 7. Ano: 2010 Banca: TRF - 4ª REGIÃO Órgão: TRF - 4ª REGIÃO Prova: TRF - 4ª REGIÃO - 2010 - TRF - 4ª REGIÃO - Juiz Federal. Dadas as assertivas abaixo, assinale a alternativa correta. I. No Brasil não é possível a homologação parcial de sentença estrangeira, mas é admissível a concessão de tutela de urgência no seu procedimento. II. O juiz brasileiro, tratando-se de crime de “lavagem de dinheiro” (Lei 9.613, de 03/03/98) praticado por estrangeiro em outro país, pode, mediante solicitação da autoridade competente, determinar a Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 27 apreensão ou o sequestro de bens e direitos, independentemente da existência de tratado ou convenção, desde que o governo do país da autoridade solicitante prometa reciprocidade ao Brasil. III. Quando os tratados versarem sobre direitos humanos, serão sempre internalizados com força de lei complementar. IV. Somente os Estados independentes têm capacidade para firmar tratado internacional. V. Os tratados-contratos ou tratados especiais se extinguem, dentre outros modos, quando ocorrer a sua execução integral, pela impossibilidade de execução, pela renúncia unilateral por parte do Estado exclusivamente beneficiado, pela denúncia unilateral, pela guerra e pela inexecução do tratado por um dos Estados contratantes. A) Estão corretas apenas as assertivas I e III. B) Estão corretas apenas as assertivas I e IV. C) Estão corretas apenas as assertivas II e IV. D) Estão corretas apenas as assertivas II e V. E) Estão corretas apenas as assertivas III e V. 8. Ano: 2013 Banca: TRF - 3ª REGIÃO Órgão: TRF - 3ª REGIÃO Prova: TRF - 3ª REGIÃO - 2013 - TRF - 3ª REGIÃO - Juiz Federal. Em relação ao procedimento de internação de Tratados Internacionais, é correto dizer que: A) Os tratados são promulgados por decreto- legislativo; B) Os tratados são ratificados por decreto do Poder Executivo; C) Qualquer tratado internacional tem status constitucional, desde que seguido o procedimento especial previsto pela própria Constituição da República; D) Os tratados constitutivos do Mercosul foram ratificados e promulgados segundo procedimento diverso do normalmente previsto; E) Os chamados executive agreements, que não criam obrigações onerosas para os Estados-Partes, independem de ratificação. Comentários: A alternativa A está incorreta. Os tratados são promulgados por decreto do Poder Executivo presidencial. O decreto legislativo é de lavra do Congresso Nacional e somente é exarado após a celebração do tratado internacional pelo presidente da república, no uso de sus atribuições previstas no artigo 84, VIII, da Constituição Federal. Assim, após a celebração, referendo do Congresso Nacional por meio de Decreto Legislativo e a ratificação pelo chefe do Estado mediante o depósito do ato, será, enfim, o tratado promulgado por meio de decreto executivo presidencial. Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 28 A alternativa B está incorreta. A Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados define ratificação da seguinte forma: “o ato internacional assim denominado pelo qual um Estado estabelece no plano internacional o seu consentimento em obrigar-se por um tratado” (art. 2º, I, b). A partir da ratificação, o acordo entra em vigor na ordem internacional. É certo, porém, que a ratificação se consuma pela comunicação formal à outra parte, ou ao depositário, assim, a ratificação trata-se de ato externo e não é realizada mediante decreto do poder executivo. A alternativa C está incorreta. Nem todo o tratado internacional possui status constitucional. Após a incorporação ao ordenamento pátrio, o tratado encontra-se em igualdade de condições às demais leis ordinárias, com exceção dos tratados de direitos humanos que, após a Emenda Constitucional n. 45/2004, possuem o patamar hierárquico de emendas constitucionais, depois da necessária aprovação no Congresso Nacional: Art. 5º, § 3º, da CF/88: Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. Ainda, há os tratados sobre direitos humanos que não foram internalizados pelo trâmite do art. 5º, § 3º, da CF/88 e que são considerados, hoje, segundo o entendimento dominante no STF, normas supralegais. A alternativa D está incorreta. Os tratados constitutivos do Mercosul foram ratificados e promulgados segundo o procedimento normalmente previsto. A única questão a ser ressaltada é que o Mercosul nasceu sem personalidade jurídica internacional. Somente com o Protocolo de Ouro Preto, de 1994, o bloco passou a ter tal personalidade. A alternativaE está correta. Os executive agreements são acordos concluídos pelo Poder Executivo sem o consentimento do Poder Legislativo. São concluídos, frequentemente, por meio de notas diplomáticas, troca de correspondências, ou algo similar. A assinatura é suficiente para obrigar o Estado. De acordo com Mazzuoli “A ausência de ratificação é a regra nos acordos em forma simplificada”. 9. Ano: 2009 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TRF - 5ª REGIÃO Prova: CESPE - 2009 - TRF - 5ª REGIÃO - Juiz Federal. Considerando a jurisprudência atual do STF, assinale a opção correta quanto à relação entre tratado e norma de direito interno. A) O STF apregoa o primado do direito internacional em face do ordenamento nacional brasileiro. B) Tratados e convenções guardam estrita relação de paridade normativa com as leis delegadas editadas pelo Poder Executivo. C) Há sempre a primazia dos tratados internacionais de comércio exterior sobre as normas internas aduaneiras. D) O Decreto-lei n.º 911/1969, que permite a prisão civil do devedor-fiduciante, foi revogado pelo Pacto de San José da Costa Rica. E) Para decidir conflito entre tratado e norma de direito interno, além do critério da lex posterior derogat priori, o STF aplica, ainda, um outro, qual seja, o da lex posterior generalis non derogat legi priori speciali. Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 29 Comentários: A alternativa A está incorreta. O Brasil adota a teoria dualista, segundo a qual o mecanismo de recepção dos tratados não permite a recepção direta, tratando-se, assim, de dualismo nacionalista (moderado). CR 8.279, República Argentina, Rel. Min. Celso de Mello, j. 17-6-1998 A alternativa b está incorreta. Segundo o entendimento atual do STF, tratados e convenção, que não tratem de direitos humanos, possuem paridade normativa com as leis ordinárias e não com as leis delegadas. A alternativa c está incorreta. Não há sempre a primazia dos tratados internacionais de comércio exterior sobre as normas internas aduaneiras. Todavia, convém ressaltar o artigo 98 do Código Tributário Nacional estabelece que “Os tratados e as convenções internacionais revogam ou modificam a legislação tributária interna, e serão observados pela que lhes sobrevenha”. A alternativa d está incorreta. Em dezembro de 2008, o STF aplicou o novo dispositivo constitucional acerca dos tratados de direitos humanos, e aplicou o Pacto de São José da Costa Rica (1969), que restringe a prisão civil por dívida ao descumprimento inescusável de prestação alimentícia (art. 7º,7). Concluiu-se que, embora ainda não revogadas, com a introdução do aludido Pacto no ordenamento jurídico nacional, restaram em desuso as normas estritamente legais definidoras da custódia do depositário infiel. A alternativa e está correta. Trata-se de regras hermenêuticas do direito brasileiro segundo as quais leis posteriores derrogam leis anteriores e leis posteriores gerais não derrogam lei anterior especifica. 10. Ano: 2009 Banca: TRF - 4ª REGIÃO Órgão: TRF - 4ª REGIÃO Prova: TRF - 4ª REGIÃO - 2009 - TRF - 4ª REGIÃO - Juiz Federal. Dadas as assertivas abaixo, assinalar a alternativa correta. I. O tratado internacional tem força de lei complementar, sendo superior ao direito interno ordinário, exceto quando versar sobre direitos humanos, quando será internalizado, sempre, com força de emenda constitucional. II. Os tratados têm validade no Brasil apenas depois da respectiva aprovação pelo Ministério das Relações Exteriores ou pelo Senado da República. III. Apenas os embaixadores podem celebrar tratados. IV. Não há hierarquia entre tratados, protocolos e convenções. A) Está correta apenas a assertiva IV. B) Estão corretas apenas as assertivas II e III. C) Estão corretas apenas as assertivas I, III e IV. D) Estão corretas todas as assertivas. Comentários: Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 30 A alternativa I está incorreta. O STF já decidiu que, os tratados internacionais, quando não tratarem de direitos humanos, encontram-se no plano das leis ordinárias em posição inferior à Constituição Federal (ADI 1.480 e na CR 8.279). Assim, após a incorporação ao ordenamento pátrio, os tratados internacionais que não versem sobre direitos humanos possuem o patamar hierárquico em igualdade de condições com às demais leis ordinárias. A alternativa II está incorreta. O STF possui entendimento no sentido de que é imprescindível decreto presidencial para efeito de incorporação definitiva do ato internacional no ordenamento positivo brasileiro (cita-se, por exemplo, a ADI 1.480-MC/DF e CR 8.279- -AgR/República da Argentina). O processo de incorporação pode ser resumido da seguinte forma: : (a) a promulgação do tratado internacional; (b) a publicação oficial de seu texto; e (c) a executoriedade do ato internacional, que passa, então, e somente então, a vincular e a obrigar no plano do direito positivo interno. A alternativa III está incorreta. O artigo 84, inciso VIII da CF estabelece que “Compete privativamente ao Presidente da República: VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional. A alternativa IV está correta, pois de fato não há hierarquia entre as fontes de direito internacional. 11. Ano: 2017 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TRF - 5ª REGIÃO Prova: CESPE - 2017 - TRF - 5ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto. Um problema perene que envolve discussões teóricas e práticas é a coexistência de normas internacionais com normas nacionais. A esse respeito, assinale a opção correta. A) As correntes teóricas que estabelecem critérios para justificar a solução de conflitos normativos entre as normas internacionais e as normas internas prescindem dos ordenamentos jurídicos nacionais. B) O fato de um Estado não poder invocar uma norma jurídica doméstica para se escusar de uma obrigação internacional significa que o direito internacional ignora o direito interno. C) Na hipótese de conflito entre uma norma constitucional e uma norma internacional prevalecerá a primeira, pois apregoa-se a obrigatoriedade do direito internacional às regras do direito interno, em decorrência de uma percepção teórica de um monismo do tipo internacionalista. D) As correntes teóricas dualistas, ainda que moderadas, apregoam uma visão que engloba de forma indistinta tratados internacionais, costumes e princípios gerais de direito. E) Considera-se o monismo do tipo internacionalista dialógico uma corrente adequada para tratar de conflitos normativos que envolvam direitos humanos, visto que poderia haver a aplicação da norma de direito interno em detrimento da de direito internacional ou vice-versa. Comentários: Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 31 A alternativa A está incorreta. É necessário, para a teoria dualista, a internalização de uma norma internacional para solucionar os conflitos normativos entre as normas internacionais e as normas internas. A alternativa b está incorreta. O direito internacional não ignora o direito interno. Pode um Estado invocar uma norma de direito interno, e tal prerrogativa encontra respaldo no artigo 46 da Convenção de Viena que estipula que a prerrogativa de escusa caso existe manifesta violação a uma norma de direito interno de importância fundamental. A alternativa c está incorreta, pois é justamente o contrário. Na hipótese de conflito, para os monistas internacionalistas, prevalecerá o direito internacional. Trata-se do monismo que defende a unicidadeda ordem jurídica sob o primado do direito internacional, por isso, chamado de monismo internacionalista, no qual pode existir a prevalência do direito internacional sobre o direito interno. A alternativa d está incorreta. A observância dos tratados internacionais, costumes e princípios gerais de direito são realizadas de forma distinta. A diferença para os monistas não reside na consideração acerca da hierarquia das fontes do direito internacional, mas sim no conflito entre a norma internacional e a norma interna e sobre qual delas deverá prevalecer. A alternativa e está correta. Trata-se do monismo que defende a unicidade da ordem jurídica sob o primado do direito internacional, por isso, chamado de monismo internacionalista, no qual pode existir a prevalência do direito internacional sobre o direito interno. 12. Ano: 2015 Banca: TRT 2R (SP) Órgão: TRT - 2ª REGIÃO (SP) Prova: TRT 2R (SP) - 2015 - TRT - 2ª REGIÃO (SP) - Juiz do Trabalho Substituto. À luz da Constituição Federal, analise as seguintes proposições: I - Compete ao Supremo Tribunal Federal declarar, em recurso ordinário, a inconstitucionalidade de tratado internacional. II - Compete ao Superior Tribunal de Justiça julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados e do Distrito Federal, quando a decisão recorrida contrariar tratado internacional ou negar-lhe vigência. III - Compete aos Tribunais Regionais Federais processar e julgar, originariamente, os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente. IV - Compete privativamente ao Presidente da República celebrar tratados, convenções e atos internacionais, ficando, porém, sujeitos a referendo do Congresso Nacional; por sua vez, compete exclusivamente ao Congresso Nacional resolver definitivamente sobre tais regramentos jurídicos (tratados, acordos ou atos internacionais), quando estes acarretarem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional. V - Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em turno único, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes 32 A) Somente as proposições II e IV estão corretas. B) Somente as proposições III, IV e V estão incorretas. C) Todas as proposições estão incorretas. D) Todas as proposições estão corretas. E) Somente as proposições I e II estão incorretas. Comentários: A alternativa I está incorreta, pois compete ao Supremo Tribunal Federal declarar, em recurso EXTRAORDINÁRIO, a inconstitucionalidade de tratado internacional. Trata-se do artigo 102, inciso III, alínea b da Constituição Federal. A alternativa II está correta. Trata-se da literalidade do artigo 105, inciso III, alínea a da Constituição Federal. A alternativa III está incorreta. Não se trata de competência originária. O artigo 109, inciso V da Constituição Federal. A alternativa IV está correta. Trata-se do disposto no artigo 84, inciso VIII cumulado com o artigo 49, inciso I da Constituição Federal A alternativa V está incorreta. A questão faz referência a turno único, todavia a Constituição prevê dois turnos, conforme o artigo 5º, §3º da Constituição Federal. Vanessa Brito Arns Aula 08 Direito Internacional Público e Cooperação p/ Polícia Federal (Delegado) - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 1799519 92844218458 - Diego Souza Novaes
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